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Resenha Sociologia Preeminencia da Mão Direita

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UFRJ
Curso: Nutrição
Disciplina: Sociologia
Professora: Yolanda G Ribeiro
Aluna: Ivete de Souza
Análise Critica:
 A PREEMINÊNCIA DA MÃO DIREITA: UM ESTUDO SOBRE A POLARIDADE RELIGIOSA Robert Hertz
O texto de Mauss trata-se de como indivíduo condiciona o seu corpo a uma forte causa fisico-psico-sociológica. Já o texto de Hertz, é possível dizer que complementa o texto de Mauss, pois se trata da desigualdade entre o uso das duas mãos direita e esquerda.
Primeiramente falaremos do texto de Mauss. Nesse texto o autor procura evidenciar como a atitude corporal muda de acordo com cada sociedade, ou seja, cada sociedade tem hábitos que lhes são próprios. Para evidenciar bem suas idéias, o autor utilizou vários exemplos, como o da posição das mãos ao sentar-se a mesa: "Se uma criança senta-se a mesa com os cotovelos junto ao corpo, e quando não estão comendo com as mãos no joelho, é inglesa. Porém o jovem francês já não sabe mais se dominar, pois ele abre os cotovelos em leques, apoia-os sobre a mesa e assim por diante.”. Hábitos como esses não variam apenas com indivíduos e suas respectivas imitações, na verdade, estão ligadas as sociedades, as educações, as conveniências e as modas, com os prestígios. Segundo Mauss, é preciso ver técnicas e a obra da razão prática coletiva e individual, ali de onde e ordinário vêem apenas a alma e suas faculdades de repetição.
 Hertz complementa as idéias de Mauss em relação a esse condicionamento do corpo de acordo com a sociedade, pois o autor levanta a questão do uso das mãos de maneira desigual. A mão direita é a mais prestigiada, é o símbolo e modelo de toda a aristocracia, enquanto a mão esquerda é a desprezada, a rejeitada e simboliza apenas uma simples auxiliar a direita. O autor mostra que esse condicionamento ao uso das mãos se dá pela sociedade, pois o indivíduo desde a sua infância é educado para utilizar apenas a mão direita. Contudo, em algumas sociedades o uso da mão esquerda não aparece tão menosprezado e rejeitado, como por exemplo, nas Índias Holandesas em que as crianças têm o braço direito completamente amarrado, para ensinar-lhes a não utilizá-los.
 O texto ainda nos relata que em algumas escolas inglesas e americanas utilizam-se de métodos bi manuais e que, portanto a mão esquerda não é fraca ou sem poder, ao contrário, o que realmente implica é o fato de que ser canhoto é quase que uma infração e que para o infrator traz uma séria reprovação social mais ou menos explícita. Porém, por que ser canhoto é tão inadequado? Hertz atenta para a polaridade religiosa, que ao longo de toda a sua história vem tratando o lado direito como o sagrado e puro, e o lado esquerdo como o profano e o impuro, ou seja, o lado direito é divino, enquanto o esquerdo é o demoníaco. Atrelado ao fato religioso também está a divisão por sexo, em geral, o homem é sagrado e a mulher é profana. "Todo o mal, miséria e morte, vem do elemento feminino", assim diz um advérbio da tribo Maori. Ainda recorrendo ao campo sagrado, a direita é tido como o interior, o finito, o bem-estar assegurado e a paz. Já a esquerda é o exterior, o infinito hostil e ameaça perpétua do mal.
 O autor finaliza seu discurso nos mostrando que a distinção entre o bem e o mal, que por muito tempo foi solidária com a antítese entre o direito e o esquerdo não desaparecerão de nossa consciência no momento em que a mão esquerda fizer uma contribuição mais efetiva ao trabalho e for capaz, ocasionalmente, de tomar o lugar da mão direita. Contudo se a coação de um ideal místico foi capaz por muitos séculos de fazer o homem um ser unilateral, fisiologicamente mutilado, uma comunidade liderada e perspicaz se empenhará em desenvolver melhor energias adormecidas no seu lado esquerdo e no nosso hemisfério cerebral direito, e em assegurar por um treino apropriado, um desenvolvimento mais harmonioso do organismo.
Enfim, é possível afirma que o texto de ambos os autores se complementam, pois Marcel Mauss atento para as práticas corporais que são condicionadas variando de sociedade para sociedade e Robert Hertz através de seu texto apresenta-nos como a prática corporal do uso da mão direita é “manipulada" pela sociedade, enquanto a mão esquerda é deixada de lado e quase que esquecida. Esses dois autores nos fazem refletir sobre como nosso corpo é condicionado a agir mediante o padrão que a sociedade nos impõe, como pequenas técnicas nos diferenciam de indivíduos de outra sociedade e como não percebemos que nossos corpos estão sujeitos a, diga-se de passagem, toda uma manipulação que não percebemos, ou nos recusamos a perceber mesmo diante de tantos fatos evidenciados, como nos dois textos aqui citados. Podemos concluir que, nossos corpos, assim como são manipulados pela sociedade, como no caso das mãos direitas e esquerdas, podem adaptar-se aquilo que estamos dispostos a submetê-lo e tudo depende apenas de nossos próprios treinamentos e de nossas próprias técnicas corporais.
Referências:
MAUSS, Marcel. Técnicas Corporais. 1934··HERTZ Robert. A Preeminência da Mão Direita: Um Estudo Sobre a Polaridade Religiosa. In: Religião e Sociedade. Rio de Janeiro: Tempo e Presença. n.6, pp. 99-128, 1980
Marcel Mauss, - um sociólogo e antropólogo francês, sobrinho de Émile Durkheim, considerado como o "pai" da etnologia francesa - e Robert Hertz, - jovem antropólogo francês, estudante e amigo de Marcel Mauss, morto prematuramente durante a Primeira Guerra Mundial.

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