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TUTELA DE EVIDÊNCIA

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TUTELA DE EVIDÊNCIA
O advento do novo CPC trouxe profunda modificação, expurgando recursos e expedientes de pouca utilidade prática nos tempos atuais e simplificando a marcha processual, visando conferir maior celeridade, efetividade e economia à prestação jurisdicional.
O novo Código de Processo Civil trouxe em seu arcabouço a possibilidade do cidadão ter uma prestação jurisdicional efetiva e célere na busca da materialização do seu direito.
 
O Livro V do novo Código é dedicado às chamadas “Tutelas Provisórias”, que se subdividem em duas espécies: Tutela de Urgência e Tutela de Evidência.
A chamada Tutela de Urgência concentrou os provimentos urgentes antes dispersados no CPC revogado, trazendo uma melhor organização lógica. Subdivide-se em Tutela de Urgência de Natureza Antecipada (a mesma tutela antecipada do artigo 273, do CPC/73), e Tutela de Urgência de Natureza Cautelar (fruto da revogação das Ações Cautelares do livro III do CPC/73).
 A Tutela de Evidência é uma das novidades do novo CPC, e tem gerado muitas dúvidas no meio jurídico a respeito de sua aplicação prática, a qual será discutida neste artigo, sem pretensão de esgotar o tema.
A Tutela de Evidencia, mais precisamente no artigo 311 do Código de Processo Civil, considerou como tutela de evidência aquele direito invocado pelo autor que é tão evidente que não faria sentido privá-lo da tutela jurisdicional imediata, e assim protege-lo da morosidade que infelizmente paira sobre o judiciário.
Com o novo instituto, o detentor do direito, que tem em suas mãos documentos que os tornam incontestáveis, ainda que ausente o periculum in mora, porém uma forte ameaça aos alicerces jurisdicionais, a tutela terá que ser concedida, isentando o detentor do direito do ônus da espera.
O que se deve observar, é que a tutela de evidencia, tem em sua essência a garantia do equilíbrio jurisdicional, a celeridade e a prestação eficiente da tutela jurisdicional.
A medida nasceu da necessidade de conferir maior efetividade e celeridade à prestação jurisdicional, para que o processo deixe de ser um fim em si mesmo e cumpra sua missão constitucional, que é a pacificação social, com a entrega do bem da vida a quem comprovadamente dele faz jus, reduzindo o ônus da morosidade judiciária que impossibilita o pronto acesso da parte ao que lhe é de direito.
Segundo Bruno Bodart,
”a Tutela de Evidência consiste na técnica de distribuição, entre autor e réu, dos ônus decorrentes do tempo do processo, que, baseada no alto grau de verossimilhança e credibilidade da prova documental apresentada, concede ao autor em sede de cognição sumária a tutela jurisdicional quando há demonstração prima facie da existência de seu direito, para que a morosidade judiciária não favoreça a parte a quem não assiste razão em detrimento daquele que a tem, transformando o processo numa arma letal contra o detentor do direito evidente”.
Uma observação, contudo, deve ser feita: a Tutela de Evidência não se confunde com o julgamento antecipado do mérito, porque decorre de atividade de cognição sumária do Juiz, não sendo apta, destarte, a fazer coisa julgada material, a qual somente pode nascer de decisão judicial proferida após cognição exauriente, conforme ensinamento de Humberto Theodoro Junior:
Não é, porém, no sentido de uma tutela rápida e exauriente que se concebeu a tutela que o novo Código de Processo Civil denomina tutela de evidência, que de forma alguma pode ser confundida com um julgamento antecipado da lide, capaz de resolvê-la definitivamente (THEODORO JR, 2016, p. 379).
Com efeito, o atual ministro do Supremo, Luiz Fux, foi o primeiro a trabalhar com a perspectiva de um direito evidente. Para o jurista a expressão 
“vincula-se àquelas pretensões deduzidas em juízo nas quais o direito da parte revela-se evidente, tal como o direito líquido e certo que autoriza a concessão domandamus ou o direito documentado do exequente”. 
Dessa forma o direito evidente seria aquele que se sustenta sem necessitar de dilação probatória:
“demonstrável prima facie através de prova documental que o consubstancie líquido e certo, como também o é o direito assentado em fatos incontroversos, notórios, o direito a coibir um suposto atuar do adversus com base ‘em manifesta ilegalidade’, o direito calcado em questões estritamente jurídica, o direito assentado em fatos confessados noutro processo ou comprovados através de prova emprestada obtida sob contraditório ou em provas produzidas antecipadamente, bem como o direito dependente de questão prejudicial, direito calcados em fatos sobre os quais incide presunção jure et de jure de existência e em direitos decorrentes da consumação de decadência ou da prescrição”
Da Taxatividade da Tutela de Evidência
Se faz mister destacar que a tutela de evidencia tem um rol taxativo, para que a prestação jurisdicional tenha a sua efetividade concreta.
Assim não há margem de interpretação extensiva, as decisões são fundadas em pressuposta definidos aos quais o juiz não pode esquivar-se.
Abuso do Direito e Postura Protelatória.
A tutela de evidência visa proteger o tutelado do ônus da demora processual, além de resguardar um direito cristalino, tornando assim uma forma de porto seguro aos que buscam a tutela jurisdicional.
Respeito aos Precedentes.
A outra forma de se conceder a tutela de evidencia de acordo com o novo Código de Processo Civil, esta pautada nos respeitos aos precedentes.
As decisões firmadas em julgamentos de IRDR ou em sumulas vinculantes deverão ser respeitadas, evitando assim entendimentos antagônicos para casos iguais.
A tutela de evidencia, é o meio pelo qual se alcança em sede de cognição sumaria, uma decisão provisória para indicar ao juízo o caminho para que se mantenha a segurança jurídica.
  
Assim, apenas os pleitos que estejam fundados ou em ratio decidendi gerada por solução de demandas repetitivas ou em enunciado da súmula vinculante do STF poderiam, a princípio, ser protegidos pela técnica da antecipação da tutela fundada na evidência do direito.
Da Prova Documental.
A primeira exigência é de que se trate de situação fática de baixa complexidade probatória, que são aquelas possíveis de serem suficientemente provadas por meio de documentos. A prova documental, nessas hipóteses, tem eficácia probatória suficiente para formar a convicção muito próxima da convicção de verdade quanto à existência do fato constitutivo. 
São exemplos desses casos os relativos a vantagens de algum cargo, onde basta a comprovação da condição de servidor público, ou que partam do pressuposto da conclusão de uma relação jurídica, onde o recibo é suficiente.  
Da Prova de Depósito
A referida tutela de evidência (art. 311, III, CPC) surgiu para substituir a antiga Ação de Depósito dos artigos 901 a 906 do CPC/73. Assim, estando devidamente instruída a petição inicial, o juiz expedirá ordem liminar para a entrega da coisa que se encontre em poder do demandado, podendo aplicar multa em caso de descumprimento da ordem judicial.
Dos Fatos Incontroversos.
 
Tem cabimento quando o autor instrui a petição inicial com prova documental suficiente dos fatos constitutivos de seu direito, contra o qual o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Em outras palavras, a partir do momento em que o réu, ao exercer o Contraditório, não se desincumbe do ônus de apresentar fato modificativo, impeditivo ou extintivo do direito do autor por meio de prova documental apta a desacreditar as provas que instruem a inicial, torna o direito do autor ainda mais robusto e dotado de credibilidade, permitindo, assim, o pronto acesso deste ao bem da vida pleiteado sem que tenha de aguardar o trânsito em julgado da demanda.
 É importante esclarecer, contudo, que a robustez e confiabilidade da prova carreada pelo autor, contra a qual o réu não oponha dúvida razoável, baseia-se num juízo de probabilidade, e não de certeza, por se tratar de medida concedidaem sede de cognição sumária, até porque somente pode-se aferir certeza após a atividade de cognição exauriente. 
A tutela de evidencia com fortes influencia do direito dos países anglo-saxônico onde se tem como raiz o uso aos precedentes, para a uniformização das decisões e uma busca a efetividade do processo com julgamentos céleres e igualitários.
O instituto foi introduzido em nosso sistema com o escopo de garantir em sede de cognição sumaria antecipar o direito evidente do suplicante não o impondo assim o ônus da espera.

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