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i CÍCERO ALVES DE ALCANTARA REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. ii SÃO PAULO 2005 CÍCERO ALVES DE ALCANTARA REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. Orientadora: Prof. Adir Janete Godoy dos Santos iii RESUMO Buscou-se neste trabalho fazer um levantamento bibliográfico sobre a legislação pertinente ao uso de resíduos na produção de várias matérias-primas empregadas na construção civil. A partir, foram levantadas diferentes formas de serem reutilizados ou reciclados esses materiais, bem como a viabilidade prática e econômica, a partir daí foi levantado algumas formas de como em um canteiro de obra pode-se utilizar do entulho gerado por esta obra, como material de construção. Palavra Chave: Entulho, Moinho de entulho, Reusa de resíduos da Construção. iv ABSTRACT My intention in this term paper was to make a bibliographical survey on the pertinent legislation to the use of residues in the production of some raw materials used in the civil construction. From this fact on, different forms of using this kind of material had been appeared, as well as the practical and economic viability of working in this way. I searched how rubbish used to be in advantage in the civil construction, and the way to take off advantage of this, before this residue being discarded. Key Worlds: Rubbish, Mill, Reuse of construction residues. v LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 5.1: Consumo de energia elétrica em processos produtivos e energia evitável com a reciclagem (MWh/t) .................................................................................20 Figura 5.2: Evolução da Coleta de RSU (IBGE, 2000)..............................................26 Figura 5.3: Distribuição de RSU no Brasil (IBGE 1991). ...........................................27 Figura 5.4: Deposição de Resíduos no Estado de São Paulo (CETESB, 2004). ......35 Figura 5.5: Deposição de Resíduos no Município de São Paulo (CETESB, 2004). ..36 Figura 5.6: Entulho processado pela usina de reciclagem de Ribeirão Preto. ..........44 Figura 5.7: Porcentagem média dos constituintes do entulho. ..................................45 Figura 5.8: Curvas granulométricas das amostras estudadas (%acumulada). .........46 Figura 5.9: Amostra da fração miúda do entulho utilizado. .......................................48 Figura 5.10:Amostra da fração graúda do entulho utilizado. .....................................49 Figura 5.11: Aspecto do concreto produzido (traço 1:5)............................................51 Figura 5.12: Resistência à compressão simples do concreto aos 28 dias. ...............52 Figura 5.13: Valores observados no ensaio de desgaste à abrasão.........................55 Figura 5.14: Curva de Abrams. .................................................................................57 Figura 6.1: Moinho Misturador ANVI 5000. ...............................................................65 Figura 6.2: Despejar os Aglomerados (cimento, etc.) Junto com água. ....................66 6.3: Acrescentar Entulho e Água. Somente Depois de Moído, Agregar Areia...........67 6.4: Agregar areia e água, formando uma massa com a plasticidade e consistência desejada.............................................................................................................67 6.5: Agregar areia e água, formando uma massa com a plasticidade e consistência desejada.............................................................................................................67 vi LISTA DE TABELAS Tabela 5.1: Quantidade de RSU Coletado no Brasil de 2000 a 2004 (IBGE, 2000)..25 Tabela 5.2: Desperdícios na construção de alguns países. (ZORDAN, 1997)..........38 Tabela 5.3:Resultados da consistência e da relação a/c. .........................................50 Tabela 5.4:Resistência à compressão do concreto aos 28 dias - Análise comparativa. ...........................................................................................................................53 Tabela 5.5: Resistência à compressão aos 60 dias - Valores médios (Mpa) ............53 Tabela 5.6: Valores dos coeficientes de permeabilidade kT obtidos (10-16 m2) ......56 Tabela 5.7: Qualidades de superfícies. .....................................................................56 Tabela 6.1: Algumas obras, executadas em concreto com agregados reciclados, na Inglaterra (LEVY, 2001)......................................................................................60 Tabela 6.2: Algumas obras, executadas em concreto com agregados reciclados, na Alemanha a partir do período após a segunda guerra mundial (LEVY, 2002). ..61 Tabela 6.3: Resumo dos custos por m² de construção (ÂNGULO, 2000).................63 Tabela 6.4: Tipos de gestão de entulho em canteiros de obras (ÂNGULO, 2002)....64 Tabela 6.5: Dados Técnicos do produto (ANVI, 2005) ..............................................68 vii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CNPq Conselho Nacional de Pesquisas CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CP II E Cimento Portland II com Escoria de Alto Forno EUA Estados Unidos da America GRS Gestão de Resíduos Sólidos GRSU Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas ISO Internacional Organization of Standarlization OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico RCD Resíduos da Construção e Demolição RSC Resíduo Sólido da Construção RSU Resíduos Sólidos Urbanos SGA Sistema de Gestão Ambiental viii LISTA DE SÍMBOLOS hab Habitante m³ Metro Cúbico MWh Mega Wats hora t Tempo ton Tonelada ix SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................1 2 OBJETIVOS.........................................................................................................5 2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................5 2.2 Objetivo Específico ...................................................................................................5 3 METODOLOGIA DO TRABALHO.......................................................................7 4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................8 5 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL..............................................................10 5.1 Modelo Atual de Produção....................................................................................10 5.2 Questões Ambientais .............................................................................................11 5.3 Sustentabilidade ......................................................................................................13 5.4 Gestão de Resíduos Sólidos. ...............................................................................145.4.1 Lixões...................................................................................................................16 x 5.4.2 Aterro Controlado e Aterro Sanitário ..............................................................16 5.4.3 Compostagem ....................................................................................................17 5.4.4 Reciclagem .........................................................................................................18 5.4.4.1 Reciclagem como Fonte de Integração Social e Renda. ........................20 5.4.5 Evolução das Políticas de Gestão no Mundo ...............................................21 5.4.5.1 Primeira Fase: Deposição. ...........................................................................21 5.4.5.2 Segunda Fase: Reciclagem Incineração e Controle................................22 5.4.5.3 Terceira Fase: Gestão e Redução na Origem. .........................................23 5.4.6 Políticas de Gestão no Brasil e a Legislação ................................................24 5.5 Resíduos Sólidos da Indústria da Construção Civil no Brasil....................26 5.5.1 Certificação Ambiental ......................................................................................28 5.5.2 Selo ecológico: Qualidade Ambiental.............................................................30 5.5.3 Sistema de Gestão Ambiental .........................................................................32 5.5.3.1 SGA segundo a ISO 14001 Tecnologia de Gerenciamento ...................34 5.6 Dados Estados de São Paulo ...............................................................................35 5.7 Resíduos da Construção Civil .............................................................................37 5.8 Utilização dos Resíduos da Indústria da Construção Civil no Brasil .......42 5.8.1 Ensaio Acadêmico do Reuso de RSC............................................................43 5.8.2 Resíduo Utilizado ...............................................................................................44 xi 5.8.2.1 Caracterização Qualitativa do Resíduo Utilizado .....................................45 5.8.2.2 Caracterização Granulométrica...................................................................46 5.8.3 Confecção do Concreto ....................................................................................47 5.8.3.1 Resíduo Miúdo ...............................................................................................47 5.8.3.2 Resíduo Graúdo .............................................................................................48 5.8.4 Traços Utilizados ...............................................................................................49 5.8.4.1 Relação Água/Cimento .................................................................................49 5.8.5 Resultados Obtidos ...........................................................................................51 5.8.5.1 Resistência à Compressão Simples ...........................................................52 5.8.5.2 Resistência do Concreto ao Desgaste por Abrasão ................................54 5.8.5.3 Determinação da Permeabilidade do Concreto ........................................55 5.8.5.4 Curva de Abrams ...........................................................................................56 6 APLICAÇÃO E USO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO ..............58 6.1 Obras em Concreto Preparado com Agregados Reciclados.......................58 6.2 Moinho Para Reciclagem de Grande Quantidade de Entulho. ....................62 6.3 Moinho e Argamasseira para Escala Menores ................................................65 6.3.1 Características Técnicas do Produto..............................................................68 7 CONCLUSÕES..................................................................................................69 xii REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................70 ANEXO .....................................................................................................................76 RESOLUÇÃO Nº 307 DO CONAMA, DE 5 DE JULHO DE 2002. ...............................76 1 1 INTRODUÇÃO Desde que o homem tornou-se sedentário, passou a plantar e colher, a viver em sociedade, passou a ter também a preocupação de dar destino correto aos resíduos gerados pelo seu modo de produzir e consumir. Existem exemplos de amontoados de resíduos desde o tempo em que o ser humano vivia em cavernas, passando pelas civilizações grega, romana e árabe. Até os dias atuais os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são uns dos maiores desafios para o homem em termos de gerenciamento (BONELLI 1993). Entretanto, o homem primordialmente gregário, jamais havia se defrontado com a monumental escala de complexidade verificada nestes tempos de globalização e consumismo (BROLLO 2001). A partir da segunda metade do século XX o surgimento de novos materiais, como os plásticos, por exemplo, da micro–eletrônica com a banalização de pilhas e baterias, o êxodo das populações do campo para as cidades, e tantos outros fatores, contribuíram para que o cada dia se configure novas características dos RSU em quantidade e qualidade. O desenvolvimento tecnológico e o crescimento econômico trouxeram grandes benefícios à sociedade. Mas, aliados ao crescimento populacional e a um comportamento de consumo inadequado, provocaram vários efeitos colaterais. Entre eles, destaca-se a poluição, principal agente de degradação do meio ambiente e de redução da qualidade de vida do homem. 2 O crescimento das demandas ambientais da sociedade tem exigido do setor produtivo respostas cada vez mais eficientes aos problemas causados ao meio ambiente. O rápido adensamento industrial e o crescimento do consumo, verificado nas últimas décadas, deixaram os limites do planeta cada vez mais tangíveis, no que diz tanto a extração de matéria prima como o uso dos recursos naturais como corpos receptores dos resíduos gerados. O ser humano interfere no meio ambiente, inevitavelmente gerando resíduos (líquidos, sólidos e gasosos) através de suas ações, tanto durante o processo industrial bem como durante o uso dos produtos provenientes dele. Soma-se a isto o descarte dos resíduos no ar, na água ou no solo, o que geralmente produz efeitos prejudiciais ao meio ambiente e ao próprio homem. A relação entre resíduos e a problemática ambiental torna-se mais visível quando se trata de resíduos sólidos, uma vez que seu grau de dispersão é bem menor do que o dos líquidos e gasosos (DEMAJOROVIC, 1995). Os resíduos sólidos, segundo Demajorovic (1995), possuem valor econômico agregado, podendo ser reaproveitados. O mesmo autor afirma que: “... em contraposição aos antigos sistemas de tratamento desses resíduos, que tinham como prioridade a disposição destes, os atuais devem ter como prioridade um ‘ecological cycle management’, o que significa a montagem de um sistema circular, onde a quantidade de resíduos a serem reaproveitados dentro do sistema produtivo seja cada vez maior e a quantidade disposta, menor”. 3 Segundo Demajorovic (1995), deve-se ter uma visão diferente quando se falam em entulhos, sobras e em lixo em geral. Deve-se encarar os subprodutos do sistema produtivo como “resíduos sólidos” e não mais como “lixo”, pois aquele se diferencia deste por possuir valor econômico ao contrário deste que é apenas descartado. Assim, o autor cita que em 1975, os paísesda OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) priorizaram em relação à gestão de resíduos sólidos o tratamento destes na seguinte ordem: • Redução da produção de resíduos; • Reciclagem do material; • Incineração com reaproveitamento de energia; • Disposição em aterros sanitários controlados. As prioridades na gestão dos resíduos sólidos urbanos (GRSU),devem ser primeiramente a minimização da geração desses resíduos, através de mudanças de hábito de consumo e a produção de produtos com menor quantidade de material e com maior facilidade de reciclagem. Posteriormente a preocupação deve se voltar para a sua destinação: reciclagem, incineração e disposição, nesta ordem (VALLE, 1995). As composições dos RSU, no entanto são particularmente relacionadas aos diversos fatores como renda per-capita, estação do ano, costumes regionais, e tantos outros pormenores, a despeito da dita globalização. Cada cidade produz um lixo que lhe e característico, assim como cada cidade é única em situação social, geográfica, econômica, política e não pode ser tomada por outra sob pena de graves distorções. 4 O lixo oriundo de entulhos da construção civil, embora não seja o lixo mais incômodo, sob o ponto de vista da toxidade, assusta pelo seu volume crescente e requer medidas imediatas; ele é, muitas vezes, utilizado na recuperação de áreas alagadas, para aterros e reaterros ou, então, simplesmente lançado, de maneira aleatória e irregular, na beira de estradas, cursos d’água ou antigas cavas, quando não lançados em aterros sanitários. Porém o problema reside, ainda, na escassez de áreas adequadas para a sua deposição que, com o crescimento metropolitano, vem-se tornando cada vez mais remotas; por outro lado, o entulho pode ser reciclado, gerando elementos construtivos. Nos Estados Unidos, seu aproveitamento é realizado há mais de 30 anos, para produzir agregados artificiais; enquanto na Europa se trata de uma atitude cultural, a Holanda, com mais de 40 usinas de reciclagem de entulho, recicla 70% dos resíduos e a Alemanha, 30% (Coelho & Chaves, 1998). 5 2 OBJETIVOS Verificar as vantagens e desvantagens do reuso dos resíduos sólidos gerados pela construção civil com relação aos aspectos técnicos, econômicos e ambientais. Verificando a produção de matéria-prima e o potencial econômico da utilização desses resíduos como matéria prima ou objetos de serviços de responsabilidade social. 2.1 Objetivo Geral Analisar como o desenvolvimento tecnológico vem tratando os resíduos industriais que apresentam potencial técnico e econômico. Como esses resíduos são utilizados na construção civil, a evolução dessa utilização, conceitos, regulamentação, perspectivas e métodos viáveis e com isso propor alternativas para o gerenciamento do dos resíduos sólidos da construção civil e não o simples descarte em aterros, analisando os aspectos ambientais, econômicos e sociais envolvidos. 2.2 Objetivo Específico Apresentar maneiras de utilização de resíduos sólidos da construção civil no próprio Canteiro de obras, verificar a viabilidade econômica e técnica para isso, e pesquisar 6 qual a potencialidade do setor em absorver esses resíduos, analisando trabalhos realizados no campo acadêmico somado aos já realizados em escala piloto. 7 3 METODOLOGIA DO TRABALHO Para se cumprir os objetivos propostos, o trabalho foi desenvolvido através de uma metodologia composta basicamente por duas etapas: uma de revisão bibliográfica e outra de pesquisa de campo. A metodologia adotada baseou-se inicialmente na primeira etapa, a de revisão bibliográfica, onde procurou-se adquirir conhecimento, que consistiu num levantamento e estudo da bibliografia existente sobre o tema, abrangendo pesquisas em livros, periódicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos técnicos, publicações em revistas e jornais, encontrados na Internet e no acervo técnico de bibliotecas pesquisadas, Foram utilizados também bases de dados empresas e associações. Os principais assuntos desenvolvidos nessa primeira etapa estão apresentados no quinto capítulos deste trabalho. Ressalta-se que esse capítulo serviu de embasamento teórico para que se pudesse passar para a etapa seguinte relacionada com a pesquisa de campo. A segunda etapa consistiu no estudo de casos em empresas fabricante dos moinhos apresentados, o intuito foi verificar como essas empresas lidam com os conceitos levantados durante a revisão bibliográfica, fazer uma análise dos dados coletados, como especificações técnicas e assim ter subsídios para realizar uma comparação critica entre as propostas apresentadas. 8 4 JUSTIFICATIVA O presente trabalho se justifica, pois conhecer e difundir a aplicação dos resíduos sólidos da construção civil na obtenção de matéria prima é essencial para o desenvolvimento sustentável, haja visto que esses resíduos sólidos hoje é um grande problema para a sociedade moderna. Destiná-los a fins mais nobres que os aterros sanitários já é uma necessidade para a nossa sociedade, visando retorno financeiro direto ou executados por meio de subsidio estatal. De uma forma ou de outra, são poucos os setores produtivos que trabalham com tamanha variedade de materiais e volume como o da construção civil, sendo por isso um grande nicho consumidor de produtos gerados a partir dos RCC (Resíduos da Construção Civil). Os resíduos da construção civil possuem um grande potencial para serem reutilizados como matéria-prima; tais resíduos apresentam vantagens significativas em relação aos demais resíduos devido ao conhecimento das propriedades do material de origem. Entretanto, apesar de inúmeras pesquisas desenvolvidas no exterior atestarem o grande potencial do material, o Brasil ainda carece de pesquisas que sirvam como ferramenta para a utilização desse material; acrescenta- se a isso, a falta de informação por parte da população e a falta de regulamentações que punam os responsáveis por despejar resíduos no meio-ambiente. Felizmente, este panorama poderá mudar com a disposição do CONAMA (2002) que trata sobre a gestão dos resíduos da construção civil e que entrou em vigor em janeiro de 2003. A utilização desses resíduos como agregado para novas dosagens implicará em redução dos custos envolvidos com a exploração e transporte dos agregados 9 naturais e, além disso, reduzirá substancialmente o volume de resíduos despejados no meio-ambiente. Acrescenta-se a isso, o fato que inúmeros países já lucram com uma nova atividade econômica, o comércio de resíduos. Em países, como a Holanda, as atividades de pesquisa e desenvolvimento na área de reciclagem romperam as barreiras das universidades e, se transformaram em excelente negócio para um significativo número de empresas privadas. Deve-se destacar também que nesse país, a existência de legislações que contemplem os resíduos foi a responsável pelo índice de reaproveitamento chegar a 80% em relação a todos os resíduos gerados. No Japão, segundo TOMOSAWA & NOGUCHI (1996) está surgindo o conceito de concreto totalmente reciclável, no qual todos os materiais provenientes do processo de reciclagem são utilizados como matéria-prima para a produção de um novo concreto. 10 5 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL. O termo “lixo” é o designativo daquilo que tecnicamente é denominado resíduo sólido, sendo o mesmo resultante da atividade das aglomerações urbanas. Os resíduos sólidos podem ser objetos quenão mais possuem valor ou utilidade, porções de materiais sem significado econômico, sobras de processamento industrial ou sobras domésticas a serem descartadas, ou seja, qualquer coisa que se deseje jogar fora (AISSE, 1982). O termo “resíduo sólido” diferencia-se do termo “lixo”, pois o último não possui qualquer tipo de valor, já que é aquilo que deve ser apenas descartado, enquanto o primeiro possui valor econômico por possibilitar o reaproveitamento no processo produtivo (DEMAJOROVIC, 1995). Os resíduos sólidos urbanos compreendem os resíduos domésticos, comerciais e industriais (VALLE, 1995) são considerados como rejeito os resíduos que não tenham aproveitamento econômico por nenhum processo tecnológico disponível e acessível. 5.1 Modelo Atual de Produção No modelo atual de produção, os resíduos sempre são gerados na produção de bens de consumo. Ao final da vida útil eles se convertem em resíduos. Assim, a 11 massa de resíduos gerados é superior a massa de bens de consumo em longo prazo para qualquer economia (JOHN, 2000). Neste processo, matérias-primas não- renováveis são transformadas em lixo que se acumula em aterros, ocupando espaços e, muitas vezes, concentrando produtos perigosos. Esta concentração de resíduos perigosos significa muitas vezes um risco ambiental posto que acidentes sejam possíveis especialmente porque não existe garantia que no longo prazo eles continuarão a serem guardados e operados com segurança. De fato, os resíduos se transformaram em graves problemas urbanos e ambientais com um gerenciamento oneroso e complexo. A escassez de área de deposição de resíduos causada pela ocupação e valorização de áreas urbanas, os altos custos sociais no gerenciamento de resíduos, problemas de saneamento público e contaminação ambiental são alguns destes problemas (GUNTHER, 2000). Por outro lado, muitas destas matérias primas estão se esgotando ou estão disponíveis em locais cada vez mais distantes do centro de consumo ou de difícil acesso (JOHN, 2000). Tais problemas são resultados da intensa industrialização, advento de novas tecnologias, crescimento populacional e concentração de pessoas em centros urbanos e diversificação de bens de consumo e serviços. 5.2 Questões Ambientais Existe, na natureza, um equilíbrio biológico entre todos os seres vivos. Neste sistema em equilíbrio os organismos produzem substâncias que são úteis para 12 outros organismos e assim sucessivamente. A poluição vai existir toda vez que resíduos (sólidos, líquidos ou gasosos) produzidos por microorganismos, ou lançados pelo homem na natureza, forem superior à capacidade de absorção do meio ambiente, provocando alterações na sobrevivência das espécies. A poluição pode ser entendida, ainda, como qualquer alteração do equilíbrio ecológico existente. A poluição é essencialmente produzida pelo homem e está diretamente relacionada com os processos de industrialização e a conseqüente urbanização da humanidade. Esses são os dois fatores contemporâneos que podem explicar claramente os atuais índices de poluição. Poluição é, portanto, uma agressão à natureza, ao meio ambiente em que o homem vive. Os efeitos da poluição são hoje tão amplos que já existem inúmeras organizações de defesa do meio ambiente. (OLIVEIRA, 2001) Cabe salientar que o desenvolvimento sustentável não nega a necessidade do progresso tecnológico. Segundo Donaire (1995), o desenvolvimento sustentável tem três vertentes principais: crescimento econômico, eqüidade social e equilíbrio ecológico. O desenvolvimento tecnológico deve ser orientado para metas de equilíbrio com a natureza e de incremento de capacidade de inovação dos países em desenvolvimento; o progresso deve significar a integração de maior riqueza, maior benefício social eqüitativo e equilíbrio ecológico. Para este tipo de desenvolvimento ser compatível com o equilíbrio ecológico, situações irreversíveis como a destruição da biodiversidade ou o esgotamento de certas matérias-primas devem ser evitados. Desta maneira, o adequado gerenciamento de resíduos constitui uma alternativa que contribui para alcançar o desenvolvimento sustentável, 13 uma vez que permite economia de capital natural (matéria-prima, energia, água) e de saneamento ambiental (reduz poluição do ar, água, solo e subsolo). 5.3 Sustentabilidade O conceito de sustentabilidade ligado à preservação do meio ambiente é uma idéia recente, visto que nos países desenvolvidos o ambientalismo só tomou corpo a partir da década de 50. Isto deve ao fato de que a partir desta época ficaram evidentes os danos que o crescimento econômico e a industrialização causavam ao meio ambiente, fazendo prever as dificuldades de se manter o desenvolvimento de uma nação com o esgotamento de seus recursos naturais (CARVALHO, 1994). Na teoria econômica clássica a idéia de sustentabilidade se relacionava com a expansão de um setor moderno, representado pela indústria e os serviços, que englobasse os setores mais tradicionais, como a agricultura. Assim, os surtos esporádicos de crescimentos seriam substituídos por uma capacidade de acumulação endogeneizada através da consolidação de uma indústria pesada (OLIVEIRA 2001), capaz de garantir internamente sua reprodução ampliada. Com a expansão dos movimentos ambientalistas tratou-se de definir desenvolvimento sustentável como a interação de crescimento econômico e conservação da natureza (CARVALHO, 1994). Partindo da noção básica de desenvolvimento, qual seja, "a combinação da expansão econômica persistente (crescimento) com a ampla difusão dos benefícios 14 deste crescimento entre a população", Pinto (1999) formula uma definição moderna e atual que combina desenvolvimento e sustentabilidade ecológica. Assim, desenvolvimento sustentável pressupõe a expansão econômica permanente, com melhorias nos indicadores sociais e a preservação ambiental. Logo, entende-se por desenvolvimento sustentável aquele que concilia métodos de proteção ambiental, eqüidade social e eficiência econômica, promovendo a inclusão econômica e social, através de políticas de emprego e renda. Este estilo de desenvolvimento deve oferecer um amplo conjunto de políticas públicas capaz de universalizar o acesso da população aos serviços de infra-estrutura econômica e social, mobilizando os recursos de modo a satisfazer às necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. 5.4 Gestão de Resíduos Sólidos. Segundo Ferreira (1994) um Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos (GRSU) eficaz consiste naquele que completa o uso de práticas administrativas de gestão dos resíduos, com manejo seguro e efetivo fluxo de resíduos sólidos urbanos, com o mínimo de impactos sobre a saúde pública e o meio ambiente. Este sistema de gerenciamento integrado de resíduos deverá conter alguns, ou todos os seguintes componentes: • Redução de resíduos (incluindo reuso dos produtos); 15 • Reciclagem de materiais (incluindo compostagem); • Recuperação de energia por resíduo combustível; • Disposição final (aterros sanitários). No fluxo de resíduos sólidos urbanos são incluídos diferentes procedimentos como: • Coleta seletiva, com a separação de algumas categorias de resíduos mais ocorrentes, como: vidro, papel e papelão, metais, e embalagens plásticas; • Segregação mecânica, com a finalidade de separar materiais orgânicos dos inorgânicos nos locais de recepção (usinas de reciclagem); • Compostagem e/ou vermicompostagem,que processam restos orgânicos (através de microrganismos) com a finalidade de produzir fertilizantes para o uso agrícola e/ou com tecnologia na qual se utilizam minhocas (anelídeo) para produção de composto orgânico; • Incineração, um processo de tratamento térmico, mais comumente empregado na eliminação dos resíduos de serviços de saúde; • Aterros sanitários energéticos, com drenagem, captação dos gases produzidos pelo processo de biodegradação dos componentes orgânicos e seu aproveitamento econômico. 16 5.4.1 Lixões São os locais onde os resíduos são descarregados a céu aberto sem qualquer tratamento, tanto anterior, como posterior. Este tipo de disposição contamina o lençol freático, além de produzir efluentes líquidos e gases tóxicos. O lixão consiste em uma forma inadequada de disposição final de resíduos sólidos, onde os resíduos são jogados sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública; é a forma mais utilizada nos municípios brasileiros (PINTO 1999). 5.4.2 Aterro Controlado e Aterro Sanitário Aterro controlado é uma variação do lixão, nesta forma de disposição, os resíduos sólidos são cobertos com terra, de forma arbitrária, onde reduz os problemas de poluição visual, mas não reduz a poluição do solo, da água e atmosférica, não levando em consideração a formação de líquidos e gases (FERREIRA, 1994). O termo aterro controlado é muito confundido com aterro sanitário, onde muitas administrações públicas, sem o profundo conhecimento ambiental e de engenharia, apresentam soluções à disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos, e o que se verifica é um lixão controlado e não um aterro sanitário. Segundo a norma NBR 8.419 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (1984): “aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de 17 disposição de resíduos sólidos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho e em intervalos menores se necessário". Através da formação de pilhas/leiras, o composto é produzido a partir da degradação biológica da matéria orgânica em presença de oxigênio do ar. Os produtos gerados no processo de decomposição são: chorume, gás carbônico, calor e água. A transformação da matéria orgânica em gás carbônico e vapor de água reduz o peso e o volume da pilha de material que está sendo compostado. Preparar o composto de forma correta significa proporcionar aos microorganismos responsáveis pela degradação, condições favoráveis de desenvolvimento e reprodução, ou seja, a pilha de composto deve possuir resíduos orgânicos, umidade e oxigênio em proporções adequadas. 5.4.3 Compostagem Trata-se de um método para decomposição do material orgânico existente no lixo, sob condições adequadas, de forma a se obter um composto orgânico para utilização na agricultura. Entre as vantagens da compostagem podemos destacar: 18 • Economia de espaço físico em aterro sanitário; • Reaproveitamento agrícola da matéria orgânica produzida; • Reciclagem dos nutrientes contidos no solo; • Eliminação de patogênicos ambientalmente seguro. O processo de compostagem pode ocorrer de duas maneiras: • Método natural onde a fração orgânica do lixo é levada para um pátio e disposta em leiras. A aeração é feita por revolvimentos periódicos para o desenvolvimento do processo de decomposição biológica, este processo tem um tempo estimado que possa variar de três a quatro meses; • Método acelerado onde a aeração é forçada por tubulações perfuradas, sobre as quais se colocam as leiras, ou em reatores dentro dos quais são colocados os resíduos, avançando no sentido contrário ao da corrente de ar. O ar é injetado sobre pressão, este processo pode variar de dois a três meses. 5.4.4 Reciclagem A reciclagem dos materiais recuperáveis tem cada vez maior aceitação no mundo. As vantagens econômicas, sociais, sanitárias e ambientais sobre os outros métodos são evidentes. Em tese, grande parcela do resíduo gerado, pode ser transformada em algo útil à humanidade. Contudo, grande parte do resíduo ainda não é reaproveitada, sendo disposta de forma prejudicial natureza (SINGER, 2003). Este processo (reciclagem) constitui importante forma de recuperação energética. Apenas 19 alguns componentes do lixo urbano não podem ser reaproveitados. Dependendo das características regionais, a reciclagem pode representar um fator importante de redução de custos dentro do sistema de limpeza urbana. De acordo com Biddle (1993), o sucesso da reciclagem, na verdade, não depende de quanto espaço de aterro é economizado, importando sim, se ela é economicamente viável. A reciclagem não é somente uma questão de recuperar material reciclável; ela é um sistema econômico. Para garantir a sustentação econômica da reciclagem, devem ser levados em consideração os seguintes fatores: • Existência de demanda de mercado para o resíduo; • Proximidade da fonte geradora com o local onde será reciclado o material; • Quantidade de material disponível e condições de limpeza; • Custo de separação, coleta, transporte, armazenamento e preparação do resíduo antes do processamento; • Custo de processamento e transformação do resíduo em novo produto; • Existência de demanda de mercado para o produto resultante da reciclagem; • Existência de tecnologia (processo) para efetuar a transformação do resíduo; Todo o lixo doméstico e industrial poderia ser reutilizado ou reciclado, mas alguns produtos devem ficar fora do processo por questões de segurança ou dificuldade de manuseio e técnica especializada. 20 5.4.4.1 Reciclagem como Fonte de Integração Social e Renda. O Brasil ocupa hoje posição de destaque entre os principais recicladores de resíduo sólido urbano, mesmo se comparado com países desenvolvidos. Embora esse dado possa ser interpretado como um avanço do ponto de vista da consciência ambiental e da conservação de energia, também pode evidenciar um grande problema social, o incremento do trabalho dos coletores informais, Os benefícios energéticos proporcionados pela reciclagem são avaliados comparando-se a quantidade de energia elétrica necessária para os processos produtivos primários com a energia demandada na reciclagem do papel, vidro, plástico e alumínio, a diferença entre estas quantidades é o que se chama energia evitada como mostra a figura abaixo. Figura 5.1: Consumo de energia elétrica em processos produtivos e energia evitável com a reciclagem (MWh/t) 21 A questão social é abordada a partir da relação entre: aumento dos índices de reciclagem, a abundância de material descartado, o gerenciamento inadequado de resíduo, a falta de distribuição de renda e o desemprego. São evidentes os benefícios ambientais que resultam de todo este processo, mesmo diante da dificuldade de mensurá-los quantitativamente. Assim, pode se afirmar que a situação social brasileira, que é um grande desafio a ser enfrentado, é fator determinante para os altos índices de reciclagem alcançados, resultando, entre outros, na conservação de energia e em benefícios ambientais. 5.4.5 Evolução das Políticas de Gestão no Mundo Segundo DEMAJOROVIC o rumo tomado pela política de Gestão de Resíduos Sólidos(GRS), teve significativa evolução a partir dos últimos 25 anos, nos países desenvolvidos, permite identificar três fases, marcadas por objetivos distintos. 5.4.5.1 Primeira Fase: Deposição. Somente em meados do século XIX, em decorrência de padrões de vida criados pela nova ordem social trazida pela civilização industrial, é que começou a se destacar o problema dos resíduos sólidos, dentro do contexto ambiental (PHILIPPI JR). 22 O problema vem se agravando na maioria dos países e particularmente em determinadas regiões, dado o aumento da população e de um acentuado crescimento urbano. Tais fatos, associados à evolução dos costumes, criação ou mudança de hábitos, melhoria do nível de vida, desenvolvimento industrial e outros, têm provocado crescente ampliação no poder aquisitivo per capita, com conseqüência direta na quantidade total de resíduos sólidos produzidos particularmente nas cidades (BROLLO 2001). Até o início da década de 70 foi o período que durou a primeira fase, e caracterizou- se por priorizar apenas a disposição dos resíduos. Concentrada no final da cadeia produtiva, essa ação não considerava qualquer iniciativa que levasse à redução dos resíduos em outras etapas do processo produtivo. Como conseqüência houve o crescimento acelerado do volume final de resíduos a serem dispostos, proporcionalmente à expansão da produção e do consumo, bem como a eliminação, durante a década dos 60 e início da seguinte. 5.4.5.2 Segunda Fase: Reciclagem Incineração e Controle. A recuperação e reciclagem dos materiais passaram a ser considerada meta prioritária na política de gestão de resíduos. Estabeleceram-se novas relações entre consumidores finais e produtores, e entre distribuidores e consumidores, para garantir ao menos o reaproveitamento de parte dos resíduos. A reciclagem, feita em diferentes etapas do processo produtivo, levou ao crescimento mais lento do consumo de recursos naturais e do volume de resíduos a ser disposto, graças ao 23 reaproveitamento de parte dos resíduos que, durante a 1ª fase estaria destinada aos aterros sanitários e incineradores. As vantagens atribuídas ao reaproveitamento dos materiais (menor consumo de energia; redução da quantidade de resíduos) deveriam ser relativizadas, já que o processo de reciclagem demanda quantidades consideráveis de matéria prima e energia, além de também produzir resíduos. Aumentaram as críticas à falta de uma política específica para tratamento de resíduos tóxicos e à expansão das exportações desses resíduos para disposição final em países em desenvolvimento. 5.4.5.3 Terceira Fase: Gestão e Redução na Origem. O final da década de 80 marca o estabelecimento de novas prioridades em relação à gestão de resíduos sólidos, especialmente nos países desenvolvidos. A atenção passa a concentrar-se na redução do volume de resíduos desde o início do processo produtivo e em todas as etapas da cadeia produtiva. Assim, antes de diminuir a produção de determinados bens, passa a ser prioritário impedir que sejam gerados. Ao invés de buscar a reciclagem, propõe-se a reutilização. Antes de depositar os produtos em aterros sanitários, deve-se reaproveitar a energia presente nos resíduos, por meio de incineradores. Outra mudança refere-se às alterações no processo de produção, tendo em vista o objetivo de utilizar a menor quantidade necessária de energia e matérias-primas, e de gerar a menor quantidade possível de resíduos. 24 Atualmente, são diretrizes prioritárias de políticas de gestão de resíduos: evitar ou, nos casos em que não for possível, diminuir a produção de resíduos; reutilizar ou, quando não for possível, reciclar resíduos; utilizar a energia contida nos resíduos; tornar inertes os resíduos, antes da disposição final. Outro marco de extrema importância no cenário internacional foi a Agenda 21, na busca de integração de idéias num nível mundial, buscando alcançar o desenvolvimento sustentável a médio e longo prazo. Nela são propostas as bases para ações em nível global, com objetivos, atividades, instrumentos e necessidades de recursos humanos e institucionais. Consiste num documento assinado por 170 países membros da ONU, por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em junho de 1992 (SMA 1992). A partir de quatro grandes temas – a questão do desenvolvimento, com suas dimensões econômicas e sociais; os desafios ambientais que tratam da conservação e gerenciamento de recursos para o desenvolvimento; o papel dos grupos sociais na organização e fortalecimento da sociedade humana; e os meios de implementação das iniciativas e projetos para a sua efetivação - são fornecidas as bases para o encaminhamento de iniciativas voltadas a obtenção de melhores condições ambientais e de vida (PHILIPPI JR. 1999). 5.4.6 Políticas de Gestão no Brasil e a Legislação Gerenciar os resíduos sólidos urbanos de forma a integrada, requer um conjunto articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que 25 uma administração municipal desenvolve, baseado em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor os resíduos sólidos de uma cidade (OLIVEIRA 2001). A evolução da coleta de resíduos sólidos urbanos, abrangendo o período 2000 – 2004, foi obtida a partir dos indicadores da revisão da PNSB – 2000, por região, e das estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2001 a 2004). A tabela e a figura, apresentadas no seguimento, mostram as evoluções da quantidade coletada dos resíduos sólidos urbanos, entre os anos de 2000 e 2004, segundo as macrorregiões brasileiras. Tabela 5.1: Quantidade de RSU Coletado no Brasil de 2000 a 2004 (IBGE, 2000). Quantidade Coletada (t/dia) Microrregião ANO - 2000 ANO - 2001 ANO - 2002 ANO - 2003 ANO - 2004 Norte 11.036,85 11.313,23 11.521,00 11.755,96 12.208,95 Nordeste 38.454,60 39.042,41 39.497,59 40.139,45 41.135,71 Sudeste 73.927,63 75.216,36 76.254,74 77.828,45 79.949,96 Sul 18.008,54 18.298,96 18.530,32 18.831,35 19.380,88 Centro-Oeste 8.476,64 8.671,15 9.058,45 9.220,71 9.556,53 Brasil 149.904,26 152.542,11 154.862,10 157.775,92 162.232,03 26 A figura a seguir estabelece a relação E evolução da participação relativa de cada macro região do Brasil. Norte Nordeste Sudeste Sul Centro- Oeste Brasil 12209 41136 79950 19381 9557 162232 11.756 40.139 77.828 18.831 9.221 157.776 11.521 39.498 76.255 18.530 9.058 154.862 11.313 39.042 75.216 18.299 8.671 152.542 11.037 38.455 73.928 18.009 8.477 149.904 ANO - 2000 ANO - 2001 ANO - 2002 ANO - 2003 ANO - 2004 Figura 5.2: Evolução da Coleta de RSU (IBGE, 2000). 5.5 Resíduos Sólidos da Indústria da Construção Civil no Brasil. No Brasil São 241.614 toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos diariamente, onde cerca de 90.000 toneladas por dia são de resíduos sólidos domésticos (algo cerca de 32 milhões de toneladas por ano) dispostos, a maioria, a céu aberto (OLIVEIRA, 2001). A disposição final e o tratamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, conforme o IBGE em 1991era: 76% em céu aberto (lixão); 13% aterro controlado (lixão controlado); 10% aterro sanitário; 0,9% usina de compostagem; 0,1% usina de incineração conforme exposto na figura abaixo. 27 76,00% 13,00% 10,00% 0,90% 0,10% Céu Aberto Aterro Controlado Aterro Sanitário Usina de Compostagem Usinade Incineração Figura 5.3: Distribuição de RSU no Brasil (IBGE 1991). A taxa média de geração dos resíduos sólidos domiciliares em áreas urbanas é de, aproximadamente, 0,5 kg por pessoa por dia em países subdesenvolvidos; na cidade de São Paulo a média é de 1,0 kg/pessoa por dia. Em países desenvolvidos pode chegar a 2,0 kg/pessoa por dia; nos Estados Unidos o total gerado é cerca de 1,8 kg por pessoa por dia (LEITE, 1995). Ferreira (1994) verificou que a maioria dos municípios brasileiros, apresenta as mesmas características no fluxo de resíduos sólidos urbanos, da geração à disposição final, envolvendo simplesmente as atividades de coleta regular, transporte e sua descarga em sítios quase sempre selecionados em função da disponibilidade, da distância em relação ao centro urbano e da via de acesso, geralmente, ocorrendo a céu aberto. 28 5.5.1 Certificação Ambiental O fenômeno da globalização tem trazido as empresa a necessidade de adaptação cada vez mais às novas exigências do mercado. Conseqüência disso é a necessidade de criação de normas de caráter mais abrangente e de aceitação internacional, o que tem gerado uma onda de normalização em escala planetária, principalmente quanto à qualidade do produto e da produção em si (OLIVEIRA 2001). Outra conseqüência dessa globalização é o aumento da competitividade, que por sua vez motivou a necessidade de um melhor aprimoramento técnico e de qualidade. Isto trouxe também um maior controle de qualidade dos produtos, que passou a ser aferido mediante atendimento de normas aceitas mundialmente, comprovadas através de uma nova forma de garantia: a da certificação. Sugiram então nos países desenvolvidos várias entidades de certificação com suas normas, mas vem se destacando a Internacional Organization of Standarlization, a ISO, federação mundial das organizações nacionais de normalização sediada em Genebra, que lançou, entre outros, a ISO 9000 que visa o sistema de qualidade do produto e teve grande aceitação nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Essa normalização foi e é a mais utilizada e as empresas que obtiveram sua certificação saíram na frente na competição mercadológica, em vista da rigidez de suas exigências. No Brasil mais de 1000 empresas a obtiveram. Porém, após a Conferência Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, a Rio-92, ocorreu uma globalização das questões ambientais, dando origem 29 à necessidade de se normalizar os produtos tendo em vista o meio ambiente. Assim, criou-se a série ISO 14.000, que dá orientação a obtenção dos Certificados de Gestão Ambiental, através de sua série de normas, a qual está sendo implantada cada vez mais pelas indústrias em quase todo o mundo. A série ISO 14000 apresenta grandes novidades em termos de processamento e qualificação dos produtos, inclusive indica princípios gerais para auditoria ambiental, cria o selo verde, sendo assim um moderníssimo instrumento de garantia de adaptação dos produtos potencialmente danosos ao meio ambiente. As empresas que receberem a certificação ambiental terão várias vantagens como, por exemplo: menos desperdício de matéria prima; maior qualidade dos produtos; confiabilidade mercadológica; maior credibilidade nas licitações; melhores oportunidades de negócios; maior competitividade; menor impacto ambiental; mais oportunidade de empréstimos incentivadores. Portanto, a adoção pelo mercado mundial da série ISO-14000 só trará benefícios às empresas que se sujeitarem as suas exigências, bem como mostrará que se pode estar no caminho certo do desenvolvimento sustentável, com o mínimo de prejuízo ambiental, aliando desenvolvimento e preservação. No Brasil já há mais de três centenas de empresas que obtiveram a certificação ambiental, adequando-se assim as exigências do novo desenvolvimento, podendo em muitos casos serem também designadas como “indústrias verdes”, ante a atenção que dão à temática. 30 5.5.2 Selo ecológico: Qualidade Ambiental O aumento em nível mundial dos danos ambientais causados pelo desenvolvimento principalmente nos países do primeiro mundo, bem como a crescente conscientização planetária da necessidade de se encontrar barreiras às ações agressivas ao ambiente, surgiu a preocupação de se tentar diminuir o impacto ambiental direto produzido pelos frutos desse desenvolvimento, que são os seus produtos. Conseqüentemente as indústrias foram forçadas, por esta nova conscientização, a adaptarem-se a uma nova realidade mais condizente com os anseios de preservação, sob pena de perda de competitividade. Uma das formas encontradas para demonstrar essa adaptação, foi a criação de etiquetas ou selos ecológicos, ou verdes, os quais são concedidos a produtos que passaram por um controle de qualidade ambiental e estão aptos a entrar no mercado com menor possibilidade de causar prejuízo ao ambiente. Ao mesmo tempo o selo ecológico passou a ser um incentivo e estimulo a um compromisso ambiental dos fabricantes, bem como também motiva o consumidor a ter uma postura mais consciente da problemática em questão, selecionando produtos menos danosos. Os pioneiros dessa forma de estimulo de melhoria dos produtos foram a Alemanha, com a instituição da etiqueta "Anjo Azul" outorgada a milhares de produtos a partir de 1978; a Dinamarca; a França, que desde 1990 vem regulamentando vários produtos; Japão com o "Eco Mark" de 1989; Canadá com Environmental choice 31 desde 1988; Noruega, Finlândia, Islândia e Suécia desde 1989 com o” Cisne Branco"; Áustria; Nova Zelândia e Estado Unidos este desde 1990. Também a Comunidade Comum Européia estabeleceu regras para a obtenção de etiquetas ecológicas com o regulamento 880/92, principalmente com análise do ciclo de vida e com o princípio poluidor-pagador. Por sua vez, o Tratado do Mercosul não dispunha expressamente sobre as diretrizes ambientais por ser principalmente um tratado de interação econômica, mas em suas considerações abriu oportunidade para que os países membros façam o intercâmbio técnico-científico-ambiental, quando diz que a “preservação do meio ambiente" é um dos fatores para se alcançar a pretendida integração mercadológica dos Estados-Partes. Assim, a questão ambiental não foi excluída do Mercosul e nem pode ser excluída da ALCA. Porém, é necessário que este tipo de política ambiental adote também o controle ambiental em produtos, para que se possa entrar na “onda mundial” de preservação do ambiente, utilizando a sistemática dos selos ecológicos como ferramentas incentivadoras de proteção ambiental. No Brasil, a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas, entidade credenciada pela Internacional Organization of Standarlization ISO, está desenvolvendo um selo verde nacional, o qual está em fase de estudos. A ISO lançou a série ISO-14000 com vistas a implementar a Qualidade Ambiental nos produtos, visando diminuir o impacto negativo ao ambiente na produção, comercialização e utilização dos produtos, fornecendo subsídios para a certificação de produtos corretamente ambientais, os quais poderão ser reconhecidos pelo sistema de rotulagem ambiental, ou selo ambiental. 32 5.5.3 Sistema de Gestão Ambiental Na medida em que problemas ambientais surgem e os recursos escasseiam, a maneira pela qual usamos o meio ambiente vai continuar a ser sempre uma questão prioritária. A ISO 14000 é o padrão que pode ajudar as empresas a protegerem o meio ambiente, reduzirem seus custos de operação e adquirirem vantagens no mercado.Desde o seu lançamento em setembro de 1996, a ISO 14000 tem recebido muita atenção e está se tornando rapidamente reconhecida como um fundamento básico para um Sistema de Gerenciamento Ambiental. Muitas empresas líderes na indústria estão sendo certificadas por esta norma. De maneira semelhante aos padrões ISO 9000, é apenas uma questão de tempo para que estas empresas comecem a exigir que seus fornecedores sejam certificados pela ISO 14000. A ISO 14000 pode ser um acréscimo ao programa ISO 9000, ou um padrão independente. Baseado no ideal de aperfeiçoamento constante, a ISO 14000 exige que as empresas criem um Sistema de Gestão Ambiental que constantemente avalia e reduz o dano provocado potencialmente ao meio ambiente pelas atividades da empresa. Isto pode incluir a definição de matérias primas, todos os processos de fabricação, o uso dos produtos e o descarte dos mesmos. 33 O sistema de gerenciamento ambiental previsto pela norma contém os seguintes elementos: • Uma política ambiental suportada pela Alta Administração; • Identificação dos aspectos ambientais e dos impactos significativos; • Identificação de requisitos legais e outros requisitos; • Estabelecimento de objetivos e metas que suportem a política ambiental; • Um programa de gerenciamento ambiental; • Definição de papéis, responsabilidades e autoridade; • Treinamento e conhecimento dos procedimentos; • Processo de comunicação do sistema de gerenciamento ambiental com todas as partes interessadas; • Procedimentos de controle operacional; • Procedimentos para emergências; • Procedimentos para monitorar e medir as operações que tem um significativo impacto ambiental; • Procedimentos para corrigir não conformidade; • Procedimentos para gerenciamento dos registros; • Programa de auditorias e ação corretiva; • Procedimentos de revisão do sistema pela alta administração. 34 5.5.3.1 SGA segundo a ISO 14001 Tecnologia de Gerenciamento Uma das áreas onde o pensamento ecológico mais precisa atuar é justamente no setor empresarial. Com isto em mente, Willis Herman, um professor da Universidade de Stanford (EUA), identificado com a necessidade de renovar os paradigmas empresariais, criou a World Business Academy em 1978. Os membros internacionais fazem reuniões periódicas e trocam informações entre si por meio de textos que tratam de novas propostas de gerenciamento. Entre esses empresários, a ética, o exercício da cidadania e o meio ambiente têm papel fundamental. Nesta discussão em busca de uma forma de gerenciar as organizações que tenha entre suas preocupações o meio ambiente, a ISO 14001 surge como uma alternativa de cunho internacional onde encontra-se os requisitos básicos de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Seguindo-se as orientações da norma e dependendo do nível de comprometimento da alta administração, a gestão ambiental passa, no decorrer do tempo, a fazer parte de todo o processo empresarial. Incluindo-se aí políticas, objetivos e alvos, inclusão do aspecto ambiental no planejamento, modificações na estrutura e na cultura da organização. O SGA segundo a ISO 14001, dá os parâmetros gerais para que a configuração do sistema de gerenciamento, das políticas e procedimentos aconteça. 35 5.6 Dados Estados de São Paulo O Estado de São Paulo, segundo levantamento da CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), gera 18.225 ton/dia de resíduos domiciliares. Os dados levantados indicam que dos 645 municípios do Estado, 2 municípios (Águas de Lindóia e Bananal) continuam depositando seus resíduos em outros Estados; 50% dos municípios depositam seus resíduos em lixões ou valas; 21% dos municípios depositam em aterros controlados e 29% dos municípios depositam em aterros sanitários como mostra na figura seguinte. 50,00% 21,00% 29,00% Lixões ou Valas Aterros Controlados Aterros Sanitários Figura 5.4: Deposição de Resíduos no Estado de São Paulo (CETESB, 2004). Particularmente, a quantidade de resíduos produzidos na capital em relação ao Estado, segue uma vertente oposta, apresentando os seguintes resultados: 22,7% dos resíduos gerados são dispostos em lixões, 17,9% são depositados em aterros controlados e 59,3% dos resíduos gerados são dispostos em condições adequadas. 36 22,70% 17,90% 59,30% Lixões Aterros Controlados Condições Adequadas Figura 5.5: Deposição de Resíduos no Município de São Paulo (CETESB, 2004). 37 5.7 Resíduos da Construção Civil De maneira geral a massa de resíduos de construção gerada nas cidades é igual ou maior que a massa de resíduo domiciliar. PINTO (1999) estimou que em cidades brasileiras de médio e grande porte a massa de resíduos gerados varia entre 41% a 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos. As estimativas internacionais variam entre 130 e 3000 kg/hab.ano. Para o Brasil as estimativas de PINTO (1999) e de outros autores para cidades de Jundiaí, Santo André, São José dos Campos, Belo Horizonte, Ribeirão Preto, Campinas, Salvador e Vitória da Conquista, variam entre 230 kg/hab.ano para esta última até 760 kg/hab.ano para a primeira. Nesta amostra a mediana foi 510 kg/hab.ano, valor coerente com as estimativas estrangeiras. Já a estimativa da Prefeitura Municipal de São Paulo a partir dos dados de BRITO (1999) é de aproximadamente 280 kg/hab.ano. A metodologia desta estimativa, no entanto, é desconhecida e parte de um pressuposto que a prefeitura municipal gerencia 40% do Resíduo Sólido da Construção (RSC) gerado. Observa-se grande variabilidade das estimativas apresentadas por diferentes fontes para um mesmo país. Uma das razões da grande variabilidade é a classificação do que é considerado resíduo de construção. Alguns autores incluem a remoção de solos, enquanto outros excluem este valor. Outras razões decorrem da importância relativa da atividade de construção, da tecnologia empregada, da idade dos edifícios, entre outros. Certamente os dados nacionais necessitam ser validados a partir de uma metodologia única. 38 A composição do entulho, encontrada na construção convencional, tem fator intimamente relacionado com a ocorrência de desperdícios. A tabela abaixo expõe a ocorrência de desperdícios em alguns países. Tabela 5.2: Desperdícios na construção de alguns países. (ZORDAN, 1997). MATERIAIS (% em massa) Pinto Brasil (SP) Norie Brasil (RG) Skoyles Reino Unido Hong Kong Usual em orçamentos Aço 26,19 19,07 3,60 20 Cimento 33,11 84,13 12,00 15 Concreto 1,34 13,18 6,00 11,00 5 Areia 39,02 45,76 12,00 15 Argamassa 91,25 86,68 12,00 15,00 15 Tijolos e blocos 26,94 12,73 13,00 11,00 10 Vale ressaltar que este desperdício implica na geração de entulho somado as perdas físicas incorporadas; ou seja, aquelas perdas que ficam na obra. O entulho produzido corresponde aproximadamente em apenas 50% da massa do material desperdiçado (ZORDAN, 1997). Ciclo de vida de um empreendimento, correlacionando-o com as perdas. O surgimento da parcela entulho ocorre nas fases de execução e utilização de um empreendimento, nunca na fase de concepção, sempre somada com a perda por material incorporado, presente em todas as fases. (SOUZA, 1999). 39 Os entulhos recicláveis são compostos de areias, pedras, concreto, cerâmicas, argamassas, vidros/cerâmicas esmaltada, metais em porcentagens tal como mostra a figura anterior. De fato, sabe-se que os materiais presentes no entulho estão relacionadoscom o desperdício, e que são passíveis de reaproveitamento em técnicas de reciclagem, por exemplo. Em relação às perdas, até agora a análise foi centralizada em perdas físicas. SOUZA (1999) observa que o desperdício físico pode não ter o mesmo significado quando analisado em termos financeiros, introduzindo o conceito de perda financeira. Diminuir o desperdício implica consequentemente em reduzir a quantidade de entulho gerada. Esta meta se torna uma necessidade no mercado da construção civil atualmente, onde nota-se um aumento de competição entre empresas e maiores exigências dos consumidores de obras de edifícios (SOUZA, 1999). Desta forma, as mudanças na organização e produção dos canteiros acontecem devido aos altos índices de desperdícios expostos no item acima e também devido à escassez de áreas urbanas para a deposição desses resíduos, o que eleva seu custo de deposição (ZORDAN, 1997). JOHN (1999) acrescenta que a construção civil é o setor da economia que mais consome matérias primas naturais. Muitos materiais naturais não existem mais em abundância ou seu processo de obtenção apresenta dificuldades e custos 40 crescentes. Ainda, os produtos de construção civil são grandes consumidores de energia. Considerando estes fatores ambientais acima expostos, a construção civil no futuro terá em sua realidade algumas características abaixo expostas: • Custos mais elevados de sua matéria prima devido à escassez e a necessidade de conservação energética, necessitando reduzir seus custos, minimizando o desperdício, e se possível reciclando o desperdício. • Necessidade de reduzir seus volumes de entulho, devido ao aumento de preços do transportes para aterros ou centrais de moagem de entulho cada vez mais distantes. Talvez reciclando os seus volumes para evitar um custo excessivo de transporte. • Necessidade de investir em proteção ao meio ambiente, com vem preconizando a norma ISO 14.000 (Gerenciamento Ambiental). Tanto para a sobrevivência e "marketing" de sua empresa no ambiente da qualidade com seus serviços, como por exigência do mercado consumidor em relação aos seus produtos. SCARDOELLI (1995) observa que a busca de certificação de qualidade é importante para o setor da construção e para a empresa, pois gera benefícios na obtenção de novos contratos. • Necessidade de se adequar a um modelo de desenvolvimento sustentável, onde a empresa terá que satisfazer as necessidades do mercado sem comprometer a necessidades futuras. 41 Apesar do entulho na obra não ser um material necessário a produção, ele está diretamente envolvido com ela, sendo gasto tempo em seu transporte e necessitando de equipamentos e mecanismos para sua retirada ou reciclagem. Seu arranjo físico, bem como os métodos utilizados para sua retirada ou reciclagem deve ser eficiente, evitando transportes excessivos e não atrapalhando as demais atividades do canteiro. SCARDOELLI (1995) observa que a preocupação com o controle de perdas evidencia-se nas iniciativas abaixo expostas: • Presença de "container" para coleta de desperdícios em todo o canteiro. • Distribuição de pequenas caixas de desperdícios nos andares. • Tubo coletor de polietileno para descida do entulho. • Quadro para anotação da quantidade e tipo de entulho gerado na obra. • Colocação de equipamentos de limpeza de forma visível. • Limpeza permanente pelo próprio operário. • Premiação de equipes pela qualidade da limpeza. • Separação do lixo por tipo e natureza do material. 42 5.8 Utilização dos Resíduos da Indústria da Construção Civil no Brasil Como já foi mencionado, existem experiências nacionais de reciclagem de RCD5 na forma de agregados. As “centrais” de reciclagem hoje em operação são operadas, predominantemente, pelas Prefeituras Municipais. Os agregados produzidos são empregados em obras de pavimentação e, embora sem desenvolvimento técnico adequado, na produção de pequenos componentes de concreto, como por exemplo, blocos de pavimentação. Atualmente estão em operação as centrais de reciclagem em Belo Horizonte (com 2 centrais com capacidade total de 300 ton/dia, em processo de ampliação), Ribeirão Preto e Piracicaba. Em São José dos Campos, São Paulo e Londrina as centrais foram atualmente desativadas. Outros municípios como São José do Rio Preto, Tocantins e Santo André estão analisando o problema. Este último município operou durante alguns meses uma pequena central de reciclagem experimental. Os dados disponíveis demonstram a viabilidade técnica e econômica da operação destes sistemas de gestão dos RCD. Uma das condições do sucesso das centrais é a construção de uma rede de captação de resíduos dentro da malha urbana, capaz de atrair, via redução de distâncias de transporte, as caçambas de coleta bem como os coletores autônomos. Do ponto de vista financeiro, o sistema é interessante para as Prefeituras porque permite a redução global dos custos, além dos ganhos ambientais associados. Dados de PINTO (1999) mostram que a implantação e operação do sistema de gestão do RCD são compensados pela redução da necessidade de coleta e 43 deposição do resíduo depositado ilegalmente e pela substituição de agregados naturais adquirido de terceiros para consumo nas obras da municipalidade pelo agregado reciclado. Naturalmente, o sistema será tão mais interessante quanto maior o custo do agregado natural e do sistema de coleta da deposição ilegal. Uma das deficiências das políticas de reciclagem de RCD baseadas no modelo de centrais de reciclagem operadas pelas Prefeituras é o risco de interrupção do funcionamento, dada a descontinuidade que caracterizam as ações das administrações públicas e com isso não existe garantia de continuidade destas políticas. A interrupção total da operação da central de São José dos Campos, a baixa atividade que caracterizou a operação da central de São Paulo até seu recente fechamento, são exemplos do problema. A principal vantagem deste modelo é que há garantia do mercado para o produto reciclado, já que a única aplicação cuja tecnologia encontra-se razoavelmente consolidada é o uso do agregado em pavimentação, onde os principais clientes nas cidades são as próprias prefeituras. 5.8.1 Ensaio Acadêmico do Reuso de RSC Nesse estudo realizado pelo Consultor, Prof. Dr. Engenharia Civil da Unicamp Vladimir A. Paulon, buscou-se analisar a reciclagem da parte mineral do entulho, utilizando-a como agregado na confecção do concreto. Com o objetivo de maximizar os recursos desse resíduo e empregar sobre ele o mínimo de energia possível, O resíduo utilizado, proveniente de uma usina de reciclagem de entulho, foi estudado granulométrica e qualitativamente. Com esse material, produziu-se concreto em 44 diferentes traços e relações água/ cimento, que foi ensaiado à compressão simples, à abrasão e à permeabilidade, em idades distintas. Os testes mostraram que, à medida que se diminuiu o consumo do cimento, a resistência à compressão se aproximou do concreto de referência, enquanto que a resistência à abrasão mostrou-se sempre melhor quando se usou entulho como agregado. 5.8.2 Resíduo Utilizado As amostras do resíduo de C&D utilizadas nesta (foto seguinte) pesquisa foram coletadas na usina de reciclagem de entulho da cidade de Ribeirão Preto, SP. Realizou-se 4 amostragens (A, B, C, D) em dias, semanas e meses distintos, de forma a obter-se uma representatividade aceitável do resíduo abaixo uma foto da usina da cidade de Ribeirão Preto. Figura 5.6: Entulho processado pelausina de reciclagem de Ribeirão Preto. 45 Apenas materiais como metal, vidro, papel e plástico (passíveis de uma segregação manual e não minuciosa) foram separados na linha de produção da usina. As coletas foram realizadas seguindo-se as prescrições da NBR 10007/ 87 - "Amostragem de Resíduos". 5.8.2.1 Caracterização Qualitativa do Resíduo Utilizado Esta análise, que teve como objetivo determinar a natureza dos materiais constituintes do entulho, foi efetuada apenas no material retido na peneira 4,8 mm, pois a caracterização foi feita "a olho nu", o que impedia que os materiais menores pudessem ser identificados. Utilizou-se a orientação da NBR 9941/ 87 - "Redução de Amostra de Campo de Agregados para Ensaios de Laboratório", para se obter as parcelas analisadas. O resultado da caracterização revelou uma predominância das argamassas (37,4%), seguida pelo concreto (21,1%) e pelos materiais cerâmicos não polidos (20,8%), conforme figura abaixo. Figura 5.7: Porcentagem média dos constituintes do entulho. 46 5.8.2.2 Caracterização Granulométrica O resíduo estudado apresentou uma ótima distribuição granulométrica, o que favorece o seu bom desempenho como agregado no concreto, uma vez que a presença de diferentes diâmetros permite um melhor rearranjo entre suas partículas. Conforme mostra a figura seguinte, todas as quatro amostras analisadas (A, B, C e D) mostraram uma distribuição muito semelhante. Figura 5.8: Curvas granulométricas das amostras estudadas (%acumulada). Analisando o entulho em relação à quantidade de material miúdo e graúdo, verificou- se que em todas as amostras, mais ou menos 50% do resíduo (analisando D50) passou pela peneira 4,8mm, significando que cada uma das amostras é constituída por aproximadamente metade de material graúdo e metade de miúdo. 47 Os módulos de finura encontrados para os agregados miúdos foram bastante semelhantes: 2,55 (amostra A), 2,67 (amostra B), 2,57(amostra C) e 2.57 (amostra D). 5.8.3 Confecção do Concreto O cimento utilizado na pesquisa foi o CP II E - 32, por tratar-se de um material de fácil disponibilidade no mercado e, principalmente, por ser o cimento geralmente utilizado na produção dos elementos construtivos não estruturais de infra-estrutura urbana. Além do entulho utilizado no concreto objeto de análise desta pesquisa, usou-se também areia grossa tradicional e brita no 1, para a confecção dos concretos de referência, destinados à comparação dos resultados. O entulho utilizado foi separado de acordo com a dimensão de suas partículas em material miúdo e material graúdo. 5.8.3.1 Resíduo Miúdo Numa primeira fase da pesquisa utilizou-se duas faixas granulométricas distintas de entulho para se avaliar o comportamento da resistência à compressão do concreto, diante da grande quantidade de material fino (passante pela peneira 0,3 mm) presente no resíduo, aparentemente composto de grande quantidade de terra. As faixas utilizadas foram: 48 • Material passante pela peneira 38 mm e retido pela peneira 0,15 mm; • Material passante pela peneira 38 mm e retido pela peneira 0,3 mm; Já, na segunda fase do trabalho, adotou-se como agregado miúdo, toda a porção de entulho passante pela peneira 4,8 mm (Foto 2), por duas razões: • Os resultados da resistência à compressão obtidos na primeira fase de testes preliminares, não apresentaram diferenças significativas quando se utilizou a fração de agregado menor que 0,3 mm; • Separar a fração de agregado menor que 0,15 mm seriam comercialmente inviáveis. Figura 5.9: Amostra da fração miúda do entulho utilizado. 5.8.3.2 Resíduo Graúdo Como o objetivo era utilizar a maior quantidade possível do material produzido pela usina, decidiu-se adotar a peneira 38 mm como o limite superior para a dimensão do 49 agregado graúdo, já que esta peneira excluía apenas cerca de 1,5% a 3% do entulho. Usar esse material comprometeria a dimensão dos corpos de prova e, comercialmente, tal dimensão de agregado tem utilidade restrita. A Foto 3 apresenta o aspecto da fração graúda do entulho utilizado. Figura 5.10:Amostra da fração graúda do entulho utilizado. 5.8.4 Traços Utilizados Utilizou-se os traços, em massa, de 1:3; 1:5 e 1:7, por se tratarem de traços abrangentes em termos de dosagens comerciais. 5.8.4.1 Relação Água/Cimento A relação água/ cimento utilizada em cada traço e para cada amostra, foi definida por tentativas, de forma a se obter uma consistência preestabelecida. Para o 50 concreto confeccionado com o entulho, esta consistência foi definida durante o estudo de dosagem (fase inicial da pesquisa) e estipulada, em abatimento, de 3 ± 1 cm. Este valor foi determinado visualmente, considerando-se como valores de contorno a melhor trabalhabilidade do concreto e o menor consumo de água. Para o concreto feito com os agregados tradicionais, que foi utilizado como elemento de referência, a consistência adotada foi de 5 ± 1 cm, obtida da mesma forma que a do concreto com entulho. Os valores obtidos estão apresentados na Tabela seguinte. Tabela 5.3:Resultados da consistência e da relação a/c. Amostra Utilizada Traço Utilizado 1 Consistência 3 (cm) A/C 1:3 3,5 0,51 A 1:5 2,5 0,71 1:7 2,6 0,95 1:3 3,8 0,55 B 1:5 2,8 0,79 1:7 2,4 1,09 1:3 2,3 0,63 C 1:5 3,0 0,82 1:7 2,1 1,04 1:3 3,0 0,64 D 1:5 2,5 0,82 1:7 2,8 1,02 1:3 4,8 0,32 R 2 1:5 5,2 0,56 1:7 3,5 0,77 1 Cimento: entulho ou cimento: areia + brita 2 Concreto de referência (agregados convencionais: areia e brita) 3 Consistência medida em abatimento 51 Observou-se que os valores da relação a/c utilizados são bem maiores que os comumente empregados na confecção do concreto de referência. Tal fato decorre da grande capacidade de absorção do entulho, principalmente pela fração constituída por materiais cerâmicos. No entanto, é importante ressaltar, que somente parte da água representada pela relação a/c será disponível para as reações de hidratação do cimento, pelo menos nas primeiras idades, pois parte dela ficará temporariamente retida nos poros do agregado. Figura 5.11: Aspecto do concreto produzido (traço 1:5) 5.8.5 Resultados Obtidos Os dados dos ensaios fornecerão informações importantes com relação ao reuso de entulho. 52 5.8.5.1 Resistência à Compressão Simples Os valores da resistência à compressão aos 28 dias são mostrados na próxima Figura. Analisando inicialmente entre si, apenas os concretos onde se utilizou as amostras de entulho como agregado, pode-se ver que à medida que o consumo de cimento aumenta, também ficam maiores as diferenças das resistências obtidas entre as amostras. Comparando-se os concretos com entulho e o de referência (R), nota-se o mesmo comportamento descrito acima, ou seja, quanto mais fraco o traço menor a diferença da resistência entre os concretos com entulho e o de referência, tornando-se praticamente insignificante, no traço 1:7. Figura 5.12: Resistência à compressão simples do concreto aos 28 dias. A próxima tabela mostra com bastante clareza este comportamento, com a porcentagem atingida pela resistência de cada amostra, em relação àquela atingida pelo concreto de referência. 53 Tabela 5.4:Resistência à compressão do concreto aos 28 dias - Análise comparativa. AMOSTRAS
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