Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Variação Genética Para Caracteres Silviculturais Em Progênies De Polinização Aberta De Eucalyptus tereticornis Em Batatais-SP. Hugo Rodrigo Macedo1, Ricardo de Oliveira Manoel¹, Maria Suellem da Conceição Silva¹, Marcela Aparecida de Moraes1, Silvelise Pupin2, Mario Luiz Teixeira de Moraes3, Marcelo Zanata3, Miguel Luiz Menezes Freitas4, Alexandre Magno Sebbenn4. Resumo A madeira do Eucalyptus tereticornis é intensamente utilizada para serraria, estruturas, construções, postes, mourões e carvão. Em todos os estudos efetuados a espécie vem revelando boa resistência a pragas, doenças e a deficiências hídricas, podendo ser recomendado para plantio em todas as regiões. O presente estudo objetivou estimar parâmetros genéticos para os caracteres diâmetro a altura do peito (DAP, cm), altura (ALT, m), forma do fuste (FORFT, nota), forma do tronco (FORTR, nota) e bifurcação (BIF, nota), em um teste de progênies de E. tereticornis, instalado em fevereiro de 1986 na Floresta Estadual de Batatais, no município de Batatais-SP, pertencente ao Instituto Florestal de São Paulo. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com 24 tratamentos (progênies), dez repetições e três plantas por parcela, no espaçamento 3,0 X 2,0 m. Aos 24 anos de idade, foram mensurados os caracteres quantitativos e estimados os componentes de variância genética utilizando o programa estatístico-genético SELEGEN. Não foram detectadas diferenças significativas pelo teste de qui-quadrado da deviance para os caracteres avaliados. A herdabilidade individual, no sentido restrito, foi de baixa magnitude para todos os caracteres, variou de 0,05±0,01 (DAP; ALT) a 0,02±0,04 (FORTR; FORFT). O coeficiente da herdabilidade média entre as progênies foi considerado de baixa magnitude para todos os caracteres, variando de 0,03 a 0,11, indicando bem pouca parte da baixa variação fenotípica média entre as progênies é de origem genética. O coeficiente de variação genética variou de 1,70 (DAP) a 4,13 (FORFT), indicando que o caráter forma do fuste foi o que expressou maior variação genética e, portanto, com maior potencial para a seleção. A variação genética entre as progênies não foi significativa, o que pode ser devida a uma amostragem inadequada, resultando em uma base genética estreita. Dessa forma, é recomendável novas introduções de Eucalyptus tereticornis. Introdução O Eucalyptus tereticornis pertencente à família Myrtaceae e ao gênero Eucalyptus, apresenta-se como uma alternativa para o setor florestal devido a sua importância econômica, pois diminui a pressão sobre as florestas nativas, produzindo madeira de qualidade para a produção de papel, celulose e madeira serrada. Este gênero constitui-se de aproximadamente 600 espécies provenientes principalmente da Austrália e Ilhas adjacentes (SOUZA, 2003). Segundo Stape (1996), estas espécies possuem alto valor no mercado florestal e apresenta madeira de ótima qualidade. É uma essência florestal altamente integrada aos processos produtivos industriais do Brasil, notadamente nas regiões Sul e Sudeste, que formam o maior pólo consumidor e exportador de madeira oriunda de plantios florestais. O E. tereticornis tem zona de ocorrência natural que compreende os Estados de Queensland, New South Wales, Victoria atingindo até Papua - Nova Guiné e desenvolve-se melhor em solos profundos, bem drenados, neutros ou ligeiramente ácidos, podendo suportar pequenos alagamentos, adaptando-se muito bem às condições edafoclimáticas do Brasil (PRYOR, 1971). A obtenção de populações melhoradas que satisfaçam as exigências da produtividade florestal depende da capacidade de identificar genótipos desejados na população sob seleção. Uma estratégia eficaz para seleção 1 Pós-graduando em Agronomia da Faculdade de Engenharia / UNESP – Av. Brasil Centro, 56 – Caixa Postal: 31 - Ilha Solteira, SP, CEP15.385-000. E-mail: hugoengenheiro@hotmail.com; rickom.is@gmail.com; suellem_ufra@yahoo; ma_apmoraes@yahoo.com.br. 2 Graduanda em Agronomia da Faculdade de Engenharia/ UNESP - Av. Brasil Centro, 56 – Caixa Postal: 31 - Ilha Solteira, SP, CEP15.385-000. E-mail: lisepupin@hotmail.com. 3 Professor Titular, Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio Economia, Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira – FEIS/UNESP, Ilha Solteira, SP, CEP: 15385-000. E-mail: teixeira@agr.feis.unesp.br. 4 Pesquisador Cientifico do Instituto Florestal de São Paulo – Rua do Horto, 931 – Horto Florestal, São Paulo, SP, CEP: 02377-000. E-mail: miguellmfreitas@yahoo.com.br; marcel_zanata@netsite.com.br; alexandresebbenn@yahoo.com.br. 2 desses genótipos é a combinação dos testes de procedências e progênies, que permitirão a determinação do valor reprodutivo dos indivíduos selecionados (MORAES et al. 1987). O teste de progênies tem por objetivos, a avaliação do valor genético dos genitores, a estimação de parâmetros genéticos e a predição dos ganhos genéticos realizados. Portanto, o estudo da variação genética entre progênies de polinização aberta do E. tereticornis são de grande importância para os programas de melhoramento florestal da espécie. A seleção tendo como base em teste de progênies é sempre mais eficiente com relação à realizada apenas no fenótipo das plantas individuais, isto se deve ao fato de que, pela avaliação não só dos indivíduos a serem selecionados como também dos seus descendentes. O efeito básico da seleção é alterar as frequências alélicas e, consequentemente, as frequências genotípicas. Para o melhorista, interessa a mudança média que a seleção provoca na população (BUENO, 2001). Deste modo, para se obter ganhos na seleção em programas de melhoramento, devem ser utilizadas as progênies que possuam melhores características de adaptação, crescimento e forma. Os estudos da variação genética entre e dentro de populações são fundamentais para o conhecimento da estrutura das mesmas. Desse modo, a presença de variabilidade genética pode ser quantificada e confirmada através do coeficiente de variação genética, que expressa à magnitude da variação genética da espécie estudada. Segundo Vencovsky (1987) é imprescindível a necessidade de se preservar a variabilidade disponível, através de coletas de sementes e da adequada preservação dos germoplasmas. Portanto, devem-se manter estes complexos gênicos para servirem como ferramenta de estudos futuros e utilizados nos programas de melhoramento. Neste sentido, o estudo teve por objetivo estimar parâmetros estatísticos para caracteres silviculturais em um teste de progênies de E. tereticornis, empregando-se a metodologia de análise de variância (procedimento REML/ BLUP), visando transformar o teste de progênies em um pomar de sementes por mudas ou disponibilizar material para formação de um pomar de sementes clonal, oferecendo subsídios para programas de melhoramento com a espécie. Material e métodos As sementes de polinização aberta foram coletadas de árvores matrizes selecionadas em uma população proveniente da Austrália. As progênies de E. tereticornis foram instaladas na forma de teste de progênies em fevereiro de 1986, na Floresta Estadual de Batatais, no município de Batatais-SP, com as seguintes coordenadas geográficas: latitude 20º53’28” S e longitude 47º35'06" W, altitude de 862 m. Segundo Köppen (1948), o clima é classificado como tropical (ameno) com inverno seco, precipitação pluvial principalmente de novembro/março e temperatura média anual de 21º C. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com 24 tratamentos (progênies), 10 repetições e três plantas por parcela, no espaçamento 3,0 x 2,0m. No teste de progênies foram mensurados, aos vinte e quatro anos de idade, em março de 2010, os seguintes caracteres quantitativos:diâmetro a altura do peito (DAP, cm); altura (ALT, m); forma do fuste (FORFT, nota de 1 a 7); forma do tronco (FORTR, nota) e bifurcação (BIF, nota). As estimativas de parâmetros estatísticos e genéticos para os caracteres silviculturais foram obtidas pelo método REML/BLUP (máxima verossimilhança restrita/melhor predição linear não viciada), empregando-se o software genético-estatístico SELEGEN, (modelo 93) desenvolvido por Resende (2007), com base no modelo matemático: y = Xr + Za + Wp + e em que: “y” é o vetor de dados, “r” é o vetor dos efeitos de repetição (fixos) somados à média geral, “a” é o vetor dos efeitos genéticos aditivos individuais (aleatórios), “p” é o vetor dos efeitos de parcela e “e” é o vetor de erros ou resíduos (aleatórios). As letras maiúsculas representam as matrizes de incidência para os referidos efeitos. Resultados e discussão O coeficiente de variação genética foi baixo para todos os caracteres avaliados, menor para a altura (1,70%), seguido do DAP (2,70%), BIF (2,82%), FORTR (3,10%) e pela FORFT (4,13%) (Tabela 1), indicando 3 que o caráter forma do fuste (FORFT) foi o que expressou a maior variação genética entre as progênies, portanto maior potencial para a seleção. Verificou-se que a variação genética para os caracteres de crescimento expressa pelo coeficiente de variação genotípica entre progênies, variou de 0,85% (ALT) a 2,06% (FORFT), considerável de baixa magnitude para as progênies de E. tereticornis. O coeficiente de variação experimental foi de média magnitude para os caracteres avaliados, com 14,38% para a (ALT), 14,44% para a forma do tronco (FORTR), 16,23% para a bifurcação (BIF), 18,19% para a forma do fuste (FORFT) e 21,16% para o diâmetro a altura do peito (DAP). O crescimento médio da população foi de 17,59cm (DAP) e de 20,14m (ALT); e o incremento médio anual de 1,35cm e 1,55m, respectivamente. A presença de variabilidade genética não foi detectada para os caracteres avaliados, evidenciados pela significância do valor de χ2, obtido pela análise de deviance. Pelo teste do qui-quadrado não pode ser observado diferenças significativas a 5% de probabilidade, indicando que não existe variação genética significativa entre as progênies de E. tereticornis e, portanto, não seria possível obter ganhos genéticos consideráveis pela seleção de progênies para os caracteres estudados. O fato pode ser devido a amostragem inadequada, resultando em uma base genética estreita, ou seja, na qual as progênies podem ser parentes, promovendo uma queda na variabilidade genética, sendo portanto necessário uma nova reamostragem. O coeficiente de herdabilidade individual, no sentido restrito ( 2ahˆ ), foi de baixa magnitude, variando de 0,01 a 0,02. A herdabilidade média entre as progênies ( 2ˆmh ) foi de baixa magnitude para todos os caracteres, variando de 0,03 (ALT) a 0,07 (BIF), indicando que não existe controle genético nos caracteres para a seleção. A acurácia, que indica alta correlação entre o valor genético verdadeiro predito variou de 19,81% (DAP) a 33,83% (FORFT), o que é considerado de baixa magnitude. Conclusões As progênies não têm variação genética significativa para os caracteres estudados. No caso de ser utilizado em programas de melhoramento genético, o maior potencial de seleção é para o caráter forma do fuste (FORFT). Em função desta base genética restrita, para programas de melhoramento genético, novas introduções de Eucalyptus tereticornis são recomendadas. Referências Bueno LCS Melhoramento de Plantas: princípios e fundamentos. Lavras: UFLA, 2001 Köppen W (1948) Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Fondo de Cultura Econômica. México, 478p. Pryor LD Aspectos da Cultura do Eucalipto no Brasil. IPEF n.2/3. Artigo Científico. Departamento de Botânica Universidade Canberra. Austrália. p.53-59, 1971 Resende MDV Software SELEGEN-REML/BLUP: Sistema estatístico e seleção genética computadorizada via modelos lineares mistos. Colombo: Embrapa Florestas. 359p, 2007. Souza CS, Aguiar AV, Silva AM and Moraes MLT (2003) Variação genética em progênies de Gonçalo-alves (Astronium fraxinifolium) em dois sistemas de plantio. Revista do Instituto Florestal 15: 137-145. Stape JL (1996) Manejo de Eucalyptus spp. para desdobro frente aos avanços silviculturais de produção. Curitiba: Anais do IV SEMADER. Vencovsky R (1987) Tamanho efetivo populacional na coleta e preservação de germoplasmas de espécies alógamas. Piracicaba: IPEF 35: p.79-84. 4 Tabela 1. Estimativas de parâmetros genéticos para caracteres silviculturais em Eucalyptus tereticornis, aos 24 anos de idade, em Batatais, SP: mˆ é a média geral; eCV é o coeficiente de variação experimental; ˆaar acurácia; 2ˆah coeficiente de herdabilidade individual no sentido restrito; 2ˆ m h herdabilidade da média de progênies; gpCV coeficiente de variação genotípica entre progênies; giCV variação genética em nível de indivíduo; rCV coeficiente de variação relativa e χ2 qui-quadrado. Caráter mˆ eCV (%) aarˆ 2ahˆ 2ˆmh gpCV (%) giCV %) χ2 DAP (cm) 17,59 21,16 0,1981 0,005±0,01 0,039 1,3527 2,70 0,02 ns ALT (m) 20,14 14,38 0,1839 0,005±0,01 0,034 0,8515 1,70 0,01 ns FORFT (nota) 2,98 18,19 0,3383 0,017±0,03 0,114 2,0688 4,13 0,16 ns FORTR (nota) 1,67 14,44 0,2544 0,017±0,04 0,064 1,5516 3,10 0 ns BIF (nota) 4,25 16,23 0,2646 0,011±0,03 0,070 1,4089 2,82 0,02 ns DAP: diâmetro a altura do peito; ALT: altura de plantas; FORFT: forma do fuste; FORTR: forma do tronco; BIF: bifurcação; ns não significativo a 5%, com 1 grau de liberdade. LRT: Teste da Razão de Verossimilhança.
Compartilhar