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CTS Impactos sociais da dinâmica de CTS

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IMPACTOS SOCIAIS DO 
DESENVOLVIMENTO 
CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO 
 
 
 
 
 
 
Curso de Atualização 
GERÊNCIA DA TECNOLOGIA 
E DA INOVAÇÃO 
 
 
 
 
Prof. Waldimir Pirró e Longo, Engº. Metalúrgico, M.E., Ph.D., L.D., Prof. Titular 
 
 
IMPACTOS SOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO1 
 
Waldimir Pirró e Longo, Ph.D., L.D. 
 
1. O CENÁRIO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, PRODUÇÃO E TRABALHO 
 
Desde o seu surgimento na face da Terra, o homem tem procurado transformar a 
ambiência e as disponibilidades naturais da mesma no sentido de atender os seus desejos mais 
profundos, quase nunca explicitados, dentre os quais encontram-se: viver mais, trabalhar 
menos e com menor esforço físico, não sofrer (principalmente não sentir sede, fome e dor), 
ter mais prazer (tempo disponível para o lazer), preservar a espécie e ter poder para impor a 
sua vontade (1). A partir do final do século dezenove, as transformações produzidas pelo 
homem foram extraordinariamente aceleradas como resultado da organização e 
sistematização do trabalho voltado para a geração e uso de conhecimentos científicos com o 
intuito de produzir tecnologias que resultassem em novos ou melhores produtos e serviços 
que satisfizessem os seus desejos centrais e suas necessidades imediatas. Assim, o 
conhecimento científico deixou de ser um bem puramente cultural, para tornar-se insumo 
importante, senão o mais valioso, para a geração de inovações tecnológicas. De fato, 
atualmente, constata-se que as complexas demandas das sociedades modernas são atendidas 
por tecnologias crescentemente resultantes da aplicação de conhecimentos científicos (2) 
Dentre os mais expressivos impactos sociais do avanço científico e tecnológico estão, 
com certeza, o aumento da expectativa de vida, o aumento da população mundial e o 
decréscimo das horas de trabalho ocorridos principalmente nos últimos dois séculos. As 
tabelas 1 e 2 apresentam alguns dados que permitem constatar tais fatos. Embora as 
conseqüências desses fatos sejam óbvias, principalmente as que foram e têm sido benéficas 
para a vida humana, como o aumento das horas sujeitas ao nosso livre arbítrio (lazer), 
algumas outras merecem explicitação e reflexão, pois fazem parte de problemas atuais 
enfrentados por todas as nações, a saber: 
1- Vivendo mais e trabalhando menos, os cidadãos estão passando, crescentemente, mais 
tempo das suas vidas consumindo sem produzir; 
2- Vivendo mais, as pessoas estão pressionando muito mais os serviços de saúde, 
exigindo cuidados mais freqüentes, cada vez mais sofisticados e caros; 
3- Vivendo mais, aumentou o tempo de gozo da aposentadoria, que somado à 
constatação do item anterior, estão colocando em crise os sistemas de previdência. 
4- O aumento da população mundial tem contribuído, entre outros problemas, para a 
rápida deterioração do meio ambiente. 
Esses problemas apontam para a necessidade de um novo modelo de ordenação social 
que dê conta desses desajustes, os quais, mais adiante serão, genericamente, denominados de 
“hiato gerencial”. 
Por outro lado, com o mencionado aumento geral das horas livres, quer pela 
diminuição das horas de trabalho, quer pelo aumento da expectativa de vida, inúmeras áreas 
do setor terciário da economia tornaram-se extraordinariamente promissoras (lazer em 
geralturismo, estética e beleza, esportes, artes, etc...). 
 
 
1
 Adaptado de artigo publicado na Revista T&C Amazônia, ano 1, nº 1, págs. 8 a 22, Manaus/AM, 2003 
 
 
Em decorrência da busca e apropriação sistemática, e bem sucedida, de 
conhecimentos científicos para a produção de tecnologias, estima-se que, desde o início do 
século passado, os conhecimentos científicos e tecnológicos têm sido duplicados, a cada 10 a 
15 anos (3). Em 2000, a Hart-Rudman Presidential Commission do Congresso dos EUA, 
afirmou que “[...] os próximos dez anos trarão mais mudanças tecnológicas que o século XX 
todo, e os governos serão incapazes de acompanhá-las” (4). 
 Quanto à previsão da citada Comissão a respeito da incapacidade de acompanhamento 
das mudanças, é preciso considerar que a introdução de novas tecnologias, quase sempre, é 
uma decisão do setor produtivo, não discutido e não planejado pela sociedade. As alterações 
ambientais e comportamentais resultantes são de tal magnitude e, às vezes, tão inesperadas, 
que as instituições sociais em geral, entre as quais os governos nacionais, não têm conseguido 
acompanhá-las e adaptar-se, enfrentando, então, sérias crises de gerenciamento. Estão, nesse 
caso, além dos governos, instituições tais como partidos políticos, religiões, forças armadas, 
empresas e as escolas, ou melhor dizendo, a organização e os métodos utilizados no processo 
ensino-aprendizagem (5) . Assim, estabelece-se um “hiato gerencial” entre a nova realidade 
social resultante do avanço científico e tecnológico e a capacidade de reação e de 
reorganização dos grupos ou entidades sociais para o trato dessa nova realidade (6) . É preciso 
ter presente que novas tecnologias podem alterar hábitos, valores, prioridades e a própria 
visão que o homem tem de si mesmo e do mundo, exigindo, em conseqüência, novas regras 
de convivência social e, certamente, nova educação para os jovens e atualização contínua para 
os adultos. 
 Do exposto, conclui-se que, hoje, os grandes desafios enfrentados pelos países, nos 
níveis local e global, estão intimamente relacionados com as contínuas e profundas 
transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que tem sido gerados novos 
conhecimentos científicos e tecnológicos, sua rápida difusão e uso pelo setor produtivo e pela 
sociedade em geral. Pode-se afirmar que vivemos num mundo cambiante, cuja única certeza é 
a incerteza. No dizer de Paul Valery, “o problema atual é que o futuro não é mais o que 
deveria ser”. 
Diante dessa dinâmica de um mundo em constante mutação graças aos avanços da 
ciência e tecnologia, a imagem que se formula é que tudo se passa como se estivessem 
indivíduos, empresas e nações subindo uma escada rolante que se desloca, continuamente 
acelerada, em sentido contrário ao movimento de todos, sendo, portanto, necessário subir 
cada vez rápido para permanecer na mesma altura. Caso não acompanhem ou suplantem a 
escada da evolução científica tecnológica, os indivíduos tornam-se profissionalmente 
obsoletos, as empresas perdem competitividade e vão à falência, os países amargam o 
subdesenvolvimento e uma insuportável dependência externa do insumo mais estratégico do 
mundo moderno: o conhecimento. 
Na evolução científica e tecnológica não há patamar definitivo a ser atingido, pois a 
escalada é contínua, ou seja, a escada não tem fim. 
 Assim avulta de importância, por parte das nações, através das suas instituições, 
principalmente as educacionais e as de pesquisa, o contínuo monitoramento da evolução 
científica e tecnológica, e das mudanças sociais decorrentes ou antevistas da mesma. O 
acesso às informações, o competente tratamento e análise delas mesmas, assim como previsão 
e avaliação tecnológicas, passaram a ser de importância vital nas políticas e estratégias 
governamentais em todos os níveis, objetivando minimizar “hiatos gerenciais”. 
 
 
O rápido desenvolvimento tecnológico da microeletrônica, da informática e da 
automação, assim como o exponencial crescimento de suas aplicações, afetaram de tal 
maneira as qualificações exigidas para o trabalho, o acesso às informações, a organização e o 
funcionamento do setor produtivo, as relações sociais e as políticas governamentais, que se 
admite estarmos vivendo a Terceira Revolução Tecnológica ou Industrial. Exemplo marcante 
é, na área tecnológica, a engenharia industrial, que sofreu, e que continua sofrendo, profundas 
alterações, tanto na sua concepção e nasua operação, quanto no seu relacionamento com os 
serviços correlatos. A possibilidade atual proporcionada pelos meios eletrônicos, permitindo 
o fluxo de informações fluir instantaneamente do cliente para a fábrica e da fábrica para os 
seus fornecedores, aliada à automação, tornou possível “produzir competitivamente, 
diferentes produtos, em quaisquer quantidades, melhor e mais barato”, atendendo cada vez 
mais aos desejos do usuário do bem produzido. Esta concepção vem substituindo aquela, até 
então vigente, que se propunha a “produzir cada vez mais, da mesma coisa, melhor e mais 
barato”, sem muitas opções para o comprador. Além disso, acessando em tempo real o desejo 
dos clientes e transmitindo, também em tempo real, informações aos supridores das matérias 
primas e componentes, tornou-se possível à fábrica produzir aquilo que já está encomendado 
(ou já vendido) “sob medida”. Com tal procedimento, custos são eliminados com a 
minimização de estoques a montante e a jusante da produção propriamente dita. Tudo passa 
a fluir “just in time” (7). 
 
Adicionalmente, é preciso entender que o progresso tecnológico além de causar 
profundas alterações no modo de produção de bens e de serviços modifica, em conseqüência, 
a distribuição e a qualificação da força de trabalho (8). Profissões surgem e desaparecem em 
curto tempo; qualificações para postos de trabalho são exigidas e, em seguida, descartadas, ou 
seja, as trajetórias profissionais são, em grande parte, imprevisíveis. Vivemos hoje a era pós-
industrial na qual, nos países centrais, cerca de 70% da força de trabalho foi deslocada para o 
setor terciário tecnologicamente cada vez mais sofisticado, entre 20 e 30% permanecem no 
secundário, e menos de 5% encontram-se em atividades agrícolas cada vez mais intensivas 
em máquinas e técnicas poupadoras de mão-de-obra não qualificada. Embora os setores 
primários (agricultura, pesca e exploração florestal) e secundário (manufatura industrial, 
extrativismo, produção e distribuição de eletricidade, gás e água, obras de engenharia civil) 
da economia tenham crescido, o número de empregados nos mesmos é, proporcionalmente, 
cada vez menor. Isto se deve não somente à crescente mecanização e automação desses 
setores, mas também à “terceirização” de muitas das suas atividades anteriormente 
verticalizadas, principalmente aquelas classificadas como prestação de serviços, inclusive 
tecnológicos. Há uma tendência das indústrias, em concentrarem-se estritamente na 
fabricação daqueles componentes ou produtos nos quais são crescentemente especializadas e 
competitivas. A previsão norte-americana é que, na década atual, dez por cento dos empregos 
na indústria desaparecerão. 
Devido à terceirização é cada vez maior o número de pessoas que têm freqüentemente 
trabalho, mas não necessariamente um emprego, o que exige delas, como conseqüência, 
habilidades complementares e diversas daquelas da sua bagagem profissional específica. 
Na medida que as empresas se esvaziam com a automação e com a terceirização, vão 
restando dentro delas os “novos operários”. Entende-se aqui por “novo operariado” o 
conjunto de trabalhadores que carrega consigo o principal instrumento para a produção, qual 
seja, o seu cérebro, que abriga os insumos vitais: informações e conhecimentos sem os quais 
nada funcionará. 
 
 
A informática associada às telecomunicações tornou possível transportar, 
economicamente, enormes quantidades de informações, criando a possibilidade do 
fornecimento à distância de várias necessidades da fábrica, contribuindo para modificar, 
como já foi dito, as relações entre a produção de bens e a prestação de serviços. As distâncias 
e as fronteiras nacionais deixaram de ser barreiras nestas relações. Com a “globalização” dos 
mercados e da produção, passou a ocorrer, instantaneamente, a busca universal dos 
consumidores pelos mesmos bens e serviços. No caso das indústrias, estas passaram a ter que 
dominar as tecnologias que as colocassem continuamente na competição global. Como 
conseqüência dessa convergência sobre o domínio e uso das mesmas tecnologias, os produtos 
passaram a diferenciar-se na competição não só pelo “design”, preço e pela qualidade, mas 
pelos serviços complementarmente oferecidos (financiamento, troca, manutenção, assistência, 
etc...). Desta importante constatação, deduzem-se novas exigências educacionais: a força de 
trabalho nacional precisa estar psicologicamente e culturalmente preparada para atuar 
mundialmente, dotada de novas habilitações gerenciais. 
 A realidade até agora descrita, permite afirmar-se que são cada vez maiores e mais 
elevadas as qualificações exigidas para os postos de trabalhos em qualquer dos setores de 
produção, fato que coloca uma grande pressão sobre as necessidades educacionais das 
populações. É óbvio, e desnecessário enfatizar, que a capacidade científica e tecnológica 
nacional é absolutamente dependente de nível educacional adequado da população. Educação, 
ciência e tecnologia estão intimamente relacionadas. 
 Ao longo do tempo, na medida em que as tecnologias foram crescendo em conteúdo 
científico, tornou-se, proporcionalmente, cada vez menor o número de pessoas capazes de 
posicionarem-se nas fronteiras dos conhecimentos nas várias áreas do saber e, portanto, 
entendê-las, enquanto cresceu, e se nada for feito em termos educacionais, continuará a 
crescer, a ignorância tecnológica da maioria. 
 É preciso ter presente que o mundo em que vivemos hoje, todos cidadãos necessitam 
conhecimentos básicos de ciência, das tecnologias mais usadas, de matemática e informática, 
continuamente atualizados. Esta é uma exigência não só para o mercado de trabalho, mas 
antes de tudo, para que o cidadão não seja um alienado, um ignorante diante dos bens e 
serviços utilizados no seu dia-a-dia. Em outras palavras o sistema educacional moderno deve, 
em todos os níveis e para todas as profissões, incluir competente e adequada educação em 
ciência e tecnologia. Trata-se de uma questão não só relacionada com a empregabilidade do 
indivíduo, mas uma questão de cidadania. 
 A respeito dos conhecimentos científicos e tecnológicos que todas as pessoas 
deveriam ter, sugere-se, preliminarmente, a leitura dos trabalhos “Science for All Americans” 
e “Technology” produzidos pela American Society for the Advancement of Science (9 e 10) . 
 Evidentemente, para a geração e uso das modernas tecnologias, a formação 
universitária deve ser primorosa nos níveis de graduação e pós-graduação, sendo esta 
exigência um item central na política científica e tecnológica integrante das estratégias 
nacionais ou regionais de desenvolvimento. 
Com as constantes mudanças tecnológicas, os indivíduos que não as acompanharem, 
ficarão prematuramente inabilitados para o trabalho. Serão parte do que tem sido chamado de 
desemprego estrutural. A desqualificação para o mercado de trabalho seja através da 
obsolescência ou da má formação escolar, dá origem ao que tem sido chamado de 
“analfabetismo tecnológico”. Os analfabetos tecnológicos não retornarão ou ingressarão 
adequadamente no mercado de trabalho nem que a economia cresça e expanda as 
oportunidades de emprego e trabalho. 
 
 
Evitar a obsolescência da força de trabalho através da chamada educação continuada é 
hoje uma preocupação da maioria dos países. Tendo em vista o custo elevado em trazer 
periodicamente essa força para dentro das salas de aula, a solução que está se ampliando, é 
levar os conhecimentos aos locais de trabalho utilizando meios eletrônicos, de preferência 
interativos. 
 
2. EDUCAÇÃO ASSISTIDA POR MEIOS INTERATIVOS. ENSINO À DISTÂNCIA – 
EAD 
 
Por ocasião da passagem do século XX para o XXI, alguém vaticinou: “se errarmos 
de escola , poderemos errar de século”. 
 É hoje consenso que é necessário que o País seja dotada de um sistema de educação demassa do primeiro ao terceiro grau, da melhor qualidade, e capaz de fornecer ao cidadão 
possibilidades de atualização continuada, ao longo de sua vida, para o trabalho e para o lazer. 
Isto é, preparar o cidadão, no dizer de Domenico de Masi (11), para “o ócio e o negócio” ao 
longo de sua existência. Adicionalmente, deve ter um quarto grau capaz de formar 
pesquisadores, produzir avanços nas fronteiras dos conhecimentos nas diversas áreas do saber 
e contribuir, efetivamente, para aumentar a capacidade endógena do sistema nacional de 
inovação tecnológica, em benefício do setor produtivo e das necessidades públicas. 
No que diz respeito ao ensino superior, a situação brasileira é lamentável. Segundo 
estatísticas que constam de Relatório da Organização das Nações Unidas (12), o Brasil é o país 
da América Latina com o menor índice de atendimento, no ensino superior, aos jovens na 
faixa etária de 18 a 24 anos: apenas 10% daquela faixa etária, ou 1,3% da população total do 
País, o que equivale à cerca de metade do índice da Bolívia, de um terço da cobertura do 
Chile. Significa, ainda, que o País apresenta uma das piores taxas mundiais, sendo que, na 
América Latina e Caribe, somente está em pior situação o Haiti. Tal fato é gravíssimo e, ao 
mesmo tempo, um paradoxo, pois o País é uma das maiores economias mundiais, dispondo 
de um dos maiores sistemas educacionais do planeta e um sistema de pós-graduação de 
excelente qualidade. 
Outros dados da nossa realidade tornam a situação mais preocupante, a saber (13): 
a. No ano de 2000 foram oferecidas apenas 1.216.287 vagas no ensino superior para 
um total de 4.039.910 inscritos nos vestibulares em todo o Brasil. Em que pese o fato de que 
vários candidatos possam ter-se inscrito em mais de um exame de acesso, a média nacional de 
mais de três candidatos por vaga é, certamente, alta, e ela atinge um índice ainda mais alto – 
mais de nove candidatos por vaga – no sistema das instituições federais de ensino superior, 
naquele ano. 
 b. A demanda por ensino superior tende a aumentar de forma dramática nos próximos 
anos, em decorrência do grande crescimento do número de concluintes do ensino médio, que 
é fruto, por sua vez, das altas taxas de matrícula de alunos no ensino fundamental, hoje na 
faixa de 95% do público-alvo. Esse expressivo crescimento do número de alunos que 
concluem o ensino médio não tem encontrado, entretanto, a devida contrapartida de vagas no 
ensino superior, particularmente no setor público.Em 1999, a relação entre o número de 
concluintes do ensino médio e o número de alunos que se inscreveram no ensino superior já 
havia chegado a, aproximadamente, três para um. 
c. A expansão da oferta de vagas vem se dando principalmente no setor privado. De 
fato, no ano de 2000, o setor público ofereceu apenas 245.632 vagas, ou seja, cerca de 1/5 do 
total. 
d. No ano 2000, embora o sistema de ensino superior tivesse oferecido apenas 
1.216.287 vagas para 4.039.910 inscritos, 318.730 daquelas vagas não foram ocupadas, sendo, 
 
 
praticamente, todas elas oferecidas por instituições privadas. A propósito, a existência de 
vagas ociosas no setor privado não é peculiaridade de anos recentes, indicando que as 
necessidades da sociedade brasileira, no que se refere ao ensino superior, não podem ser 
solucionadas apenas com o aumento de vagas no ensino privado. Tal constatação decorre de 
diversas razões, entre as quais sobressaem o descompasso geográfico entre a oferta 
(concentrada) e a demanda (dispersa) e o fato de que um grande número de famílias não 
pode arcar com os altos custos dos cursos superiores nas IES privadas. Quem poderia pagar, 
já está pagando. 
e. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 93941996 – a LDB - impõe, até 2006, a 
qualificação, em nível superior, de todo o corpo docente atuante em todos os níveis de ensino 
no País, totalizando aproximadamente 1milhão e 200 mil professores. Isso implica em ter 
que qualificar em tal prazo, cerca de 830.000 professores nas séries iniciais, 233.000 para 5ª a 
8ª séries e 51.000 para o ensino médio. Existe, ainda, uma falta histórica de professores para 
o ensino de matemática e ciências naturais (física, química e biologia). Por fim, o Brasil 
apenas iniciou a qualificação de docentes para a educação tecnológica, tão crítica nos dias de 
hoje, em que novas tecnologias, especialmente aplicáveis ao ensino, estão revolucionando o 
cotidiano dos povos e todos os padrões de desenvolvimento dos países. Somados todos os 
níveis de ensino, verifica-se que o Brasil precisa qualificar, no ensino superior, um 
contingente de mais de um milhão de professores nos próximos cinco anos. 
Felizmente, o próprio avanço tecnológico produziu os meios necessários para o 
atendimento parcial de tais necessidades, a custos suportáveis pela sociedade, inclusive no 
Brasil. Trata-se dos meios de comunicação que podem colocar conhecimentos ao alcance 
confortável dos cidadãos onde quer que eles estejam, a partir de bases logísticas onde estão 
armazenados tais conhecimentos. Tem-se assim, em mãos, a oportunidade de democratizar o 
acesso à educação em todos os níveis. Os meios pedagogicamente mais apropriados a serem 
utilizados são aqueles que permitem maior e mais eficiente interação entre os detentores do 
conhecimento e os seus demandantes, ainda que afastados fisicamente. Assim, são largamente 
utilizados o correio, o telefone, o gravador, o fax, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o 
DVD e a INTERNET. Tais meios, isoladamente ou associados, permitem “empacotar” 
pedagogicamente e “despachar” os conhecimentos. O acesso ao “produto” conhecimento 
torna-se, assim, um problema que envolve competência em logística (1) . 
Convenientemente utilizados, tanto no ensino presencial quanto à distância, os meios 
citados constituem-se, ainda, num poderoso instrumento no sentido de preparar o indivíduo a 
“aprender a aprender”, metodologia absolutamente apropriada a quem vive num mundo em 
constante mutação. Eles facilitam a utilização do processo educacional centrado no esforço 
do aluno aprender e não, majoritariamente, no esforço do professor em ensinar. 
A busca universal do conhecimento pelos cidadãos, seja através da formação escolar 
regular (education), seja para o trabalho ou para o lazer (training), exacerbou a visão do 
ensino como um grande negócio a ser explorado. Só para se ter uma idéia de grandeza dos 
volumes de recursos envolvidos, as empresas norte-americanas espalhadas pelo mundo, 
despenderam, em 1997, da ordem de 18 bilhões de dólares no treinamento de seus 
empregados somente em tecnologias de informação (14). Em conseqüência dessa demanda, 
passou a proliferar o surgimento de empresas especializadas em treinamento para o setor 
produtivo e as escolas regulares, principalmente as universidades e outras instituições de 
ensino superior, ampliaram suas ações na mesma direção. Tanto as empresas quanto as 
escolas passaram a utilizar largamente os meios interativos disponíveis, ampliando o seu 
alcance via ensino à distância, no sentido de atingir o instruendo em casa e/ou no local de 
trabalho (1) . 
 
 
Apesar da complexidade envolvida na montagem e execução do sistema necessário à 
prática da modalidade ensino à distância, esta apresenta um enorme potencial de 
democratização do acesso ao ensino superior de qualidade, o que vem sendo comprovado 
pelas diversas experiências bem sucedidas no exterior e, mais recentemente, no Brasil. De 
fato, estudos recentes (15) mostram que com o acréscimo de apenas 15% dos recursos 
usualmente aplicados no sistema de ensino superior como um todo é possível, em princípio, 
dobrar o número de alunos atendidos pelas universidades públicas, atendendo a um público-
alvo que vive longe dos grandes centros urbanos ou que não dispõe de tempo, nos turnos 
usuais de oferta de cursos, por estar trabalhando.Na Europa, são várias as universidades que hoje utilizam a EAD. A Open University, 
fundada em 1971, atende atualmente a cerca de 230.000 alunos; a UNED, surgida em 1972, 
com aproximadamente 200.000 alunos; a Fern Universität, da Alemanha, implantada em 
1974, com 58.000 alunos; a Universidade Aberta de Portugal, criada em 1988 e o Centro 
Nacional de Ensino à Distância da França, fundado em 1939, com cerca de 190.000 alunos 
são as mais consolidadas. Vale lembrar também a mega universidade Anadolu da Turquia, 
que iniciou suas atividades em 1982, com mais de 550.000 alunos (13). No ano acadêmico de 
1997-98, os EUA tinham matriculados, em instituições de nível superior, da ordem de 
1.661.100 estudantes em disciplinas à distância, sendo cerca de 1.363.670 no college-level 
em disciplinas no sistema de crédito, a maioria dos quais em nível de graduação (16).. Naquele 
ano foram oferecidas, aproximadamente, 54.470 disciplinas à distância, sendo cobrado dos 
alunos, em geral, o mesmo preço pago por aqueles que freqüentavam fisicamente as aulas. As 
tecnologias mais usadas foram: Internet assíncrono, vídeo interativo nas duas direções e vídeo 
pré-gravado (6). 
Exemplo digno de menção em educação e treinamento na área tecnológica é a 
National Technological University-NTU, situada em Fort Collins, Colorado, EUA (17), que 
tem por objetivo atender as necessidades educacionais avançadas de engenheiros, técnicos e 
gerentes, e oferecer cursos de mestrado. Os programas acadêmicos são compostos por 
disciplinas regulares oferecidas pelas 53 universidades associadas que participam do Satellite 
Network da NTU. As aulas presenciais são transmitidas ao vivo por TV, em tempo real, para 
os alunos distantes, que, em geral, estão nos seus locais de trabalho. A mesma aula, em 
gravação, é retransmitida em vários horários ao longo do dia, buscando atender as 
disponibilidades dos alunos. As aulas podem ser gravadas nos pontos de recepção para 
posterior uso pelos estudantes, utilizando, inclusive, “streaming” vídeo. Para a interação 
aluno-professor são empregados correio, fax, telefone e Internet. 
O Brasil, apesar de sua dimensão continental e da enorme demanda dispersa de sua 
população jovem por ensino superior, iniciou sua experiência com educação superior à 
distância apenas em 1998, com o curso da Universidade Federal do Mato Grosso para a 
formação de professores do ensino fundamental, visando a cumprir a LDB. Esta iniciativa 
pioneira graduou todos os professores do ensino fundamental que não tinham o nível 
superior, em um estado que se caracteriza pelas grandes distâncias geográficas entre suas 
cidades e povoados e pela diversidade cultural, demostrando, de forma inequívoca, a 
viabilidade e a adequação da utilização de EAD em nosso País (13). 
 
 
Desde então, outros cursos à distância para formação de professores do ensino 
fundamental vêm utilizando a metodologia de educação à distância, destacando-se os cursos 
superiores da UESC, UEMT, UFOP, UEC, entre outros. Recentemente, um consórcio 
regional das Universidades Públicas do Estado do Rio e Janeiro – CEDERJ, iniciou a oferta 
de cursos de licenciatura em matemática e em biologia, devendo brevemente expandir a sua 
oferta para cursos de física, química e pedagogia. No momento, diversos pedidos de 
credenciamento foram concedidos ou estão em fase de julgamento no MEC, indicando um 
grande crescimento da área para os próximos anos (13). 
 
3. O PODER E O PAPEL DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
 
As tecnologias de base empírica são facilmente entendidas e, portanto, sua cópia e 
produção por empresas retardatárias, são uma questão de oportunidade e de disponibilidade 
econômica. Por sua vez, por serem fruto da aplicação de conhecimentos científicos, as 
tecnologias modernas mais relevantes e seus processos de produção, não são facilmente 
compreendidas e, conseqüentemente, são extremamente difíceis de serem copiadas. Isto é, 
são altamente discriminatórias: quem não tiver competência científica e capacidade 
tecnológica estará condenado à periferia, mesmo que disponha dos demais fatores de 
produção (capital, mão-de-obra e matérias-primas). 
Alguém já afirmou, sabiamente, que no mundo atual “mais vale o que se tem entre as 
orelhas do que debaixo dos pés”. 
 A geração de tecnologias de base científica exige acúmulo de capital para 
investimentos contínuos em pesquisa, desenvolvimento experimental e engenharia, 
mobilizando cérebros com competência em amplo espectro de conhecimentos e capacidade 
gerencial para produzir, competitivamente, novos bens e serviços. 
O resultado disso tem sido a concentração do poder em todos os níveis. No nível 
individual, o extraordinário valor e a importância do “novo operariado”, que tem dado origem 
a uma nova visão das relações capital/trabalho. No setor empresarial observa-se a fusão de 
empresas, a formação de grandes conglomerados tecnológicos não confinados a fronteiras 
nacionais. Neste caso, observa-se que quanto mais impregnada de ciência for o produto ou as 
tecnologias de produção de um bem ou de um serviço, menor é o número de empresas 
competindo nos mercados. Finalmente, de uma certa maneira, a mesma coisa está ocorrendo 
ao nível de países. Observa-se neste final de século, a tendência dos países a aglomerarem-se 
em torno de fortes lideranças tecnológicas para formarem blocos econômicos e, por extensão, 
políticos e militares (18). 
 Na realidade os avanços científicos e tecnológicos em geral, e os avanços das 
comunicações e dos transportes em particular, estão provocando, no dizer de R. Dreifus (19), a 
“mundialização da cultura, a “globalização” da produção dos mercados e da economia, e a 
“planetarização” dos países em torno de poucos “sóis”. Ou seja, as mais fortes lideranças dos 
países centrais estão impelindo os países retardatários no desenvolvimento a gravitarem em 
torno dos mesmos, os “sois” de cada sistema planetário, complementando e ampliando assim 
o seu Poder Potencial, com reflexos positivos no Poder Efetivo (20) . São os chamados “blocos 
econômicos (a - EUA com o NAFTA e propondo o ALCA; b - UE com o Leste Europeu e a 
África; c - Japão/China e a bacia do Pacífico). 
 Longo (20) observando o cenário estratégico mundial no início dos anos 90 do século 
XX, apresenta uma explicação para a racionalidade embutida na formação de blocos de poder 
a nível global ou regional. Da argumentação utilizada, pode-se tornar clara a inter-relação 
educação - ciência e tecnologia – poder. 
 
 
 O Poder Potencial (PP) de um país num dado instante de sua história, 
comparativamente a de outros países, representa a sua disponibilidade de condições físicas 
capazes de propiciar a geração de riqueza e poder. A sua avaliação não leva em consideração 
análise subjetiva: trata-se de uma fotografia do país. Refere-se a uma condição estática, 
semelhante à de uma caixa d’água: quanto mais volume e maior a altura em que estiver 
colocada, maior a energia disponível para ser transformada em trabalho. Ele está associado, 
basicamente, ao território nacional e à população existente sobre o mesmo ou capaz dele vir a 
suportar. Exemplo de análise do território seria: extensão total, forma e relevo, localização 
geográfica, fronteiras terrestres e marítimas, águas internas, extensão de desertos e de 
geleiras, terras apropriadas à agricultura e à pecuária, disponibilidade de matérias-primas e de 
fontes de energia, etc. Quanto à população: número de habitantes, sua distribuição e 
mobilidade espacial, etnias, línguas, religiões, etc. Dentre os parâmetros listados, alguns 
valorizam (Ex: fronteiras bem definidas e estabilizadas) e outros depreciam o Poder Potencial 
(Ex: afastamento dos centros dinâmicos da economia mundial). 
 O Poder Efetivo (PE) de um país, num dado instante, está associado à sua capacidade 
em transformar em riqueza e poder as disponibilidadesfísicas, próprias ou de terceiros. Uma 
caixa d’água grande e bem elevada (alto PP), ligada a uma turbina eficiente, gera trabalho útil 
(alto PE). Ele pode ser avaliado por parâmetros econômicos (PNB, renda per cápita, 
exportações e importações, consumo de energia elétrica ou de aço/habitante, dispêndio 
nacional em C&T, etc.), psico-sociais (dispêndios com educação e saúde, expectativa de vida 
da população, médicos e leitos hospitalares/habitante, grau de escolaridade da população, 
etc.), políticos (regime político, estabilidade interna, presença internacional, etc.) e militares 
(dispêndio nacional com defesa, efetivo das Forças Armadas, capacidade de produção 
autônoma de material de emprego militar, grau de atualização tecnológica do equipamento, 
etc.). 
 A exigência para que um país se torne Polo de Poder Mundial (PPM) é que o seu PF 
não seja vulnerável a fatores externos, principalmente pouco susceptível a embargos ao 
acesso às necessidades físicas. Ou seja, exige PE dotado de PP próprio ou complementado de 
maneira confiável. Esta condição pode ser alcançada por um país ou por um bloco de países 
estrategicamente associados. 
 Os avanços da ciência e da tecnologia causaram alterações na visão e no valor relativo 
das vantagens comparativas tradicionais entre países, ou seja, o domínio e o uso de C&T na 
criação de inovações pode criar vantagens que superam as disponibilidades físicas e até 
financeiras. Assim, tem sido possível a alguns países construírem, isoladamente, um elevado 
PE, sem possuírem PP, desde que tenham alta capacidade científica e tecnológica, que exige 
alto nível educacional da sua população. Exemplo dessa situação é o Japão que, hoje, tem 
extraordinário PE, graças à sua competência em C&T, mas que é totalmente dependente de 
complementaridade externa essencial no que diz respeito ao seu PP (energia, matérias-primas 
industriais, etc.). Trata-se, portanto de PE extremamente vulnerável, pois não resistiria a um 
bloqueio, a um cerceamento comercial. Assim, isoladamente, não é, e nem será, um PPM. 
Outros exemplos poderiam ser dados em suporte à afirmativa de que é possível 
estrategicamente a um país mal dotado de PP, constituir um elevado PE, desde que tenha um 
forte tripé educação-ciência-tecnologia (E&C&T). 
 Ao contrário, a história não registra nenhum país que dispondo de alto PP, tenha 
construído elevado PE sem que tivesse, ao mesmo tempo, população altamente educada e 
elevada capacidade em C&T para os padrões da época. A história mostra, ainda, que esses 
países acabam entregando seu PP para ser explorado por outros países, ou seja, 
complementam o PP de terceiros. Os leitores certamente serão capazes de deduzir um bom 
exemplo dessa situação. 
 
 
 Pode-se agora responder à pergunta: porque os EUA são, no momento, o mais 
poderoso PPM? É obvio: tendo elevadíssimo PP, população com elevado padrão educacional, 
liderança inconteste em C&T, construíram um PE que se pode considerar, nas condições 
atuais, não vulnerável. No momento, procuram reforçar o seu PP através do Acordo de Livre 
Comércio das Américas (ALCA), após grande avanço nessa direção com o Acordo de Livre 
Comércio da América do Norte (NAFTA). Típico exemplo de “planetarização”. 
 Quanto à União Européia, esta se enquadra perfeitamente como mais um exemplo em 
favor da argumentação exposta. A considerável competência científica e tecnológica européia 
achava-se espalhada em países de baixo PP, tais como a Alemanha, a Inglaterra, a França, a 
Itália, Holanda, Suíça, Bélgica e Áustria, todos abrigando populações com elevado grau de 
escolaridade. Ao unirem-se, passaram a ter todas as condições para erigirem um PPM. A 
tendência de ”planetarização”, neste caso, é na direção do Leste Europeu e da África. 
 Finalmente, a situação do Brasil é clara: dotado de extraordinário PP, um dos maiores 
do planeta, falta-lhe E&C&T para construção de PE soberano, e determinação estratégica 
visando ser um PPM. 
 
4. O PERFIL GENÉRICO DO PROFISSIONAL A SER PREPARADO E SUGESTÕES 
PARA O ENSINO NAS ÁREAS TECNOLÓGICAS (21) 
 
Diante do cenário mundial exposto anteriormente, procurou-se salientar os enormes 
desafios a serem enfrentados pelo nosso sistema educacional, particularmente no tocante à 
educação científica e tecnológica de toda a população e às exigências sobre as áreas 
profissionais ditas tecnológicas. A educação com um forte componente científico e 
tecnológico, requisito fundamental para a cidadania e progresso da nação começa no nível de 
primeiro grau e estende-se até o preparo de pesquisadores na pós-graduação, passando pela 
indispensável formação de professores competentes e motivados. Exige, portanto, decidido 
comprometimento político dos municípios, estados e União. 
 Especificamente, quanto ao ensino profissional tecnológico, há que se levar em 
consideração que, embora os fundamentos específicos de cada área, lastrados por sólido 
embasamento científico e matemático, são e continuarão a ser o núcleo central do preparo 
intelectual dos profissionais, estes agora trabalham num ambiente complexo, mutável com 
grande rapidez, e no qual suas realizações são às vezes limitadas mais por considerações 
sociais do que pela capacidade técnica. Tecnólogos atuam decisivamente sobre o 
condicionamento do espaço físico apropriado para a vida humana. Isto faz com que estes 
sejam agora expostos a uma gama mais ampla de atividades durante sua vida profissional. 
Como conseqüência sua educação deve levar em consideração os contextos social, econômico 
e político, envolvidos na prática profissional. 
Diante da “mundialização” das culturas, anteriormente regionais, da “globalização” da 
economia e de produção de bens e de serviços, e da “planetarização” dos países menos 
desenvolvidos em torno de poucas e fortes lideranças científicas e tecnológicas, não é mais 
possível se pensar apenas localmente. Então, o novo profissional deve ser preparado para 
raciocinar e agir sem fronteiras, o que exige do mesmo o entendimento de outras culturas, 
principalmente idiomas e ambiências nas quais poderá ocorrer a produção. 
Adicionalmente, eles devem ser empreendedores e estar preparados para trabalhar em 
equipe, gerenciar complexos empreendimentos que podem envolver muitos indivíduos, mas 
também uma empresa de uma só pessoa: eles mesmos. Em outras palavras, eles devem 
cultivar a liderança, serem criativos, estarem profissionalmente e mentalmente equipados 
para, eventualmente, terem trabalho e não necessariamente um emprego, e serem prestadores 
autônomos de serviços. 
 
 
Finalmente, devem ter a consciência de que jamais estarão “formados”. Deve estar 
claro que o futuro profissional, imediato e longínquo, depende de sua capacidade de 
atualização contínua de conhecimentos face ao vertiginoso avanço das tecnologias, 
crescentemente apoiadas em aplicações de descobertas científicas. 
 A partir da definição do perfil genérico do profissional a ser produzido, com base na 
compreensão do cenário científico e tecnológico descrito, foram formuladas as sugestões para 
o ensino. Tais sugestões são apresentadas abaixo, agrupadas em três categorias: 
 a) Conteúdo 
 Enfatizam aspectos do embasamento intelectual desejado, e que serão traduzidas, na 
sua grande maioria, pelas ementas das disciplinas : 
 ° Forte embasamento em ciências e matemática 
 Imprescindível que seja de alta qualidade, tratando-se do ponto central da formação 
intelectual do profissional. São fundamentais para o desenvolvimento da capacidade de 
abstração. 
 ° Nem politécnica, nem especialista: formação personalizada. 
 Nem saber um pouco de tudo, nem tudo de quase nada. Deve-se oferecer uma 
formação multidisciplinar aprofundada obedecendo a vocação de cada um, através de oferta 
de amplo leque de disciplinas. Os modernos recursos tecnológicos educacionais,muito 
utilizados em EAD, permitem viabilizar uma formação “sob medida”. 
 ° Domínio das facilidades oferecidas pela informática associada ou não às 
comunicações eletrônicas 
 Ferramentas fundamentais para a prática profissional de todas as áreas tecnológicas, 
desde a busca de informações, passando pelo cálculo, desenho, arquitetura e projeto, até o 
acionamento de sistemas complexos de produção automatizada. 
 ° Domínio de línguas mais usuais 
 Obviamente, a proficiência em inglês é mandatória. 
 ° Visão humanística diante da profissão e dos interesses da sociedade 
 Capacidade de entender e de equilibrar direitos e responsabilidades. 
 
 b) Pedagógicas 
 Práticas pedagógicas que deverão ser utilizadas para o desenvolvimento do perfil 
definido: 
 ° Aprender a aprender 
 Trata-se da mudança de enfoque pedagógico mais importante para enfrentar a 
ameaça de obsolescência prematura advinda da dinâmica atual da evolução científica e 
tecnológica. Exige mudança radical no processo ensino-aprendizagem O futuro profissional 
deverá “aprender a aprender sozinho”. Como conseqüência, aquilo que o aluno pode ler, 
entender e/ou deduzir, não deverá ser exposto pelo professor. Além do uso de material 
impresso, e o incentivo ao uso das bibliotecas como fontes de informação, recomenda-se o 
uso de meios eletrônicos complementares de ensino, manuseados individualmente pelo aluno 
na busca de conhecimentos (vídeo, CD-ROM, INTERNET, etc). 
 ° Avançar no desconhecido 
 É fundamental que o futuro profissional seja bem familiarizado com a metodologia 
racional utilizada na pesquisa e no desenvolvimento experimental, e com a ambiência 
científica e tecnológica (seminários, revistas, redação técnico-científica, ética, valores, 
tradições, sistemas de informações, propriedade intelectual, etc.). Bolsas e estágios de 
iniciação científica ou tecnológica são valiosos instrumentos utilizados nesse processo. 
 ° Saber fazer (com criatividade e ousadia) 
 
 
 Estudar, pesquisar, projetar, produzir. O profissional deve ser preparado para 
“fazer”, sempre que possível, inovando. Ele deve ser desafiado a “fazer” na escola e/ou no 
setor produtivo (estágio supervisionado). 
 ° Evitar excessiva compartimentação do conhecimento e de suas aplicações. 
 A natureza é complexa e, portanto, “multidisciplinar”. Nós é que 
compartimentamos o conhecimento, e criamos departamentos e disciplinas excessivamente 
estanques. Deve-se ensaiar novas maneiras de estudar, entender os fenômenos e suas 
aplicações e implicações. Dotar o futuro profissional de visão sistêmica. 
 ° Capacidade gerencial e empreendedora. 
 O profissional a ser graduado deve ter a capacidade de identificar oportunidades, 
juntar meios de naturezas diversas ( humanos, materiais e financeiros) organizá-los e 
empregá-los eficientemente para criar e produzir. Ele deve “fazer acontecer”. Para tanto 
deve ter liderança e familiaridade com o trabalho em equipe. 
 
 c) Complementares 
 Diretrizes gerais que não se enquadram nas categorias anteriores. 
 ° Fim de “formatura” 
 Deve ficar claro que a chamada “formatura” não tem o significado expresso pela 
palavra. Deve ser encarada como um acontecimento social que marca a desvinculação do 
cidadão da escola e o início do seu vôo solitário. Em áreas tecnológicas não há mais 
formação terminal. Defende-se, aqui, a proposição que os “formandos” não deveriam ser 
“desligados” das suas escolas. Ao contrário, deveriam permanecer “matriculados” nelas para 
sempre, e para a ela voltarem, periodicamente, quando necessário. 
 ° O professor também é um estudante 
 O professor é um estudante normalmente mais velho e, necessariamente, mais 
experiente que seus alunos. Ele também deve ter presente que nunca estará “formado”. 
Todos professores devem ser estimulados a estudar, produzir intelectualmente e não perder 
contato com a prática da sua especialidade. Oportunidades para tal deverão ser oferecidas. 
 ° Intransigência com a qualidade 
 Diretriz geral para todas as atividades da escola e que deve ser transmitida aos 
futuros profissionais. Na competição local e global, não basta ser bom, é preciso ser ótimo. 
° “Legitimar” conhecimentos 
 O sistema educacional formal não tem o monopólio do conhecimento. Hoje, 
conhecimentos úteis podem ser adquiridos fora do sistema formal, graças aos veículos 
modernos de circulação de informações. A escola deverá não só fomentar a busca de 
conhecimentos onde eles estiverem disponíveis, mas, também, aceitá-los oficialmente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 TABELA 1 
____________________________________________ 
Período/ano Expectativa Poupulação 
______________________(anos)________(milhões)_ 
4.000.000 a 
1.000.000 aC 14-15 0,07-1,00 
900.000 a 
400.000 aC 14-15 1,70 
100.000 a 
15.000 aC 18-20 
15.000 a 
5.000 aC 20-27 4 
10.000 a 
 3.000 aC 25 10 
3.000 a 
1.000 aC 28 50 
500 aC a 
500 dC* 25-28 100-190 
800-1300 30* 220-360 
1700 32-36* 545 
1800 34-38* 720 
1860 1.200 
1900 48** 
 1950 2.500 
 1970 71** 
 1975 3.900 . 
 Fonte: Revista 21st Century (Fall 1995) 
 
 TABELA 2 
 _______________________________________________ 
 Ano Expectativa de vida Trabalho total Lazer 
 (anos) (horas) (horas) . 
 1800 36 100.000 26.000 
 1980 72 85.000 135.000 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Comum/UFRJ 9-10, p. de 195 a 207 , Rio de Janeiro,Setembro 1999 a Abril 2000. 
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(3) PRICE, D.S., “Little science, big science”, Columbia University Press, New York, 1963. 
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Washington D.C., E.U.A, 2000. 
(5) LONGO, W.P., “Ciência e Tecnologia e a Expressão Militar do Poder Nacional”, TE-86 
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December, 1999. 
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FEBRAE, Rio de Janeiro, 1996. 
(18) LONGO, W.P. e BRICK, E.S., “Entraves ao acesso à tecnologia”, Anais do IV 
Seminário Internacional de Transferência de Tecnologia, Rio de Janeiro, 1992. 
(19) DREIFUSS, R. A. “A era da perplexidade”, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1997 
(20) LONGO, W.P. “Desenvolvimento científico e tecnológico: conseqüências e 
perspectivas”, Escola Superior de Guerra, CAESG TI-91, Rio de Janeiro, 1991. 
(21) LONGO, W.P., “Educação tecnológica no mundo globalizado”, Revista Engenharia 
Ciência e Tecnologia, UFES, ano 3 ed.14, p. 14 a 20, Vitória/ES, 2000.

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