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Resenha: Coronelismo enxada e voto - Victor Nunes Leal

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Resenha: Coronelismo, enxada e voto (Victor Nunes Leal)
 Coronelismo, enxada e voto foi a primeira obra a traçar uma análise sistêmica da política brasileira, ao buscar tentar esclarecer as interconexões entre as três esferas do poder político na República Velha: a federal, a estadual e a municipal; superando a fase do ensaísmo e constituindo-se na primeira obra importante da moderna sociologia brasileira.
 Publicada em 1949, a obra de Victor Nunes Leal rompeu com a tríade do pensamento social brasileiro dos anos 30, que se caracterizou pelo foco nas características do período colonial (latifúndio, monocultura e escravidão) e dedicou-se a analisar um fenômeno tipicamente da Primeira república: o coronelismo.
 Na concepção do autor, o coronelismo, longe de ser um fenômeno simples, revestia-se de complexidade, pois envolvia uma teia de relações políticas cujo alcance ia muito além da esfera municipal.
 Para nunes leal, o coronelismo foi um fenômeno sócio-político tipicamente da primeira República, no âmbito da qual foi ampliado foi ampliado o sistema eleitoral-representativo e sobreposto a uma estrutura social e econômica arcaica. Ainda segundo o autor, o novo sistema eleitoral baseava-se na presença e no fortalecimento dos municípios na base da nova estrutura política adotada na Primeira república.
 Ou seja, segundo o autor, com o advento da primeira república foi instituído um sistema eleitoral-representativo que ampliou o direito ao voto sem que a estrutura econômica e social do país fosse adequada, tendo em vista que a maioria da população vivia em zonas rurais e pequenas cidades do interior, sobrevivendo à sombra da grande propriedade, onde o poder público, e a débil burocracia estatal não tinha penetração, o que fez crescer enormemente a influência dos poderes locais. Nessas circunstâncias, a rarefação do poder público abriu espaço para o poder privado.
 Nesse sentido, segundo o autor, o coronelismo não foi uma mera “hipertrofia” do poder privado (patrimonialismo), mas sim uma fase específica da evolução política do povo brasileiro.
 Assim, com a ampliação do sistema representativo instituído na Primeira república os poderes estaduais e federais tiveram que se articular, nas suas composições políticas, com as lideranças locais, da qual vão depender, graças à sua capacidade de arregimentar votos de cabresto nas eleições estaduais e federas.
 Ainda segundo o autor, apesar de decadentes, os coronéis continuavam a gozar de prestígio e influência, a nível local, sobre uma massa pobre e miserável de dependentes, formada por rendeiros, agregados e trabalhadores, sem instrução e sem recursos, a quem o coronel socorria com toda sorte de favores e granjeava lealdade e obediência. Nesse sentido, o coronel resumia em sua pessoa importantes funções sociais (oficialmente ou não), funções de caráter público, assistencial e mesmo de caráter policial. Logo, o coronel era um elemento primário da liderança local, e comandava discricionariamente um lote considerável de “votos de cabresto”; daí passou a ser instrumento fundamental do arranjo político a níveis estadual e federal, sendo levado a apoiar sempre os grupos políticos que ocupavam sempre a condição de situação a nível estadual e federal, em troca da capacidade de distribuir favores e empregos aos seus correligionários. 
 Dessa condição resultava a prática do paternalismo e do filhotismo (distribuição de favores, benesses, proteção e cargos públicos) e do mandonismo, caracterizado pela negação de favores e perseguição aos adversários políticos, levando o coronel a operar na fronteira entre o público e o privado.
 Assim, o coronel eras uma importante peça de uma engrenagem política baseado num sistema de reciprocidade: de um lado os seus dependentes e cliente (eleitores de cabresto) e do outro lado a situação política estadual, que possuía o erário, 0s empregos e o poder de polícia, “o cofre da graça ou o poder da desgraça”. Daí resulta que a base do poder coronelístico resultava de sua capacidade de distribuir benefícios e de exercer coação entre os seus dependentes por votos de cabresto, numa relação baseada em laços pessoais de homem a homem. Por outro lado, a reciprocidade entre o coronel e a ”situação política” o levava, sempre que possível, a apoiar o governo, ou seja, a “situação” política nos estados, servindo também à política de compromissos do governo federal em relação ao estadual.
 Ainda segundo o autor, a essência do compromisso coronelista era o apoio incondicional dos chefes locais aos candidatos da “situação” estadual e federal; e da parte da “situação” estadual era “carta branca” aos chefes locais e apoio aos candidatos federais. Contudo, segundo o autor, a hipertrofia do papel político-eleitoral do coronel não se refletia da sua força, mas sim mas sim da sua fraqueza, de sua decadência e do progressivo fortalecimento do poder público.
 Cercado da sua clientela e capangas, o coronel, não raro, era tido como benfeitor e exercia funções de estado entre os seus dependentes. Também arcava com as despesas eleitorais, realizava obras em benefício do seu município, e até vestia e calçava a sua clientela, que naturalmente estava propensa a seguir lhe os ditames; contribuía para isso o fato de não terem consciência política e de serem indiferentes ao voto.
 Assim, segundo VNL, o coronelismo correspondeu a uma fase especial de relacionamento entre os estados e os municípios. Ele correspondeu a uma política de compromissos entre o poder público, em processo de fortalecimento, e o poder privado, baseado na decadente influência dos chefes locais; e derivou-se, sobretudo, da falta de autonomia dos municípios.
 Contudo, ainda segundo o autor, o coronelismo é antes sintoma da decadência do que da manifestação de vitalidade dos senhores rurais, pois é do sacrifício da autonomia rural que ele (o coronelismo) se alimenta.
 Por fim, o autor conclui que o coronelismo se assenta sobre duas fraquezas: a do coronel decadente e a fraqueza dos seus apaniguados.

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