Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO Sidnei Mariano sidnei.mariano@kroton.com.br (99) 98103-6111 AULA 05 2 – TRATAMENTO CONTÁBIL ESPECÍFICO 2.2 – Redução e contabilização de ativos Toda empresa precisa registrar: a depreciação referente à perda do valor dos ativos em função do desgaste, perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência. a amortização de seus ativos sempre que estes tiverem prazo legal ou contratualmente limitado. no caso de a empresa possuir em seus ativos direitos de exploração de recursos naturais, deve-se registrar a exaustão destes. A depreciação, a amortização e a exaustão terão início quando o ativo estiver disponível para uso, serão calculadas mediante uma taxa obtida em função da vida útil e pode ser que o ativo apresente um valor residual, que será o valor que a empresa poderá receber na venda desse ativo e que corresponde ao valor de mercado. O valor residual faz parte do cálculo da depreciação, amortização e exaustão de um ativo. Segundo Crepaldi (2016, p. 139): Vida útil: está diretamente relacionada com o período de tempo no qual o bem ou direito será utilizado na operação da entidade. Taxa: a taxa de amortização (aqui em sentido amplo) relaciona-se diretamente ao percentual a ser aplicado no cálculo. Valor residual: o bem e direito, após o término de vida útil, ainda assim, apresenta valor monetário, real e compatível com o mercado. Tal valor é levado em consideração para os cálculos da amortização, depreciação e exaustão. Todas as empresas, para a manutenção de suas atividades, necessitam de bens que serão utilizados por mais de um ciclo produtivo. São os chamados Ativos Imobilizados, que segundo o pronunciamento técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado, são itens tangíveis mantidos para uso na produção ou fornecimento de mercadorias ou serviços, para aluguel a outros, ou para fins administrativos, e que se espera utilizar por mais de um período. Nas empresas do agronegócio são considerados ativos imobilizados os tratores e as máquinas colheitadeiras, comumente retratados em imagens ao se falar do agronegócio. Essas máquinas tornaram-se, inclusive, símbolo do setor ao retratar a agricultura moderna, cuja colheita é feita por modernas máquinas agrícolas, compradas de empresas que fazem parte da cadeia do agronegócio. No entanto, os ativos imobilizados das empresas, chamados de “dentro da porteira”, não se resumem somente às máquinas e equipamentos e esse é outro diferencial da contabilidade das empresas rurais. Além das máquinas e equipamentos, fazem parte do imobilizado dessas empresas: os ativos biológicos de produção, como as vacas leiteiras, os touros reprodutores, os animais de trabalho, como o cavalo de sela, a lavoura de cana-de-açúcar, os contratos de exploração e, após a revisão do CPC 29 – Ativo Biológico e Produto Agrícola, em vigor desde 2016, as plantas portadoras. Como já vimos, as plantas portadoras são as plantas vivas cultivadas para produzir frutos por mais de um período e que têm a probabilidade remota de serem vendidas como produto agrícola, sendo exceção disso, quando a planta é vendida como sucata. As plantas portadoras são aquelas que estão presentes nas culturas permanentes, como na plantação de laranja, de uva, de banana, cujo produto agrícola é retirado da planta, mas esta permanece produzindo por um ciclo que torna possível determinar sua vida útil. Estimativa de vida útil sugeridas por Marion (2010, p. 53-54) para plantas e animais. A Instrução Normativa SRF 1700/17 (BRASIL, 2017), traz no seu anexo III uma estimativa de vida útil para animais bovinos, suínos, ovinos e caprinos fixada em 5 anos, o que resulta em uma taxa de depreciação anual de 20%. Isso se difere da definição do CPC 27 – Ativo Imobilizado, que diz que a vida útil de um ativo pode ser entendida como o período de tempo em que se espera utilizar esse ativo ou o número de unidades produzidas com a sua utilização e, por esse pronunciamento, a estimativa da vida útil do ativo é uma questão de julgamento baseado na experiência da entidade com ativos semelhantes, podendo ser revista pela empresa periodicamente. Por que existe essa preocupação em determinar a vida útil dos ativos do imobilizado das empresas rurais? Porque a vida útil é importante para que se possa calcular a depreciação. Segundo o pronunciamento técnico CPC 27 – Ativo Imobilizado, a vida útil pode ser estimada, mas, pela legislação fiscal, a vida útil de móveis, máquinas, equipamentos, veículos e ferramentas utilizadas pela empresa rural são pré-determinadas e isso permite encontrar a taxa de depreciação anual para aplicação na contabilidade. A Instrução Normativa SRF 1700/2017 (BRASIL, 2017), que revogou a IN SRF 130/99 (BRASIL, 1999), apresenta a vida útil (10 anos) e a taxa de depreciação (10% a.a.) de máquinas e equipamentos comuns às empresas rurais. Pela legislação fiscal existe uma taxa de depreciação anual definida Pela legislação contábil a empresa deve fazer o teste de recuperabilidade de seus ativos Vale destacar que o tratamento diferenciado da vida útil dos ativos imobilizados traz diferença na contabilização da depreciação, amortização e exaustão perante a legislação fiscal e contábil LINEAR: consiste na aplicação de taxas constantes durante o tempo de vida útil estimada para o bem. Fórmula: Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x período de utilização Vida útil Item Data Integração Valor Integração Valor Residual Vida Útil (anos) Taxa Anual Valor Mensal Depreciado Valor Depreciação Acumulada Colheitadeira 08/2015 500.000 120.000 10 Trator 01/2016 250.000 80.000 10 Plant. Laranjas 05/2017 650.000 25.000 15 Plant. Café 01/2014 700.000 30.000 20 Reprodutores 05/2017 300.000 45.000 8 Matrizes 12/2017 200.000 30.000 10 Cavalo de sela 05/2016 35.000 10.000 8 Boi de carro 04/2017 20.000 5.000 5 SOMA DOS DÍGITOS: proporciona depreciações maiores no início da vida e menores no final da vida, dando uniformidade nos custos, uma vez que os reparos são mais comuns no final da vida útil do bem, o que causaria uma compensação pela diminuição da despesa com depreciação. Fórmula: Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x (n + 1 – ano da depreciação) Soma dos dígitos EXEMPLIFICANDO: Plantação de cana-de-açúcar com: investimento de $ 1.000.000; vida útil de 5 anos; valor residual: 0,00 valor depreciável: $ 1.000.000. Explicando a fórmula: Soma dos dígitos: 5 anos (5+4+3+2+1) = 15 Aplicando na fórmula: (n+1 – ano da depreciação n = número de anos total = 5 ano da depreciação = ano de apropriação (1, 2, 3 . . .) Montando a tabela da depreciação Ano Fração Depreciação 1 5/15 333.333,33 2 4/15 266.666,67 3 3/15 200.000,00 4 2/15 133.333,33 5 1/15 66.666,67 HORAS TRABALHADAS: estima-se o número de horas trabalhadas durante o tempo de vida útil (em horas trabalhadas) previsto para o bem. Fórmula: Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x número de horas trabalhadas Vida útil em horas Item Data Integração Valor Integração Valor Residual Vida Útil (horas trabalhadas) Horas trabalhadas no período Valor Depreciação Anual Colheitadeira 08/2015 500.000 120.000 10.000 900 Trator 01/2016 250.000 80.000 12.000 1.100 34.200,00 15.583,33 HORAS TRABALHADAS: estima-se o número de unidades que devem ser produzidas pelo bem ao longo de sua vida útil. Fórmula: Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x número de unidades produzidas Vida útil em unidades Item Data Integração Valor Integração Valor Residual Vida Útil (caixas colhidas)Caixas colhidas no período Valor Depreciação Anual Plant. Laranjas 05/2017 650.000 25.000 5.000.000 330.000 Item Data Integração Valor Integração Valor Residual Vida Útil (sacas colhidas) Sacas colhidas no período Valor Depreciação Anual Plant. Café 01/2014 700.000 30.000 1.500.000 80.000 41.250,00 35.733,33 DEPRECIAÇÃO ACELERADA: os bens utilizados por períodos maiores do que as oitos horas previstas na legislação vigente, por sofrerem maior desgaste, são beneficiados com a depreciação acelerada mediantes coeficientes definidos com base nos turnos realizados. Fórmula: Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x período de utilização x coeficiente fiscal Vida útil Para efeitos societários, nas empresas rurais, dependendo do ativo, vale a pena utilizar os métodos de unidades produzidas ou horas trabalhadas, porque dessa forma é possível gerar uma informação contábil que leve em consideração uma possível ociosidade e, com isso, a contabilização do desgaste será representada de forma mais fidedigna. É o caso das máquinas de plantio e de colheita, que não operam durante todo o ciclo produtivo, mas em um período desse ciclo. Na atividade da pecuária, os animais para reprodução, tanto as vacas quanto os touros, também deverão sofrer depreciação. No entanto, a vida útil deles não será computada a partir do nascimento do animal, mas a partir do momento em que este começa a reprodução. E, sem dúvidas existirão dificuldades na hora da determinação da vida útil, porque cada raça tem um tempo de reprodução, mas um veterinário pode determinar a vida útil de reprodução do animal. Imagine que uma empresa adquiriu um touro reprodutor para fornecer sêmen. O animal foi adquirido por R$ 100.000,00, teve a vida útil determinada em dez anos e logo entrou em produção. Considerando que a empresa utiliza o método de depreciação linear, o contador, ao fazer a contabilização desse reprodutor, irá levar em consideração o seguinte: Lançamento contábil na aquisição: D – Ativo Não Circulante – Imobilizado – Touro reprodutor R$ 100.000,00 C – Ativo Circulante – Banco R$ 100.000,00 Calculando a depreciação anual (Método Linear): Vida útil: 10 anos ou 10% ao ano. Depreciação = (Custo de aquisição – valor residual) x período de utilização/ Vida útil Depreciação = (R$ 100.000,00)/10 anos = R$ 10.000,00/ano Lançamento da depreciação anual: D – Despesa com depreciação – Reprodutores R$ 10.000,00 C – Depreciação Acumulada – Reprodutores R$ 10.000,00 Apurando o valor contábil após oito anos: Imagine que ao final de oito anos a empresa receba uma proposta de R$25.000,00 por esse touro. Como a depreciação é linear, com depreciação de R$ 10.000,00 por ano, teremos uma depreciação acumulada de R$ 80.000,00. Para encontrar o valor contábil basta considerar: Valor contábil: custo de aquisição – depreciação acumulada Valor contábil: R$ 100.000,00 – R$ 80.000,00 = R$ 20.000,00 A empresa apurará, então, um lucro contábil de R$ 5.000,00 na negociação desse reprodutor. Estamos falando bastante de depreciação, mas será que todos os ativos imobilizados da atividade agrícola são depreciados? A resposta é não. Quando se trata da atividade agrícola também teremos casos tratados como exaustão e como amortização. A amortização será calculada sobre itens intangíveis da empresa rural, como é o caso dos contratos de arrendamento mercantil de terras para a produção de laranjas. O contrato sofre amortização porque o direito de uso da terra vai sendo amortizado até o final do contrato. Nesse caso, é o direito (contrato de exploração das terras) que está sendo amortizado. Como exemplo de exaustão na atividade agrícola temos a produção de cana-de-açúcar, que, embora muitos pensem que é uma cultura temporária porque a cana é cortada e, com isso, se transformaria em produto agrícola no momento do corte, é uma cultura com uma forma de plantação que permite colheita por até seis safras, ou seja, ela é uma cultura permanente. Outro exemplo de exaustão é a produção de florestas destinadas ao corte, que ao ser retirada a madeira (colheita), continuarão produzindo uma nova safra e darão origem a novas árvores. Na exaustão temos um período produtivo da planta, mas em algum momento a planta vai deixar de produzir e é importante determinar essa vida útil e contabilizar corretamente a exaustão. Conforme os conceitos apresentados, toda a cultura permanente que produzir frutos (Ativos Biológicos) sera ́ alvo de depreciação. Por um lado, a árvore produtora não é extraída do solo; seu produto final é o fruto e não a própria árvore. Um cafeeiro produz grãos de café (frutos), mantendo-se a árvore intacta. Um canavial, por outro lado, tem sua parte externa extraída (cortada), mantendo-se a parte contida no solo para formar novas árvores. Segundo esse raciocínio, sobre o cafeeiro incidirá depreciação e sobre o canavial, exaustão. Assim, cafeeiro, laranjeiras, pereiras, videiras, castanheiras, macieiras, jabuticabeiras, abacateiros, jaqueiras, mamoeiros etc. serão alvos de depreciação. Na cultura de cha ́, o desbastamento das folhas é considerado depreciação, pois a folha é o produto final e não a árvore, o caule. O mesmo acontece com a bananeira que, após produzir o cacho de bananas, tem seu tronco cortado; daí, a depreciação. Segundo Marion (2010) a atividade agrícola apresenta, ainda, outras particularidades acerca da existência de depreciação, amortização ou exaustão. IMPLEMENTOS AGRÍCOLAS (máquinas) - Embora sejam máquinas, não são usados sem interrupção, porque existem as entressafras e, com isso, devem ter a sua depreciação calculada por hora trabalhada, que pode ser estimada pelo fabricante ou até por organizações internacionais, como o Banco Mundial. PASTAGENS PARA O GADO - Existem dois tipos de pastagens: as naturais e as artificiais. As pastagens naturais não precisam de plantio e receberão apenas melhoramentos de tempos em tempos. As pastagens artificiais certamente incidirão mais gastos desde a preparação do solo. Em ambos os casos, os gastos relativos à essas culturas sofrerão baixas contabilizadas como exaustão. CONTRATOS DE ARRENDAMENTO DE TERRAS - Ao se explorar um pomar em terras arrendadas, deve-se fazer a contabilização também da amortização, porque o que está em questão não é a cultura em si, mas o contrato de arrendamento, que é um direito de exploração em terras de terceiro. Lembre-se que existem duas óticas quanto à contabilização, a fiscal e a contábil, que sempre levarão em consideração as particularidades da atividade agrícola. Legislação Societária Particularidades da Atividade Agrícola Legislação Fiscal
Compartilhar