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Página 1/13 RECOMENDAÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS APRESENTAÇÃO O presente documento tem por finalidade apresentar à equipe técnica das Prefeituras Municipais do Estado do Paraná recomendações básicas para orientar a elaboração do Plano Municipal de Gestão dos Recursos Hídricos, solicitado por intermédio do Ofício Circular n0 400/07 SEMA/GS de 20/08/2007. As recomendações contidas neste documento foram produzidas por equipe técnica composta por funcionários da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA, Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental - SUDERHSA, Instituto Ambiental do Paraná - IAP e Instituto de Terras, Cartografia e Geociências - ITC, e possuem a função de contribuir com a equipe municipal, respeitadas as necessidades e características de cada município. Curitiba, fevereiro de 2008. Mauri César Barbosa Pereira Coordenação da Equipe Técnica Página 2/13 1. CONTEXTO DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS O advento da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, é sem dúvida, um marco no direito ambiental no Brasil, valendo lembrar que suas principais disposições sobre os objetivos e princípios da Política Nacional do Meio Ambiente foram incorporadas na Constituição Federal de 1988. A Lei n° 9.433, de 8 de janeiro de 1997 instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A Lei Estadual 12.726 de 26 de novembro de 1999 segue os mesmos pressupostos. Entre seus principais objetivos estão os de assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água com qualidade adequada para seu uso; o uso racional e integrado dos recursos hídricos, com vistas ao desenvolvimento sustentável e, por último, a preservação e a defesa contra eventos hidrológicos críticos, quer sejam de origem natural, quer decorrentes do uso inadequado, não só das águas, mas também dos demais recursos naturais1. Ao dizer que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico, a Lei nº 9.433/97 sinaliza a constituição de uma gestão que leva em conta a limitação desse recurso, fato que não tem sido considerado nas diversas políticas públicas. O uso múltiplo das águas é outro fundamento essencial. Por último, a adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial para a gestão das águas é a grande e fundamental inovação da Lei, mas também o maior desafio para a implementação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos2. 1 Art. 2º da Lei nº 9.433, de 1997. 2 Art. 1º da Lei nº 9.433, de 1997 Página 3/13 O artigo 3° define as diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, merecendo especial destaque: a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade e a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental. Essas duas diretrizes visam à superação da dicotomia entre a gestão da qualidade e da quantidade hoje ainda existente. O que precisa ser considerado, ainda, é a integração das políticas públicas no âmbito da bacia hidrográfica. A integração com a gestão ambiental e a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso e ocupação do solo, apontam um caminho difícil, mas indispensável, já que a vida não pode ser exercida sem água e a gestão das águas não pode prescindir de um adequado manejo do solo. A gestão integrada tem por instrumento o planejamento do uso, controle e proteção das águas, e permite associar metas de desenvolvimento mais amplas ao processo de planejamento, de modo a considerar outros setores, além do setor de águas, que causam impactos e sofrem também os impactos das águas e, portanto das decisões tomadas. Este é, muitas vezes, o caso na relação entre usos do solo e uso das águas. Proteção das águas implica em controle dos seus usos e em políticas de usos do solo e da ocupação no território da bacia hidrográfica. Entre os instrumentos de gestão de recursos hídricos, os planos de bacias hidrográficas são peças fundamentais, tanto para conhecer a realidade regional, como para prognosticar os desejos e intenções para o manejo dos recursos naturais nas referidas unidades de planejamento. Página 4/13 Dentre as ações com a finalidade de implementar a gestão dos recursos hídricos, a SEMA editou a Resolução 024, de 6 de junho de 2006, que institui a gestão integrada por Bacia Hidrográfica. Esta Resolução considera a Bacia Hidrográfica como uma importante unidade físico-territorial que poderá contribuir com o processo e o aperfeiçoamento da gestão ambiental e dos recursos hídricos paranaenses. Essas ações devem ser implementadas no âmbito da SEMA e suas vinculadas: IAP, SUDERHSA e ITCG. O Plano Diretor Municipal, conforme estabelecido pela Constituição Federal, é o “instrumento básico de desenvolvimento e de expansão urbana” da política de desenvolvimento urbano, que “tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”. O Plano tem caráter estratégico e participativo, técnico e político, devendo considerar todo o território municipal. Deve ser aprovado por lei municipal, revisado a cada dez anos, e ter suas diretrizes e as prioridades incorporadas pelo PPA e pela LDO e LOA, como estabelece o Estatuto da Cidade - Lei Federal nº 10.257/01. A elaboração do Plano Diretor, usualmente, tem início com levantamentos de informação sobre os aspectos: ambiental; socioeconômico; uso e ocupação do solo urbano e rural; infra- estrutura; e mobilidade. Os planos diretores podem contemplar a temática ambiental, no que diz respeito a caracterização do município; as APPs (Áreas de Preservação Permanente); o habitat de espécies em risco de extinção; os espaços territoriais protegidos; as unidades de conservação; as áreas de risco ou de interesse ambiental; as áreas degradadas; assoreamento de corpos de águas; cobertura vegetal; atividades extrativas; fontes de emissões atmosféricas; geração e disposição de Página 5/13 resíduos. Os planos podem incorporar a situação do saneamento do município, a proteção de mananciais, a macro e micro drenagem e apontar diretrizes para garantir a expansão da cidade em bases sustentáveis; promover aproveitamento adequado dos recursos naturais e da infra- estrutura; preservar áreas ambientalmente frágeis ou de grande valor cultural; melhorar as condições de mobilidade urbana e amenizar conflitos de vizinhança. 2. PLANOS DE BACIA HIDROGRÁFICA NO ÂMBITO ESTADUAL A Lei estadual nº 12.726, de 1999, estabelece que os Planos de Bacia Hidrográfica, em elaboração, a serem discutidos e aprovados pelos respectivos comitês de bacias hidrográficas, de longo prazo, devem, além de outros conteúdos, conter: • Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; • Análise de cenários alternativos de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo; • Balanço entre disponibilidade e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificações de conflitos potenciais; • Metas de racionalização de uso, adequação da oferta, melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis, proteção e valorização dos ecossistemas aquáticos; • Medidas a serem tomadas,programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados, para o atendimento de metas previstas; • Divisão dos cursos de água em trechos de rio, com indicação da vazão outorgável em cada trecho; Página 6/13 • Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; • Diretrizes e critérios para cobrança pelos direitos de uso dos recursos hídricos; • Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos. Para a promoção da gestão integrada das águas, buscando a conservação para os usos múltiplos, torna-se fundamental a participação dos municípios na construção do plano e da política de recursos hídricos, de acordo com as seguintes diretrizes: • Formulação, adoção e implementação de planos, programas e políticas setoriais ou intersetoriais, envolvendo os órgãos públicos pertinentes e incluindo parcerias com a sociedade civil, com ênfase na incorporação da dimensão água; • Promoção da cooperação entre todas as esferas de governo, organizações não-governamentais, empresas, institutos de pesquisa, e demais atores relevantes para a implementação desta política; • Promoção da Avaliação Ambiental Estratégica dos planos, programas, e projetos públicos e privados, com a finalidade de incorporar a dimensão água nos mesmos; • Formulação e integração de normas de planejamento urbano e uso do solo, com a finalidade de estimular a mitigação de impactos; • Apoio à pesquisa, produção e divulgação de conhecimento a respeito, das vulnerabilidades, das medidas de adaptação e mitigação dos impactos; Página 7/13 • Utilização de instrumentos econômicos visando a redução de impactos, incluindo incentivos e isenções tributárias; • Proteção e ampliação dos reservatórios de água mediante emprego de práticas sustentáveis; • Monitoramento dos impactos e adoção de estratégias de prevenção; • Estímulo à participação dos órgãos públicos e das instituições privadas do município nos Comitês de Bacias Hidrográficas. 3. O PLANO MUNICIPAL DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS Dentre os objetivos a serem definidos pelos municípios para a elaboração dos planos municipais de gestão dos recursos hídricos, é importante que sejam consideradas as seguintes recomendações: • A caracterização do território do município do ponto de vista social, econômico e ambiental, adotando a bacia hidrográfica e sub-bacias como unidades de planejamento; • O estabelecimento de políticas e diretrizes orientadas à proteção das águas em sua jurisdição; • A indicação de alternativas de aproveitamento e controle de recursos hídricos, a serem considerados no(s) plano(s) de bacia hidrográfica correspondente(s). O Plano Municipal deverá identificar as necessidades no que se refere aos usos, programas e projetos para a recuperação e a conservação das águas. Para tanto, mostra-se imperativo a adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial de planejamento, a divisão em sub-bacias e a divisão dos cursos Página 8/13 de água em trechos de rio, com indicação dos usos em cada trecho, para expressar diagnóstico e propostas, de curto, médio e longo prazo. O Plano Municipal deverá, de forma concreta, incorporar diretrizes que afetam o conjunto de municípios que compõem a bacia hidrográfica de qual faz parte, promovendo o planejamento integrado de microrregiões, visando a uniformização de ações e sua continuidade nos diversos territórios municipais. Para o desenvolvimento do Plano Municipal de Gestão dos Recursos Hídricos poderão ser considerados os seguintes aspectos: 3.1. DIAGNÓSTICO: • Identificação de modificações dos padrões de ocupação do solo atual; • Identificações de conflitos de uso existentes ou potenciais; • Identificação do grau de necessidade de recuperação da vegetação nas Áreas de Preservação Permanente - APPs, em especial da “mata ciliar” e nascentes; • Identificação do grau de ocupação das Áreas de Preservação Permanente em áreas urbanas, com cadastro socioeconômico de seus ocupantes e existência de saneamento básico; • Identificação do grau de conservação das áreas úmidas3. 3 Segmento de paisagem constituído por solos hidromórficos, conforme Resolução Conjunta IBAMA /SEMA / IAP nº 45, de 25 de setembro de 2007. Página 9/13 Para a realização do diagnóstico, recomenda-se que se adote a base cartográfica adequada da seguinte forma: a) A identificação dos usos da água por corpo d’água, em mapa com abrangência municipal em escala de 1:50.000, (Cartografia disponibilizada pelo SEDU/PARANACIDADE ou ITC); b) A identificação dos usos da água por corpo d’água, em mapa abrangendo a área urbana (definida pelo perímetro urbano) em escala de 1:10.000, (Cartografia disponibilizada pelo SEDU/PARANACIDADE); São usos, dentre outros, das águas superficiais ou subterrâneas: • Abastecimento para o consumo humano; • Insumo de processo produtivo; • Dessedentação de animais; • Aproveitamento de potenciais hidrelétricos; • Lazer e recreação; • Proteção das comunidades aquáticas; • Preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; • Recreação de contato primário; tais como natação, esqui aquático e mergulho; • Recreação de contato secundário; • Irrigação de hortaliças, frutíferas, de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras, parques, jardins, campos de esporte e lazer; • Aqüicultura; • Pesca amadora; • Navegação; • Harmonia paisagística; e, Página 10/13 • Diluição, transporte ou disposição final de esgotos e demais resíduo líquidos. c) A identificação de um conjunto de intervenções que altera o regime, a quantidade ou a qualidade da água, tais como: • Intervenções de macrodrenagem urbana, retificação, canalização, barramento e obras similares que visem ao controle de cheias; • Soluções adotadas para o tratamento dos esgotos sanitários, área atendida com sistemas individuais (fossa e sumidouro), grau de atendimento e área atendida com os serviços de coleta e tratamento dos esgotos e identificação do corpo receptor; • Soluções adotadas para a microdrenagem urbana, dispositivos de controle e seus lançamentos no corpo hídrico; • Soluções adotadas para a disposição e tratamento dos resíduos sólidos. d) Reconhecer a vinculação da qualidade das águas com as atividades que ocorrem nas respectivas bacias de contribuição, leva a necessidade de identificação do estado atual das Áreas de Preservação Permanente e outros espaços territoriais especialmente protegidos, como instrumento de relevante interesse ambiental. e) Identificação dos pontos de monitoramento da qualidade das águas dos rios, lagos e reservatórios, e indicação da entidade responsável, do período de dados existentes e dos parâmetros analisados. OBS: Os municípios que integram uma determinada bacia hidrográfica, caso seja de seu interesse poderão desenvolver o Plano Municipal de Gestão de Recursos Hídricos de forma Página 11/13 consorciada, considerando o conjunto das bacias hidrográficas que abrangem as áreas dos respectivos municípios. Neste caso, o plano poderá ser conjunto, entretanto deverá abordar os temas de cada um dos municípios e respectivas diretrizes. 3.2. PROPOSTAS Recomenda-se que seja apresentado um programa de investimentos em ações em desenvolvimento ou a serem implementadas para a proteção das águas que nascem ou atravessam o território municipal, esclarecendo quais constam do PPA. O Plano Municipalpoderá contemplar, por exemplo, os seguintes itens: • Expansão da área e grau de atendimento dos serviços de esgotamento sanitário; • Expansão da área de atendimento dos serviços de drenagem urbana; • Criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos; • Implantação e melhoria da eficácia na operação dos aterros sanitários, depósitos de resíduos e sistemas de tratamento de esgoto; • Implementação de programa de coleta seletiva de resíduos no município; • Realização de campanhas de educação ambiental no município sobre os temas de consumo sustentável, redução do uso de embalagens, e redução da geração de resíduos; • Monitoramento dos fatores de risco à vida e à saúde decorrentes da água e implementação às medidas correlatas de prevenção e tratamento, para evitar ou minimizar os impactos sobre a saúde pública; Página 12/13 • Ampliação de áreas verdes e de zona de absorção de águas nos instrumentos de regulamentação do uso do solo, de parcelamento do solo e de edificações; • Recuperação de áreas degradadas, áreas de proteção aos mananciais, e áreas de preservação permanente, com o fim de garantir a proteção dos recursos hídricos e da biodiversidade; • Implementação da arborização das ruas e a requalificação das calçadas para ampliar sua área permeável; • Plano de recuperação de APPs localizadas em áreas urbanas, ocupadas com edificações residenciais, comerciais ou industriais; • Ações de educação ambiental, em especial aquelas voltadas para a conscientização da preservação dos recursos hídricos. Recomenda-se, por final, a implementação de instrumentos técnicos que possibilitem análises integradas do uso e da ocupação do solo, devendo para isso ser implantado um sistema de informações geográficas - SIG que possibilite: (i) integração de informações com outros municípios e entidades; (ii) atualização automatizada das informações; e (iii) monitoramento das ações desenvolvidas na gestão dos recursos hídricos. Informações adicionais: O presente Documento (PM_RecursosHìdricos____Recomendações.pdf) e informações sobre as bases cartográficas existentes no Estado do Paraná (BasesCartográficas____Paraná_2007.pdf) estão disponíveis no endereço eletrônico: http://www.meioambiente.pr.gov.br/. Página 13/13 4. SÍTIOS DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES RECOMENDADOS - Ministério do Meio Ambiente - Plano Nacional de Recursos Hídricos – Cadernos Regionais http://pnrh.cnrh-srh.gov.br - Ministério do Meio Ambiente – Agência Nacional de Águas http://www.ana.gov.br/ - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA PR http://www.meioambiente.pr.gov.br/ - Fundação Prefeito Faria Lima – CEPAM – Centro de Estudos Pesquisas de Administração Municipal http://www.cepam.sp.gov.br/v11/index.asp 5. CONTATOS PARA ORIENTAR NA ELABORAÇÃO DOS PLANOS MUNICIPAIS DE RECURSOS HÍDRICOS SEMA: Leticia Marques > Tel. (41) 3304-7732. e-mail: recursoshidricos@sema.pr.gov.br SUDERHSA: Célia Yamamoto > Tel. (41) 3213-4757. e-mail: celiayamamoto@suderhsa.pr.gov.br IAP: José Luiz Bolicenha > Tel. (41) 3213-7870. e-mail: bolicenha@iap.pr.gov.br Maria Lúcia Medeiros – (41) 3213-3743 e-mail: malumedeiros@iap.pr.gov.br Bases Cartográficas e Imagens de Satélite ITCG: Fernando Canesso > Tel. (41)3341-7747. e-mail: fernandocanesso@itcg.pr.gov.br
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