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Estudo de impacto de Vizinhança BH

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ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA BELO HORIZONTE
O Estatuto da cidade definiu como um instrumento urbanístico o Estudo de impacto de vizinhança, deixando o Município como órgão responsável por determinar normas e diretrizes para sua aplicação através da elaboração de um Plano Diretor. O instrumento foi mencionando pela primeira vez em Belo Horizonte no seu primeiro Plano Diretor em 1996, abordando aspectos urbanos e ambientais pela Lei 7.165/96.
Segundo o Capítulo XI Do Estudo de Impacto de Vizinhança, Art.74 P
Fica instituído o Estudo de Impacto de Vizinhança - EIV -, para os casos em que o empreendimento implicar repercussões preponderantemente urbanísticas. O EIV deverá considerar a interferência do empreendimento na qualidade de vida da população que vive na área e em suas proximidades. O EIV proposto por Belo horizonte analisa os aspectos já definidos pelo Estatuto da Cidade, o adensamento populacional, os equipamentos urbanos e comunitários, o uso e a ocupação do solo, a valorização imobiliária, a geração de tráfego e a demanda por transporte público a ventilação e a iluminação, a paisagem urbana e o patrimônio natural e cultural. Os empreendimentos sujeitos a esse estudo serão definidos por Lei municipal. 
O Plano diretor em 2010 fez algumas modificações na Lei vigente a fim de esclarecer a aplicabilidade do Instrumento e colocar a população na discussão, pela Lei Nº 9.959 fica definido que:
Art. 74-Q - O EIV será elaborado por responsável técnico habilitado, apresentado pelo empreendedor, devendo conter a análise de impactos nas condições funcionais, paisagísticas e urbanísticas e as medidas destinadas a minimizar as consequências indesejáveis e a potencializar os seus efeitos positivos e será submetido a análise e deliberação por parte do COMPUR.
§ 1º - É de responsabilidade do empreendedor a efetivação de medidas mitigadoras de impactos gerados pela instalação, construção, ampliação ou pelo funcionamento dos empreendimentos de impacto preponderantemente urbanísticos.
§ 2º - O processo desenvolvido para a elaboração do EIV pode determinar a execução, pelo empreendedor, de medidas compensatórias dos impactos gerados pela instalação, construção, ampliação ou pelo funcionamento dos empreendimentos de impacto preponderantemente urbanísticos. 
§ 3º - O estudo do impacto urbano-ambiental deve incorporar pesquisas sobre a paisagem urbana e sobre o patrimônio natural e cultural da área impactada. 
Art. 74-R - Para garantir a participação da sociedade e, em especial, da população afetada pelo empreendimento sujeito ao licenciamento urbanístico, poderão ser realizadas, no decorrer do processo de elaboração do EIV, audiências públicas e utilizados outros instrumentos de gestão democrática. 
§ 1º - Os documentos integrantes do EIV serão disponibilizados, pelo órgão municipal responsável por sua análise, para consulta por qualquer interessado. 
§ 2º - Regulamentação específica preverá casos em que será necessária pesquisa de percepção ambiental a ser realizada em área de abrangência definida para avaliação de impacto dos empreendimentos.
Art. 74-S - Regulamento definirá a instância de recurso contra as decisões relativas ao licenciamento dos empreendimentos sujeitos ao EIV.” (NR)
Capítulo XI – Do Estudo de Impacto de Vizinhança).
Os Empreendimentos que apresentam algum impacto são submetidos a Licenciamento Urbanístico pelo Conselho Municipal de Política Urbana (COMPUR), para facilitar e esclarecer ainda mais as diretrizes definiu-se também os empreendimentos sujeitos ao licenciamento:
I - os edifícios não residenciais com área de estacionamento maior que 10.000 m² (dez mil metros quadrados) ou com mais de 400 (quatrocentas) vagas; 
II - os destinados a uso residencial que tenham mais de 300 (trezentas) unidades; III - os destinados a uso misto com mais de 20.000 m² (vinte mil metros quadrados); 
IV - os destinados a serviço de uso coletivo com área maior que 6.000 m² (seis mil metros quadrados);
 V - casas de show, independentemente da área utilizada;
 VI - centro de convenções, independentemente da área utilizada; 
VII - casa de festas e eventos com área utilizada superior a 360 m² (trezentos e sessenta metros quadrados);
 VIII - hipermercados com área utilizada igual ou superior a 5.000 m² (cinco mil metros quadrados); 
IX - os parcelamentos vinculados, na figura de desmembramento, que originem lote com área superior a 10.000 m² (dez mil metros quadrados) ou quarteirão com dimensão superior a 200 m (duzentos metros);
 X - as intervenções em áreas urbanas consolidadas, compreendidas por modificações geométricas significativas de conjunto de vias de tráfego de veículos; 
XI - os helipontos; 
XII - outros empreendimentos sujeitos a EIV definidos por lei municipal
 (BELO HORIZONTE. Lei nº 7.166, de 27 de agosto de 1996b. Capítulo V – Dos Usos).
Com Belo Horizonte sendo uma cidade sede da Copa do Mundo em 2014, algumas obras de grande impacto para melhoria da infraestrutura foram realizadas, entre elas foram os edifícios Hoteleiros Bristol Stadium Hotel e Hotel Go Inn. Os Hotéis seriam implantados no complexo da Pampulha, uma região que na época já era alvo de pesquisas para torna-la Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco, fato realizado em 2016. Por sua localização – próximo ao Estádio Mineirão -,devido a dimensão da obra e o impacto da edificação na vida da população o EIV era necessário de acordo com a Lei Nº 9.959.
Após a realização de todo um processo de investigação e uma metodologia padrão da EIV, aspectos geológicos, arquitetônicos projetos paisagísticos, questões ambientais, socioeconômicas e culturais foram estudados, de acordo com Lívia Veloso (2012)
[...] Bristol Stadium Hotel e Hotel Go Inn tiveram seus estudos e projetos analisados pelos seguintes órgãos municipais: Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana (SMARU), Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP), Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS), Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Fundação Municipal de Cultura (FMC). (p. 145)
Os dois Hotéis no relatório EIV concluiu que os empreendimentos teriam condições de serem aprovados, com a ressalva de apresentarem medidas mitigadoras para o consumo de energia elétrica e água, produção de resíduos sólidos e geração de poluição sonora (VELOSO, 2012).
 
Para ser aprovado o EIV e o inicio da construção dos empreendimentos, é necessário a publicação do Parecer de Licenciamento Urbanístico no plenário no COMPUR. Na sua defesa de tese de mestrado VELOSO (2012) relata os problemas nos empreendimentos na dissertação: As possibilidades de um instrumento: o Estudo de Impacto de Vizinhança e sua utilização em Belo Horizonte. Mesmo sem promulgação da aprovação, as duas obras se iniciaram em 2011. A aprovação envolveu polêmicas, adiamentos e atrasos, por conta do teor histórico e cultural que a Pampulha possui. Logo após o início da construção a obra foi embargada, pois a construção dos prédios – com mais de 13 andares- foram criticados pela população por representar uma possível verticalização da região, o que descaracteriza o projeto arquitetônico realizado por Oscar Niemeyer, além do imenso impacto ambiental e urbano. Houve então uma reformulação nos projetos, os dois prédios diminuiriam o número de andares, e consequentemente a altura, ainda assim os moradores da região não concordaram com a construção dos edifícios hoteleiros.
Um conselho de moradores da Pampulha esteve presente e lutou pela paralização da construção dos edifícios durante todo o processo de aprovação do EIV. No entanto, a votação que teoricamente teve participação do conselho foi favorável para a construção dos Hotéis, segundo Suzana Meiberg, membro da Associação de Bairros São Luiz e São José, declarou ao Jornal O Tempo de 2 de março de 2012:
“[...] a votação do Compur foi simbólica. Senti que o Compur estava apenas fazendo as vontades do prefeito, sem pensar na opinião dos moradores. Somos nósque iremos sentir, na pele, os impactos dessas construções.” (SALES, 2012). 
Mesmo tentando reaver o resultado o COMPUR declarou que a população já havia feito parte da discussão. A polêmica foi ainda maior, estourou um escândalo de corrupção na câmara de vereadores da capital mineira, apesar de não ser comprovado, um Vereador declarou que o COMPUR recebeu propina das Construtoras para aprovar o empreendimento. Além disso, toda reformulação do Plano Diretor da cidade conteve Fraudes e diversos casos de corrupção.
Esse caso expõe a importância de realizar estudos relacionados aos impactos que uma obra causa em um determinado local, nesse caso dos Hotéis na Região da Pampulha o valor cultural, a manutenção da paisagem e do patrimônio foi de certa forma ignorado por motivos econômicos. Vale ressaltar que o Estatuto da Cidade, bem como o Plano diretor de Belo Horizonte democratiza a aprovação do EIV para a população. Apesar da adição de artigos no Plano Diretor de 2010 que regularizam a participação popular nas decisões públicas e ainda esclarece como o instrumento deve e onde agir, o Estudo de impactos de vizinhança é suscetível à manipulação por partes dos interesses do setor imobiliário. 
REFERÊNCIAS 
VELOSO, Lívia Fortini. As possibilidades de um instrumento: o Estudo de Impacto de Vizinhança e sua utilização em Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura, 2012 
SALES, Gabriela. PBH aprova hotéis e dá início à verticalização da Pampulha. Jornal O Tempo, Belo Horizonte, 2 mar. 2012a. Disponível em: < http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=197208,OTE&IdCanal=>. Acesso em: setembro 2018.
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Estudo de impacto de vizinhança de Belo Horizonte. Disponível em: <https://prefeitura.pbh.gov.br/politica-urbana/conselho/estudo-de-impacto-de-vizinhanca> Acesso em Setembro de 2018
PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Plano Diretor de Belo Horizonte https://prefeitura.pbh.gov.br/politica-urbana/planejamento-urbano/plano-diretor> Acesso em Setembro de 2018

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