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IMPACTOS SOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO Curso de Atualização GERÊNCIA DA TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO Prof. Waldimir Pirró e Longo, Engº. Metalúrgico, M.E., Ph.D., L.D., Prof. Titular IMPACTOS SOCIAIS DO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO1 Waldimir Pirró e Longo, Ph.D., L.D. 1. O CENÁRIO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, PRODUÇÃO E TRABALHO Desde o seu surgimento na face da Terra, o homem tem procurado transformar a ambiência e as disponibilidades naturais da mesma no sentido de atender os seus desejos mais profundos, quase nunca explicitados, dentre os quais encontram-se: viver mais, trabalhar menos e com menor esforço físico, não sofrer (principalmente não sentir sede, fome e dor), ter mais prazer (tempo disponível para o lazer), preservar a espécie e ter poder para impor a sua vontade (1). A partir do final do século dezenove, as transformações produzidas pelo homem foram extraordinariamente aceleradas como resultado da organização e sistematização do trabalho voltado para a geração e uso de conhecimentos científicos com o intuito de produzir tecnologias que resultassem em novos ou melhores produtos e serviços que satisfizessem os seus desejos centrais e suas necessidades imediatas. Assim, o conhecimento científico deixou de ser um bem puramente cultural, para tornar-se insumo importante, senão o mais valioso, para a geração de inovações tecnológicas. De fato, atualmente, constata-se que as complexas demandas das sociedades modernas são atendidas por tecnologias crescentemente resultantes da aplicação de conhecimentos científicos (2) Dentre os mais expressivos impactos sociais do avanço científico e tecnológico estão, com certeza, o aumento da expectativa de vida, o aumento da população mundial e o decréscimo das horas de trabalho ocorridos principalmente nos últimos dois séculos. As tabelas 1 e 2 apresentam alguns dados que permitem constatar tais fatos. Embora as conseqüências desses fatos sejam óbvias, principalmente as que foram e têm sido benéficas para a vida humana, como o aumento das horas sujeitas ao nosso livre arbítrio (lazer), algumas outras merecem explicitação e reflexão, pois fazem parte de problemas atuais enfrentados por todas as nações, a saber: 1- Vivendo mais e trabalhando menos, os cidadãos estão passando, crescentemente, mais tempo das suas vidas consumindo sem produzir; 2- Vivendo mais, as pessoas estão pressionando muito mais os serviços de saúde, exigindo cuidados mais freqüentes, cada vez mais sofisticados e caros; 3- Vivendo mais, aumentou o tempo de gozo da aposentadoria, que somado à constatação do item anterior, estão colocando em crise os sistemas de previdência. 4- O aumento da população mundial tem contribuído, entre outros problemas, para a rápida deterioração do meio ambiente. Esses problemas apontam para a necessidade de um novo modelo de ordenação social que dê conta desses desajustes, os quais, mais adiante serão, genericamente, denominados de “hiato gerencial”. Por outro lado, com o mencionado aumento geral das horas livres, quer pela diminuição das horas de trabalho, quer pelo aumento da expectativa de vida, inúmeras áreas do setor terciário da economia tornaram-se extraordinariamente promissoras (lazer em geralturismo, estética e beleza, esportes, artes, etc...). 1 Adaptado de artigo publicado na Revista T&C Amazônia, ano 1, nº 1, págs. 8 a 22, Manaus/AM, 2003 Em decorrência da busca e apropriação sistemática, e bem sucedida, de conhecimentos científicos para a produção de tecnologias, estima-se que, desde o início do século passado, os conhecimentos científicos e tecnológicos têm sido duplicados, a cada 10 a 15 anos (3). Em 2000, a Hart-Rudman Presidential Commission do Congresso dos EUA, afirmou que “[...] os próximos dez anos trarão mais mudanças tecnológicas que o século XX todo, e os governos serão incapazes de acompanhá-las” (4). Quanto à previsão da citada Comissão a respeito da incapacidade de acompanhamento das mudanças, é preciso considerar que a introdução de novas tecnologias, quase sempre, é uma decisão do setor produtivo, não discutido e não planejado pela sociedade. As alterações ambientais e comportamentais resultantes são de tal magnitude e, às vezes, tão inesperadas, que as instituições sociais em geral, entre as quais os governos nacionais, não têm conseguido acompanhá-las e adaptar-se, enfrentando, então, sérias crises de gerenciamento. Estão, nesse caso, além dos governos, instituições tais como partidos políticos, religiões, forças armadas, empresas e as escolas, ou melhor dizendo, a organização e os métodos utilizados no processo ensino-aprendizagem (5) . Assim, estabelece-se um “hiato gerencial” entre a nova realidade social resultante do avanço científico e tecnológico e a capacidade de reação e de reorganização dos grupos ou entidades sociais para o trato dessa nova realidade (6) . É preciso ter presente que novas tecnologias podem alterar hábitos, valores, prioridades e a própria visão que o homem tem de si mesmo e do mundo, exigindo, em conseqüência, novas regras de convivência social e, certamente, nova educação para os jovens e atualização contínua para os adultos. Do exposto, conclui-se que, hoje, os grandes desafios enfrentados pelos países, nos níveis local e global, estão intimamente relacionados com as contínuas e profundas transformações sociais ocasionadas pela velocidade com que tem sido gerados novos conhecimentos científicos e tecnológicos, sua rápida difusão e uso pelo setor produtivo e pela sociedade em geral. Pode-se afirmar que vivemos num mundo cambiante, cuja única certeza é a incerteza. No dizer de Paul Valery, “o problema atual é que o futuro não é mais o que deveria ser”. Diante dessa dinâmica de um mundo em constante mutação graças aos avanços da ciência e tecnologia, a imagem que se formula é que tudo se passa como se estivessem indivíduos, empresas e nações subindo uma escada rolante que se desloca, continuamente acelerada, em sentido contrário ao movimento de todos, sendo, portanto, necessário subir cada vez rápido para permanecer na mesma altura. Caso não acompanhem ou suplantem a escada da evolução científica tecnológica, os indivíduos tornam-se profissionalmente obsoletos, as empresas perdem competitividade e vão à falência, os países amargam o subdesenvolvimento e uma insuportável dependência externa do insumo mais estratégico do mundo moderno: o conhecimento. Na evolução científica e tecnológica não há patamar definitivo a ser atingido, pois a escalada é contínua, ou seja, a escada não tem fim. Assim avulta de importância, por parte das nações, através das suas instituições, principalmente as educacionais e as de pesquisa, o contínuo monitoramento da evolução científica e tecnológica, e das mudanças sociais decorrentes ou antevistas da mesma. O acesso às informações, o competente tratamento e análise delas mesmas, assim como previsão e avaliação tecnológicas, passaram a ser de importância vital nas políticas e estratégias governamentais em todos os níveis, objetivando minimizar “hiatos gerenciais”. O rápido desenvolvimento tecnológico da microeletrônica, da informática e da automação, assim como o exponencial crescimento de suas aplicações, afetaram de tal maneira as qualificações exigidas para o trabalho, o acesso às informações, a organização e o funcionamento do setor produtivo, as relações sociais e as políticas governamentais, que se admite estarmos vivendo a Terceira Revolução Tecnológica ou Industrial. Exemplo marcante é, na área tecnológica, a engenharia industrial, que sofreu, e que continua sofrendo, profundas alterações, tanto na sua concepção e nasua operação, quanto no seu relacionamento com os serviços correlatos. A possibilidade atual proporcionada pelos meios eletrônicos, permitindo o fluxo de informações fluir instantaneamente do cliente para a fábrica e da fábrica para os seus fornecedores, aliada à automação, tornou possível “produzir competitivamente, diferentes produtos, em quaisquer quantidades, melhor e mais barato”, atendendo cada vez mais aos desejos do usuário do bem produzido. Esta concepção vem substituindo aquela, até então vigente, que se propunha a “produzir cada vez mais, da mesma coisa, melhor e mais barato”, sem muitas opções para o comprador. Além disso, acessando em tempo real o desejo dos clientes e transmitindo, também em tempo real, informações aos supridores das matérias primas e componentes, tornou-se possível à fábrica produzir aquilo que já está encomendado (ou já vendido) “sob medida”. Com tal procedimento, custos são eliminados com a minimização de estoques a montante e a jusante da produção propriamente dita. Tudo passa a fluir “just in time” (7). Adicionalmente, é preciso entender que o progresso tecnológico além de causar profundas alterações no modo de produção de bens e de serviços modifica, em conseqüência, a distribuição e a qualificação da força de trabalho (8). Profissões surgem e desaparecem em curto tempo; qualificações para postos de trabalho são exigidas e, em seguida, descartadas, ou seja, as trajetórias profissionais são, em grande parte, imprevisíveis. Vivemos hoje a era pós- industrial na qual, nos países centrais, cerca de 70% da força de trabalho foi deslocada para o setor terciário tecnologicamente cada vez mais sofisticado, entre 20 e 30% permanecem no secundário, e menos de 5% encontram-se em atividades agrícolas cada vez mais intensivas em máquinas e técnicas poupadoras de mão-de-obra não qualificada. Embora os setores primários (agricultura, pesca e exploração florestal) e secundário (manufatura industrial, extrativismo, produção e distribuição de eletricidade, gás e água, obras de engenharia civil) da economia tenham crescido, o número de empregados nos mesmos é, proporcionalmente, cada vez menor. Isto se deve não somente à crescente mecanização e automação desses setores, mas também à “terceirização” de muitas das suas atividades anteriormente verticalizadas, principalmente aquelas classificadas como prestação de serviços, inclusive tecnológicos. Há uma tendência das indústrias, em concentrarem-se estritamente na fabricação daqueles componentes ou produtos nos quais são crescentemente especializadas e competitivas. A previsão norte-americana é que, na década atual, dez por cento dos empregos na indústria desaparecerão. Devido à terceirização é cada vez maior o número de pessoas que têm freqüentemente trabalho, mas não necessariamente um emprego, o que exige delas, como conseqüência, habilidades complementares e diversas daquelas da sua bagagem profissional específica. Na medida que as empresas se esvaziam com a automação e com a terceirização, vão restando dentro delas os “novos operários”. Entende-se aqui por “novo operariado” o conjunto de trabalhadores que carrega consigo o principal instrumento para a produção, qual seja, o seu cérebro, que abriga os insumos vitais: informações e conhecimentos sem os quais nada funcionará. A informática associada às telecomunicações tornou possível transportar, economicamente, enormes quantidades de informações, criando a possibilidade do fornecimento à distância de várias necessidades da fábrica, contribuindo para modificar, como já foi dito, as relações entre a produção de bens e a prestação de serviços. As distâncias e as fronteiras nacionais deixaram de ser barreiras nestas relações. Com a “globalização” dos mercados e da produção, passou a ocorrer, instantaneamente, a busca universal dos consumidores pelos mesmos bens e serviços. No caso das indústrias, estas passaram a ter que dominar as tecnologias que as colocassem continuamente na competição global. Como conseqüência dessa convergência sobre o domínio e uso das mesmas tecnologias, os produtos passaram a diferenciar-se na competição não só pelo “design”, preço e pela qualidade, mas pelos serviços complementarmente oferecidos (financiamento, troca, manutenção, assistência, etc...). Desta importante constatação, deduzem-se novas exigências educacionais: a força de trabalho nacional precisa estar psicologicamente e culturalmente preparada para atuar mundialmente, dotada de novas habilitações gerenciais. A realidade até agora descrita, permite afirmar-se que são cada vez maiores e mais elevadas as qualificações exigidas para os postos de trabalhos em qualquer dos setores de produção, fato que coloca uma grande pressão sobre as necessidades educacionais das populações. É óbvio, e desnecessário enfatizar, que a capacidade científica e tecnológica nacional é absolutamente dependente de nível educacional adequado da população. Educação, ciência e tecnologia estão intimamente relacionadas. Ao longo do tempo, na medida em que as tecnologias foram crescendo em conteúdo científico, tornou-se, proporcionalmente, cada vez menor o número de pessoas capazes de posicionarem-se nas fronteiras dos conhecimentos nas várias áreas do saber e, portanto, entendê-las, enquanto cresceu, e se nada for feito em termos educacionais, continuará a crescer, a ignorância tecnológica da maioria. É preciso ter presente que o mundo em que vivemos hoje, todos cidadãos necessitam conhecimentos básicos de ciência, das tecnologias mais usadas, de matemática e informática, continuamente atualizados. Esta é uma exigência não só para o mercado de trabalho, mas antes de tudo, para que o cidadão não seja um alienado, um ignorante diante dos bens e serviços utilizados no seu dia-a-dia. Em outras palavras o sistema educacional moderno deve, em todos os níveis e para todas as profissões, incluir competente e adequada educação em ciência e tecnologia. Trata-se de uma questão não só relacionada com a empregabilidade do indivíduo, mas uma questão de cidadania. A respeito dos conhecimentos científicos e tecnológicos que todas as pessoas deveriam ter, sugere-se, preliminarmente, a leitura dos trabalhos “Science for All Americans” e “Technology” produzidos pela American Society for the Advancement of Science (9 e 10) . Evidentemente, para a geração e uso das modernas tecnologias, a formação universitária deve ser primorosa nos níveis de graduação e pós-graduação, sendo esta exigência um item central na política científica e tecnológica integrante das estratégias nacionais ou regionais de desenvolvimento. Com as constantes mudanças tecnológicas, os indivíduos que não as acompanharem, ficarão prematuramente inabilitados para o trabalho. Serão parte do que tem sido chamado de desemprego estrutural. A desqualificação para o mercado de trabalho seja através da obsolescência ou da má formação escolar, dá origem ao que tem sido chamado de “analfabetismo tecnológico”. Os analfabetos tecnológicos não retornarão ou ingressarão adequadamente no mercado de trabalho nem que a economia cresça e expanda as oportunidades de emprego e trabalho. Evitar a obsolescência da força de trabalho através da chamada educação continuada é hoje uma preocupação da maioria dos países. Tendo em vista o custo elevado em trazer periodicamente essa força para dentro das salas de aula, a solução que está se ampliando, é levar os conhecimentos aos locais de trabalho utilizando meios eletrônicos, de preferência interativos. 2. EDUCAÇÃO ASSISTIDA POR MEIOS INTERATIVOS. ENSINO À DISTÂNCIA – EAD Por ocasião da passagem do século XX para o XXI, alguém vaticinou: “se errarmos de escola , poderemos errar de século”. É hoje consenso que é necessário que o País seja dotada de um sistema de educação demassa do primeiro ao terceiro grau, da melhor qualidade, e capaz de fornecer ao cidadão possibilidades de atualização continuada, ao longo de sua vida, para o trabalho e para o lazer. Isto é, preparar o cidadão, no dizer de Domenico de Masi (11), para “o ócio e o negócio” ao longo de sua existência. Adicionalmente, deve ter um quarto grau capaz de formar pesquisadores, produzir avanços nas fronteiras dos conhecimentos nas diversas áreas do saber e contribuir, efetivamente, para aumentar a capacidade endógena do sistema nacional de inovação tecnológica, em benefício do setor produtivo e das necessidades públicas. No que diz respeito ao ensino superior, a situação brasileira é lamentável. Segundo estatísticas que constam de Relatório da Organização das Nações Unidas (12), o Brasil é o país da América Latina com o menor índice de atendimento, no ensino superior, aos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos: apenas 10% daquela faixa etária, ou 1,3% da população total do País, o que equivale à cerca de metade do índice da Bolívia, de um terço da cobertura do Chile. Significa, ainda, que o País apresenta uma das piores taxas mundiais, sendo que, na América Latina e Caribe, somente está em pior situação o Haiti. Tal fato é gravíssimo e, ao mesmo tempo, um paradoxo, pois o País é uma das maiores economias mundiais, dispondo de um dos maiores sistemas educacionais do planeta e um sistema de pós-graduação de excelente qualidade. Outros dados da nossa realidade tornam a situação mais preocupante, a saber (13): a. No ano de 2000 foram oferecidas apenas 1.216.287 vagas no ensino superior para um total de 4.039.910 inscritos nos vestibulares em todo o Brasil. Em que pese o fato de que vários candidatos possam ter-se inscrito em mais de um exame de acesso, a média nacional de mais de três candidatos por vaga é, certamente, alta, e ela atinge um índice ainda mais alto – mais de nove candidatos por vaga – no sistema das instituições federais de ensino superior, naquele ano. b. A demanda por ensino superior tende a aumentar de forma dramática nos próximos anos, em decorrência do grande crescimento do número de concluintes do ensino médio, que é fruto, por sua vez, das altas taxas de matrícula de alunos no ensino fundamental, hoje na faixa de 95% do público-alvo. Esse expressivo crescimento do número de alunos que concluem o ensino médio não tem encontrado, entretanto, a devida contrapartida de vagas no ensino superior, particularmente no setor público.Em 1999, a relação entre o número de concluintes do ensino médio e o número de alunos que se inscreveram no ensino superior já havia chegado a, aproximadamente, três para um. c. A expansão da oferta de vagas vem se dando principalmente no setor privado. De fato, no ano de 2000, o setor público ofereceu apenas 245.632 vagas, ou seja, cerca de 1/5 do total. d. No ano 2000, embora o sistema de ensino superior tivesse oferecido apenas 1.216.287 vagas para 4.039.910 inscritos, 318.730 daquelas vagas não foram ocupadas, sendo, praticamente, todas elas oferecidas por instituições privadas. A propósito, a existência de vagas ociosas no setor privado não é peculiaridade de anos recentes, indicando que as necessidades da sociedade brasileira, no que se refere ao ensino superior, não podem ser solucionadas apenas com o aumento de vagas no ensino privado. Tal constatação decorre de diversas razões, entre as quais sobressaem o descompasso geográfico entre a oferta (concentrada) e a demanda (dispersa) e o fato de que um grande número de famílias não pode arcar com os altos custos dos cursos superiores nas IES privadas. Quem poderia pagar, já está pagando. e. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 93941996 – a LDB - impõe, até 2006, a qualificação, em nível superior, de todo o corpo docente atuante em todos os níveis de ensino no País, totalizando aproximadamente 1milhão e 200 mil professores. Isso implica em ter que qualificar em tal prazo, cerca de 830.000 professores nas séries iniciais, 233.000 para 5ª a 8ª séries e 51.000 para o ensino médio. Existe, ainda, uma falta histórica de professores para o ensino de matemática e ciências naturais (física, química e biologia). Por fim, o Brasil apenas iniciou a qualificação de docentes para a educação tecnológica, tão crítica nos dias de hoje, em que novas tecnologias, especialmente aplicáveis ao ensino, estão revolucionando o cotidiano dos povos e todos os padrões de desenvolvimento dos países. Somados todos os níveis de ensino, verifica-se que o Brasil precisa qualificar, no ensino superior, um contingente de mais de um milhão de professores nos próximos cinco anos. Felizmente, o próprio avanço tecnológico produziu os meios necessários para o atendimento parcial de tais necessidades, a custos suportáveis pela sociedade, inclusive no Brasil. Trata-se dos meios de comunicação que podem colocar conhecimentos ao alcance confortável dos cidadãos onde quer que eles estejam, a partir de bases logísticas onde estão armazenados tais conhecimentos. Tem-se assim, em mãos, a oportunidade de democratizar o acesso à educação em todos os níveis. Os meios pedagogicamente mais apropriados a serem utilizados são aqueles que permitem maior e mais eficiente interação entre os detentores do conhecimento e os seus demandantes, ainda que afastados fisicamente. Assim, são largamente utilizados o correio, o telefone, o gravador, o fax, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o DVD e a INTERNET. Tais meios, isoladamente ou associados, permitem “empacotar” pedagogicamente e “despachar” os conhecimentos. O acesso ao “produto” conhecimento torna-se, assim, um problema que envolve competência em logística (1) . Convenientemente utilizados, tanto no ensino presencial quanto à distância, os meios citados constituem-se, ainda, num poderoso instrumento no sentido de preparar o indivíduo a “aprender a aprender”, metodologia absolutamente apropriada a quem vive num mundo em constante mutação. Eles facilitam a utilização do processo educacional centrado no esforço do aluno aprender e não, majoritariamente, no esforço do professor em ensinar. A busca universal do conhecimento pelos cidadãos, seja através da formação escolar regular (education), seja para o trabalho ou para o lazer (training), exacerbou a visão do ensino como um grande negócio a ser explorado. Só para se ter uma idéia de grandeza dos volumes de recursos envolvidos, as empresas norte-americanas espalhadas pelo mundo, despenderam, em 1997, da ordem de 18 bilhões de dólares no treinamento de seus empregados somente em tecnologias de informação (14). Em conseqüência dessa demanda, passou a proliferar o surgimento de empresas especializadas em treinamento para o setor produtivo e as escolas regulares, principalmente as universidades e outras instituições de ensino superior, ampliaram suas ações na mesma direção. Tanto as empresas quanto as escolas passaram a utilizar largamente os meios interativos disponíveis, ampliando o seu alcance via ensino à distância, no sentido de atingir o instruendo em casa e/ou no local de trabalho (1) . Apesar da complexidade envolvida na montagem e execução do sistema necessário à prática da modalidade ensino à distância, esta apresenta um enorme potencial de democratização do acesso ao ensino superior de qualidade, o que vem sendo comprovado pelas diversas experiências bem sucedidas no exterior e, mais recentemente, no Brasil. De fato, estudos recentes (15) mostram que com o acréscimo de apenas 15% dos recursos usualmente aplicados no sistema de ensino superior como um todo é possível, em princípio, dobrar o número de alunos atendidos pelas universidades públicas, atendendo a um público- alvo que vive longe dos grandes centros urbanos ou que não dispõe de tempo, nos turnos usuais de oferta de cursos, por estar trabalhando.Na Europa, são várias as universidades que hoje utilizam a EAD. A Open University, fundada em 1971, atende atualmente a cerca de 230.000 alunos; a UNED, surgida em 1972, com aproximadamente 200.000 alunos; a Fern Universität, da Alemanha, implantada em 1974, com 58.000 alunos; a Universidade Aberta de Portugal, criada em 1988 e o Centro Nacional de Ensino à Distância da França, fundado em 1939, com cerca de 190.000 alunos são as mais consolidadas. Vale lembrar também a mega universidade Anadolu da Turquia, que iniciou suas atividades em 1982, com mais de 550.000 alunos (13). No ano acadêmico de 1997-98, os EUA tinham matriculados, em instituições de nível superior, da ordem de 1.661.100 estudantes em disciplinas à distância, sendo cerca de 1.363.670 no college-level em disciplinas no sistema de crédito, a maioria dos quais em nível de graduação (16).. Naquele ano foram oferecidas, aproximadamente, 54.470 disciplinas à distância, sendo cobrado dos alunos, em geral, o mesmo preço pago por aqueles que freqüentavam fisicamente as aulas. As tecnologias mais usadas foram: Internet assíncrono, vídeo interativo nas duas direções e vídeo pré-gravado (6). Exemplo digno de menção em educação e treinamento na área tecnológica é a National Technological University-NTU, situada em Fort Collins, Colorado, EUA (17), que tem por objetivo atender as necessidades educacionais avançadas de engenheiros, técnicos e gerentes, e oferecer cursos de mestrado. Os programas acadêmicos são compostos por disciplinas regulares oferecidas pelas 53 universidades associadas que participam do Satellite Network da NTU. As aulas presenciais são transmitidas ao vivo por TV, em tempo real, para os alunos distantes, que, em geral, estão nos seus locais de trabalho. A mesma aula, em gravação, é retransmitida em vários horários ao longo do dia, buscando atender as disponibilidades dos alunos. As aulas podem ser gravadas nos pontos de recepção para posterior uso pelos estudantes, utilizando, inclusive, “streaming” vídeo. Para a interação aluno-professor são empregados correio, fax, telefone e Internet. O Brasil, apesar de sua dimensão continental e da enorme demanda dispersa de sua população jovem por ensino superior, iniciou sua experiência com educação superior à distância apenas em 1998, com o curso da Universidade Federal do Mato Grosso para a formação de professores do ensino fundamental, visando a cumprir a LDB. Esta iniciativa pioneira graduou todos os professores do ensino fundamental que não tinham o nível superior, em um estado que se caracteriza pelas grandes distâncias geográficas entre suas cidades e povoados e pela diversidade cultural, demostrando, de forma inequívoca, a viabilidade e a adequação da utilização de EAD em nosso País (13). Desde então, outros cursos à distância para formação de professores do ensino fundamental vêm utilizando a metodologia de educação à distância, destacando-se os cursos superiores da UESC, UEMT, UFOP, UEC, entre outros. Recentemente, um consórcio regional das Universidades Públicas do Estado do Rio e Janeiro – CEDERJ, iniciou a oferta de cursos de licenciatura em matemática e em biologia, devendo brevemente expandir a sua oferta para cursos de física, química e pedagogia. No momento, diversos pedidos de credenciamento foram concedidos ou estão em fase de julgamento no MEC, indicando um grande crescimento da área para os próximos anos (13). 3. O PODER E O PAPEL DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA As tecnologias de base empírica são facilmente entendidas e, portanto, sua cópia e produção por empresas retardatárias, são uma questão de oportunidade e de disponibilidade econômica. Por sua vez, por serem fruto da aplicação de conhecimentos científicos, as tecnologias modernas mais relevantes e seus processos de produção, não são facilmente compreendidas e, conseqüentemente, são extremamente difíceis de serem copiadas. Isto é, são altamente discriminatórias: quem não tiver competência científica e capacidade tecnológica estará condenado à periferia, mesmo que disponha dos demais fatores de produção (capital, mão-de-obra e matérias-primas). Alguém já afirmou, sabiamente, que no mundo atual “mais vale o que se tem entre as orelhas do que debaixo dos pés”. A geração de tecnologias de base científica exige acúmulo de capital para investimentos contínuos em pesquisa, desenvolvimento experimental e engenharia, mobilizando cérebros com competência em amplo espectro de conhecimentos e capacidade gerencial para produzir, competitivamente, novos bens e serviços. O resultado disso tem sido a concentração do poder em todos os níveis. No nível individual, o extraordinário valor e a importância do “novo operariado”, que tem dado origem a uma nova visão das relações capital/trabalho. No setor empresarial observa-se a fusão de empresas, a formação de grandes conglomerados tecnológicos não confinados a fronteiras nacionais. Neste caso, observa-se que quanto mais impregnada de ciência for o produto ou as tecnologias de produção de um bem ou de um serviço, menor é o número de empresas competindo nos mercados. Finalmente, de uma certa maneira, a mesma coisa está ocorrendo ao nível de países. Observa-se neste final de século, a tendência dos países a aglomerarem-se em torno de fortes lideranças tecnológicas para formarem blocos econômicos e, por extensão, políticos e militares (18). Na realidade os avanços científicos e tecnológicos em geral, e os avanços das comunicações e dos transportes em particular, estão provocando, no dizer de R. Dreifus (19), a “mundialização da cultura, a “globalização” da produção dos mercados e da economia, e a “planetarização” dos países em torno de poucos “sóis”. Ou seja, as mais fortes lideranças dos países centrais estão impelindo os países retardatários no desenvolvimento a gravitarem em torno dos mesmos, os “sois” de cada sistema planetário, complementando e ampliando assim o seu Poder Potencial, com reflexos positivos no Poder Efetivo (20) . São os chamados “blocos econômicos (a - EUA com o NAFTA e propondo o ALCA; b - UE com o Leste Europeu e a África; c - Japão/China e a bacia do Pacífico). Longo (20) observando o cenário estratégico mundial no início dos anos 90 do século XX, apresenta uma explicação para a racionalidade embutida na formação de blocos de poder a nível global ou regional. Da argumentação utilizada, pode-se tornar clara a inter-relação educação - ciência e tecnologia – poder. O Poder Potencial (PP) de um país num dado instante de sua história, comparativamente a de outros países, representa a sua disponibilidade de condições físicas capazes de propiciar a geração de riqueza e poder. A sua avaliação não leva em consideração análise subjetiva: trata-se de uma fotografia do país. Refere-se a uma condição estática, semelhante à de uma caixa d’água: quanto mais volume e maior a altura em que estiver colocada, maior a energia disponível para ser transformada em trabalho. Ele está associado, basicamente, ao território nacional e à população existente sobre o mesmo ou capaz dele vir a suportar. Exemplo de análise do território seria: extensão total, forma e relevo, localização geográfica, fronteiras terrestres e marítimas, águas internas, extensão de desertos e de geleiras, terras apropriadas à agricultura e à pecuária, disponibilidade de matérias-primas e de fontes de energia, etc. Quanto à população: número de habitantes, sua distribuição e mobilidade espacial, etnias, línguas, religiões, etc. Dentre os parâmetros listados, alguns valorizam (Ex: fronteiras bem definidas e estabilizadas) e outros depreciam o Poder Potencial (Ex: afastamento dos centros dinâmicos da economia mundial). O Poder Efetivo (PE) de um país, num dado instante, está associado à sua capacidade em transformar em riqueza e poder as disponibilidadesfísicas, próprias ou de terceiros. Uma caixa d’água grande e bem elevada (alto PP), ligada a uma turbina eficiente, gera trabalho útil (alto PE). Ele pode ser avaliado por parâmetros econômicos (PNB, renda per cápita, exportações e importações, consumo de energia elétrica ou de aço/habitante, dispêndio nacional em C&T, etc.), psico-sociais (dispêndios com educação e saúde, expectativa de vida da população, médicos e leitos hospitalares/habitante, grau de escolaridade da população, etc.), políticos (regime político, estabilidade interna, presença internacional, etc.) e militares (dispêndio nacional com defesa, efetivo das Forças Armadas, capacidade de produção autônoma de material de emprego militar, grau de atualização tecnológica do equipamento, etc.). A exigência para que um país se torne Polo de Poder Mundial (PPM) é que o seu PF não seja vulnerável a fatores externos, principalmente pouco susceptível a embargos ao acesso às necessidades físicas. Ou seja, exige PE dotado de PP próprio ou complementado de maneira confiável. Esta condição pode ser alcançada por um país ou por um bloco de países estrategicamente associados. Os avanços da ciência e da tecnologia causaram alterações na visão e no valor relativo das vantagens comparativas tradicionais entre países, ou seja, o domínio e o uso de C&T na criação de inovações pode criar vantagens que superam as disponibilidades físicas e até financeiras. Assim, tem sido possível a alguns países construírem, isoladamente, um elevado PE, sem possuírem PP, desde que tenham alta capacidade científica e tecnológica, que exige alto nível educacional da sua população. Exemplo dessa situação é o Japão que, hoje, tem extraordinário PE, graças à sua competência em C&T, mas que é totalmente dependente de complementaridade externa essencial no que diz respeito ao seu PP (energia, matérias-primas industriais, etc.). Trata-se, portanto de PE extremamente vulnerável, pois não resistiria a um bloqueio, a um cerceamento comercial. Assim, isoladamente, não é, e nem será, um PPM. Outros exemplos poderiam ser dados em suporte à afirmativa de que é possível estrategicamente a um país mal dotado de PP, constituir um elevado PE, desde que tenha um forte tripé educação-ciência-tecnologia (E&C&T). Ao contrário, a história não registra nenhum país que dispondo de alto PP, tenha construído elevado PE sem que tivesse, ao mesmo tempo, população altamente educada e elevada capacidade em C&T para os padrões da época. A história mostra, ainda, que esses países acabam entregando seu PP para ser explorado por outros países, ou seja, complementam o PP de terceiros. Os leitores certamente serão capazes de deduzir um bom exemplo dessa situação. Pode-se agora responder à pergunta: porque os EUA são, no momento, o mais poderoso PPM? É obvio: tendo elevadíssimo PP, população com elevado padrão educacional, liderança inconteste em C&T, construíram um PE que se pode considerar, nas condições atuais, não vulnerável. No momento, procuram reforçar o seu PP através do Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), após grande avanço nessa direção com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Típico exemplo de “planetarização”. Quanto à União Européia, esta se enquadra perfeitamente como mais um exemplo em favor da argumentação exposta. A considerável competência científica e tecnológica européia achava-se espalhada em países de baixo PP, tais como a Alemanha, a Inglaterra, a França, a Itália, Holanda, Suíça, Bélgica e Áustria, todos abrigando populações com elevado grau de escolaridade. Ao unirem-se, passaram a ter todas as condições para erigirem um PPM. A tendência de ”planetarização”, neste caso, é na direção do Leste Europeu e da África. Finalmente, a situação do Brasil é clara: dotado de extraordinário PP, um dos maiores do planeta, falta-lhe E&C&T para construção de PE soberano, e determinação estratégica visando ser um PPM. 4. O PERFIL GENÉRICO DO PROFISSIONAL A SER PREPARADO E SUGESTÕES PARA O ENSINO NAS ÁREAS TECNOLÓGICAS (21) Diante do cenário mundial exposto anteriormente, procurou-se salientar os enormes desafios a serem enfrentados pelo nosso sistema educacional, particularmente no tocante à educação científica e tecnológica de toda a população e às exigências sobre as áreas profissionais ditas tecnológicas. A educação com um forte componente científico e tecnológico, requisito fundamental para a cidadania e progresso da nação começa no nível de primeiro grau e estende-se até o preparo de pesquisadores na pós-graduação, passando pela indispensável formação de professores competentes e motivados. Exige, portanto, decidido comprometimento político dos municípios, estados e União. Especificamente, quanto ao ensino profissional tecnológico, há que se levar em consideração que, embora os fundamentos específicos de cada área, lastrados por sólido embasamento científico e matemático, são e continuarão a ser o núcleo central do preparo intelectual dos profissionais, estes agora trabalham num ambiente complexo, mutável com grande rapidez, e no qual suas realizações são às vezes limitadas mais por considerações sociais do que pela capacidade técnica. Tecnólogos atuam decisivamente sobre o condicionamento do espaço físico apropriado para a vida humana. Isto faz com que estes sejam agora expostos a uma gama mais ampla de atividades durante sua vida profissional. Como conseqüência sua educação deve levar em consideração os contextos social, econômico e político, envolvidos na prática profissional. Diante da “mundialização” das culturas, anteriormente regionais, da “globalização” da economia e de produção de bens e de serviços, e da “planetarização” dos países menos desenvolvidos em torno de poucas e fortes lideranças científicas e tecnológicas, não é mais possível se pensar apenas localmente. Então, o novo profissional deve ser preparado para raciocinar e agir sem fronteiras, o que exige do mesmo o entendimento de outras culturas, principalmente idiomas e ambiências nas quais poderá ocorrer a produção. Adicionalmente, eles devem ser empreendedores e estar preparados para trabalhar em equipe, gerenciar complexos empreendimentos que podem envolver muitos indivíduos, mas também uma empresa de uma só pessoa: eles mesmos. Em outras palavras, eles devem cultivar a liderança, serem criativos, estarem profissionalmente e mentalmente equipados para, eventualmente, terem trabalho e não necessariamente um emprego, e serem prestadores autônomos de serviços. Finalmente, devem ter a consciência de que jamais estarão “formados”. Deve estar claro que o futuro profissional, imediato e longínquo, depende de sua capacidade de atualização contínua de conhecimentos face ao vertiginoso avanço das tecnologias, crescentemente apoiadas em aplicações de descobertas científicas. A partir da definição do perfil genérico do profissional a ser produzido, com base na compreensão do cenário científico e tecnológico descrito, foram formuladas as sugestões para o ensino. Tais sugestões são apresentadas abaixo, agrupadas em três categorias: a) Conteúdo Enfatizam aspectos do embasamento intelectual desejado, e que serão traduzidas, na sua grande maioria, pelas ementas das disciplinas : ° Forte embasamento em ciências e matemática Imprescindível que seja de alta qualidade, tratando-se do ponto central da formação intelectual do profissional. São fundamentais para o desenvolvimento da capacidade de abstração. ° Nem politécnica, nem especialista: formação personalizada. Nem saber um pouco de tudo, nem tudo de quase nada. Deve-se oferecer uma formação multidisciplinar aprofundada obedecendo a vocação de cada um, através de oferta de amplo leque de disciplinas. Os modernos recursos tecnológicos educacionais,muito utilizados em EAD, permitem viabilizar uma formação “sob medida”. ° Domínio das facilidades oferecidas pela informática associada ou não às comunicações eletrônicas Ferramentas fundamentais para a prática profissional de todas as áreas tecnológicas, desde a busca de informações, passando pelo cálculo, desenho, arquitetura e projeto, até o acionamento de sistemas complexos de produção automatizada. ° Domínio de línguas mais usuais Obviamente, a proficiência em inglês é mandatória. ° Visão humanística diante da profissão e dos interesses da sociedade Capacidade de entender e de equilibrar direitos e responsabilidades. b) Pedagógicas Práticas pedagógicas que deverão ser utilizadas para o desenvolvimento do perfil definido: ° Aprender a aprender Trata-se da mudança de enfoque pedagógico mais importante para enfrentar a ameaça de obsolescência prematura advinda da dinâmica atual da evolução científica e tecnológica. Exige mudança radical no processo ensino-aprendizagem O futuro profissional deverá “aprender a aprender sozinho”. Como conseqüência, aquilo que o aluno pode ler, entender e/ou deduzir, não deverá ser exposto pelo professor. Além do uso de material impresso, e o incentivo ao uso das bibliotecas como fontes de informação, recomenda-se o uso de meios eletrônicos complementares de ensino, manuseados individualmente pelo aluno na busca de conhecimentos (vídeo, CD-ROM, INTERNET, etc). ° Avançar no desconhecido É fundamental que o futuro profissional seja bem familiarizado com a metodologia racional utilizada na pesquisa e no desenvolvimento experimental, e com a ambiência científica e tecnológica (seminários, revistas, redação técnico-científica, ética, valores, tradições, sistemas de informações, propriedade intelectual, etc.). Bolsas e estágios de iniciação científica ou tecnológica são valiosos instrumentos utilizados nesse processo. ° Saber fazer (com criatividade e ousadia) Estudar, pesquisar, projetar, produzir. O profissional deve ser preparado para “fazer”, sempre que possível, inovando. Ele deve ser desafiado a “fazer” na escola e/ou no setor produtivo (estágio supervisionado). ° Evitar excessiva compartimentação do conhecimento e de suas aplicações. A natureza é complexa e, portanto, “multidisciplinar”. Nós é que compartimentamos o conhecimento, e criamos departamentos e disciplinas excessivamente estanques. Deve-se ensaiar novas maneiras de estudar, entender os fenômenos e suas aplicações e implicações. Dotar o futuro profissional de visão sistêmica. ° Capacidade gerencial e empreendedora. O profissional a ser graduado deve ter a capacidade de identificar oportunidades, juntar meios de naturezas diversas ( humanos, materiais e financeiros) organizá-los e empregá-los eficientemente para criar e produzir. Ele deve “fazer acontecer”. Para tanto deve ter liderança e familiaridade com o trabalho em equipe. c) Complementares Diretrizes gerais que não se enquadram nas categorias anteriores. ° Fim de “formatura” Deve ficar claro que a chamada “formatura” não tem o significado expresso pela palavra. Deve ser encarada como um acontecimento social que marca a desvinculação do cidadão da escola e o início do seu vôo solitário. Em áreas tecnológicas não há mais formação terminal. Defende-se, aqui, a proposição que os “formandos” não deveriam ser “desligados” das suas escolas. Ao contrário, deveriam permanecer “matriculados” nelas para sempre, e para a ela voltarem, periodicamente, quando necessário. ° O professor também é um estudante O professor é um estudante normalmente mais velho e, necessariamente, mais experiente que seus alunos. Ele também deve ter presente que nunca estará “formado”. Todos professores devem ser estimulados a estudar, produzir intelectualmente e não perder contato com a prática da sua especialidade. Oportunidades para tal deverão ser oferecidas. ° Intransigência com a qualidade Diretriz geral para todas as atividades da escola e que deve ser transmitida aos futuros profissionais. Na competição local e global, não basta ser bom, é preciso ser ótimo. ° “Legitimar” conhecimentos O sistema educacional formal não tem o monopólio do conhecimento. Hoje, conhecimentos úteis podem ser adquiridos fora do sistema formal, graças aos veículos modernos de circulação de informações. A escola deverá não só fomentar a busca de conhecimentos onde eles estiverem disponíveis, mas, também, aceitá-los oficialmente. TABELA 1 ____________________________________________ Período/ano Expectativa Poupulação ______________________(anos)________(milhões)_ 4.000.000 a 1.000.000 aC 14-15 0,07-1,00 900.000 a 400.000 aC 14-15 1,70 100.000 a 15.000 aC 18-20 15.000 a 5.000 aC 20-27 4 10.000 a 3.000 aC 25 10 3.000 a 1.000 aC 28 50 500 aC a 500 dC* 25-28 100-190 800-1300 30* 220-360 1700 32-36* 545 1800 34-38* 720 1860 1.200 1900 48** 1950 2.500 1970 71** 1975 3.900 . Fonte: Revista 21st Century (Fall 1995) TABELA 2 _______________________________________________ Ano Expectativa de vida Trabalho total Lazer (anos) (horas) (horas) . 1800 36 100.000 26.000 1980 72 85.000 135.000 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) LONGO, W.P., “A viável democratização ao acesso ao conhecimento”, Revista Lugar Comum/UFRJ 9-10, p. de 195 a 207 , Rio de Janeiro,Setembro 1999 a Abril 2000. (2) LONGO, W.P., “Ciência e Tecnologia: evolução, inter-relação e perspectivas”. Anais do 9º Encontro Nacional de Engenharia de Produção, vol. 1, 42, Porto Alegre, 1989. (3) PRICE, D.S., “Little science, big science”, Columbia University Press, New York, 1963. (4) “The Hart-Rudman Presidential Commission on the future of national security”, Phase II, Washington D.C., E.U.A, 2000. (5) LONGO, W.P., “Ciência e Tecnologia e a Expressão Militar do Poder Nacional”, TE-86 DACTec, Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 1986. (6) OLIVEIRA, J.M.A., “Origem e evolução do pensamento estratégico”, Escola Superior de Guerra, Rio de Janeiro, 1986. (7) LONGO, W.P., “O desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil e suas perspectivas frente aos desafios do mundo moderno”, coleção Brasil: 500 anos, vol. II, Editora da Universidade da Amazônia, Belém, 2000. (8) LONGO, W.P., “A visão internacional e os institutos de pesquisa”, Longo, W.P., Anais do Congresso ABIPTI 2000 da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica, p. 21 a 36, Fortaleza, 2000. (9) RUTHERFORD, F.J. e AHLGRES, A, “Science for all Americans”, Oxford University Press, New York, E.U.A, 1990. (10) JOHNSON, J.R., “Technology”, American Society for the Advancement of Science, Washington, E.U.A., 1989. (11) De MASI, D., Entrevista, Correio do Livro, Abril/Junho, Rio de Janeiro, 1999. (12) O.N.U., “Novas tecnologias e desenvolvimento humano", Relatório, 2001. (13) UniRede. “Democratização do acesso ao ensino superior público: proposta para a institucionalização da UniRede” , Rio de Janeiro, 2002. (14) SAVITZ, E. J.,“For Adults Only”, Barrow´s, Dow Jones Company Inc., march 2, 1998,EUA. (15) Consórcio CEDERJ, “Planejamento Orçamentário 2002”, Rio de Janeiro, 2002. 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