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NOTA DE AULA CURSO: DIREITO PERÍODO LETIVO: 2015.1 DISCIPLINA ASSUNTO DIREITO ADMINISTRATIVO I REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO PROFESSOR(A): Fernanda Maria Afonso Carneiro CAPÍTULO 2 – REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO: 2.1 - Definição 2.2 - Princípios e Regras 2.3 - Princípios do Direito Administrativo 2.4 - Dever de Observância dos Princípios 2.1) DEFINIÇÃO: No Direito Administrativo é fundamental o estudo dos princípios, porque eles são postulados que inspiram o modo de agir de toda a Administração Pública, trazendo dinamismo ao sistema. Os princípios representam a conduta do Estado no exercício de suas atividades essenciais e guardam entre si uma lógica, não havendo, entre eles, um ponto de coincidência. Em resumo, os princípios são a forma de raciocinar Direito Administrativo e compreender toda a sua lógica. O estudo desses princípios orientadores da atuação estatal é o que se denomina de Regime Jurídico Administrativo. Regime Jurídico Administrativo é o conjunto harmônico de princípios que definem a lógica da atuação do ente público, a qual se baseia na existência de limitações e prerrogativas em face do interesse público. 2.2) PRINCÍPIOS E REGRAS: Os princípios norteadores do Direito Administrativo são distintos das regras que determinam condutas específicas de atuação, seja nos casos concretos ou nos casos individuais. Distinção entre princípios e regras: Os princípios são normas gerais coercitivas que orientam a atuação do indivíduo, definindo valores a serem observados nas condutas por ele praticadas, enquanto as regras se caracterizam por disposições que definem a atuação do indivíduo diante de determinada situação concreta. Os princípios encerram ideias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico e harmonioso às demais normas que regulamentam o Direito Administrativo, permitindo sua melhor organização. As regras aplicadas ao Direito Administrativo estabelecem a forma e o momento de atuação do ente público, em observância a um determinado acontecimento que precipita suas atividades. NOTA DE AULA 2.3) PRINCÍPIOS DO DIREITO ADMINISTRATIVO: São os postulados fundamentais que inspiram todo o modo de agir da Administração Pública, sendo que alguns desses princípios estão expressos na Constituição Federal e que, portanto, são chamados de princípios expressos, enquanto outros princípios, apesar de não fazerem parte do texto constitucional, são aceitos pela doutrina, sendo chamados de princípios reconhecidos. Princípios Expressos: São os princípios que devem ser observados por todas as pessoas administrativas, pertencentes a quaisquer dos entes federativos e que estão explícitos na Constituição Vigente. O art. 37, da CF/88, destaca cinco princípios que devem ser obedecidos pelos entes federativos, são eles: a) Princípio da Legalidade; b) Princípio da Impessoalidade; c) Princípio da Moralidade; d) Princípio da Publicidade; e) Princípio da Eficiência. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência... Princípio da Legalidade: O Princípio decorre da existência do Estado de Direito, como uma pessoa jurídica responsável por criar o direito, no entanto, é submissa ao ordenamento jurídico por ela mesmo criado e aplicável a todos os cidadãos. O princípio da legalidade implica na subordinação completa do administrador à lei, condicionando sua atuação somente até onde a lei autorizar, e representa a diretriz básica da conduta dos agentes da Administração, pelo qual, é determinado que toda e qualquer atividade administrativa, para ser lícita, deve ser autorizada por lei. Exceções: medidas provisórias (regulamentada no art. 62 da CF), o Estado de Defesa (art. 136) e Estado de Sítio (art. 137) Princípio da Impessoalidade: O princípio objetiva a igualdade de tratamento que a Administração Pública deve dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Para que haja verdadeira impessoalidade, a Administração Pública deve voltar-se, exclusivamente, para o interesse público, sendo vedado que sejam favorecidos alguns indivíduos em detrimento de outros, ou prejudicados alguns para favorecimento de outros. Exceções: Atualmente, são admitidas algumas exceções em relação à aplicação do princípio da impessoalidade, como ocorre no sistema de cotas que prevê reserva de vagas pelo critério ético-social para ingresso em instituições de nível superior. NOTA DE AULA ATENÇÃO: O STF, escorado no art. 5º, caput, da CF/88, considerou constitucional o sistema de cotas, como meio de inclusão social com o objetivo de suplantar desigualdades oriundas do processo histórico do país. Princípio da Moralidade: Esse princípio impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Por esse critério, o administrador público não só deve averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas, também, distinguir o que é honesto do que é desonesto. Princípio da Publicidade: Esse princípio determina que os atos da Administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os administrados. Constitui fundamento do princípio da publicidade propiciar a possibilidade de controle da legitimidade da conduta dos agentes administrativos. É para observar esse princípio que os atos administrativos são publicados em órgãos de imprensa ou afixados em determinados locais das repartições administrativas. O princípio da publicidade, também, pode ser concretizado através de alguns instrumentos jurídicos específicos, como o direito de petição (pelo qual os indivíduos podem dirigir-se aos órgãos administrativos para formular qualquer tipo de postulado); as certidões (expedidas pelos órgãos administrativos e que registram a verdade dos fatos administrativos, cuja publicidade permite aos administrados a defesa de seus direitos ou o esclarecimento de certas situações); e a ação administrativa ex officio de divulgação de informações de interesse público. Todo administrando tem direito à informação e, para garantir esse direito, a CF/88 previu o direito de acesso à informação, através do art. 37, § 3º, inciso II, por meio do qual se deve viabilizar o acesso de todos aos registros administrativos e às informações sobre atos de governo, desde que respeitados o direito à intimidade, à vida privada e às situações legais de sigilo. A Lei n º 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) concretiza esse mandamento constitucional, contemplando duas formas de publicidade, a transparência ativa (quando as informações são transmitidas ex offício pela Administração Pública) e a transparência passiva (quando o administrando formula sua postulação ao órgão que detém a informação). Princípio da Eficiência: Esse princípio garante direitos aos usuários dos diversos serviços prestados pela Administração Pública, ou por seus delegados, e estabelece obrigações efetivas aos prestadores. O princípio da eficiência não alcança, apenas, os serviços públicos prestados diretamente à coletividade, mas, também, os serviços internos (serviços burocráticos) dos entes federativos e das pessoas a eles vinculados. Princípios Reconhecidos: A Administração Pública, também, segue a orientação de outras diretrizes de mesma relevância que os princípios expressos, e que, tanto a doutrina como a jurisprudência se referem a elas NOTA DE AULA usualmente, revelando, portanto, a aceitação dessas diretrizes que são conhecidas como princípiosreconhecidos. Alguns desses princípios estão implícitos no próprio texto constitucional e outros em leis específicas. São eles: Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa Princípio da Supremacia do Interesse Público Princípio da Autotutela Princípio da Indisponibilidade Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos Princípio da Segurança Jurídica Princípio da Precaução Princípio da Razoabilidade Princípio da Proporcionalidade Princípio da Motivação Princípio da Isonomia Princípio da Finalidade Princípio da Especialidade Princípio da Presunção de legitimidade e de veracidade das condutas estatais Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa: Este princípio está implícito no texto constitucional, em seu art. 5º, inciso LV, e representa o direito conferido ao particular de saber o que acontece no processo administrativo ou judicial de seu interesse, bem como o direito de se manifestar na relação processual, requerendo a produção de provas e provocando sua tramitação, seja diante de um processo judicial ou de um processo administrativo. Por esse princípio, ninguém pode ser processado e julgado sem ter amplo conhecimento dos fatos relatados no processo e dos motivos que deram ensejo a sua instauração. Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Princípio da Supremacia do Interesse Público: De acordo com esse princípio, como as atividades administrativas são desenvolvidas pelo Estado em benefício da coletividade, o fim último da atuação estatal deve ser voltado para o interesse público. Desse modo, não é o indivíduo em si o destinatário da atividade administrativa, mas, todo o grupo social. A aplicação do princípio da supremacia do interesse público acontece, por exemplo, no processo de desapropriação, quando o interesse público supera o do proprietário do imóvel desapropriado, ou, ainda, no poder de polícia do Estado, por força do qual se estabelecem algumas restrições às atividades individuais. Princípio da Autotutela: A Administração Pública, de acordo com o art. 53 da Lei nº 9.784/1999, tem a garantia de anular os atos praticados em suas atividades essenciais, quando forem os mesmos considerados ilegais, ou revogá-los, quando inoportunos ou inconvenientes, sem que seja necessária a NOTA DE AULA interferência do Poder Judiciário. A súmula 473 do STF também garante idêntica prerrogativa à Administração Pública. Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. Súmula 473 do STF: A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. O exercício da autotutela, no entanto, não afasta a incidência da tutela jurisdicional. Com efeito, caso o particular se sinta prejudicado pelo ato, ainda que não obtenha êxito no requerimento administrativo de anulação da conduta, poderá recorrer ao judiciário, para que seja novamente verificada a legalidade da atuação estatal impugnada. A lei nº 9.784/1999 prevê um prazo de cinco anos para rever os atos que sejam favoráveis a particulares, salvo má-fé do beneficiado. Princípio da Indisponibilidade: O princípio parte da premissa de que todos os cuidados exigidos para os bens e interesses públicos trazem benefícios para a própria coletividade. Os bens e interesses públicos não pertencem à Administração Pública nem a seus agentes. Cabe-lhes, apenas, geri-los, conservá-los e por eles velar em prol da coletividade, a verdadeira titular dos direitos e interesses públicos. A Administração Pública não tem a livre disposição dos bens e interesses públicos, porque atua em nome de terceiros. Por essa razão é que os bens públicos só podem ser alienados na forma em que a lei dispuser. Da mesma forma, os contratos administrativos reclamam, como regra, que se realize licitação para encontrar quem possa executar obras e serviços de modo mais vantajoso para a Administração Pública. Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos: A aplicação desse princípio consiste na exigência de que a atividade do Estado seja contínua, não podendo parar a prestação dos serviços, não comportando falhas ou interrupções, já que muitas necessidades da sociedade são inadiáveis, como é o exemplo do fornecimento de água e energia elétrica à população em geral. A Lei nº 8.987/1995, em seu art. 6º § 1º, deixa implícita a exigência da aplicação do princípio na prestação do serviço público. Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. NOTA DE AULA § 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas. Exceção: A Lei nº 8.987/1995, no seu art. 6,º § 3º, estabelece condições excepcionais em que a interrupção de um serviço público não se caracteriza como descontinuidade. Art. 6º. § 3º. Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. Princípio da Segurança Jurídica: Esse princípio procura garantir que o administrando não seja surpreendido ou agravado pela mudança inesperada de comportamento da Administração Pública, sem o mínimo respeito às situações formadas e consolidadas no passado, ainda, que não se tenham convertido em direitos adquiridos. O princípio da segurança jurídica passou a constar de forma expressa no ordenamento jurídico a partir da Lei nº 9.784/1999 em seu art. 54, inclusive no que concerne a prescrição e a decadência que são fatos jurídicos através dos quais a ordem jurídica confere destaque ao princípio da segurança jurídica. Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar- se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato. Princípio da Precaução: Esse princípio teve origem no âmbito do direito ambiental, ao dispor que em caso de risco de danos graves e degradação ambientais, medidas preventivas devem ser adotadas de imediato, ou seja, existindo dúvida sobre a possibilidade de dano a solução deve ser favorável ao ambiente e não ao lucro imediato. Na aplicação do princípio da precaução incide a inversão do ônus da prova, exigindo-se, portanto, que o interessado comprove que seu projeto não traz riscos para a coletividade, cabendo à Administração Pública, aferir a existência, ou não, de reais condições de segurança para o interesse público. Princípio da Razoabilidade: Esse princípio parte da premissa de que o agente público não pode se valer do seu cargo ou função, com a falsa intenção de cumprir a lei, para agir de forma ilegal e arbitrária, fora dos padrões éticos e adequados ao senso comum. Quando provocado, compete ao Poder Judiciário,NOTA DE AULA desde que provocado, sanar o vício da conduta estatal, determinando a anulação do ato ilícito. Princípio da Proporcionalidade: O princípio busca um equilíbrio entre o ato praticado e os fins a serem alcançados pela Administração Pública. Decisões manifestadamente inadequadas, que extrapolem os limites da legalidade, por desrespeitarem o equilíbrio no exercício da discricionariedade podem ser consequentemente anuladas pelo Poder Judiciária. Por esse princípio, o administrador pode ser responsabilizado por abuso de poder. Princípio da Motivação: É o dever imposto ao ente federativo de indicar os pressupostos de fato e de direito que determinaram a prática dos atos administrativos. A motivação é indispensável ao controle dos atos administrativos, uma vez que demonstram à sociedade as razões pelas quais o poder público atuou de determinada forma, tornando possível a análise dos cidadãos acerca da legitimidade e adequação de seus motivos. Princípio da Isonomia: A Administração Pública tem o dever de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das suas desigualdades. Súmula 683 do STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7, XXX, da Constituição Federal, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. Princípio da Finalidade: De acordo com o princípio da finalidade, a norma administrativa deve ser interpretada e aplicada, pelo agente do Estado, da forma que melhor garanta a realização do fim público a que se dirige. A Lei nº 4.717/1965, em seu art. 2º, parágrafo único, letra “e” dispõe que “o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato, visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”. Princípio da Especialidade: A especialização manifesta-se por meio da criação de autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista, conforme dispõe o art. 37, XIX da Constituição Federal. Nesse sentido, através de lei específica, são criadas entidades com personalidade jurídica própria e capacidade de auto-administração, para executar atividades de interesse da sociedade, cuja prestação lhes tenha sido conferida de forma especializada. Essas entidades têm finalidade especificada na própria lei responsável pela sua criação. O princípio da especialidade baseia-se no princípio da indisponibilidade do interesse público e do dever de eficiência na execução da atividade administrativa, inerente aos órgãos estatais. Princípio da Presunção de Legitimidade e de Veracidade das condutas Estatais: Esse princípio define características aos atos administrativos em decorrência da supremacia do interesse público sobre o interesse privado. Até que o administrando atingindo pela atuação estatal prove em contrário, o ato administrativo estampa uma situação de fato real, ou seja, o ato goza de fé NOTA DE AULA pública e os fatos apresentados em sua prática presumem-se verdadeiros. A presunção da veracidade diz respeito a fatos e causa a inversão do ônus da prova dos fatos alegados no ato administrativo. 2.4) DEVER DE OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS: O art. 11 da Lei nº 8.429/1992, que dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional e dá outras providências, demonstra a força coercitiva dos preceitos contidos nos princípios administrativos, que definem a atuação estatal, considera ato de improbidade qualquer conduta do agente público que enseje violação aos princípios orientadores da atividade do Estado, ainda que não haja enriquecimento ilícito ou prejuízo direto ao erário em decorrência desta conduta. Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: ... IV - negar publicidade aos atos oficiais; ...
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