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Jornal Interno de Saúde afnavarro@ABC da Saúde 2003 (O Jornal Interno de Saúde é um documento interno do SMS desenvolvido com o objetivo de levar aos colegas de trabalho informações úteis sobre o tema da Saúde, obtidas em sites especializados e/ou adaptadas pela Coordenação de SMS. Lembramos que as informações aqui contidas não se destinam a prescrever medicamentos e nem induzir os colegas a automedicação. Quem deve avaliar o estado clínico e medicar é o Médico Especialista) Assunto da Semana: Zumbido O que é? O zumbido, também denominado acúfeno, tinnitus ou tinido, é uma sensação de som percebido pelo indivíduo na ausência de uma fonte sonora externa. É uma das queixas de problemas no ouvido mais comum e freqüentemente vem associada com tontura e surdez. O zumbido pode ser considerado como um sintoma de alguma doença ou como seqüela de alguma agressão sofrida pelo ouvido (externo, médio, interno). Existe uma estimativa de que 6% a 17% da população apresenta zumbido. Em sua forma severa, que corresponde a cerca de 20% dos casos, o zumbido causa sofrimento ao paciente; é a queixa principal e freqüentemente dramática na consulta médica. Felizmente, a maioria dos pacientes não sofre com o zumbido; referem-no secundariamente ou quando são inquiridos. Como é? O barulho (zumbido) pode ser referido como um chiado, apito, barulho de chuveiro, de cachoeira, de concha, de cigarra, do escape da panela de pressão, de campainha, do esvoaçar de inseto, de pulsação do coração, batimento da asa de borboleta e de outros modos. Pode ser de forma contínua ou intermitente, constante, mono ou politonal. O zumbido pode ser subjetivo quando é somente ouvido pelo paciente; ou objetivo, quando outras pessoas também podem ouvi-lo. Quanto à intensidade, pode ser considerado leve quando só é percebido pelo paciente em certas situações; moderado quando o paciente sabe da sua existência, porém não o incomoda; intenso quando a sensação desagradável o incomoda, prejudicando-o em diversas situações ou atividades; severo quando a manifestação se torna intolerável, acompanhando-o todo o tempo e dele não conseguindo se livrar, prejudicando-o ininterruptamente em suas atividades. O grau de desconforto, intolerância ou incapacidade causado ao paciente nem sempre se relaciona com o grau de intensidade do zumbido. As alterações psicológicas, freqüentemente presentes, exercem fortes influências no agravamento do sintoma zumbido. Jornal Interno de Saúde afnavarro@ABC da Saúde 2003 O ouvido é divido em três partes: externo, médio e interno. O ouvido externo é formado pela orelha e canal auditivo com a membrana timpânica no fundo do canal. No ouvido médio estão os três ossículos (martelo, bigorna, estribo) e a abertura da tuba auditiva. O ouvido interno também chamado de labirinto, é formado pelo aparelho vestibular (equilíbrio) e cóclea (audição). O som chega ao cérebro através do nervo coclear. Zumbido tem causa? Muito se fala sobre a dificuldade de tratamento do zumbido, mas essa dificuldade será bem menor se soubermos a causa que o originou. O zumbido continua sendo considerado como um sintoma sem cura estabelecida. Entretanto, isto não significa que nada se possa fazer pelo paciente, principalmente sabendo que a determinação da causa é de suma importância para obter maior possibilidade de êxito no tratamento. Basicamente existem dois tipos de zumbido: � zumbidos gerados pelo sistema auditivo. � zumbidos gerados pelo sistema pára-auditivo, formado pelas estruturas próximas ao sistema auditivo. Os zumbidos gerados pelo sistema auditivo são os mais freqüentes e podem se originar em qualquer local das vias auditivas, desde o conduto auditivo externo até o cérebro. São divididos em sete principais grupos causadores, a saber: � Causas otológicas: a princípio, qualquer doença ou distúrbio do ouvido pode vir acompanhado de zumbido, desde o ouvido externo (cera no conduto auditivo), ouvido médio (otite) e ouvido interno (ruído intenso). � Causas metabólicas: alterações metabólicas, especialmente da glicose, triglicerídios e hormônios tireoideanos podem causar ou acentuar o zumbido. � Causas cardiovasculares: devem ser analisadas, pois são doenças facilmente encontradas na população em geral. As mais comuns são: anemia, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, entre outras. De modo geral, essas doenças promovem uma diminuição do fluxo sangüíneo na cóclea (ouvido interno), provocando um zumbido agudo. � Causas neurológicas: doenças neurológicas (esclerose múltipla), traumatismo de crânio, tumores, seqüelas de infecções neurológicas (meningite), entre outras, podem ser causa de zumbido. Algumas vezes, o zumbido pode ser referido na cabeça e não propriamente nos ouvidos. � Causas farmacológicas que merecem um alerta: O American Physician's Desk Reference lista mais de 70 medicamentos que podem provocar zumbido como efeito colateral, entre eles: ácido acetilsalicílico (aspirina), antiinflamatórios, certos antibióticos e alguns antidepressivos. � Causas odontológicas: segundo alguns autores, a disfunção da articulação têmporo-mandibular (ATM), bem como do aparelho mastigador podem causar zumbido. � Causas psicológicas: ansiedade e depressão podem estar envolvidas com zumbido. Muitas vezes, é difícil diferenciar se isso é causa ou conseqüência ou mera coincidência, principalmente, no paciente que já apresenta ambos os problemas há vários anos. Os zumbidos gerados pelo sistema pára-auditivo (estruturas próximas ao sistema auditivo) são geralmente causados por alterações nos vasos arteriais ou venosos, nos músculos ou na tuba auditiva. Resumidamente, são divididos em vasculares (pulsáteis) e musculares (cliques). As principais causas são os tumores vasculares, as malformações vasculares, as contrações rápidas (involuntárias, rítmicas) de um ou vários grupos musculares e a disfunção da tuba auditiva. Causa do zumbido: como o médico faz o diagnóstico? A história do paciente é o primeiro e o mais importante passo no diagnóstico. A descrição de alguns tipos de zumbido, a maneira como o paciente relata, o desconforto que ele produz, podem ser informações úteis na avaliação do médico, sugerindo as prováveis etiologias de cada caso. O passo seguinte na avaliação do médico é o exame do paciente. Consiste no exame físico (pressão arterial, pulso, peso, exame otorrinolaringológico), avaliação da audição e equilíbrio. Um exame de imagem como a tomografia computadorizada ou ressonância magnética poderá ser necessário para estudo do ouvido médio, interno e estruturas crânio-encefálicas relacionadas. Exames laboratoriais poderão ser solicitados como sangue, secreções, excreções ou fragmento de tecido, a fim de detectar possíveis alterações tóxicas, infecciosas, sangüíneas, metabólicas, endócrinas, renais, hepáticas, intestinais. A avaliação cuidadosa, minuciosa, criteriosa e global de todas as informações obtidas poderá determinar o diagnóstico etiológico (causa) do zumbido. Sabendo a causa, será dado um passo à frente Jornal Interno de Saúde afnavarro@ABC da Saúde 2003 na obtenção de melhores resultados, pois vai tornar possível tratar de modo específico a doença da qual o zumbido é apenas um sintoma. Como se trata? Antes de tudo, o médico deve tranqüilizar o paciente quanto à pequena probabilidade de doença grave. Muitos pacientes diminuem a percepção de seu zumbido apenas com palavras confortantes que lhe tirem quaisquer suspeita de "tumor na cabeça" ou "enlouquecimento". Também é importante assegurar ao paciente que dificilmente seu zumbido vai piorar, mas pelo contrário, na maioria dos casos pode ocorrer uma melhora com o passar do tempo. Os ambientes excessivamente barulhentos devem serevitados, pois é muito freqüente a queixa de piora após exposição ao ruído. Também evitar o abuso de cafeína, limitando seu uso a três xícaras de café caseiro por dia. Chocolate, chá (preto e mate) e refrigerantes (tipo cola) também contêm cafeína e, além disso, muitos produtos ditos descafeinados não são isentos de cafeína, mas apresentam redução de 50% no seu teor. Evitar o fumo e o consumo exagerado de bebidas alcoólicas, fatores considerados agravantes do zumbido. Certos medicamentos em uso podem ser a causa do zumbido, como, por exemplo, o ácido acetilsalicílico (aspirina) e os antiinflamatórios. Alguns pacientes podem, ao mesmo tempo, estar tomando vários remédios (diabete, hipertensão, coração, depressão, ansiedade, reumatismo) e, nesses casos, fica difícil saber qual das medicações pode ter feito o zumbido aparecer ou piora Se houver a constatação de alterações psicológicas relevantes como depressão e ansiedade, agravando o zumbido, um tratamento com o psicólogo ou psiquiatra tornar-se-á necessário. Tratamento medicamentoso: não existe fórmula única de tratamento para o zumbido. Cada caso é um caso e, portanto, o tratamento deve ser adequado para cada paciente. O tratamento da causa é o mais eficaz, neutralizando ou suprimindo o agente agressor, curando ou melhorando o zumbido. Muitas vezes, a causa não ficou estabelecida e para esses pacientes existem vários medicamentos disponíveis com potencial para promover alívio. Caso isso não aconteça com a primeira opção, muitas outras podem ser usadas. � Terapia de habituação: é uma terapia comportamental, um retreinamento das vias auditivas cujo objetivo é provocar o desaparecimento de reação ao som do zumbido e a perda de sentimentos negativos associados. É um processo terapêutico longo, do qual são partes importantes o enriquecimento dos sons ambientais, o aconselhamento intensivo explicando ao paciente os mecanismos do zumbido e o apoio psicológico. � Mascaramento: consiste na utilização de um aparelho auditivo que produz um ruído constante, a fim de encobrir o zumbido. Baseia-se no princípio de que o ruído externo é bem mais tolerado do que o zumbido. Esses aparelhos podem ser somente mascaradores de zumbido, ou então estarem associados com próteses auditivas (aparelhos de surdez), dependendo da audição do paciente. � Outros métodos de tratamento poderão ser utilizados para diminuir a percepção do zumbido, como a estimulação elétrica da cóclea, a acupuntura e técnicas de relaxamento. Como o zumbido evolui? A maneira como o zumbido severo evolui com o passar do tempo é uma informação importante no aconselhamento médico-paciente. Respondendo a questionários, a maioria dos pacientes afirmou que passou a tolerar melhor o zumbido com o passar do tempo; aqueles que foram submetidos à terapia de habituação responderam que o zumbido diminui. A conclusão importante é que o zumbido severo melhora com o passar do tempo, especialmente para os pacientes submetidos a tratamento psicológico concomitante. Perguntas que você pode fazer ao seu médico � Zumbido é doença? � Por que estou com zumbido? � O meu zumbido tem cura? � Se o meu zumbido não tem cura no momento, o que devo fazer para conviver com ele?