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A INVESTIGAÇÃO DE TEMAS GERADORES PARA A INSERÇÃO DA DIMENSÃO AMBIENTAL CRÍTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Larissa Müller
Prof.ª Orientadora: Juliana Rezende Torres
PERCURSO METODOLÓGICO
Nesse projeto faço uso da Abordagem Temática Freireana para encontrar as contradições vividas pela comunidade da escola, através da investigação de temas geradores proposta por Freire (1974) e sistematizada por Delizoicov (1982; 2008) em cinco etapas:
Etapa 1 - “Levantamento Preliminar da Realidade Local”
Etapa 2 - “Análise das situações e escolha das codificações” 
Etapa 3 - “Diálogos descodificadores”
Etapa 4 - “Redução temática”
Etapa 5 - “Sala de Aula”
RESULTADOS
1ª etapa: “Levantamento Preliminar da Realidade Local”
Foram levantados aspectos em torno dos seguintes itens: 
Dados gerais da Cidade
Abastecimento de Água e tratamento de esgoto
Transporte público
Saúde
Cultura, esportes e Lazer
Dados da Escola
Questionário aberto para obtenção das falas significativas
Os dados levantados estão em sintonia com os seguintes atributos da EA: a contextualização e a articulação entre as dimensões local/global no que tange à problemática ambiental.
Codificação-problematização-descodificação para a validação de Temas
Esta dinâmica de codificação-problematização-descodificação corresponde às 2ª e 3ª etapas da Abordagem Temática Freireana
Para validar as falas significativas como temas geradores utilizei códigos (imagens) com a finalidade de dialogar com os educandos e problematizar as situações. Somente depois dessa atividade foi possível apontar possibilidades concretas de temas/contratemas. 
Quadro de Análise das Falas Significativas
A sistematização deste quadro esquemático contempla a relação entre as visões de mundo dos educandos (falas significativas) e visão de mundo dos educadores (visão ampla que aponta para conhecimentos científicos sistematizados/conteúdos escolares) acerca das contradições sociais vividas na comunidade local investigada e constituem hipóteses de temas geradores. Dentre as falas selecionadas escolhe-se aquela mais ampla que sintetiza as demais contradições e que será o tema gerador em questão.
Educando: qualquer indivíduo investigado na comunidade escolar, desde alunos, gestores, funcionários, pais, etc.
Quadro de Análise das Falas Significativas
 FALAS
 
LIMITEEXPLICATIVO
 ELEMENTOSPRESENTES NA VISÃO DO ALUNO
 
VISÃODE MUNDO DO EDUCADOR
 
ELEMENTOSPRESENTES NA VISÃO DE MUNDO DO EDUCADOR
 
 
“Sim. Eu me esforço para fazer lição e o professor me xinga o tempo inteiro onde que eu nunca conseguirei aprender nada porque sou burro.”
 
 
 
Aincompetênciagera a violência verbal.
 
 
 
Educação, convivência.
 Osalunos acreditam que não possuem competência para realizar as tarefas estabelecidas. Entretanto, o que é cobrado pelo currículo é totalmente sem significado para eles e distante da realidade da comunidade escolar. O problema está na pertinência das atividades propostas e da maneira que os professores tratam os alunos e tentam impor o que deve ou não ser feito em sala de aula, tratando os alunos com desrespeito.
 
Educação, currículo escolar, cultura, política, distribuição de renda, moradia, convivência.
 
“Eu acho que ter educação ambiental é que nem os professores falam aqui na escola...Tem que ter respeito, prestar atenção e ficar quieto em todos os lugares.”
 
  
Educação ambiental é obedecer sempre quem está no comando.
 
 
 
Educação, convivência.
Avisão de muitos alunos sobre educação ambiental é equivocada devido à maneira como esse tema é tratado nas escolas. De maneira superficial, a educação ambiental é apresentada apenas na sua “dimensão ecológica”, sem pensar nos problemas da realidade local e na qualidade de vida dos alunos e da comunidade.
 
 
Educação, currículo escolar, política, convivência, cultura.
 
 
 
“A escola que estudo é muito ruim pois só tem briga, bagunça e confusão. Porque não é uma escola de alunos decente. Devia ter mais policia dentro da escola.”
 
 
 
 
A violência só se resolve quando a polícia interfere.
 
 
 
Educação, segurança, convivência.
 Adefinição de alunos decentes dada pelo(a) aluno(a) é aquele que se mantém quieto, não questiona e não expõe suas opiniões dentro da escola. Esse é exatamente o comportamento que não só o sistema escolar exige dos estudantes, mas, principalmente, o nosso sistema econômico vigente exige dos trabalhadores. Portanto, o currículo tradicional é a alienação das massas, uma preparação para o mercado de trabalho.
 
 
 
Educação, currículo escolar, segurança, política, convivência, cultura.
 
 
 “Meu pai reclama que não tem asfalto, nem rede de esgoto nem farmácia e o posto não dá conta de atender todos. Minha mãe, pouca iluminação,puliciamentopouco por causa das gangues de drogas que tem briga entre os bairros. Devia terpuliciamento24 horas para colocar essas pessoas na cadeia.”
 
 
 
A violência só se resolve quando a polícia interfere.
 
  
 
Segurança infraestrutura e saúde
 Oproblema com a infraestrutura se deve a falta de investimento em obras de melhoria para os bairros, por uma questão de imposição de prioridades pelos órgãos públicos responsáveis. Em relação ao policiamento: o problema do tráfico de drogas se dá pela falta de oportunidades para os menos favorecidos devido ao modo de produção capitalista, o qual explora e não oferece condições dignas para os trabalhadores, concentrando a renda sempre nas mãos de poucos. Mais polícia dentro dos bairros não é suficiente, mas sim a elaboração de políticas sociais que incentivassem essas pessoas a saírem dessa situação, expondo para elas a realidade do tráfico e os riscos de envolver-se nele.
 
 
 
Saúde, infraestrutura, educação, segurança, distribuição de renda, política, moradia, trabalho, convivência.
 
“Não ter o que eu quero porque tem coisas que eu queria tanto ter mas não posso porque meu pai tá sem emprego, ele não consegue achar nada. Ele diz que é por causa que ele não tem mais preparo e idade e ninguém aceita ele, assim por isso eu fico infeliz.”
 
   
Desemprego é explicado pela falta de características pessoais específicas.
 
 
 
Trabalho e convivência.
Asdiferenças geradas pela má distribuição de renda, pela falta de oportunidades e pelo desemprego causam mal-estar nas pessoas, e, por isso elas se sentem incompetentes e despreparadas para o mercado de trabalho, sendo que esse sentimento é reforçado nas escolas pelo currículo tradicional, o qual obriga os alunos a seguirem um padrão e estudarem sobre temas e conteúdos pré- determinados, pois há uma promessa de que no futuro terão melhores oportunidades na vida.
 
 
Trabalho, moradia, convivência, cultura, educação, política, distribuição de renda.
Rede Temática
Fala 2:
Tema Gerador (visão do educando): “Eu acho que ter educação ambiental é que nem os professores falam aqui na escola... Tem que ter respeito, prestar atenção e ficar quieto em todos os lugares”.
Questão geradora (problematiza a relação entre o tema gerador e o contratema em busca dos possíveis conteúdos que visam superar a visão ingênua do educando sobre a contradição social): A noção de educação ambiental transmitida pela escola é uma visão crítica da realidade ou uma maneira de alienar os alunos e manter a lógica do currículo?
Contratema (visão do educador): A visão de muitos alunos sobre educação ambiental é equivocada devido à maneira como esse tema é tratado nas escolas. De maneira superficial, de forma a alienar os alunos, a educação ambiental é apresentada apenas na sua “dimensão ecológica”, sem pensar nos problemas da realidade local e na qualidade de vida da comunidade.
Rede temática
Os conteúdos listados na rede temática a seguir advém das relações entre os elementos estruturadores das visões de mundo dos educandos e dos educadores, presentes no quadro esquemático.
A ideia é fazer esta distribuição dos conteúdos de cima para baixo, onde a parte de baixo representa a dimensãolocal (visão dos educandos representadas nas falas significativas) e a parte do meio e cima da rede referem-se aos conteúdos advindos das visões dos educadores (contratemas). As relações da rede são construídas pelo coletivo a partir das dimensões do real: material, social e cultural.
Redução temática: programação
	Após o levantamento dos conteúdos escolares a partir do tema gerador são elaboradas as atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, com base nos 3 momentos pedagógicos: problematização inicial (PI) (ou estudo da realidade (ER)), organização do conhecimento (OC) e aplicação do conhecimento (AC).
	As atividades planejadas a partir dos momentos pedagógicos visam efetivar em sala de aula a dinâmica de PRÁXIS (ação-reflexão-ação transformadora), que pressupõe a dialética marxista e a pedagogia freireana. 
	Assim, o primeiro momento visa problematizar a visão de mundo do educando, tendo em vista a compreensão pelo educador, do limite explicativo do educando em torno da contradição. No segundo momento são apresentados e trabalhados os conhecimentos científicos pertinentes à elucidação da contradição social em questão, tendo em vista que os educandos possam ter uma visão totalizadora das contradições com vistas à superação de visões ingênuas acerca das mesmas. No terceiro momento são propostas atividades que permitam aos educandos fazerem sínteses referentes às contradições representadas no tema gerador, buscando explicar a contradição a partir dos conhecimentos científicos superando a visão ingênua sobre o mesmo. Também consiste em uma forma de o educador avaliar os educandos.
PROPOSTA: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E QUALIDADE DE VIDA
 Atividade 1: Problematização Inicial (grupo de 3 alunos)
 
Fala (tema gerador): “Eu acho que ter educação ambiental é que nem os professores falam aqui na escola... Tem que ter respeito, prestar atenção e ficar quieto em todos os lugares.”.
 
Limite Explicativo: Educação ambiental é obedecer sempre quem está no comando.
 Questão geradora da aula (visa problematizar a visão dos educandos em torno do tema gerador) : A noção de educação ambiental transmitida pela escola é uma visão crítica da realidade ou uma maneira de alienar os alunos e manter a lógica do currículo?
 
1. Em sua opinião, quais devem ser as principais metas (objetivos) da educação ambiental?
2. O que é meio ambiente para você? Em seu ponto de vista, quais são as relações que existem entre o ser humano e a natureza?
 
Atividade 2: Apresentação e organização dos conhecimentos
1. Discutir sobre as respostas das perguntas da problematização inicial e explicar o conceito de meio ambiente fundamentando-se na perspectiva de EA crítica.
2. O que é Educação Ambiental Crítica: considera que o ser humano está conectado às relações sociais, culturais e naturais e que a relação com o meio ambiente é historicamente determinada.
3. Objetivos da Educação Ambiental Crítica: questionar e transformar a realidade e integrar os interesses da população mais afetada pelos problemas ambientais.
4. Discutir sobre os principais problemas ambientais: desigualdade social, violência, condições precárias de transporte público, condições inadequadas de infraestrutura, desemprego, falta de planejamento urbano, inundações, falta de saneamento básico e doenças associadas.
5. O Capitalismo e a Sociedade de Consumo: 
Definição rápida do que é o sistema capitalista e seus principais interesses.
Por que temos a necessidade de comprar tantos produtos? 
A influência da mídia e o como o consumo exagerado pode afetar a nossa qualidade de vida.
O Interesse do Capitalismo na manutenção da desigualdade social.
Atividade 3 – Aplicação do conhecimento
Analisar e discutir sobre as seguintes figuras:
 
Fonte: Google Imagens
Perguntas para guiar a discussão das imagens:
1. Na primeira figura vemos uma indústria ganhando muito dinheiro e poluindo os rios. Depois vemos que ela está “ensinando” para a população brasileira o que é sustentabilidade. Você concorda com essa atitude? Por quê?
2. Depois de analisar essa mesma figura, podemos afirmar que existem interesses econômicos (das indústrias) e políticos por trás do que nos ensinam na escola? Por que vocês acham que isso acontece? 
3. Na segunda figura vemos latas de lixo para reciclagem e também vemos uma pessoa passando fome, querendo restos de comida (lixo orgânico) que alguém pode jogar. A figura quer nos passar uma ideia do que é mais importante: saber em que lixo devemos jogar o quê ou enxergar que, por trás do discurso “sustentável” feito pelas indústrias poluentes, existem pessoas passando fome? A partir dessa informação vamos refletir no por que as grandes indústrias não querem que nós pensemos nas pessoas passando necessidades.
4. Pense em soluções para os problemas da desigualdade social (violência, falta de acesso á saúde, transporte público, saneamento) causados pelo sistema capitalista.
REFERÊNCIAS
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. SILVA, Antônio Fernando Gouvêa (colaborador). Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. 4 ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática pedagógica. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. 165 p.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 57 ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1987.
REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. 2. ed. Coleção Primeiros passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009. 62 p. 
SATO, Michèle; CARVALHO, Isabel. Educação ambiental: pesquisa e desafios. Michele Sato, Isabel Carvalho (orgs.). Porto Alegre: Artmed, 2008.
SILVA, Antonio Fernando Gouvêa da. A busca do tema gerador na práxis da educação popular. Curitiba: Gráfica Popular, 2007.
TORRES, Juliana Rezende. Educação ambiental crítico-transformadora e Abordagem Temática Freireana. 2010. 456 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2010.
TORRES, Juliana Rezende; FERRARI, Nadir; MAESTRELLI, Sylvia Regina Pedrosa. Educação Ambiental crítico-transformadora no contexto escolar: teoria e prática Freireana. In: Educação Ambiental dialogando com Paulo Freire. 1 ed. São Paulo: Editora Cortez, 2014.
TORRES, Juliana Rezende; MAESTRELLI, Sylvia Regina Pedrosa. Atributos da educação ambiental escolar no contexto educacional brasileiro: do movimento ambientalista internacional ao nacional. In: Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v. 28. p. 115-132, 2012.

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