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AULA 5 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR E APRENDIZAGEM Prof. Everton Adriano de Morais 2 CONVERSA INICIAL Chegamos à quinta aula sobre o desenvolvimento motor. Temos por objetivo falar sobre alguns contextos nos quais se desenvolvem o processo neuropsicomotor com base no aprender. A princípio, é necessário relacionar os primeiros contatos do indivíduo com o movimento, seus principais aspectos e características. O grupo social no qual um bebê está inserido intitula-se família. Embora possam existir diversas formas de definir família, é importante ressaltar que esse é o primeiro contato social da criança com algum tipo de estimulação, por exemplo. Posteriormente, comentaremos a importância da Neuropsicomotricidade e do aprender como uma ferramenta essencial na escolarização do indivíduo. Outro ponto importante trata da relação do desenvolvimento neuropsicomotor no que tange à atividade física. Há diversos componentes interessantes para avaliar: caminhar, praticar esportes, condicionamento físico, entre outros. O exercício trabalha inúmeros fatores do organismo, e os processos do pensamento estão diretamente interligados com essa condição. A capacidade intelectual é grandemente beneficiada por essas atividades, uma vez que elas trazem aprimoramentos de funções controladas e automatizadas reguladas pelo pensamento e pelo comportamento motor. Falaremos também sobre a música e os jogos. Há uma imensa contribuição de ambos para o desenvolvimento neuropsicomotor, devido à sua interação com os processos motores e o pensamento. É necessário entender que a contextualização é diretamente importante para o aprender, pois quaisquer alterações, estimulações ou manutenções de comportamentos contribuem para os processos comportamentais do pensar do indivíduo. CONTEXTUALIZANDO O processo neuropsicomotor envolve uma integração de diversas áreas cerebrais, como, por exemplo, córtex pré-motor, motor e córtex pré-frontal, no que tange aos âmbitos neuroanatômico e fisiológico, pertencentes ao processo biológico. Porém, há grande relação e interação sociais, parte da influência do ambiente externo, envolvendo família, escola e sociedade de um modo geral. 3 Pode-se dizer que o processo motor neuropsicomotricista é construído por meio das interações entre o indivíduo e o meio. A estimulação decorre de vários âmbitos. Na linguagem, por exemplo, temos a comunicação entre um indivíduo e outro, os signos (símbolos mediadores e, em alguns casos, arbitrários) e outros meios de comunição; outro processo responsável por estimular é a atividade lúdica, com jogos e interações de forma dinâmica. As atividades físicas, além de contribuírem para a saúde física, aprimoram o aprender e o desenvolver das funções cognitivas, como planejmento, memória, atenção, tomada de decisão etc. O brincar, a atividade física, o âmbito escolar teórico-prático e a família são responsáveis diretos pelo desenvolvimento motor humano, o qual tem início de forma reflexa e vai sendo lapidado de forma refinada e elaborada (Mello, 1989, p. 37-38; Soares, 2017, p. 6-12). TEMA 1 – NEUROPSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO FAMILIAR O primeiro contato em relação à estimulação e ao desenvolvimento neuropsicomotor de uma criança se dá diretamente, em geral, com a família, que é a primeira a provocar uma elaboração dos processos motores mais refinados do indivíduo, como aprimorar o movimento de pinça (corresponde ao ato de segurar algo com os dedos indicador e médio), e a estimular não apenas o segurar de algum objeto, mas o desenvolvimento de movimentos elaborados com base nesse processo. Uma criança que inicialmente pega um brinquedo – boneco, carrinho, urso de pelúcia etc. –e posteriormente usa esse movimento de pressão para segurar um lápis, uma caneta ou um talher, em atividades que envolvem uma finalidade específica. A família, por meio da construção inicial do vínculo, tem grande responsabilidade no que diz respeito ao desenvolvimento psicomotor, envolvendo afetividade, qualidade na interação, estimulação física e capacidades cognitivas, como memória, atenção, percepção, planejamento. A família tem um papel importante no processo de mediar a relação do indivíduo com a sociedade de um modo geral. É interessante comentar que a disfunção da maturação neuropsicomotora não se restringe apenas a uma lesão cerebral, mas também abrange uma construção disfuncional emocional gerada com base na interação entre o indivíduo e o ambiente, o que pode ter diversas causas, como não criação de vínculo, dificuldade de afeto, entre outras, atingindo e comprometendo 4 paralelamente questões de ordem motora, como orientação espacial e esquema corporal (Rabelo; Aquino, 2016, p. 116). Um distúrbio psicomotor pode ocasionar a desorganização de inúmeros processos relacionados ao comportamento motor (dificuldade na aprendizagem, comportamento antissocial, déficit cognitivo e motricidade). O acompanhamento da educação motora é necessário desde os primeiros movimentos: primeiros contatos junto à família, primeiros reflexos inatos apresentados, elaboração de movimentos mais refinados, motricidade voluntária, andar, correr, brincar, além de outros. A influência da família é de extrema importância, pois configura o primeiro contato social da criança, proporcionando uma interação dela consigo e com o mundo. Essa estimulação contribuirá para que o comportamento motor interaja com outras funções (cognitiva, social e afetiva) (Rabelo; Aquino, 2016, p. 116- 120). TEMA 2 – NEUROPSICOMOTRICIDADE COMO FERRAMENTA DO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR A Psicomotricidade no âmbito escolar abrange diversos processos de âmbito cognitivo, social e afetivo. A promoção do desenvolvimento do aluno em sua integralidade é de grande importância; seu maior objetivo é gerar a comunicação e a interação entre educadores e alunos, de modo que seja possível recriar vários contextos dentro da sala de aula, e não apenas o de uma transmissão de conteúdo estática e sem criatividade (Vieira, 2014, p. 66-67). A escola tem responsabilidade fundamental no desenvolvimento do comportamento motor. Em geral, uma das principais causas da não aprendizagem é a inabilidade referente à motricidade, que pode ser ou não a raiz do problema. O trabalho voltado à Neuropsicomotricidade nas escolas é analisado muitas vezes de forma curativa, ou seja, trata-se o problema apenas quando ele já existe, o que prejudica a aprendizagem do estudante. É importante trabalhar de forma preventiva no que se refere às dificuldades que possivelmente aparecerão devido à não estimulação, gerando projetos que acompanhem o aluno em sua trajetória de maturação e construção das relações sociais e afetivas, por exemplo. Quando se trata dos primeiros anos de vida, o cuidado é ainda maior, pois nessa fase ocorre a aprendizagem e o aprimoramento do comportamento motor de forma global. Deve-se seguir alguns procedimentos e ter objetivos a alcançar no aprender. Em seu percurso natural de desenvolvimento (de acordo com a 5 cultura), a criança sai dos movimentos reflexos para a elaboração e o aprimoramento dos movimentos mais refinados e elaborados. Nesse processo, aparecem comportamentos de desenhar, escrever, pintar e criar com base em brinquedos móveis e outros. Toda essa questão se desenvolve na escola, e uma falha nesse processo impacta diretamente o aprender. O movimento não se restringe ao comportamento motor simples, mas envolve comunicação, interação social, criação e modificação do mundo; por meio do movimento o indivíduo transforma o mundo, e por meio dessa interação hácontribuição para maturação, desenvolvimento e aprimoramento das capacidades psicomotoras. O papel essencial da escola está em estimular o desenvolvimento neuropsicomotor da criança de diversas formas (lúdica, dinâmica e prática) para uma aprendizagem saudável de modo geral (Gomes, 1998, p. 50-53). TEMA 3 – NEUROPSICOMOTRICIDADE, DEFICIÊNCIA MOTORA E ATIVIDADE FÍSICA A atividade física tem grande responsabilidade nos processos do aprender, seja das crianças sadias ou das que apresentam algum tipo de déficit devido à dificuldade de aprendizagem ou lesão cerebral. No caso da Paralisia Cerebral (PC), por exemplo, há uma sequência de disfunções e defasagens que compromete as funções cognitivas, o comportamento e, inclusive, a maturação da motricidade. Explorar os ambientes em que o indivíduo está inserido coopera muito para o desenvolvimento da aprendizagem e para a motricidade. Um ambiente com estratégias de estimulação pode colaborar para a maturação biológica do engatinhar e do andar, por exemplo. Conforme Adolph e Berger (2006, p. 161-213), há estudos transculturais sobre estimulação motora que relatam a existência de dois contextos: pais que não propiciam um ambiente com estratégias de estimulação; ambientes em que os pais proporcionam estimulação desde os primeiros meses. O resultado desses estudos mostra que os ambientes com estratégias estimulavam as crianças a andar e a desenvolver o comportamento motor mais rápido e de forma saudável. No caso da PC, essa estimulação com base em atividades físicas pode melhorar o comportamento motor, amenizar comprometimentos cognitivos, ampliar a capacidade de diversas habilidades e a compensação em relação a déficits. Deve-se atentar para alguns contextos específicos quanto à atividade física: certas vezes, em relação às pessoas com deficiência, familiares e 6 educadores não exploram suas capacidades devido às limitações que elas apresentam, não cultivando suas habilidades. Com base nisso, sem estimulação de atividades físicas, todo o desenvolvimento neuropsicomotor – seja de crianças sadias, que não apresentam nenhuma deficiência em seu desenvolvimento, ou de crianças com defasagens e déficits decorrentes de lesão ou transtorno – é prejudicado, o que posteriormente afetará a aquisição de comportamentos motores. Esportes, de um modo geral, auxiliam e colaboram para o desenvolvimento saudável neuropsicomotor, pois exploram capacidades cognitivas e motoras, planejamento, coordenação motora, execução de movimento, coordenação motora fina, sequência de passos e movimentos, além de outras funções psicológicas que ajudam no aprimoramento dessas habilidades. Os esportes aquáticos têm grande importância para estimulação e reabilitação das capacidades humanas em relação ao comportamento motor. O novo ambiente de atividade leva o indivíduo a investir outro padrão de força, outra velocidade, desenvolvendo a coordenação dos movimentos de pernas, braços e mãos, o que ajuda a desenvolver a capacidade de movimento para outras atividades (escrever, andar, correr, andar de bicicleta), promovendo melhora nas rotinas diárias vivenciadas. A atividade aquática pode contribuir para uma vida saudável e mais adaptativa a diversos contextos (Teixeira-Arroyo; Garijo, 2007, p. 97-98). TEMA 4 – DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR NA MÚSICA O desenvolvimento neuropsicomotor estimulado pela musicalidade é muito eficaz no aprimoramento das capacidades humanas. Por meio da música é possível desenvolver motricidade, atenção, coordenação motora e desempenho cognitivo de um modo geral. O aprender por meio da música auxilia questões psicomotoras, pois envolve pensamento e comportamento motor. Uma criança que pratica dança desenvolve coordenação motora ao mesmo tempo em que se atenta aos movimentos, ao planejamento dos passos etc. A atividade lúdica musical para intervenção no processo de aprendizagem contribui muito para vivências no âmbito escolar, familiar, no lazer, nas atividades físicas etc. Destaca- se também que o alinhamento, a harmonia dos ritmos, as batidas e as melodias trabalham com o comportamento motor, pois, mesmo em situações nas quais há inabilidade motora, a prática musical proporciona, por exemplo, coordenação 7 motora fina para execução de movimentos mais elaborados, passos sequenciais, controle de respiração, assim como desenvolvimento de funções cognitivas, como coordenação viso-motora, atenção concentrada, atenção seletiva, atenção difusa, atenção alternada, memória de trabalho e muitas outras. A organização de inúmeros processos no contexto da aprendizagem musical contribui para aprendizagem, socialização, reabilitação cognitiva etc. Anatomicamente, a música desenvolve habilidades motoras relacionadas ao movimento de membros como braços, pernas, mãos, pés e cabeça, auxiliando no aprimoramento dos gestos mais refinados (Ferreira; Rubio, 2012, p. 2-7). A aprendizagem tem relação muito íntima com o descobrir de novas ações, percepções e formas de interagir com o mundo. A repetição dos movimentos proporciona a inter-relação entre conhecimento aprendido e execução de tarefas aprendidas e internalizadas, sendo peça fundamental para criar e transformar os processos de pensamento. Na escola, no que se refere à infância, vemos continuamente a música fazendo parte do aprender – de forma pedagógica e cultural – com o uso de cantigas de roda, de dinâmicas de grupo, além de outras atividades. Quando se trata de desenvolvimento biológico, especificamente de neurofisiologia e neuroanatomia, há uma relação integralizada entre a Música e a Neuropsicomotricidade. Existe um funcionamento interdependente dos hemisférios cerebrais (esquerdo e direito), com uma contribuição ativa da música do hemisfério direito, sendo as áreas de linguagem ativamente acessadas no hemisfério esquerdo, criando, com o córtex motor e pré-motor, uma harmonia entre esses processos do aprender e a música, desenvolvendo capacidades e habilidades de cada indivíduo (Junqueira; Fornari, 2015, p. 3-7). TEMA 5 – ATIVIDADE NEUROPSICOMOTORA, CRIATIVIDADE E JOGOS A atividade neuropsicomotora visa, dentre seus diversos objetivos, proporcionar e desenvolver a capacidade criativa de cada indivíduo, o que está inserido em todas as culturas por meio de trocas e interações, nas quais os processos de pensamento são estimulados na realidade vivenciada. Os jogos têm a funcionalidade de contribuir para o desenvolvimento social, cognitivo e motor dos indivíduos, entre outras capacidades mais. Para isso, é importante entender a definição de jogo e seus conceitos trabalhados no processo da educação. Tal definição pode variar, mas uma delas comenta que jogo é toda 8 e qualquer prática que tenha organização de regras, apresentadas como limitações e direcionamentos, com começo e fim pré-estabelecido pelos envolvidos na atividade. Os jogos, principalmente na infância, possuem papel muito importante para o preparo da vida adulta – até mesmo entre os animais isso é identificado: os filhotes brincam entre si como se isso fosse um preparo futuro para a caça (Santos, 2015, p. 13-14). O jogo também tem grande responsabilidade no desenvolvimento da capacidade de criatividade e imaginação. A capacidade intelectual é desenvolvida por meio de estimulações de ações, contextos, histórias, vivências, processos cognitivos, emoções, interações etc. Entende-se que os jogos contribuem para as relações interpessoais, o respeito e a convivência em grupo. As regras impostas nos jogos têm por objetivo mediar limites, diretamente reproduzidos em inúmeros contextos da vida adulta. Muitos hábitospodem ser desenvolvidos por meio dos jogos, gerando cooperação e trabalhos em grupo, empatia, afetividade e outras emoções, todas inseridas nos meios sociais. O jogo também aumenta as potencialidades analíticas, de planejamento, de controle inibitório, de autocontrole etc. (Santos, 2015, p. 14-15). Nesse contexto que inclui prática de jogos e comportamento motor, temos a Psicomotricidade Relacional, que consiste em interações voluntárias organizadas, não diretivas, exigindo muito da capacidade criativa, da imaginação, da flexibilidade de pensamentos e da tomada de decisão. As expressões emocionais, junto ao comportamento motor, desenvolvem-se e amadurecem por meio da atividade lúdica, ou pelos jogos; as interações fazem com que as emoções sejam exteriorizadas, seja no ato alegre de ganhar uma partida, seja na agressividade que se dá na preparação da estratégia do jogo ou na tristeza de quem deve refletir sobre uma derrota, recriando um planejamento para vencer em outro momento. Toda essa interação proporciona uma dinâmica de emoções, cognições, comportamento motor, coordenação motora fina, harmonia dos movimentos e de muitas outras capacidades, que serão reproduzidas em outras atividades em todos os âmbitos (escola, trabalho, lazer, família e qualquer meio no qual haja um princípio de regras, normas e execução de práticas com metas e objetivos a atingir) (Santos, 2015, p. 18-15). Desse modo, entende-se que o jogo é uma forma de promover o desenvolvimento das capacidades de imaginação e de criatividade alinhadas à sociabilização do indivíduo. Pais, educadores, professores e outros personagens 9 responsáveis pela contribuição ao desenvolvimento humano têm como ferramenta o jogo que, aplicado de forma eficiente e efetiva, exerce grande função no aprimoramento do aprender (Alves; Biachin, 2010, p. 282-287). FINALIZANDO Nesta aula, analisamos como a Neuropsicomotricidade contribui para o desenvolvimento humano não apenas de forma individual, no que tange a capacidades voltadas apenas ao processo biológico ou ao seu amadurecimento, mas auxiliando na interação relacionada ao desenvolvimento interpessoal. Diversos são os contextos beneficiados pela Neuropsicomotricidade: escolar, familiar, de lazer e de esporte, contribuindo para o desenvolvimento, na infância, de reflexos, maturação do pensamento, criatividade, imaginação, aperfeiçoamento de movimentos e aprimoramento de ações. Na adolescência, a relação entre pensamento e comportamento motor contribui para abstração, lógica, complexidade na resolução de problemas, relacionamentos interpessoais, emoções, elaboração de processos criativos e outras capacidades que passam por uma maturação exigida nessa fase. Por fim, na fase adulta, é possível identificar que infância e/ou adolescência estimuladas contribuem para uma vida profissional saudável, proporcionando interações, vivências e emoções refinadas, com capacidade de controle organizado desses processos. É importante identificar a relação entre o processo do aprender e sua contribuição para o comportamento motor e o pensamento, além de toda e qualquer atividade construída por meio do esporte, do brincar ou do jogo. Com base nessas atividades, tem-se uma funcionalidade dinâmica para o indivíduo, reproduzida da infância à vida adulta; tal manejo promove uma ligação entre diversos processos, sejam da ordem do pensamento ou do comportamento motor. 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