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Apologia da história ou o ofício do historiador Concebida no ano de 1944, durante o seu cativeiro, a obra de Marc Bloch reflete a proposta metodológica da Escola dos Annales, da qual Bloch é um dos formuladores mais proeminentes. A Escola dos Annales surgiu como uma crítica à historiografia tradicional, dita fatual, metódica ou positivista. Na obra o autor formula uma nova metodologia e abordagem na prática do ofício de historiador, rompendo com a chamada abordagem positivista, caracterizada por um enfoque fatual e metódico, fundamentada exclusivamente na fonte escrita e centrada na descrição dos fatos históricos e nos grandes personagens. Essa abordagem positivista fundamentava sua cientificidade no apego à fonte escrita e ao método. Bloch desconstrói a perspectiva positivista, acusada de várias limitações, como omitir as pessoas comuns, desumanizando a abordagem histórica, de privilegiar os documentos oficiais, os grandes personagens e as perspectivas estatais e nacionais, abordando a história como uma sucessão dos fatos numa ordem lógica e cronológica. Nesse sentido o autor propõe um novo enfoque aberto à diversidade das fontes e dos testemunhos não-escritos, à prática da interdisciplinaridade e do diálogo com as demais ciências sociais, como a arqueologia, e a antropologia, por exemplo. Ao romper com a chamada história positivista a noção de fonte é ampliada, abrindo a possibilidade de se construir um conhecimento pautado em vestígios, como moedas antigas, artefatos arqueológicos, obras e arte, etc. Igualmente, o autor recomenda o recurso às fontes documentais explicitas (intencionais) e implícitas (não intencionais), estimulando a crítica às fontes, o que abre caminho para o emprego da sensibilidade e habilidade do historiador. Nesse sentido o historiador assume uma atitude ativa e crítica diante do documento, interrogando-o e problematizando os fatos, ao invés de se ater a uma exposição cronológica. Ainda segundo Bloch, o historiador deve se comportar como um investigador, um perito criminal, buscando marcas implícitas, estudando os fatos isoladamente, buscando a ação e a essência do homem na história, problematizando e contextualizando os fatos, ao invés de expor uma sequência cronológica e fatual da história; não julgar e sim compreender os indivíduos e as sociedades estudadas. Para Bloch a história não é a ciência do passado, mas a ciência do homem, do homem no tempo, o que coloca o ser humano como agente histórico. Visto dessa forma, Bloch concebe a história como uma ciência dinâmica, como as ciências físicas. A concepção esboçada por Bloch abriu caminho para a história cultural, história das mentalidades e para a micro-história.
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