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RESENHA BIBLIOGRÁFICA Melo Franco, Afonso Arinos de. História e teoria dos partidos políticos 110 Brasil. 3. ed. São Paulo, Alfa-Ômega, 1980. Acabada de ser lançado o livro do Ministro Afonso Arinos de Melo Franco, em 3.a edição, intitulado História e teoria dos partidos políticos no Brasil. Esta edição já se fazia necessária nos meios estudiosos, por suas excelentes qualidades de erudição e grande didatismo. O autor, polígrafo de reconhecida competência nas esferas das disciplinas sociais e jurídicas do país, dispensa, por sua projeção continental, qualquer menção à alta significação de suas admi- ráveis qualidades de autêntico intelectual. A obra é suscinta e luminosa na paisagem nacional que pretenda abranger. Desde a análise do fenômeno partidário no mundo que sucedeu à revolução francesa e americana aos dias correntes, revela-se, a todo passo, o escritor e professor que domina soberanamente os temas abordados: claridade, segurança e intuição da matéria que explana. Os textos legislativos referentes à constituição e funcionamento dos partidos mostram que o autor não é apenas um grande teorista, mas um parlamentar experiente e arguto que, ao lado de sua capacidade especulativa de homem de pensamento, manifesta sempre a visão realista de quem não perde de vista, na sua perspectiva doutrinária, a feição concreta dos problemas que aborda. Suas opiniões sobre a vida financeira e a propaganda eleitoral (p. 117, segs.) merecem, por parte dos militantes políticos - principalmente! - a maior e mais isenta atenção nessa apregoada abertura democrática. Não nos abalançaremos a transcrever aqui as páginas que deveriam ser me- ditadas por estudiosos de vários setores - porque acabariam vertendo para nossas páginas quase todo o volume - 120 páginas precisas e preciosas por seus ensinamentos. Programa de história oral. Rio de Janeiro, Instituto de Documentação, Editora da Fundação Getulio Vargas, 1981. A equipe técnica do Centro de Pesquisas e Documentação de História Con- temporânea do Brasil (CPDOC), seção do INDIPO, sob o título que encima estas linhas, acaba de lançar um livro que atesta o resultado de longos anos de trabalho. As razões da oportuna e necessária publicação são expostas por sua coorde- nadora Aspásia Camargo no prefácio do qual transcrevemos este resumo: "Tendo o CPDOC como proposto inicial recolher e organizar as fontes primá- rias de nossa história política, especialmente arquivos privados de homens pú- blicos atuantes a partir de 1930, tornou-se necessário complementá-los com R. Ci. pol., Rio de Janeiro, 25(1): 150-153, jan./abr. 1982 fontes de natureza diversa, como depoimentos gravados com lideranças polí- ticas, que pudessem precisar melhor situações e tendências de escasso ou con- traditório registro." Onde encontrar esses elementos para estudo social e político, por vezes tão dispersos e ameaçados de de8aparecimento? Recensear esses elementos, clas- sificá-los, pô-Ios ao alcance dos estudiosos tal, eis o grande, o inestimável serviço que o CPDOC veio prestar aos investigadores, permitindo-lhes am- pliar, aprofundar ou retificar os episódios de nossa história recente. Os benefícios já estão à vista, cristalizados em várias obras de reconhecido valor, dispensando-nos de arrolá-las nesta simples resenha. Além dos arquivos das maiores personalidades do meio século transcorrido, que o CPDOC, com toda a eficiência técnica, pôde organizar, da era Getúlio Vargas e anos subseqüentes, que complementam a realização de entrevistas te- máticas, trazendo à fala teóricos e práticos da política nacional, favoreceu a abertura de perspectivas aos estudiosos, estimulando-lhes os trabalhos que tem vindo a lume nestas últimas décadas. Somente folheando detidamente esse Programa, que nos dá informações pre- cisas e preciosas sobre as personalidades entrevistadas e os arquivos organiza- dos, é possível se fazer uma idéia justa do valor desse órgão da Fundação e dos altos préstimos que oferece e ainda oferecerá às ciências sociais no Brasil. E com satisfação que registramos o aparecimento do Programa, que, a nosso ver, deverá ser bem divulgado - principalmente nos meios universitários. Melo Franco, Afonso Arinos de. Direito constitucional: teoria da Constituição - as constituições do Brasil. Rio de Janeiro, Forense, 1981. Eis um pequeno e grande livro. A grandeza vem de sua qualidade, que re- flete a qualidade da pena que o escreveu. Resume, como se lê na explicação inicial: "a longa experiência intelectual de um parlamentar, um publicista e um professor que, durante mais de quatro décadas, se preocupou com alguns pro- blemas básicos do Direito Público e da Ciência Política, não como teórico mas como alguém que teve o destino de viver muitos problemas interligados com esses assuntos." Ao estilo luminosamente fluente, alia o autor o conhecimento especializado da matéria que versa nesta quase centena e meia de páginas. Matéria que versa e vive desde a juventude e se prolonga por essa maturidade lúcida e fecunda, na plenitude de seu vigor intelectual. Nada poderemos transcrever como destaque, porque a tentação de destacar preencheria o espaço dessas resenhas. Entretanto, não resistimos à transcrição dessa síntese sobre a significação cultural da palavra nação, para diferençá-la, no espírito do leitor, do seu sentido ;urídico: "A idéia de nação que mais serve ao direito, em um país como o Brasil, é a de um conjunto humano multirracional, pluricultural, que habita um mesmo ter- ritório e que é ligado pela solidariedade, em face do presente, e pela esperan- ça comum em face do futuro." Observe-se que aí está, numa convergência feliz para classificar o conceito definindo, as determinações essenciais indispensáveis: a pluralidade étnica e a cultural, a unidade territorial, os vínculos de solidariedade no presente a cami- nho do futuro. Não conhecemos nada na literatura política nacional que ex- prima, em tão poucas palavras e com tanta lucidez, o que aí se resume. Resenha bibliográfica 15.L Os 14 capítulos que seguem abordam, sempre de modo sucinto e seguro, as- pecto do direito constitucional moderno, da democracia política e social, do conceito e fim da constituição, do Poder Constituinte, da classificação das Cons- tituintes, dos controles, das sucessivas constituições brasileiras. No instante que vivemos, de grande preocupação pela elaboração da nova Lei Fundamental, a maior ameaça talvez se origine no despreparo das minorias que se julgam capazes de cooperar no magno problema. E com prazer que esta seção registra a oportunidade dessa excelente contri- buição ao momento constitucional brasileiro. Revista Militar Brasileira, 18(1), jul./ dez. 1981. Quando, em 1941, esta revista ressurgiu, o então Ministro da Guerra, General Eurico Gaspar Dutra, augurou-lhe o bom êxito na nova fase e na sua ação cul- tural. O atual número, confirmando os anteriores, atesta que, na verdade, "a revista conta com o futuro". Para dar uma rápida idéia do conteúdo deste número, mesmo receando a ine- vitável injustiça das omissões, apontaríamos: Estudos militares assistemáticos, do Cel. Francisco Ruas Santos; Geopolítica e geoestratégia, da ProLa Therezinha de Castro; Reflexões nacionalistas, do ProL Francisco de Souza Brasil; Amazô- nia, continente e ilha cultural, do ProL Leandro Tocantins; e valiosos ensaios sobre Henrique Lage, Solano Lopes, o 50.0 aniversário do CAN, a exponencial figura de Tamandaré, etc., que fazem desse número um repositório do mais alto interesse cultural e político. Parabenizamos pela edição a Diretoria de Assuntos Culturais do Ministério do Exército na pessoa de seu diretor, General da Brigada Mário Vital Guadalupe Montezuma, felicitação extensiva aos demais componentes do corpo redatorial. Jorge Jaime. Obras filosóficas. Rio de Janeiro, GráficaVitória, 1981, 4v. Nesta resenha, como em tantas outras publicadas nesta seção, o intuito princi- pal é o de informar o leitor da "presença" de determinado livro sobre deter- minado assunto - e mencionar, à vol d'oiseau, algum ponto capaz de espica- çar-Ihe a curiosidade. Estes volumes, aliás, começam discutindo precisamente a significação meta- física de "presença", "simultaneidade", "ser", "existir", "afirmar" - e outros imensos problemas que se desatam dessas perspectivas universais do pensamen- to especulativo. J á o leitor pressentiu que nos eximimos de qualquer apreciação sobre a obra do Sr. Jorge Jaime, que antepôs às suas páginas um pensamento de Farias Brito sobre a faina de cada pensador no avanço da consciência filosófica. Logo nas suas primeiras linhas refere-se aos problemas da "presença" e da "simultaneidade" à luz de uma geometria dinâmica absoluta em trânsito por soluções axiológicas até o ontologismo do humano. Parece que essa "absolutização", na reflexão do autor, existencializa-se na famosa equação E=Mc2 (energia, massa e velo- cidade da luz) - e só essa tese abrevia espaço à longa e tormentosa divagação. Encerremos, porém, esse fraco e sucinto registro com nosso louvor a um estu- dioso que nos dá um digno exemplo de amor à pesquisa teórica, no plano do pensamento especulativo - sem que pretendamos pronunciar-nos sobre o mé- rito dos problemas abordados. 152 R.C.P. 1/82 Convivium, direção do ProL Adolpho Crippa, n. 5, set./out. 1981. Já está em circulação mais um número de Convivium, a revista da filosofia e do pensamento luso-brasileiro sob a direção do Prof. Adolpho Crippa. Será desnecessário dizer que este último número confirma plenamente o alto conceito conquistado pelos anteriores, onde luzem os melhores nomes de seu elenco de estudiosos. Neste, o Prof. Carlos Cossio dedicou ensaio de evocação da obra e da personalidade de Machado Neto, traçando-lhe um perfil límpido e forte que, como escreve o autor nas primeiras linhas, é "quase uma oração" - tal o sentido de uma vida toda polarizada para os problemas fundamentais da inteligência e do conhecimento. Foram principalmente as questões relativas à tematização da experiência jurídica e da normatividade axiológica que fascina- ram o espírito lúcido de Machado Neto. Em torno dessas indagações giram suas mais sérias e profundas reflexões. O Prof. Leonidas Hegensberg, nome que se impôs por suas notáveis exposições no terreno da lógica moderna, publica agora sucinto e saboroso ensaio sobre Avicena. A brevidade do ensaio, porém, entremostra ao leitor o alcance de seus conhecimentos nessa área da história das idéias - e leva-o a pensar que Hegen- berg deve aos leitores brasileiros uma lição maior, em livro ao nível dos que já lhes ofereceu. Encerrando este número de Convivium, queremos registrar a nota de Elsior Moreira Alves sobre o trabalho de Sonia Legangrado Como interpretar a lei, da Editora Rio; o conhecimento que temos de sua autora reclama nosso aplauso, através das linhas elogiosas da resenha citada. Ainda nos recordamos do seu primeiro livro estudantil, escrito na Faculdade Nacional de Filosofia, contra a maré subversiva que crescia dentro dos quadros universitários por volta de 1960. Resenha bibliográfica 153
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