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Práticasalimentares 2016 Trabalho de Conclusão de Curso


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIENCIAS DA SAÚDE 
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO 
 
 
 
 
PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS: 
O que pensam, sentem e sabem os formandos em Nutrição? 
 
 
 
 
 
 
GABRIELA OLIVEIRA EMÍDIO 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2016 
 
 
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GABRIELA OLIVEIRA EMÍDIO 
 
 
 
PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS: 
O que pensam, sentem e sabem os formandos em Nutrição? 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado ao Curso de Graduação em 
Nutrição da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte como requisito final 
para obtenção do grau de nutricionista 
 
 
 
Orientadora: Profª Dra. Vera Lucia Xavier Pinto 
Co-orientador: Prof.Ms. Diôgo Vale 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2016 
 
 
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GABRIELA OLIVEIRA EMÍDIO 
 
PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS: 
O que pensam, sentem e sabem os acadêmicos de Nutrição? 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Nutrição da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito final para obtenção do grau de 
nutricionista. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
_________________________________________________________ 
Profª Drª Vera Lucia Xavier Pinto 
(Orientadora) 
 
________________________________________________________ 
Prof. Esp. Diôgo Vale 
(Co-orientador) 
 
_________________________________________________________ 
Profª. Esp. Ginetta Kelly Dantas Amorim 
(3º membro) 
 
Natal, ______ de _______________ de 2016. 
 
 
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Aos sonhadores, que inconformados com 
a forma padrão buscam a visão de um 
novo mundo e ao meu pequeno 
vegetariano convicto, Eduardo. 
 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
A Deus e a minha ilustríssima orientadora e amiga, Vera Lucia Xavier, por todas as 
orientações, paciência e afeto que tornaram esse trabalho possível. 
A minha mãe, por me inspirar a iniciar essa jornada e me trazer diversas reflexões durante o 
percurso. 
A minha tia Nadja, por todo o carinho e por ser como uma segunda mãe. 
Ao meu companheiro, amigo e amor da minha vida, André Gustavo, que esteve comigo em 
todas as circunstâncias, pela compreensão, carinho e apoio. 
A queridíssima Michelle Medeiros, por ter sido uma grande inspiração, além de uma grande 
amiga e irmã nas melhores e piores horas. 
A prima e irmã, Camila Marcela, por me fazer sorrir das piores situações e por me dar novas 
forças nos momentos de cansaço. 
As amigas Analis Costa, Natalia Araújo e Roxelly Teixeira, por partilharem momentos 
valiosos, e por estarem comigo durante todo o percurso e que independente da distância 
estiveram ao meu lado. 
Ao sobrinho Luiz Eduardo, meu vegetariano preferido, por ser, doce, respeitoso e convicto de 
suas escolhas e por ter sido a minha inspiração inicial. 
Aos colegas de turma que colaboraram para que esse trabalho fosse possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EMÍDIO, Gabriela. PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS: O que pensam, sentem e 
sabem os acadêmicos de Nutrição?. 2016. 52 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação 
em Nutrição) – Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 
2016. 
 
RESUMO 
As práticas alimentares não usuais têm se tornado cada vez mais presentes em 
decorrência da complexidade das escolhas alimentares, que podem ser regidas a partir da 
Ética, sustentabilidade, religião e questões ligadas a saúde e bem-estar. O presente trabalho 
associa a pesquisa de cunho exploratório com a autobiográfica. Tem como objetivo discutir a 
importância biossociocultural e o conhecimento e ideias que os estudantes concluintes de 
Nutrição da UFRN em 2016.1 têm a respeito do tema. Além dos relatos de vivência da 
autora, também concluinte desta turma, buscou-se realizar um levantamento quantitativo 
sobre a criação, abate e comercialização de animais; analisar quantitativamente a relação do 
vegetarianismo com a sustentabilidade ambiental; investigar a quantidade de adeptos de 
práticas alimentares não usuais no Brasil; analisar o Projeto Pedagógico do Curso e a prática 
pedagógica em relação ao tema; identificar o conhecimento científico e as ideias dos 
discentes acerca do tema. A metodologia uniu técnicas de caráter quantitativo e qualitativo e 
os resultados mostraram que há uma crescente adesão de pessoas às práticas não usuais e uma 
carência de informações a seu respeito na formação. Conclui-se que há necessidade do Curso 
de Nutrição da UFRN intensificar a discussão sobre esta temática. 
 
Palavras chave: Alimentação vegetariana; Formação; Nutrição; Reflexão; Saúde 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15 
PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS, COMO CONHECÊ-LAS? ........................... 17 
AS PRÁTICAS NÃO USAIS E SUA IMPORTÂNCIA BIOSSOCIOCULTURAL ............. 21 
SOBRE AS PRÁTICAS NÃO USAIS: O QUE SABEM, PENSAM E SENTEM 
FORMANDOS EM NUTRIÇÃO? .......................................................................................... 35 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 58 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 59 
APÊNDICES............................................................................................................................ 62 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
A alimentação é uma das atividades mais complexas inerentes ao ser humano. O 
envolvimento de diversos fatores biossocioculturais interfere diretamente em nossas escolhas 
alimentares. A exclusão dos componentes de origem animal pode se dar parcialmente ou 
completamente e acontece por diversos motivos, dentre eles a saúde, a ética, a 
sustentabilidade, a economia, conceitos filosóficos e religiosos, configurando o que 
conhecemos por práticas alimentares não usuais1 (COUCEIRO, 2008). 
Nas últimas décadas, os estudos epidemiológicos apontam importantes e 
significativos benefícios com a adoção do vegetarianismo e outras práticas alimentares 
derivadas e baseadas em vegetais. Foi observado a redução do risco de muitas doenças 
crônicas não transmissíveis, além da redução do risco de mortalidade. Estudos realizados em 
populações vegetarianas mostraram a redução dos níveis séricos de colesterol, da prevalência 
de doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diversos tipos de câncer e diabetes tipo 2. 
(COUCEIRO, 2008; SVB, 2012). 
Várias organizações mundiais de grande relevância tais como American Heart 
Association (AHA), a Food and Drug Administration (FDA), o Departamento de Agricultura 
dos Estados Unidos (USDA), a Kids Health (Nemours Foundation), o College of Family and 
Consumer Sciences (University of Georgia) e a Associação Dietética Americana (ADA) 
apoiam a adoção das dietas vegetarianas e afirmam que os profissionais nutricionistas têm o 
dever de incentivar a prática daqueles que pretendem aderir à dieta. (SVB, 2012). 
A Sociedade Vegetariana Brasileira sob a presidência de Marly Winckler, tem 
contribuído bastante com informações de cunho científico e a respeito das implicações sociais 
e éticas que uma dieta vegetariana pode proporcionar. A partir de publicações online, 
disponíveis paratoda a população, pode-se ter acesso a orientações a respeito de preparações, 
conceitos éticos e sustentabilidade dentre todas as outras questões que se enquadram nas 
práticas. (SVB, 2012). 
De acordo com a avaliação do IBOPE realizada no ano de 2012, dentre os indivíduos 
com mais de 18 anos, existem 15,2 milhões de brasileiros se declaram vegetarianos de 
alguma forma. Desse quantitativo, cerca de 10% dos homens e 9% das mulheres se 
 
1 O termo 'práticas alimentares não usuais' será utilizado para caracterizar as dietas vegetarianas, veganas e 
derivadas delas. Esta opção basea-se na constatação que este é o termo utilizado nas publicações científicas e na 
nomeação das aulas sobre estas práticas. 
 
 
 51 
 
declarados. O que pode ser considerado uma amostra representativa da sociedade, visto que 
esse número tem crescido bastante nos últimos anos. (IBOPE, 2012; SVB, 2012). 
A partir de todo o conhecimento que se tem dos benefícios e o aumento de adeptos a 
prática da dieta vegetariana, como também dos estudos que comprovam a eficácia na adoção 
do estilo de vida sem produtos animais, surgiu a indagação inicial sobre a importância 
biológica e social das “práticas alimentares não usuais” e que conhecimento e ideias os 
estudantes de Nutrição têm sobre o tema. Optou-se por uma pesquisa quanti-qualitativa, cujo 
objetivo é discutir a importância biossociocultural do vegetarianismo e o conhecimento e 
ideias de estudantes de Nutrição da UFRN, concluintes em 2016.1, sobre a temática. Para 
tanto foi necessário: a) realizar um levantamento quantitativo sobre a criação, abate e 
comercialização de animais; b) analisar quantitativamente a relação do vegetarianismo com a 
sustentabilidade ambiental; c) investigar a quantidade de adeptos de práticas alimentares não 
usuais no Brasil; d) analisar o PPC e a prática pedagógica em relação ao tema; e) identificar 
o conhecimento científico e as ideias dos discentes acerca do tema. 
O trabalho resultante desta pesquisa está organizado nos três capítulos que se seguem. 
No primeiro deles, intitulado Práticas Não Usuais, Como Conhecê-las? expõe-se a 
metodologia utilizada. No segundo, As Práticas Não Usuais e Sua Importância 
Biossociocultural, trata-se dos aspectos biossocioculturais do vegetarianismo e por fim, em 
Sobre As Práticas Não Usais: o que Sabem, Pensam e Sentem Formandos em Nutrição? 
retrata-se as ideias e conhecimentos de concluintes de Nutrição sobre o tema. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51 
 
PRÁTICAS ALIMENTARES NÃO USUAIS, COMO CONHECÊ-LAS? 
 
René Magritte, Les pommes masquées, 1966. 
Neste capítulo será exposto o percurso metodológico. O presente trabalho associa a 
pesquisa de cunho exploratório com a autobiográfica, em que eu, uma formanda em Nutrição, 
sensibilizada pela necessidade sentida de uma formação mais ampla em relação às práticas 
alimentares não usuais, investi na pesquisa junto àqueles que se formarão comigo na turma de 
2016.1. Perguntava-me se as necessidades vivenciadas por mim eram coletivas e motivei-me 
à realização deste estudo construído adotando como referencial teórico a Teoria da 
Complexidade, de Edgar Morin. 
Percebemos que na construção de si mesmo, o ser humano não se compõe apenas por 
um esquema biológico no qual ocorrem reações químicas e fisiológicas que o mantém vivo. 
São vários os aspectos fundamentais que influenciam na formação humana como individuo, 
como a cultura, a religião, o meio onde vive e as contribuições destas a sua formação 
tornando-o um ser complexo. 
Atribuindo ao ser humano comportamento complexo, é válido que se tenha em mente 
a necessidade de considerar que as diversas áreas do conhecimento deveriam estar conectadas 
para a melhor compreensão de tal realidade. De acordo com Morin, existe um desligamento 
entre as ciências da natureza e as ciências do homem. 
De fato, o ponto de vista das ciências da natureza exclui o espírito e a cultura que 
produzem essas mesmas ciências, e não chegamos a pensar o estatuto social e histórico das 
ciências naturais. Do ponto de vista das ciências do homem, somos incapazes de nos pensar, 
 
 
 51 
 
nós, seres humanos dotados de espírito e de consciência, enquanto seres vivos biologicamente 
constituídos. (MORIN, 2005). 
Segundo Pinto (2015, p 26), "qualquer pessoa que faça ciência com seriedade sabe 
que seu fazer se traduz em tomar o discurso científico para expressar determinada realidade. 
Não se trata de descobrir e reproduzir uma verdade imutável." O que leva à necessidade de se 
estudar todos os aspectos que compõe a realidade do ser humano para melhor compreendê-lo. 
Como afirma Morin (2005, p 31), "Trata-se de estabelecer a relação entre ciências naturais e 
ciências humanas, sem as reduzir umas às outras (pois nem o humano se reduz ao biofísico, 
nem a ciência biofísica se reduz às suas condições antropossociais de elaboração)." 
Baseando-se nestas ideias-guia, o percurso metodológico foi realizado. Como foram 
articulados os enfoques quantitativo e qualitativo, utilizaram-se técnicas pertinentes a cada 
um deles, tanto em relação às coletas quanto às análises. 
Quanto a abordagem quantitativa, foi realizado um estudo ecológico descritivo, que 
consiste em examinar a prevalência e a incidência de uma determinada condição em um dado 
local. Foi realizado no território brasileiro, dividido nas 27 Unidades da Federação (UF). Os 
dados são referentes aos anos de 1997 a 2012. Foram coletadas informações sobre a produção 
de ovos, leite e galinhas poedeiras, a quantidade de animais abatidos, aquisição anual e 
disponibilidade calórica proveniente de alimentos de origem animal e quantidade de gases do 
efeito estufa provenientes da pecuária. Esses dados foram coletados do Sistema de Dados 
Agregados do IBGE-SIDRA2. As pesquisas originais que geraram essas informações foram: 
Pesquisa trimestral do couro3, Pesquisa trimestral do abate de animais4, Pesquisa trimestral do 
leite5, Indicadores de desenvolvimento sustentável6 e Pesquisa de Orçamentos Familiares7. A 
 
2 Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/, acesso em 26 de março de 2016. 
3 Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl2.asp?c=1088&n=0&u=0&z=t&o=24&i=P 
Acesso em: 26 de março de 2016 
4 Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo/acervo9.asp?ti=1&tf=99999&e=c&p=AX&z=t&o=24 
Acesso em: 26 de março de 2016 
5 Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1086&z=t&o=24 Acesso em: 26 de 
março de 2016 
6 Disponível emhttp://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=p&o=8&i=P&c=5911 Acesso em: 26 de 
março de 2016 
7 Disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/pesquisas/pof/default.asp?o=14&i=P Acesso em: 26 de 
março de 2016. 
Disponibilidade calórica de alimentos de origem animal: 
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=p&o=14&c=3036 
Aquisição de alimentos de origem animal: 
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=p&o=14&c=2393 
 
 
 51 
 
quantidade de vegetarianos, veganos e simpatizantes foi obtida a partir do censo vegetariano8. 
Foi realizado um linkage9 de todas as variáveis finalizando com a construção de um banco de 
dados agregado por UF. 
As variáveis foram classificadas em dimensões nacionais, regionais e domiciliares. As 
nacionais englobam a emissão anual de gases do efeito estufa (Gigagrama) provenientes da 
agropecuária no Brasil e a quantidade total de animais abatidos anualmente no Brasil, ambos 
de 1997 a 2012. A dimensão regional é representada pelas seguintes variáveis: coeficiente de 
produção anualde ovos (unidades), de leite (litros), número de galinhas poedeiras e de 
animais abatidos, os quais foram calculados a partir da razão entre o valor de cada variável e 
a população de cada UF. A dimensão domiciliar incorpora a disponibilidade calórica per 
capta de alimentos de origem animal (%) e aquisição per capta anual de alimentos de origem 
animal e suas respectivas variações anuais. Foi calculada a proporção de vegetarianos, 
veganos e simpatizantes a partir da razão entre o número total e a população geral por 
1.000.000. 
A abordagem qualitativa constituiu-se pelas narrativas de meu percurso de formação e 
pela investigação com outros estudantes da UFRN. Os colaboradores foram doze graduandos 
de Nutrição, que como eu, ingressaram no curso em 2012.1 e estão concluindo no semestre 
de 2016.1, com exclusão dos alunos que se consideravam vegetarianos ou veganos. A escolha 
dessa turma se deu, principalmente, por se tratar de uma jornada que foi vivenciada pelo 
mesmo grupo de pessoas nos últimos quatro anos e meio. Outro aspecto importante é o fato 
de todos haverem cursado as mesmas disciplinas e terem interação com os mesmo 
professores. 
Junto aos colaboradores, a coleta de materiais se deu da seguinte forma: 
a) Entrevistas semidirigidas, em que os participantes responderam questões inerentes 
aos conhecimentos adquiridos no curso em relação às “dietas não usuais”, e 
também colocaram suas opiniões sobre o tema. As perguntas realizadas estão 
constam no Apêndice 1. 
 
8 mapaveg.com com acesso em 21 de março de 2016 
9 Pode ser definido como a união de bancos dados agregados originários de diferentes estudos 
de inquéritos populacionais. Que precisam tem uma medida semelhante. No caso desse 
estudo a unidade da federação. 
 
 
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b) Associação de imagens, em que os participantes, a partir da apresentação de 
imagens de vários tipos de cereais, legumes e verduras foram agrupadas em quatro 
sessões: "Não conheço", "Conheço", "Sei preparar", "Sei os principais nutrientes e 
seus benefícios". (Apêndice 2). 
c) Uma escala de conhecimento para quantificar as vias utilizadas para obter 
informações sobre as práticas alimentares não usuais: colegas de turma, mídias 
oficiais e sociais, congressos, cursos e palestras, publicações científicas e 
disciplinas do curso. Foi utilizada uma escala de 1 a 10. (Apêndice 3). 
O Projeto Pedagógico, implementado em 2009, foi analisado a partir da proposta geral 
do curso e das disciplinas presentes na estrutura curricular. Verificou-se ainda o quanto foi 
abordado em relação às “dietas não usuais” a partir das ementas, da experiência durante as 
aulas e dos relatos dos alunos referentes ao processo de formação e a contribuição do curso 
na aquisição de informação sobre o tema. Além da relevância das abordagens em comparação 
com o total de horas do curso. Foi analisado quantitativamente a partir da comparação das 
horas de aula que abordavam o tema com a quantidade total de horas estabelecidas para o 
curso. 
Os resultados da análise ecológica foram apresentados em gráficos para comparação 
entre o abate de animais e a produção de Gases do Efeito Estufa proveniente da pecuária; e a 
partir da cartografia das demais variáveis, para a identificação das regiões com maior abate, 
produção e consumo de produtos de origem animal, proporção de vegetarianos, veganos e 
simpatizantes na população em geral. 
Na associação de imagens avaliamos o percentual de alimentos conhecidos pelos 
participantes em cada sessão. Também elencamos a partir da escala de conhecimento quais 
fontes de informação se tornaram mais frequentes na contribuição para o conhecimento dos 
colabores sobre o tema a partir do preenchimento das escalas. 
A análise qualitativa em relação às entrevistas foi realizada com uma leitura flutuante 
inicial e posterior marcação de temas relevantes, que geraram os três tópicos que nortearam 
as discussões. A mesma metodologia foi adotada para a análise das disciplinas presentes na 
estrutura curricular. Foram escolhidas aquelas que mais apresentaram potencial para 
integração do tema central desse trabalho, obrigatórias ou optativas. Foram observadas as 
ementas e a profundidade do tratamento sobre o tema nas aulas ministradas. 
 
 
 51 
 
AS PRÁTICAS NÃO USAIS E SUA IMPORTÂNCIA BIOSSOCIOCULTURAL 
 
Vladimir Kush - Sunrise by the ocean, 2000. 
 
Criação, abate e comercialização de animais: um comércio justo? 
De acordo com a ONU, em dimensões mundiais são criados e abatidos por ano mais 
de 70 bilhões de animais para a produção de carnes e produtos oriundos. Grande parte desses 
animais é criada em confinamento intensivo. O principal objetivo é conseguir manter uma 
maior quantidade de animais em um menor espaço físico, resultando em um controle total da 
sua alimentação e da forma de como vivem esses animais. A lógica aplicada a esse setor da 
economia é a mesma que se aplica as produções em larga escala, fazendo com que os animais 
sejam apenas peças em uma grande linha de montagem. Dentre os países com maior 
produção e comercialização de carnes, o Brasil está entre os primeiros, ficando atrás apenas 
dos EUA e da China, sendo o responsável por 8% da produção total, equivalente a 5,5 bilhões 
de animais por ano abatendo assim 10 mil animais a cada minuto. (NACONECY, 2015). 
 Nos Estados Unidos o consumo de carne é tão relevante culturalmente que se 
utilizam da expressão “Religião do Grande Bife Americano”. Sendo um dos maiores 
símbolos de prestígio e valor econômico. Em decorrência do elevado consumo humano de 
produtos e subprodutos animais, essa atividade tem ganhado cada vez mais prestígio na 
economia brasileira. Nos últimos 50 anos as grandes empresas e corporações tem feito da 
agricultura verdadeiras linhas de produção e agronegócio. A modernização de técnicas elevou 
 
 
 51 
 
o setor pecuário a um patamar de destaque econômico pelo aumento quantitativo na produção 
e por ter gerado um peso significativo no aumento do PIB (Produto Interno Bruto) com a 
exportação. (BLEIL, 1998; SINGER, 2010; FILHO, 2006). 
A quantidade de animais abatidos nos últimos 15 anos, praticamente triplicou, saindo 
de cerca de 7 bilhões em 1997 para 23 bilhões em 2012 (Figura 1). A carne produzida no 
Brasil não é considerada de boa qualidade. Para isso, seriam necessários investimentos que 
melhorassem a qualidade de vida dos animais e por consequência a qualidade dos seus 
produtos. Entretanto, por se tratar de um método mais caro, não é bem aceito pelos 
produtores. A competição gerada pela produção privilegia métodos que aumentem os lucros e 
reduzam os custos, significando proporcionar aos animais uma vida miserável e de 
sofrimento do nascimento até o momento do abate. (FILHO, 2006; SINGER, 2010). 
 
Figura 1: Distribuição anual da quantidade de cabeças bovinas, suínas e galináceos 
produzidas no período de 1997 a 2012 no Brasil. FONTE: Elaborado pelos autores a partir da 
Pesquisa trimestral do abate de animais. 
As quantidades de ovos produzidos são maiores nas regiões centro-oeste, sul, sudeste 
e no estado de Pernambuco, exceto no Distrito Federal e no Mato Grosso do Sul (2a). Já a 
produção de leite tem grandes números no estado de Sergipe, na região centro-oeste, sul e 
sudeste, sendo menor em São Paulo, Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. 
(2b). A quantidade de galinhas poedeiras é elevada na região centro-oeste, sul e sudeste, 
exceto no estado do Rio de Janeiro e no Distrito Federal (2c). As regiões com maior produção 
de subprodutos animais no Brasil são aquelas com climas favoráveis para a manutenção do 
pasto ou condições favoráveispara o investimento em alimentação (Figura 2). 
 
 
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Distribuição espacial da quantidade produzida de ovos (2a), leite (2b) e galinhas poedeiras 
(2c) no ano de 2012. FONTE: Elaborado pelos autores a partir da Pesquisa trimestral do leite 
e Pesquisa de Orçamentos Familiares. 
 
 
Do total de galinhas poedeiras existentes no Brasil, cerca de 90% são criadas em um 
sistema de gaiolas em bateria que consiste no empilhamento de gaiolas para que se tenha uma 
maior quantidade de animais confinados. Cada galinha tem um espaço equivalente a uma 
folha de papel A4 durante a vida inteira, que dura em média 1 ano e meio quando o normal 
são 7 anos, impossibilitando o movimento e a mobilidade das galinhas que são privadas até 
de abrirem as asas. Os elementos fundamentais como a ração e a água são mantidos em 
comedouros no teto, as luzes são reguladas para favorecer o rápido crescimento até a fase de 
produção. (NACONECY, 2015). 
Em um galpão com até 90 galinhas é possível se estabelecer uma ordem social, 
mantendo a harmonia natural do grupo. Contudo, os galpões abrigam cerca de 80 mil 
galinhas empilhadas. Essas condições geram bastante estresse para os animais, fazendo com 
que fiquem agitadas e agressivas, tendem a atacar umas as outras. Para evitar a morte de 
 
 
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galinhas dessa forma, os bicos são cortados no momento do nascimento. Também foi 
comprovado que a variação de luz, assim como a iluminação intensa podem aumentar o 
comportamento agressivo, dessa forma, as luzes são reduzidas para evitar conflitos entre os 
animais e o desenvolvimento de um comportamento canibal devido as condições de estresse. 
(SINGER, 2010). 
Diminuir a superpopulação e trabalhar com menor quantidade de galinhas por galpão 
acarretaria em um maior bem estar animal e uma melhor qualidade da produção de ovos. A 
utilização dos métodos para a criação, como alimentação, sistema de ventilação e iluminação 
seriam os mesmos, contudo seria necessária a construção de vários galpões para abrigar a 
quantidade de galinhas e sustentar a mesma produção, o que acomete a um custo maior sem 
aumento do lucro. (SINGER, 2010) 
As vacas utilizadas para a produção de leites e derivados são mantidas em 
confinamento intensivo. Passam longas horas do dia em máquinas de ordenha, que causam 
inflamações severas nas tetas. Para aumentar a produção foram feitas seleções genéticas nas 
vacas para maximizar a quantidade de leite, podendo aumentar de 5 a 6 vezes o volume por 
animal. Para que haja essa produção, as vacas precisam dar à luz continuamente, sendo 
inseminadas artificialmente e passando por gestações repetitivas. Uma vez que o bezerro 
nasce, ele é separado da mãe por não poder se alimentar do leite para não debilitar a produção 
que vai ser comercializada. Grande parte dos filhotes é abatida como novilhos ou criados para 
carne de vitela. O tempo de vida de uma vaca é cerca de 20 anos. Sobre essas condições, elas 
sobrevivem de 5 a 6 anos em condições deploráveis. (NACONECY, 2015). 
O custo para a produção de leite tem sido relativamente alto. Nesse caso, para se 
investir em bem-estar animal é demasiadamente oneroso. Não se tendo como elevar os custos 
com tal produção oferecendo maiores benefícios aos animais, se tem a necessidade de investir 
em uma boa alimentação para que haja maior produção de leite. O que leva o produtor a 
utilizar as vacas apenas como máquinas produtivas visando apenas o seu lucro total e não a 
produção individual de suas vacas. Desta feita, as preocupações com o devido bem-estar 
animal, não são realizadas, de modo que os animais se tornam apenas objetos de produção em 
massa. (MATOS, 2002). 
Existe uma grande quantidade de cabeças bovinas abatidas em todas as regiões no 
país, tendo um destaque maior para os estados localizados nas regiões mais centrais e no 
Acre, e uma menor quantidade de abates bovinos no Distrito Federal e nas regiões mais 
 
 
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litorâneas, exceto, o Rio Grande do Sul. As menores proporções estão entre 0 e 4 cabeças de 
gado per capta, e as maiores são de 14 a 140 cabeças de gado per capta (3a). Existe maior 
quantidade de abate de suínos nas regiões, Centro-oeste, Sul e Sudeste, com exceção dos 
estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As menores proporções estão entre 0 e 1 per capta, 
enquanto que as maiores estão entre 5 e 150 cabeças suínas per capta (3b). A quantidade de 
frangos abatidos é maior nas regiões, Centro-oeste, Sul e Sudeste com exceção do Rio de 
Janeiro e Espírito Santo. Em que as menores proporções estão entre 0 e 1 cabeças de frango, 
enquanto que as maiores estão entre 14 e 150 cabeças e frango per capta (3c). A proporção 
de animais abatidos em quilogramas foi menor nas regiões Sudeste, Nordeste e Norte com 
exceção dos estados do Acre, Roraima e Tocantins que tiveram quantidades maiores de 
carnes juntamente com as outras regiões do país. As áreas de menor proporção tiveram 
valores per capta ente 0 e 15 kg anuais, enquanto que as áreas de maior proporção de abate 
tiveram de 115 a 510 kg per capta (3d). (Figura 3) 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 3: Distribuição espacial de cabeças bovinas (3a), suínas (3b) e galináceos (3c) abatidos 
no ano de 2012 e a estimativa per capta em quilos de animais abatidos no ano de 2012(3d). 
FONTE: Elaborado pelos autores a partir da Pesquisa trimestral do abate de animais. 
Os porcos são animais bastante inteligentes, inclusive comparados aos cães 
domésticos capazes de aprenderem comandos e de manterem relações sociais entre si e com 
seres humanos. Mantem grupos sociáveis e constroem ninhos comunitários. Defecam longe 
dos ninhos e as fêmeas, quando estão prestes a parir constroem seus próprios ninhos, onde 
ficam com a cria por alguns dias antes de voltar ao grupo. São animais que instintivamente 
precisam de movimento e quando privados, ficam deprimidos. (NACONECY, 2015; 
SINGER, 2010). São animais que instintivamente precisam de movimento e quando privados, 
ficam deprimidos. (NACONECY, 2015; SINGER, 2010). 
Os porcos de abate são criados em confinamento e em condições de crueldade, em 
que o único objetivo traçado para as suas vidas é comer e engordar. Quando mantidos em 
ambientes hostis e superpopulosos tendem a ficarem agitados, e da mesma forma que as aves 
demonstram comportamentos agressivos com os demais, mastigando suas caudas. Por causa 
disso, são submetidos a processos de mutilação, como o corte dos dentes e da cauda. Tal 
problema poderia ser resolvido com a criação em ambientes abertos e uma maior amplitude. 
 
 
 51 
 
Contudo, da mesma forma como acontece com as galinhas poedeiras, é um investimento mais 
custoso e que não proporciona maior lucro. Além disso, como não tem espaço para se 
movimentar, gastam menos calorias e engordam com mais facilidade. (SINGER, 2010). 
Os pisos do confinamento são de ripa ou de concreto, o que provoca ferimentos em 
seus cascos diminuindo a locomoção desses animais. Da mesma forma que as galinhas, são 
negligenciados em termos de higiene, em que os excrementos acumulados geram uma 
atmosfera com grandes quantidades de amoníaco, causando danos à saúde dos animais. Por 
isso, precisam de uma grande quantidade de antibióticos devido à baixa imunidade adquirida 
pelas condições em que são criados. (SINGER, 2010; NACONECY, 2015). 
O frango de corte, como são chamadas as aves destinadas para o abate, atingem o 
peso ideal de 2,0 kg em um período de 40 dias. Há algumas décadas, esse processo demorava 
anos. As consequências desse crescimento acelerado podem provocar deformidade 
esquelética e dificuldades de locomoção, além de uma alta incidência de doenças e dores que 
acompanham essequadro. Da mesma forma que as galinhas poedeiras, os frangos de corte 
são criados em gaiolas empilhadas dentro de galpões de paredes sólidas com pouquíssima 
iluminação, ventilação artificial e fracionamento de água e comida. (NACONECY, 2015). 
 Um dos principais motivos de morte nos galpões de criação é o sufocamento das 
aves. Devido ao estresse gerado pela superpopulação, o menor estímulo luminoso ou sonoro 
diferente do convencional faz com que os animais entrem em pânico e tentem fugir para um 
local seguro. Nessa fuga, acontece o que chamam de empilhamento, em que os animais 
sufocam uns aos outros formando uma pilha de corpos empilhados. (SINGER, 2010). 
Os galpões em si, representam um grande risco a vida das aves. Durante as semanas 
de vida que tem as palhas das gaiolas não são trocadas, provocando um acumulo de esterco e 
deixando o ar carregado de amoníaco. Além disso, as camas sujas, em que as aves são 
obrigadas a ficar de pé provocam ferimentos ulcerativos em seus pés, como em todo o corpo. 
Por causa disso, muitas vezes são utilizadas apenas algumas partes das aves para o comércio. 
A única vez que as aves têm contato com a luz do sol é a caminho do abate. Em que são 
colocadas em que são colocadas em gaiolas semelhantes a engradados e levadas para unidade 
de processamento, para serem lavadas e depenadas e em seguidas transportadas ao frigorífico, 
onde ficam esperando por horas sem água e sem comidas o momento do abate. 
(NACONECY, 2015; SINGER, 2010). 
 
 
 51 
 
 A variação da quantidade de calorias consumidas foi maior na região Norte e 
Nordeste com exceção dos estados do Acre, Amapá, Maranhão, Tocantins, Rio Grande do 
Norte e Paraíba, que tiveram menor variação da quantidade de calorias juntamente com as 
outras regiões do Brasil (4a). A disponibilidade de calorias no ano de 2008 foi maior na 
região Sul, e na região Norte, incluindo o estado de São Paulo e Sergipe e excluindo os 
estados de Tocantins, Roraima e Rondônia, com menor disponibilidade juntamente com as 
outras regiões (4b). A maior variação na aquisição de produtos oriundos de animais se deu 
principalmente na região nordeste, Tocantins, Acre e Paraná. Os estados do Maranhã, Sergipe 
e Alagoas tiveram menores variações juntamente com as outras regiões brasileiras (4c). A 
aquisição anual per capta em 2008 foi maior na Região Norte e Sul do país e também no 
estado de São Paulo. Os estados de Amapá e Roraima tiveram menores números assim como 
o resto do país. (Figura 4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51 
 
Figura 4: Distribuição espacial variação anual da disponibilidade calórica per capta de 
alimentos de origem animal (4a) a disponibilidade calórica em 2008(4b), a variação anual per 
capta da aquisição de produtos de origem animal (4c) e a aquisição per capta anual em 
2008(4d). FONTE: Elaborado pelos autores a partir da Pesquisa trimestral do couro, Pesquisa 
trimestral do leite e Pesquisa de Orçamentos Familiares. 
O aporte calórico de alimentos de origem animal chega a ultrapassar 50% das 
recomendações diárias para um adulto normal, nos locais de maior consumo. Tendo em vista 
que as recomendações de proteína e gorduras saturadas ficam nas margens de 10 a 15% e 5% 
das frações lipídicas totais respectivamente. O consumo elevado de tais gêneros pode 
provocar aumento da ingestão de tais nutrientes, que em excesso, são prejudiciais ao 
organismo, sendo responsáveis por doenças cardiovasculares e sobre carga renal, além de 
contribuir com a diabetes e o aumento da obesidade. (BRASIL, 2014; MAHAN-STUMP, 
2005). 
De acordo com Singer (2010, p. 143) "Quando retiramos os animais não humanos da 
esfera de consideração moral e os tratamos como coisas que utilizamos para satisfazer nossos 
desejos o resultado é previsível." A quantidade de animais abatidos é um reflexo da grande 
 
 
 51 
 
produção e investimento da atividade pecuária bovina, suína, sendo a produção de galinhas 
algo bem representativo no país. O elevado consumo desses produtos e seus subprodutos 
reflete o alto consumo pela sociedade e a intensa atuação da indústria em suprir essa 
demanda, podendo provocar consequências sociais e ambientais. Embora isso parece não ser 
observado pela sociedade em geral, refletindo-se em uma naturalização, quando se pensa no 
consumo exacerbado. (PAZ, 2015) 
No que diz respeito ao tratamento dos animais, existem políticas que implementam 
normas de criação que proporcionem o mínimo de bem estar animal. As variáveis que 
implicam em um maior bem-estar animal são os cuidados básicos com instalações, nutrição, 
programa sanitário e restrições comportamentais. Contudo, muitas dessas normas não são 
cumpridas pelos produtores, ficando abaixo da média no tratamento proposto, visto que 
demanda um certo custo, sendo priorizada apenas a produção. Segundo Molento (2005): 
Uma vez que o Bem Estar Animal não é tradicionalmente um bem 
comercializável, ele não carreia um benefício econômico evidente e, desta 
forma, os produtores concentram-se na produtividade. As teorias 
econômicas demonstram que os sinais de mercado tendem a conduzir a 
padrões de Bem Estar Animal abaixo da norma considerada desejável por 
algumas sociedades (MOLENTO; 2005 p. 3) 
Pesquisadores, como Bellaver (1999), acreditam que, não se deve aumentar o grau de 
bem estar animal a ponto de se prejudicar a economia, pois acreditam que quanto melhor for 
a qualidade de vida do animal mais valor de mercado ele tem. Aves e suínos são a exceção 
nos parâmetros estabelecidos de bem estar animal, pois não consistem em aninais de 
produção. Segundo Molento, (2005) no Brasil, ainda existe a cultura de se preconizar através 
do ensino o animal como máquina de produção. Há ainda um valor adicional para se 
manterem condições favoráveis para a produção de ovos e a criação de suínos que são 
desconsiderados, e são tratados em condições de crueldade, sem nenhum cuidado específico 
ou veterinário, pois afetam a economia produtiva. De acordo com a EMBRAPA, as 
implicações éticas não qualificam animais ou bens naturais com usáveis, ou seja, que se 
potencializa o valor econômico, sendo os animais considerados não usáveis, e sendo 
necessário que haja cuidados específicos para que se tenha o maior conforto possível e os 
menores impactos ao ambiente. (MOLENTO, 2005). 
Além do sofrimento provocado no momento do matadouro, os animais já nascem 
destinados ao abate. Destarte, passam a vida inteira submetidos a procedimentos absurdos 
para favorecer a produção de carne e dos seus subprodutos, como é o caso do leite e dos ovos. 
 
 
 51 
 
Tom Regan, defende os direitos inatos dos animais. Para ele, existem diversas razões 
indicando que os seres humanos não são mais merecedores da vida do que os animais e sim 
que ambos possuem direitos iguais nesse aspecto. "A mesma forma como é afirmado que 
homens e animais têm o direito de serem poupados de dores injustas, então, também não 
podemos indicar que o direito em questão nunca poderá ser anulado." (REGAN, 1975, p.5) 
 
 
Comendo o meio ambiente: vegetarianismo e sustentabilidade. 
Um sistema alimentar visando a sustentabilidade é aquele que utiliza os recursos para 
suprir as necessidades da população atual, mas sem comprometer os recursos para as 
gerações futuras. A criação de gado, afeta diretamente a qualidade dos pastos. A degradação 
das pastagens favorece a perda da fertilidade do solo, menor captação de CO2 da atmosfera, 
além da redução na produtividade. (PAULINO, 2009). Desta forma, os efeitos provocados 
pela produção de gêneros animais são bastante danosos ao meio ambiente. 
No Brasil a emissão de gases do efeito estufa provenientes da agropecuáriaapresentou 
um crescimento anual de 1997 (valor) até 2012 (Valor). (Figura 5). 
 
 
 
Figura 5: Distribuição anual da emissão de Gases do Efeito Estufa provenientes da 
agropecuária no período de 1997 a 2012 no Brasil. FONTE: Elaborado pelos autores a partir 
dos Indicadores do desenvolvimento Sustentável. 
Um dos principais responsáveis pelo efeito estufa é a emissão do gás metano. 
Pesquisas indicam que 25% da produção desse gás é proveniente de ruminantes. Além disso, 
existe o desmatamento da floresta amazônica para a produção pecuária, o que também possui 
forte contribuição para emissão de GEE. O Brasil é o segundo do mundo com produção de 
GEE
1997 1998 1999 2000 2001 2002
2003 2004 2005 2006 2007 2008
2009 2010 2011 2012
 
 
 51 
 
gado, ficando atrás apenas da Índia. Nos últimos anos, a emissão desses gases tem aumentado 
no país (Figura 1b), o que pode está intimamente atrelado a grande produção pecuária e o 
desmatamento para a produção de pasto. (BERNDT, 2010). Segundo Greif, 2002: 
A criação animal deve dispor de maiores recursos do que a agricultura, sejam 
recursos da natureza, sejam da economia; de que o esgotamento de recursos 
leva à busca por novos, o que frequentemente significa o monopólio de 
grandes extensões de terras para o sustento de poucos, na transformação de 
florestas em pastos, na invasão de territórios vizinhos e na privação de certos 
setores da sociedade de recursos alimentares, ainda que naturalmente 
disponíveis. (GREIF, 2002, p. 2) 
Desde os primórdios da história, durante a Era de Ouro, Sócrates já nos alertava que 
uma das formas para se manter a paz em uma cidade era a sustentabilidade, e que a pecuária 
seria um motivo para a guerra, pois sempre haveria a necessidade de se ir em busca de novos 
territórios e consequentemente levando a guerra. Esse fato foi comprovado na Índia, com a 
super população e a grande disputa entre as castas, houve a adoção em massa pelo estilo de 
vida vegetariano, e houve a diminuição da atividade pastoril e o aumento da agricultura como 
forma mais sustentável de alimentação e como forma de evitar as guerras Inter territoriais. 
(GREIF, 2002). 
A produção de carne, é hoje, é a principal causa de danos ao planeta. Segundo a FAO, 
de todas as atividades realizadas pelo homem, a pecuária é a que provoca erosão dos solos e 
contaminação de mananciais, sendo responsável pelos maiores danos ao meio ambiente. 
Estima-se que cerca de 30% das terras são destinadas a atividade pecuarista, e outros 30% são 
destinados apenas a produção de grão para alimentar os animais de abate. Além de ser a 
principal responsável pelos desmatamentos e consequente extinção de espécies, 
desertificação e esgotamento do solo. (WINCKLER, 2012). 
De acordo com um estudo publicado pelo National Geografic e realizado por US 
Geological Survey, para a produção de 450 gramas de carne bovina são necessários em média 
1.799 litros de água, que inclui irrigação dos grãos e gramas em alimentos, além de água para 
beber e processamento. Para a produção da mesma quantidade de frango e carne suína e um 
ovo são necessários, 468 litros, 576 litros e 53 litros respectivamente. Ao passo que para a 
produção da mesma quantidade de arroz, milho, soja e batata, juntos somam um total de 892 
litros de água. (LA TIMES, 2016). 
No Brasil, podemos perceber uma grande produção e grande consumo de produtos 
animais, sem se levar muito em consideração os impactos ambientais provocados por tais 
 
 
 51 
 
atividades. Vemos que, principalmente nas regiões do Cerrado, a produção é aumentada pela 
melhor adaptabilidade pecuária e melhor disponibilidade de pasto. Algumas técnicas estão 
sendo utilizadas para aumentar a sustentabilidade, contudo demandam um certo abalo na 
lucratividade, considerando o aumento de capital para viabilizar tal produção. 
(BARCELLOS, 2008) 
 
Adeptos de práticas alimentares não usuais no Brasil; quem e quantos são? 
A quantidade de adeptos as práticas não usuais só têm aumentado com o passar dos 
anos. No Brasil, estima-se que cerca de 10% dos homens e 9% das mulheres optem por não 
consumir produtos animais total ou parcialmente. As regiões Sul e Sudeste, embora detenham 
também a maior produção e consumo de produtos animais, são também as regiões com maior 
número de vegetarianos. O que se deve a grande população concentrada nessas regiões. 
(Figura 5). Em detrimento desse número, são nesses locais que existe também maior 
disponibilidade de gêneros e opções para os adeptos das práticas não usuais. 
Em 2016 a proporção de vegetarianos, veganos e simpatizantes, há um maior número 
na região Sul e Sudeste e no estado do Mato Grosso do Sul e Distrito Federal e menor em 
toda região Norte (Figura 6). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51 
 
 
Figura 6: Distribuição espacial da proporção de vegetarianos, veganos e simpatizantes no ano 
de 2016. FONTE: Elaborado pelos autores a partir do censo vegetariano encontrado em 
mapaveg.com 
Com o aumento do acesso a informação e o nível de conhecimento das pessoas, esses 
números tem se tornado cada vez mais expressivo. As maiores concentrações mais ao Sul e 
Sudeste do país se devem principalmente a quantidade de recursos que proporcionem o estilo 
de vida e a adoção de práticas, como a venda de produtos e as opções de alimentação. Como 
também a maior parte de conteúdo de cunho informativo e científico ser proveniente de lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 51 
 
SOBRE AS PRÁTICAS NÃO USAIS: O QUE SABEM, PENSAM E SENTEM 
FORMANDOS EM NUTRIÇÃO? 
 
Hieronymus Bosch - O Jardim das Delícias, 1504. 
Pensando na necessidade de perceber se os alunos seriam capazes de reconhecer os 
alimentos em suas formas mais naturais, foi realizada uma entrevista em que eles tiveram que 
associar imagens de alguns alimentos em suas formas mais naturais, o que resultou numa 
certa dificuldade na distinção. Grande parte dos alunos se mostrou conhecer praticamente 
todos os alimentos mostrados, contudo encontraram dificuldades em saber preparar e em 
conhecer as propriedades nutricionais dos mesmos. A soja, o brócolis, o manjericão e o 
almeirão, foram pouco reconhecidos. (Figura 7) 
 
 
 51 
 
Figura 7. Gráfico representativo da associação de imagens 
Isso mostra que os participantes ainda apresentam dificuldades em reconhecer os 
alimentos em suas formas naturais e de distinguir determinados tipos de alimentos do mesmo 
grupo, marcando uma deficiência tanto por parte da estrutura curricular não abordar de forma 
satisfatória nas disciplinas com o reconhecimento dos alimentos propriamente ditos, como 
também o consumo rotineiro diminuído dos grupos apresentados. 
Parte da deficiência apresentada em reconhecer os alimentos e saber prepara-los, 
como também de relacionar os alimentos e suas propriedades nutricionais pode estar 
associado à forma de como os nutrientes são tratados no curso. Nós aprendemos de forma 
técnica os nutrientes e suas funções no organismo, entretanto, temos uma grande dificuldade 
de associa-los aos alimentos. 
A associação quando é feita a partir de um objeto já conhecido, o processo de 
aprendizagem se torna mais eficiente, visto que "nosso cérebro foi desenvolvido para 
processar as informações visuais organizando-as em modelos que reconstroem internamente a 
realidade, dando-lhes sentido. Por isso, ver é conhecer." (COSTA, 2005, p.32). Se 
aprendêssemos a partir do alimento, em que já reconhecemos e temos a sua imagem formada 
em nosso subconsciente, quais seus principais benefícios, suas características e os principais 
 
 
 51 
 
conceitos seriam assimilados de uma forma mais claralevando o aluno dinamizar melhor 
suas prescrições dietéticas. 
Foi realizada uma enquete com o objetivo de identificar as principais fontes de 
informação que contribuíram para o conhecimento dos participantes acerca das “dietas não 
usuais” e como resultado, observou-se que o que mais contribuiu com o conhecimento sobre 
as “dietas não usuais” foram os colegas de turma, classificados pela média geral de 7,92 e as 
publicações científicas com uma média geral de 5,25. Entretanto, o que os participantes 
julgaram que menos contribuiu para tal conhecimento foram as disciplinas do curso com 
média geral de 3,08. As demais opções obtiveram uma média geral de 4,00. Os resultados 
estão expressos na Figura 8. 
 
Figura 8. Gráfico representativo dos resultados da escala de conhecimento quantitativo. 
Como se pode perceber a comunicação interpessoal da turma proporcionou maior 
expressividade na aquisição do conhecimento. O que se deve principalmente a necessidade de 
pertencimento de um grupo. A partir dos conhecimentos adquiridos nesse grupo, a mudança 
do hábito pode acontecer ou não. 
Embora haja um grande aumento da adesão da dieta vegetariana/vegana nos últimos 
anos, com vários estudos comprovando a eficácia da dieta vegetariana no tratamento e 
prevenção de um gama de doenças, além de melhor acessibilidade e menor impacto 
ambiental, como também as vantagens frente à dieta omnívora (LOPES, 2013; PEDRO, 
2010) ainda existe bastante resistência em se trabalhar o tema como uma opção alimentar no 
 
 
 51 
 
meio acadêmico. Nossa formação continua seguindo a linha tecnicista e padronizada das 
dietas onívoras, sem levar em consideração os benefícios que as dietas não usuais podem 
trazer a população e nem o grande crescimento de adeptos de tais práticas. (SVB, 2012). 
 
Práticas alimentares não usuais: O que eu penso sobre elas? 
"Uma opção bem mais saudável. Uma opção que só vai trazer benefícios pro corpo, 
biologicamente. Até porque, quando a gente fala em alimentação vegetariana, a gente procura 
o mais natural possível." (Jéssica Queiroz). 
Desde sempre fomos levados a crer que os primeiros humanos sobreviviam de suas 
caças e dos animais disponíveis para alimentação. Entretanto, o que poucos sabem é que a 
caça surgiu como uma estratégia nos períodos de escassez, e que na verdade o homem 
primitivo tinha suas necessidades nutricionais supridas por uma dieta vegetariana, 
completamente a base de grãos, cereais e frutas. (MONTANARI, 2006). 
Durante alguns milhões de anos, frutas folhas ou grãos parecem ter fornecido 
ao homem pré-histórico o essencial das calorias de que necessitava. A 
preponderância da alimentação vegetal é sugerida pelas dimensões 
relativamente pequenas dos territórios explorados e pelo desgaste 
característico dos dentes dos fósseis humanoides. (MONTANARI, 2006, p. 
26) 
Embora os motivos mais conhecidos para se adotar uma dieta vegetariana sejam 
ideológicos, também existe um grande apelo referente as questões de melhorias de saúde, 
sendo um dos principais motivos da adesão. Como podemos ver na fala de Jéssika: "É uma 
opção mais saudável para o ser humano, pois o consumo de carnes traz para a alimentação 
uma quantidade de gorduras, colesterol, proteínas e hormônios nocivos" (Jéssika Priscilla). A 
busca pela redução de peso e a terapia no que diz respeito a doenças crônicas, são algumas 
das causas apontadas. (SVB, 2012). 
Na fala de outros participantes, vemos que o consumo de carne é citado como 
principal contribuinte para as doenças crônicas. Sendo a opção vegetariana como uma 
alternativa de terapia nutricional, como destaca Gabriela: "Os alimentos fonte de proteína de 
origem animal(...) são fonte de colesterol, gordura saturada e sódio, sem contar que nas 
carnes produzidas atualmente são utilizados muito hormônios. (...)e eles estão bastante 
associados ao desenvolvimento de doenças crônicas (...) a dieta vegetariana, quando bem 
orientada e planejada, pode promover mais benefícios." (Gabriela Pereira). 
 
 
 51 
 
 Vegetarianos geralmente tendem a pesar menos que os onívoros e também possuem 
menores níveis de colesterol total e menor pressão arterial. O que se deve a uma maior 
ingestão de fibras e menor ingesta de gorduras saturadas e colesterol. O maior consumo de 
alimentos de origem animal, também favorece a diminuição da glicemia pós-prandial, 
auxiliando na prevenção e tratamento do Diabetes tipo 2. (PEDRO, 2010). Tal conhecimento 
pode ser encontrado na fala da participante Anna: "(...) rica em fibras, além dos minerais e 
vitaminas, o que contribui ainda mais com os mecanismos de digestão e absorção de bons 
nutrientes. Além disso, reduz a ingestão de alimentos gordurosos e açucarados o que reduz o 
aparecimento de doenças." (Anna Larissa) 
Outros estudos também afirmam a eficácia de uma dieta vegetariana para a prevenção 
de alguns tipos de câncer. O que está diretamente relacionado fator de proteção inerente do 
maior consumo de frutas, vegetais e ácidos graxos poli-insaturados, promovendo maiores 
quantidade de antioxidantes que atuam como fator de proteção no desenvolvimento de 
neoplasias. Se tem menores riscos de morte e desenvolvimento de doenças cardiovasculares e 
coronárias por possuírem índice de massa corporal (IMC) menor em relação a população em 
geral, e por terem menores valores de pressão arterial e consumirem menos gordura saturada 
e colesterol e mais fibras. Há menor prevalência de síndrome metabólica e problemas 
gastrointestinais. (SVB, 2012) 
É notável uma grande preocupação dos participantes em relação a adequação de 
nutrientes. Todos concordam ser um tipo de alimentação que traz benefícios, contudo, como 
todas as outras se faz necessário o acompanhamento e orientações nutricionais para esse 
público. Como podemos ver na fala de Raiane: "É um tipo de alimentação que pode atender 
todas as necessidades do indivíduo desde que seja adequada e orientada." (Raiane Medeiros) 
De igual forma a preocupação dos participantes, Negri (2011), também afirma que, 
Dietas vegetarianas balanceadas podem prevenir estas possíveis deficiências 
nutricionais, bem como algumas doenças crônicas não transmissíveis. Assim 
sendo, os estudos avançados parecem estar apontando para uma inversão de 
paradigmas e as dietas vegetarianas sejam mais associadas à saúde do que à 
doença, contrastando com as dietas baseadas em elevado consumo de 
produtos de origem animal. (NEGRI, 2011, p.3). 
Em termos de deficiências nutricionais, as dietas vegetarianas suprem de forma 
adequada as necessidades nutricionais. O aporte de proteína é proveniente da combinação de 
grãos, cereais e leguminosas. O consumo de proteína vegetais, além de proporcionar maior 
quantidade de aminoácidos essenciais, atual como fator de proteção para doenças renais. As 
 
 
 51 
 
quantidades consumidas na dieta vegetariana, são correspondentes ao RDA recomendado de 
10 a 15% do VCT, ficando numa margem de 12 a 13%. (PEDRO, 2010; SVB 2012) 
Embora no relato do participante, Richardson, haja a preocupação com a carência de 
nutrientes: "Eu vejo como uma alimentação rica em micronutrientes, antioxidante, porém 
com deficiência de alguns nutrientes que precisam de estratégias e manobras nutricionais pra 
um desempenho eficiente do organismo" (Richardson Oliveira) 
É possível que mesmo entre veganos, existe uma baixa deficiência de vitamina B12. 
O que se deve ao fato de que é um micronutriente necessário em pequenas quantidades, além 
da reserva entero-hepática dessa vitamina. Para casos com níveis menores dessa vitamina, 
pode ser realizada a suplementação. (JONHTSON, 1998; SVB, 2012) 
Minerais como o ferro, estão presentes em quantidades consideráveisem vegetais 
verdes escuros. E em alimentos bastante recorrentes da dieta vegetariana, como o feijão, a 
soja, a lentilha e o grão de bico. Para melhorar a biodisponibilidade do ferro, é aconselhado 
que se consuma com alimentos ricos em vitamina C. Estudos mostraram que tanto mulheres 
que consumiam carne como as vegetarianas tiveram deficiência de ferro, em 60 e 40% 
respectivamente. Nesse caso, o mineral não se torna um fator de preocupação relacionado as 
dietas vegetarianas. (SVB,2012; HARVEY, 2005). 
A ingestão de cálcio nas dietas vegetarianas também é similar às dietas onívoras. E se 
aconselha não consumir alimentos ricos em ácido oxálico junto com refeições que contenham 
alimentos ricos em cálcio, pelo ácido funcionar como fator anti-nutricional. A maior parte do 
cálcio está presente em vegetais, como nos leites vegetais (soja, amêndoas, arroz, gergelim), 
que são enriquecidos com o mineral. Não há relatos de maior prevalência de osteoporose em 
populações vegetarianas. (WEAVER,1999; SHILS,1999; SANDBERG, 2002). 
Como podemos perceber na fala de André: "Eu acho super possível de se ter uma 
alimentação vegetariana e saudável. (...)assim como as pessoas "carnívoras" as pessoas 
vegetarianas e veganas também precisam dessa orientação, desse acompanhamento." (André 
Luiz). A relevância de uma orientação nutricional é inquestionável para os adeptos das 
práticas não usuais, assim como para qualquer outro tipo de prática alimentar. Visto que são 
necessárias diversas combinações de preparações para se suprir as necessidades básicas de 
nutrientes. 
 
 
 
 51 
 
Ética animal e sustentabilidade 
"Eu vejo que a relação do homem com a natureza e com os animais, o respeito a vida, 
em todas as suas dimensões é um ponto a ser cuidado com atenção, pois além dos aspectos de 
saúde que eu prezo, ainda existe o respeito a vida animal que é muito importante." (Jéssika 
Priscilla). 
Dentre os motivos em aderir ao vegetarianismo, o que diz respeito às questões de ética 
e respeito aos animais é um dos principais apontados pelas pesquisas e também pelos 
participantes, também evidenciaram questões sustentáveis, percebidas na fala de Matheus: 
"(...)eu acho que é mais uma questão ideológica, de sustentabilidade... enfim... É... pra não 
maltratar os animais, do que questão de saúde" (Matheus Anselmo). 
Como já abordamos anteriormente nesse trabalho, o tratamento dos animais 
destinados para o abate possui conforto mínimo, além de alguns casos serem as margens da 
crueldade (MOLENTO, 2005). A fala de Luana, nos remete a essa reflexão de utilização dos 
animais apenas como maquinário para satisfazer nossas necessidades: "É natural que o 
homem ache q as vacas, os bois, galinhas etc só nascem para que ele possa se alimentar. (...) 
Muita gente acha isso errado, antiético, e acho q esse é o peso maior que se tem para a 
escolha vegetariana, por que, é muita crueldade que se tem com os animais." (Luana Alves) 
No que diz respeito ao direito a vida inerente tanto dos seres humanos como dos 
animais, Tom Regan (1975), afirma: 
O argumento mais plausível para a afirmação de que os humanos têm um 
inerente direito natural à vida, então, traz uma igualmente plausível 
justificativa para a ideia de que os animais também detêm este direito. Da 
mesma forma como é afirmado que homens e animais têm o direito de serem 
poupados de dores injustas, então, também não podemos indicar que o direito 
em questão nunca poderá ser anulado. (REGAN, 1975, p. 5) 
Os animais que são levados para o abate, conseguem perceber o perigo que os espera 
e começam a passar por momentos de intenso estresse. O ramo da psicologia que estuda o 
comportamento entre humanos e animais é conhecido como Behaviorismo. Este afirma que o 
comportamento animal está condicionado as experiências vividas e as mudanças que estas 
podem causar na relação homem animal. Tais experiências consolidam as relações entre 
ambos, podendo ser harmônicas, ao passo do animal considerar a espécie humana como 
"família", o que pode caracterizar o processo de domesticação. Também está comprovado 
 
 
 51 
 
que os animais possuem capacidade de raciocínio e inteligência, podendo chegar a fazer 
escolhas e solucionar problemas. (GOMES, 2010) 
A adoção do hábito de comer carne, é justificável pela população onívora, para suprir 
necessidades nutricionais e pelo prazer gastronômico. Contudo, é possível afirmar que, a 
prática de uma alimentação livre de produtos animais é capaz de suprir todas as necessidades 
nutricionais do ser humano a partir do reino vegetal, como também pode proporcionar prazer 
ao paladar, sendo que esta além de não gerar sofrimento nem sacrifício de outros seres, além 
de preservar o meio ambiente. (NACONECY, 2015). 
A banalização e o incentivo ao consumo de carne e produtos animais são feitos pelas 
grandes industrias visando apenas a lucratividade e o balanço econômico. A preocupação 
com os danos ambientais e morais ficam ocultos para a sociedade por trás da manipulação 
massiva dos meios de comunicação, que introduzem para sociedade apenas as informações 
que irão favorecer tal consumo. Segundo Paz (2015), 
A indústria da carne manipula a sociedade para uma naturalização do 
consumo da carne animal, escondendo em suas intenções toda uma 
problemática ambiental e social, já que dispõe de uma comunicação em massa 
que produz informações e conteúdos questionáveis. (PAZ, 2015, p.3). 
As questões relacionadas aos recursos disponíveis são uma grande preocupação no 
tratante a atividade pecuária, o que acarreta o domínio de terras e a produção de monoculturas 
para alimentação dos animais. A população mundial tem crescido em progressão geométrica 
nos últimos anos, o que tem provocado uma superpopulação do planeta e que torna a 
alimentação onívora insustentável daqui a alguns anos. Estima-se que em 2050, a produção 
de carnes seja de aproximadamente 500 milhões, gerando consequências catastróficas para o 
ecossistema. (GREIF, 2002; SVB, 2012). 
 
Incompreensão onívora 
"Não é bem aceita pela sociedade, e isso vai das pessoas que moram na sua casa, 
aquelas que acompanham você para comer fora de casa. (...) Os vegetarianos ainda precisam 
estar sempre justificando o porquê de não comer isto ou aquilo, exatamente porque muita 
gente não entende." (Cínthia Regina) 
 
 
 51 
 
Não é incomum um vegetariano escutar vários questionamentos infundamentados 
como: "como você não sente falta de um churrasco?" Ou então: "Mas, nem peixe, você 
come?" Até mesmo: "e a proteína? Você tira de onde?". Na maioria das vezes é preciso ficar 
justificando cada escolha e as motivações que levaram a ela até mesmo a nutricionistas. 
Muitos participantes também abordaram questões pertinentes a resistência que a população 
em geral carrega em aceitar o estilo de vida vegetariano, como Gabriela disse: "Isso significa 
ter que levar sua comida para um churrasco, e ouvir piadas e críticas. A sociedade ainda não 
está muito aberta para esse estilo de vida." (Gabriela Pereira) 
Grande parte dos vegetarianos sofre com diversos questionamentos referentes ao seu 
estilo de vida. Para a maioria dos onívoros é inconcebível que se consiga viver bem sem o 
consumo ou uso de produtos animais. Como os participantes bem relataram, trata-se de uma 
população que muitas vezes não tem credibilidade e que não é compreendida pela falta de 
informação por parte da população em geral. Como bem retratada na fala de Jessika: "Ainda 
há uma resistência muito grande na aceitação da dieta vegetariana, ainda é vista como uma 
"besteira" ou tida como prejudicial à saúde, (...) Há muita ignorância e isso dificulta o 
entendimento e aceitação das pessoas que optam por essadieta." (Jéssika Priscilla) 
Sabe-se que muito significado pode ser atribuído a alimentação. Principalmente por se 
tratar de uma forma da preservação de necessidades sócio culturais, e por carregar diversos 
aspectos inerentes a cultura que são satisfeitos a mesa juntamente com a necessidade 
biológica que garante a sobrevivência. (GARCIA, 1997) Destarte, a presença de produtos de 
origem animal nas refeições prezam por um apelo significativo referente a carne. Os valores 
atribuídos a tal alimento são sustentados pela sociedade desde épocas mais remotas, quando a 
as classes sociais mais altas promoviam grandes banquetes exaltando o seu papel como prato 
principal. (MONTANARI, 1998). Segundo Fonseca (2011): 
A comida é percebida como um sistema de comunicação, um corpo de 
imagens, um protocolo de usos, situações e condutas. Quando um alimento é 
comprado e consumido, ele deixa de ser apenas um alimento e passa a ser um 
signo. Consumido, esse mesmo alimento expõe e transmite uma situação, e 
assim constitui uma informação, tornando-se significante. (FONSECA et.al, 
2011, p. 3854) 
Com o desenvolvimento dos sistemas sociais, as culturas foram tomando forma e os 
povos começaram a realizar suas próprias escolhas alimentares e formular regras relativas à 
comida. Algumas dessas regras são apresentadas como proibições, motivos religiosos ou 
 
 
 51 
 
higiênicos, outras são inconscientes ou se baseiam em justificativas explícitas por quem as 
escolhe, podendo ter caráter moral, ou político envolvidos. (MONTANARI, 1998) 
De acordo com Bleil (1998) "Percebe-se que a eleição dos alimentos satisfaz às 
necessidades do corpo mas também, em grande medida, às necessidades da sociedade. A 
cultura estabelece o que é comestível." (BLEIL, 1998, p. 3). O mesmo autor também afirma 
que a alimentação busca passar uma mensagem a sociedade, a partir do que se consome. 
A prática do vegetarianismo não se constitui em apenas uma escolha alimentar. 
Implica em questões morais bem mais relevantes, uma visão de mundo diferenciada, não só 
de como a situação é, mas viabiliza como ela deveria ser. Onde os onívoros veem carne, os 
vegetarianos enxergam um cadáver de um ser que foi torturado e morto após um período de 
vida miserável. (NACONECY, 2015). 
No contexto contemporâneo, vivemos em uma sociedade voltada ao capitalismo. 
Nesse contexto, a indústria cultural se utiliza desse aspecto para incentivar um consumo 
como hábito necessário, tornando aquela prática natural. A sociedade é levada a consumir 
carne para fomentar os interesses econômicos envolvidos no processo, mesmo sabendo dos 
males que a ingestão pode causar a saúde e ao ambiente. (PAZ, 2015). Essas questões de 
economia são vistas claramente na percepção de André: "É muito complexo. Principalmente, 
no tocante a grupos de amigos, a oferta das grandes redes, supermercados, restaurantes etc... 
que restringe muito a pessoa vegana a não comer, ou ser obrigado a andar com sua comida... 
e acredito ser bem chato, né? (André Luiz) 
A tendência ao julgamento e a crítica a esse público também se deve principalmente, 
por ser uma forma de se alimentar fora do padrão imposto pela cultura contemporânea 
fundamentada no consumo de produtos animais. E o questionamento em relação ao novo. 
Como diria Cascudo (2004): 
A escolha dos nossos alimentos diários está intimamente ligada a um 
complexo cultural inflexível. É preciso um processo de ajustamento em 
condições especiais de excitação para modificá-lo com o recebimento de 
outros elementos e abandono dos antigos. [...] Quando saímos do costume 
dizem ser uma depravação do paladar. (CASCUDO, 2004 p.22-24) 
As grandes indústrias tem sido as principais responsáveis por incentivar o consumo de 
produtos animais. As questões inerentes a ética e a moral são deixadas de lado, ao passo que 
as escolhas são manipuladas a partir de um contexto capitalista (BAUDRILLARD. 2008). 
Essas razões explicam o porquê de até mesmo os profissionais de nutrição ficarem na 
 
 
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defensiva em discutir sobre a retirada de produtos animais da dieta, alegando a carência de 
nutrientes. "É um estilo de vida que você escolhe pra seguir. Não é, como muita gente acha, 
uma frescura, por causa disso ou por causa daquilo, mas não, tem todo um contexto por trás 
disso, e que eu acho muito interessante." (Jéssica Queiroz). Todo esse contexto vai de 
encontro ao que segundo Canesqui (2005): 
Não comemos apenas quantidades de nutrientes e calorias para manter o 
funcionamento corporal em nível adequado, pois há muito tempo os 
antropólogos afirmam que o comer envolve seleção, escolhas, ocasiões e 
rituais, imbrica-se com a sociabilidade, com ideias e significados, comas 
interpretações de experiências e situações. (CANESQUI; 2005 p. 9) 
Desta feita a população geral passa a não compreender as motivações presentes nas 
escolhas alimentares vegetarianas, em decorrência dos efeitos da globalização frente a 
sociedade contemporânea. Não se tem o interesse de se saber mais a respeito, pois, a 
quantidade de informações no mundo é exaustiva. O que faz com que a transmissão seja 
rápida e massiva. o conteúdo principal são imagens e sons que são apresentados de forma 
superficial, fazendo com que não se tenha o interesse de aprofundamento. (MASHALL, 
2013). 
 
O Projeto Pedagógico de Curso e as disciplinas: deixaram de nos ensinar algo 
relevante? 
"A gente realmente só tem o básico, do básico, do básico. É fundamentado numa 
nutrição arcaica, enraizada, engessada, onde apenas se repete conceitos e não se reflete sobre. 
e acho que isso deveria mudar, e deve mudar." (André Luiz). 
Durante a graduação de nutrição temos que lidar com situações diferenciadas. Tais 
situações contribuíram para a realização desse estudo. Como já é sabido, a alimentação além 
de biológica tem um forte impacto sociocultural. Por várias vezes me senti num "beco sem 
saída" ao ter na minha frente uma abordagem digamos que "alternativa". E assim como eu, 
muitos dos meus colegas se sentiram de igual forma ao tentar planejar uma dieta adequada 
para uma criança de 7 anos que por não querer que os animais morram, se recusava 
ardentemente a comer carne, ou ainda, um atleta de alto rendimento declarado vegano. Essa 
dificuldade pode ser visualizada claramente pela fala de Jéssica: "Eu não acho que o curso 
tenha uma abordagem boa pra dietas não usuais. Na verdade ele não tem! E isso é muito 
errado." (Jéssica Queiroz) 
 
 
 51 
 
Com aproximadamente 20% da turma sendo composta de vegetarianos e 
simpatizantes, alguns relatos dos participantes sobre a proposta do curso fizeram com que a 
avaliação da estrutura curricular fosse essencial nesse trabalho. Muitos alunos se mostraram 
bastante insatisfeitos ao serem questionados sobre a abordagem em relação as práticas não 
usuais, ao passo que a opinião sobre o preparo que o curso oferece pode ser percebida na fala 
de Matheus: "Muito fraco. Na verdade, eu acho ridículo! Porque um curso de nutrição e a 
gente não aborda esses temas é no mínimo irônico." (Matheus Anselmo) 
Muitos também alegaram a padronização das dietas. O aluno só precisa se preocupar 
com o cardápio padrão e com a adequação dos respectivos nutrientes que vão ser necessários 
e importantes para o paciente, sem levar em consideração aspectos socioantropológicos. 
Sendo considerada pela maioria como uma abordagem insuficiente e bastante tradicional, 
como alega Gabriela: "O curso de nutrição da UFRN ainda aborda as dietas de forma muito 
tradicional. E se o aluno não tiver interesse de pesquisar por si mesmo, também vai ficar 
bitolado nisso." (Gabriela Pereira) 
No que diz respeito ao público, existe um crescimento enorme de adeptosa proposta 
vegetariana/vegana. Os números são cada vez maiores e a procura por opções de alimentação 
saudável proveniente dessas pessoas também é relevante. Alguns relatos mostram a 
preocupação com esse crescimento. Segundo o IBOPE, que avaliou indivíduos com mais de 
18 anos de idade, cerca de 10% dos homens e 9% das mulheres brasileiras declararam-se 
vegetarianos. (SVB, 2012). 
A partir desses números, vemos que existe uma preocupação dos alunos em se ter o 
preparo e o incentivo por parte da universidade, como vemos na fala de André: "A população 
de pessoas vegetarianas e veganas só tem crescido e é um movimento muito bacana que 
merece atenção e incentivo... inclusive, pela academia, né? pelas universidades." (André 
Luiz) e despreparo do curso também é citado na fala de Jéssica: "O curso não é preparado pra 
mostrar ao aluno essa nova corrente, esse novo estilo na alimentação." (Jessica Queiroz) 
O Projeto Pedagógico do Curso (PPC) é o documento que melhor define a proposta 
do curso de graduação, como também o perfil do profissional que se espera formar. Nos seus 
objetivos e princípios podemos analisar o embasamento que fomenta toda uma profissão e 
quais os seus impactos para a população em geral. Em nutrição, é priorizada uma formação 
generalista, crítica e humanista em que se detenha atenção ao indivíduo e a comunidade, 
promovendo o Direito Humano a Alimentação Adequada e a Segurança alimentar. 
 
 
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Assim sendo, o PPC configura-se como um conjunto de estratégias de ensino-
aprendizagem que favoreça a formação de um profissional nutricionista 
generalista, humanista e crítico, capacitado a atuar, visando à segurança 
alimentar e a atenção dietética, em todas as áreas do conhecimento em que 
alimentação e nutrição se apresentam fundamentais para promoção, 
manutenção e recuperação da saúde de indivíduos ou grupos populacionais. 
(PPC, p. 4) 
O principal objetivo do curso visa forma um profissional reflexivo, ético, cidadão, 
responsável, comprometido com as questões sociais e culturais no que diz respeito a 
alimentação, e competente para promover e tratar da saúde a partir do estudo e aplicação dos 
conhecimentos teóricos sobre nutrição. 
Formar um profissional nutricionista com percepção crítica da realidade 
social, econômica, cultural e política, capaz de desenvolver atividades 
técnico-científicas específicas no campo da Nutrição e da Alimentação 
Humana, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde, assim 
como a prevenção de doenças em sua dimensão individual e coletiva. O 
processo formativo com concepção interdisciplinar e alinhado à missão da 
UFRN contribuirá para a produção do saber em defesa do Desenvolvimento 
humano articulado com os princípios éticos e o exercício da cidadania, em 
observância a cultura nacional e regional e local." (PPC, p. 15) 
Em caráter técnico o projeto define a carga horário total do curso em 4.050 horas, 
sendo dividas em 2.205 horas para disciplinas obrigatórias e 825 horas para disciplinas 
optativas. E 1.020 horas de atividades obrigatórias. Durante nossa graduação, foram 
requisitadas 750 horas de disciplinas optativas, e 3.300 horas de disciplinas e atividades 
obrigatórias. 
No que diz respeito as práticas não usuais de alimentação, e a abordagem no curso, 
pela fala de Richardson é: "Falha e voltada para a centralização do conhecimento, sem dar 
oportunidade para novos conceitos de nutrição e alimentação." (Richardson Oliveira). E em 
relação as disciplinas, Raiane relata muito bem como foi abordado durante a gradução "Só 
lembro de uma prática que, inclusive, foi em uma disciplina optativa, gastronomia. Isso 
falando em vegetariana, mas, os outros tipos de dieta a abordagem ainda é menor, lembro de 
algumas aulas de aspectos que falava de outros tipos como a macrobiótica." (Raiane 
Medeiros). Nesse caso os componentes curriculares que, a partir da experiência do curso e 
das ementas, abordaram em algum momento o assunto ou mais apresentaram potencial para 
se trabalhar o tema, foram: Fundamentos da ecologia e meio ambiente, Bioética e cidadania, 
Aspectos sócio-antropológicos da alimentação humana, Técnica e dietética, Nutrição e 
dietética 2 e 3, Dietoterapia 1, Introdução a gastronomia, Tópicos especiais em Nutrição e 
 
 
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Dietética, Gestão e políticas de alimentação, nutrição e saúde e Nutrição aplicada a atividade 
física. 
Fundamentos da ecologia e meio ambiente 
É uma componente optativa, com carga horária de 30h semanais, que não foi 
oferecida a nossa turma. Ementa: Introdução à Ecologia: níveis hierárquicos e organização 
dos sistemas ecológicos. Fundamentos de Ecologia de Ecossistemas: fluxo de energia e ciclos 
de matéria. Ecologia das Populações e Comunidades e Ecologia dos indivíduos. O ser 
humano como organismo consumidor e produtor de alimentos, e seus impactos no ambiente. 
Cultura e consumo. Dieta como um modelo de estudos em ecologia. Ecologia química. 
Agroecologia: propriedades ecológicas de sistemas agrícolas. Ecologia Aplicada: perturbação 
ambiental, conservação da biodiversidade. 
Seria uma ótima oportunidade para se abordar as questões voltadas à sustentabilidade, 
visto que trataria dos impactos ambientais provocados pelo ser humano a partir das 
características do seu alimento. Em relação à sustentabilidade, Platão já afirmava que a 
pecuária prejudicava o equilíbrio e criava a necessidade de se conquistar novos territórios 
para a sua atividade. Os dados mais recentes apontam que a pecuária utiliza cerca de 30% das 
terras produtivas do planeta e ainda outros 33% são necessários para a produção de alimentos 
para os animais. Atualmente essa atividade é a principal responsável pelo desmatamento e 
contaminação dos mananciais aquíferos. (SVB, 2012). Os conceitos de sustentabilidade e 
também promover o conhecimento sobre os vários ecossistemas possibilitando ao aluno 
maior conhecimento de botânica, além de tratar também da agroecologia, trazendo a 
realidade do nutricionista a produção dos alimentos auxiliando na compreensão dos conceitos 
de agricultura familiar. O cursar dessa disciplina iria auxiliar, dando suporte nesse aspecto 
contribuindo ainda mais para as competências da profissão. 
Bioética e cidadania 
É uma componente optativa, com carga horária de 30h semanais. A ementa propõe: 
Educação para a cidadania. Cidadania, Solidariedade e Voluntariado. Inter-relação Ciência, 
Saúde e Cidadania Bioética: aspectos conceituais e históricos/ paradigmas mais comuns dos 
referenciais de análise em Bioética. Bioética da Proteção – o Direito Humano à Alimentação 
Adequada. Ética nas relações de consumo – direitos básicos dos consumidores. Conflitos de 
Interesses na área de Saúde (pesquisa e assistência). Bioética, cidadania e Inclusão social. 
 
 
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Embora não tenha sido abordado, a partir do conceito de Direito Humano a 
Alimentação Adequada, o tema pode ser combinado como uma forma de garantia ao acesso a 
alimentação promovendo também a Segurança Alimentar e Nutricional. Por se tratar de uma 
forma mais simples mais acessível. Além de favorecer a sustentabilidade e incentivar 
princípios éticos. Pelas questões políticas e sustentáveis envolvidas num menor consumo de 
carne. Estima-se que 1/3 das produções de grãos são apenas para alimentar os animais para 
pecuária sem contar os hectares de terreno fértil usado para a atividade pecuarista, os quais 
poderiam ser usados apara alimentar a população e reduzir a fome em países 
subdesenvolvidos. Também existem preocupações éticas com o sofrimento e a matança 
desenfreada de animais, que podem acabar com o equilíbrio do meio ambiente. (LOPES, 
2013) 
Aspectos sócio-antropológicos da alimentação humana

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