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1 2 CRIMINOLOGIA PROF. MURILLO RIBEIRO DE LIMA @murilloribeirodelta CRIMINOLOGIA Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar: conceito, objeto, método, sistema e funções da criminologia. A escola liberal clássica do direito penal e a criminologia positivista. CIÊNCIAS CRIMINAIS O DIREITO PENAL, a CRIMINOLOGIA e a POLÍTICA CRIMINAL são os três pilares de sustentação das Ciências Criminais. A Política Criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções científicas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das investigações empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos. Para a doutrina majoritária, a Política Criminal não tem autonomia de ciência, já que não possui método próprio. Exemplo de atuação de Política Criminal: melhoria do sistema de iluminação em locais com alta incidência de crimes em período noturno. A Criminologia é uma ciência de referência para a Política Criminal. Criminologia como ciência: reúne uma informação válida, confiável e contrastada sobre o problema criminal, que é obtida graças a um método que se baseia na análise e observação da realidade. 3 CRIMINOLOGIA → TERMINOLOGIA: Termo pensado pelo antropólogo francês Paul Topinard (1830-1911) e difundido no cenário internacional pelo italiano Raffaele Garofalo (1851-1934), tem sua etimologia no latim crimen (crime) e no grego logo (tratado), significando o “estudo do crime”. → MARCO CIENTÍFICO: Corrente majoritária: obra L’Uomo Delinquente (1876), ou O Homem Delinquente, por Cesare Lombroso – ESCOLA POSITIVISTA. Corrente minoritária: Dei Delitti e Delle Pene (1764), ou Dos Delitos e Das Penas, de Cesare Bonesana (ou Marquês de Beccaria, ou Cesare Beccaria) – ESCOLA CLÁSSICA. De todo modo, ambos trouxeram relevante contribuição aos estudos do fenômeno criminal. CONCEITO Ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social - , assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito (Antonio García-Pablos de Molina). MÉTODO A Criminologia está oposta ao Direito Penal, uma vez que trabalha de forma indutiva, e não dedutiva, como o segundo. Enquanto a Criminologia utiliza um método empírico, observando a realidade para analisá-la e extrair das experiências as consequências, o Direito Penal faz uso do método dedutivo, partindo da regra geral para o caso concreto de forma lógica e abstrata. Se à 4 criminologia interessa saber como é a realidade, para explicá-la e compreender o problema criminal, bem como transformá-la, ao direito penal só lhe preocupa o crime enquanto fato descrito na norma legal, para descobrir sua adequação típica. A criminologia se baseia mais em fatos que em opiniões, mais na observação que nos discursos ou silogismos. *Nestor Sampaio Penteado Filho: a criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico. Como ciência empírica e experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia experimental, naturalística e indutiva para estudar o delinquente, não sendo suficiente, no entanto, pra delimitar as causas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos estatísticos, históricos e sociológicos, além do biológico. Atenção: não há subordinação da Criminologia ao Direito Penal! Portanto: CRIMINOLOGIA → MÉTODO INDUTIVO, EMPÍRICO. DIREITO PENAL → MÉTODO DEDUTIVO, LÓGICO, ABSTRATO. Método empírico e não necessariamente experimental: a observação é necessária, pois o objeto da investigação pode tornar inviável ou ilícita a experimentação. Dada a complexidade do fenômeno delitivo, cabe sim completar o método empírico com outras de natureza qualitativa, não incompatíveis com aquele. Interdisciplinar: a análise científica reclama uma instância superior que integre e coordene as instâncias setoriais procedentes das diversas disciplinas interessadas no fenômeno delitivo e que instrumentalize um genuíno sistema de retroalimentação. É uma exigência estrutural do saber científico. A Criminologia somente se consolidou como ciência autônoma quando conseguiu se emancipar daquelas disciplinas setoriais em torno das quais nasceu e com as quais, com frequência, se identificou indevidamente. 5 MÉTODO E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO (classificação de Antonio García-Pablos de Molina) Quantitativas: estatística (método por excelência), questionário, métodos de medição. Explicam a etiologia, a gênese e o desenvolvimento. Por si só são insuficientes. Qualitativas: observação participante e a entrevista. Permitem compreender as chaves profundas de um problema. Transversais: tomam uma única medição da variável ou do fenômeno examinado. Estudos estatísticos. Longitudinais: tomam várias medições, em diferentes momentos temporais. Estudos de seguimento (follow up), as biografias criminais, os case studies. Modernos estudos sobre carreiras criminais. Follow up: estudam a evolução do indivíduo durante um determinado período de tempo operando com uma série de fatores psicológicos e sociológicos. São eles, pois, métodos dinâmicos e evolutivos. Investigar a gênese, evolução e manifestações de uma carreira criminal. Outros em torno do problema da reincidência: até que deriva da falha do tratamento penitenciário ou de outros fatores. OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA Por muito tempo, o objeto tradicional de estudo da Criminologia foi embasado pelos ideais da Escola Positiva (Lombroso, Garofalo, Ferri), sendo subdividido em dois: DELITO e DELINQUENTE. Em meados do Século XX, particularmente de sua metade até os dias atuais, foram acrescentados dois outros pontos de interesse: VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Hoje, portanto, é pacífica a divisão do objeto da Criminologia em quatro vertentes: DELITO, DELINQUENTE, VÍTIMA e CONTROLE SOCIAL. Passemos à análise. 6 DELITO Não é o mesmo conceito de Direito Penal. É a conduta de incidência massiva na sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia, persistente no espaço e no tempo. Incidência massiva na população: o crime não pode ser um fato isolado. Ex: crítica de Sérgio Salomão Shecaira, com a tipificação do crime de molestar cetáceo na Lei nº 7.643/1987 (banhista que colocou um palito de sorvete no “nariz” de um filhote de baleia – fato isolado). Incidência aflitiva do fato praticado: o crime deve ser algo que cause dor, quer à vítima, quer à comunidade como um todo. Persistência espaço-temporal: o crime deve ser algo que seja distribuído pelo território ao longo de certo período de tempo. Inequívoco consenso: não são todos os fatos massivos, aflitivos, com persistência espaço-temporal em que há um inequívoco consenso da necessidade de criminalização. Ex: uso do álcool. DELINQUENTE Vejamos as várias definições de delinquente para as diferentes Escolas da Criminologia: ESCOLA CLÁSSICA: o delinquente era encarado como o pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Herança da doutrina do Contrato Social, de Rousseau. O cometimento do crime era um rompimento ao pacto e a pena deveria ser proporcional ao mal causado. O comportamento criminoso seria um mau uso da liberdade.7 ESCOLA POSITIVA: para a Escola Positiva, o infrator era um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios (determinismo social). Enquanto para os clássicos a pena deveria ser proporcional ao mal causado, para os positivistas deveria ser utilizada uma medida de segurança com finalidade curativa, por tempo indeterminado, enquanto persistisse a patologia. ESCOLA CORRECIONALISTA: não teve reflexos significativos no Brasil. Defendia que o criminoso era um ser débil, inferior, e que deveria receber do Estado uma postura pedagógica e de proteção. Ex: proteção ao menor infrator no Brasil, tida como uma influência da corrente correcionalista. MARXISMO: para Marx, quem é culpável pelo crime é a própria sociedade, já que o crime seria decorrente de certas estruturas econômicas. Contemporaneamente, no entanto, há o giro sociológico da Criminologia e a necessidade de atenção aos enfoques político-criminais. Abandona-se a perspectiva biopsicopatológica e assume- se a noção biopsicossocial. Nos dias atuais, portanto, delinquente é o indivíduo que está sujeito às leis, podendo ou não segui-las por razões multifatoriais e nem sempre assimiladas por outras pessoas. VÍTIMA Historicamente, a figura da vítima observou três fases bem delineadas: I) Protagonismo (na chamada “idade de ouro”, desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média). Justiça privada, vingança, autotutela, pena de talião. II) Neutralização (o Estado como o responsável pelo conflito social – Código Penal Francês e as ideias do liberalismo moderno). Estado monopoliza o poder punitivo estatal e trata a pena como garantia coletiva e não vitimaria. Instituto como a legítima defesa foram esquecidos. 8 III) Redescobrimento/revalorização (traz contornos mais humanos à postura estatal em relação à vítima – sobretudo após a 2ª Guerra Mundial). Na segunda metade do Século XX, o estudo sobre a vítima assumiu contornos marcados, sendo fundada uma nova disciplina (ou ciência, para parte da doutrina), a VITIMOLOGIA, o estudo das relações da vítima com o infrator (chamada pela doutrina de “dupla penal”) ou com o sistema. Com a definição dos contornos do Estado Democrático de Direito, surgiu a necessidade da redefinição da vítima sob uma perspectiva mais humana, exigindo-se um fazer estatal para implementação de seus direitos e buscando a diminuição dos efeitos da Vitimização Secundária*. TIPOS DE VITIMIZAÇÃO: VITIMIZAÇÃO é, segundo Antonio Garcia-Pablos de Molina, o processo pelo qual uma pessoa sofre as consequências negativas de um fato traumático, especialmente, de um delito. Ainda segundo o autor, a doutrina classificou os processos de vitimização em três principais: A Vitimização Primária é o processo através do qual um indivíduo sofre direta ou indiretamente os efeitos nocivos ocasionados pelo delito, que variam de acordo com o bem jurídico lesionado e podem ser, em regra, materiais ou psíquicos. A Vitimização Secundária é entendida como o sofrimento suportado pela vítima nas fases do inquérito e do processo, em que muitas vezes deverá reviver o fato criminoso por meio de interrogatórios, declarações e exames de corpo de delito, além de submeter-se a situações como presenciar a argumentação dos defensores do autor sugerindo que deu causa ao fato e o reencontro com o delinquente. Por fim, entende-se por Vitimização Terciária a ausência de receptividade social em relação à vítima, que em diversos casos se vê compelida a alterar sua rotina, os ambientes de convívio e círculos sociais em razão da estigmatização causada pelo delito. São exemplos a segregação social sentida pelas vítimas de crimes sexuais e as consequências da divulgação não autorizada de fotos ou vídeos íntimos nas redes sociais. 9 CLASSIFICAÇÕES DAS VÍTIMAS: I) Classificação de Benjamin Mendelsohn. De acordo com Benjamin Mendelsohn as vítimas podem ser classificadas da seguinte maneira: 1. Vítima completamente inocente ou vítima ideal. Trata-se da vítima completamente estranha à ação do criminoso, não provocando nem colaborando de alguma forma para a realização do delito. Exemplo: uma senhora que tem sua bolsa arrancada pelo bandido na rua. 2. Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância. Ocorre quando há um impulso não voluntário ao delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. Exemplo: um casal de namorados que mantém relação sexual na varanda do vizinho e lá são atacados por ele, por não aceitar esta falta de pudor. 3. Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator. Ambos podem ser o criminoso ou a vítima. Exemplo: Roleta Russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o tambor até um se matar). 4. Vítima mais culpada que o infrator. Enquadram-se nessa hipótese as vítimas provocadoras, que incitam o autor do crime; as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem, ainda que haja uma parcela de culpa do autor. 5. Vítima unicamente culpada. Dentro dessa modalidade, as vítimas são classificadas em: a) Vítima infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim se torna vítima, como ocorre no caso do homicídio por legítima defesa; b) Vítima Simuladora, que através de uma premeditação irresponsável induz um indivíduo a ser acusado de um delito, gerando, dessa forma, um erro judiciário; c) Vítima imaginária, que trata-se de uma pessoa portadora de um grave transtorno mental que, em decorrência de tal distúrbio leva o judiciário à erro, podendo se passar por vítima de um crime, acusando uma pessoa de ser o autor, sendo que tal delito nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma imaginação da vítima CONTROLE SOCIAL Instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas comunitárias de modo orientador e fiscalizador. Com relação aos seus 10 destinatários, pode ser difuso (à coletividade) ou localizado (a determinados grupos). Subdivide-se em controle social formal (realizado pelo Estado, caracterizado pelo Sistema de Justiça Criminal – Polícias, Poder Judiciário, MP, Administração Prisional) e controle social informal (realizado pela sociedade civil – família, mídia, opinião pública, religião, ambiente de trabalho etc.). NORMA, PROCESSO E SANÇÃO = três componentes fundamentais das instituições de controle social. Pode ser exercido de três principais formas: a) sanções formais (aplicadas pelo Estado, podem ser cíveis, administrativas e/ou penais) e sanções informais (não têm força coercitiva); b) meios positivos (prêmios e incentivos) e meios negativos (imposição de sanções); c) controle interno (autocoerção) e controle externo (ação da sociedade ou do Estado, como multas e penas privativas de liberdade). Quando as formas de controle social informal falham, aparecem as formas de controle formal. A pena privativa de liberdade é a mais grave das sanções do controle social formal. Para o LABELLING APPROACH (Teoria da Reação Social), o controle social é SELETIVO e DISCRIMINATÓRIO, GERADOR e CONSTITUTIVO de criminalidade e ESTIGMATIZANTE. FUNÇÕES Explicar e prevenir o crime; Intervir na pessoa do infrator (qual é o impacto real da pena, avaliar programas reais de reinserção e fazer a sociedade perceber que o crime é um problema comunitário). Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime. *Nestor Sampaio Penteado Filho: a função da Criminologia é desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito. 11 PREVENÇÃO Prevenção primária: medidas de médio e longo prazo que atingem a raiz do conflito criminal.Investimentos em educação, trabalho, bem-estar social. Prevenção secundária: atua onde o crime se manifesta ou se exterioriza. As chamadas “zonas quentes de criminalidade”. A prevenção secundária tem em suas principais manifestações a atuação policial. Outros exemplos: programas de ordenação urbana, controle dos meios de comunicação e melhora do aspecto visual das obras arquitetônicas. Prevenção terciária: possui um destinatário específico, o recluso. Possui objetivo certo: ressocialização do preso, evitando a reincidência. INTERVENÇÃO POSITIVA NO INFRATOR Três metas da Criminologia: 1) Avaliar o impacto real da pena em quem a cumpre e os seus efeitos. 2) Desenhar e avaliar programas de reinserção (não individualista, mas funcional). 3) Fazer a sociedade perceber que o crime é um problema de todos (sociedade assumindo responsabilidades). Crime como problema social. MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME Modelo clássico, dissuasório ou retributivo A base do modelo está na punição do delinquente, que deve ser intimidatória e proporcional ao dano causado. Os protagonistas do modelo são o Estado e delinquente, estando excluídos a vítima e a sociedade. 12 Modelo ressocializador Este modelo se preocupa com a reinserção social do delinquente. Assim, a finalidade da pena não se reduz ao retribucionismo (retribuição do mal feito pelo castigo corporal), mas procura ressocializar o agente para reinseri-lo na sociedade. A sociedade tem papel de destaque na efetivação da ressocialização, pois cabe a esta afastar estigmas, como o de ex-presidiário. Modelo restaurador, integrador ou Justiça Restaurativa Este modelo procura restaurar o status quo antes da prática do delito. Para tanto utiliza-se meios alternativos de solução. A restauração do controle social abalado pelo delito se dá pela via da reparação do dano pelo delinquente à vítima. A ação conciliadora, com a participação dos envolvidos no conflito, é fundamental para a solução do problema criminal. Exemplo no sistema brasileiro: composição civil dos delitos nos Juizados Especiais Criminais. SISTEMAS DA CRIMINOLOGIA Quais são as disciplinas que integram a Criminologia? Temos duas concepções: a austríaca (também chamada de enciclopédica) e a concepção estrita. CONCEPÇÃO AUSTRÍACA (ENCICLOPÉDICA) Pertencem à Criminologia: I) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REALIDADE CRIMINAL: Fenomenologia (análise das formas de surgimento da criminalidade), Etiologia (causas ou fatores determinantes da criminalidade), Prognose (análise dos fatores determinantes da criminalidade, formulando diagnósticos e prognósticos sobre o futuro comportamento e periculosidade do autor), Biologia criminal, Psicologia criminal, Antropologia, Geografia criminal, Ecologia criminal etc. 13 II) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM O PROCESSO: a Criminalística (Tática e Técnica Criminal). Criminalística é o conjunto de teorias que se referem ao esclarecimento dos casos criminais (ciência policial). Tática criminal: modus operandi mais adequados para o esclarecimento dos fatos e identificação do autor. Técnica criminal: se ocupa das provas, analisando os métodos científicos existentes para demonstrar realisticamente uma determinada hipótese. III) DISCIPLINAS RELACIONADAS COM A REPRESSÃO E PREVENÇÃO DO DELITO: Penologia (Ciência Penitenciária, Pedagogia Correcional) e Profilaxia. Penologia: ciência que examina o cumprimento e execução das penas. A Ciência Penitenciária é subdisciplina da Penologia, centralizando os estudos nas penas privativas de liberdade e a Pedagogia Correcional se preocupa com orientar a execução do castigo para a significação de um impacto positivo, de reinserção social. Profilaxia: meta prioritária de luta contra o delito, articulando as estratégias oportunas para incidir eficazmente nos fatores individuais e sociais criminógenos, antecipando-se ao crime. CONCEPÇÃO ESTRITA Admite as disciplinas relacionadas com a realidade criminal, mas afirma que a Criminalística (esta é, para a concepção estrita, disciplina auxiliar do direito penal), a Penologia (é uma ciência técnica e não sistema da Criminologia que, por sua vez, é uma ciência “pura”) e a Profilaxia (não cabe à Criminologia assumir uma postura beligerante contra o delito) NÃO DEVEM fazer parte do sistema da Criminologia. NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA Fase pré-científica: período desde a Antiguidade, com textos esparsos de alguns autores que já se preocupavam com o crime. A Escola Clássica, segundo a doutrina, também fazia parte da fase pré- científica da Criminologia. 14 Fase científica: estudo da criminalidade, com atenção científica e sistemática. Marco científico inaugural: Escola Positiva, com a obra O Homem Delinquente, de Lombroso (1876). A ESCOLA LIBERAL CLÁSSICA DO DIREITO PENAL E A CRIMINOLOGIA POSITIVISTA ESCOLA CLÁSSICA Delimitação histórica: momento conhecido como “época dos pioneiros” = teorias sobre o crime, sobre o direito penal e sobre a pena (século XVIII e início do século XIX) – Feuerbach, Cesare Beccaria e escola clássica de direito penal na Itália. Também chamada de Escola Liberal Clássica. A Escola Clássica, por adotar o método lógico, abstrato, dedutivo, faz parte da fase pré-científica da Criminologia. A fase científica é inaugurada com a Escola Positiva. Escola Liberal Clássica: o homem delinquente não era um ser diferente, não há um rígido determinismo. O delito é um conceito jurídico, ou seja, é a violação de um direito e, também, daquele pacto social que estava na base do Estado e do direito, segundo o liberalismo clássico. O delito surgia da livre vontade do indivíduo e não de causas patológicas. Critérios da pena: necessidade ou utilidade e princípio da legalidade. A Escola Clássica representa os primeiros impulsos da tradição italiana de Direito Penal. Um processo que, segundo Alessandro Baratta, vai da filosofia do direito penal a uma fundamentação filosófica da ciência do direito penal, ou seja, uma concepção filosófica para uma concepção jurídica, mas filosoficamente fundamentada, dos conceitos de delito, de responsabilidade penal, de pena. Essa fase é iniciada com a obra Dos Delitos e Das Penas, de Beccaria. Ideias do contrato social, da divisão dos poderes e de uma teoria jurídica do delito e da pena. A Escola Clássica não pretendeu oferecer uma teoria etiológica da criminalidade, das causas desta, senão o suporte de uma resposta racional e justa ao delito. CESARE BONESANA BECCARIA A base da justiça humana, para Beccaria, é a utilidade comum. 15 Para Beccaria, o dano social e a defesa social constituem os elementos fundamentais, respectivamente, da teoria do delito e da teoria da pena. Racionalidade. Pressuposta a racionalidade do homem, haveria de se indagar, apenas, quanto à racionalidade da lei. Leis simples, conhecidas pelo povo e obedecidas por todos os cidadãos A ideologia dominante havia instrumentalizado o saber por meio do paradigma do contrato (ascensão da burguesia enquanto classe dominante). Arcabouço teórico = Cesare Beccaria, com a obra Dos Delitos e das Penas (1764). O crime é uma quebra do pacto. A pena era a reparação do dano causado pela violação de um contrato (o de Rousseau). Serão ilegítimas todas as penas que não relevem da salvaguarda do contrato social. Pena deve ser suficiente para reparar o dano causado pela violação do contrato. Método abstrato e dedutivo, baseado no silogismo. SEGUNDO AUTOR: GIANDOMENICO ROMAGNOSI O princípio natural é, para Romagnosi, a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima utilidade. Deste princípio derivam as três relações ético-jurídicas fundamentais:o direito e dever de cada um de conservar a própria existência, o dever recíproco dos homens de não atentar contra sua existência, o direito de cada um de não ser ofendido por outro. A pena constitui um contraestímulo ao impulso criminoso. “Se depois do primeiro delito existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de punir o delinquente” (Giandomenico Romagnosi). TERCEIRO E PRINCIPAL AUTOR: FRANCESCO CARRARA Para Carrara, o crime não é um ente de fato, é um ENTE JURÍDICO; não é uma ação, é uma infração. É um ente jurídico porque a sua essência deve consistir necessariamente na VIOLAÇÃO DE UM DIREITO. Direito não no sentido das mutáveis legislações positivas, mas sim de “uma lei que é absoluta, porque constituída pela única ordem possível para a humanidade, segundo as previsões e a vontade do Criador”. Parte teórica (fundamento lógico é a verdade, pela natureza das coisas, imutável) e prática do direito penal (autoridade da lei positiva). Para Carrara, o fim da pena não é a 16 retribuição, mas a eliminação do perigo social que sobreviria da impunidade do delito. A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a sua função essencial. O crime é a violação do direito como EXIGÊNCIA RACIONAL e não como norma de direito positivo. O homem viola porque tem VONTADE. Advém daí O LIVRE-ARBÍTRIO. Para os clássicos, a pena é uma retribuição jurídica que tem como objeto o restabelecimento da ordem externa violada. A pena, como negação da negação do direito (Hegel). “O delito, como ação, é para Carrara e para a Escola Clássica um ente juridicamente qualificado, possuidor de uma estrutura real e um significado jurídico autônomo, que surge de um princípio por sua vez autônomo, metafisicamente hipostasiado: o ato da livre vontade de um sujeito (Alessandro Baratta, Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal). “A reeducação do condenado pode ser um resultado acessório e desejável, mas não a função essencial da pena” (Francesco Carrara). Por ser tão racional, a escola clássica encontrou dificuldade para explicar diversos fenômenos. Ex: a suposta homogeneidade absoluta de todos os homens no que toca aos processos pessoais, biopsicológicos, de motivação do ato delituoso. Foi daí que surgiu a crítica positivista. ESCOLA POSITIVA Delimitação histórica: teorias na Europa no final do século XIX e início do século XX. Autores: Escola Sociológica Francesa (Gabriel Tarde), Escola Social na Alemanha (Franz Von Liszt) e principalmente a Escola Positiva Italiana (Lombroso, Enrico Ferri e Raffaele Garofalo). Principais autores: Lombroso (fase antropológica), Enrico Ferri (fase sociológica) e Raffaele Garofalo (fase jurídica). A Escola Positiva ofereceu uma reação contra as hipóteses racionalistas de entidades abstratas. Modelo positivista da Criminologia: estudo das causas ou dos fatores da criminalidade (paradigma etiológico), a fim de individualizar as medidas adequadas para removê-los, intervindo sobretudo no sujeito criminoso. “O foco era o homem delinquente, considerado como um indivíduo diferente e, como tal, clinicamente observável” (Alessandro Baratta). Buscava-se a explicação da criminalidade na “diversidade” ou anomalia dos autores de comportamentos criminalizados. 17 Alessandro Baratta defende que o delito é, também para a Escola Positiva, um ente jurídico, mas o direito que qualifica este fato humano não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e social. A Escola Positiva procura encontrar todo o complexo das causas na totalidade biológica e psicológica do indivíduo e na totalidade social que determina a vida do indivíduo. LOMBROSO (autor inicial da escola) A obra de Lombroso, como vimos, é considerada o marco científico da Criminologia. O ponto de partida da teoria de Lombroso proveio de pesquisas craniométricas de criminosos, abrangendo fatores anatômicos, fisiológicos e mentais. Para Lombroso, o crime é um fenômeno biológico e não um ente jurídico (como sustentavam os clássicos), razão pela qual o método que deve ser utilizado para o seu estudo havia de ser o empírico. O delito é um ente natural, um fenômeno necessário, como o nascimento, a morte, a concepção, determinado por causas biológicas de natureza sobretudo hereditária. “A visão predominantemente antropológica de Lombroso seria depois ampliada por Ferri, com a acentuação dos fatores sociológicos, e com Garófalo, com a acentuação de fatores psicológicos” (Alessandro Baratta, Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal). Conceito de criminoso: para Lombroso, o criminoso é um ser atávico que representa a regressão do homem ao primitivismo. É um selvagem que já nasce delinquente. Sustentava também a agressividade explosiva do epilético. Bases de sua teoria básica: atavismo, degeneração pela doença e criminoso nato, com certas características. Fronte fugidia, assimetria craniana, cara larga e chata, grande desenvolvimento das maças do rosto, lábios finos, criminosos na maioria das vezes canhotos, cabelos abundantes, barba rala; ladrões com olhar errante, móvel e oblíquo; assassinos com olhar duro, vítreo, injetado de sangue. Características anímicas: insensibilidade à dor, tendência à tatuagem, cinismo, vaidade, crueldade, falta de senso moral, preguiça excessiva, caráter impulsivo. Para Lombroso, os fatores exógenos só servem como desencadeadores dos fatos clínicos (endógenos). Desencadeador de uma predisposição inata, própria do criminoso. O criminoso sempre nascia criminoso. O determinismo é biológico, sendo o livre-arbítrio uma mera ficção. 18 A principal contribuição de Lombroso para a Criminologia não reside em sua tipologia de criminoso nato, mas do método empírico. Sua teoria é fruto de mais de 400 autópsias de delinquentes e 6000 análises de delinquentes vivos, além de um estudo minucioso de 25 mil presos. Principal seguidor de Lombroso no Brasil: Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), conhecido como “Lombroso dos Trópicos”. O grande equívoco dos positivistas, notadamente Lombroso, foi acreditar na possibilidade de se descobrir uma causa biológica para o fenômeno criminal. Sucessor de Lombro, seu genro ENRICO FERRI (1856-1929) Diferentemente de Lombroso, Ferri dá ênfase às ciências sociais, com uma compreensão mais alargada da criminalidade, evitando-se o reducionismo antropológico. Para Ferri, o fenômeno da criminalidade decorria de fatores antropológicos, físicos e sociais. ANTROPOLÓGICOS: constituição orgânica e psíquica do indivíduo, raça, idade, sexo, estado civil, etc.) FÍSICOS: clima, estações, temperatura, etc. SOCIAIS: densidade da população, opinião pública, família, moral, religião, educação, etc. Segundo Ferri, há cinco categorias de delinquentes: o nato, o louco, o habitual, o ocasional e o passional. Nato: criminoso conforme a classificação original de Lombroso, caracterizando-se por impulsividade ínsita. Louco: levado ao crime não somente pela doença mental, mas também pela atrofia do senso moral, que é sempre a condição decisiva na gênese da delinquência. Habitual: descrição daquele nascido e crescido num ambiente de miséria e pobreza, começando por pequenos delitos até delitos mais graves. Grave periculosidade e difícil readaptabilidade. Ocasional: forte influência de circunstâncias ambientais, injusta provocação, necessidades familiares ou pessoais, etc. Menor a periculosidade e maior a readaptabilidade social. Passional: praticam crimes impelidos por paixões pessoais, como também políticas e sociais. 19 “Para eles (os Clássicos), a ciência só necessita de papel, caneta e lápis, e oresto sai de um cérebro repleto de leituras de livros, mais ou menos abundantes, e feitos da mesma matéria. Para nós, a ciência requer um gasto de muito tempo, examinando um a um os feitos, avaliando-os, reduzindo- os a um denominador comum e extraindo deles a ideia nuclear” (FERRI). A pena, como meio de defesa social, não age de modo exclusivamente repressivo, segregando o delinquente e dissuadindo com sua ameaça os possíveis autores do delito, mas, também e sobretudo, de modo curativo e reeducativo. O critério de medição de pena não está ligado abstratamente ao fato delituoso singular, ou seja, à violação do direito ou ao dano social produzido, mas às condições do sujeito tratado. A duração deve ser medida em relação aos seus efeitos (melhoria e reeducação). RAFFAELE GAROFALO (1851-1934) Foi o terceiro grande nome do positivismo italiano. Para Garofalo, o crime sempre está no indivíduo, e que é uma revelação de uma natureza degenerativa, sejam as causas antigas ou recentes. Utiliza o termo temibilidade (perversidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal previsto que se deve temer por parte deste delinquente). A temibilidade é fundamento para a medida de segurança (meio de contenção). Segundo o autor, o crime está fundamentado em uma anomalia - não patológica -, mas psíquica ou moral (déficit na esfera moral de personalidade do indivíduo, de base interna, de uma mutação psíquica, transmissível hereditariamente). O estudioso criou o conceito de delito natural, em que descreve condutas nocivas em si, em qualquer sociedade e em qualquer momento, com independência, inclusive, das próprias valorações legais e mutantes. Delito natural: a violação daquela parte do sentido moral que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade (tal conceito foi criticado pela doutrina, uma vez não ser possível estabelecer uma ideal geral de delito natural). Principal contribuição de Garofalo: filosofia do castigo, dos fins da pena e da sua fundamentação. O Estado deve eliminar o delinquente que não se adapta à sociedade e às exigências da 20 convivência. O autor entende ser possível a pena de morte em certos casos (criminosos violentos, ladrões profissionais e criminosos habituais, em geral), assim como penas severas em geral (ex: envio de um criminoso por tempo indeterminado para colônias agrícolas). Resumo do positivismo: o crime passa a ser reconhecido como um fenômeno natural e social, sujeito às influências do meio e de múltiplos fatores, exigindo o estudo da criminalidade a adoção do método experimental. A pena será uma medida de defesa social, para recuperação do criminoso, por tempo indeterminado (até obtida a recuperação). O criminoso será sempre psicologicamente um anormal, temporária ou permanentemente. Para a Escola Positiva, a criminalidade podia tornar-se objeto de estudo nas suas causas, independentemente do estudo das reações sociais e do direito penal. Influência da escola positivista no Brasil e no Código Penal de 1940: instalação de manicômios judiciários. Exposição de motivos propõe uma política de transação e conciliação com os ideais clássicos e positivistas. Ex: adoção do sistema do duplo-binário (pena e medida de segurança ao mesmo tempo, abolido na reforma de 1984, vigendo o atual sistema vicariante). Crime habitual e influências do positivismo. Conclusão. Para a doutrina, as influências do positivismo foram mais marcantes, sobretudo pela relação com a antropologia, sociologia, filosofia, psiquiatria, não considerando o direito como a única fonte de explicações. MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA: MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL Para Antonio García- Pablos de Molina, são quatro os principais modelos ou enfoques teóricos explicativos do comportamento criminal: a) Criminologia Clássica e Neoclássica (esta última será estudada a seguir, na Teoria da Opção Racional como Opção Econômica); b) Criminologia Positivista; c) Sociologia Criminal (veja as Teorias Sociológicas); 21 d) Diversas correntes da Moderna Criminologia. Para o autor, as correntes da Moderna Criminologia tratam de explicar o delito seguindo um enfoque dinâmico com métodos preferencialmente longitudinais. Esses enfoques não pretendem fazer uma análise etiológica do delito, nem uma teoria generalizada da criminalidade. O objetivo é descrever a gênese do comportamento delitivo de forma dinâmica, ou seja, avaliar o processo e a evolução dos padrões de conduta na vida do autor, durante as diversas etapas. Exemplos: estudos de trajetórias e carreiras criminais, teorias do curso da vida e Criminologia do Desenvolvimento. O MODELO CLÁSSICO DO LIVRE ARBÍTRIO DA OPÇÃO RACIONAL E TEORIAS SITUACIONAIS DA CRIMINALIDADE Antes de analisar as Teorias Sociológicas, Molina traz em sua obra a explicação da chamada Escola Neoclássica (Teoria da Opção Racional como Opção Econômica) e de outras teorias situacionais da criminalidade (modelos relacionados à prevenção de delitos). I) TEORIA DA OPÇÃO RACIONAL COMO OPÇÃO ECONÔMICA (MODELO DE ORIENTAÇÃO ECONOMICISTA NEOCLÁSSICO). Década de 70 do Século XX, ou seja, mais de dois séculos da Escola Clássica do Século XVIII. Principais autores: Gary Stanley Becker e Isaac Ehrlich. Análise econômica do delito: a ação delitiva é uma opção racional econômica do criminoso. Para cometer um crime, o autor alia uma opção racional à opção econômica, baseada em custos e benefícios (não estritamente monetários, mas também outros fatores, como o prestígio, o conforto, a conveniência etc.). Em suma: OPÇÃO RACIONAL + OPÇÃO ECONÔMICA. O homem delinquente, assim como para a teoria clássica propriamente dita, não se distingue do homem não delinquente do ponto de vista da racionalidade do seu comportamento. O infrator valora as chances que existem e escolhe a alternativa que lhe traga mais vantagens e menos riscos. Assim, as pessoas delinquem quando o coeficiente de benefícios é maior para o comportamento criminal que para as alternativas não criminais. 22 Como solução de prevenção, a teoria destaca o caráter retribucionista da pena. Se o criminoso tiver a certeza da punição, ele não cometerá o crime. Desta forma, o modelo acredita na lei penal, no impacto dissuasivo da pena e nas instâncias de controle social formal. Resumo: a Escola Neoclássica propõe uma imagem racional ao impulso do comportamento humano, reiterando sua confiança na lei penal (efeito dissuasório desta) e nas instituições de controle social formal. II) TEORIA DAS ATIVIDADES ROTINEIRAS (TEORIA DA OPORTUNIDADE). Vincula a racionalidade da opção delitiva ao fator oportunidade. OPÇÃO RACIONAL + OPORTUNIDADE. Não basta a existência de um delinquente disposto (motivado) para a ocorrência do delito, mas também a oportunidade propícia ou situação idônea para que aquece passe à ação. Para que um CRIME ocorra deve haver CONVERGÊNCIA de TEMPO e ESPAÇO de pelo menos três elementos (tais elementos são representados como três lados de um triângulo): I) INFRATOR MOTIVADO e com habilidades necessárias. Essa motivação pode estar vinculada a diversos fatores, como patologia individual, maximização do lucro, o criminoso como subproduto de um sistema social perverso ou deficiente, desorganização social e oportunidade. II) ALVO ADEQUADO: pode se referir tanto a uma pessoa, como objeto ou local. Se o crime, por exemplo, é um arrombamento em um comércio, então o alvo adequado deve ser um local em que se acredita haver dinheiroou um produto com valor significativo de revenda. Se o crime é um roubo, cometido em uma avenida qualquer, o alvo adequado, por exemplo, pode ser uma mulher de idade avançada carregando objetos de valor para o agressor, desprotegida e com pequenas chances de reagir. II) AUSÊNCIA DE UM GUARDIÃO. O termo guardião pode se referir a policiais, vigilantes privados, testemunhas que passam pelo local, um cão de guarda na residência ou no estabelecimento, câmeras de monitoramento, cercas, alarmes etc. →Para prevenir o crime, Glensor e Peak recomendam que a polícia e a comunidade estejam atentas a três fatores vinculados a cada um dos lados do triângulo. Deve haver um CONTROLADOR DO INFRATOR (alguém que exerça influência neste a fim de evitar o crime, como seus pais, sua mulher, seu marido etc), um AMBIENTE RESPONSÁVEL (alvos inadequados) e a PRESENÇA de um guardião. 23 Para a teoria, a sociedade pós-industrial oferece mais ou melhores oportunidades ao delinquente, já que a organização tempo-espacial de suas atividades cotidianas e estilos de vida atuais possibilitam tais oportunidades. Ex: locomoções diárias dos cidadãos, lares vazios por longos espaços de tempo, saídas noturnas e de fim de semana, vitrine de bens valiosas, a necessidade de expor seus bens materiais (ex: redes sociais ostentando viagens e itens de luxo) etc. Assim, o aumento da criminalidade guarda relação direta com o perfil e a organização das atividades cotidianas lícitas de nossa sociedade. III) TEORIA DO MEIO OU ENTORNO FÍSICO. Para a teoria, o espaço físico exerce papel de relevância para a gênese do comportamento delitivo. OPÇÃO RACIONAL + ESPAÇO FÍSICO ADEQUADO. Aponta mais para metas prevencionistas do que para modelos etiológicos explicativos do crime. Newman, um dos estudiosos do tema, cria a expressão “defensible space”: modelo para ambientes residenciais que inibe o delito, criando a expressão física de uma fábrica social que se defende a si mesma. Área de maior eficácia do controle social informal. O desenho arquitetônico e urbanístico favorece o crime. O meio ou o entorno interagem com a motivação do criminoso. Ex: em crimes patrimoniais, o criminoso busca locais mais escuros, com vítimas desconhecidas, evitando a presença de testemunhas. Resumo: o local é relevante para a ocorrência da criminalidade. A MODERNA CRIMINOLOGIA CIENTÍFICA: MODELOS TEÓRICOS EXPLICATIVOS DO COMPORTAMENTO CRIMINAL. BIOLOGIA CRIMINAL, PSICOLOGIA CRIMINAL E SOCIOLOGIA CRIMINAL Após a chamada Luta de Escolas (Clássica x Positivista), segundo Molina, surgiram no panorama criminológico três orientações relativamente definidas: as biológicas, as psicológicas e as sociológicas. MODELO BIOLÓGICO: foco no homem delinquente. O objetivo aqui é localizar e identificar, em alguma parte do corpo ou nos sistemas e subsistemas deste, o fator diferencial que explica a 24 conduta delitiva. O crime é encarado como consequência de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico do indivíduo. Ex: estudos sobre Biotipologia, anomias, genética etc. MODELO PSICOLÓGICO: buscam a explicação do comportamento delitivo no mundo anímico do homem, nos processos psíquicos anormais (psicopatologia) ou nas vivências subconscientes que têm sua origem no passado remoto do indivíduo e que só podem ser captadas por meio da introspecção (Psicanálise); ou, ainda, creem que o comportamento delitivo, em sua gênese (aprendizagem), estrutura e dinâmica, tem idênticas características e se rege pelas mesmas pautas que o comportamento não delitivo (teorias psicológicas de aprendizagem). Ex: estudos sobre a Teoria Psicanalítica, pensamento de Freud, Esquizofrenia, Transtorno Bipolar etc. MODELO SOCIOLÓGICO: ainda segundo Molina, os modelos sociológicos contemplam o fato delitivo como “fenômeno social”, aplicando à sua análise diversos marcos teóricos precisos: ecológico, estrutural-funcionalista, subcultural, conflitual, interacionista etc. Daremos enfoque, segundo os ditames do edital, nas Teorias Sociológicas. TEORIAS SOCIOLÓGICAS As Teorias da Sociologia Criminal são separadas em dois grupos, segundo a doutrina, para fins didáticos: Teorias do Consenso e Teorias do Conflito. Teorias do Consenso (teorias funcionalistas): a sociedade é formada pelo consenso entre os indivíduos, pela livre vontade. Todo elemento na sociedade tem sua função. Estudaremos, neste grupo, a Escola de Chicago, a Teoria da Anomia, a Teoria da Associação Diferencial e Teoria da Subcultura Delinquente de Albert Cohen. Teorias do Conflito: toda sociedade é baseada na coerção, na imposição de uns membros aos outros. Teoria do Labelling Approach e Criminologia Crítica. 25 TEORIAS DO CONSENSO ESCOLA DE CHICAGO Também chamada de Teoria Ecológica ou Teoria da Ecologia Criminal. Universidade de Chicago. Rockfeller como investidor, criando uma universidade de renome. Somado a isso, a cidade crescia exponencialmente. Dois conceitos centrais: desorganização social e áreas de delinquência. Utilização dos inquéritos sociais, que são realizados por meio de um interrogatório direito feito normalmente por uma equipe, junto a um universo determinado de pessoas, sobre certos aspectos de interesse do pesquisador e de estudos biográficos de casos individuais. A ideia central é que as cidades não são apenas aglomerados de prédios e pessoas, mas sim um estado de espírito. Cada cidade tem sua cultura própria, seus estatutos, seus ditames, uma organização formal e outra informal, seus usos e costumes, enfim, sua própria identidade. A cidade moderna, em face da grande mobilidade, acaba por romper com os mecanismos tradicionais de controle (família, vizinhança, etc.). A família, a igreja, a escola, o local de trabalho, os clubes de serviço não conseguem refrear as condutas humanas (fator potencializador da criminalidade). Classes mais ricas = áreas exclusivamente residenciais. Classes mais pobres = convivem com áreas industriais, tolerando fumaça, cheiro desagradável, feiúra, sujeira, barulho. Isso faz surgir zonas desabitadas ou superpovoadas, gerando movimentos favoráveis à proliferação de atos delituosos decorrentes dessa desorganização social. A ausência completa do Estado (faltam hospitais, creches, escolas, parques, delegacias, praças e outras áreas de lazer) gera uma anomia na população, potencializando a criação de justiceiros, grupos armados, milícias, etc. para substituir o Estado no controle social. No mais, nas regiões desorganizadas não há um contato social antigo entre as pessoas, o que fragiliza os laços. 26 Áreas de delinquência: trechos da cidade que apresentavam índices de criminalidade mais significativos e que estavam ligados à degradação física, à segregação econômica, étnica, racial, etc. Zonas concêntricas mais próximas ao loop (zona comercial) = maior incidência da criminalidade. Pessoas moram perto das áreas centrais por necessidade. É um vetor criminógeno e não um determinismo ecológico. Na grande cidade não há o controle informal que existe nas pequenas. Isso decorre do ANONIMATO do ser. Soluções da Teoria Ecológica: Macrointervenção da comunidade. O planejamento e administração dos projetos devem ser feitos por áreas delimitadas (criação de comitês: igrejas, associações, clubes esportivos, etc.). Criação de programas comunitários. Melhorias das condições sociais, econômicas, educacionais. Melhoria no aspecto físico das cidades (lembrar da experiência da “tolerância zero” americana). As medidas de resgate da cidadania, associadas aos projetos ecológicos, especialmente em áreas muito carentes, podem fazer decrescer imediatamentea criminalidade. Prioridade da ação preventiva. Contribuições: Método de pesquisa para o conhecimento da realidade da cidade antes do estabelecimento da política criminal adequada. Envolvimento de toda a comunidade por meio de seus diferentes canais para o enfrentamento do problema. O foco é votado para a comunidade local, com a mobilização das instituições locais para a redução da desorganização social. Envolvimento preventivo da comunidade. Depois da Escola de Chicago, não há qualquer política criminal série que não se baseie em estudos empíricos da criminalidade na cidade. A própria criminalização da pichação, por exemplo, é uma influência da Escola de Chicago. Críticas: 27 Perspectiva limitadora na investigação criminal. Alguns delitos são realizados nas áreas de moradias dos criminosos, outros não (ex: furto de veículos). A teoria ecológica não tem condições de explicar as condutas desviadas ocorridas fora das áreas delitivas. A teoria ignorava as cifras negras, trabalhando apenas com dados oficiais. TEORIA DA ANOMIA Dois principais expoentes: Durkheim e Merton. Durkheim. Faz parte das teorias funcionalistas. Anomia = sem lei, injustiça, desordem. Ausência ou desintegração das normas sociais de referência (crise de valores). Consciência coletiva (sociedades arcaicas x sociedades contemporâneas). Para Durkheim, o crime é um fenômeno normal de toda estrutura social. Só deixa de ser normal quando ultrapassa determinados limites, criando uma desorganização. O comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural. O fato criminoso só terá relevo quando atingir a consciência coletiva na sociedade. O súbito incremento da criminalidade decorre da anomia, que é um desmoronamento das normas vigentes em dada sociedade. O crime é simplesmente um ato proibido pela consciência coletiva. A pena não tem a função de amedrontar ou dissuadir e sim satisfazer a consciência comum. Ela exige reparação e o castigo do culpado é esta reparação feita aos sentimentos de todos. Pena deve agir sobretudo sobre as pessoas honestas, pois serve para curar as feridas feitas nos sentimentos coletivos. Merton. 28 A anomia, fomentadora da criminalidade, advém do colapso na estrutura cultural, especialmente de uma bifurcação aguda entre as normas e objetivos culturais e as capacidades (socialmente estruturadas) dos membros do grupo de agirem de acordo com essas normas e objetivos. A anomia, em palavras mais simples, ocorre quando há um desajuste daquilo que se “vende” como MODELO DE SUCESSO (metas/fins culturais) com aquilo que se efetivamente tem disponível (ex: consigo ser um indivíduo com sucesso ganhando um salário mínimo?). Paradigma histórico: American Dream (consumo e dinheiro como prestígio). Este desajuste propicia o surgimento de condutas que vão desde a indiferença perante as metas culturais até a tentativa de chegar às metas mediante meios diversos daqueles socialmente prescritos. Cinco tipos de adaptação individual: a) Conformidade: conformidade entre os objetivos culturais os meios institucionalizados. Com o que o indivíduo tem disponível, efetivamente conhece atingir as metas culturais. b) Ritualismo: o indivíduo renuncia aos objetivos valorados pela incapacidade de realizá-los e continuando seguindo as normas e interagindo com a sociedade. c) Retraimento/Apatia: renuncia a ambos (objetivos e normas). Ex: mendigos, viciados em drogas. d) Inovação: delinquência propriamente dita. Meios ilegais para atingir os sonhos e objetivos. Atalhos. Há adesão aos fins culturais, sem o respeito aos meios institucionais. Ex: tráfico de drogas. e) Rebelião: inconformismo e revolta. Refuta os padrões vigentes, propondo novas metas e institucionalização de novos meios para atingi-las. Toda vez que a sociedade acentuar a importância de determinadas metas, sem oferecer à maioria das pessoas a possibilidade de atingi-las, por meios legítimos, estamos diante de uma situação de anomia. CUIDADO AQUI! Apesar de haver classificações em outro sentido, Antonio García-Pablos de Molina afirma que dentro do grupo “TEORIAS SUBCULTURAIS” estão, como principais, a Teoria da Associação Diferencial de Sutherland e a Teoria da Subcultura Delinquente de Albert Cohen. Estudaremos ambas a seguir! 29 TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL Aportes iniciais com Sutherland. Influenciada pela Escola de Chicago. Sutherland conceitua os crimes de colarinho branco: crime cometido no âmbito de sua profissão por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. O crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade destas. O homem aprende a conduta desviada e associa-se com referência nela. Não há herança biológica, mas sim um PROCESSO DE APRENDIZAGEM que conduz o homem à prática dos atos socialmente reprováveis. O processo de comunicação é determinante para a prática delitiva. Síntese da teoria: o comportamento criminoso é um comportamento de APRENDIZADO, mediante a interação com outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. A parte decisiva do processo de aprendizagem ocorre no seio das relações sociais mais íntimas do indivíduo com seus familiares ou pessoas de seu meio. Uma pessoa converte-se em delinquente quando as definições favoráveis à violação superam as desfavoráveis. Nomenclatura “associação diferencial”: os princípios do processo de associação pelo qual se desenvolve o comportamento criminoso são os mesmos que os princípios do processo pelo qual se desenvolve o comportamento legal, mas os conteúdos dos padrões apresentados na associação diferem. A associação diferencial é possível porque a sociedade se compõe de vários grupos com culturas diferentes. Colarinho branco: crime cometido no âmbito de sua profissão por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Não pode ser explicado pela pobreza, pela má habitação, falta de educação, etc. A dificuldade das estatísticas se dá pela altíssima cifra negra. Fatores que dificultam a punição dos crimes de colarinho branco: 30 I) O juízo dos grandes empresários, banqueiros, etc. é um misto de medo e admiração, não sendo concebível tratá-los como delinquentes. II) Em geral, as penas não são altas, admitem mecanismos de substituição da pena privativa da liberdade, são mais pecuniárias que pessoais (lembrar do tratamento dos crimes tributários no Brasil). III) Os efeitos dos crimes de colarinho branco são complexos e difusos, não sendo diretamente sentidos pela comunidade. Todos esses fatores levam a comunidade jurídica a não querer punir da mesma forma o crime de colarinho-branco, ainda que as suas consequências sejam muito mais lesivas. Tal teoria coloca em descrédito vários argumentos de teorias tradicionais, como as antropológicas e as positivistas. Evolução da teoria com o estudo da influência da mídia no comportamento. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE Obra de Albert Cohen: Delinquent Boys (1955). Subcultura: enfrentamento desviante de jovens em relação à sociedade adulta tradicional. As subculturas aceitam certos aspectos dos sistemas de valores predominantes, mas também expressam sentimentos e crenças exclusivas de seu próprio grupo. Ex; gangues de periferia. A contracultura é uma subcultura que desafia a cultura e a sociedade dominantes: Ex: movimento hippie. Histórico: sociedade americana e o American Dream (1950). A constituição das subculturas criminais representa a reação necessária de algumas minorias altamente desfavorecidas dianteda exigência de sobreviver, de orientar-se dentro de uma estrutura social, apesar das limitadíssimas possibilidades legítimas de atuar. A subcultura delinquente pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas. Para Cohen, a subcultura delinquente caracteriza-se por três fatores: 31 I) Não-utilitarismo da ação: os crimes são realizados por puro prazer, sem um fim utilitarista. II) Malícia da conduta: as condutas são realizadas para causar desconforto alheio. Ex: hostilidade gratuita contra jovens que não pertencem a gangues. III) Negativismo: objetivo de mostrar o rechaço deliberado dos valores da classe dominante. Ao contrário das ideias da Escola de Chicago, as áreas de delinquência não eram âmbitos “desorganizados socialmente”, e sim áreas em que vigoram normas distintas das oficiais, de valores invertidos, mas em estado de funcionalidade. A subcultura é a expressão de um sistema normativo próprio, cujos valores diferem dos majoritários de forma oposta. Ex: gangues de periferia dos EUA. Subculturas da classe média: trotes em universidades, gangues de jiu-jitsu e a morte do índio Pataxó (morto queimado no ponto de ônibus em Brasília). Críticas: o pensamento não consegue oferecer uma explicação generalizada da criminalidade. TEORIAS DO CONFLITO Labelling approach e Crítica. Para a teoria do conflito, a coesão e a ordem na sociedade são fundadas na força e na coerção, na dominação por alguns e sujeição por outros. O pressuposto da natureza coercitiva da ordem social é um princípio heurístico, e não um juízo factual. Não é a cooperação voluntária ou o consenso geral, mas a coerção imposta que faz com que as organizações sociais tenham coesão. Premissas: Toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança. A mudança social é ubíqua. Toda sociedade exibe a cada momento dissensão e conflito e o conflito social é ubíquo. Todo elemento em uma sociedade contribui de certa forma para sua desintegração e mudança. 32 Toda sociedade é baseada na coerção de alguns de seus membros por outros. TEORIA DO LABELLING APPROACH As questões centrais do pensamento criminológico, a partir desse momento histórico, deixam de referir-se somente ao crime e ao criminoso, passando a voltar sua base de reflexão ao sistema de controle social e suas consequências, bem como ao papel exercido pela vítima na relação delitual. Contexto histórico: década de 60 e movimentos estudantis, políticos, raciais, feministas. Esses movimentos foram considerados fermentos de ruptura. Surge nos EUA no início dos anos 60. Os principais estudiosos são Erving Goffmann e Howard Becker. Também chamada de Teoria da Rotulação Social, da Etiquetagem, da Reação Social ou Interacionista, A conduta desviante é o resultado de uma reação social e o delinquente apenas se distingue do homem comum devido à estigmatização que sofre. Não mais se indaga o porquê de o criminoso cometer crimes. A pergunta passa a ser: por que é que algumas pessoas são tratadas como criminosas, quais as consequências desse tratamento e qual a fonte de sua legitimidade? Desviação primária: é poligenética e se deve a uma série de fatores culturais, sociais, psicológicos e sociológicos. Desviação secundária: resposta de adaptação aos problemas ocasionados pela reação social à desviação primária. Para ser rotulado como criminoso basta que cometa uma única ofensa criminal e isto passará a ser tudo que se tem de referência estigmatizante dessa pessoa. As condutas desviantes parecem ser alimentadas pelas agências designadas para inibi-las. Cerimônias degradantes: processos ritualizados a que se submetem os envolvidos com um processo criminal, em que um indivíduo é condenado e despojado da sua identidade, recebendo uma outra degradada. A pena gera uma marginalização no âmbito do mercado de trabalho e escolar. 33 A criminalização primária produz rotulação, que produz criminalizações secundárias (reincidência). Eficácia constitutiva do controle social = este criaria o delito, não se limitaria a declarar a sua existência. Experiência no sistema carcerário: I) Preso passa a ser desculturado, pela perda do nome com a atribuição de um número de prontuário (sua nova identidade); II) Privado de seus pertences pessoais, ganhando um uniforme padrão; III) É medido, fotografado, identificado e analisado por um médico para depois ser lavado, o que significa despir de sua identidade antiga para assumir uma nova. Longe de ser ressocializado para a vida livre, está sendo socializado para viver na prisão. Desviação como um ato dentro de um contexto de coletividade. O ato jamais é um ato isolado; é a expectativa da reação ao ato. É a própria interação com o ato. A maneira como o ato será avaliado é que produzirá um novo contexto de ação. Por isso a teoria também é chamada de teoria da reação ou da interação social. Modelo explicativo sequencial (Sérgio Shecaira): Delinquência primária –> resposta ritualizada e estigmatização –> distância social e redução de oportunidades –> surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem –> estigma decorrente da institucionalização –> delinquência secundária. Defende a prudente não intervenção = direito penal mínimo. Influência da teoria no ordenamento jurídico brasileiro: Regime progressivo de cumprimento de pena (após a reforma de 1984): serve para atenuar o choque da reinserção social quando o preso está institucionalizado. Adoção das penas substitutivas (alternativas) à prisão. Vários dispositivos da LEP. Identificação criminal (somente em casos específicos). 34 Lei nº 9.099/95 e os institutos despenalizadores. Conclusão: ao aproximar as condutas desviantes dos processos de interação, nos conduz para a investigação acerca das agências de controle social e de seu papel definitorial da própria reprodução do poder. Críticas: deixou em segundo plano as causas primárias da criminalidade (enfoque na desviação secundária). LABELLING APPROACH (Teoria da Reação Social): o controle social é SELETIVO e DISCRIMINATÓRIO, GERADOR e CONSTITUTIVO de criminalidade e ESTIGMATIZANTE. CRIMINOLOGIA CRÍTICA Tem origem nos EUA e na Inglaterra nos anos 70. Escola de Berkeley (EUA) e National Deviance Conference (Inglaterra). Também chamada de criminologia radical ou nova criminologia. Crítica às posturas tradicionais da criminologia do consenso, que são incapazes de entender a totalidade do fenômeno criminal. Base no pensamento marxista, sustentando ser o delito um fenômeno dependente do modo de produção capitalista. O Direito não é ciência, e sim ideologia. A criminologia crítica é a crítica final de todas as outras correntes criminológicas, fundamentalmente por recusar assumir este papel tecnocrático de gerenciador do sistema, pois considera o problema criminal insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade capitalista. Os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante assim defini-los. As leis penais são aprovadas para gerar uma estabilidade temporária, encobrindo confrontações violentas entre as classes sociais. Aceitar a definição legal de crime é aceitar a ficção da neutralidade do direito. Após dez anos de estudos, surgem basicamente três tendências da criminologia moderna: 35 a) O neo-realismo de esquerda (law and order): a ideia continua a ser socialista, mas realista. Defendem uma nova relação entre a polícia e a sociedade,com a finalidade de contribuir para uma luta comum contra o delito. Sugerem, de outra parte, uma linha reducionista na política criminal, descriminalizando certos comportamentos e criminalizando outros. Os crimes graves merecem uma resposta enfática da sociedade. Aceitam a ideia do cárcere, em situações extremas b) A teoria do direito penal mínimo: qualquer radical aplicação da pena pode produzir consequências mais gravosas quanto aos benefícios que pode trazer. Deve-se deixar de atribuir relevo aos pensamentos tradicionais da criminalidade de massa de rua (roubo, furto) para pensar uma criminalidade dos oprimidos (racismo, crimes do colarinho-branco, etc.). O direito deve ser utilizado para a defesa do mais fraco perante uma eventual reação mais forte que a pena institucional por parte do ofendido e em prevenção ao cometimento ou ameaça de novo delito. Contração do sistema penal em certas áreas para expansão de outras. Caráter fragmentário do direito penal, intervenção punitiva como última ratio e reafirmação da natureza acessória do direito penal. c) O pensamento abolicionista: o sistema penal só tem servido para legitimar e reproduzir as desigualdades e injustiças sociais. Para os abolicionistas, nós já vivemos sem Direito Penal (cifras negras), o sistema é anômico (não cumpre as funções esperadas), seletivo, estigmatizante e burocrata. Contribuições da teoria crítica: mudança do paradigma das criminalizações. Campanha pela criminalização dos bens jurídicos difusos (legislações protetivas do meio ambiente, da ordem econômica, financeira, tributária, etc.). Maximização da intervenção punitiva para os crimes de colarinho-branco, racismo, etc. e minimização da intervenção punitiva, quando não a própria descriminalização da conduta para os crimes das classes mais desprotegida (reflexos da mendicância, vadiagem, princípio da insignificância em pequenos furtos, etc.). SISTEMA PENAL E REPRODUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL Alessandro Baratta, em sua obra Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, enfatiza que o sistema escolar e o sistema penal reproduzem e reafirmam a seleção e a marginalidade social. Veja as principais frases e conclusões extraídas do capítulo: 36 I) O SISTEMA ESCOLAR COMO PRIMEIRO SEGMENTO DO APARATO DE SELEÇÃO E DE MARGINALIZAÇÃO NA SOCIEDADE. O novo sistema global de controle social exerce função de seleção e marginalização. O sistema escolar e o sistema penal reproduzem e asseguram as relações sociais existentes, baseadas em “ricos e pobres”. Para Alessandro Baratta, o sistema escolar, no conjunto que vai da instrução elementar à média e à superior, reflete a estrutura vertical da sociedade e contribui para cria-la e para conservá-la, através de mecanismos de seleção, discriminação e marginalização. Baratta critica os testes de coeficiente de inteligência (QI) e o suposto “mérito” escolar. Uma das razões do insucesso escolar consiste na dificuldade de crianças provenientes de classes proletárias de se adaptarem a um mundo estranho a eles. A escola reage com exclusão. II) FUNÇÃO IDEOLÓGICA DO PRINCÍPIO MERITOCRÁTICO NA ESCOLA. O menino proveniente de grupos marginais é tratado pelo professor com preconceitos e estereótipos. Pesquisas revelam a correlação do rendimento escolar com a percepção que o menino tem do juízo e das expectativas do mestre em relação a ele. A escola age com ação discriminante, ampliando os efeitos estigmatizantes. Transferência do mal e da culpa sobre uma minoria estigmatizada. III) FUNÇÕES SELETIVAS E CLASSISTAS DA JUSTIÇA PENAL. O sistema escolar e o sistema penal criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e marginalizados. Direito penal abstrato: criminalização primária. A formulação técnica dos tipos penais e a espécie de conexão entre agravantes e atenuantes favorece a punição dos mais pobres. Os processos de criminalização secundária acentuam o caráter seletivo do direito penal abstrato. Qual é a verdadeira criminalidade? 37 Na definição de Zaffaroni, criminalização primária “é o ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas” e a criminalização secundária “é a ação punitiva exercida sobre pessoas concretas, que acontece quando as agências policiais detectam uma pessoa que supõe-se tenha praticado certo ato criminalizado primariamente”. Alessandro Baratta: “a distância linguística que separa julgadores e julgados, a menor possibilidade de desenvolver um papel ativo no processo e de servir-se do trabalho de advogados prestigiosos, desfavorecem os indivíduos socialmente mais débeis. IV) A INCIDÊNCIA DOS ESTEREÓTIPOS, DOS PRECONCEITOS, DAS TEORIAS DE SENSO COMUM NA APLICAÇÃO JURISPRUDENCIAL DA LEI PENAL. Tendências de juízos diversificados conforme a posição social dos acusados. Para Baratta, pode-se afirmar que existe uma tendência por parte dos juízes de esperar um comportamento conforme a lei dos indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores; o inverso ocorre com os indivíduos dos estratos inferiores. As sanções que mais incidem sobre o status social são usadas, com preferência, contra aqueles cujo status social é mais baixo: Indivíduos de estratos inferiores: pena privativa de liberdade. Indivíduos de estratos superiores: sanções pecuniárias e substitutivas. V) ESTIGMATIZAÇÃO PENAL E TRANSFORMAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL DA POPULAÇÃO CRIMINOSA. A nova sociologia criminal inspirada no labelling approach nos ensina que a criminalidade é uma realidade social de que a ação das instâncias oficiais é elemento constitutivo. Há uma construção social da população delinquente. O mecanismo de marginalização é integrado e reforçado por processos de reação, que intervêm ao nível informal. Distância social da população criminosa com o resto da sociedade. 38 VI) NEXO FUNCIONAL ENTRE SISTEMA DISCRIMINATÓRIO ESCOLAR E SISTEMA DISCRIMINATÓRIO PENAL. Baratta: “ulterior série de mecanismos institucionais, os quais, inseridos entre os dois sistemas (escolar e penal), asseguram a sua continuidade e transmitem, através de filtros sucessivos, uma certa zona da população de um para outro sistema”. A intervenção da instância oficial é significativa para o prosseguimento do processo de criminalização, segundo Baratta. CÁRCERE E MARGINALIDADE SOCIAL I) AS CARACTERÍSTICAS CONSTANTES DO “MODELO” CARCERÁRIO NAS SOCIEDADES CAPITALISTAS CONTEMPORÂNEAS. Os institutos de detenção produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção do condenado, e favoráveis à sua estável inserção na população criminosa. Uma longa pena carcerária não é capaz de transformar um delinquente antissocial violento em um indivíduo adaptável. Cerimônias degradantes no preso geram “socialização ao cárcere” e aculturação. Prisionalização: educação para ser criminoso e educação para ser um bom preso. 2) RELAÇÃO ENTRE PRESO E SOCIEDADE. Relação entre quem exclui (sociedade) e quem é excluído (preso). Não se pode, ao mesmo tempo, excluir e incluir. O cárcere reflete a sociedade capitalista: relações baseadas no egoísmo e na violência ilegal, onde indivíduos mais débeis são constrangidos a papeis de exploração e submissão. Antes de mudar os excluídos, é preciso mudar a sociedade excludente. 39 3 e 4) AS LEIS DE REFORMA PENITENCIÁRIA ITALIANA E ALEMÃ E A PERSPECTIVA DE RUSCHE E KIRCHHEIMER: AS RELAÇÕES ENTRE MERCADO DE TRABALHO, SISTEMA PUNITIVO E CÁRCERE. A marginalização criminal revela um caráter impuro da acumulação capitalista, que implica necessariamente os mecanismos econômicos e políticos do parasitismo e da renda. É impossívelenfrentar o problema da marginalização social sem incidir na estrutura da sociedade capitalista, que tem necessidade de desempregados e da própria marginalização criminal. 5) ÊXITOS IRREVERSÍVEIS DAS PESQUISAS DE RUSCHE E KIRCHHEIMER E DE FOUCAULT: DO ENFOQUE IDEOLÓGICO AO POLÍTICO ECONÔMICO. Teoria dos fins da pena não revela os verdadeiros fins da pena. “Todo sistema de produção tem uma tendência a descobrir (e a utilizar) sistemas punitivos que correspondem às próprias relações de produção”. MODELO CONSENSUAL DE JUSTIÇA CRIMINAL Este tema é extraído da obra de Luiz Flávio Gomes e Antonio García-Pablos de Molina, abordando o modelo consensual de Justiça Criminal e as inovações trazidas pela Lei nº 9.099/95. Necessidade de separar a GRANDE da PEQUENA E MÉDIA criminalidade, com respostas quantitativa e qualitativamente diferentes. Espaço de consenso: pequena e média criminalidade. Penas ou medidas alternativas. Espaço de conflito: grande criminalidade. Justiça criminal consensuada: justiça reparatória (ex: Juizados), Justiça Restaurativa (feita por mediação) e Justiça negociada (plea bargaining), que não existe no Brasil. →Lei nº 9.099/95 = modelo de justiça consensuada. Nova filosofia político-criminal = vítima, reparação dos danos e o direito penal de ultima ratio. Enfraquecimento da crença do full enforcement. 40 Princípio da oportunidade regrada, da autonomia da vontade do imputado e da desnecessidade da pena de prisão. Sistema que privilegiou a vítima, assim como a ressocialização do infrator por outras vias alternativas, distintas da prisão. A Lei 9.099 foi uma quebra do modelo político-criminal palorepressivo (Ex: Lei de Crimes Hediondos, penas mais severas etc). Institutos despenalizadores. Vitimologia e Modelo de Justiça Consensual: a prioridade não é o castigo, mas a reparação dos danos causados à vítima. Caro aluno, Com isso, estudamos todos os tópicos do edital, dando destaque aos conteúdos em que há uma cobrança expressiva em prova. Obrigado pela confiança e sucesso! EM DELTA 41 CRIMINOLOGIA PROF. MURILLO RIBEIRO EXERCÍCIOS 1) (CESPE – Defensor Público Federal – 2018) A respeito do conceito e dos objetos da criminologia, julgue o item a seguir. O desvio ou o delito, objetos da criminologia, devem ser abordados, primordialmente, como um comportamento individual do desviante ou delinquente; em segundo plano, analisam-se as influências ambientais e sociais. 2) (FAPEMS – Delegado de Polícia MS/2018) Dentro da criminologia, tem-se a vertente da vitimologia, que estuda de forma ampla os aspectos da vítima na criminalidade, e é dividida em primária, segundária e terciária. Da análise dessa divisão, pode-se afirmar que a vitimização terciária ocorre, quando a) a vítima tem três ou mais antecedentes. b) a vítima é parente em terceiro grau do ofensor. c) um terceiro participa da ação criminosa. d) a vítima é abandonada pelo estado e estigmatizada pela sociedade. e) duas ou mais pessoas cometem o crime. 3) (FAPEMS – Delegado de Polícia MS/2018) A atividade policial dentre suas finalidades deve prevenir e reprimir o crime. Em particular, à polícia judiciária cabe investigar, com o fim de esclarecer fatos delitivos que causaram danos a bens jurídicos relevantes tutelados pelo direito penal. A criminologia dada a sua interdisciplinaridade constitui ciência de suma importância na atividade policial por socorrer-se de outras ciências para compreender a prática delitiva, o infrator e a vítima, possuindo métodos de investigação que visam a atender sua finalidade. Diante do exposto, assinale a alternativa correta sobre a criminologia como ciência e seus métodos. 42 a) Como ciência dedutiva; a criminologia se vale de métodos científicos, humanos e sociais, abstratos, próprios do Direito Penal. b) A criminologia, ciência lógica e normativa, busca determinar o homem delinquente utilizando para isso métodos físicos, psicológicos e sociológicos. c) A criminologia é baseada principalmente em métodos físicos, individuais e coletivos, advindos das demais ciências jurídico-penais, caracterizando-a como dogmática. d) Os métodos experimental e lógico auxiliam a investigação da criminologia, integrando várias áreas, dada sua natureza de ciência disciplinar. e) Os métodos biológico e sociológico são utilizados pela criminologia, que, por meio do empirismo e da experimentação, estuda a motivação criminosa do sujeito. 4) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) Assinale a alternativa correta no que diz respeito à criminologia e ao controle social. a) A criminologia crítica radical, através de análises profundas e contundentes, busca apresentar meios eficazes de aperfeiçoamento do controle social exercido pela justiça criminal. b) A afirmação do criminólogo Jeffery, no sentido de que “mais leis, mais penas, mais policiais, mais juízes, mais prisões significam mais presos, porém não necessariamente menos delitos”, refere-se a uma crítica ao controle social informal. c) A esterilização eugenista aplicada a criminosos contumazes e estupradores com o objetivo de evitar a procriação foi sustentada, no início do século XX, como forma de controle social por correntes criminológicas derivadas do pensamento positivista. d) a conclusão de uma pesquisa que indica maior punibilidade para negros (mais condenados do que indiciados e mais presos em flagrante do que indiciados por portaria) contradiz os fundamentos da criminologia crítica em relação ao controle social. e) A incipiente criminologia na escola clássica afastava o livre-arbítrio como fundamento do sistema penal de controle social. 43 5) (CESPE, Delegado de Polícia, PC/PE, 2016) Os objetos de investigação da criminologia incluem o delito, o infrator, a vítima e o controle social. Acerca do delito e do delinquente, assinale a opção correta. a) Para a criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema econômico; culpável é a sociedade capitalista. b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse escolher pela observância e pelo respeito à lei. c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas. d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária, nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia. e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação típica, ilícita e culpável. 6) (Promotor de Justiça/SC, 2016) Julgue o item. O italiano Cesare Lombroso, autor da obra “L’Uomo delinquente”, foi um dos precursores da Escola Clássica de Criminologia, a qual admitia a ideia de que o crime é um ente jurídico - infração - e não ação. 7) (VUNESP – Delegado de Polícia/BA - 2018) Assinale a alternativa que contém um exemplo de prevenção de infrações penais preponderantemente primária. a) Construção de uma praça com equipamentos de lazer em uma comunidade com altos índices de criminalidade e de vulnerabilidade social com o fim de evitar que jovens daquele local, em especial em situação de risco, envolvam-se com a criminalidade. b) Projeto Começar de Novo, que visa devolver aos cumpridores de pena e egressos a autoestima e a cidadania suprimidas com a privação de sua liberdade, por meio de ações de caráter preventivo, educativo e ressocializador, atuando, assim, na humanização, a fim de que referido público valorize a liberdade e passe a
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