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Material de apoio Execução para entrega de coisa

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CARREIRAS JURÍDICAS 
Processo Civil 
Maurício Cunha 
1 
PROCESSO DE EXECUÇÃO DE ENTREGA 
DE COISA 
 
EXECUÇÃO DE ENTREGA DE COISA CERTA 
 
A petição inicial deverá preencher os requisitos 
do art. 282, CPC, naquilo que for aplicável ao 
processo de execução (não teria sentido exigir 
do exequente a especificação de provas em 
um processo que não possui fase probatória), 
devendo sempre estar acompanhada do título 
executivo, no caso sempre extrajudicial. 
Segundo a previsão do art. 621, CPC, o 
executado será citado para dentro do prazo de 
10 (dez) dias satisfazer a obrigação ou, 
garantindo o juízo, apresentar embargos. A 
interpretação do dispositivo legal não pode ser 
feita literalmente, parecendo ter o legislador se 
esquecido de adequar o dispositivo legal à 
nova realidade estabelecida pela Lei nº 
11.382/2006, em especial: 
a) a previsão contida no art. 736, CPC, que 
dispensa a garantia do juízo como condição 
para a apresentação de embargos à execução, 
levando à revogação tácita do art. 622, CPC; e 
b) a previsão contida no art. 738, CPC, que 
estabelece um prazo de 15 (quinze) dias para 
os embargos à execução. 
O melhor entendimento é de que com a juntada 
aos autos do mandado de citação devidamente 
cumprido ter-se-á o início da contagem de dois 
prazos: 
a) 10 (dez) dias para o executado cumprir a 
obrigação, o que impede nesse prazo a adoção 
de qualquer medida executiva, seja direta ou 
indireta; 
b) 15 (quinze) dias para a apresentação de 
embargos à execução, independentemente do 
depósito da coisa. 
Optando pela apresentação dos embargos à 
execução, o executado poderá oferecer em 
depósito a coisa, cumprindo assim uma das 
exigências contidas no art. 739-A, CPC, para a 
concessão do efeito suspensivo aos embargos. 
Sendo a opção do executado a entrega da 
coisa no prazo de 10 (dez) dias, o direito do 
exequente estará satisfeito, o que poderia levar 
à equivocada conclusão da extinção normal do 
processo de execução, por meio da sentença 
prevista no art. 794, I, CPC, visto que, segundo 
o art. 624, CPC, após a entrega do bem 
“lavrar-se-á o respectivo termo e dar-se-á por 
finda a execução, salvo se tiver de prosseguir 
para pagamento de frutos ou ressarcimento de 
prejuízos”. 
Necessária a intimação do exequente para que 
se manifeste a respeito do bem oferecido em 
depósito, porque não há obrigatoriedade de 
aceitar bem diverso daquele que consta do 
objeto da obrigação, ainda que de maior valor. 
Sendo aceito o bem oferecido em depósito, e, 
havendo frutos ou ressarcimento de danos, a 
execução não será extinta, mas a sua natureza 
será convertida, dado que a execução seguirá 
para o pagamento em dinheiro dos frutos e/ou 
ressarcimentos, a execução prosseguirá para a 
cobrança das custas e despesas processuais, 
somente havendo a extinção quando, além de 
entrega da coisa, o executado também realizar 
imediatamente o pagamento dessas verbas de 
sucumbência. 
Na hipótese de apresentação de embargos e 
de oferecimento da coisa em depósito, apesar 
da omissão legislativa, o exequente deverá ser 
ouvido para se manifestar sobre o bem 
oferecido pelo executado, em respeito ao 
princípio do contraditório. Sabe-se que 
somente a coisa que se procura obter com a 
execução é hábil para garantir o juízo, 
significando dizer que nem sempre o 
executado oferece o bem correto, devendo o 
juiz zelar pela correspondência entre a coisa 
que constitui o objeto da execução e o objeto 
do depósito. 
Caso o juiz decida pela correção do 
oferecimento, lavrar-se-á termo de depósito, 
que, após ser assinado pelo executado, 
habilitará a concessão do efeito suspensivo 
aos embargos. Naturalmente, em situações de 
extrema urgência, poderá o juiz conceder 
imediatamente o efeito suspensivo e depois 
ouvir o exequente, com a aplicação do 
contraditório diferido. 
A terceira conduta possível ao executado é a 
manutenção de seu estado de inadimplência, 
omitindo-se por completo a ordem do juiz 
contida no mandado de citação. Sendo o prazo 
para entrega previsto no art. 621, CPC, de 10 
(dez) dias, e sendo aplicável à execução de 
entrega de coisa o art. 738, CPC, (15 dias de 
prazo para os embargos à execução), entendo 
que transcorridos 10 (dez) dias sem 
manifestação do executado, o juiz poderá fazer 
incidir medidas de execução indireta e 
determinar a realização de atos de execução 
direta. 
 
 
 
 
 
 
 
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Processo Civil 
Maurício Cunha 
2 
Apesar de o art. 621, p. único, CPC, prever 
que o juiz poderá, ao despachar a petição 
inicial, fixar multa por dia de atraso no 
cumprimento da obrigação (astreintes), essa 
multa – que na realidade não precisa ser diária 
– só passará a ser exigida após o vencimento 
do prazo legal concedido pela lei para que o 
executado cumpra a sua obrigação. Ainda que 
não tenha fixado a multa no despacho da 
petição inicial, diante da inércia do executado 
poderá determiná-la a qualquer momento do 
processo. Além da fixação da multa caberá ao 
juiz a expedição de mandado de busca e 
apreensão – bens móveis – ou de imissão de 
posse – bens imóveis. 
Essas medidas serão adotadas tanto na 
hipótese de o executado não ingressar com 
embargos à execução no prazo de 15 (quinze) 
dias como também diante da ausência de 
efeito suspensivo dos embargos. Registre-se 
que os atos materiais de execução serão 
praticados para gerar a imediata satisfação do 
direito do exequente, com a entrega da coisa, o 
que, entretanto, não extinguirá o processo na 
hipótese de existirem embargos à execução 
ainda pendentes de julgamento. Havendo 
concessão de efeito suspensivo nos embargos, 
o que pelas exigências legais só será 
admissível com o depósito da coisa, 
entendendo que a coisa não pode ser entregue 
ao exequente, devendo-se aguardar o 
julgamento dos embargos. Sendo julgados 
improcedentes, a coisa será entregue ao 
exequente; julgados procedentes, a coisa será 
desenvolvida ao executado. 
É ainda possível que o executado, mesmo 
depositando a coisa em juízo, não consiga o 
efeito suspensivo em razão do não 
preenchimento de outros requisitos exigidos no 
art. 739-A, CPC. Nesse caso, caberá a entrega 
imediata da coisa depositada ao exequente, 
devendo-se interpretar o art. 623, CPC, no 
sentido de que a coisa só não poderá ser 
levantada antes do julgamento dos embargos 
se o juiz no caso concreto tiver concedido 
efeito suspensivo aos embargos. 
Na hipótese de a coisa devida estar no 
patrimônio de terceiro e de ter sido desviada de 
forma fraudulenta, será ali buscada, sendo que 
o terceiro que a adquiriu somente será ouvido 
pelo juízo depois de depositá-la em juízo, ou 
seja, após a garantia do juízo (art. 626, CPC). 
Caso o exequente entenda que a execução 
para a entrega de coisa deixou de ser 
interessante em razão de a coisa estar no 
patrimônio de terceiro, poderá converter a 
execução de entrega em execução de pagar 
quantia certa. 
Há entendimento doutrinário que limita essa 
exigência ao processo de execução, de forma 
a ser admissível a apresentação de defesa por 
meio de outra ação sem a necessidade de 
garantia do juízo. Existe dissenso doutrinário a 
respeito da forma processual adequada para o 
terceiro se defender por meio de uma ação 
incidental ao processo de execução. Parcela 
da doutrina entende que essa defesa seja 
realizada por meio de embargos de terceiro, 
enquanto outra parcela minoritária entende que 
a defesa será apresentada por meio de 
embargos à execução por considerar o terceiro 
adquirente como sucessor do executado. 
Nesse caso, é acertado o entendimento de que 
os embargos à execução não dependem de 
garantia do juízo, compatibilizando-se o art. 
627, CPC, com o art. 736, caput, CPC. 
É possível que o bem não seja localizado, 
tendo se deterioradoou desaparecido, situação 
que ensejará a conversão da execução para a 
entrega de coisa em execução por quantia 
certa para cobrança do valor da coisa, além do 
montante devido como reparação de perdas e 
danos e eventualmente o valor da multa 
aplicada (astreinte). A definição de tal valor 
dar-se-á por meio de uma liquidação incidente, 
dispensada quando o exequente pretender 
obter somente o valor da coisa e tal valor já 
estiver indicado no título executivo. 
Havendo benfeitorias na coisa, deve ser 
instaurado um processo de liquidação de 
sentença antes do processo de execução. O 
art. 628, CPC, dispõe que, no caso de 
benfeitorias indenizáveis feitas pelo devedor ou 
terceiros, sua liquidação prévia é obrigatória. 
Existindo saldo em favor do executado, o 
exequente depositará o valor ao requerer a 
entrega da coisa; havendo saldo em favor do 
exequente, este poderá cobrá-lo nos autos do 
mesmo processo. Não havendo tal liquidação 
prévia, é possível ao executado suspender a 
execução por meio da interposição de 
embargos à execução (art. 745, IV, CPC). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3 
EXECUÇÃO DE ENTREGA DE COISA 
INCERTA 
 
O processo de execução de entrega de coisa 
incerta seguirá basicamente as mesmas regras 
procedimentais analisadas anteriormente, 
sendo que a única diferença diz respeito ao 
procedimento de individualização da coisa, que 
deverá ocorrer no início do processo executivo. 
Após a escolha, a coisa passa a ser certa e o 
procedimento seguirá as regras já estudadas. 
Segundo o art. 629, CPC, tal execução tomará 
lugar sempre que recair sobre determinadas 
pelo gênero e quantidade. 
Coisa incerta não se confunde com a coisa 
fungível (coisa móvel que pode ser substituída 
por outra da mesma espécie, qualidade e 
quantidade – art. 85, CC), devendo a execução 
seguir o rito anteriormente analisado da 
execução para a entrega de coisa certa. Sendo 
a qualidade a mesma para todas as coisas, a 
individualização é irrelevante, já que a 
satisfação se dará da mesma forma qualquer 
que seja o bem entregue. A condenação 
consistente em entregar dez bolas de futebol 
de determinada marca e modelo não exige o 
procedimento estabelecido pelos arts. 629 e 
630, CPC, e quaisquer dez bolas destacadas 
de um lote acarretarão a satisfação plena do 
credor. 
Coisa incerta, assim, deve ser considerada 
coisa indeterminada - mas determinável -, em 
que a escolha tem a sua importância em razão 
da diferente qualidade entre os bens que 
poderão ser escolhidos. Exemplificativamente é 
possível lembrar de uma obrigação de entregar 
um filhote de cachorro proveniente da cria de 
uma cadela específica, quando jamais todos os 
filhotes serão iguais. Certamente haverá o mais 
dinâmico, o mais magro, o mais belo, o mais 
alegre, o mais bravo, o mais dengoso, e assim 
por diante. Aqui, certamente, a escolha é 
fundamental, e aí sim estaremos diante de 
execução de coisa incerta. 
Em princípio, o direito de escolha deve estar 
previsto no próprio título executivo, e, sendo 
omisso, a escolha caberá ao devedor. Quando 
a escolha couber ao exequente, este deverá 
indicar o bem já na petição inicial, tornando 
certa a coisa desde o início da demanda, sob 
pena de preclusão. Sendo omissa a petição 
inicial, a escolha automaticamente é repassada 
ao executado, presumindo-se que o exequente 
renunciou ao seu direito de escolha. Esse 
direito de escolha, entretanto, retornará ao 
exequente se o executado, instado a se 
manifestar sobre a escolha da coisa, deixar de 
fazê-lo. 
Caso seja o direito de escolha do executado, 
este será citado para entregar ou depositar o 
bem incerto em 10 (dez) dias. É claro que, se 
entregar ou depositar o bem, estará 
individualizando a coisa, mas também é 
possível imaginar a simples indicação do 
executado a respeito do bem, sem entregá-lo 
ou depositá-lo. Nesse caso, a execução 
seguirá o rito da execução para a entrega de 
coisa certa, em razão da opção feita pelo 
executado. No silêncio do executado o direito 
de escolha passará a ser do exequente. 
A escolha da coisa incerta segue norma de 
direito material, mais precisamente o art. 244, 
CC, que determina que, nas coisas 
determinadas pelo gênero e pela quantidade, o 
devedor não pode dar a pior nem está obrigado 
a dar a melhor coisa. Tratando-se de bens de 
diferente qualidade, poderão surgir conflitos 
quanto à escolha feita pela parte contrária, 
situação resolvida pelo art. 630, CPC, que 
determina que “qualquer das partes poderá, em 
48 (quarenta e oito) horas, impugnar a escolha 
feita pela outra, e o juiz decidirá de plano, ou, 
se necessário, ouvindo perito de sua 
nomeação”. 
Tendo sido feita a escolha pelo exequente em 
sua petição inicial, o executado terá 48 
(quarenta e oito) horas contadas da juntada do 
mandado de citação devidamente cumprido 
aos autos, suspendendo-se o prazo de 10 
(dez) dias para entregar ou depositar o bem até 
a solução do incidente. Se a escolha couber ao 
executado, assim que indicado o bem, 
entregue ou depositado em juízo, o exequente 
terá 48 (quarenta e oito) horas para impugnar a 
escolha. Impugnada tempestivamente a 
escolha, o juiz deverá decidir de plano, 
podendo em casos mais complexos valer-se do 
auxílio de perito de sua nomeação (art. 630, 
CPC).

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