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AULA 2 DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOMOTOR E APRENDIZAGEM Prof. Everton Adriano de Morais 2 CONVERSA INICIAL Nobres alunos, sejam bem-vindos à segunda aula sobre comportamento neuropsicomotor e aprendizagem. Para este momento, a discussão está pautada em conteúdos referentes a interações entre funções cognitivas e comportamento motor, em consideração ao aspecto gradual de como o ser humano aprende e apreende o conhecimento. Você já parou para pensar que digitar um texto envolve inúmeros processos cognitivos, além de linguagem e do próprio comportamento motor? Considere como a sua história de vida, o modo como se deu a construção do conhecimento a partir do contexto de vivências escolares, familiares e sociais, de um modo geral, faz com que você seja capaz de transportar, por exemplo, o símbolo de uma placa de trânsito para um conjunto semântico de fatores que influenciam a forma como você se porta diante de uma situação de tomada de decisão. A descoberta do significado de direita e esquerda, horizontal e vertical, oriente e ocidente, qual dia você faz aniversário, quando ocorreu a queda das torres gêmeas estadunidenses, um número de telefone não anotado e posteriormente evocado – o que todas essas informações têm a ver com o aprender e com a motricidade? Direta ou indiretamente, informações mnemônicas acarretam em organização no espaço e no tempo; como isso acontece? Depende diretamente de como aprendemos. Assim, a aula que se inicia irá explorar os processos cognitivos interligados ao comportamento neuropsicomotor. CONTEXTUALIZANDO Dentre diversas teorias da aprendizagem voltadas a explicar o comportamento motor, podemos analisar a teoria walloniana. Essa teoria contribuiu significativamente, como suporte teórico, para a compreensão da dimensão social e afetiva do desenvolvimento em relação à aprendizagem e a motricidade, pois revelou a interação entre ambos os processos. Henri Wallon enfatizou de um modo especial a comunicação humana nos primeiros anos de vida, e sua maturação de um modo geral. Ele também deu enfoque à influência do meio social no desenvolvimento do ser humano, o que inclui o seu contexto histórico e social. De acordo com Guedes (2011), Wallon aborda, em sua teoria, temas como emoção, motricidade, formação da personalidade, linguagem, e pensamento. 3 Estuda o modo como aprendemos e a forma como o indivíduo desenvolve suas capacidades cognitivas e emocionais. Obviamente, há outras teorias da aprendizagem que também contribuem para a literatura quanto às fases do desenvolvimento e sua construção maturacional de motricidade, cognição e interação social. No decorrer desta aula, algumas delas serão comentadas e descritas, com a finalidade de mostrar a importância do comportamento motor, a forma como evolui e contribui com o funcionamento dos pensamentos, a criação de ideias e a coordenação motora fina. O objetivo desta aula é traçar uma correlação entre os temas propostos e a forma como o ser humano nasce, cresce e se desenvolve, considerando o aprender voltado ao brincar, ao estudar, ao relacionar-se, à vivência e ao compartilhamento do que é aprendido. Tudo isso com o suporte das teorias da aprendizagem e da motricidade. TEMA 1 – LUDICIDADE E PSICOMOTRICIDADE O comportamento motor é desenvolvido a partir de diversos fatores, entre eles a ludicidade. A psicomotricidade é conhecida por funções que são relacionadas a processos do pensamento, e isso envolve tanto emoção quanto cognição. Assim, de acordo com Silva e Haetinger (2013), o termo psicomotricidade tem por definição a ciência que tem por objeto de estudo o homem em seu desenvolvimento relacionado ao movimento, seja interno ou externo, incluindo aí a socialização e suas produções. A educação psicomotora abrange aprendizagens progressivas, referentes a etapas do desenvolvimento do indivíduo que interferem diretamente nos aspectos cognitivos. O meio interno ou externo influencia diretamente na maturação da psicomotricidade, que se realiza em âmbitos diversos, como escola e casa, em atividades lúdicas nos mais diversos locais e ambientes. A participação de pais, adultos, professores e educadores em geral tem imensa importância nesse processo. Música, dança, práticas diversas de artes-educadoras, e atividades físicas em geral são a base para o desenvolvimento da vida motora de uma criança (Silva; Haetinger, 2013). Além da aprendizagem e da maturação biológica, a psicomotricidade produz uma melhora comportamental em cada indivíduo, pela socialização e adaptação ao mundo exterior, que se configuram como os principais e mais eficazes motivos para a progressão psicomotriz. Mas o que ocorre quando não há 4 desenvolvimento? Para entender esse ponto, é necessário analisar minuciosamente cada caso e propor uma reeducação psicomotora. Com isso, reeducar é também orientar o indivíduo a assimilar etapas que não foram desenvolvidas progressivamente; o mesmo vale para dificuldades relacionadas à coordenação de processos de pensamento e do comportamento motor. Para que ocorra pleno desenvolvimento, o brincar é de extrema importância: além de exercitar movimentos, contribui para criatividade, planejamento, tomada de decisão, cinestesia, entre outros processos do pensamento. As brincadeiras são as mais variadas e estão relacionadas com a cultura em que o indivíduo está inserido. A inteligência é outra questão a ser analisada, em especial a capacidade de lidar com as influências ambientais da família, da sociedade e da ação do próprio indivíduo na sua aprendizagem. Outra condição extremamente importante na aprendizagem psicomotora, que envolve o brincar intimamente, é o escrever. Esta condição tem como precursora a construção de símbolos e signos que contribuem para a transcrição de pensamentos, e dá espaço à criatividade. Este processo precede a transcrição, mas se dá concomitantemente ao simbólico, ao brincar e ao desenhar, em uma reconstrução contínua de pensamentos. Após este processo inicial, é atribuído um significado convencional e arbitrário ao produto, dando espaço à escrita; isso depende de todo um processo complexo, que não envolve apenas o comportamento psicomotor. Apesar da psicomotricidade ser precursora, posteriormente a criança desenvolve uma percepção conceitual, que varia conforme sua realidade. Dessa forma, pode-se considerar que o desenho ou o brincar trazem de forma precursora a ideia de linguagem escrita; para tal, são utilizados conceitos semânticos. Por exemplo, o ato de brincar com um pedaço de madeira pode indicar um boneco de brinquedo. A semelhança gestual com a escrita está em entender que o objeto atual denota um significado para uma determina ação, a qual posteriormente terá outro sentido; o mesmo se dá no processo semântico da escrita. Uma palavra traz um certo significado dentro de um contexto, mas em outro não (Maluf; Cardoso-Martins, 2013). A ludicidade é fundamentalmente importante às condições cognitivas, que se relacionam, por sua vez, ao comportamento motor. O brincar caracteriza-se como um preparo a movimentos complexos, à criatividade e ao desenvolvimento intelectual dos indivíduos. 5 TEMA 2 – PSICOGÊNESE, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Wallon (1975) aprofundou seus estudos em uma pesquisa chamada Psicologia Genética, que trata da gênese dos processos psíquicos. O autor acreditava que determinadas situações precursoras do psiquismo podem ajudar a compreender a vida psíquica na sua totalidade, e que para tanto a observação é o principal método de pesquisa. Sua teoria partia do pressuposto de que ohomem não pode ser dividido em sociável e biológico, devido às exigências tanto do organismo quanto da sociedade, presentes na vida de todos. Por meio de tal conceito, concluía que o homem possui uma inteligência genética e organicamente social, e que isso ocorre devido à relação entre o ambiente social e questões biológicas, por meio da qual o indivíduo se constrói, por meio da reciprocidade e da interdependência com o meio. Após estudar o comportamento infantil, Wallon (1975) contextualizou as condutas das crianças com base no meio em que o sujeito vive, incluindo aspectos como a cultura, o social e o familiar, entre outros. Ele afirma que a condição e o meio em que a criança vive determinam o seu desenvolvimento. O desenvolvimento é visto em referência ao todo. Wallon (1975) compreende que o psiquismo da criança é desenvolvido de forma descontínua, carregando a marca de muitas contradições, devido às situações de maturação orgânica e à relação com o ambiente. A teoria walloniana se contrapõe à teoria chamada de linear, que propõe um desenvolvimento por etapas definidas e sequencias; nesta, os aspectos do processo não são superados por outros, porém podem ocorrer em outro momento da vida. Acredita-se que a idade da criança também estabelece uma determinada interação com o meio; assim, pode-se dizer que o meio não é estático ou homogêneo, mas sofre alterações, junto com o indivíduo. Todo esse processo ocorre porque a criança extrai recursos do meio de convívio para o seu desenvolvimento. Isso irá ocorrer conforme a competência e as necessidades específicas da criança nos momentos em que é exigida. Por razões culturais e ambientais, o sujeito tem uma dinâmica e um ritmo próprios, que Wallon chama de princípios funcionais, os quais agem como leis constantes. Nesse processo, há também a instalação de conflitos, que são chamados de 6 dinamogênicos. Os conflitos seriam os responsáveis pela propulsão do desenvolvimento. Tais conflitos podem ter origem exógena (com relação ao externo), entre o comportamento da criança e o ambiente, ou ter origem orgânica, o que corresponde à maturação infantil, sendo, portanto, endógenos (causas internas). Wallon também expõe que, na construção progressiva, há fases ora predominantemente afetivas, ora cognitivas; a isso ele dá o nome de predominância funcional. Wallon propõe cinco estágios essenciais, e cada um com suas especificidades: 1. Impulsivo-emocional: Abrangência no primeiro ano de vida. Enfatiza a emoção (predomínio afetivo). 2. Sensório motor e projetivo: Ocorre até o terceiro ano de vida; é a fase em que a criança se interessa pela exploração sensório-motora do mundo físico (predomínio cognitivo). 3. Personalismo: Faixa etária dos três aos seis anos; construção da personalidade e consciência de si (predomínio afetivo). 4. Categorial: Ênfase nos avanços intelectuais, que ocorre a partir dos seis anos; é quando a criança parte para a conquista do mundo exterior (predomínio cognitivo). 5. Adolescência: Crises impõem a necessidade de novos contornos da personalidade. Mudanças corporais, questões existenciais e morais retornam à situação de predominância afetiva. Segundo Guedes (2011), o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem com sucessivas diferenciações entre os campos funcionais. Esse processo seria a chave da psicogenética proposta por Wallon, e orienta a formação da personalidade de forma mais ampla nos processos de aprendizagem. TEMA 3 – CONTRIBUIÇÕES DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET AO PROCESSO NEUROPSICOMOTOR A epistemologia genética é uma teoria elaborada por Jean Piaget. A epistemologia é um resumo de duas teorias existentes: apriorismo e empirismo. Para Piaget, o conhecimento não é algo inato ao indivíduo, como afirma o apriorismo. A epistemologia é utilizada comumente para designar o que 7 chamamos de teoria do conhecimento. Por meio dos processos de desenvolvimento e maturação biológica, se pode atingir uma formação para o aprender. Cada etapa passa por uma fase de construção interacional; tais fatores são importantes para a construção do conhecimento. Tanto nas fases de infância como na adolescência, o indivíduo está sujeito a interagir de forma crítica com o objeto, por meio de relacionamento interpessoal, mas também por influências diretas do crescimento orgânico, pelo exercício e pela experiência com o objeto (Lima; Bellini, 2017, p. 28-51). A criticidade clínica, por meio do interrogatório, faz-se necessária para a construção do conhecimento a partir da aprendizagem prática. Esta inclui a construção cognitiva e a do comportamento motor, como base ao desenvolvimento. Com isso, é importante desenvolver um aluno ativo, que busca interação não apenas com seu tutor/professor, mas na relação com outro aluno, de modo relacional e interacional, exercendo a capacidade de maturação que possui, para executar vários comportamentos. Outro processo importante a ser avaliado é a construção da capacidade intelectual, pela interação do aluno, que se torna efetivamente um agente que estabelece objetos educacionais. Os processos cognitivos contribuem para a reciprocidade voltada aos relacionamentos humanos, bem como para capacidades de atenção, memória, socialização, autonomia e motricidade, as quais desempenham papel importante na formação do processo de aprendizagem. Desta forma, pode-se considerar que o motivo de Piaget ter pesquisado o desenvolvimento humano (a partir do estudo e da observação de bebês, crianças e adolescentes) é por conceber este estudo como o mais apropriado para suas investigações a respeito da gênese do conhecimento. Ele visava, com isso, demonstrar empiricamente e explicar o seu modelo teórico de construção de inteligência. O comportamento motor está ligado aos estágios propostos por Piaget em sua teoria, desde o início, quando o autor retrata isso como uma condição reflexa, até o momento em que é considerado como mais reflexivo e formal, com a utilização de pensamentos mais abstratos. O fato, nesse caso, não corresponde apenas a agir, executar, abrir ou fechar a mão, pegar ou não um talher, executar um movimento de pressão, mas é algo mais refinado, elaborado e pensado muito 8 antes da efetivação. O processo cognitivo que permeia toda essa construção passa por fases que evoluem gradativamente. Pode-se perceber que, na fase sensório-motora (assim intitulada por Piaget), o movimento parte de uma inteligência prática. Isso quer dizer que a criança não utiliza linguagem para executar movimentos, pois traz a empregabilidade de atos a partir de percepções que possui. Com isso, vem o funcionamento de estruturações cerebrais, que são estimuladas produzindo um determinado mecanismo que varia de indivíduo para indivíduo. As ações e a maturação biológica das estruturas mentais estão diretamente ligadas quando o quesito é a aprendizagem; a cada exercício de estimulação, isso contribui para a formação das capacidades cognitivas e para o seu aprimoramento em um viés neuropsicomotor (Pádua, 2009, p. 22-35). TEMA 4 – APRENDIZAGEM E COORDENAÇÃO MOTORA FINA O comportamento motor possui algumas singularidades que são aprimoradas com o decorrer do desenvolvimento humano. Movimentos de coordenação motora grossa passam por aprimoramentos a partir de situações que exigem algo mais refinado, como por exemplo escrever, desenhar, replicar algum movimento de dança e agir dentro de uma determinada regra, o que é o caso de movimentos de esportes sincronizados. Mas como isso ocorre? Como se chega de uma motricidade toda desregulada ou desorganizada a uma açãoque respeita rigorosamente passos e sequências minuciosas e quase perfeitas? A partir de tais indagações, partimos para possíveis respostas, considerando o aprimoramento e o refinamento de comportamentos motores, da coordenação motora fina. Em um nível estrutural biológico, temos áreas do sistema nervoso humano que regulam e coordenam os movimentos organizados e bem elaborados, que são considerados como sendo reproduzidos a partir de uma série de treinos e repetições, que variam de situação para situação. O cérebro e a medula espinhal têm um determinado objetivo, dentre muitos outros: o controle do comportamento motor (Neto, 2009, p. 27). Inicialmente, o comportamento motor voluntário, e de certo modo ainda rudimentar, é coordenado e executado pelos lobos frontal e parietal. Por exemplo, quando uma pessoa está aprendendo a escrever, existe uma exigência enorme nos cuidados, nos aprimoramentos e nas elaborações do comportamento motor fino. 9 De acordo com Okuda et al. (2011), a coordenação motora fina é uma função que necessita de destreza para que sejam efetuadas ações com demanda de certa complexidade, com execução mais elaborada e aprimorada. A inabilidade na execução de movimentos que exigem coordenação é caracterizada pelos autores como Transtorno de Coordenação (TDC). Isso inclui não apenas movimentos finos, mas o desempenho motor de um modo geral. Outro ponto mencionado pelos autores é que a não execução do comportamento motor pode ocasionar diversos problemas de aprendizagem, além de causar inúmeras comorbidades, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, disgrafia e outras condições que comprometem a aprendizagem devido a uma defasagem no sistema integrador que está envolvido nos processos de pensamento e na capacidade motora necessária ao aprender. Ou seja, um aluno pode apresentar mau desempenho escolar devido à dificuldade em escrever de forma correta. Por sua vez, isso pode ser decorrente de uma dificuldade na efetivação de comportamento motor, e não necessariamente ligado a causas diretamente psicológicas ou emocionais. Embora haja uma ligação entre os sistemas integradores no aprender, a raiz do problema muitas vezes não é cognitiva, mas reside na dificuldade de coordenação motora. TEMA 5 – PLASTICIDADE CEREBRAL E COMPORTAMENTO NEUROPSICOMOTOR O ser humano passa continuamente por processos de aprender e reaprender, e isso independente da demanda que precisa ser trabalhada. Um certo dia, alguém se deparou com um teclado de computador. As teclas estavam dispostas de uma maneira jamais vista: era o primeiro contato com o teclado intitulado qwerty. O primeiro contato para digitar foi relativamente lento, parecia que se estava “catando milho”. Com o passar do tempo, e com treino diário, a performance mudou. Havia uma regra que era cumprida para a utilização de todos os dedos. Por exemplo, as teclas “asdfg” eram digitadas com o dedo mínimo esquerdo para “a”, dedo anelar para “s”, o dedo médio para “d” e o indicador para “f” e “g”. E assim sucessivamente para os demais dedos das mãos, conforme a organização do teclado. A partir desse exemplo, temos uma explicação do processo de neuroplasticidade: as regiões que tinham uma certa forma de execução e coordenação tiveram que readaptar-se e reaprenderam a digitar. 10 De acordo com Kandel et al. (2014, p. 643), o comportamento motor tem um processo de aprendizagem diretamente relacionado às funções de plasticidade do sistema nervoso. Isso resulta em uma consideração extremamente interessante sobre a plasticidade cerebral e a aprendizagem: por mais que esta fique mais complexa no decorrer da vida, e seja diminuída, não se extingue. As estruturas do sistema nervoso podem ser reorganizadas durante a vida, e isso traz uma evidência de que é possível aprender sempre, mesmo na velhice, fase do desenvolvimento em que é há possivelmente diversos comprometimentos por complicações de saúde (Guerra; Cosenza, 2011, p. 36). Quando se trata de sistema nervoso, a cada estudo, a cada leitura e pesquisa, descobre-se o quanto esta rede é complexa e o quanto é possível descobrir avanços a cada dia. A vida inteira, podemos realizar mudanças, as quais possibilitam novas aprendizagens. De acordo com Guerra e Cosenza (2011, p. 36), há dois períodos importantes para o desenvolvimento humano: o primeiro na fase dos primeiros dias de vida, logo após o nascimento, quando há um ajuste das células nervosas que irão se organizar para executar inúmeras funções. O segundo momento corresponde à fase da adolescência, quando há a poda neural de sinapses, ou seja, uma reorganização em todo o córtex cerebral. O organismo se reorganiza por causa de um aumento de mielinização, aprimorando os comportamentos já aprendidos. Segundo os mesmos autores, é como se o organismo estivesse preparando o adolescente para a vida adulta. Algo extremamente interessante é o modo como o sistema nervoso – em qualquer fase do desenvolvimento, seja na infância (com um grande ritmo de ligação sináptica), ou na adolescência, ou até mesmo na aprendizagem um pouco mais lenta da velhice – é capaz aprender e reorganizar o aprendizado. Assim, é importante ressaltar que, com o passar do tempo, a agilidade da neuroplasticidade pode diminuir, mas ainda assim continua acontecendo. Outro ponto importante a respeito da reorganização das conexões cerebrais é que elas acontecem, porém dependem da complexidade da atividade desempenhada, e também da estrutura cerebral. Por exemplo, caso um paciente sofra uma lesão nas estruturas do lobo frontal, devido à complexidade dessa região do cérebro, a dificuldade de reorganização é grande, mas não quer dizer que não ocorra. Esse processo ocorre de outra forma com outras estruturas e regiões do cérebro, que não apresentam tanta dificuldade de reorganização. De 11 qualquer modo, tudo irá depender da estimulação e do modo como o indivíduo exercita a região que foi impactada. É preciso também considerar que há vários fatores a serem avaliados, os quais podem ser investigados por diversos profissionais. Abaixo, segue uma imagem ilustrativa de como as redes neuronais podem ser reorganizadas e rearranjadas a partir de treino e aprendizagem. Figura 1 – Descrição ilustrativa de uma rede neuronal (A) e sua reorganização por neuroplasticidade (B) Fonte: Guerra; Cosenza, 2011, p. 37. Por meio da reorganização e da readaptação neuronal, é possível aprender, e isso em todos os níveis, desde um movimento motor simples até um novo idioma, com hieróglifos, ideogramas e outros símbolos não utilizados frequentemente. O desenvolvimento neuropsicomotor pode ser constantemente organizado, para chegar até um devido objetivo, que pode ser escrever, dirigir, operar uma máquina, entre outros processos. Algo comentado indiretamente, mas que é de suma importância mencionar, é que, apesar de a plasticidade cerebral envolver diversas estruturas biológicas, todo o processo está ligado também com a interação efetiva com o ambiente externo – estimulações, vivências, relações 12 interpessoais, enfim, o meio em que o indivíduo está, considerando também os responsáveis pela aprendizagem, como ela acontece etc. Entende-se que o aprender está ligado a uma contribuição biológica, que sofre influência do meio, o qual também é responsável pela reorganização e pela readaptação de novos comportamentos e aprendizagens. FINALIZANDO Nesta aula, discorremos sobre o modo como o comportamento motor está ligado aos processos do aprender, desde as bases biológicas. Tal processo envolve todoo sistema nervoso, o que inclui capacidade emocional, afetiva, regulação e controle cognitivo, além de suas particularidades, da interação social e do lúdico. Fica evidente a necessidade de estimulação para que o indivíduo tenha uma aprendizagem saudável, conseguindo assimilar e acomodar novos e pertinentes conhecimentos. Cada fase, cada estrutura e faixa-etária tem sua particularidade no amadurecer. A ligação de diversos processos contribui para que o ser humano evolua e cresça em todos os sentidos. As relações interpessoais, em vários contextos, o desenvolvimento biológico, a maturação e o aperfeiçoamento de vivências trazem a cada ser humano, a cada dia, uma nova perspectiva. A partir disso, são possibilitadas novas aquisições de conhecimento. Outro ponto importante, que também trabalhamos, é a condição de aprender a todo momento ao longo da vida, mesmo que de forma lenta na velhice, ou de forma mais rápida na infância. Todas essas contribuições corroboram para a ideia de sequência das etapas do desenvolvimento. E, em se tratando do quesito neuropsicomotor, e da interação entre todas essas condições, ressaltamos a importância do aprimoramento e da interligação entre todas as estruturas, processo que proporciona uma aprendizagem funcional e saudável. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica ALMEIDA, A. Ludicidade como instrumento pedagógico. 2009. Disponível: <http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 28 maio 2018. 13 BARDUCHI, A. L. J. et al. As concepções de desenvolvimento e aprendizagem na teoria psicogenética de Jean Piaget. Movimento e Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v. 4, n. 4/5, 2004. GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon: desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES _psicogenese.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018. 14 REFERÊNCIAS GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon: desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES _psicogenese.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018. GUERRA, L. B.; COSENZA, R. M. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre, Artmed, p. 36-37, 2011. LIMA, E.; BELLINI, M. Implicações da Teoria de Piaget para a educação científica nas séries iniciais: contribuições do estudo sobre o conceito de adaptação à dimensão social do conhecimento. Schème-Revista Eletrônica de Psicologia e Epistemologia Genéticas, v. 8, n. 2, p. 28-51, 2017. MALUF, M. R.; CARDOSO-MARTINS, C. Alfabetização no século XXI: como se aprende a ler e a escrever. São Paulo: Penso, 2013. NETO, F. R. Manual de avaliação motora para terceira idade. Porto Alegre: Artmed, 2009. OKUDA, P. M. M. et al. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Revista CEFAC, p. 876-885, 2011. PÁDUA, G. L. D. de. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista FACEVV, n. 2, p. 22-35, 2009. SILVA, D. V. da; HAETINGER, M. G. Ludicidade e psicomotricidade. Curitiba: IESDE, 2013. WALLON, H. Psicologia da Educação e da Infância. Lisboa, Portugal: Editorial Estampa, 1975.
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