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AULA 02 desenvolvimento neuropsicomotor e aprendizagem

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AULA 2 
DESENVOLVIMENTO 
NEUROPSICOMOTOR E 
APRENDIZAGEM 
Prof. Everton Adriano de Morais 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nobres alunos, sejam bem-vindos à segunda aula sobre comportamento 
neuropsicomotor e aprendizagem. Para este momento, a discussão está pautada 
em conteúdos referentes a interações entre funções cognitivas e comportamento 
motor, em consideração ao aspecto gradual de como o ser humano aprende e 
apreende o conhecimento. Você já parou para pensar que digitar um texto envolve 
inúmeros processos cognitivos, além de linguagem e do próprio comportamento 
motor? Considere como a sua história de vida, o modo como se deu a construção 
do conhecimento a partir do contexto de vivências escolares, familiares e sociais, 
de um modo geral, faz com que você seja capaz de transportar, por exemplo, o 
símbolo de uma placa de trânsito para um conjunto semântico de fatores que 
influenciam a forma como você se porta diante de uma situação de tomada de 
decisão. 
 A descoberta do significado de direita e esquerda, horizontal e vertical, 
oriente e ocidente, qual dia você faz aniversário, quando ocorreu a queda das 
torres gêmeas estadunidenses, um número de telefone não anotado e 
posteriormente evocado – o que todas essas informações têm a ver com o 
aprender e com a motricidade? Direta ou indiretamente, informações mnemônicas 
acarretam em organização no espaço e no tempo; como isso acontece? Depende 
diretamente de como aprendemos. Assim, a aula que se inicia irá explorar os 
processos cognitivos interligados ao comportamento neuropsicomotor. 
CONTEXTUALIZANDO 
Dentre diversas teorias da aprendizagem voltadas a explicar o 
comportamento motor, podemos analisar a teoria walloniana. Essa teoria 
contribuiu significativamente, como suporte teórico, para a compreensão da 
dimensão social e afetiva do desenvolvimento em relação à aprendizagem e a 
motricidade, pois revelou a interação entre ambos os processos. Henri Wallon 
enfatizou de um modo especial a comunicação humana nos primeiros anos de 
vida, e sua maturação de um modo geral. Ele também deu enfoque à influência 
do meio social no desenvolvimento do ser humano, o que inclui o seu contexto 
histórico e social. 
De acordo com Guedes (2011), Wallon aborda, em sua teoria, temas como 
emoção, motricidade, formação da personalidade, linguagem, e pensamento. 
 
 
3 
Estuda o modo como aprendemos e a forma como o indivíduo desenvolve suas 
capacidades cognitivas e emocionais. 
Obviamente, há outras teorias da aprendizagem que também contribuem 
para a literatura quanto às fases do desenvolvimento e sua construção 
maturacional de motricidade, cognição e interação social. No decorrer desta aula, 
algumas delas serão comentadas e descritas, com a finalidade de mostrar a 
importância do comportamento motor, a forma como evolui e contribui com o 
funcionamento dos pensamentos, a criação de ideias e a coordenação motora 
fina. O objetivo desta aula é traçar uma correlação entre os temas propostos e a 
forma como o ser humano nasce, cresce e se desenvolve, considerando o 
aprender voltado ao brincar, ao estudar, ao relacionar-se, à vivência e ao 
compartilhamento do que é aprendido. Tudo isso com o suporte das teorias da 
aprendizagem e da motricidade. 
TEMA 1 – LUDICIDADE E PSICOMOTRICIDADE 
O comportamento motor é desenvolvido a partir de diversos fatores, entre 
eles a ludicidade. A psicomotricidade é conhecida por funções que são 
relacionadas a processos do pensamento, e isso envolve tanto emoção quanto 
cognição. Assim, de acordo com Silva e Haetinger (2013), o termo 
psicomotricidade tem por definição a ciência que tem por objeto de estudo o 
homem em seu desenvolvimento relacionado ao movimento, seja interno ou 
externo, incluindo aí a socialização e suas produções. 
 A educação psicomotora abrange aprendizagens progressivas, referentes 
a etapas do desenvolvimento do indivíduo que interferem diretamente nos 
aspectos cognitivos. O meio interno ou externo influencia diretamente na 
maturação da psicomotricidade, que se realiza em âmbitos diversos, como escola 
e casa, em atividades lúdicas nos mais diversos locais e ambientes. A participação 
de pais, adultos, professores e educadores em geral tem imensa importância 
nesse processo. Música, dança, práticas diversas de artes-educadoras, e 
atividades físicas em geral são a base para o desenvolvimento da vida motora de 
uma criança (Silva; Haetinger, 2013). 
Além da aprendizagem e da maturação biológica, a psicomotricidade 
produz uma melhora comportamental em cada indivíduo, pela socialização e 
adaptação ao mundo exterior, que se configuram como os principais e mais 
eficazes motivos para a progressão psicomotriz. Mas o que ocorre quando não há 
 
 
4 
desenvolvimento? Para entender esse ponto, é necessário analisar 
minuciosamente cada caso e propor uma reeducação psicomotora. Com isso, 
reeducar é também orientar o indivíduo a assimilar etapas que não foram 
desenvolvidas progressivamente; o mesmo vale para dificuldades relacionadas à 
coordenação de processos de pensamento e do comportamento motor. 
Para que ocorra pleno desenvolvimento, o brincar é de extrema 
importância: além de exercitar movimentos, contribui para criatividade, 
planejamento, tomada de decisão, cinestesia, entre outros processos do 
pensamento. As brincadeiras são as mais variadas e estão relacionadas com a 
cultura em que o indivíduo está inserido. A inteligência é outra questão a ser 
analisada, em especial a capacidade de lidar com as influências ambientais da 
família, da sociedade e da ação do próprio indivíduo na sua aprendizagem. 
Outra condição extremamente importante na aprendizagem psicomotora, 
que envolve o brincar intimamente, é o escrever. Esta condição tem como 
precursora a construção de símbolos e signos que contribuem para a transcrição 
de pensamentos, e dá espaço à criatividade. Este processo precede a transcrição, 
mas se dá concomitantemente ao simbólico, ao brincar e ao desenhar, em uma 
reconstrução contínua de pensamentos. Após este processo inicial, é atribuído 
um significado convencional e arbitrário ao produto, dando espaço à escrita; isso 
depende de todo um processo complexo, que não envolve apenas o 
comportamento psicomotor. Apesar da psicomotricidade ser precursora, 
posteriormente a criança desenvolve uma percepção conceitual, que varia 
conforme sua realidade. 
Dessa forma, pode-se considerar que o desenho ou o brincar trazem de 
forma precursora a ideia de linguagem escrita; para tal, são utilizados conceitos 
semânticos. Por exemplo, o ato de brincar com um pedaço de madeira pode 
indicar um boneco de brinquedo. A semelhança gestual com a escrita está em 
entender que o objeto atual denota um significado para uma determina ação, a 
qual posteriormente terá outro sentido; o mesmo se dá no processo semântico da 
escrita. Uma palavra traz um certo significado dentro de um contexto, mas em 
outro não (Maluf; Cardoso-Martins, 2013). 
A ludicidade é fundamentalmente importante às condições cognitivas, que 
se relacionam, por sua vez, ao comportamento motor. O brincar caracteriza-se 
como um preparo a movimentos complexos, à criatividade e ao desenvolvimento 
intelectual dos indivíduos. 
 
 
5 
TEMA 2 – PSICOGÊNESE, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO 
Wallon (1975) aprofundou seus estudos em uma pesquisa chamada 
Psicologia Genética, que trata da gênese dos processos psíquicos. O autor 
acreditava que determinadas situações precursoras do psiquismo podem ajudar 
a compreender a vida psíquica na sua totalidade, e que para tanto a observação 
é o principal método de pesquisa. 
Sua teoria partia do pressuposto de que ohomem não pode ser dividido 
em sociável e biológico, devido às exigências tanto do organismo quanto da 
sociedade, presentes na vida de todos. Por meio de tal conceito, concluía que o 
homem possui uma inteligência genética e organicamente social, e que isso 
ocorre devido à relação entre o ambiente social e questões biológicas, por meio 
da qual o indivíduo se constrói, por meio da reciprocidade e da interdependência 
com o meio. 
Após estudar o comportamento infantil, Wallon (1975) contextualizou as 
condutas das crianças com base no meio em que o sujeito vive, incluindo aspectos 
como a cultura, o social e o familiar, entre outros. Ele afirma que a condição e o 
meio em que a criança vive determinam o seu desenvolvimento. 
O desenvolvimento é visto em referência ao todo. Wallon (1975) 
compreende que o psiquismo da criança é desenvolvido de forma descontínua, 
carregando a marca de muitas contradições, devido às situações de maturação 
orgânica e à relação com o ambiente. A teoria walloniana se contrapõe à teoria 
chamada de linear, que propõe um desenvolvimento por etapas definidas e 
sequencias; nesta, os aspectos do processo não são superados por outros, porém 
podem ocorrer em outro momento da vida. Acredita-se que a idade da criança 
também estabelece uma determinada interação com o meio; assim, pode-se dizer 
que o meio não é estático ou homogêneo, mas sofre alterações, junto com o 
indivíduo. 
Todo esse processo ocorre porque a criança extrai recursos do meio de 
convívio para o seu desenvolvimento. Isso irá ocorrer conforme a competência e 
as necessidades específicas da criança nos momentos em que é exigida. Por 
razões culturais e ambientais, o sujeito tem uma dinâmica e um ritmo próprios, 
que Wallon chama de princípios funcionais, os quais agem como leis constantes. 
Nesse processo, há também a instalação de conflitos, que são chamados de 
 
 
6 
dinamogênicos. Os conflitos seriam os responsáveis pela propulsão do 
desenvolvimento. 
Tais conflitos podem ter origem exógena (com relação ao externo), entre o 
comportamento da criança e o ambiente, ou ter origem orgânica, o que 
corresponde à maturação infantil, sendo, portanto, endógenos (causas internas). 
Wallon também expõe que, na construção progressiva, há fases ora 
predominantemente afetivas, ora cognitivas; a isso ele dá o nome de 
predominância funcional. 
Wallon propõe cinco estágios essenciais, e cada um com suas 
especificidades: 
1. Impulsivo-emocional: Abrangência no primeiro ano de vida. Enfatiza a 
emoção (predomínio afetivo). 
2. Sensório motor e projetivo: Ocorre até o terceiro ano de vida; é a fase 
em que a criança se interessa pela exploração sensório-motora do mundo 
físico (predomínio cognitivo). 
3. Personalismo: Faixa etária dos três aos seis anos; construção da 
personalidade e consciência de si (predomínio afetivo). 
4. Categorial: Ênfase nos avanços intelectuais, que ocorre a partir dos seis 
anos; é quando a criança parte para a conquista do mundo exterior 
(predomínio cognitivo). 
5. Adolescência: Crises impõem a necessidade de novos contornos da 
personalidade. Mudanças corporais, questões existenciais e morais 
retornam à situação de predominância afetiva. 
Segundo Guedes (2011), o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem 
com sucessivas diferenciações entre os campos funcionais. Esse processo seria 
a chave da psicogenética proposta por Wallon, e orienta a formação da 
personalidade de forma mais ampla nos processos de aprendizagem. 
TEMA 3 – CONTRIBUIÇÕES DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET AO 
PROCESSO NEUROPSICOMOTOR 
A epistemologia genética é uma teoria elaborada por Jean Piaget. A 
epistemologia é um resumo de duas teorias existentes: apriorismo e empirismo. 
Para Piaget, o conhecimento não é algo inato ao indivíduo, como afirma o 
apriorismo. A epistemologia é utilizada comumente para designar o que 
 
 
7 
chamamos de teoria do conhecimento. Por meio dos processos de 
desenvolvimento e maturação biológica, se pode atingir uma formação para o 
aprender. Cada etapa passa por uma fase de construção interacional; tais fatores 
são importantes para a construção do conhecimento. Tanto nas fases de infância 
como na adolescência, o indivíduo está sujeito a interagir de forma crítica com o 
objeto, por meio de relacionamento interpessoal, mas também por influências 
diretas do crescimento orgânico, pelo exercício e pela experiência com o objeto 
(Lima; Bellini, 2017, p. 28-51). 
A criticidade clínica, por meio do interrogatório, faz-se necessária para a 
construção do conhecimento a partir da aprendizagem prática. Esta inclui a 
construção cognitiva e a do comportamento motor, como base ao 
desenvolvimento. Com isso, é importante desenvolver um aluno ativo, que busca 
interação não apenas com seu tutor/professor, mas na relação com outro aluno, 
de modo relacional e interacional, exercendo a capacidade de maturação que 
possui, para executar vários comportamentos. 
 Outro processo importante a ser avaliado é a construção da capacidade 
intelectual, pela interação do aluno, que se torna efetivamente um agente que 
estabelece objetos educacionais. Os processos cognitivos contribuem para a 
reciprocidade voltada aos relacionamentos humanos, bem como para 
capacidades de atenção, memória, socialização, autonomia e motricidade, as 
quais desempenham papel importante na formação do processo de 
aprendizagem. 
 Desta forma, pode-se considerar que o motivo de Piaget ter pesquisado o 
desenvolvimento humano (a partir do estudo e da observação de bebês, crianças 
e adolescentes) é por conceber este estudo como o mais apropriado para suas 
investigações a respeito da gênese do conhecimento. Ele visava, com isso, 
demonstrar empiricamente e explicar o seu modelo teórico de construção de 
inteligência. 
O comportamento motor está ligado aos estágios propostos por Piaget em 
sua teoria, desde o início, quando o autor retrata isso como uma condição reflexa, 
até o momento em que é considerado como mais reflexivo e formal, com a 
utilização de pensamentos mais abstratos. O fato, nesse caso, não corresponde 
apenas a agir, executar, abrir ou fechar a mão, pegar ou não um talher, executar 
um movimento de pressão, mas é algo mais refinado, elaborado e pensado muito 
 
 
8 
antes da efetivação. O processo cognitivo que permeia toda essa construção 
passa por fases que evoluem gradativamente. 
Pode-se perceber que, na fase sensório-motora (assim intitulada por 
Piaget), o movimento parte de uma inteligência prática. Isso quer dizer que a 
criança não utiliza linguagem para executar movimentos, pois traz a 
empregabilidade de atos a partir de percepções que possui. Com isso, vem o 
funcionamento de estruturações cerebrais, que são estimuladas produzindo um 
determinado mecanismo que varia de indivíduo para indivíduo. As ações e a 
maturação biológica das estruturas mentais estão diretamente ligadas quando o 
quesito é a aprendizagem; a cada exercício de estimulação, isso contribui para a 
formação das capacidades cognitivas e para o seu aprimoramento em um viés 
neuropsicomotor (Pádua, 2009, p. 22-35). 
TEMA 4 – APRENDIZAGEM E COORDENAÇÃO MOTORA FINA 
O comportamento motor possui algumas singularidades que são 
aprimoradas com o decorrer do desenvolvimento humano. Movimentos de 
coordenação motora grossa passam por aprimoramentos a partir de situações que 
exigem algo mais refinado, como por exemplo escrever, desenhar, replicar algum 
movimento de dança e agir dentro de uma determinada regra, o que é o caso de 
movimentos de esportes sincronizados. Mas como isso ocorre? Como se chega 
de uma motricidade toda desregulada ou desorganizada a uma açãoque respeita 
rigorosamente passos e sequências minuciosas e quase perfeitas? A partir de tais 
indagações, partimos para possíveis respostas, considerando o aprimoramento e 
o refinamento de comportamentos motores, da coordenação motora fina. 
 Em um nível estrutural biológico, temos áreas do sistema nervoso humano 
que regulam e coordenam os movimentos organizados e bem elaborados, que 
são considerados como sendo reproduzidos a partir de uma série de treinos e 
repetições, que variam de situação para situação. O cérebro e a medula espinhal 
têm um determinado objetivo, dentre muitos outros: o controle do comportamento 
motor (Neto, 2009, p. 27). Inicialmente, o comportamento motor voluntário, e de 
certo modo ainda rudimentar, é coordenado e executado pelos lobos frontal e 
parietal. Por exemplo, quando uma pessoa está aprendendo a escrever, existe 
uma exigência enorme nos cuidados, nos aprimoramentos e nas elaborações do 
comportamento motor fino. 
 
 
9 
 De acordo com Okuda et al. (2011), a coordenação motora fina é uma 
função que necessita de destreza para que sejam efetuadas ações com demanda 
de certa complexidade, com execução mais elaborada e aprimorada. A inabilidade 
na execução de movimentos que exigem coordenação é caracterizada pelos 
autores como Transtorno de Coordenação (TDC). Isso inclui não apenas 
movimentos finos, mas o desempenho motor de um modo geral. Outro ponto 
mencionado pelos autores é que a não execução do comportamento motor pode 
ocasionar diversos problemas de aprendizagem, além de causar inúmeras 
comorbidades, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), 
dislexia, disgrafia e outras condições que comprometem a aprendizagem devido 
a uma defasagem no sistema integrador que está envolvido nos processos de 
pensamento e na capacidade motora necessária ao aprender. 
Ou seja, um aluno pode apresentar mau desempenho escolar devido à 
dificuldade em escrever de forma correta. Por sua vez, isso pode ser decorrente 
de uma dificuldade na efetivação de comportamento motor, e não 
necessariamente ligado a causas diretamente psicológicas ou emocionais. 
Embora haja uma ligação entre os sistemas integradores no aprender, a raiz do 
problema muitas vezes não é cognitiva, mas reside na dificuldade de coordenação 
motora. 
TEMA 5 – PLASTICIDADE CEREBRAL E COMPORTAMENTO 
NEUROPSICOMOTOR 
O ser humano passa continuamente por processos de aprender e 
reaprender, e isso independente da demanda que precisa ser trabalhada. Um 
certo dia, alguém se deparou com um teclado de computador. As teclas estavam 
dispostas de uma maneira jamais vista: era o primeiro contato com o teclado 
intitulado qwerty. O primeiro contato para digitar foi relativamente lento, parecia 
que se estava “catando milho”. Com o passar do tempo, e com treino diário, a 
performance mudou. Havia uma regra que era cumprida para a utilização de todos 
os dedos. Por exemplo, as teclas “asdfg” eram digitadas com o dedo mínimo 
esquerdo para “a”, dedo anelar para “s”, o dedo médio para “d” e o indicador para 
“f” e “g”. E assim sucessivamente para os demais dedos das mãos, conforme a 
organização do teclado. A partir desse exemplo, temos uma explicação do 
processo de neuroplasticidade: as regiões que tinham uma certa forma de 
execução e coordenação tiveram que readaptar-se e reaprenderam a digitar. 
 
 
10 
 De acordo com Kandel et al. (2014, p. 643), o comportamento motor tem 
um processo de aprendizagem diretamente relacionado às funções de 
plasticidade do sistema nervoso. Isso resulta em uma consideração 
extremamente interessante sobre a plasticidade cerebral e a aprendizagem: por 
mais que esta fique mais complexa no decorrer da vida, e seja diminuída, não se 
extingue. As estruturas do sistema nervoso podem ser reorganizadas durante a 
vida, e isso traz uma evidência de que é possível aprender sempre, mesmo na 
velhice, fase do desenvolvimento em que é há possivelmente diversos 
comprometimentos por complicações de saúde (Guerra; Cosenza, 2011, p. 36). 
Quando se trata de sistema nervoso, a cada estudo, a cada leitura e pesquisa, 
descobre-se o quanto esta rede é complexa e o quanto é possível descobrir 
avanços a cada dia. A vida inteira, podemos realizar mudanças, as quais 
possibilitam novas aprendizagens. 
De acordo com Guerra e Cosenza (2011, p. 36), há dois períodos 
importantes para o desenvolvimento humano: o primeiro na fase dos primeiros 
dias de vida, logo após o nascimento, quando há um ajuste das células nervosas 
que irão se organizar para executar inúmeras funções. O segundo momento 
corresponde à fase da adolescência, quando há a poda neural de sinapses, ou 
seja, uma reorganização em todo o córtex cerebral. O organismo se reorganiza 
por causa de um aumento de mielinização, aprimorando os comportamentos já 
aprendidos. Segundo os mesmos autores, é como se o organismo estivesse 
preparando o adolescente para a vida adulta. 
 Algo extremamente interessante é o modo como o sistema nervoso – em 
qualquer fase do desenvolvimento, seja na infância (com um grande ritmo de 
ligação sináptica), ou na adolescência, ou até mesmo na aprendizagem um pouco 
mais lenta da velhice – é capaz aprender e reorganizar o aprendizado. Assim, é 
importante ressaltar que, com o passar do tempo, a agilidade da neuroplasticidade 
pode diminuir, mas ainda assim continua acontecendo. 
Outro ponto importante a respeito da reorganização das conexões 
cerebrais é que elas acontecem, porém dependem da complexidade da atividade 
desempenhada, e também da estrutura cerebral. Por exemplo, caso um paciente 
sofra uma lesão nas estruturas do lobo frontal, devido à complexidade dessa 
região do cérebro, a dificuldade de reorganização é grande, mas não quer dizer 
que não ocorra. Esse processo ocorre de outra forma com outras estruturas e 
regiões do cérebro, que não apresentam tanta dificuldade de reorganização. De 
 
 
11 
qualquer modo, tudo irá depender da estimulação e do modo como o indivíduo 
exercita a região que foi impactada. É preciso também considerar que há vários 
fatores a serem avaliados, os quais podem ser investigados por diversos 
profissionais. 
Abaixo, segue uma imagem ilustrativa de como as redes neuronais podem 
ser reorganizadas e rearranjadas a partir de treino e aprendizagem. 
Figura 1 – Descrição ilustrativa de uma rede neuronal (A) e sua reorganização por 
neuroplasticidade (B) 
 
Fonte: Guerra; Cosenza, 2011, p. 37. 
 Por meio da reorganização e da readaptação neuronal, é possível 
aprender, e isso em todos os níveis, desde um movimento motor simples até um 
novo idioma, com hieróglifos, ideogramas e outros símbolos não utilizados 
frequentemente. O desenvolvimento neuropsicomotor pode ser constantemente 
organizado, para chegar até um devido objetivo, que pode ser escrever, dirigir, 
operar uma máquina, entre outros processos. Algo comentado indiretamente, mas 
que é de suma importância mencionar, é que, apesar de a plasticidade cerebral 
envolver diversas estruturas biológicas, todo o processo está ligado também com 
a interação efetiva com o ambiente externo – estimulações, vivências, relações 
 
 
12 
interpessoais, enfim, o meio em que o indivíduo está, considerando também os 
responsáveis pela aprendizagem, como ela acontece etc. Entende-se que o 
aprender está ligado a uma contribuição biológica, que sofre influência do meio, o 
qual também é responsável pela reorganização e pela readaptação de novos 
comportamentos e aprendizagens. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, discorremos sobre o modo como o comportamento motor está 
ligado aos processos do aprender, desde as bases biológicas. Tal processo 
envolve todoo sistema nervoso, o que inclui capacidade emocional, afetiva, 
regulação e controle cognitivo, além de suas particularidades, da interação social 
e do lúdico. Fica evidente a necessidade de estimulação para que o indivíduo 
tenha uma aprendizagem saudável, conseguindo assimilar e acomodar novos e 
pertinentes conhecimentos. 
Cada fase, cada estrutura e faixa-etária tem sua particularidade no 
amadurecer. A ligação de diversos processos contribui para que o ser humano 
evolua e cresça em todos os sentidos. As relações interpessoais, em vários 
contextos, o desenvolvimento biológico, a maturação e o aperfeiçoamento de 
vivências trazem a cada ser humano, a cada dia, uma nova perspectiva. A partir 
disso, são possibilitadas novas aquisições de conhecimento. Outro ponto 
importante, que também trabalhamos, é a condição de aprender a todo momento 
ao longo da vida, mesmo que de forma lenta na velhice, ou de forma mais rápida 
na infância. Todas essas contribuições corroboram para a ideia de sequência das 
etapas do desenvolvimento. E, em se tratando do quesito neuropsicomotor, e da 
interação entre todas essas condições, ressaltamos a importância do 
aprimoramento e da interligação entre todas as estruturas, processo que 
proporciona uma aprendizagem funcional e saudável. 
LEITURA OBRIGATÓRIA 
Texto de abordagem teórica 
ALMEIDA, A. Ludicidade como instrumento pedagógico. 2009. Disponível: 
<http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 28 maio 2018. 
 
 
13 
BARDUCHI, A. L. J. et al. As concepções de desenvolvimento e aprendizagem na 
teoria psicogenética de Jean Piaget. Movimento e Percepção, Espírito Santo de 
Pinhal, SP, v. 4, n. 4/5, 2004. 
GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon: 
desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível 
em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES
_psicogenese.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018. 
 
 
 
14 
REFERÊNCIAS 
GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon: 
desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível 
em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES
_psicogenese.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018. 
GUERRA, L. B.; COSENZA, R. M. Neurociência e Educação: como o cérebro 
aprende. Porto Alegre, Artmed, p. 36-37, 2011. 
LIMA, E.; BELLINI, M. Implicações da Teoria de Piaget para a educação científica 
nas séries iniciais: contribuições do estudo sobre o conceito de adaptação à 
dimensão social do conhecimento. Schème-Revista Eletrônica de Psicologia e 
Epistemologia Genéticas, v. 8, n. 2, p. 28-51, 2017. 
MALUF, M. R.; CARDOSO-MARTINS, C. Alfabetização no século XXI: como se 
aprende a ler e a escrever. São Paulo: Penso, 2013. 
NETO, F. R. Manual de avaliação motora para terceira idade. Porto Alegre: 
Artmed, 2009. 
OKUDA, P. M. M. et al. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e 
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Revista CEFAC, p. 876-885, 
2011. 
PÁDUA, G. L. D. de. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista FACEVV, 
n. 2, p. 22-35, 2009. 
SILVA, D. V. da; HAETINGER, M. G. Ludicidade e psicomotricidade. Curitiba: 
IESDE, 2013. 
WALLON, H. Psicologia da Educação e da Infância. Lisboa, Portugal: Editorial 
Estampa, 1975.

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