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A Doenca Vibroacustica

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A Doença Vibroacústica 
 
 
Nuno A. A. Castelo Branco
1
, Mariana Alves-Pereira
2
 
Publicado em Inglês na revista científica Noise & Health, 2004, 6 (23): 3-20 
Publicado em Português na Revista Segurança, 2006, 161 (Mar/Abr) Suplemento Especial 
 
1
Center da Performance Humana, Alverca, Portugal 
2 
ERISA-Universidade Lusófona, Lisboa, Portugal 
(vibroacoustic.disease@gmail.com) 
 
 
Sumário 
A Doença Vibroacústica (DVA) é uma patologia sistémica, envolvendo todo o organismo, 
caracterizada pela proliferação anormal das matrizes extra-celulares e causada pela exposição 
excessiva ao ruído de baixa frequência (RBF). A DVA foi já observada em profissionais 
expostos a RBF, tais como técnicos de aeronáutica, pilotos de aeronaves militares e 
comerciais, técnicos de máquinas de navios, profissionais da restauração e disco jockeys. A 
DVA também já foi identificada em populações expostas a RBF ambiental. Este trabalho de 
revisão dá a conhecer os resultados científicos até hoje recolhidos sobre a DVA e a patologia 
induzida pelo RBF. 
 
Em 1987, efectuou-se a primeira autópsia de um doente falecido com DVA. O alcance das 
lesões induzidas pela exposição ao RBF era espantoso e a informação colhida condiciona, 
ainda hoje, muitos dos projectos de investigação em curso. Em 1992, iniciaram-se os estudos 
em modelos animais expostos a RBF numa tentativa de obter conhecimentos mais profundos 
sobre este vector acústico de doença. 
 
A exposição excessiva ao RBF induz espessamentos das estruturas cardíacas. 
Especificamente, o espessamento do pericárdio na ausência de um processo inflamatório e 
sem adiastolia é o “cartão de visita” da DVA. Depressão, aumento de irritabilidade e 
agressividade, tendência para o auto-isolamento e perturbação dos processos cognitivos fazem 
parte do quadro clínico da DVA. O RBF é um agente genotóxico, demonstrando-se que induz 
aumento da frequência de trocas de cromatídeos irmãos, em populações humanas e animais. 
O acréscimo do desenvolvimento de tumores entre as populações humanas, e de metaplasia e 
displasia em populações animais, evidenciam e corroboram o efeito claramente mutagénico 
da exposição ao RBF. 
 
A legislação referente ao ruído, presentemente adoptada, é inadequada e é um poderoso travão 
ao avanço científico. A DVA nunca poderá ser reconhecida como uma patologia ambiental e 
ocupacional sem que o agente causador – o RBF – seja também reconhecido e adequadamente 
avaliado. A nível mundial, o sofrimento de indivíduos expostos ao RBF é assombroso, 
tornando-se já éticamente injustificável manter este status quo. 
 
 
 
Palavras Chave: espessamento de estruturas cardíacas, ecocardiografia, controlo 
neurológico da respiração, tumores, matriz extra-celular, ruído de baixa frequência 
 2 
Introdução 
Durante os últimos dois milénios, certos eventos acústicos têm sido associados com a perda 
de audição. Nos ultimos 200 anos, a civilização humana tem sido uma fonte, sempre 
crescente, de energia acústica, apenas comparável ao aumento exponencial de luz que é 
produzida no nosso planeta. No entanto, ao contrário da radiação electromagnética, onde se 
sabe que frequências diferentes produzem patologias distintas, para a energia acústica esta 
informação não existe. Apesar da fortíssima evidência científica demonstrando que 
fenómenos acústicos afectam mais do que apenas o ouvido, o “ruído” continua a ser avaliado 
partindo do princípio que só o que é audível é que será nocivo (Alves-Pereira & Castelo 
Branco, 1999). A asserção de um agente de doença ter de ser percepcionado pelo indivíduo 
para se poder considerar nocivo é hilariante. Os raios-x, por exemplo, não são percepcionados 
pelo ser humano mas são, mesmo assim, um reconhecido risco para a saúde. 
 
Em 1928, Laird publicou um dos primeiros estudos sobre os efeitos fisiológicos do ruído 
sobre dactilógrafas (Laird, 1928) e, desde então, um número enorme de estudos médicos e 
biomédicos têm surgido na literatura científica (Alves-Pereira, 1999). Em 1946, E. Dart, 
médico do trabalho da fábrica de motores de aeronaves da Ford, em Detroit, MI, EUA, 
descreveu um conjunto de sintomas observado em técnicos de aeronaútica (Dart, 1946). 
Rumancev, em 1961, descreveu o mesmo quadro de sintomas num grupo de trabalhadores de 
uma fábrica de betão armado, na União Soviética (Rumancev, 1961). Cohen, nos Estados 
Unidos, em 1971, referiu queixas clínicas de trabalhadores de fábricas de caldeiras antes e 
depois da implementação de um programa de protecção auricular e listou os mesmos sintomas 
que Dart e Rumancev (Cohen, 1971). Grechkovskaia et al. falam de uma patologia de 
“vibroruído” (vibronoise pathology) em trabalhadores da indústria aeronáutica em Kiev, 
Ucrânia (Grechkovskaia et al. 1997). Balunov et al. estudaram trabalhadores da indústria de 
produção de ferro-betão em São. Petersburgo, na Rússia, submetidos simultaneamente a 
vibração, infrasons e ruído, concluíndo que este grupo apresentava uma morbilidade acrescida 
(Balunov et al., 1998). Em 86 mulheres da indústria têxtil, Magomedov et al. identificaram 
distúrbios nos sistemas nervosos autónomo e central que precedia a hipoacúsia, tais como, 
sindromas astenovegetativos e neuróticos (Magomedov et al, 1997). Também em 1997, 
Izmerov et al. sugeriram a existência de uma resposta de todo o organismo à exposição a 
infrasons (Izmerov et al., 1997). 
 
Em 1979, a saúde dos trabalhadores da Força Aérea Portuguesa nas Oficinas Gerais de 
Material Aeronaútico (OGMA) foi confiada ao cuidado do autor CB. Ao visitar os locais de 
trabalho, e ao assistir a um ponto-fixo de uma aeronave, observou um trabalhador com 
movimentos não propositados, no que lhe pareceu ser um automatismo, de natureza epiléptica 
(Castelo Branco & Rodriguez, 1999). Esta observação desencadeou a investigação das fichas 
médicas de todos os técnicos de aeronaútica para determinar quantos é que poderiam já ter 
sido diagnosticados com epilepsia tardia. O espantoso número de 10%, em oposição aos 0.2% 
esperados entre a população geral portuguesa, foi a base para a avaliação neurológica 
aprofundada que se seguiu (Castelo Branco & Rodriguez, 1999). 
 
Até 1987, todos os técnicos de aeronáutica das OGMA efectuaram uma série de exames 
médicos incluindo potenciais evocados auditivos do tronco cerebral, resonância magnética 
cerebral, exames cognitivos e neurológicos. Todos os indivíduos eram voluntários 
informados. Foram identificadas muitas alterações neurológicas neste grupo de técnicos de 
aeronaútica (Martinho Pimenta & Castelo Branco, 1999a), que incluíram lesões cerebrais e o 
 3 
aumento na latência da condução nervosa (Pimenta et al., 1999), decréscimo na cognição 
(Gomes et al., 1999) e o aparecimento de reflexos arcaícos (Martinho Pimenta et al., 1999a). 
 
A Primeira Autópsia 
Em 1983, o primeiro doente deste grupo morreu subitamente e não foi possível efectuar-se a 
autópsia. Isto irritou o Sr. Felipe Pedro, outro técnico de aeronaútica que tinha desenvolvido 
um interesse académico pelo seu estado de saúde. Este acontecimento levou-o a fazer um 
testamento notarial, exigindo que no momento da sua morte fosse autopsiado por CB. O Sr. 
Felipe Pedro trabalhou como técnico de máquinas em navios da Marinha Portuguesa durante 
10 anos antes de começar a trabalhar nas OGMA, em 1959, como técnico de aeronaútica. 
Uma descrição detalhada deste caso foi já publicada (Castelo Branco, 1999a). 
 
Uma manhã, em Septembro de 1987, CB recebeu um telefonema do Sr. Felipe Pedro que o 
informou de que ia morrer, que tinha já chamado a ambulância e lhe pedia para que fosse ter 
com ele ao hospital para efectuar a autópsia. Quando CB chegou ao hospital, o Sr. Felipe 
Pedro já tinha falecido. E a autopsia foi efectuada. Os achados que tão gentilmente nos foram 
proporcionados pelo Sr. Felipe Pedro são, ainda hoje, a linha condutorade muitos dos 
trabalhos que subsequentemente foram desenvolvidos. 
 
Diagnosticado com epilepsia tardia em 1981, este homem morreu aos 58 anos de idade com 
tamponamento cardíaco causado por um pequeno enfarte. O seu coração apresentava 11 
pequenas cicatrizes de eventos isquémicos silenciosos, já ocorridos. As válvulas cardíacas 
pareciam edemaciadas e o pericárdio estava francamente espessado. A parede das artérias 
coronárias estava também espessada, mas não com as usuais e esperadas placas 
arteroscleróticas. Existia, em seu lugar, um reforço continuo da camada íntima do vaso. Mais 
tarde, estudos de microscopia revelaram que a maior parte deste espessamento era devido à 
proliferação anormal de colagénio. Foram identificados, também, dois tumores, um do tipo 
Grawitz, no rim e um astrocitoma microcístico de grau I na região parietal direita do cérebro. 
 
Ecocardiografia 
O espessamento de estruturas cardíacas, achado na autópsia levaram ao estudo 
ecocardiográfico dos técnicos de aeronaútica. Todos apresentavam pericárdio espessado e 
muitos também entumescimento das válvulas cardíacas (Marciniak et al., 1999). Uma revisão 
da literatura revelou que o Prof. Matoba, no Japão, já tinha identificado espessamentos do 
pericárdio em trabalhadores de motoserras (Matoba, 1983). Hoje, o espessamento do 
pericárdio, na ausência de processo inflamatório e sem adiastolia é o “padrão marcador” da 
DVA (Holt, 2000). O espessamento pericárdico em indivíduos expostos a RBF foi já 
anatomicamente confirmado através de microscopia óptica e electrónica de fragmentos de 
pericárdio de doentes com DVA (recolhidos com o consentimento informado dos doentes 
durante cirurgia cardíaca prescrita por outros motivos) (Castelo Branco et al., 1999a, 2001, 
2003a,b). 
 
Os equipamentos de ecocardiografia têm diferentes fabricantes e modelos. Salientar o 
espessamento pericárdico não é ainda um procedimento padronizado e, assim, a 
subjectividade do técnico está inerente a este método de diagnóstico. Mesmo assim, a 
ecocardiografia é ainda o exame médico mais utilizado para efectuar o diagnóstico da DVA. 
O espessamento das estruturas cardíovasculares foi observado em técnicos de aeronaútica 
(Marciniak et al., 1999), pilotos comerciais e tripulações de cabine (Araujo et al., 2001), 
 4 
numa população residente numa ilha e ambientalmente exposta a RBF (Torres et al., 2001) e 
em modelos animais expostos a RBF (Castelo Branco et al., 2003c). 
 
Os Estadios Clínicos da Doença Vibroacústica 
A evolução da DVA, por quantidade de anos de exposição ocupacional, foi definida em 1999 
(ver Tabela 1) (Castelo Branco,1999b). O estabelecimento da evolução da DVA não foi tarefa 
fácil, dada a natureza insidiosa desta patologia. Num grupo inicial de 306 técnicos de 
aeronaútica, todos funcionários das OGMA há mais de 10 anos, foi aplicado um critério de 
selecção rigoroso, tal como indica a Tabela 2. Restou um grupo de 140 técnicos (idade média 
de 42 anos, DP=10,4) após a aplicação dos critérios de selecção, i.e., foram excluídos 166 
indivíduos. 
 
Quadro 1. Dados de um grupo de 140 técnicos de aeronaútica (seleccionados de um grupo 
inicial de 306 trabalhadores), ocupacionalmente expostos a RBF (8 hrs/dia, 5 dias/semana). 
O tempo de exposição (anos) refere-se ao tempo necessário para que 70 indivíduos (50%) 
desenvolvessem o sinal ou sintoma correspondente. (Castelo Branco, 1999b). 
 
Estádio Clínico Sinal/Sintoma 
Estádio I-Ligeiro 
(1-4 anos) 
 
Ligeiras alterações do humor, indigestão e pirose, infecções da orofaringe, 
bronquite 
 
Estádio II-
Moderado 
(4-10 anos) 
Dor no peito, alterações do humor bem definidas, dores lombares, fadiga, 
infecções da pele por fungos, virus e parasitas, inflamação da superfície 
gástrica, dor a urinar e sangue na urina, conjuntivite e alergias 
 
Estádio III– Severo 
(> 10 anos) 
Distúrbios psiquiátricos, hemorragias da conjuntiva e dos epitélios nasal e 
digestivo, varizes e hemorróidas, úlceras duodenais, colon espástico, 
decréscimo na acuidade visual, cefaleias, dores articulares e musculares 
intensas, alterações neurológicas 
 
 
Quadro 2. Critérios de exclusão para a população em estudo. 
 
Condições Comentários 
Infecções a estreptococos Devido à tendência para induzir alterações nas 
matrizes extracelulares 
Diabetes mellitus Mesmos motivos 
Doença cardiovascular pré-existente 
Mas não os hipertensos lábeis por se suspeitar que 
esta é uma medida de susceptibilidade individual e 
porque as lesões são distintas das causadas por 
hipertensão estabelecida.. 
Abuso de tabaco Fumadores de mais de 20 cigarros/dia. 
Abuso de álcool Mais de um litro de vinho por dia (10-12% 
conteúdo alcoólico). 
Utilização de Drogas Psicotrópicas ou recreativas. 
 5 
As OGMA, fundadas em 1918, possuíam um centro medico onde todos os funcionários eram 
examinados no início da activiade profissional e era aberta uma ficha clínica. 
Subsequentemente, todos os exames anuais e queixas médicas eram anotadas na ficha clínica 
do funcionário. O centro médico das OGMA oferecia gratuitamente aos trabalhadores grande 
variedade de especialidades médicas, entre as quais, medicina interna, cardiologia, 
endocrinologia, psiquiatria, neurologia, psicologia clínica e social, estomatologia, ortopedia, 
cirurgia geral, oftalmogia e otorrinolaringologia. Um funcionário que necessitasse de um 
especialista não disponível no centro médico, e que quisesse fazer uso do sistema nacional de 
saúde, teria de ser referido por um dos médicos do centro. Toda esta informação era sempre 
anotada na ficha clínica do funcionário. 
 
As fichas clínicas dos 140 trabalhadores seleccionados para o estudo foram profundamente 
analisadas e cronologicamente revistas. Simultaneamente, um sociólogo e uma assistente 
social entrevistaram a família e amigos para obter informação adicional sobre o 
comportamento dos indivíduos fora do local de trabalho. A metodologia para obter a 
correspondência entre o sinal/sintoma e os anos de exposição ocupacional foi o limiar dos 
50%. Isto é, o sinal/sintoma era incluído na lista se fosse identificado em 70 indivíduos (50%) 
da população de estudo. Assim, em referência ao Quadro 1, após 1-4 anos de exposição 
ocupacional, pelo menos 70 destes 140 indivíduos desenvolveram bronquite, em fumadores e 
não fumadores por igual (número de fumadores na população de estudo: N=45). Ou, após 10 
anos de actividade ocupacional, pelo menos 70 queixavam-se de dores de cabeça e 
hemorragias nasais sem causa aparente. Salienta-se que os doentes da DVA sofrem mais de 
um destes sinais e sintomas, simultaneamente (Castelo Branco, 1999b). 
 
O Quadro 1 refere-se aos sinais e sintomas desenvolvidos especificamente por técnicos de 
aeronaútica, expostos a RBF durante um horário laboral normal: 8 hrs/dia, 5 dias/semana. 
Nem todos os trabalhadores expostos a RBF têm este horário de exposição. Por exemplo, os 
técnicos de máquinas de navios podem permanecer 3 semanas a bordo (expostos a 
quantidades substanciais de RBF) e 2 semanas em casa (teoricamente, já não em ambiente 
rico em RBF) (Arnot, 2003). Existem outras actividades profissionais em que o horário de 
exposição não é o habitual, de 8 hrs/dia, como por exemplo, em submarinos, nas plataformas 
de petróleo e no Espaço. Nestes casos, a evolução dos sinais e sintomas pode ser 
significativamente acelerada. Acresce o facto que ambientes de RBF têm distribuições 
espectrais distintas e que, portanto, algumas bandas de frequência podem predominar mais 
(concentrar mais energia acústica) do que outras. Isto pode conduzir a um desenvolvimento 
ligeiramente diferente. Quando a exposição ao RBF é ambiental ou de lazer, o modelo padrão 
das 8 horas/dia não é aplicável. 
 
 
Patologia Associada 
Outras patologias importantes foram identificadas entre estes 140 técnicos de aeronaútica, 
mas, pornão atingirem 50% da população, não foram incluídas no Quadro 1. No entanto, a 
sua incidência é clinicamente importante. 
 
Em 24 destes 140 profissionais, foi identificada dispneia, e 11 deles eram fumadores. Em 10 
destes 24 casos, bastava um ligeiro esforço físico para induzir sintomas. De realçar que 
apenas 45 dos 140 indivíduos eram fumadores, 38 dos quais tinham mais de 20 anos de 
exposição ocupacional ao RBF. 
 6 
 
Foi diagnosticada epilepsia tardia em 22 técnicos, alguns dos quais beneficiaram de redução 
no número de episódios quando foram afastados do seu local normal de trabalho, rico em 
RBF. Foram observados eventos de epilepsia reflexa induzida por estímulo vbratório 
(Martinho Pimenta & Castelo Branco, 1999b) e estímulo visual em 2 indivíduos. O estímulo 
auditivo não desencadeou episódios epilépticos, mas em alguns casos, desencadeou eventos 
de fúria súbita e alterações do movimento (Martinho Pimenta & Castelo Branco, 1999c). 
 
As perdas de equilíbrio eram muito frequentes, tendo sido identificadas em 80 indivíduos, 
mas a sua gravidade variava entre tonturas e vertigem grave (Martinho Pimenta et al., 1999b). 
Ocorreram episódios únicos e súbitos de deficit neurológico não-convulsivo em 11 técnicos. 
Foram diagnosticados como acidente vascular cerebral isquémico, o que depois se 
demonstrou compatível com os estudos imagiológicos. O electroencefalograma e potenciais 
evocados multimodais apresentaram altrerações consideráveis, que estavam de acordo com os 
dados obtidos em psicologia clínica e neurologia. Os atrasos nos potenciais evocados 
multimodais (incluíndo os endógenos), observados nos 140 trabalhadores são sinal de 
deterioração neurológica progressiva e de processos de envelhecimento precoces, tais como o 
aparecimento do reflexo palmo-mentoniano, presente em 40% destes 140 técnicos. 
 
Nestes 140 indivíduos eram frequentes as alterações endócrinas, sendo a disfunção da tiróide 
a mais comum (18 casos). Na população adulta portuguesa, 0.97% sofre de disfunção 
tiroideia; no grupo de 140 técnicos de aeronaútica 12.8% foram identificados com esta 
patologia. Do mesmo modo, foi diagnosticada diabetes em 16 indivíduos (idade média 39 
anos, DP=7.8) (11.4%), enquanto que na população portuguesa em geral, num grupo etário 
equiparado, o valor é de 4.6% (Castelo Branco, 1999b). 
 
Entre os 140 professionais, 28 sofreram tumores malígnos. Cinco destes 28 trabalhadores 
apresentaram tumores simultâneos de tipos distintos. Todos os tumores do sistema nervoso 
central (N=5) eram gliomas malignos e os do aparelho respiratório eram todos de tipo 
epidermóide (5 no pulmão, 1 na laringe). Outros tumores foram encontrados no estômago 
(N=10), cólon e recto (N=9), tecidos moles (N=1), e bexiga (N=1) (Castelo Branco, 1999b). 
Todos os tumores do sistema digestivo eram adenocarcinomas pouco diferenciados. Estes 
dados conduziram aos estudos de genotoxicidade do RBF. A exposição ao RBF induziu 
simultaneamente, em populações humanas (Silva et al., 1999a,b) e animais (Silva et al., 
2002), o aumento significativo da frequência da troca de cromatídeos irmãos, demonstrando 
efectivamente que o RBF é um agente genotóxico. 
 
Mais recentemente, em 2003, um novo sinal patológico foi identificado entre os doentes da 
DVA: alterações do controlo neurológico da respiração (Reis Ferreira et al., 2003a; Castelo 
Branco et al., 2003d). Até à data, os exames de função respiratória têm sido normais nos 
doentes da DVA, com a excepção do índice P0.1(CO2), que é uma medida da pressão 
inspiratória (ou sucção) desenvolvida na boca, 0,1 segundos após o início do esforço 
inspiratório (sob estímulo da inspiração de CO2 a 6% no ar inspirado, e relativamente à 
mesma pressão durante a inspiração de ar). Esta pressão inspiratória inicial tem origem no 
sistema nervoso autónomo (ou involuntário) responsável pelo controlo nervoso da função 
respiratória. Através da inalação de CO2, os indivíduos normais deveriam apresentar um 
aumento mínimo de 6 vezes da pressão designada por P0.1(CO2), relativamente à P0.1(ar). Se o 
controlo nervoso da respiração está comprometido, irá registar-se um acréscimo inferior a seis 
 7 
vezes na P0.1(CO2) (Calverly, 1999; Cotes, 1993; Gibson, 1996). Nos doentes com DVA, os 
valores do índice de P0.1(CO2) encontram-se abaixo de 50% do valor normal, que pelo menos 
deveria encontrar-se acima de 60% do valor de referência de pressão. 
 
Por último, a questão das doenças auto-imunes em pessoas expostas ao RBF. Nos estudos 
dos fragmentos de pericárdio de doentes com DVA em microscopia electrónica, foi 
frequentemente observada a morte celular não-programada (não-apoptótica) (Castelo 
Branco et al., 2003a). Em vez deste fenómeno, parecia haver forças biomecânicas 
responsáveis pelo rebentamento das células, com os organelos celulares, ainda 
aparentemente vivos, fora de qualquer membrana. Nestas circunstâncias, o desenvolvimento 
de doenças auto-imunes em doentes com DVA é razoável e, até, de esperar. De facto, 
estudos prévios demonstraram que a exposição ao RBF acelera o estabelecimento de lupus 
eritematoso disseminado (LED) em ratos propensos a desenvolver esta doença (Águas et al., 
1999a). O LED foi também identificado em tripulantes de voo (Araújo et al., 2001) e em 
famílias inteiras expostas a RBF ambiental (Torres et al., 2001). O vitiligo é outro achado 
frequente em indivíduos expostos a RBF ambiental. Esta condição está associada a 
alterações imunológicas das populações linfocitárias CD8 e CD4. Estas alterações 
imunológicas já foram também observadas em trabalhadores (Castro et al., 1999) e em 
modelos animais (Águas et al., 1999b) expostos a RBF. Outros autores têm corroborado a 
existência de processos auto-imunes em trabalhadores expostos a RBF (Matsumoto et al., 
1992, 1989; Jones et al., 1976; Soutar et al., 1974; Lippmann et al., 1973). 
 
 
Populações de Controlo 
Uma das tarefas mais difíceis associada ao estudo de patologia induzida pelo RBF é a falta 
de uma população de controlo viável. Por definição, nos estudos sobre RBF, as populações 
de controlo são constituídas por indivíduos que não estão expostos ao RBF. Mas, dada a 
natureza ubiquitária do RBF, não são fáceis de encontrar estas populações de controlo. Dado 
que a selecção inapropriada de populacões de controlo já deu origem a resultados 
contraditórios (ASTDR, 2001), torna-se pertinente abordar este assunto. 
 
O RBF não está legislado, logo é permitido que prolifere em quase todos os sectores da 
actividade humana. A exposição ao RBF não é uma característica exclusiva de técnicos de 
máquinas e trabalhadores fabris. De facto, o RBF faz parte de muitas actividades de lazer e 
de muitos enquadramentos de transportes públicos. As figuras 1-5 e o Quadro 3 comparam o 
nível de RBF do cockpit de um Airbus-340 (Alves-Pereira et al., 2001) com os de vários 
locais utilizados pelo público em geral. Até o comum automóvel é uma fonte significativa 
de RBF (ver Figura 5 e Quadro 3). Então, qual será o perfil para uma população de controlo 
adequada? Considere-se o seguinte: as populações em qualquer estudo não costumam ser 
monitorizadas nem sondadas quanto à sua prévia exposição ao RBF. Por isso, qualquer 
população de controlo pode ser enviezada pela existência de um factor contaminante – o 
RBF. Considerando, ainda, os efeitos em todo o organismo da exposição excessiva ao RBF, 
comprometendo o aparelho cardio-respiratório e o sistema nervoso autónomo, o grau de erro 
pode ser elevado. 
 
 8 
Cockpit vs. Bar
20
40
60
80
100
120
1
,6 2
2
,5
3
,2 4 5
6
,3 8 1
0
1
2
,5 1
6
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2
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0
0
5
0
0
Frequência (Hz)
A
m
p
li
tu
d
e
 (
d
B
)
Cockpit Bar
 
Figura 1. Distribuiçãoespectral, na gama dos 1.6-500 Hz, do cockpit do Airbus-340 à 
velocidade de cruzeiro e num dos Bares conhecidos da noite Lisboeta. 
 
 
Cockpit vs. Discoteca
30
50
70
90
110
130
1
,6 2
2
,5
3
,2 4 5
6
,3 8 1
0
1
2
,5 1
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2
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,5 4
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5
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6
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1
0
0
1
2
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6
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2
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0
5
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0
Frequência (Hz)
A
m
p
li
tu
d
e
 (
d
B
)
Cockpit Discoteca
 
Figura 2. Distribuição espectral, na gama dos 1.6-500 Hz, do cockpit do Airbus-340 à 
velocidade de cruzeiro e numa das Discotecas conhecidas da noite Lisboeta. 
 
 9 
 
Cockpit vs. Comboio
20
40
60
80
100
120
1
,6 2
2
,5
3
,2 4 5
6
,3 8 1
0
1
2
,5 1
6
2
0
2
5
3
1
,5 4
0
5
0
6
3
8
0
1
0
0
1
2
5
1
6
0
2
0
0
2
5
0
3
1
5
4
0
0
5
0
0
Frequêncy (Hz)
A
m
p
li
tu
d
e
 (
d
B
)
Cockpit Comboio
 
Figura 2. Distribuição espectral, na gama dos 1.6-500 Hz, do cockpit do Airbus-340 à 
velocidade de cruzeiro e num comboio da área da Grande Lisboa, ao meio-dia. 
 
 
Quadro 3. Comparação dos valores em dBA e dBLin em vários ambientes ricos em RBF. 
 
Local dBA dBLin 
Cockpit A-340* 72.1 87.3 
Bar 98.4 104.4 
Discoteca 110.3 127.5 
Comboio 65.2 92.1 
Metro 70.9 93.6 
Automóvel 71.2 100.8 
*Os valores em dBA para o cockpit do A-340 foram obtidos na gama de 6.3-20000 Hz. Todos os outros valores 
foram obtidos na gama dos 1.6-5000 Hz. 
 
Cockpit vs. Metropolitano
20
40
60
80
100
120
1
,6 2
2
,5
3
,2 4 5
6
,3 8 1
0
1
2
,5 1
6
2
0
2
5
3
1
,5 4
0
5
0
6
3
8
0
1
0
0
1
2
5
1
6
0
2
0
0
2
5
0
3
1
5
4
0
0
5
0
0
Frequêncy (Hz)
A
m
p
li
tu
d
e
 (
d
B
)
Cockpit Metro
 
Figura 4. Distribuição espectral, na gama dos 1.6-500 Hz, do cockpit do Airbus-340 à 
velocidade de cruzeiro e dentro do metro da área da Grande Lisboa. 
 
 
 10 
Cockpit vs. Automóvel
20
40
60
80
100
120
1
,6 2
2
,5
3
,2 4 5
6
,3 8 1
0
1
2
,5 1
6
2
0
2
5
3
1
,5 4
0
5
0
6
3
8
0
1
0
0
1
2
5
1
6
0
2
0
0
2
5
0
3
1
5
4
0
0
5
0
0
Frequêncy (Hz)
A
m
p
li
tu
d
e
 (
d
B
)
Cockpit Automóvel
 
Figura 5. Distribuição espectral, na gama dos 1.6-500 Hz, do cockpit do Airbus-340 à 
velocidade de cruzeiro e de um automóvel (Fiat modelo Punto). 
 
 
Nos casos específicos onde a investigação se focaliza em indivíduos expostos ao RBF, por 
exemplo, numa fábrica, a população de controlo seleccionada apenas sob o critério de não 
trabalhar naquela fábrica é inválida, porque pode-se sofrer exposição a RBF no dia-a-dia 
(ver Figuras 1-5). O exemplo mais óbvio de inaptidão na selecção de uma população de 
controlo foi o Estudo Cardiológico de Vieques (Vieques Heart Study) (ASTDR, 2001). 
Neste estudo, os indivíduos que residiam numa ilha rica em RBF ambiental (produzido por 
actividades militares) foram comparados a indivíduos que viviam noutra ilha. Residir nessa 
outra ilha, e o grupo etário, foram os únicos critérios de selecção para esta população (dita) 
de controlo. Esta metodologia parte do princípio de que não existe qualquer exposição ao 
RBF na outra ilha, o que é, evidentemente, absurdo, e fica patenteado nos resultados 
publicados (ASTDR, 2001). Dado os conhecimentos recolhidos até à data, as populações de 
controlo para os estudos sobre o RBF têm de ser seleccionadas com base em exames 
médicos negativos para a DVA (i.e., ausência de espessamentos das estruturas cardíacas, e 
um índice de P0.1(CO2) normal), ou então terão de ser considerados como não-controlos.. 
 
Por último, os modelos animais também requerem populações de controlo. Mas os estudos 
em animais raramente monitorizam o ambiente acústico laboratorial. Assim, também os 
estudos com animais poderão estar a incorporar um factor contaminante significativo – o 
RBF. A situação agrava-se por muitos laboratórios de animais estarem localizados nas caves 
de edifícios académicos, onde o RBF permanente pode atingir amplitudes muito acentuadas. 
Se estão a ser efectuados estudos bioquímicos finos e o RBF não é monitorizado, quão 
fiáveis serão os resultados? 
 
Duas Histórias Sobre Falsos Controlos. 
A Divisão de Desenho Técnico nas OGMA parecia ser um local excelente de onde recrutar 
uma população de controlo, também funcionária das OGMA, mas não exposta a RBF 
 11 
ocupacional. Um homem de 34 anos com este perfil revelou potenciais cerebrais anormais, 
semelhante com o que se esperaria de um doente da DVA (Castelo Branco et al., 1999b). Sem 
o seu conhecimento, foi investigada a sua área de residência, meios de transporte e 
actividades de lazer para determinar a existência de possíveis fontes de RBF. Nenhuma foi 
identificada. A família e os amingos descreveram-no com uma pessoa reservada e calada, mas 
com episódios súbitos de agressividade verbal, normalmente desencadeados por eventos 
acústicos. Era intolerante em relação a qualquer tipo de som, incluindo música e, como 
muitos outros doentes com DVA, queixava-se de “ouvir bem demais”. Um audiograma 
revelou posteriormente perdas nas baixas frequências, tal como nos outros doentes com DVA. 
Todos os exames de diagnóstico para DVA obtiveram resultados positivos: a ressonância 
magnética cerebral revelou focos hiperintensos em T2 na substância branca e a 
ecocardiografia apresentou espessamentos do pericárdio e válvula mitral. Mas onde estava 
este homem a ser exposto ao RBF? Durante o exame neurológico, que revelou a existência do 
reflexo arcaíco palmo-mentoniano, o homem finalmente explicou: os pais dele eram donos e 
gerentes de um moinho de água e ele tinha vivido até aos 26 anos na casa paterna, localizada 
mesmo por cima do moínho. O RBF permanente do moínho em funcionamento era uma 
constante nessa casa. Infelizmente, o moínho já tinha sido desactivado e já não era viável a 
verificação dessa fonte de RBF. 
 
Outro caso interessante é o de um director executivo, de 50 anos de idade, e que tinha 
trabalhado num banco em Lisboa durante os últimos 30 anos. Para além da exposição usual, 
provindo de sistemas de arrefecimento e aquecimento de ar, e trânsito urbano, não se 
julgava ser significativa a exposição deste indivíduo ao RBF. No entanto, a ecocardiografia 
revelara espessamentos do pericárdio e das válvulas cardíacas. O índice de P0.1(CO2) estava 
abaixo dos 30%. Não havia manifestação de sintomas. Onde estaria ele a ser exposto a 
elevados níveis de RBF? O indivíduo morava no Montijo, uma cidade na margem sul do 
Rio Tejo, e viajava todos os dias de carro para Lisboa o que, em hora e ponta, leva 
aproximadamente 3 horas para percorrer esses 100 km. Os seus carros, ao longo dos anos, 
tinham sido equipados com motores a diesel. Em 1990, ele restaurara uma casa na Galiza, 
em Espanha, a Norte da fronteira com Portugal e, desde então, conduzia para lá todos os 
fins-de-semana, aproximadamente 400 km de cada vez. Semanalmente, este homem 
percorria mais de 1500 km em automóveis com motores a diesel. A figura 5 compara a 
distribuição espectral de um automóvel a gasolina com a de um cockpit do Airbus-340. Os 
dados evidenciam que a exposição ao RBF deste indivíduo estava associada ao elevado 
número de horas que passava a conduzir. Decorrem os estudos acústicos dentro dos modelos 
de automóvel específicamente utilizados por este indivíduo.. 
 
Diagnóstico Errado de Doença Vibroacústica 
 
Sindroma associado ao stress. 
Um dos comentários mais comuns ácerca dos sinais e sintomas incluídos nos estádios 
clínicosLigeiro ou Moderado da DVA, é a sua semelhança a muitos síndromas comuns de 
stress (Quadro 1). Pode isto resultar de uma visão superficial, mas uma abordagem mais 
aprofundada demonstra que não é verdade. A DVA é especificamente caracterizada pela 
proliferação anormal das matrizes extracelulares na ausência de processo inflamatório. 
Foram observados decréscimo dos níveis de cortisol e elevados picos de norepinefrina 
circulante (Sobrinho et al., 1989) em trabalhadores expostos a RBF, bem como alterações 
dos potenciais evocados auditivos (Castelo Branco, 1988) e dos potenciais endógenos que 
 12 
foram correlacionados com lesões do sistema nervoso central – focos hiperintensos da 
substância branca subcortical e periventricular, gânglios basais e tronco cerebral em T2 
(Pimenta et al., 1999). No conhecimento dos autores, este quadro não é consistente com as 
síndromas de stress reportadas na literatura científica. 
 
As consequências do RBF são mais análogas às de situações de stress extremo, onde 
também já foram identificadas lesões cerebrais semelhantes e decréscimo cognitivo 
(Martinho Pimenta et al., 1992). Para além disto, a coagulação intravascular disseminada é, 
frequentemente, o único achado anormal de autópsia em jovens de tropas especiais que 
falecem no decurso de um exercício de treino – uma situação de stress extremo – dando 
valor ao ditado popular “foi de gelar o sangue” (Castelo Branco, 1992). Em trabalhadores 
expostos a RBF, foi identificado um aumento da agregação plaquetária simultaneamente 
com outra patologia induzida pelo RBF (Castelo Branco et al., 2003e). Assim, considerar a 
DVA como uma síndroma de stress generalizado não é uma posição cientificamente 
sustentável, dado o que hoje se conhece sobre síndromas de stress generalizado. 
 
“Fazer-se à Baixa” 
Outra ocorrência frequente entre os doentes da DVA é a incredulidade dos médicos e 
profissionais de saúde quando são confrontados com queixas envolvendo quase todos os 
órgãos e sistemas. Nas fichas médicas dos funcionários das OGMA, alguns médicos 
escreviam de lado “golpista”. Numa exposição cândida da sua situação clínica, o Sr. 
Jonathan Arnot, de 40 anos de idade, técnico de máquinas de navios na Escócia e 
diagnosticado com a DVA, escreveu como as suspeitas de golpismo afectaram gravemente 
a sua vida: 
 
“Fui frequentemente acusado de me estar a fazer à baixa (…) As implicações sociais de ser 
considerado golpista, até por parte de familiares profissionais de saúde, eram muito 
desmoralizantes. (…) Sem um diagnóstico, estava como se fosse na terra-de-ninguém, onde 
nenhum especialista conseguia sugerir um tratamento. Senti-me como estivessem a ver se os 
meus sintomas evoluiam para uma patologia conhecida, ou se apenas se resolveriam com o 
tempo. (…) Senti que os médicos pré-julgavam o meu caso e partiam do princípio de que eu 
me estava a fazer à baixa, ou que estava a colher elementos para levar algum caso a tribunal. 
Nenhuma destas situaçãoes estava perto de ser verdade, apenas não podia ficar doente por 
razões económicas. (…) A perda da auto-estima e a perda de posição aos olhos dos meus 
filhos e dos meus amigos também tem que ser levada em conta. A exclusão social devido à 
quebra no orçamento e os efeitos emocionais da constante sugestão de que eu estava só a 
fingir são apenas alguns dos custos reais de se adoecer com uma doença ocupacional ainda 
não reconhecida no Reino Unido.” (Arnot, 2003). 
 
O Sr. Arnot tinha espessamento intenso das estruturas cardíacas (nomeadamente o pericárdio) 
um índice de P0.1(CO2) de 38%, e um aumento da latência dos potenciais endógenos P3, tudo 
consistente com o quadro clínico da DVA. 
 
Em geral, os médicos não têm conhecimentos suficientes para inquirir os doentes sobre os 
ambientes de trabalho. Mesmo se o doente trabalha em casa, a localização residencial 
raramente é questionada em termos de ambientes acústicos. De facto, a insistência de que os 
fenómenos acústicos só afectam os seres humanos através da via auditiva contribui para pôr 
em risco a saúde de muitas pessoas. Qual é o neurologista que envia um doente 
 13 
diagnosticado com epilepsia para efectuar um ecocardiograma? O cepticismo quanto à 
existência de uma patologia sistémica causada por fenómenos acústicos tem sido enorme 
(von Gierke & Mohler, 2002) e, no entanto, há décadas que os cientistas recolhem dados 
científicos que sustêm precisamente esssa noção (Alves-Pereira, 1999). Às vezes, alguns 
cientistas dizem que a primeira vez que viram a DVA foi nos anos 70, em enquadramentos 
militares (Brenner, 2003). Por ultimo, a DVA é às vezes diagnosticada como Síndroma da 
Fadiga Crónica. 
 
Dose-resposta 
A relação dose-resposta para a exposição ao RBF ainda não foi estabelecida. Não parece 
ético nem lógico um curso de acção que fique a aguardar a aceitação de valores de dose-
resposta para reconhecer a existência de uma doença. Na verdade, e considerando a natureza 
ubiquitária do RBF, acima mencionada, a obtenção de dados para relação de dose-resposta é 
uma tarefa hercúlea. Ainda não foram desenvolvidos dosímetros especificamente 
concebidos para avaliar o RBF e, tal como acima foi mencionado, os métodos de avaliação 
de ruído, tal como estão presentemente legislados, não contemplam o RBF cmo um risco 
para a saúde. Logo, os valores de dose-resposta para o RBF estão, provavelmente a uns anos 
(e Euros) de distância. No entanto, os modelos animais expostos a RBF já contribuiram um 
pouco para a definição de valores de dose-resposta (Castelo Branco et al., 2003c). Em ratos 
Wistar expostos a RBF continuo durante 48 horas, e depois mantidos em silêncio até 7 dias 
pós exposição, o epitélio da traqueia só ficou semelhante ao dos animais de controlo após os 
7 dias em silêncio (Castelo Branco et al., 2003c, 2004a). Os ratos Wistar que foram 
concebidos e nascidos num ambiente de RBF e, subsequentemente, mantidos em silêncio 
durante um ano, ainda exibiam lesões bem visíveis e dramáticas do epitélio respiratório após 
um ano em silêncio (Castelo Branco et al., 2003c, 2004b). As implicações destes estudos 
são abrangentes e falam por si, particularmente quando se considera que muitas mulheres 
continuam a trabalhar em ambientes ricos em RBF mesmo até ao final da gravidez. 
 
Como nota final sobre dose-resposta, salienta-se que os diferentes tecidos orgânicos 
possuem propriedades acústicas diferentes i.e., a impedância acústica do tecido do pulmão é 
diferente da do fígado, e que a massa cerebral e a bexiga têm frequências de ressonância 
diferentes. Assim, a relação dose-resposta tem de ser estabelecida com base nas frequências 
dos eventos acústicos. Um indivíduo que trabalha num ambiente de RBF onde existe uma 
predominância de infrasons (<20 Hz) irá desenvolver patologia ligeiramente diferente do 
indivíduo que trabalha em ambientes de RBF onde a energia acústica está concentrada na 
gama dos 50 a 100 Hz. A questão da dose-resposta para o RBF terá sempre de ser 
cuidadosamente abordada. 
 
 
Prevenção 
Estudos prévios indicam que aproximadamente 30% dos indivíduos estudados, expostos ao 
RBF, não desenvolvem os sinais e sintomas correspondentes ao estádio III – Grave – da 
DVA, apesar de exibirem formas mais ligeiras dos sinais e sintomas dos estádios I e II da 
DVA (Castelo Branco, 1999b; Castelo Branco & Rodriguez, 1999). Isto não é equivalente a 
afirmar que 70% desenvolverão incapacidades de estádio III. A primeira preocupação é 
prevenir o desenvolvimento de patologias que incapacitam o indivíduo para a actividade 
profissional. Os estudos indicam que, sem prevenção, aproximadamente 5% dos 
 14 
trabalhadores expostos a RBF desenvolverão patologias suficientemente graves para 
requerer a reforma antecipada por incapacidade (Castelo Branco et al., 1999b). 
 
Nas OGMA, entre 1980 e 1989, 21 técnicos de aeronaútica foram compulsivamentereformados antecipadamente por incapacidade. Em 1989, na sequência dos resultados 
obtidos com os estudos de ecocardiografia, por sua vez baseados nos achados na autópsia de 
1987 (ver acima), foi desenvolvido um protocolo médico de triagem e monitorização de 
todos os funcionários expostos ao RBF. Para todos os candidatos a emprego, a 
ecocardiografia passou a fazer parte dos exames rotineiros. Se fosse identificado a pré-
existência de espessamento das estruturas cardíacas, o candidato não seria colocado num 
ambiente rico em RBF. Todos os funcionários das OGMA expostos a RBF começaram a 
fazer anualmente ecocardiografia e potenciais evocados endógenos, e a tensão arterial foi 
monitorizada de perto. Se e quando algum trabalhador exposto ao RBF desenvolvesse 
espessamentos cardíacos e/ou alterações na componente endógena P3 para posições mais 
frontais, e/ou dificuldade de controlar a tensão arterial ou tensão arterial lábil, então era 
removido do ambiente rico em RBF e colocado noutro local de trabalho, não-rico em RBF. 
De 1989 a 1996 não houve nenhuma reforma antecipada por incapacidade entre os 
trabalhadores expostos a RBF (Castelo Branco et al., 1999b). 
 
Os períodos de recuperação, ou de recobro, também devem fazer parte integral de qualquer 
programa de prevenção contra a patologia induzida pela exposição excessiva ao RBF. Para 
trabalhadores que têm de permanecer mais que as 8 horas usuais em ambientes de RBF, 
serão necessários períodos de recobro alargados, i.e., deverá ser mandatório efectuar 
períodos de tempo longe do ambiente rico em RBF. Os materiais acústicos que impedem a 
propagação do RBF estão a ser desenvolvidos por diversas equipas internacionais e poderão, 
num futuro próximo, contribuir com algumas soluções na prevenção da DVA. Por último, 
salienta-se com ênfase que o desenvolvimento da patologia induzida pela exposição é 
causada pelos efeitos cumulativos do RBF. Se a fonte é ocupacional, ou não, é irrelevante ao 
organismo biológico. Para além disso, a evolução da DVA vai estar directamente associada 
à exposição total recebida de todos os ambientes ricos em RBF: ocupacional, ambiental ou 
de lazer. 
 
Hipóteses de Trabalho em Curso 
 
• Os estudos que descrevem os seus ambientes acústicos apenas em termos de um 
valor global em dB, não podem ser cientificamente comparados aos estudos que 
fornecem uma análise espectral do ambiente acústico. 
As figuras 4 e 5 comparam a distribuição espectral acústica obtida no cockpit do Airbus-
340, à velocidade de cruzeiro com as distribuições espectrais obtidas dentro do 
metropolitano e dentro de um automóvel comum de passageiros, respectivamente. Os 
valores médios globais são dados no Quadro 3. Para o metro, o nível de pressão sonora foi 
de 70.9 dBA e para o carro foi de 71.2 dBA. Estes ambientes acústicos são considerados 
comparáveis pela comunidade científica em geral. De facto, não são. Os níveis de pressão 
sonora, medidos em dBLin, foram de 93.6 dBLin para o metro e 100.3 dBLin para o 
automóvel. A diferença entre os níveis de pressão sonora medidos em dBA e em dBLin e a 
ausência de utilidade de medições efectuadas em dBA no contexto de patologia induzida 
pelo RBF, já foi extensamente discutido noutros estudos (Alves-Pereira et al., 2004a; 2003a; 
Alves-Pereira, 1999). O valor em dBA mede a amplitude média da energia acústica que está 
 15 
a ser capturada (i.e., ouvida) pelo sistema auditivo humano e a sua utilidade está 
(exclusivamente) associada à prevenção da surdez. O valor em dBLin mede a amplitude 
global da energia acústica presente no ambiente, i.e., mede a amplitude do que está 
realmente presente e não apenas o que está a ser ouvido. Olhando as distribuições espectrais 
de ambos os ambientes apresentados nas figures 4 e 5, evidencia-se que na gama dos 1.6 a 
500 Hz, o automóvel tem níveis mais elevados em todas as bandas de 1/3 de oitava. Não é 
este o caso do Metro. Surgem, assim, duas situações: a) não é cientificamente válido 
comparar entre si os resultados de estudos que descrevem o seus ambientes acústicos apenas 
em termos de um valor expresso em dB (i.e., sem uma análise espectral), e b) os resultados 
de estudos sobre o ruído que não apresentam uma análise espectral dos seus ambientes 
acústicos não podem ser comparados com aqueles cujo ambiente acústico está definido 
através de uma distribuição espectral de resolução adequada. 
 
• A susceptibilidade individual é um factor contaminante. 
A susceptibilidade individual foi cedo identificada como um factor importante, 
influenciando a gravidade dos sintomas e a evolução clínica (Castelo Branco, 1989). Foram 
avaliados vários parâmetros, tais como marcadores de compatibilidade sanguínea e 
tecidular, numa tentativa de procurar um indicador de susceptibilidade para o RBF. Até à 
data, nenhum foi ainda formalmente identificado. Os modelos animais concebidos e 
nascidos num ambiente de RBF ainda evidenciavam graves lesões do sistema respiratório, 
mesmo após um ano em silêncio pós-parto (Castelo Branco et al., 2004b). Para além disso, 
estes animais exibiam comportamentos diferentes quando comparados com os ratos do 
mesmo grupo etário mantidos sempre em silêncio. Portanto, suspeita-se que a situação da 
gravidez da mãe do indivíduo é um factor (de entre vários) que pode contribuir 
substancialmente para o aumento da susceptibilidade individual. Nos projectos de 
investigação em curso, o questionário dado a todos os doentes já inclui perguntas 
relacionadas com esta situação. Quando o estudo se focaliza em exposições ocupacionais ao 
RBF, as exposições não ocupacionais, se ignoradas, podem também contribuir como um 
factor contaminate. Como apresentam as figuras 1 a 5, o RBF é ubiquitário. Por isso, os 
questionários da DVA têm de indagar sobre todos os locais habituais e não-habituais onde 
os doentes poderão estar expostos a RBF, incluindo in utero. 
 
• Os ambientes ricos em RBF com a energia acústica predominantemente 
concentrada na gama dos infrasons (<20 Hz) aceleram o processo de 
espessamento pericárdico. 
Em 1999 voluntariaram-se pilotos e tripulantes de cabina de aviação comercial para efectuar 
uma ecocardiografia no contexto dos estudos da DVA. Apesar de terem igual tempo de 
actividade profissional, os pilotos desenvolveram espessamentos pericárdicos mais 
rapidamente do que os tripulantes de cabine. Esta tendência não era relacionada com o sexo 
dos tripulantes de voo, dado que a população de estudo incluía homens e mulheres (Araújo 
et al., 2001). Nos estudos acústicos subsequentes, realizados tanto no cockpit como na 
cabina, o cockpit revelou níveis de infrasons estatisticamente mais elevados do que na 
cabina (Alves-Pereira et al., 2001). Os níveis de infrasons no cockpit variam com a altitude, 
velocidade e modelo de aeronave, o que indica que grande parte dos infrasons no cockpit 
são resultado do impacto do fluxo aerodinâmico sobre o nariz do avião, onde se localiza o 
cockpit (Alves-Pereira et al., 2001). 
 
• O estabelecimento de doenças auto-imunes é acelerado pela exposição ao RBF. 
 16 
Como referido acima na secção Patologia Associada, as doenças auto-imunes, 
particularmente o LED é muito comum entre doentes com DVA (Torres et al., 2001; Araújo 
et al., 2001; Matsumoto et al.,1992, 1989; Jones et al., 1976; Soutar et al., 1974; Lippmann 
et al., 1973). Uma das razões que para tal contribuem é a presença de morte celular não-
apoptótica, na ausência de um processo inflamatório, tal como observado nos fragmentos de 
pericárdio dos doentes da DVA (Castelo Branco et al., 1999a, 2001, 2003a,b). 
 
• O sistema respiratório é uma alvo do RBF. 
Quatro doentes com DVA sofreram derrames pleurais atípicos e que persistiram 
apesar da terapia. Três destes casos são de etiologia desconhecida ao passo que o quarto 
pode ter sido causado por difenilhidantoína (Castelo Branco, 1999a). Osperíodos de 
recuperação foram muito prolongados, até no caso em que a difenilhidantoína foi suspensa. 
O tratamento durou vários meses e a recuperação não só foi lenta como também irregular, 
nunca se tendo chegado a nenhuma conclusão ácerca da etiologia nem da melhor escolha 
terapêutica. Na autópsia de 1987, foi identificada fibrose focal pulmonar, mas não foi 
atribuída nenhuma importância a este achado dado que se presumia a existência de agentes 
químicos, poeiras e fumos no ambiente de trabalho do falecido (Castelo Branco, 1999a). Em 
1992, ainda perplexos com os casos enigmáticos de derrame pleural, foram utilizados 
modelos animais para estudar a resposta do aparelho respiratório à exposição excessiva de 
RBF. Em ratos Wistar expostos a RBF, o número de cílios estava visivelmente reduzido e 
estudos morfométricos subsequentes confirmaram esta observação (Oliveira et al., 2002). 
Também foi identificada fibrose subepitelial na traqueia (Castelo Branco et al., 2003c). As 
alterações estruturais do parênquima pulmonar incluíram a distribuição irregular das paredes 
alveolares espessadas, e focos de fibrose irregularmente distribuídos (Castelo Branco et al., 
2003c). As células pleurais perderam a sua capacidade fagocítica, e o folheto pleural 
apresentou uma acentuada redução de microvilosidades por célula mesotelial (Oliveira et 
al.,1999). Subsequentemente, foram efectuados exames de função respiratória e TAC de alta 
resolução do pulmão, a doentes da DVA com e sem sintomas. Foram identificados nestes 
indivíduos fibrose pulmonar focal e “air-trapping”, independentemente da existência de 
queixas respiratórias (Reis Ferreira et al., 1999). Outros autores têm descrito os efeitos 
subjectivos imediatos da exposição ao RBF, que incluíram tosse, sensação de asfixia, e 
pressão sobre o tórax (Mohr et al., 1966; Cole et al., 1966). Uma revisão aprofundada sobre 
o ruído e o aparelho respiratório foi já assunto de outra publicação (Alves-Pereira et al., 
2004a). 
 
• A exposição ao RBF induz, especificamente, carcinomas epidermóides no 
aparelho respiratório. 
Até à data, 100% dos tumores respiratórios nos doentes da DVA têm sido epidermóides: 10 
no lóbulo superior direito (7 fumadores) e 2 na glote (1 não-fumador) (Castelo Branco, 
2001). Esta hipótese foi corroborada pela observação de metaplasia e displasia no aparelho 
respiratório de ratos expostos a RBF (Castelo Branco et al., 2003c; 2004b). Na população 
em geral, 40% de todos os tumores do aparelho respiratório são epidermóides (Skuladottir, 
2001). No entanto, os estudos epidemiológicos da incidência e distribuição de cancro não 
costumam descrever o tipo histológico do tumor contabilizado, o que é de lamentar. Uma 
estatística global de cancro, sem a precisão dos tipos de tumores desenvolvidos, não contém 
a informação essencial e crucial requerida para qualquer estudo mais aprofundado, e os 
resultados poderão, assim, ser enganadores. Entre a população de doentes da DVA, a 
incidência de tumores pulmonares é aproximadamente a mesma que para a população 
 17 
portuguesa em geral, só que nestes doentes todos os tumores pulmonares estão localizados 
no lóbulo superior direito e todos são epidermóides (Castelo Branco, 2001). Isto não 
equivale a dizer que todos os tumores epidermóides são desencadeados pela exposição ao 
RBF, porque certamente outros agentes também poderão induzir este tipo de tumores. O que 
os dados, de facto, demonstram é que os tumores do aparelho respiratório induzidos pela 
exposição ao RBF são todos de um único tipo histológico: epidermóides. 
 
• As estruturas de actina e tubulina alvos preferenciais para o RBF. 
As microvilosidades são compostas por filamentos de actina, bem como os estereocílios, no 
ouvido. Em animais expostos a RBF, existe fusão tanto dos estereocílios da cóclea como das 
microvilosidades das células em escova do epitélio respiratório (Castelo Branco et al., 
2003c, Alves-Pereira et al., 2003b). Uma primeira abordagem poderá sugerir um factor 
comum no formato digital destas estruturas, quasi-cilíndricas. Mas os cílios encontrados no 
epitélio respiratório e no pericárdio exibem um comportamento inteiramente distinto na 
presença de RBF. Os cílios no pericárdio de doentes da DVA simplesmente deixam de 
existir, desaparecem (Castelo Branco et al., 2003a,b; 2001; 1999a). No epitélio respiratório 
de doentes da DVA e de animais expostos a RBF, os cílios aparecem ceifados, e algumas 
imagens capturaram estes cílios, aparentemente ceifados, pousados horizontalmente sobre a 
superfície epitelial (Castelo Branco et al., 2003c). Foram também observados nos animais 
expostos a RBF cílios moles, e células ciliadas totalmente rapadas: Em dois doentes com 
DVA, (um não-fumador), evidenciavam-se áreas dispersas da traqueia com destruição de 
cílios e múltiplos axónios ciliares rodeados por uma só membrana (Reis Ferreira et al., 
2003c). 
 
• Elevados níveis de incomodidade são um sinal clínico de prévia e excessiva 
exposição ao RBF. 
Os estereocílios da cóclea são estruturas de actina que aparecem fundidas, em ratos Wistar 
expostos a RBF (Castelo Branco et al., 2003c). Os ratos são particularmente sensíveis ao som 
de um “beijo no ar” e reagem guinando as cabeças e ficando tensos. Após a exposição ao 
RBF, um som de um “beijo no ar” causa uma reacção mais violenta, em que os ratos se 
erguem sobre as duas patas traseiras, frequentemente caíndo para trás, e desenvolvem 
tremores. Os estereocílios fundidos na cóclea, a existirem também nas populações humanas 
expostas a RBF, poderão explicar as queixas auditivas pouco usuais mas frequentes nos 
doentes com DVA e que incluem “ Oiço bem demais, não aguento o ruído, qualquer tipo de 
ruído, nem mesmo música” (Castelo Branco,1999b). Estando os estereocílios fundidos entre 
si e também acima, com a membrana tectónica, os cílios não são livres de vibrarem como é 
suposto acontecer à medida que uma onda de pressão sonora se propaga na cóclea (Alves-
Pereira et al., 2003c). De facto, ao se tornarem estruturas rígidas, qualquer tentativa de os 
fazer vibrar poderá, compreensivelmente, produzir desconforto. Ainda não está esclarecido 
qual a proximidade deste fenómeno com o conceito de incomodidade (annoyance). No 
entanto é claramente sugerida uma ligação, dado que os níveis de incomodidade já foram 
especificamente associados à presença de RBF (Persson-Waye & Rylander, 2001). 
 
• A resposta de todo o organismo à exposição excessiva ao RBF pode ser 
explicada pelo princípio da biotensigridade. 
Ao nível celular, a camada do pericárdio formada por células mesoteliais (CM), exibe um 
comportamento morfológico peculiar. A camada de CM consiste numa superfície com uma 
célula de profundidade e está em contacto directo com o saco pericárdico. Portanto, o efeito 
 18 
de deslizamento aqui é crítico para manter intacto o ciclo cardíaco. As CM interligam-se 
lateralmente através dos filamentos intermédios do citoesqueleto e desmosomas. Nos 
fragmentos de pericárdio de doentes com DVA, as CM foram observadas em processos de 
aparente extrusão da CM para o saco pericárdico (Castelo Branco et al., 2003a,b). Os 
desmososmas não estão uniformemente distribuídos ao longo das paredes laterais da CM e 
estão, em vez disso, concentrados em grupos com mais de dois, nas secções superiores das 
fronteiras laterais das CM. As secções inferiores parecem formar vacúolos, com grande 
plasticidade, dentro dos quais se identificam microvilosidades (Castelo Branco et al., 
2003a). Os sistemas organizados de acordo con conceitos de biotensigridade conseguem 
absorver forças externas e redistribuí-las através de uma rede de elementos de tensão e 
compressão, mas sem produzir torque nem momento de dobragem (Wang et al., 1997). 
Considere-se a camada de CM como uma superfície estrutural, composta de elementos 
viscoelásticos individuais (as CM, interligadas atravésde filamentos intermédios do 
citoesqueleto e de desmosomas) e que tem que suportar forças mecânicas anormalmente 
elevadas. A extrusão de CM para o saco pericárdico sugere que a camada de CM está a 
tentar manter a sua integridade estrutural, apesar das condições biomecânicas anormais. 
 
 
Comentário Final 
O agente de doença já foi identificado – Ruído de Baixa Frequência. 
 
Os efeitos específicos do RBF foram já bem definidos: crescimento anómalo de matrizes 
extra-celulares, na ausência de um processo inflamatório, tal como já foi observado em 
estruturas dos sistemas cardiovascular e respiratório, tanto em populações humanas como 
em modelos animais. 
 
A genotoxicidade do RBF já foi demonstrada em modelos animais e em populações 
humanas. 
 
Já foram definidos métodos de diagnóstico não-invasivos: ecocardiografia para visualizar 
estruturas cardíacas espessadas, o índice P0,1(CO2) para medir o drive respiratório, 
drasticamente diminuído, e os potenciais evocados que revelam importantes alterações 
topográficas, bem como um aumento das latências nas componentes P3 e N2, ambos 
indicando um decréscimo nas capacidade cognitivas. 
 
Ainda não foram publicados estudos epidemiológicos de grande dimensão, estão em falta 
trabalhos aprofundados sobre a fisiopatologia induzida pelo RBF, e ainda não apareceram 
na literatura médica estudos de controlo de casos. De facto, no conhecimento dos autores, 
nenhuma outra equipa independente publica ou publicou trabalhos sobre estudos 
ecocardiográficos em trabalhadores expostos a RBF. Porquê? Um dos motivos (relacionados 
com o desenvolvimento científico) é porque a patologia induzida pelo RBF não é 
considerada um “tópico de alta prioridade” (high-priority topic) na maioria dos fóruns 
científicos e daí a baixa taxa de aprovação de projectos científicos na área do ruído. Outras 
razões, políticas e financeiras, existem mas estão, claro, para além do âmbito deste trabalho. 
 
A situação presente é que a DVA não é reconhecida como uma entidade patológica e, assim 
sendo, os indivíduos que exibem um quadro clínico de DVA ou são golpistas (se forem 
trabalhadores) ou são neuróticos (se forem mulheres). Na melhor das hipóteses são 
 19 
consideradas pessoas “sensíveis” ao ruído. Mais ainda: como o RBF não é considerado um 
agente de doença, raramente é avaliado. Adicionalmente, como o RBF não é um assunto “da 
moda”, os financiamentos atribuídos a projectos nesta área são muito diminutos. Dados os 
resultados obtidos até à data e o sofrimento mundial de milhões de cidadãos excessivamente 
expostos a RBF, esta situação de status quo foge à ética, é insustentável e verdadeiramente 
obscena. 
 
 
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