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Brasília-DF. Gestão de RecuRsos HídRicos – Rad e Rac Elaboração Natalia Borges Marcelino Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção .................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA ..................................................................... 5 introdução ..................................................................................................................................... 7 unidAdE i CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................................... 9 CAPÍtuLo 1 GEREnCIAMEnTO DE RECURSOS HÍDRICOS ............................................................................. 9 CAPÍtuLo 2 BACIAS HIDROGRáfICAS ...................................................................................................... 12 CAPÍtuLo 3 SISTEMA nACIOnAl DE GEREnCIAMEnTO DE RECURSOS HÍDRICOS ........................................ 22 CAPÍtuLo 4 PlAnO nACIOnAl DE RECURSOS HÍDRICOS .......................................................................... 30 unidAdE ii InSTRUMEnTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS .......................................................................... 36 CAPÍtuLo 1 OS PlAnOS DE RECURSOS HÍDRICOS .................................................................................... 36 CAPÍtuLo 2 O EnqUADRAMEnTO DOS CORPOS DE áGUA ....................................................................... 38 CAPÍtuLo 3 A OUTORGA DOS DIREITOS DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS ................................................. 41 CAPÍtuLo 4 SISTEMA nACIOnAl DE InfORMAçõES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS - SnIRH .......................... 45 CAPÍtuLo 5 COBRAnçA DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS ...................................................................... 47 unidAdE iii A EXPERIÊnCIA BRASIlEIRA nO GEREnCIAMEnTO DE RECURSOS HÍDRICOS ......................................... 50 CAPÍtuLo 1 COMITÊS DE BACIAS ............................................................................................................. 50 CAPÍtuLo 2 AGÊnCIAS DE áGUA ............................................................................................................. 55 PArA (não) FinALizAr ...................................................................................................................... 58 rEFErênCiAS .................................................................................................................................... 59 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução “Me interessa o futuro porque é aonde vou passar o resto da minha vida.” (Woody Allen) Dada a importância do bem mais precioso da humanidade, a água, governos de muitos países há tempos, vêm preocupando-se em criar políticas e comissões regulamentadas para o trato da água, garantindo que sua população possa receber esse bem de qualidade em todo o território. Este curso dispõe de informações sobre a maneira como o governo brasileiro se comporta perante o tema Recursos Hídricos. Lembrando que o Brasil é o quinto maior país em extensão territorial, que conta com a maior reserva de água doce do mundo. Estruturado em onze capítulos, este material objetiva estimular o leitor a buscar cada vez mais informações. Conta-se com bibliotecas virtuais com artigos, relatórios, mapas, livros etc. para que possa aproveitar o máximo o conhecimento transmitido. Lembrando sempre que o maior responsável pelo tamanho do seu conhecimento é você mesmo! Sejam bem-vindos! objetivos » Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre a disciplina em pauta. » Ampliar a compreensão das diversas concepções acerca da disciplina. » Desenvolver uma concepção curricular do ensino pretendido, no que se refere ao tema. » Refletir sobre as questões pertinentes ao ensino do assunto. » Estimular a reflexão crítica e a produção discente na área em questão. » Favorecer a formação crítica e criativa do educando. » Construir habilidades e competências na área específica. 8 9 unidAdE i CAMPo dE gEStão dE rECurSoS HÍdriCoS CAPÍtuLo 1 gerenciamento de recursos hídricos O aproveitamento dos Recursos Hídricos requer concepção, planejamento, projeto, construção e operação de meios para o domínio e a utilização das águas. Embora seja, em princípio, função de engenheiros civis,necessita dos serviços de especialistas em outros campos. Os problemas relativos aos recursos hídricos interessam também a economistas, especialistas no campo das ciências políticas, geólogos, engenheiros mecânicos e eletricistas, químicos, biólogos e a outros especialistas em ciências sociais e naturais. Cada projeto de aproveitamento de recurso hídrico supõe um conjunto específico de condições físicas às quais deve ser condicionado, razão pela qual dificilmente podem ser aproveitados projetos padronizados que conduzam a soluções simples, estereotipadas. As condições específicas de cada projeto devem ser satisfeitas por meio de aplicação integrada dos conhecimentos fundamentais de várias disciplinas. As condições de acesso aos recursos hídricos ocorrem mediante uma boa gestão e um adequado processo político. Planejamento, no conceito da ciência econômica, que é bastante empregado, é a forma de conciliar recursos escassos e necessidades abundantes. Em recursos hídricos, o planejamento pode ser definido como conjunto de procedimentos organizados que visam ao atendimento das demandas de água, considerada a disponibilidade restrita desse recurso. Todavia, o planejamento de recursos hídricos reveste-se de especial complexidade, haja vista as peculiaridades expostas anteriormente. Gerenciamento de recursos hídricos é a maneira pela qual se pretende realizar o levantamento da situação atual e resolver os problemas de escassez relativos aos recursos hídricos, visando a desenvolver o uso adequado e a otimização dos recursos hídricos em prol a sociedade. Assim, como boa parte dos projetos governamentais do Brasil (se não a totalidade), para que o gerenciamento de recursos hídricos ocorra, depende-se de um incentivo político. Com a motivação 10 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS política adequada será possível planejar o aproveitamento e o controle dos recursos hídricos e adquirir meios de implantar as obras e as medidas recomendadas, controlando-se, assim, as variáveis que possam afastar os efeitos nocivos ao planejado. Somente na década de 1960, países como Estados Unidos, França, Alemanha e Grã-Bretanha renovaram suas leis e suas instituições à procura de maior eficácia na recuperação e na conservação dos recursos hídricos. O planejamento dos recursos hídricos visa à avaliação prospectiva das demandas e das disponibilidades desses recursos e a sua alocação entre usos múltiplos, de forma a obter os máximos benefícios econômicos e sociais, com a mínima degradação ambiental. É necessário planejar em longo prazo, em razão do tempo de maturação das obras hidráulicas, da vida útil dessas obras e da repercussão das decisões tomadas, que podem atingir várias gerações, sendo muitas vezes, irreversíveis. A administração de recursos hídricos é o conjunto de ações necessárias para tornar efetivo o planejamento, com os devidos suportes técnicos, jurídicos e administrativos. Além disso, é instrumento de revisão permanente e dinâmica o plano, permitindo ajuste de objetivos e metas a novas conjunturas, sem o que o plano torna-se obsoleto e irreal. Alguns princípios fundamentais que devem nortear qualquer processo de gerenciamento de recursos hídricos que se queira implementar são: » acesso aos recursos hídricos deve ser um direito de todos; » a água deve ser considerada um bem econômico; » a bacia hidrográfica deve ser adotada como unidade de planejamento; » a disponibilidade da água deve ser distribuída segundo critérios sociais, econômicos e ambientais; » deve haver um sistema de planejamento e controle; » a cooperação internacional deve visar ao intercâmbio científico e tecnológico; » desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento de recursos humanos deve ser constante; » quando os rios atravessam ou servem de fronteiras entre países, a cooperação internacional é indispensável; » os usuários devem participar da administração da água; » a avaliação sistemática dos recursos hídricos de um país é uma responsabilidade nacional e recursos financeiros devem ser assegurados para isso e; » a educação ambiental deve estar presente em toda ação programada. 11 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I A gestão dos recursos hídricos é decisão política, motivada pela escassez relativa de tais recursos e pela necessidade de preservação para as futuras gerações. Historicamente, essa gestão tem acontecido em países ou regiões em que a pouca água decorre da aridez do clima ou da poluição, havendo limitação ao desenvolvimento econômico e social. A decisão política é, normalmente, tomada em condições em que a escassez já é efetiva. Quando a escassez é prevista para médio ou longo prazo, apenas preocupações conservacionistas podem levar à gestão dos recursos hídricos. De forma ainda lenta, isso tem ocorrido, principalmente, a partir da década de 1970, com os ambientalistas organizando-se e agindo de forma a provocar a antecipação de ações que visem à conservação dos recursos hídricos, antes que as situações atinjam índices críticos. figura 1. Gráfico de porcentagem de água doce x salgada no mundo. O que os gráficos anteriores nos levam a concluir? Faça um pequeno texto inspirado nos gráficos salientando a importância da água e sua situação frágil no mundo. 12 CAPÍtuLo 2 Bacias hidrográficas Em 2000, a distribuição dos índices de cobertura por bacia hidrográfica era o apresentado na Figura 3, notando-se desempenho menos satisfatório nas bacias localizadas a Norte e Nordeste do país. Importante informação não revelada diretamente pelos levantamentos do IBGE relativos à cobertura é quanto à forma como o abastecimento ocorre com regularidade, oferecendo-se o devido acesso tarifário à população, atendendo-se aos padrões de portabilidade, entre outras variáveis. Suspeita-se que nem sempre o atendimento cumpre com os requisitos considerados adequados, o que é reforçado com a constatação do financiamento sem regularidade aos serviços e das limitações operacionais que muitos apresentam. A ideia de abundância serviu durante muito tempo como suporte à cultura do desperdício da água disponível à não realização dos investimentos necessários para seu uso e proteção mais eficientes, e à sua pequena valorização econômica. figura 2. Bacia Hidrográfica localizada no Amazonas. 13 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I figura 3. Cobertura domiciliar por rede de abastecimento de água, segundo municípios e bacia hidrográfica. Brasil, 2000 Os problemas de escassez hídrica no Brasil decorrem, fundamentalmente, da combinação do crescimento exagerado das demandas localizadas e da degradação da qualidade das águas. Esse quadro é uma consequência do aumento desordenado dos processos de urbanização, de industrialização e de expansão agrícola, verificada a partir da década de 1950. O crescimento demográfico brasileiro associado às transformações por que passou o perfil da economia do país refletiu-se de maneira notável sobre o uso de seus recursos hídricos na Segunda metade do século. A migração da população do campo para a cidade e a industrialização, além de exercerem significativo aumento na demanda das águas dos mananciais também exigiram o crescimento do parque gerador de energia elétrica que, por sua vez, implicou na necessidade de construção apreciável de aproveitamentos hidrelétricos. Adicionalmente, o aumento da população reclamou por maior produção de alimentos, o que veio a encontrar na agricultura irrigada o canal apropriado para satisfazer essa demanda. 14 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS Ao longo da década de 1970 e, mais acentuadamente na década de 1980, a sociedade começou a despertar para as ameaças a que estava sujeita se não mudasse de comportamento quanto ao uso de seus recursos hídricos. Nesse período, várias comissões interministeriais foram instituídas para encontrar meios de aprimorar nosso sistema de uso múltiplo dos recursos hídricos e minimizar os riscosde comprometimento de sua qualidade, principalmente no que se refere às futuras gerações, pois a vulnerabilidade desse recurso natural já havia começado a se fazer sentir. Faça uma pesquisa e liste as principais Bacias Hidrográficas e suas localizações no Brasil. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Na tabela 1, são mostradas algumas informações sobre as bacias hídricas brasileiras. Tabela1. Informações sobre bacias hídricas brasileiras. No BACIA HIDROGRÁFICA Área População Densidade hab/km² Vazão m³/s Disponibilidade Hídrica Disponibilidade Per Capita m³/ hab.ano10³km² % hab. % km³/ano % 1 Amazônica 3.900 46 6.687.893 4,3 1,7 133.380 4206 73 628.940 2 Tocantins 757 8,9 3.503.365 2,2 4,6 11.800 372 6,5 106.220 3 Atlântico Norte/Nordeste 1.029 12 31.253.068 20 30,4 9.050 285 5 9.130 4 São Francisco 634 7,4 11.734.966 7,5 18,5 2.850 90 1,6 7.660 5 Atlântico Leste 545 6,4 35.880.413 23 65,8 4.350 137 2,4 3.820 6a Paraguai 368 4,3 1.820.569 1,2 4,9 1.290 41 0,7 22.340 6b Paraná 877 10 49.924.540 32 56,9 11.000 347 6 6.950 7 Uruguai 178 2,1 3.837.972 2,4 21,6 4.150 131 2,3 34.100 8 Atlântico Sudeste 224 2,6 12.427.377 7,9 55,5 4.300 136 2,4 10.910 BRASIL 8.512 100 157.070.163 100 18,5 182.170 5.745 100 36.580 Mais de 73% da água doce disponível do País encontra-se na bacia Amazônica, que é habitada por menos de 5% da população. Portanto, apenas 27% dos recursos hídricos brasileiros estão disponíveis para 95% da população. 15 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I gerenciamento por bacias hidrográficas Ao longo do século XX, a administração federal brasileira experimenta vários modelos de gestão de recursos hídricos, entre opções centralizadoras ou descentralizadas, estatizantes ou liberais, nacionalistas ou abertas aos investimentos estrangeiros, segundo o contexto político de cada época. Nestes movimentos, percebe-se nitidamente a necessidade de articulação institucional, intersetorial e nas três instâncias federativas – União, estados e municípios –, como resposta às restrições institucionais e legais, bem como de financiamento, para o setor de recursos hídricos. Em 1978 surge a primeira experiência de superação do tradicional enfoque setorial, focada no uso das bacias hidrográficas como unidade de gestão. A criação do Comitê Executivo de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas (CEEIBH), constituído conjuntamente pelos Ministérios de Minas e Energia e do Interior. Mais de dez comitês de rios federais são criados, responsáveis pela classificação dos cursos de água da União, o estudo integrado e o acompanhamento da utilização racional dos recursos hídricos das bacias hidrográficas dos rios federais, o aproveitamento múltiplo dos cursos de água e a mitigação de consequências nocivas à ecologia da região. Apesar da proposta inovadora, esses comitês tinham participação exclusiva de técnicos do meio ambiente, com enfoque de proteção e disciplinamento das atividades produtivas com impacto sobre os recursos naturais. Em 1981, aprovou-se a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei no 6.938), que cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e lança as bases para a busca do desenvolvimento sustentável; a Política institui instrumentos como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). A nova legislação também cria, no âmbito federal e dos Estados, órgãos e instituições dedicadas à gestão do meio ambiente, responsáveis pelo licenciamento e fiscalização de atividades produtivas potencialmente poluidoras, além de áreas de especial interesse ambiental. Os instrumentos adotados pelo setor ambiental têm a natureza de “Comando e Controle” e são baseados na capacidade do Estado de definir limites de emissão e fiscalizar o seu cumprimento. Nesse contexto, o uso dos recursos hídricos passa a ser submetido a controles crescentes: em 1986, por exemplo, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) adota a exigência de estudos de impacto ambiental para novas hidrelétricas, além de estabelecer uma minuciosa classificação das águas doces, salinas e salobras do País e definir limites para substâncias nos corpos de água, determinando critérios de qualidade para o recurso. O Brasil apresentava então um retrospecto bem sucedido em várias frentes. » Expansão de sistemas de abastecimento de água tratada (embora o mesmo não tenha ocorrido nas áreas mais pobres e em relação aos sistemas de tratamento de esgotos domésticos, pela falta de investimentos). 16 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS » Sucesso do setor de hidroeletricidade no atendimento da demanda de expansão urbana e do segmento industrial. » Expansão reduzida de áreas irrigadas no país, em particular, no semiárido. » Redução da poluição industrial, propiciada pelos instrumentos do licenciamento ambiental e fiscalização, restrita aos agentes privados. Por outro lado, constatavam-se os limites dos instrumentos e capacidades setoriais para promover isoladamente novos avanços. Alguns dos principais problemas relacionados aos recursos hídricos exigem novos paradigmas de planejamento e de gestão, notadamente, a busca da sustentabilidade pela via de abordagens integradas, com soluções multidisciplinares. Consumo nacional de água No que se refere à quantidade e à regularidade do fornecimento de água, as Figuras 4 e 5 possibilitam algumas inferências. Na Figura 4, evidencia-se que os estados com menores faixas de consumo per capita localizam-se nas Regiões Norte e Nordeste, mas que não necessariamente, o valor do consumo per capita esteja associado à escassez de água superficial característica da bacia hidrográfica, mas possivelmente, em nível de desenvolvimento regional e à qualidade da gestão. figura 4. faixas de consumo per capita de água, segundo estados e bacias hidrográficas. Brasil, 2000. 17 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I Faça uma pesquisa em fontes atualizadas e desenhe um gráfico separado por estados brasileiros, relacionando a quantidade de população com a quantidade de água disponível figura 5. Proporção de distritos com racionamento de água, segundo estados e bacias hidrográficas. Brasil, 2000. Já no caso do racionamento de água (Figura 5), verifica-se que os estados com maior proporção de distritos com essa condição estão na Região Nordeste, embora todos os estados da Região Sudeste, à exceção do Espírito Santo, revelem de 10 a 20% de seus distritos com racionamento, sugerindo explicações que combinam situações de escassez de água nos mananciais com elevadas populações e crescimento demográfico, além de possíveis deficiências na gestão. Consumo mundial de água Atualmente, há mais de 1 bilhão de pessoas sem disponibilidade de água suficiente para consumo doméstico e se estima que, em 30 anos, haverá 5,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas com moderada ou séria falta d’água. A população mundial e suas atividades antrópicas já atingiram uma escala de utilização dos recursos naturais disponíveis que obriga a todos a pensar no futuro de uma nova forma. 18 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS É previsto que a população mundial estabilize-se, por volta do ano 2050, entre 10 e 12 bilhões de habitantes, o que representa cerca de 5 bilhões a mais que a população atual, enquanto a quantidade de água disponível para o uso permanece a mesma. Considera-se, atualmente,que a quantidade total de água na Terra, de 1.386 milhões de km³, tem permanecido de modo aproximadamente constante durante os últimos 500 milhões de anos. Vale ressaltar, todavia, que as quantidades estocadas nos diferentes reservatórios individuais de água da Terra variaram substancialmente ao longo desse período. A distribuição dos volumes estocados nos principais reservatórios de água da Terra é demonstrada na Tabela 2, na qual se verifica que 97,5% do volume total de água da Terra são de água salgada, formando os oceanos, e somente 2,5% são de água doce. Ressalta-se que a maior parte dessa água doce (68,7%) está armazenada nas calotas polares e geleiras. A forma de armazenamento em que os recursos hídricos estão mais acessíveis ao uso humano e de ecossistemas é a água doce contida em lagos e rios, o que corresponde a apenas 0,27% do volume de água doce da Terra é cerca de 0,007% do volume total de água. Mesmo tendo a Terra um volume total de água da ordem de 1.386 milhões de km³, o que efetivamente está disponível ao uso humano é muito pouco (0,007%). Tabela 2. Reservatórios de água As águas da Terra encontram-se em permanente movimento, constituindo o Ciclo Hidrológico. Efetivamente, desde os primórdios dos tempos geológicos, a água (líquida ou sólida) que é transformada em vapor pela energia solar que atinge a superfície da Terra (oceanos, mares, 19 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I continentes e ilhas) e pela transpiração dos organismos vivos, sobe para a atmosfera, onde esfria progressivamente, dando origem às nuvens. Essas massas de água voltam para a Terra sob a ação da gravidade, principalmente nas formas de chuva, neblina e neve. O ciclo hidrológico é responsável pelo movimento de enormes quantidades de água ao redor do mundo. Parte desse movimento é rápido, pois, em média, uma gota de água permanece aproximadamente 16 dias em um rio e cerca de 8 dias na atmosfera (Tabela 3). Entretanto, esse tempo pode estender-se por milhares de anos para a água que atravessa lentamente um aquífero profundo. Assim, as gotas de água reciclam-se continuamente. Tabela 3. Ciclo hidrológico. O acesso ao volume total de água estocada nos diferentes reservatórios existentes na Terra não é uma tarefa elementar, pois, como se verifica na Tabela 3, o ciclo hidrológico ocorre de forma muito variável e dinâmica. Para satisfazer à demanda de água, a humanidade tem modificado o ciclo hidrológico desde o início de sua história, mediante a construção de poços, barragens, açudes, aquedutos, sistemas de abastecimento, sistemas de drenagem projetos de irrigação e outras estruturas. Os governos e as entidades públicas gastam grandes importâncias de dinheiro para implementar e manter essas instalações. No entanto, apesar dessas iniciativas, em 1995, aproximadamente 20% dos 5,7 bilhões de habitantes da Terra sofriam com a falta de um sistema de abastecimento confiável de água e, além disso, mais de 50% da população não dispunha de um sistema adequado de instalações sanitárias. “Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca.” Provérbio popular Devido ao acesso mais fácil, as formas mais importantes de armazenamento de água doce para o uso da humanidade e dos ecossistemas são rios, reservatórios e lagos, que representam apenas 0,27% do volume total de água doce da Terra, 93.100 km³. Entretanto, a contribuição de um único componente 20 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS do ciclo hidrológico para a circulação global de água não depende apenas do volume estocado, mas, em grande parte, do seu período de renovação. Com base nos dados da Tabela 3, verifica-se que o período para a renovação da água em determinados meios varia consideravelmente e, como a água dos rios tem um tempo de permanência muito curto em relação aos outros reservatórios, ela favorece substancialmente a elevação da taxa de renovação da água por meio do ciclo hidrológico. O mesmo ocorre com o armazenamento da água na atmosfera, que é de aproximadamente 8 dias, isto é, no prazo de uma a duas semanas, a água que sobe à atmosfera retorna à superfície da Terra, podendo reabastecer o fluxo dos rios, a umidade do solo, as reservas de água subterrânea, ou cair diretamente nos espelhos líquidos dos lagos, oceanos e outros reservatórios, renovando as suas reservas e melhorando a sua qualidade à medida que proporciona a diluição de seus constituintes. figura 6. Ciclo hidrológico médio anual da Terra. Onde: C = precipitação nos continentes; EvtC = evapotranspiração nos continentes; ESS = escoamento superficial; ESB = escoamento básico ou subterrâneo; Po = precipitação nos oceanos; Eo = evaporação nos oceanos. Portanto, observa-se na Figura 6 que, anualmente, cerca de 119.000 km³ de água são precipitados sobre os continentes, dos quais aproximadamente 74.200 km3 evapotranspiram retornando à atmosfera em forma de vapor, 42.600 km³ formam o escoamento superficial e 2.200 km³ formam o escoamento subterrâneo. Assim, esses 42.600 km³ constituem, em média, o limite máximo de renovação dos recursos hídricos em um ano. 21 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I Efetuando-se o balanço das informações contidas na Figura 5, nota-se que o ciclo hidrológico é realmente um sistema fechado. Dos 119.000 km³/ano precipitados sobre os continentes, 74.200 km³/ano (62%) retornam à atmosfera e 44.800 km³/ano (38%) escoam até os oceanos. Por sua vez, nos oceanos, o volume precipitado é de 458.000 km³/ano, enquanto a evaporação é de 502.800 km³/ano, o que gera um excedente de vapor d’água na atmosfera de 44.800 km³/ano. Portanto, nota-se que o volume de água que escoa dos continentes para os oceanos é igual ao valor que retorna dos oceanos para os continentes em forma de vapor d’água, fechando o ciclo. Seguindo o tema da Figura 6, de que toda água no planeta está em um ciclo fechado, faça uma pesquisa sobre o ciclo das geleiras no mundo. Busque fontes atualizadas e faça um comparativo para ver se o mesmo ciclo fechado se aplica. Tenha em mente: a mesma quantidade de gelo que derrete no verão é a mesma quantidade de gelo que congela no inverno? 22 CAPÍtuLo 3 Sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos O ano de 1988 marca um momento de especial importância para o processo de redemocratização do País, com a promulgação, pelo Congresso Nacional, de uma nova Constituição, em vigor até os dias de hoje. Questões como a redistribuição de atribuições entre União, estados e municípios, a descentralização e o fomento à iniciativa privada foram tratados na nova Carta, na busca da retomada do desenvolvimento. A nova Constituição estabelece princípios e diretrizes que têm forte repercussão sobre a gestão dos recursos hídricos, bem como sobre a proteção ambiental no Brasil, que ganha inclusive um capítulo próprio no texto constitucional. Nele, fica consagrado que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, e que cabe tanto ao Poder Público, quanto aos particulares, defendê-lo e preservá-lo para as presentes e para as futuras gerações. As águas não recebem na Constituição de 1988 uma menção específica, mas estão presentes em diversos artigos, revelando um enfoque de uso mais econômico desses recursos. Entre as mudanças, destacam-se as seguintes. » Altera-se a dominialidade das águas, colocando-as exclusivamente no âmbito da União e dos estados, ficando excluído o domínio dos municípios. » Extingue-se o domínio das águas particulares, admitido no Código de Águas até então vigente. As águas tornam-se, assim, exclusivamente públicas. » Torna-se competência da União legislar sobre águas e sobre energia elétrica, bem como instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. A partir dos princípios e obrigações estabelecidos na Constituição de 1988, é instituída em 1997 a Política Nacional dos Recursos Hídricos e criado o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH),por meio da promulgação da Lei Nacional no 9.433/1997. A Lei no 9.433/1997 está em sintonia com os conceitos derivados das conferências internacionais sobre meio ambiente e recursos hídricos, como a Conferência de Mar Del Plata e o Terceiro Fórum Mundial da Água. Faça uma resenha sobre as conferências internacionais “Conferência de Mar Del Plata” e o “Terceiro Fórum Mundial da Água”. Destaque os temas debatidos em cada uma e mostre o que há em comum entre elas. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 23 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ A Lei estabelece os seguintes fundamentos: » água como bem de domínio público; » água como recurso limitado, dotado de valor econômico; » consumo humano como prioridade e dessedentação de animais; » uso múltiplo das águas; » bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão; » gestão descentralizada e participativa. Quanto aos seus objetivos, a Lei propõe: » assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, nos padrões de qualidade adequados; » utilizar racional e integradamente os recursos hídricos; » prevenir de eventos hidrológicos críticos. Em termos de diretrizes gerais de ação, está previsto: » gestão sistemática da quantidade e qualidade; » adequação às diversidades regionais (físicas, bióticas, econômicas, sociais e culturais); » integração com a gestão ambiental; » articulação com o planejamento regional e com a gestão do uso do solo; » integração com sistemas estuarinos e zonas costeiras. Para colocar em prática tais princípios e garantir a descentralização e a participação social, o SINGREH é dotado de um conjunto de instâncias decisórias composto de um colegiado deliberativo superior, formado pelo Conselho Nacional dos Recursos Hídricos e seus correspondentes nos 24 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS estados, os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos; colegiados regionais deliberativos a serem instalados nas unidades de planejamento e gestão, os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios Federais e os Comitês de Bacias Hidrográficas de Rios Estaduais; e instâncias executivas das decisões dos colegiados regionais, as Agências de Água de âmbito federal e estadual. Os componentes se propõem a operar de maneira articulada, conforme a Figura 7, a seguir. figura 7. Sistema SInGREH. Histórico da evolução legislativa sobre as águas do Brasil Amplie o seu conhecimento! Acesse a biblioteca virtual! Lá você encontrará a Lei das Águas. É importante, como gestor, conhecer os atuais instrumentos legais. 25 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I A primeira Constituição a viger no Brasil em 1824, disciplinava muito pouco sobre a água, onde o proprietário que tivesse em suas terras privadas mananciais de águas subterrâneas era o dono delas. A Constituição seguinte de 1891 também não disciplinou sobre o domínio das águas, porém definiu as competências para legislar sobre a navegação sendo de o Congresso Nacional legislar quanto à navegação dos rios que banhassem mais de um Estado, ou se estendessem a territórios estrangeiros, e dos estados ou da União, quanto a navegação interior. Somente na Constituição de 1934 é que foi estabelecido um dispositivo ambientalista, que determinava a competência privativa da União para legislar sobre a água, essa também sendo de domínio da União, onde aos estados pertenceriam às margens de rios e lagos navegáveis, destinados ao uso público, se não pertencessem por algum título a domínio federal, municipal ou particular. A grande preocupação relativa à água era que essa é fonte de energia elétrica, sendo que o seu aproveitamento industrial de águas e de energia hidráulica, dependiam de autorização ou de concessão federal. As minas e demais riquezas do subsolo e quedas de águas eram consideradas propriedade distinta da do solo para efeito de exploração ou aproveitamento industrial. A Constituição de 1937 manteve o mesmo tratamento dado pela Constituição de 1934. A Constituição de 1946 apenas incluiu entre os bens de domínio dos Estados, os lagos e rios, em terrenos do seu domínio, e os que possuíssem nascente e foz no território estadual. As constituições de 1967 e 1969, não tiveram modificações relevantes ao tratamento das águas em relação às constituições anteriores. Na promulgação da Constituição de 1988 foi delimitado sobre o sistema jurídico ambiental, em decorrência da água, recebeu uma nova regulamentação legal a fim de preservar e conservar para as gerações futuras, logo a constituição passou a considerar as águas como bem do Estado, inexistindo águas particulares ou águas municipais, considerando dessa forma todas as águas de domínio público (Art. 20, caput, III; art.26 caput, I: art. 176, caput. Todos da CF). As águas subterrâneas, que anteriormente não possuíam titular definido, passaram a ser de domínio estadual, até mesmo com gestão compartilhada por outros estados como é o caso do aquífero Guarani que abrange oito estados brasileiros, porém, há divergência doutrinaria acerca do tema e, há aqueles que defendem a dominialidade da União nos casos em que banhem mais de um estado. O Brasil é um Estado Federado e com ele existe um ordenamento jurídico válido em todo território nacional. Com isso, constitui-se a repartição de competências que se divide em competências legislativas e administrativas ou materiais. Esse sistema de divisão de competência engloba três níveis de diferentes estatalidades que são União, estados e municípios. O artigo 24 da CF/1988 trata das questões referentes ao meio ambiente, sendo então a União responsável pela edição de normas gerais, principiológicas, e aos estados-membros a de normas especificas, suplementando a legislação federal. O artigo 22, IV, da CF/1988 dispõe que a competência para legislar sobre as águas é privativa da União, porem como dispõe o parágrafo único do citado artigo, lei complementar poderá autorizar os estados a legislar sobre questões especificas. 26 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS No entanto, há uma contradição aparente no artigo 24, IV, que atribui a competência concorrente a União, estados e Distrito Federal no que compete legislar sobre meio ambiente, e como a água é um recurso natural inclui-se nesse inciso. Essa contradição ocorre pelo fato de a competência privativa da União ir de encontro à competência dos estados de estabelecer regras administrativas sobre os bens de seu domínio. Na realidade, o que se deseja é vedar a criação de direito sobre águas, que é de competência privativa da União, considerando a melhor interpretação a extraída do artigo 24, ao ver que a competência para legislar sobre normas gerais é atribuída a União, cabendo aos estados e ao Distrito Federal legislar complementarmente e ao município suplementarmente, cabendo a esses legislar sobre assuntos de interesses locais com base no art. 30, I e II da CF/1988. A competência de instituir um sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direito de uso, é exclusivo da União (art. 21, XIX, da CF/1988). A nossa Constituição Estadual prevê a criação de sistemas estaduais de gerenciamento de recursos hídricos, o artigo 171 da Constituição Estadual é um dos principais artigos referente à água, nele estão contidos quatro grandes princípios nagestão das águas, que são: » gestão das águas através de um Sistema Estadual de Recursos Hídricos; » adoção da bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento e intervenção; » estabelecimento da outorga e tarifação dos recursos hídricos e (princípio do usuário pagador); » reversão. O princípio do usuário pagador surgiu com a necessidade de o estado ter que racionar o uso das águas devido à situação atual dos recursos hídricos, esse princípio agrega dois preço ao uso da água: um corresponde na retirada da água com intuito de frear o consumo, e o outro corresponde à tarifa de esgoto, também no sentido de frear seu lançamento. O princípio da reversão que dispôs sobre a necessidade de que os recursos arrecadados pela utilização da água devessem ser reaplicados na própria bacia, faz com que o princípio do usuário pagador (PUP) seja mais eficaz, porque a sua arrecadação será utilizada para o planejamento e para as intervenções, estruturais ou não, da bacia da qual provieram. (art. 171, § 3o Constituição Estadual). O Código Civil de 1916 também disciplinou alguns dos seus artigos para a água, esses artigos somente disciplinavam sobre o direito de utilização das águas, não se referindo diretamente ao seu domínio em 1934 o Governo Provisório decorrente da revolução de 30 promulgou o Decreto no 24,643, o chama do Código das Águas, logo as disposições referentes à água, que estavam no CC de 1916, foram quase todas recepcionadas no Código das Águas. O Código das Águas foi criado devido à necessidade de regulamentar a apropriação das águas para fins de geração de energia elétrica. o Brasil deixava de ser um país essencialmente agrícola, a indústria se expandia e as águas eram tratadas como um dos elementos básicos do desenvolvimento por ser matéria-prima para a geração de eletricidade, subproduto essencial da industrialização. 27 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I O Código abrangia vários aspectos como: aplicação de penalidades, propriedade, domínio, aproveitamento das águas, navegação, regras sobre as águas nocivas, força hidráulica e seu aproveitamento, concessões e autorizações, fiscalização, relações com o solo e sua propriedade, desapropriação, derivações e desobstrução. A maioria das medidas de conservarão, proteção e recuperação necessitavam de normas reguladoras, essas não foram criadas, ao contrario das destinadas á exploração energética, porém décadas mais tarde esses instrumentos foram adotados por outras legislações brasileiras. A principal diferença entre o CC de 1916 e o Código das Águas é que esse trata as águas como recurso dotado de valor econômico para a coletividade e por isso merecendo maior atenção do Estado, ao passo que aquele não reconhecia o real valor econômico da água sendo sua regulamentação voltada basicamente para o direito de vizinhança. Embora o Código das Águas seja um texto antigo, apresenta partes ainda vigentes, embora tenha sido modificado por leis posteriores. A Lei no 4.771/1965 que instituiu o Código florestal, que determinou a preservação das florestas e demais formas de vegetação situada ao longo dos rios, cursos d’águas, nascentes, lagos, lagoas ou reservatórios e assim protegendo de forma reflexa a vazão e a qualidade da água. A Lei no 5.138/1967 estabeleceu sobre a Política de Saneamento básico, tratando especificamente sobre o sistema de esgota e de drenagem de águas pluviais. A Lei no 6.662/1979 estabeleceu sobre a Política Nacional de Irrigação com o intuito de controlar a utilização da água usada na irrigação, dentre outras. A Lei no 6.938, que veio a instituir a política Nacional do Meio Ambiente, e posteriormente alterada pela lei no 7.804, que se tornou umas das regulamentações ambientais brasileiras mais importante, trazendo consigo o início do pensamento holístico. Com a instituição desta lei foi implantado o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SINAMA), que tem como órgão superior o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), ao qual compete, entre outras atribuições “estabelecer normas e critérios e padrões relativos ao controle e a manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos”. A lei no 7347/1985 foi a que criou o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio ambiente, além de outros interesses difusos e coletivos da sociedade. Em 8/1/1997 entrou em vigor a Lei Federal no 9.433/1997, a “Lei das Águas” criada para instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos e criar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Seus artigos tratam sobre a política nacional de recursos hídricos, seus fundamentos, objetivos, diretrizes de ação e instrumentos, dando principal ênfase à outorga e a possível cobrança pelo uso 28 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS desse recurso, também especifica os órgãos que irão compor o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. A Lei Federal no 9.433, de 8/1/1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e dá outras providências. Trata-se de uma lei atual, avançada e importante para a ordenação territorial, em seu sentido mais amplo, caracterizada por uma descentralização de ações, contra uma concentração de poder, claramente ressaltados no texto da referida lei, que proclama os princípios básicos praticados hoje em todos os países que avançaram na gestão de seus recursos hídricos, quais sejam. » adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; » usos múltiplos da água; » reconhecimento da água como um bem finito e vulnerável; » gestão descentralizada e participativa. Ainda são aspectos relevantes da Lei no 9.433/1997 os cinco instrumentos essenciais à boa gestão do uso da água. » Plano Nacional de Recursos Hídricos, que é o documento programático para o setor. Trata-se de um trabalho extenuante não só de atualização e consolidação dos chamados Planos Diretores de Recursos Hídricos, que são elaborados por bacia (ou conjunto de bacias) hidrográfica. » Outorga de direito de uso dos recursos hídricos, que é um instrumento pelo qual o usuário recebe autorização, concessão ou permissão para fazer uso da água. Constitui o elemento central do controle para o uso racional dos recursos hídricos, o que induz o usuário a uma disciplina desse uso. » Cobrança pelo uso da água, essencial para criar as condições de equilíbrio entre as forças da oferta (disponibilidade de água) e da demanda, promovendo, em consequência, a harmonia entre os usuários competidores. » Enquadramento dos corpos de água em classes de uso, que permite fazer a ligação entre a gestão da quantidade e a gestão da qualidade da água. É extremamente importante para se estabelecer um sistema de vigilância sobre os níveis de qualidade da água dos mananciais. » Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos, encarregado de coletar, organizar, criticar e difundir a base de dados relativa aos recursos hídricos, seus usos, o balanço hídrico de cada manancial e de cada bacia, provendo gestores, usuários, sociedade civil com as condições necessárias ao processo decisório. Em relação ao arranjo institucional, os organismos criados pelo novo sistema são: » o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, órgão mais elevado da hierarquia do Sistema Nacional de Recursos Hídricos em termos administrativos, a quem 29 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I cabe decidir sobre as grandes questões do setor, além de dirimir as contendas de maior vulto; » os comitês de bacias hidrográficas, tipo de organização inteiramente novo na administração dos bens públicos do Brasil, contando com a participação dos usuários, prefeituras, sociedade civil organizada, demais níveis de governo (estaduais e federal), e destinados a agir como fórum de decisão no âmbitode cada bacia hidrográfica; » as agências de água, também um tipo de organismo inteiramente novo, destinado a gerir os recursos oriundos da cobrança pelo uso da água; » as organizações civis de recursos hídricos, que são entidades atuantes no setor de planejamento e gestão do uso dos recursos hídricos e que podem ter destacada participação no processo decisório e de monitoramento das ações. 30 CAPÍtuLo 4 Plano nacional de recursos hídricos Lei no 9.433/1997 A Lei n.o 9.433/1997 institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), estabelecendo os instrumentos da Política, entre os quais os Planos de Recursos Hídricos, definidos como planos diretores que visam a fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o Gerenciamento dos recursos hídricos (art. 6o), devendo ser elaborados por bacia hidrográfica (Plano de Bacia), por estado (Planos Estaduais) e para o País (Plano Nacional), conforme o art. 8o da referida lei. O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) configura-se como um planejamento estratégico para o período de 2005-2020, que estabelece diretrizes, programas e metas, pactuados socialmente por meio de um amplo processo de discussão, que visam assegurar às atuais e futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos, com base no manejo integrado dos recursos hídricos. Por meio de suas proposições, o PNRH orienta a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos bem como o Gerenciamento dos Recursos Hídricos no País, apontando os caminhos para o uso da água no Brasil. Dada à natureza do PNRH, coube à SRH, como órgão coordenador e formulador da Política Nacional de Recursos Hídricos, a coordenação para a sua elaboração (Decreto no 4.755, de 20 de junho de 2003). O Plano se encontra inserido no PPA 2004-2007 e configura-se como uma das prioridades do Ministério do Meio Ambiente e do Governo Federal. Cabe ressaltar o caráter continuado que deve ser conferido a esse Plano Nacional de Recursos Hídricos, incorporando o progresso ocorrido e as novas perspectivas e decisões que se apresentarem. Nesse aspecto, o próprio PNRH já estabelece a 31 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I necessidade de suas revisões, e a resolução de aprovação do Plano (CNRH no 58, de 30 de janeiro de 2006) define essa periodicidade. Com a atribuição de acompanhar, analisar e emitir parecer sobre o Plano Nacional de Recursos Hídricos foi criada, no âmbito do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, a Câmara Técnica do PNRH (CT-PNRH/CNRH), por meio da Resolução CNRH no 4, de 10 de junho de 1999. Para prover a necessária função executiva de elaboração do PNRH, a CTPNRH/CNRH criou o Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração do Plano (GTCE/PNRH), composto pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA) e pela Agência Nacional de Águas (ANA). O GTCE/PNRH configura-se, portanto, como o Núcleo Executor do PNRH, assumindo a função de suporte à sua execução técnica. A base físico-territorial utilizada pelo PNRH segue as diretrizes estabelecidas pela Resolução CNRH no 30, de 11 de dezembro de 2002, e adota como recorte geográfico para seu nível 1, a Divisão Hidrográfica Nacional, estabelecida pela Resolução CNRH no 32, de 15 de outubro de 2003, que define 12 regiões hidrográficas para o País. O processo de sua elaboração adotou uma vertente regional e outra nacional. A vertente regional foi desenvolvida no âmbito das 12 Regiões Hidrográficas, com o apoio das Comissões Executivas Regionais (CERs), tendo sido realizadas reuniões e seminários nas regiões e 27 Encontros Públicos Estaduais. A vertente nacional apoiou-se em Oficinas e Seminários Nacionais, dentre a oficina do segmento usuários, na qual esteve inserida a discussão sobre o saneamento e suas interfaces com os recursos hídricos. O processo de elaboração do PNRH baseou-se, portanto, num conjunto de discussões e informações técnicas, que amparam o processo de articulação política, proporcionando a consolidação e a difusão do conhecimento existente nas diversas organizações que atuam no Sistema Nacional e nos Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Legislação estadual de recursos hídricos Vários estados, tendo em vista o fato de serem detentores de domínio sobre as águas, aprovaram suas respectivas leis de organização administrativa para o setor de recursos hídricos. Até o momento, 19 estados já contam com leis próprias (Tabela 4). Como não poderia deixar de ser, na implantação dos sistemas de gerenciamento têm-se constatado que, frequentemente, as leis não estão adequadas às condições locais, suscitando ajustes e revisões. É o caso, por exemplo, da Lei no 11.504, de 20/6/1994, de Minas Gerais, que mais tarde foi substituída pela Lei no 13.199, de 29/11/1999, contemplando a cobrança pelo uso dos recursos hídricos e a instituição das agências de água. No caso do Distrito Federal, a Lei no 512, de 28/7/1993, foi substituída pela Lei no 2.725, de 13 de junho de 2001. A nova lei distrital consagra os comitês de bacia hidrográfica como a base do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos. Desse modo, ficará garantida forte participação da sociedade como gestora dos recursos hídricos, tal como ocorre na Lei Federal no 9.433/1997. 32 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS Tabela 4. leis estaduais de Recursos Hídricos. ESTADO LEI SOBRE POLÍTICA E SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS ALAGOAS Lei no 5.965, de 10/11/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Estadual de Gerenciamento Integrado de Recursos Integrado de Recursos Hidrícos e dá outras providências. BAHIA Lei no 6.855, de 12/5/1995 – Dispõe sobre a Política, o Gerenciamento e o Plano Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. CEARÁ Lei no 11.996, de 24/7/1992 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídrícos (SIGERH) e dá outras providências. DISTRITO FEDERAL Lei no 512, de 28/7/1993 – Dispõe sobre a Política de Recursos Hídricos no Distrito Federal, institui o Sistema de Gerenciamento integrado de Recursos Hídricos (SGIRH-DF), e dá outras providências. Lei no 2.725 de 13 de junho de 2001 – Institui a Política de Recursos Hídricos do Distrito Federal, cria o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Distrito Federal e dá outras providências. ESPÍRITO SANTO Lei no 5.818, de 30/12/1998 – Dispõe sobre a Política estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Integrado de Gerenciamento e Monitoramento do Recursos Hídricos, do Estado do Espírito Santo (SIGERH-ES), e dá outras providências. GOIÁS Lei no 13.123, de 16/7/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. MARANHÃO Lei no 7.052, de 22/12/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Gerenciamento Integrado de Recursos Hídricos e dá outras providências. MATO GROSSO Lei no 6.945, de 5/11/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recuroso Hídricos, institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. MINAS GERAIS Lei no 13.199, de 29/1/1999 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. PARAÍBA Lei no 6.308, de 2/7/1996 – Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, suas diretrizes e dá outras providências. PARANÁ Lei no 12.726, de 26/111999 – Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Sistema Estadual de Gerênciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. PERNAMBUCO Lei no 11.426, de 17/1/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e o Plano Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. PIAUÍ Lei no 5.615, de 17/8/2000 – Dispõe sobre a PolíticaEstadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos e dá outras providências. RIO DE JANEIRO Lei no 3.239, de 2/8/1999 – Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos, cria o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta a Constituição Estadual em seu artigo 261, §1o, inciso VII, e dá outras providências. RIO GRANDE DO NORTE Lei no 6.908, de 1/7/1996 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos (SIGERH) e dá outras providências. RIO GRANDE DO SUL Lei no 10.350, de 30/12/1994 – Institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, regulamentando o artigo 171 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul. SANTA CATARINA Lei no 9.748, de 30/11/1994 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. SÃO PAULO Lei no 7.663, de 30/12/1991 – Estabelece normas e orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos. SERGIPE Lei no 3.870, de 25/9/1997 – Dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídicos, e institui o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recuros Hidricos e dá outras providências. O Decreto Federal no 5.440, de 4 de maio de 2005, estabeleceu a obrigatoriedade para os municípios apresentarem, juntamente com a conta d’água, os resultados de análises físicas, químicas e biológicas. Uma forma de impelir os municípios a tomarem medidas para o monitoramento das águas e avaliação de sua qualidade. Verifique se no seu estado essas medidas já estão sendo implementadas!. 33 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I Agência nacional de Águas (AnA) Criada a partir da Lei no 9.984, de 2000, a Agência Nacional de Águas (ANA) é uma agência executiva e regulatória, uma autarquia em regime especial dotada de autonomia gerencial e financeira, estabilidade de quadros dirigentes e independência decisória (como órgão permanente de Estado). A ANA foi criada para impulsionar a Política Nacional dos Recursos Hídricos, surgindo como resposta institucional ao reconhecimento da complexidade e dificuldades inerentes à implementação do SINGREH que, apesar do marco legal favorável, não gerou em a priori, a resposta esperada por parte da sociedade e atores envolvidos. Assim, procurou-se, com a criação da ANA, dar maior dinâmica aos Comitês de Bacia e apoiar a efetiva implementação do novo conjunto de instrumentos de gestão disponível a partir da nova política para os recursos hídricos. As competências básicas da ANA são as seguintes. » Encargos indelegáveis de emissão de outorgas de direitos de uso da água. » Fiscalização dos usos e usuários de recursos hídricos. » Cobrança pelo uso da água, podendo delegar tarefas operacionais às agências de água de bacias hidrográficas. Visite <http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/>, nesse site é possível encontrar todo conteúdo discutido neste material. Comitês de bacia hidrográfica Os Comitês de Bacia são instâncias deliberativas regionais, instaladas nas unidades de planejamento e gestão (as bacias hidrográficas); funcionam como espaço de articulação entre as diversas partes interessadas no uso e proteção dos recursos hídricos locais. Os Comitês podem ter um total de membros variável, desde que respeitada a proporcionalidade entre os setores. » Até 40% de representantes dos Poderes Públicos. » Até 40% de representantes de setores usuários das águas. » Pelos menos 20% de representantes da sociedade civil. 34 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS As competências básicas do Comitê são as seguintes. » Arbitrar conflitos de uso de recursos hídricos. » Aprovar e acompanhar a execução do Plano de Recursos Hídricos da bacia hidrográfica. » Propor aos Conselhos Nacional e Estadual os usos insignificantes a serem isentos da obrigatoriedade de outorga pelo direito de uso da água. » Propor valores e estabelecer mecanismos para a cobrança pelo uso da água. Agências de água de bacias hidrográficas São instâncias executivas responsáveis pela implementação das decisões dos respectivos Comitês de Bacia. Apresentam perfil variável, segundo diferentes alternativas institucionais atualmente em curso. » Empresa pública de economia mista (modelo adotado no Estado do Ceará). » Autarquia pública regional (Estado do Rio Grande do Sul). » Fundação de direito privado (Estado de São Paulo). » Além disso, podem ser com os seguintes perfis. » Organização Social autônoma (OS), entidades civis de direito privado, com maior flexibilidade gerencial e operacional. » Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), entidades de direito privado, passíveis de credenciamento frente ao setor público para a oferta de serviços não exclusivos. Suas competências básicas incluem as seguintes. » Atuar como secretaria executiva do respectivo comitê. » Manter cadastro de usuários e balanço atualizado das disponibilidades hídricas. » Efetuar, mediante delegação do outorgante, a cobrança pelo uso da água. » Elaborar o Plano de Recursos Hídricos, para aprovação do respectivo comitê de bacia. » Promover estudos e analisar planos, projetos e obras a serem financiados à conta da cobrança pelo uso da água. instrumentos de gestão Além da estrutura institucional, a Política Nacional e Recursos Hídricos estabelece um conjunto de cinco instrumentos principais de gestão, desenhados para dotar as agências do sistema e demais interessados dos meios efetivos para se atingir as metas propostas. 35 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I » Os planos de recursos hídricos, formulados em três níveis - para o País (Plano Nacional), para as Unidades da Federação (Planos Estaduais) e para as bacias hidrográficas. » O enquadramento dos corpos d’água em classes segundo os seus usos preponderantes, sinalizando objetivos de qualidade a serem alcançados quando da implantação dos planos de bacia. » A outorga pelo direito de uso da água, como instrumento de regulação pública (estatal) de uso, tornada compatível com os objetivos socialmente estabelecidos nos planos e respectivos enquadramentos. » A cobrança pelo direito de uso de recursos hídricos, sinalizando que a água tem valor econômico e que sua disponibilidade corresponde a um preço social (público). » Um sistema de informações sobre recursos hídricos, onde estão reunidos, consistidos e disponíveis dados de oferta (disponibilidades), de demandas (cadastros de usuários) e sistemas de apoio à decisão. 36 unidAdE ii inStruMEntoS dE gEStão dE rECurSoS HÍdriCoS CAPÍtuLo 1 os planos de recursos hídricos A Lei Nacional no 9.433/1997, em seu artigo 5o, define os instrumentos legais para operacionalizar, de forma eficaz, as ações necessárias à gestão integrada dos recursos hídricos, tendo como referência os fundamentos e os objetivos da Política Nacional bem como as diretrizes gerais de ação para sua implementação, já abordadas nos itens anteriores. Por seu turno, a Lei Federal no 9.984/2000, que dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), estabelece, em seu art. 4o, inciso II, que cabe à ANA “disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos”. O conjunto de instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos inclui os planos de recursos hídricos para o país (Plano Nacional), para as Unidades da Federação (Planos Estaduais) e para as bacias hidrográficas; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo seus usos preponderantes; a outorga de direitos de uso dos recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; o Sistema de Informação sobre Recursos Hídricos; e a compensação a municípios, cujas disposições foram vetadas no texto da Lei Federal, mas continua a figurar como instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos, posto queo inciso V, do art. 5o da Lei no 9.433/1997 não foi vetado. Os planos de recursos hídricos são o primeiro instrumento mencionado pela Política Nacional de Recursos Hídricos. De acordo com o disposto no art. 6o da Lei no 9.433/1997, são planos diretores que visam a fundamentar e a orientar a implementação da política e o gerenciamento dos recursos hídricos. O art. 7o determina que os planos de recursos hídricos contemplem perspectivas de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e também o seguinte conteúdo mínimo: I. diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos; II. análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo; III. balanço de disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais; 37 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I IV. metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis; V. medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados para atendimento das metas previstas; VI. prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos; VII. diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso de recursos hídricos; VIII. propostas para a criação de áreas sujeitas a restrições de uso com vistas à proteção dos recursos hídricos. Além das definições expressas na Lei no 9.433/1997, no âmbito da União incluem-se, no marco legal regente do planejamento dos recursos hídricos, as Resoluções no 17, de 29 de maio de 2001, e no 22, de 24 de maio de 2002, emanadas do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). A primeira estabelece as diretrizes para os planos de recursos hídricos de bacia hidrográfica, detalhando os tópicos recomendados para seu conteúdo mínimo. A segunda contempla diretrizes para inserção dos estudos sobre águas subterrâneas nos planos de recursos hídricos, considerando a temática dos múltiplos usos dessas águas, as peculiaridades dos aquíferos e os aspectos relacionados à sua qualidade e quantidade. No que diz respeito às responsabilidades pela execução e pela elaboração dos planos de recursos hídricos, o Decreto no 4.755, de 20 de junho de 2003 estabelece as competências da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, dentre as quais se destacam “coordenar a elaboração e auxiliar no acompanhamento da implementação do Plano Nacional de Recursos Hídricos”. Por seu turno, a competência legal da ANA quanto à implantação, ao monitoramento e à avaliação do Plano Nacional de Recursos Hídricos é estabelecida pela Lei Federal no 9.984/2000, em seu art. 4o, inciso XVIII, a saber: XVIII – participar da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos e supervisionar sua implementação. 38 CAPÍtuLo 2 o enquadramento dos corpos de água O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água, também é um instrumento de planejamento, que visa a estabelecer as metas de qualidade a serem atendidas em determinado espaço temporal. Em outras palavras, cada classe de qualidade dos corpos hídricos correspondem às necessidades e os usos potenciais definidos pela sociedade, que devem ser assegurados mediante a implementação dos planos de bacia. Esse instrumento vem sendo utilizado no Brasil desde a década de 1980, sob o amparo legal da Portaria MINTER no 13/1976. Posteriormente, desde 1986, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), por intermédio da sua Resolução no 20 (atual Resolução no 357/2005), identificou as classes de uso nas quais os corpos d’água poderiam ser enquadrados, com os correspondentes parâmetros de qualidade. Com o advento da Lei no 9.433/1997, que possui entre seus objetivos “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”, este instrumento foi incorporado à Política Nacional de Recursos Hídricos. Segundo o art. 9o, o enquadramento objetiva assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas e diminuir os custos de combate à poluição, mediante ações preventivas. A Resolução CNRH no 12/2000 estabelece os procedimentos para o enquadramento dos corpos de água em classes segundo os usos preponderantes. De acordo com o art. 4o dessa resolução, o enquadramento deverá ser desenvolvido “em conformidade com o Plano de Recursos Hídricos da bacia e os Planos de Recursos Hídricos Estadual ou Distrital, Regional e Nacional e, se não existirem ou forem insuficientes, com base em estudos específicos propostos e aprovados pelas respectivas instituições competentes do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos”. Como instrumento de gestão de recursos hídricos, o enquadramento representa um elemento de articulação e integração da gestão ambiental com a das águas, o que encontra respaldo no art. 10 da Lei no 9.433/1997, a saber: “as classes de corpos de água serão estabelecidas pela legislação ambiental”. Portanto, sua implementação exige a articulação das instituições de gerenciamento e dos colegiados de ambos os sistemas: o SINGREH e o SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente). De acordo com a Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos, o enquadramento deve ser estabelecido pelo CNRH ou Conselhos Estaduais, mediante proposta apresentada pela Agência de Bacia Hidrográfica ao respectivo Comitê. Por seu turno, a Resolução CNRH no 12/2000, em seu art. 8o, determina a observância dos seguintes procedimentos na etapa de aprovação da proposta de enquadramento e respectivos atos jurídicos: § 1o – As alternativas de enquadramento, bem como os seus benefícios socioeconômicos e ambientais, os custos e os prazos decorrentes, serão divulgadas de maneira ampla e apresentadas na forma de audiências públicas, convocadas com esta finalidade pelo Comitê de Bacia Hidrográfica. 39 CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE I § 2o – A seleção de alternativa de enquadramento será efetuada pelo Comitê de Bacia Hidrográfica, que a submeterá ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos ou ao respectivo Conselho Estadual ou Distrital de Recursos Hídricos, de acordo com a esfera de competência. § 3o – O Conselho Nacional ou o respectivo Conselho Estadual ou Distrital de Recursos Hídricos, em consonância com as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente, aprovará o enquadramento dos corpos de água, de acordo com a alternativa selecionada pelo Comitê de Bacia Hidrográfica, por meio de Resolução. O art. 9o da mencionada resolução define a competência dos órgãos gestores de recursos hídricos e dos de controle ambiental sobre as atividades de monitoramento, controle e fiscalização dos corpos hídricos, além da avaliação do atendimento às metas previstas pelo enquadramento. Em 2005, a Resolução CONAMA no 20/1986 foi revisada, resultando na Resolução CONAMA no 357/2005, que estabeleceu, para o território brasileiro, 11 classes de usos preponderantes, cinco para águas doces, três para salobras e três para salinas. Na sequência, apresenta-se uma sistematização das classes de qualidade para as águas doces e o uso a que se destinam, tendo em vista que “as águas de melhor qualidade podem ser aproveitadas em uso menos exigente, desde que este não prejudique a qualidade da água, atendidos outros requisitos pertinentes”, conforme o parágrafo único do art. 3o da Resolução CONAMA no 357/2005. Alguns avanços significativos podem ser registrados com a edição dessa nova Resolução CONAMA no 357/2005, como a revisão e a adequação dos limites de vários parâmetros, principalmente levando-se em conta o aprimoramento das técnicas de monitoramento e dos equipamentos laboratoriais. Diferentemente da anterior, a resolução vigente define que enquanto não forem aprovados os enquadramentos, as águas doces serão consideradascomo classe 2, as salinas e as salobras, classe 1, exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, determinando a aplicação da classe mais rigorosa. 40 UNIDADE I │ CAMPO DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS figura 8. Classes de uso - COnAMA. Além disso, a resolução vigente é específica ao contemplar a classificação e as diretrizes ambientais somente para o enquadramento das águas superficiais (art. 1o), enquanto a anterior, embora mais utilizada para as águas superficiais, se destinava ao estabelecimento de níveis de qualidade para as águas doces, salobras e salinas e à determinação dos usos compatíveis a esses níveis, sem especificar se para corpos de águas superficiais ou subterrâneos. 41 CAPÍtuLo 3 A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos O art. 21, inciso XIX, da Constituição Federal determinou ser de competência da União a instituição do SINGREH e a definição dos critérios de outorga de direitos de uso de recursos hídricos. A Lei Nacional no 9.433/1997 regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e estabelece que a outorga se constitui como um instrumento que tem como objetivos assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água, superficiais ou subterrâneas, e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água (art. 11). Segundo Kelman, a outorga visa a dar garantia ao usuário outorgado quanto à disponibilidade de água como insumo básico do processo produtivo, destacando, ainda, que a outorga tem valor econômico para o outorgado, uma vez que oferece garantia de acesso a um bem limitado. Estão sujeitos à outorga os seguintes usos (Lei no 9.433/1997, art.12): I - derivação e captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II - extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; IV - aproveitamento de potenciais hidroelétricos; V - outros usos que alterem o regime, a quantidade e qualidade da água existente em um corpo de água. O art. 12, §1o, relaciona os usos que independem de outorga, tais como aqueles destinados ao abastecimento de pequenos núcleos rurais, as derivações, as captações e as acumulações de água, como também os lançamentos de efluentes considerados insignificantes. Já o §2o ressalta que a outorga e a utilização de recursos hídricos com a finalidade de geração de energia elétrica estarão subordinadas ao Plano Nacional de Recursos Hídricos, obedecida a legislação setorial específica. Com o intuito de preservar os usos múltiplos, a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos será estabelecida conforme as prioridades definidas nos planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas, de acordo com os respectivos enquadramentos, bem como, considerando a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso. A efetivação das outorgas dar-se-á por meio de ato da autoridade competente do Poder Executivo Federal, dos estados ou do Distrito Federal, em função da dominialidade das águas. A competência 42 UNIDADE II │ INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS para a emissão das outorgas em águas de domínio da União é da ANA, que poderá ser delegada aos estados e ao Distrito Federal, nos termos do art. 14, §1o da Lei Nacional no 9.433/1997. A outorga é, portanto, um ato administrativo pelo qual a autoridade outorgante concede ao outorgado o direito de uso do recurso hídrico por prazo determinado e de acordo com os termos e as condições expressos no ato. A outorga não implica a alienação parcial das águas, mas o simples direito de seu uso, podendo ser suspensa, parcial ou totalmente, nos casos expressos no art. 15 da Lei no 9.433/1997. A Lei no 9.984/2000, de criação da ANA, estabeleceu que os prazos de vigência para as outorgas de direitos de uso da água serão fixados em vista da função, da natureza e do porte do empreendimento, podendo ser prorrogados, respeitando-se as prioridades estabelecidas nos planos de recursos hídricos. Referentes à implantação de empreendimentos, os prazos das outorgas podem ser ampliados em função da sua importância social e econômica, ouvido o CNRH. Quanto aos prazos das outorgas concedidas a concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia elétrica, essa Lei determina que deverão ser coincidentes com os respectivos prazos dos contratos de concessão ou ato de autorização. A Lei no 9.984/2000 contempla, ainda, a possibilidade de emissão de outorgas preventivas de uso de recursos hídricos pela ANA, com a finalidade de declarar a reserva de disponibilidade hídrica, possibilitando o planejamento de empreendimentos com maior segurança, mas sem conferir o direito de uso da água. Seu prazo de validade também será fixado em função da complexidade dos empreendimentos, mantendo-se, entretanto, o limite máximo de três anos. No caso dos aproveitamentos hidroelétricos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) deve buscar junto à ANA a declaração de reserva de disponibilidade hídrica, previamente à licitação da concessão ou à autorização do uso de potencial de energia hidráulica em corpos de água de domínio da União (art. 7o da Lei no 9.984/2000). Quando esse potencial se localizar em corpos de água de domínio estadual, a lei determina que a declaração seja obtida em articulação com a respectiva entidade gestora de recursos hídricos. Essa declaração tem a mesma finalidade da outorga preventiva, ou seja, a reserva de disponibilidade hídrica para o planejamento de empreendimentos, não autorizando o direito de uso. Nesse caso, a declaração será automaticamente transformada em outorga do direito de uso de recursos hídricos à empresa que receber da ANEEL a concessão ou a autorização de uso do potencial de energia hidráulica. O artigo 8o da lei de criação da ANA estabelece a publicidade dos pedidos de outorga em corpos de água de domínio da União, assim como dos atos administrativos resultantes. Diante do exposto, ressalta-se a interdependência da outorga com os outros instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos. Os planos de recursos hídricos devem conter as prioridades para a outorga dos direitos de uso da água, enquanto o enquadramento define metas essenciais para a análise dos pedidos de outorga para lançamento de efluentes. A legislação determina que os usos de recursos hídricos a serem cobrados sejam aqueles sujeitos à outorga e, ademais, os valores a serem fixados para a cobrança serão diretamente relacionados a parâmetros relativos às outorgas. Por sua vez, a relação da outorga com o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos advém da importância que os dados e as informações que integram tal 43 INSTRUMENTOS DE GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS │ UNIDADE II Sistema têm para a análise dos pedidos de outorga que compõem o arsenal de dados sobre as demandas de água e as respectivas vazões outorgadas. Além dos artigos que regem o instrumento da outorga, tanto na Lei Federal no 9.433/1997 quanto na lei de criação da ANA, destaca-se, dentre as atribuições do CNRH, a faculdade de definir critérios gerais para esse instrumento. Até sua reunião ordinária, realizada em agosto de 2006, o CNRH aprovou 63 resoluções, sendo seis delas diretamente relacionadas ao instrumento da outorga, a saber: Resolução CNRH no 7/2000 Esta resolução tem a finalidade de instituir a Câmara Técnica de Integração de Procedimentos, Ações de Outorga e Ações Reguladoras (CTPOAR) e definir suas atribuições. Resolução CNRH no 12/2000 Estabelece os procedimentos para o enquadramento de corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes. A despeito de tratar especificamente sobre o instrumento do enquadramento está estreitamente articulada às questões da outorga, pelas razões já expostas.
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