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Imagem a cores obtida por TEM de uma célula secretora da hormona do crescimento na adeno-hipófise. As vesículas de secreção (castanhas) contêm hormona do crescimento. Os sistemas nervoso e endócrino são os principais sistemas de regu- lação do organismo e, em conjunto, regulam e coordenam a actividade de, essencialmente, todas as outras estru- turas orgânicas. As funções do sistema nervoso são semelhantes a mensagens te- lefónicas enviadas pelas respectivas linhas, até ao seu destino. O sistema nervoso transmite a informação sob a forma de potenciais de acção ao lon- go dos axónios das células nervosas. Sinais químicos, sob a forma de neurotransmissores, são libertados nas sinapses entre os neurónios e as célu- las que eles controlam. O sistema endócrino é mais comparável com sinais de rádio, transmitidos com uma tal amplitude que todas as pessoas, cujos rádios estejam ligados naquela estação, os podem receber. Envia a informação para as células que controla, sob a forma de substâncias químicas libertadas no apa- relho circulatório pelas glândulas endócrinas e transportadas por este para to- das as partes do organismo. As células que têm capacidade para reconhecer os sinais químicos respondem-lhes; as outras não. Este capítulo aborda as características gerais do sistema endócrino, com- para algumas das funções dos sistemas nervoso e endócrino, realça o papel do sistema endócrino na manutenção da homeostase e ilustra os meios pelos quais o sistema endócrino regula as funções das células. Este capítulo explica as ca- racterísticas gerais do sistema endócrino (584), a estrutura química das hormonas (585), o controlo do débito de secreção (585), o transporte e distri- buição no organismo (590), o metabolismo e excreção (592), a interacção das hormonas com os tecidos alvo (593) e as classes de receptores hormonais (595). A estrutura e a função das glândulas endócrinas, as substâncias químicas que segregam e os meios pelos quais são reguladas as suas actividades são descri- tos no capítulo 18. C A P Í T U L O Organização Funcional do Sistema Endócrino 17 Pa rt e 3 S is te m as d e In te gr aç ão e C on tr ol e ruipagaimo Realce Parte 3 Sistemas de Integração e Controle584 Características Gerais do Sistema Endócrino Objectivos ■ Definir glândula endócrina, sistema endócrino e hormona. ■ Descrever as relações funcionais entre o sistema nervoso e o sistema endócrino. ■ Definir e dar exemplos de sinais químicos extracelulares ou intercelulares. O termo endócrino é derivado dos étimos gregos endo, que significa dentro, e crino, que significa separar, e implica que as glân- dulas endócrinas segregam sinais químicos que vão influenciar te- cidos que se encontram distantes delas. O sistema endócrino é formado por glândulas que segregam sinais químicos para o apa- relho circulatório (figura 17.1). Ao contrário, as glândulas exócrinas contêm canais, ou ductos, que conduzem as suas secreções até à superfície (ver capítulo 4). Os produtos das glândulas endócrinas são as hormonas, um termo derivado da palavra grega hormon, que significa pôr em movimento. Tradicionalmente a hormona é definida como um sinal químico, ou ligando, que (1) é produzida em quantidades diminutas por um conjunto de células, (2) é segregada para os espaços intersticiais, 3) entra no aparelho circu- latório, através do qual é transportada à distância, e (4) actua em tecidos específicos, chamados tecidos alvo, noutra parte do orga- nismo, para influenciar a sua actividade de um modo específico. Todas as hormonas têm a maioria dos atributos desta definição, embora alguns deles não se apliquem a todas elas. Embora tanto o sistema endócrino como o sistema nervo- so regulem as actividades de determinadas estruturas do orga- nismo, fazem-no de formas diferentes. Por exemplo, as hormonas segregadas pela maioria das glândulas endócrinas podem ser descritas como sinais de amplitude modulada, que consistem essencialmente em aumentos ou diminuições da sua concentra- ção nos líquidos orgânicos (figura 17.2a). As respostas produzi- das pelas hormonas ora aumentam ora diminuem, em função da concentração hormonal. Por outro lado, os potenciais de ac- ção, transportados ao longo dos axónios seguindo a “lei do tudo- ou-nada”, podem ser descritos como sinais de frequência mo- dulada (figura 17.2b), os quais variam em frequência mas não em amplitude. Os sinais fracos são representados por um poten- cial de acção de baixa frequência, enquanto os sinais fortes são representados por potenciais de acção de alta-frequência (ver capítulo 11). As respostas do sistema endócrino são geralmente mais lentas e duradouras e os seus efeitos são habitualmente mais gerais do que as respostas do sistema nervoso. Embora as diferenças referidas entre os sistemas endócrino e nervoso sejam em geral verdadeiras, existem excepções. Por exemplo, algumas respostas endócrinas são mais rápidas do que algumas respostas neuronais, assim como algumas respostas endócrinas têm uma duração mais curta do que outras respos- tas neuronais. De facto, algumas hormonas actuam simultanea- mente como sinais de amplitude e frequência moduladas, nos quais tanto a concentração da hormona como a frequência com que essa concentração aumenta são importantes. Houve tempos em que se pensava que o sistema endócrino era relativamente independente e diferente do sistema nervoso. Actualmente é reconhecida uma relação íntima entre estes siste- mas, dado que não é possível separá-los completamente, nem ana- tómica nem funcionalmente. Alguns neurónios segregam substân- cias químicas para o interior do aparelho circulatório, as designa- das neuro-hormonas, que funcionam como hormonas. Por outro lado, alguns neurónios inervam directamente glândulas endócrinas e influenciam a sua actividade secretora. Nas sinapses, os neurónios libertam substâncias químicas sob a forma de neurotransmissores Medula espinhal Hipotálamo Hipófise Timo Supra- -renais Ovários (mulher) Glândula pineal ou epífise Glândula tiroideia Paratiroideia (parte posterior da tiroideia) Pâncreas (ilhéus) Testículos (homem) Tempo Sinal fraco Sinal forte Sinal muito forte C on ce nt ra çã o ho rm on al no s an gu e Tempo (m V ) –85 0 Sinal fraco Sinal forte Sinal muito forte Figura 17.1 Glândulas Endócrinas Localização das principais glândulas endócrinas no corpo humano. Figura 17.2 Sistemas Reguladores (a) Sistema de amplitude modulada. A concentração da hormona determina a força do sinal e a magnitude da resposta. Para a maioria das hormonas, uma pequena concentração de hormona representa um sinal fraco e desencadeia uma pequena resposta, ao passo que uma maior concentração representa um sinal mais forte de que resulta uma resposta mais intensa. (b) Sistema de frequência modulada. A força do sinal depende da frequência e não da amplitude dos potenciais de acção. Todos os potenciais de acção têm a mesma amplitude num dado tecido. Uma baixa frequência de potenciais de acção representa um estímulo fraco e uma alta frequência de potenciais de acção representa um estímulo forte. (a) (b) Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 585 e neuromoduladores; também os potenciais de membrana de al- gumas glândulas endócrinas sofrem despolarizações ou hiper- polarizações, como resposta a estímulos que aumentam ou dimi- nuem o ritmo da secreção hormonal. Inversamente, algumas hormonas segregadas por glândulas endócrinas afectam o sistema nervoso e influenciam marcadamente a sua actividade. Os sinais químicos intercelulares permitem que umas cé- lulas comuniquem com outras. Esses sinais coordenam e regu- lam as actividades da maioria das células. Os neurotransmissores e os neuromoduladores são sinaisquímicos intercelulares que têm papéis importantes na função do sistema nervoso (ver capítulo 11). As hormonas são sinais químicos intercelulares se- gregados pelas glândulas endócrinas. Os sinais químicos autócrinos são libertados por determi- nadas células e têm um efeito local, no mesmo tipo de célula de que são libertados. São exemplos as substâncias químicas semelhantes às prostaglandinas libertadas pelas células musculares lisas e pelas plaquetas em resposta à inflamação. Estas substâncias químicas provocam o relaxamento das células musculares lisas dos vasos san- guíneos e a agregação das plaquetas, originando a dilatação dos vasos sanguíneos e a coagulação do sangue. Os sinais químicos parácrinos são libertados por deter- minadas células e afectam outros tipos de células, localmente, sem serem transportados pelo sangue. Por exemplo, um péptido chamado somatostatina é libertado pelas células do pâncreas e funciona localmente para inibir a secreção de insulina por ou- tras células do pâncreas (ver capítulo 18). As feromonas são sinais químicos segregados no ambien- te que modificam o comportamento e a fisiologia de outros in- divíduos. Por exemplo, as feromonas libertadas na urina de cães e gatos, em determinadas alturas, são sinais de fertilidade detec- tados pelo olfacto. A evidência suporta a existência de feromonas produzidas pela mulher que influenciam a duração dos ciclos menstruais em outras mulheres (quadro 17.1). Muitos dos sinais químicos intercelulares ajustam-se exacta- mente a uma definição específica, outros há que não. Por exemplo, a norepinefrina funciona como neurotransmissor e como neuro- -hormona e as prostaglandinas funcionam como neurotrans- missores, neuromoduladores, para-hormonas e sinais químicos autócrinos. Assim, os esquemas utilizados para classificar as subs- tâncias químicas com base nas suas funções são úteis, mas não in- dicam que uma molécula específica realize sempre o mesmo tipo de sinal químico em cada local onde se encontre. Por esta razão, o estudo da endocrinologia muitas vezes inclui o estudo dos sinais químicos autócrinos e parácrinos, para além das hormonas. 1. Defina glândula endócrina, sistema endócrino e hormona. Explique por que razão é difícil desenvolver uma simples definição para hormona. 2. Indique a diferença entre sistema endócrino e sistema nervoso relativamente a: amplitude e/ou frequência modulada; velocidade e duração da resposta da célula alvo. 3. Explique por que razão, apesar das suas diferenças, os sistemas nervoso e endócrino não podem ser completa- mente separados. 4. Enuncie e descreva cinco sinais químicos para além dos hormonais. Estrutura Química das Hormonas Objectivo ■ Descrever as categorias das hormonas com base nas suas estruturas químicas. As hormonas, incluindo as neuro-hormonas, podem ser proteínas (curtas sequências de aminoácidos chamadas po- lipéptidos e derivados de aminoácidos) ou lípidos. Algumas hormonas proteicas, chamadas glicoproteínas, são compostas de uma ou mais cadeias de polipéptidos e de moléculas de glícidos. As hormonas lipídicas são esteróides ou derivados de ácidos gor- dos. O quadro 17.2 e a figura 17.3 compilam informação sobre a estrutura química das principais hormonas. 5. Enumere as seis categorias de hormonas com base na sua estrutura química e dê um exemplo de cada. Controlo do Débito de Secreção Objectivo ■ Explicar como é efectuada a regulação da secreção hormonal. A secreção da maior parte das hormonas não ocorre a um ritmo constante. Pelo contrário, a maior parte das glândulas endócrinas aumenta e diminui drasticamente a sua actividade secretora ao longo do tempo. No capítulo 18 são apresentados os mecanismos específicos que regulam os ritmos de secreção para cada hormona, mas os modelos gerais de regulação são introduzi- dos neste capítulo. A função das hormonas é regular o ritmo de muitas actividades do organismo. O ritmo de secreção de cada hormona é controlado por um mecanismo de feedback negativo (ver capítulo 1), de forma que a actividade do organismo seja regu- lada e mantida dentro dos limites normais, mantendo a homeostase. Existem três modelos principais de regulação hormonal. Um deles envolve a acção de outra substância sobre a glândula endócrina para além da hormona. A figura 17.4 descreve a influência da glicemia sobre a secreção de insulina pelos ilhéus pancreáticos. O aumento no nível da glicemia aumenta a secre- ção de insulina do pâncreas que, por sua vez, aumenta a entrada da glicose nas células, do que resulta a diminuição dos níveis de glicemia e, consequentemente, também a diminuição da secre- ção de insulina. Assim, os níveis de insulina aumentam e dimi- nuem em resposta às alterações dos níveis da glicemia. Um segundo modelo de regulação hormonal envolve o con- trolo neuronal da glândula endócrina. Os neurónios estão ligados por sinapses às células secretoras das hormonas e, quando são de- sencadeados potenciais de acção, aqueles libertam um neuro- transmissor. Em alguns casos, o neurotransmissor é excitatório e provoca o aumento da secreção hormonal. Noutros casos, o neurotransmissor é inibitório e fá-la diminuir. Assim, as informações sensoriais e as emoções, ao actuarem através do sistema nervoso, podem influenciar a secreção hormonal. A figura 17.5 ilustra o con- trolo neuronal da secreção de epinefrina e norepinefrina pela me- dula supra-renal. Em resposta a estímulos, como o stress ou o exer- cício, o sistema nervoso estimula a glândula supra-renal para se- gregar epinefrina e norepinefrina, as quais ajudam o organismo a Parte 3 Sistemas de Integração e Controle586 Classificação Funcional dos Sinais Químicos IntercelularesQuadro 17.1 Sinal Químico Intercelular Descrição Exemplo Autócrino Parácrino Hormona Neuro-hormona Neurotransmissor ou neuromodulador Feromona Segregado por células numa área local; influencia a actividade do mesmo tipo de células em que foi segregado Produzido por uma grande variedade de tecidos e segregado para os espaços tecidulares; normalmente tem um efeito localizado em outros tecidos Segregada para o sangue por células especializadas; percorre alguma distância até aos tecidos alvo; influencia actividades específicas Produzida pelos neurónios e funciona como as hormonas Produzido por neurónios e segregado para o espaço extracelular pelos terminais nervosos pré-sinápticos; percorre distâncias curtas; influencia células pós- sinápticas Segregada para o ambiente; modifica a fisiologia e o comportamento de outros indivíduos Prostaglandinas Histamina, prostaglandinas Tiroxina, insulina Ocitocina, hormona antidiurética Acetilcolina, epinefrina Feromonas sexuais são libertadas por humanos e muitos outros animais. São libertadas na urina de animais como cães e gatos. As feromonas produzidas pela mulher influenciam a duração do ciclo menstrual de outras mulheres. Sinal químico parácrino Sinal químico autócrino Hormona Neurónio Neuro-hormona Feromona Neurónio Neurotransmissor Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 587 Categorias Estruturais das HormonasQuadro 17.2 Categoria Estrutural Exemplos Proteínas Glicoproteínas (proteínas e glícidos) Polipéptidos Categoria Estrutural Exemplos Hormona do crescimento Prolactina Insulina Hormona folículo-estimulante Hormona luteinizante (luteínica) Hormona tiro-estimulante Hormona paratiroideia Hormona libertadora da tirotropina Ocitocina Hormona anti-diurética Calcitonina Glucagina Hormona adrenocorticotrópica Endorfinas Timosina Hormonas melanocitostimulantes Hormonas hipotalâmicas Lipotropinas Somatostatina Derivados dos aminoácidos Lípidos Esteróides (o colesterol é um precursor para todos os esteróides) Ácidos gordos Epinefrina (adrenalina) Norepinefrina(noradrenalina) Hormonas tiroideias (T4 e T3) Melatonina Estrogénios Progestinas (progesterona) Testosterona Mineralocorticóides (aldosterona) Glicocorticóides (cortisol) Prostaglandinas Tromboxanos Prostaciclinas Leucotrienos Abreviaturas: T4= tetraiodotironina ou tiroxina; T3= triiodotironina. Proteínas S S S S S S Gly-Ile-Val-Glu-Gln-Cys-Cys-Thr-Ser-Ile-Cys-Ser-Leu-Try-Gln-Leu-Glu-Asn-Tyr Cys-Asn Cadeia A Cadeia B Phe-Val-Asn-Gln-His-Leu-Cys-Gly-Ser-His-Leu-Val-Glu-Ala-Leu-Try-Leu-Val-Cys-Gly-Glu-Arg-Gly-Phe-Phe-Tyr-Thr-Pro-Lys-Thr Péptidos S S Cys-Try-Ile-Gln-Asn-Cys-Pro-Leu-Gly Ocitocina Derivados de aminoácidos I I I OHO H H C H NH2 C COOH Triiodotironina (T3) I I I OHO H H C H NH2 C COOH Tetraiodotironina ou tiroxina (T4) I Lípidos e esteróides OH Esteróides O Testosterona Prostaglandina F2α(PGF2α) OH OH OH COOHFormados a partir de ácidos gordos Insulina Figura 17.3 Estrutura Química das Hormonas (a) A insulina é um exemplo de uma hormona proteica. (b) A ocitocina é exemplo de uma hormona peptídica. (c) As hormonas tiroideias triiodotironina (T3) e tetraiodotironina (T4) são exemplos de hormonas com estrutura química de aminoácidos modificados. (d) A testosterona, um esteróide, e a prostaglandina F2α são exemplos de hormonas lipídicas. (a) (b) (c) (d) Parte 3 Sistemas de Integração e Controle588 1. O aumento da glicemia estimula o aumento da secreção de insulina pelo pâncreas. 2. A insulina aumenta a absorção de glicose pelos tecidos, o que diminui os níveis da glicemia. Tecido adiposo Tecido muscular esquelético Insulina Pâncreas Glicose do sangue 2 1 (Processo) Figura 17.4 Regulação Não Hormonal da Secreção Hormonal A glicose, que não é uma hormona, regula a secreção de insulina pelo pâncreas. Stress ou exercício Epinefrina e norepinefrina Medula supra-renal Cadeia simpática Neurónios simpáticos pré-ganglionaresD5 D6 D7 D8 D9 1. Estímulos como o stress ou o exercício estimulam a actividade simpática do sistema nervoso autónomo 2. Os neurónios simpáticos estimulam a libertação de epinefrina e de menores quantidades de norepinefrina da medula supra-renal. A epinefrina e a norepinefrina preparam o organismo para responder a situações desgastantes. Assim que os estímulos de desgaste desaparecem, menos epinefrina é libertada como resultado da diminuição do estímulo pelo sistema nervoso autónomo. 1 2 (Processo) Figura 17.5 Regulação da Secreção Hormonal pelo Sistema Nervoso A divisão simpática do sistema nervoso autónomo estimula a glândula supra-renal a segregar epinefrina e norepinefrina. Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 589 Dos três principais modelos de regulação da secreção hor- monal descritos, há um que se aplica a cada hormona, embora o quadro não seja assim tão simples. A regulação da secreção hormonal envolve, muitas vezes, mais do que um mecanismo. Por exemplo, tanto a concentração de glicose no sangue como o sistema nervoso autónomo influenciam a secreção de insulina pelo pâncreas. Existem alguns exemplos da regulação de feedback positivo no sistema endócrino. Antes da ovulação, o estrogénio do ovário estimula a secreção da hormona luteinizante (luteinizing hormone – LH) pela adeno-hipófise. Consequentemente, os níveis de estro- génio e de LH aumentam antes da ovulação (figura 17.7a). A liber- tação de ocitocina durante o parto é outro exemplo (ver capítulos 28 e 29). Contudo, nos casos de feedback positivo, os mecanismos de feedback negativo limitam o grau com que o processo de feedback positivo se desenrola (figura 17.7b). Por exemplo, após a ovulação o ovário segrega progesterona, a qual inibe a secreção de LH. Algumas hormonas podem ser encontradas no aparelho cir- culatório em níveis relativamente constantes, outras mudam subi- tamente em resposta a certos estímulos e outras ainda mudam em ciclos relativamente constantes (figura 17.8). Por exemplo, no san- gue, a concentração das hormonas tiroideias varia dentro de limi- tes estreitos; por conseguinte, mantém-se relativamente constante. Já a epinefrina é libertada em grandes quantidades em resposta ao stress ou ao exercício físico pelo que a sua concentração pode mu- dar subitamente. Nas mulheres em idade fértil, as hormonas da reprodução aumentam e diminuem de modo cíclico. 6. Descreva e dê exemplos dos três principais modelos pelos quais a secreção hormonal é regulada. Dê um exemplo de uma hormona que é controlada por mais que um mecanismo. 7. A secreção hormonal é normalmente regulada por mecanis- mos de feedback negativo ou positivo? 8. Descreva os modelos de secreção hormonal crónicos, agudos e cíclicos. Controlo Neural da Secreção da Insulina Apesar de os níveis de glicemia regularem a secreção de insulina, esta também é regulada pelo sistema nervoso. Quando os potenciais de acção aumentam nos neurónios parassimpáticos que inervam os ilhéus de Langerhans, é libertado o neurotransmissor acetilcolina. A acetilcolina provoca a despolarização das células dos ilhéus pancreáti- cos e a insulina é segregada. Quando aumentam os potenciais de acção dos neurónios simpáticos que inervam os ilhéus pancreáticos, é libertado o neurotransmissor norepinefrina. A norepinefrina causa a hiperpolarização das células dos ilhéus pancreáticos e a secreção de insulina diminui. Assim, a estimulação nervosa do pâncreas pode aumentar ou diminuir a secreção de insulina. E X E R C Í C I O Diz-se que uma pessoa tem uma função tiroideia normal quando o débito a que as hormonas tiroideias são segregadas se mantém dentro dos limites normais de concentração. No entanto, em algumas pessoas, o sistema imunitário começa a produzir grandes quantidades de uma substância anormal que funciona como a TSH. Descreva o efeito que essa substância terá sobre a secreção da TSH e da hormona tiroideia. Excitatório Inibitório TRH Hipotálamo Tecidos alvo TSH Adeno- -hipófise Glândula tiroideia T3 e T4 1. A hormona libertadora da tirotropina (TRH) é libertada pelos neurónios no hipotálamo e é transportada pelo sangue até à adeno-hipófise. 2. A TRH estimula a libertação da hormona tiro-estimulante (TSH) pela adeno-hipófise. A TSH é transportada pelo sangue até à glândula tiroideia. 3. A TSH estimula a secreção de hormonas tiroideias (T3 e T4) pela glândula tiroideia para o sangue. 4. As hormonas tiroideias actuam nos tecidos para produzirem respostas. 5. As hormonas tiroideias também têm um efeito de feedback negativo sobre o hipotálamo e sobre a adeno-hipófise para inibir a secreção de TRH e TSH. O feedback negativo ajuda a manter os níveis sanguíneos das hormonas tiroideias dentro de limites estreitos. Feedback negativo 1 2 3 4 5 responder ao estímulo. Quando o estímulo deixa de estar presente, a secreção de epinefrina e norepinefrina diminui. Um terceiro modelo de regulação hormonal envolve o con- trolo da actividade secretora de uma glândula endócrina pela hormona ou neuro-hormona segregada por outra glândula endócrina. A figura 17.6 ilustra como uma hormona do hipotálamo, a hormona libertadora da tirotropina (thyroid-releasing hormone – TRH), estimula a secreção da hormona tiro-estimulante (thyroid- stimulating hormone – TSH) pela adeno-hipófise, a qual, por sua vez, controla a secreção das hormonas tiroideias, pela glândula tiroideia. Existe um mecanismo de feedback negativo para regulação da secreção das hormonas tiroideias porque estas podem inibir a secreção de TRH e TSH. Assim, a concentração de TRH, de TSH e das hormonas tiroideias aumenta e diminui dentro de variações normais (ver capítulo 18). (Processo) Figura 17.6 Regulação Hormonal da Secreção de HormonasAs hormonas podem estimular ou inibir a secreção de outras hormonas. Parte 3 Sistemas de Integração e Controle590 Transporte e Distribuição no Organismo Objectivo ■ Descrever como as hormonas são transportadas pela corrente sanguínea e fornecidas às células. As hormonas encontram-se dissolvidas no plasma sanguí- neo e são transportadas quer em forma livre quer ligadas a pro- teínas plasmáticas. As hormonas que estão livres no plasma di- fundem-se dos capilares para os espaços intersticiais. À medida que a concentração de moléculas hormonais livres aumenta no sangue, mais moléculas de hormonas se difundem dos capilares Ovário 1 2 3 4 1 2 3 Adeno- -hipófise Antes da ovulação (LH) Estrogénio Feedback positivo GnRH 1. Durante o ciclo menstrual, antes da ovulação, pequenas quantidades de estrogénio são segregadas pelo ovário. 2. O estrogénio estimula a libertação da hormona libertadora da gonadotropina (GnRH) pelo hipotálamo e da hormona luteinizante (LH) pela adeno-hipófise. 3. A GnRH também estimula a libertação de LH pela adeno- -hipófise. 4. A LH origina a libertação de estrogénio adicional do ovário. Os níveis das GnRH e LH no sangue aumentam devido a esse efeito do feedback positivo. 1. Durante o ciclo menstrual, após a ovulação, o ovário inicia a secreção de progesterona em resposta à LH. 2. A progesterona inibe a libertação da GnRH pelo hipotálamo e de LH pela adeno-hipófise. 3. A diminuição da libertação da GnRH pelo hipotálamo reduz a secreção de LH pela adeno-hipófise. Os níveis de GnRH e de LH no sangue diminuem devido a esse efeito de feedback negativo. Ovário Adeno- -hipófise Após a ovulação LH Feedback negativoGnRH Progesterona Excitatório Inibitório (a) (b) (Processo) Figura 17.7 Feedback Negativo e Positivo para os espaços intersticiais ligando-se às células alvo. À medida que a concentração de moléculas livres diminui no sangue, me- nos moléculas de hormonas se difundem dos capilares para os espaços intersticiais para se ligarem às células alvo (figura 17.9). As hormonas que se ligam às proteínas plasmáticas fazem-no de uma forma reversível. É estabelecido um equilíbrio entre as hormonas plasmáticas livres e as que se ligam às proteínas plasmáticas, chamadas proteínas de ligação. H + PL E HPL Hormona Proteína Hormona ligada de ligação a proteína de ligação Muitas hormonas apenas se ligam a certos tipos de proteínas plasmáticas. Por exemplo, há uma proteína plasmática específica Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 591 que se liga às hormonas tiroideias e outra, diferente, que se liga a hormonas sexuais, como a testosterona. O equilíbrio entre as hormonas não ligadas e as hormonas ligadas às proteínas plasmáticas é importante porque só as hormonas livres são ca- pazes de se difundir através das paredes dos capilares e de se li- gar aos tecidos alvo. As hormonas que se ligam às proteínas plasmáticas tendem a permanecer no sangue a um nível relati- vamente constante durante longos períodos de tempo (ver a Tempo N ív ei s ho rm on ai s no s an gu e Tempo (minutos ou horas) N ív ei s ho rm on ai s no s an gu e Tempo (dias) N ív ei s ho rm on ai s no s an gu e Estímulo Estímulo (a) (b) (c) Figura 17.8 Variações na Secreção Hormonal ao Longo do Tempo Existem pelo menos três modelos de secreção hormonal. (a) Regulação hormonal crónica – manutenção de uma concentração relativamente constante de hormona na circulação sanguínea, ao longo de um período de tempo relativamente longo. (b) Regulação hormonal aguda – a hormona aumenta rapidamente no sangue por um curto período de tempo em resposta a um estímulo. (c) Regulação hormonal cíclica – a hormona é regulada de forma a aumentar e diminuir no sangue a intervalos relativamente constantes e, aproximadamente, nas mesmas quantidades. próxima secção). Uma grande diminuição da concentração de proteínas plasmáticas pode originar a perda de hormonas do sangue porque as que se encontram em estado livre são rapida- mente eliminadas da circulação através do rim ou do fígado (fi- gura 17.10). Visto que as hormonas circulam no sangue, são distribuí- das rapidamente pelo organismo. Difundem-se através do endo- télio dos capilares sanguíneos e entram nos espaços intersticiais, Capilar Elevada concentração hormonal Células alvo Sangue circulante Sangue circulante Capilar Baixa concentração hormonal Células alvo Figura 17.9 Concentrações Hormonais nas Células Alvo As moléculas hormonais difundem-se do sangue, através da paredes dos capilares, para os espaços intersticiais. Uma vez nos espaços intersticiais, difundem-se para as células alvo. (a) Quanto maior for a concentração da hormona livre no sangue, maior é a quantidade de hormona que se difunde do capilar para a célula alvo. (b) Quanto menor for a concentração de hormona livre no sangue, menos se difunde dos capilares para as células alvo. (a) (b) Parte 3 Sistemas de Integração e Controle592 muito embora a velocidade a que este movimento ocorre varie de uma hormona para outra. As hormonas lipossolúveis difun- dem-se rapidamente através das paredes dos capilares. Pelo con- trário, as hormonas hidrossolúveis, tais como as proteínas, têm que passar por poros, chamados fenestras (ver capítulo 21), exis- tentes no endotélio dos capilares. Nos órgãos regulados por hormonas proteicas, o endotélio dos capilares tem poros de gran- des dimensões. 9. Qual o efeito de uma hormona ligada a uma proteína plasmática sobre a quantidade de hormonas livres no sangue? E sobre a quantidade de tempo que a hormona permanece no sangue? 10. Por que razão é que o endotélio dos capilares dos órgãos regulados por proteínas apresenta grandes poros? Metabolismo e Excreção Objectivo ■ Definir semivida e descrever os principais factores que aumentam e diminuem a semivida das hormonas. A destruição e a eliminação das hormonas limitam o pe- ríodo de tempo em que elas são activas e as actividades do orga- nismo podem aumentar ou diminuir rapidamente quando as hormonas são segregadas e permanecem activas durante curtos períodos. O tempo necessário para a eliminação de metade da quantidade de uma substância do aparelho circulatório é cha- mado semivida. Os endocrinologistas usam a semivida de uma dada hormona como uma medida de referência para prever o débito a que as hormonas são eliminadas do organismo. O tem- po necessário para a total remoção de uma hormona do orga- nismo não é útil porque essa medida é altamente influenciada pela concentração inicial. As hormonas hidrossolúveis, tais como proteínas, glicoproteínas, epinefrina e norepinefrina têm semi- vidas relativamente curtas, pois são destruídas rapidamente por enzimas, quer no aparelho circulatório, quer em órgãos como os rins, o fígado ou os pulmões. As hormonas com semividas cur- tas têm, normalmente, concentrações sanguíneas que aumen- tam e diminuem rapidamente. Em geral, regulam actividades com início rápido e curta duração. As hormonas lipossolúveis, como os esteróides e as hor- monas tiroideias, normalmente circulam no sangue ligadas a proteínas plasmáticas. A rapidez com que as hormonas são eli- minadas da circulação reduz-se significativamente quando se li- gam às proteínas plasmáticas. A combinação reduz a velocidade a que se difundem através da parede dos vasos sanguíneos e au- menta a sua semivida. As hormonas com uma semivida longa têm níveis sanguíneos que se mantêm bastante constantes ao longo do tempo. O quadro 17.3 descreve os factores com que a semivida das hormonas é encurtada ou alongada. As hormonas são removidas do sangue por quatro formas: excreção, metabolismo, transporte activo e conjugação. Ashor- monas são excretadas pelo rim para a urina ou pelo fígado para a bílis. Algumas hormonas são metabolizadas ou alteradas qui- micamente por enzimas presentes no sangue, em tecidos como o fígado, rins, pulmões ou nas células alvo. Os produtos finais podem ser excretados para a urina ou para a bílis ou captados por células e usados nos processos metabólicos. Por exemplo, a epinefrina é modificada enzimaticamente e depois excretada pelo rim. As hormonas proteicas são fragmentadas nos aminoácidos que as compõem. Os aminoácidos podem, então, ser captados pelas células e usados para formar novas proteínas. Algumas Capilar Elevada concentração de proteínas plasmáticas Células alvo Sangue circulante Hormona Capilar Baixa concentração de proteínas plasmáticas Células alvo Sangue circulante Hormona Figura 17.10 Efeito das Alterações na Concentração de Proteínas Plasmáticas sobre a Concentração da Hormona Livre (a) Existe um equilíbrio entre as moléculas de hormona livre e as moléculas de hormona ligadas às proteínas plasmáticas. As moléculas de hormona livre podem difundir-se dos capilares para os espaços intersticiais. (b) Uma diminuição na concentração das proteínas plasmáticas reduz o número das moléculas hormonais que se ligam às proteínas plasmáticas. Isto aumenta a velocidade com que as moléculas de hormona livre se difundem dos capilares. Mais importante, as hormonas que se difundem dos capilares são eliminadas do sangue pelo rim e pelo fígado. A eliminação rápida de hormonas do aparelho circulatório reduz a concentração hormonal no organismo e menos moléculas hormonais ficam disponíveis para se ligarem aos receptores. (a) (b) Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 593 hormonas podem ser transportadas activamente para o interior das células e recicladas. Por exemplo, tanto a epinefrina como a norepinefrina podem ser transportadas activamente para o in- terior das células e segregadas de novo. Há hormonas que são conjugadas pelo fígado. A conjuga- ção tem lugar quando o fígado liga moléculas hidrossolúveis à hormona. Estas substâncias são, usualmente, iões sulfato ou áci- do glucurónico. Uma vez conjugadas, as hormonas são excretadas pelo rim e pelo fígado a um débito mais rápido. 11. Definir a semivida de uma hormona. O que acontece a essa semivida quando a hormona se liga a uma proteína plasmática? Quais os tipos de hormonas que se ligam às proteínas plasmáticas? 12. Que tipo de actividades regulam as hormonas com uma semivida curta? E as que apresentam uma semivida longa? 13. Quais são as vias que tornam a semivida das hormonas mais curta ou mais prolongada? E X E R C Í C I O Explique o efeito na semivida de uma hormona, se diminuir a concentração da proteína plasmática específica a que essa hormona se liga. Interacção das Hormonas com os Seus Tecidos Alvo Objectivos ■ Descrever o modo como os sinais químicos (ligandos) se ligam exclusivamente nos locais dos receptores específicos. ■ Contrastar e dar exemplos de regulação por défice e por excesso. Os sinais químicos, vulgarmente chamados ligandos, são moléculas que se ligam às proteínas ou às glicoproteínas e alte- ram as suas funções. As hormonas constituem uma categoria de ligandos; outras incluem substâncias como os neurotrans- missores e os mediadores químicos da inflamação. A porção de cada molécula de proteína ou glicoproteína onde um ligando se liga é chamada local de ligação. Se a molécula de proteína ou de glicoproteína for um receptor, o local de ligação é chamado lo- cal receptor. A forma e as características químicas de cada local receptor permitem que somente um tipo específico de ligando se lhe ligue (figura 17.11). Chama-se especificidade à tendência de cada tipo de ligando para se ligar a um tipo específico de local receptor e não a outros. Por isso, a insulina liga-se a receptores para a insulina e não a receptores para a hormona do crescimen- to. No entanto, determinados ligandos, como as hormonas, podem ligar-se a um número de receptores diferentes que te- nham afinidades estreitas entre si. Por exemplo, a epinefrina pode ligar-se a mais do que um tipo de receptor para a epinefrina. As hormonas são ligandos que são segregados e distribuí- dos a todo o organismo pelo aparelho circulatório, mas em que a presença ou ausência de moléculas receptoras específicas de- termina quais as células que responderão ou não a cada hormona (figura 17.12). Por exemplo, há receptores para a TSH nas célu- las da glândula tiroideia, mas tais receptores não existem na maior parte dos outros tecidos do organismo. Consequentemente, as células da glândula tiroideia produzem uma resposta quando expostas à TSH, mas o mesmo não acontece nas células sem moléculas receptoras. Factores que Influenciam a Semivida das Hormonas Quadro 17.3 A. Meios pelos quais a semivida das hormonas é reduzida: 1. Excreção As hormonas são excretadas pelo rim para a urina ou excretadas pelo fígado para a bílis. 2. Metabolismo As hormonas são degradadas enzimaticamente no sangue, fígado, rim, pulmão ou tecidos alvo. Os produtos finais do metabolismo são excretados para a urina ou para a bílis, ou são usados em outros processos metabólicos pelas células no organismo. 3. Transporte Activo Algumas hormonas são transportadas activamente para o interior das células e são usadas de novo como hormonas ou como substâncias neurotransmissoras. 4. Conjugação Substâncias como os grupos sulfato ou o ácido glucurónico ligam-se às hormonas, principalmente no fígado, tornando-as normalmente menos activas como hormonas e aumentando o débito a que são excretadas para a urina ou para a bílis. B. Meios pelos quais a semivida das hormonas é prolongada: 1. Algumas hormonas são protegidas da excreção ou metabolismo rápidos pela ligação reversível a proteínas plasmáticas. 2. Algumas hormonas são protegidas pela sua estrutura. Os compo- nentes glicídicos das hormonas glicoproteicas protegem-nas das enzimas proteolíticas no aparelho circulatório. Ligandos Local receptor Ligando ligado ao seu local receptor Receptor (proteína ou glicoproteína) Figura 17.11 Especificidade dos Receptores para os Ligandos A forma e as características químicas dos locais receptores nas moléculas receptoras são muito específicas, de modo que certos ligandos podem ligar-se ao local receptor, mas outros não. Parte 3 Sistemas de Integração e Controle594 Fármacos com estruturas semelhantes a ligandos específi- cos podem competir com eles pelos seus locais receptores (ver capítulo 3). Dependendo das características exactas de um fármaco, ele pode ligar-se a um local receptor e activar ou inibir o receptor. Por exemplo, existem fármacos que competem com o ligando epinefrina, pelo seu local receptor. Alguns desses fármacos activam os receptores de epinefrina e outros inibem- -nos. A resposta a uma dada concentração de um ligando é cons- tante em alguns casos mas variável noutros. Em algumas células, a resposta decresce rapidamente com o passar do tempo. A fadi- ga das células do tecido alvo depois de estimulação prolongada explica algum decréscimo na capacidade de resposta. Também, o número de receptores hormonais diminui rapidamente depois da exposição a determinados ligandos – um fenómeno chamado regulação por défice (down-regulation) (figura 17.13a). Exis- tem dois mecanismos que são responsáveis pelo decréscimo no número de receptores. Primeiro, a velocidade a que são sinteti- zados os receptores diminui em algumas células depois de serem expostas a um ligando. Como a maior parte das moléculas receptoras são degradadas passado um certo período de tempo, um decréscimo no ritmo de síntese reduz o número total de moléculas receptoras na célula. Em segundo lugar, a combina- ção de ligandos e receptores pode aumentar a velocidade a que as moléculasreceptoras são degradadas. Em alguns casos, quan- do um ligando se liga a um receptor, ambos são levados para o interior da célula por fagocitose. Uma vez dentro da célula, o ligando e o receptor podem ser destruídos por ela. A hormona libertadora de gonadotrofina (gonadotropin- releasing hormone – GnRH), libertada pelos neurónios do hi- potálamo, provoca a secreção de LH e da hormona folículo-esti- mulante (follicle-stimulating hormone – FSH) pelo lobo anterior da hipófise. Além disso, a exposição da adeno-hipófise à GnRH, durante várias horas, provoca o decréscimo dramáti- co do número de moléculas receptoras para a GnRH. A regu- lação por défice dos receptores para a GnRH diminui a sen- sibilidade da adeno-hipófise ao acréscimo da mesma hor- mona. Em consequência, a resposta normal da adeno-hipófise à GnRH depende da exposição periódica e não da exposição constante da glândula à hormona. Em geral, os tecidos que apresentam regulação por défice das moléculas receptoras estão adaptados para responder a au- mentos de curta duração nas concentrações hormonais e os te- cidos que respondem a hormonas que se mantêm a níveis cons- tantes não apresentam, normalmente, a regulação por défice. Além da regulação por défice, também acontece haver au- mentos periódicos da sensibilidade de algumas células a certas hormonas. A este fenómeno chama-se regulação por excesso Capilar Células alvo para a TSH Receptor de TSH Receptor Sangue circulante TSH Células não-alvo Figura 17.12 Resposta das Células Alvo às Hormonas A TSH é segregada para o sangue e distribuída por todo o organismo, onde se difunde do sangue para o líquido intersticial. Contudo, somente as células alvo têm receptores para a TSH. Portanto, apesar de a TSH ser distribuída por todo o organismo, só as suas células alvo lhe podem responder. Regulação por excesso Regulação por défice Células alvo Receptor de GnRH GnRH Diminuição do número de receptores Tempo Células alvo Aumento do número de receptores Tempo FSH Receptor de LH (a) (b) Figura 17.13 Regulação por Défice e Regulação por Excesso (a) A regulação por défice acontece quando o número de receptores para uma hormona diminui nas células alvo. Por exemplo, a hormona libertadora da gonadotropina (GnRH) libertada pelo hipotálamo liga-se a receptores para a GnRH na adeno-hipófise. A combinação da GnRH com os seus receptores causa a regulação por défice dos receptores para a GnRH de forma que, eventualmente, as células alvo se tornam menos sensíveis à GnRH. (b) A regulação por excesso ocorre quando alguns estímulos provocam o aumento do número de receptores de uma célula alvo para uma dada hormona. Por exemplo, a FSH actua nas células do ovário para regular por excesso o número de receptores para LH. Assim, o ovário torna-se mais sensível ao efeito de LH. Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 595 (up-regulation) e resulta de um aumento na velocidade de síntese da molécula receptora (figura 17.13b). Um exemplo da regulação por excesso é o aumento do número de moléculas receptoras para a LH nas células ováricas, durante cada ciclo menstrual. A FSH, segregada pela adeno-hipófise, determina o aumento da síntese de moléculas receptoras de LH nas células ováricas. As- sim, a exposição de um tecido a uma hormona pode fazer au- mentar a sua sensibilidade a uma segunda hormona, por meio da regulação por excesso sobre o número de receptores hor- monais. 14. Defina sinal químico (ligando) e local receptor. Quais são as características específicas de um local receptor que o tornam específico para um tipo de ligando? 15. O que é regulação por défice? Quais os dois mecanismos responsáveis pela regulação por défice? Dê um exemplo de regulação por défice no organismo. 16. O que é regulação por excesso? Dê um exemplo de regulação por excesso no organismo. E X E R C Í C I O O estrogénio é uma hormona segregada pelo ovário. É segregado em maiores quantidades depois da menstruação e poucos dias antes da ovulação. Um dos seus muitos efeitos é desencadear a regulação por excesso dos receptores do útero para outra hormona segregada pelo ovário, a progesterona. A progesterona é segregada depois da ovulação. Um dos seus principais efeitos é permitir ao útero ficar preparado para a nidação do embrião na sua parede, no seguimento da ovulação. A gravidez só pode ocorrer se o embrião se fixar à parede do útero. Explique qual seria a consequência de o ovário segregar muito pouco estrogénio. Classes de Receptores Hormonais Objectivo ■ Enunciar as duas principais categorias em que os ligandos estão colocados. As hormonas, como outros ligandos, podem ser distribuí- das em duas grandes categorias: 1. Ligandos que não podem passar através da membrana celular. Estes ligandos incluem as grandes moléculas e as moléculas hidrossolúveis que não podem passar através da membrana celular. Eles interagem com os receptores de membrana, os quais são receptores que atravessam a membrana celular e têm os seus locais receptores expostos na superfície externa da membrana celular (figura 17.14a). Quando um ligando se liga ao local receptor na superfície externa da membrana celular, o receptor inicia uma resposta dentro da célula. Estes ligandos incluem muitas hormonas de grandes dimen- sões e que são estruturalmente proteínas, glicoproteínas, polipéptidos e algumas moléculas mais pequenas como a epinefrina e a norepinefrina. 2. Ligandos que passam através da membrana celular. Estes ligandos são lipossolúveis e relativamente pequenos. Difundem-se através da membrana celular e ligam-se aos receptores intracelulares, os quais são receptores existentes no citoplasma ou no núcleo da célula (figura 17.14b). Subsequentemente, os receptores, com os ligandos ligados nos seus locais receptores, interagem com o ADN no núcleo da célula ou com as enzimas existentes para Ligando Local receptor Membrana celular Receptor de membrana Ligando Ligand Receptor de membrana Membrana celular Receptor intracelular Figura 17.14 Receptores de Membrana e Intracelulares (a) Um ligando combina-se com o local receptor de um receptor de membrana. O local receptor está exposto para o exterior da célula e o receptor estende-se através da membrana celular. (b) O pequeno ligando lipossolúvel difunde-se através da membrana celular e combina-se com o local receptor de um receptor intracelular. (a) (b) Parte 3 Sistemas de Integração e Controle596 Hormona Receptor de membrana Receptor intracelular Receptor ligado Receptor ligado Receptores ligados Activação aos canais iónicos às proteínas G às enzimas dos genes intracelulares Abertura ou encerramento Activação das enzimas Síntese de dos canais iónicos existentes novas proteínas ou enzimas Resposta celular produzir uma resposta. São exemplos, as hormonas tiroideias e esteróides, tais como a testosterona, o estrogénio, a progesterona, a aldosterona e o cortisol. 17. Defina receptor de membrana e receptor intracelular. Descreva os tipos de moléculas que se ligam a cada tipo de receptor. Receptores Hormonais de Membrana Objectivos ■ Descrever o modo como os ligandos afectam a permeabilidade da membrana. ■ Explicar o modo como os ligandos interagem com os receptores para influenciar as proteínas G e enumerar as vias por que as proteínas G podem produzir uma resposta a um ligando. ■ Descrever como os ligandos interagem com os receptores para produzirem moléculas mediadoras intracelulares. ■ Descrever como os ligandos se ligam com os receptores e alteram a actividade das enzimas intracelulares. Os ligandos ligam-se de forma reversível aos locais recep- tores das moléculas dos receptores de membrana. As moléculas receptoras das hormonas têm cadeias peptídicas que atravessa- rem a membrana,uma vez para alguns receptores e várias vezes para outros receptores (ver capítulo 3). Depois de uma hormona se ligar ao seu local receptor, a parte intracelular do receptor de- sencadeia fenómenos que conduzem a uma resposta. Os meca- nismos pelos quais todos os receptores de membrana produzem uma resposta intracelular não são conhecidos, mas há evidênci- as de, pelo menos, três tipos de mecanismos. Os resultados da ligação dos ligandos à membrana são: (1) alteração directa da permeabilidade da membrana celular abrindo e fechando os ca- nais iónicos, (2) alteração da actividade das proteínas G na su- perfície interior da membrana celular, (3) ou alteração da activi- dade das enzimas intracelulares (quadro 17.4). As alterações, desencadeadas pela combinação dos ligandos com os seus locais receptores, produzem respostas celulares específicas. Receptores que Alteram Directamente a Permeabilidade da Membrana Alguns receptores de membrana são moléculas proteicas que fa- zem parte dos canais iónicos da membrana celular (ver capítulo 3). Quando os ligandos se ligam aos locais receptores deste tipo de receptores, a combinação altera a estrutura tridimensional das pro- teínas dos canais iónicos, fazendo com que estes abram ou fechem. Estes canais são chamados canais iónicos com portão de ligando que originam uma mudança na permeabilidade da membrana ce- lular para que iões específicos passem através dos canais iónicos (figura 17.15). Por exemplo, as moléculas de serotonina ligam-se a locais receptores de serotonina que são parte de canais de Na+ com portão de ligando e originam a sua abertura. O Na+ difunde-se para dentro da célula, despolarizando a membrana celular. A des- polarização das células alvo pode conduzir à iniciação de poten- ciais de acção nessa célula. Similarmente, o neurotransmissor acetilcolina, libertado das células nervosas, é um ligando que se com- bina com os receptores de membrana das células de músculo esquelético. A combinação das moléculas de acetilcolina com os locais receptores dos receptores de membrana para a acetilcolina abre os canais de Na+ na membrana celular. Consequentemente, o Na+ difunde-se para dentro das células de músculo esquelético, ori- ginando a despolarização e desencadeando potenciais de acção, e a respectiva contracção (ver capítulo 9). O quadro 17.5 enumera exemplos de canais iónicos com portão de ligando. Muitos desses canais respondem a neurotransmissores e não a hormonas, mas alguns têm um papel importante na regulação da secreção hormonal ou na mediação de respostas aos sinais químicos parácrinos. Receptores que Activam as Proteínas G Muitos receptores de membrana produzem respostas por inter- médio da acção de um complexo de proteínas da membrana ce- Esquema das Respostas Celulares às Hormonas que se Ligam aos seus ReceptoresQuadro 17.4 Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 597 lular, chamadas proteínas G (quadro 17.6 e figura 17.16). As pro- teínas G são formadas por três subunidades; da maior para a mais pequena chamam-se alfa (α), beta (β) e gama (γ). As proteí- nas G são assim chamadas porque uma das suas subunidades se liga aos nucleótidos de guanina. No estado inactivo, uma molé- cula de guanina-difosfato (GDP) liga-se à subunidade α de cada proteína G. As proteínas G podem ligar-se a receptores na superfície interior da membrana celular. Depois do ligando se ligar ao re- ceptor no exterior de uma célula, o receptor altera a sua forma. Como resultado, o receptor combina-se com um complexo de proteína G na superfície interior da membrana celular e a GDP é libertada da subunidade α. A guanina-trifosfato (GTP), mais abundante que a GDP, liga-se à subunidade α, activando-a. As proteínas G separam-se do receptor e as subunidades α activadas separam-se das subunidades β e γ (ver figura 17.16 1 e 2). A subunidade α activada pode alterar a actividade das moléculas na membrana celular ou no interior da célula, produzindo as- sim respostas celulares. Ao fim de pouco tempo, a subunidade α activada é desactivada porque o GTP é convertido em GDP. Em seguida, a subunidade α recombina-se com as subunidades β e γ (ver figura 17.16 3 e 4). Algumas subunidades α activadas das proteínas G podem combinar-se com os canais iónicos, fazendo com que estes abram ou fechem (figura 17.17). Por exemplo, as subunidades α activadas podem abrir os canais de Ca2+ nas células musculares lisas, fazendo com que o Ca2+ passe para dentro das células. O Ca2+ funciona como mediador intracelular. Os iões combinam- -se com as moléculas de calmodulina e os complexos de cálcio- -calmodulina activam as enzimas que originam a contracção das células musculares lisas (figura 17.17 1 e 2). Ao fim de pouco tempo, a subunidade α activada é desactivada porque o GTP é convertido em GDP. A subunidade α recombina-se, então, com as subunidades β e γ (ver figura 17.17 3 e 4). Outras subunidades α activadas das proteínas G alteram a actividade de enzimas que se encontram no interior da célula. Por exemplo, as subunidades α activadas podem influenciar a velocidade de formação de adenosina-monofosfato cíclica (AMPc) (figura 17.18). A enzima, a adenilato-ciclase, pode ser activada pelas proteínas G, aumentando, assim, a formação de AMPc a partir do ATP. As moléculas de AMPc actuam como moléculas mediadoras intracelulares; combinando-se com as enzimas, alteram as suas actividades dentro das células, produ- zindo também respostas. O tempo em que a AMPc está presente na célula para produzir uma resposta é limitado. Uma enzima do citoplasma, chamada fosfodiesterase, fracciona a AMPc em AMP. A resposta da célula termina após os níveis de AMPc redu- zirem abaixo de um certo nível. A AMP cíclica actua como um mediador intracelular em muitas células. A resposta em cada tipo de célula é diferente. Por exemplo, a glucagina combina-se com os receptores de superfí- cie das células do fígado, activando as proteínas G e originando um aumento na síntese de AMPc que aumenta a libertação de glicose pelas células hepáticas (ver figura 17.18). Pelo contrário, a LH combina-se com os receptores de superfície das células do ovário, activando as proteínas G e aumentando a síntese de AMPc. A principal resposta ao aumento da AMPc é a ovulação. A combinação dos ligandos com os seus receptores nem sempre origina um aumento na síntese de AMPc. Existem ou- tros mediadores intracelulares comuns (quadro 17.7). Em alguns tipos de células, a combinação de ligandos com os seus recepto- res faz com que as proteínas G inibam a síntese de AMPc, pro- duzindo uma resposta. Na+ Canal de Na+ (aberto) Serotonina ligada ao local receptor de serotonina Figura 17.15 Receptores de Membrana que Controlam Directamente os Canais de Membrana Os receptores de membrana para a serotonina são parte dos canais de Na+. Quando a molécula de serotonina se liga ao seu local receptor, no receptor de serotonina, os canais de Na+ abrem e a permeabilidade da membrana ao Na+ aumenta. O Na+ difunde-se então através dos canais para dentro da célula. Sinais Químicos, Incluindo os Parácrinos, que se Ligam aos Receptores e Controlam Directamente os Canais Iónicos Quadro 17.5 Ligando Tipo de Canal Resposta Acetilcolina Canal Catiónico (principalmente canais de Na+) Excitatória Serotonina Canal Catiónico (principalmente canais de Na+) Excitatória Glutamato Canal Catiónico (principalmente canais de Na+) Excitatória Glicina Canais Cl– Inibitória GABA Canais Cl– Inibitória GABA = ácido gama-aminobutiríco Parte 3 Sistemas de Integração e Controle598 Exemplos de Hormonas que se Ligam aos Receptores de Membrana e Activam as Proteínas GQuadro 17.6 Hormona Origem Tecido Alvo Hormona luteinizante Adeno-hipófise Ovários ou testículos Hormona folículo-estimulante Adeno-hipófise Ovários ou testículos Prolactina Adeno-hipófise Ovários ou testículos Hormonatiro-estimulante Adeno-hipófise Glândula tiroideia Hormona adrenocorticotrópica Adeno-hipófise Córtex supra-renal Ocitocina Neuro-hipófise Útero Vasopressina Neuro-hipófise Rim Calcitonina Glândula tiroideia (células parafoliculares) Osteoclastos e osteocitos Hormona paratiroideia Glândula paratiroideia Osteoclastos Glucagina Pâncreas Fígado Epinefrina Medula supra-renal Músculo cardíaco Ligando Local receptor Proteína G com GDP ligada à subunidade α Receptor de membrana 1. O receptor de membrana tem um local receptor exposto no exterior da célula. A porção do receptor que está dentro da célula pode ligar-se à proteína G. β αγ Ligando ligado ao local receptor GTP GDP A GTP substitui o GDP na subunidade α; a subunidade α separa-se das outras subunidades A proteína G separa-se do receptor 2. O ligando liga-se ao local receptor do receptor de membrana. A combinação altera a proteína G. A GTP substitui a GDP na subunidade α e esta separa-se das subunidades β e γ. A subunidade α pode influenciar os canais iónicos na membrana celular ou a síntese de mediadores intracelulares. Pi GDP A fosforilase remove o fosfato (Pi) da GTP na subunidade α 3. Quando o ligando se separa do local receptor, as proteínas G não voltam a ser activadas. A inactivação da subunidade α ocorre quando a fosforilase remove um fosfato inorgânico (Pi) da GTP, deixando a GDP ligada à subunidade α. GDP As subunidades da proteína G recombinam-se 4. As subunidades da proteína G recombinam-se. O ligando separa-se do local receptor Local receptor Ligando Local receptor GDP β αγ β αγ β αγ (Processo) Figura 17.16 Receptores de Membrana que Activam as Proteínas G Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 599 As proteínas G também podem alterar a concentração de outros mediadores intracelulares, para além do Ca2+ ou da AMPc (ver quadro 17.7). Por exemplo, o diacilglicerol (DAG) e o inositol-trifosfato (IP 3 ) são moléculas mediadoras intracelulares influenciadas pelas proteínas G (figura 17.19). A epinefrina liga- -se a certos receptores de membrana em alguns tipos de músculo liso. A combinação activa o mecanismo da proteína G que, por sua vez, aumenta a actividade da fosfolipase C. A fosfolipase C converte o fosfoinositol-difosfato (PIP 2 ) em DAG e IP 3 . A DAG activa as enzimas que sintetizam as prostaglandinas; estas, por sua vez, aumentam a contracção do músculo liso. A IP 3 liberta o Ca2+ do retículo endoplasmático ou abre os canais de Ca2+ na membrana celular. Os iões entram no citoplasma e aumentam a contracção das células musculares lisas. Receptores que Alteram a Actividade das Enzimas Intracelulares Alguns ligandos ligam-se aos receptores de membrana e alteram a actividade de uma enzima intracelular. A actividade enzimática al- terada aumenta ou diminui a síntese das moléculas mediadoras intracelulares ou origina a fosforilação das proteínas intracelulares. Os mediadores intracelulares ou as proteínas fosforiladas activam o processo que produz a resposta das células aos ligandos. As enzimas intracelulares que são controladas pelos recep- tores de membrana podem ser parte destes ou serem moléculas separadas. As moléculas mediadoras intracelulares actuam como sinais químicos que se movem das enzimas que os produzem para o citoplasma da célula, onde activam processos que produ- zem a resposta da célula. LIgando ligado ao local receptor Calmodulina (inactiva) Ca2+ Canal de Ca2+ (fechado) O GTP substitui o GDP na subunidade α A proteína G separa-se do receptor GDP GTP 1. Um ligando liga-se ao local receptor do receptor de membrana. A combinação altera a proteína G. A GTP substitui a GDP na subunidade α e esta separa-se das subunidades γ e β. A subunidade α com a GTP liga-se ao canal de Ca2+ e provoca a sua abertura GTP Calmodulina (activa) Ca2+ ligado à calmodulina Canal Ca2+ (aberto) 2. A subunidade α, a que a GTP está ligada, combina-se com o canal de Ca2+, o que origina a sua abertura. Os iões difundem-se para dentro da célula e combinam-se com a calmodulina. A combinação do Ca2+ com a calmodulina produz a resposta da célula ao ligando. Ligando ligado ao local receptor Ca2+ Pi GDP A fosforilase remove o fosfato da GTP na subunidade α 3. A fosforilase remove um fosfato inorgânico da GTP ligada à subunidade α, deixa a GDP ligada à subunidade α. A subunidade α deixa de poder estimular uma resposta celular, separa-se do canal de Ca2+ e este fecha. Canal de Ca2+ (fechado) Ligando Local receptor Proteína G com GDP ligada à subunidade α GDP Ca2+ Canal de Ca2+ (fechado) 4. A subunidade α recombina-se com as subunidades β e γ. β αγ β αγ β αγ β αγ (Processo) Figura 17.17 Receptores de Membrana, Proteínas G e Canais de Ca2+ Parte 3 Sistemas de Integração e Controle600 A guanina-monofosfato cíclica (GMPc) é uma molécula mediadora intracelular sintetizada em resposta a uma ligação do ligando com um receptor de membrana (figura 17.20). O ligando liga-se ao seu receptor e esta combinação activa uma enzima, cha- mada guanilil-ciclase, localizada na superfície interior da mem- brana celular. A enzima guanilil-ciclase converte a guanina-trifosfato (GTP) em GMPc e dois grupos de fosfato inorgânico. As moléculas de GMPc combinam-se com enzimas específicas no citoplasma da célula e activam-nas. As enzimas activadas, por seu turno, produ- zem a resposta da célula ao ligando. Por exemplo, a hormona Mediadores Intracelulares ComunsQuadro 17.7 Mediador Intracelular Exemplo do Tipo de Célula Exemplo da Resposta Guanina-monofosfato cíclica (GMPc) Adenosina-monofosfato cíclica (AMPc) Iões de cálcio (Ca2+) Inositol-trifosfato (IP3) Diaciglicerol (DAG) Óxido nítrico (NO) Células do rim Células do fígado Células musculares lisas Células musculares lisas Células musculares lisas Células musculares lisas Aumenta a excreção de Na+ e água pelo rim Aumenta a degradação do glicogénio e a libertação da glicose para o aparelho circulatório Contracção das células musculares lisas Contracção de certas células musculares lisas em resposta à epinefrina Contracção de certas células musculares lisas em resposta à epinefrina Relaxamento das células musculares lisas dos vasos sanguíneos resultando em vasodilatação Glucagina ligada ao receptor de glucagina Subunidade α da proteína G ligada à GTP A adenilato-ciclase cataliza a formação de AMPc A fosfodiesterase inactiva o AMPc GDP ATP AMPc AMP (inactiva) GTP β αγ Proteino- -cinase Resposta Fosforila enzimas específicas e activa-as para degradarem o glicogénio e libertarem glicose O AMPc é um mediador intracelular que activa a proteino-cinase Figura 17.18 Receptores de Membrana que Activam as Proteínas G e Aumentam a Síntese de AMPc Os receptores de membrana para a glucagina estão associados com as proteínas G das células hepáticas. Quando a glucagina se liga aos seus receptores, a subunidade α das proteínas G dissocia-se das outras subunidades e a GTP liga-se-lhe. Posteriormente, a subunidade α liga-se à adenilato-ciclase e activa-a. O resultante aumento de AMPc activa as enzimas proteino-cinases, que fosforilam outras enzimas específicas, as quais, por sua vez, fraccionam o glicogénio e libertam glicose das células hepáticas. natriurética auricular é um ligando que se combina com o seu re- ceptor na membrana celular das células do rim, originando um aumento na síntese da GMPc na superfície interior das membra- nas celulares (ver figura 17.20). A GMPc influencia a acção de enzimas das células do rim, o que aumenta a velocidade de excreção de Na+ e água pelo rim (ver capítulo 26). O tempo que a GMPc está presente na célula para produziruma resposta é limitado, porque a fosfodiesterase degrada a GMPc para GMP. Consequentemente, o tempo em que um ligando aumenta a síntese da GMPc e tem efeito sobre a célula é breve, depois de o ligando deixar de estar presente. Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 601 Alguns ligandos ligam-se aos receptores de membrana em que a porção do receptor que se situa na superfície interna da membrana celular actua como uma enzima que adiciona gru- pos de fosfatos, num processo chamado fosforilação, a várias proteínas específicas. Algumas das proteínas fosforiladas fazem parte do receptor de membrana e outras encontram-se no citoplasma da célula (figura 17.21). As proteínas fosforiladas in- fluenciam a actividade de outras enzimas no citoplasma da célu- la. Por exemplo, a insulina liga-se ao seu receptor de membrana, originando a fosforilação de parte do receptor na superfície in- terna da membrana celular e a fosforilação de outras proteínas intracelulares. As proteínas fosforiladas produzem uma resposta das células à insulina. Ver no quadro 17.8 alguns receptores para as hormonas que fosforilam as proteínas intracelulares. Muitas vezes, as hormonas que estimulam a síntese de uma molécula mediadora intracelular produzem respostas rápidas. Isto é possível porque o mediador influencia as enzimas exis- tentes e origina um efeito de cascata, isto é, algumas moléculas mediadoras activam várias enzimas e cada uma das enzimas activadas, por sua vez, activa várias outras enzimas que produ- zem a resposta final. Assim, existe um sistema amplificador em que algumas moléculas, como a AMPc, a GMPc ou as proteínas fosforiladas, podem controlar a actividade de muitas enzimas dentro da célula (figura 17.22). 18. Descreva como a permeabilidade da membrana pode ser alterada quando uma hormona se liga a um receptor de membrana. Dê um exemplo. Epinefrina ligada ao receptor na célula muscular lisa Liberta Ca2+ do retículo endoplasmático ou abre os canais de Ca2+ na membrana celular Resposta Regula as enzimas como a fosfoquinase e aumenta a síntese de prostaglandinas Fosfolipase C Retículo endoplasmático Diacilglicerol (DAG) Fosfoinositol (PIP2) Inositol- -trifosfato (IP3) Resposta O Ca2+ regula a actividade enzimática Ca2+ Ca2+ GDP GTP GTP β αγ Figura 17.19 Receptores de Membrana que Activam as Proteínas G e Aumentam a Síntese de IP 3 e DAG Os receptores de epinefrina em algumas células musculares lisas estão associados às proteínas G. Quando a epinefrina se liga ao receptor, as proteínas G dissociam-se e a subunidade α liga-se à GTP. A subunidade α então liga-se à fosfolipase C, a qual actua sobre o fosfoinositol (PIP2) e produz inositol-trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG). O IP3 liberta Ca 2+ do retículo endoplasmático e a DAG regula enzimas, tais como as responsáveis pela síntese de prostaglandinas. Estas respostas aumentam a contracção do músculo liso. Hormona natriurética auricular ligada ao receptor GTP Fosfodiesterase (inactiva a GMPc) GMP GMPc Guanilil- -ciclase Resposta Aumenta a excreção de Na+ pelas células do rim e o vomume de urina Figura 17.20 Receptores de Membrana que Sintetizam Directamente Mediadores Intracelulares A hormona natriurética auricular liga-se ao seu local receptor. Na superfície interior da membrana celular, a guanilil-ciclase é activada para produzir GMPc a partir da GTP. A GMPc é um mediador intracelular que medeia a resposta da célula. A fosfodiesterase é uma enzima que transforma a GMPc em GMP inactiva. Insulina ligada ao receptor de insulina A fosforilase activa adiciona grupos de fosfato a locais específicos no receptor e a proteínas intracelulares específicas P P P P PP P P Figura 17.21 Receptores de Membrana que Fosforilam Proteínas Intracelulares Os receptores de insulina são receptores de membrana. Quando a insulina se liga ao receptor de insulina, este actua como uma enzima de fosforilase e fixa grupos de fosfatos obtidos a partir do ATP a locais específicos no receptor e às proteínas intracelulares. As proteínas fosforiladas produzem a resposta normal à insulina. Parte 3 Sistemas de Integração e Controle602 19. Explique o modo como a combinação de um ligando com o seu receptor pode alterar as proteínas G na superfície interna da membrana celular. Qual a subunidade activada da proteína G que altera a actividade das moléculas dentro da membrana celular ou dentro da célula? 20. Descreva o modo como as proteínas G podem alterar a permeabilidade da membrana celular e a síntese duma molécula mediadora intracelular, como a AMPc. Dê exemplos. 21. Enumere dois mediadores intracelulares afectados pelas proteínas G , para além da AMPc e do Ca2+. Hormonas que se Ligam a Receptores que Fosforilam as Proteínas IntracelularesQuadro 17.8 Hormona Origem Tecido Alvo e Efeito Insulina Hormona do crescimento Prolactina Factores de crescimento Algumas moléculas imunitárias intercelulares Ilhéus pancreáticos Adeno-hipófise Adeno-hipófise Vários tecidos Células do sistema imunitário Maioria das células; aumenta a captação de glicose e aminoácidos Maioria das células; aumenta a síntese proteica e resiste à degradação das proteínas Glândulas mamárias e ováricas; inicia a produção de leite a seguir à gravidez e ajuda a manter o corpo lúteo Estimula o crescimento em certos tipos de células Células imuno-competentes; ajudam a mediar as respostas do sistema imunitário 22. Descreva o modo como um ligando se pode combinar com um receptor de membrana, alterar a actividade enzimática dentro da célula e aumentar a fosforilação das proteínas intracelulares. Dê exemplos. 23. O que limita a actividade das moléculas mediadoras intracelulares, como a AMPc e as proteínas fosforiladas? 24. Explique o que significa o efeito de cascata para o modelo do mediador intracelular da acção hormonal. O que faz o mecanismo do mediador intracelular produzir uma resposta lenta ou rápida? Hormonas Receptor Proteínas G activadas Adenilato- -ciclase activada Intracelular Membrana celular AMPc Enzimas proteino- -cinases activadas Extracelular Figura 17.22 O Efeito de Cascata A combinação de uma hormona com um receptor de membrana activa várias proteínas G. As proteínas G, por sua vez, activam as enzimas adenilil-ciclases, as quais originam a síntese de um grande número de moléculas de AMPc. As moléculas de AMPc, por seu turno, activam muitas enzimas proteino-cinases, que produzem uma rápida e amplificada resposta. Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 603 E X E R C Í C I O Quando as células da musculatura lisa dos brônquios se contraem, como na asma, a respiração torna-se muito difícil, acontecendo o contrário quando as ditas células estão relaxadas. Durante as crises de asma, as células musculares lisas dos brônquios contraem-se. Alguns dos fármacos usados para o tratamento da asma aumentam o AMPc nas células musculares lisas. Explique todas as formas de actuação possíveis do fármaco. Receptores Hormonais Intracelulares Objectivo ■ Explicar o modo como os ligandos que atravessam a membrana celular podem produzir respostas ligando-se aos receptores intracelulares. Os receptores intracelulares situam-se no citoplasma ou no núcleo da célula. Os ligandos lipossolúveis atravessam a mem- brana celular para dentro do citoplasma ou para dentro do nú- cleo e ligam-se aos receptores intracelulares pelo processo de di- fusão (figura 17.23) Depois de um ligando se ligar com um re- ceptor intracelular, este pode alterar a actividade enzimática na célula ou pode-se ligar ao ADN para produzir uma resposta (ver quadro 17.4). Alguns receptores intracelulares que influenciam a expressão do ADN estão localizados no citoplasma. Umavez ligado ao seu receptor, o ligando e o receptor difundem-se para dentro do núcleo e ligam-se ao ADN. Outros receptores intra- celulares estão localizados no núcleo. Um ligando difunde-se para dentro do núcleo, liga-se ao seu receptor e, seguidamente, este liga-se ao ADN. Os receptores que interagem com o ADN têm projecções digitais específicas que interactuam com as partes específicas duma molécula de ADN. A combinação do ligando e do seu re- ceptor com o ADN aumenta a síntese de moléculas específicas de ácido ribonucleico mensageiro (ARNm). Depois, as molé- culas do ARNm passam para o citoplasma e aumentam a síntese de proteínas específicas nos ribossomas. As proteínas recém-sin- tetizadas produzem a resposta celular ao ligando. Por exemplo, a testosterona dos testículos e o estrogénio dos ovários estimulam a síntese das proteínas que são responsáveis pelas características sexuais secundárias dos homens e das mulheres. O efeito da aldosterona, uma hormona esteróide, nas suas células alvo, no rim, é estimular a síntese de proteínas que aumentam a veloci- dade de transporte do Na+, resultando num aumento da reab- sorção de Na+ a partir do filtrado, no rim, e numa redução da quantidade de Na+ perdido na urina. Entre as hormonas que pro- duzem respostas através de mecanismos receptores intracelulares incluem-se as hormonas da tiroideia e a vitamina D (quadro 17.9). As células que sintetizam novas moléculas proteicas em resposta ao estímulo hormonal têm, normalmente, um período de latência de várias horas entre o momento em que as hormonas se ligam aos seus receptores e aquele em que se observa a respos- ta. Durante esse período de latência, são sintetizados ARNm e novas proteínas. Normalmente, os complexos receptor–hormona 1 2 3 46 5 1. A aldosterona é uma hormona lipossolúvel que pode difundir-se facilmente através da membrana celular. 2. A aldosterona, uma vez dentro da célula, liga-se a uma molécula receptora de aldosterona no citoplasma. 3. O complexo aldosterona-receptor entra no núcleo e liga-se ao ADN. 6. As proteínas sintetizadas nos ribossomas produzem a resposta das células à aldosterona. Aldosterona Aldosterona Complexo aldosterona- -receptor Receptor de aldosterona Síntese de ARNm ADN ARNm Membrana nuclear Membrana celular As proteínas produzem uma resposta 4. A ligação do complexo aldosterona- -receptor ao ADN estimula a síntese do ARN mensageiro (ARNm) que codifica proteínas específicas. 5. O ARNm deixa o núcleo, passa para o citoplasma da célula e liga-se aos ribossomas, onde dirige a síntese de proteínas específicas. ARNm Ribossoma (Processo) Figura 17.23 Modelo do Receptor Intracelular Parte 3 Sistemas de Integração e Controle604 são degradados dentro da célula, limitando o tempo de influên- cia da hormona sobre a actividade das células, pelo que as célu- las retornam lentamente ao seu estado funcional anterior. Algumas funções celulares dependem da actividade coor- denada dos ligandos que se ligam aos receptores de membrana e dos que se ligam aos receptores intracelulares. Por exemplo, as moléculas de acetilcolina, libertadas das células nervosas, ligam- -se aos receptores de membrana das células endoteliais dos va- sos sanguíneos, o que faz abrir os canais de Ca2+. Depois, os iões entram nas células endoteliais e activam as enzimas que produ- zem óxido nítrico (NO). O NO é um gás muito tóxico, mas que existe nas células em concentrações muito baixas, onde funcio- na como um ligando. O NO difunde-se das células endoteliais para as células musculares lisas dos vasos sanguíneos, razão por que seria adequado classificá-lo como um sinal químico parácrino. O NO liga-se a um receptor intracelular que faz parte da enzima guanilato-ciclase. Em resposta, a guanilato-ciclase cataliza a síntese do GMPc, o que causa o relaxamento das célu- las musculares lisas e a dilatação dos vasos sanguíneos (figura 17.24). 25. Descreva o modo como um ligando que atravessa a membrana celular, interage com o seu receptor e como altera a velocidade da síntese proteica. Por que razão existe normalmente um período de latência entre o momento em que a hormona se liga ao seu receptor e o momento em que a resposta é observada? 26. Qual é o limite final dos processos activados pelo meca- nismo receptor intracelular? E X E R C Í C I O Dos receptores de membrana e dos receptores intracelulares, qual está melhor adaptado para mediar uma resposta que dure uma porção de tempo considerável, e qual é o melhor a mediar uma acção com início rápido e de curta duração? Explique porquê. Principais Hormonas que se Combinam com os Receptores IntracelularesQuadro 17.9 Categoria da Hormona Hormona Origem Tecido Alvo e Efeito Esteróides sexuais Esteróides mineralocorticóides Hormonas esteróides glicocorticóides Hormonas da tiroideia Vitamina D Testosterona Progesterona Estrogénio Aldosterona Cortisol Triiodotironina (T3) 1,25 – di-hidroxicolecalciferol Testículos Ovários Ovários Córtex supra-renal Córtex supra-renal Glândula tiroideia Combinação da pele, fígado e rim Responsável pelo desenvolvimento das estruturas reprodutoras e das características sexuais secundárias Provoca o aumento de tamanho das células que revestem o útero Aumenta a divisão celular do revestimento uterino Aumenta a reabsorção de Na+ e a secreção de K+ no rim Aumenta a degradação das proteínas e dos lípidos e eleva a glicemia Regula o desenvolvimento e o metabolismo Aumenta a reabsorção de Ca2+ no rim e a absorção de Ca2+ no tubo digestivo Capítulo 17 Organização Funcional do Sistema Endócrino 605 Acetilcolina ligada ao receptor Arginina Ca2+ Espaço extracelular Sintase do NOCélula endotelial da parede do vaso sanguíneo Célula muscular lisa da parede do vaso sanguíneoGuanilato- -ciclase GTP GMPc Relaxamento da célula muscular lisa NO Canal de Ca2+ (aberto) 2 3 1 4 1. A acetilcolina liga-se ao local receptor no receptor de acetilcolina. A combinação origina a abertura do canal de Ca2+, permitindo a difusão do ião para dentro da célula endotelial da parede do vaso sanguíneo. 2. O Ca2+ liga-se ao local receptor da sintase do óxido nítrico (NO), um enzima que actua sobre a arginina para produzir NO. 3. O NO difunde-se da célula endotelial para dentro do músculo liso da parede do vaso sanguíneo. 4. O NO combina-se com o local receptor da enzima guanilato- ciclase , o que converte a GTP em GMPc. A GMPc origina o relaxamento da célula muscular lisa. (Processo) Figura 17.24 Mecanismo Combinado de Receptores de Membrana e Intracelulares A combinação de um ligando com o seu receptor de membrana origina a produção de óxido nítrico (NO) numa célula (p. ex. numa célula endotelial dos vasos sanguíneos). O NO difunde-se para dentro de outra célula (p. ex. uma célula muscular lisa do vaso sanguíneo) e liga-se a um receptor intracelular, aumentando a síntese do sinal molecular intracelular (AMPc), o que produz uma resposta (p. ex., o relaxamento das células musculares lisas). Características Gerais do Sistema Endócrino (p. 584) 1. As glândulas endócrinas produzem hormonas que são libertadas para o líquido intersticial, difundem-se para o sangue e dirigem-se para os tecidos alvo, onde desencadeiam uma resposta específica. 2. As glândulas endócrinas produzem outros mensageiros químicos que incluem neuro-hormonas, neurotransmissores, neuromoduladores, para-hormonas e feromonas. 3. As diferenças genéricas entre os sistemas endócrino e nervoso incluem os seguintes pontos: (a) o sistema endócrino é modulado pela amplitude, enquanto o sistema nervoso é modulado pela frequência; e (b) a resposta do tecido alvo às hormonas é usualmente mais lenta
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