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Conceitos de Educação segundo Émile Durkheim e Anísio Teixeira

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Faculdade de Educação
Curso: Licenciatura em Educação Física
Disciplina: Sociologia da Educação – Profª.: Miriam
Aluna: Alexandra de Alencar Granja
Respostas da Prova de Sociologia:
1ª Questão: 
Para DurKheim, a educação é uma ação incessante, podendo ser intencional (ou formal), que é estabelecida na relação mestre-aluno, ou não-intencional (ou informal), existente em praticamente todas as relações sociais entre indivíduos mais jovens e mais velhos, não tendo espaço nem tempo específico para ocorrer. Existem diversos fatores que credenciam a formulação de uma Ciência da Educação, e por muito tempo se especulou se esta já não estaria formada na figura da Pedagogia, por esta ter como tema a Educação. Porém, a Pedagogia trata de teorias da Educação e a Ciência da Educação de ser um conjunto de práticas educacionais. Segundo Durkheim, essas práticas dependem do meio social em que se instituem e são resultado do momento de cada sociedade. Voltando à questão da Pedagogia ser ou não identificada como a Ciência da Educação, existe um fato que invalida esta possibilidade: ela tem por objetivo delimitar o que deve ser, o futuro da Educação, enquanto a legítima Ciência da Educação trata justamente das práticas presentes e passadas, descrevendo-nas, pesquisando suas causas e efeitos. No lado oposto às ciências se encontra a arte, que nada mais é, em termos abrangentes, “tudo aquilo que resulta de reflexão e não é ciência”, e em termos mais específicos, é “todo produto de experiências práticas. Utilizando estes parâmetros pode-se conceituar a Pedagogia como uma teoria prática, ou seja, ela apresenta ora características de ciência, no sentido de que é uma combinação de idéias que tem por objetivo dirigir a ação, ora características de arte, quando estabelece programas de ação. Isto significa que ela reflete sobre os sistemas de Educação cientificamente observados para proporcionar uma visão teórica que estimule a ação do educador. Para conferir legitimidade a uma teoria como esta, se faz necessário fundamenta-la em ciência(s) já constituída(s) e indiscutível(is). No caso específico da Pedagogia, ela teria como base a Ciência da Educação, porém, como esta ainda está em processo de formação, a Sociologia e a Psicologia desempenham esta função. Então, é com o apoio destas duas ciências que a Pedagogia inicia suas reflexões acerca da Educação e aplica suas descobertas com o intuito de desenvolve-la de acordo com as necessidades e exigências do momento de determinada sociedade. E essa reflexão constante é imprescindível na medida que a evolução social é também constante; cada momento histórico e social tem suas características, idéias, necessidades, e a Educação deve manter um canal sempre aberto para se transformar e atender a essas mudanças.
Já Anísio Teixeira coloca, logo de início, a Educação como uma arte: “a arte de educar. Sendo que para ele, arte se define como modo de fazer aquilo que se determina, partindo do conhecimento desse campo determinado e utilizando meios pessoais de proceder. Porém, a arte e a ciência, segundo o autor, não se separam, pois a evolução das artes depende do desenvolvimento das ciências que as inspiram e fornecem instrumentos de ação, as chamadas ciências-fonte. No caso da educação, tem ocorrido um considerável desenvolvimento, o que a torna cada vez mais científica. Esse desenvolvimento só se dá pela oportunidade de evolução de suas ciências-fonte: a Sociologia, a Psicologia e a Antropologia, isto porque a educação como ciência ainda não possui elementos suficientes para se estabelecer. A necessidade de um contato direto entre a educação e suas ciências-fonte se explica pelo fato dessas proporcionarem condições para que a Educação tenha êxito naquilo a que se propõe: fornecer meios para a seleção do que ensinar (material de currículo), como ensinar (métodos de ensino) e de estrutura de organização e administração escolar. Outra questão importante nesta relação educação/ciências-fonte é o fato de que o sistema educacional fundamentalmente do meio social em que está inserido, das condições humanas e históricas de cada sociedade no momento de sua aplicação, e são justamente estas ciências que observam o homem, o meio em que vivem e as transformações que um suscita no outro. Dessas transformações sociais resultarão transformações educacionais, que levam ao desenvolvimento. Para tanto, é preciso que se utilize o chamado método científico, que consiste na observação e descoberta de conhecimentos que possam ser repetidos, e que acumulados geram a busca e a descoberta de novos conhecimentos, caracterizando assim as ciências que, segundo conceituação do autor, seriam “corpos sistematizados de conhecimentos com princípios e leis gerais”. Mas só isso não basta. Essas ciências devem ser aplicáveis à vida prática dos indivíduos. Isso também é válido no que diz respeito as praticas educacionais, ou seja, essas devem resultar de pesquisas científicas passíveis de alterações e adaptações para sua adequada aplicação dentro da situação apresentada. Através dessa colocação enfatiza-se que a ciência é apenas um instrumento para a descoberta, e não a própria. Muitos dos erros ocorridos no âmbito educacional resultam exatamente da tentativa da aplicação direta dos resultados expostos pela ciência sem que passem antes por um processo de transformação que os torne aplicáveis às práticas educacionais. Não se pode perder de vista o fato de que as ciências-fonte, no caso da Educação as ciências sociais Sociologia, Psicologia e Antropologia, formam apenas uma parte dos elementos geradores de conhecimentos transformadores das regras da arte, criadores de outras formas de arte e facilitadores das práticas educacionais. Existem ainda outros elementos desse processo, como os valores individuais, os costumes, as questões biológicas, as experiências pessoais e mais um sem número de fatores intermediadores do processo educativo. O mais importante é saber que o resultado de todo esse processo, apesar de toda reflexão suscitada pelas ciências, só é conhecido através da prática, pois é nela que se observa a aplicabilidade de cada teoria, o real grau de envolvimento de cada elemento e as transformações desencadeadas.
Outra importante discussão dentro do processo educacional diz respeito à identidade do campo da Educação enquanto campo científico e quanto sua tradição, ou seja, o quanto a identificação das matrizes teóricas do pensamento pedagógico é relevante para que seja alcançada a autonomia do campo educacional. A confirmação dessa relevância parte do pressuposto que a tradição constitui o pilar de fundamentação dos meios de produção dos conhecimentos específicos ao campo da Educação. A agregação de diversas tradições disciplinares caracterizou a produção científica nesta área específica de interesse humano. Conseqüentemente, essa multidisciplinaridade levou ao acúmulo de conhecimentos também diversos, causando diálogo entre as ciências envolvidas, diálogo esse que pode ter duas conseqüências: o enriquecimento dos conhecimentos, ou o desligamento da tradição de origem que gera um discurso mais eclético e por isso mais difícil de ser mantido, pois a falta de especificidade e o excesso de informações pode gerar confusão. Por meio desse pensamento, pode-se dizer que o papel da tradição enquanto sabedoria, ciência relevante para a arte de educar, é justamente o de fundamentar, embasar teoricamente as ciências que contribuem com essa arte, procurando sempre analisar e selecionar o que de mais proeminente houver em cada uma para que não ocorra a confusão resultante do excesso de dados.
2ª Questão:
Tanto para Anísio Teixeira quanto para Durkheim, a Educação deve ser um processo em constante mudança, já que resulta das necessidades sociais apresentadas no momento. Portanto, as práticas educacionais devem ser caracterizadas por certo grau de mobilidade que possibilite sua adaptação às variadas situações.Para tento, a melhor estratégia seria provocar uma crescente autonomização da Educação, gerando maior criatividade de ações e, assim, mais possibilidades de ajustes. A autonomia da Educação só é possível através do reconhecimento da identidade de seu campo. A multiplicidade de campos científicos que a Educação abrange gera até certo ponto um problema e lança desafios. O problema reside na dificuldade de comunicação entre esses diversos campos científicos, o que impede o desenvolvimento recíproco dos mesmos que proporcionaria a devida preparação dos profissionais da Educação para o estabelecimento de relações dos conhecimentos com a realidade. Quanto aos desafios originados na multidisciplinaridade do campo educacional, pode-se dizer que se resumem a dois desafios interligados. O primeiro seria superar a fragmentação de um campo com essa característica multidisciplinar, e o segundo consistiria na busca de um patamar comum de discussão epistemológica entre as disciplinas envolvidas. Ao encontrar respostas para o segundo desafio, o primeiro seria praticamente vencido também, pois a fragmentação não seria mais um problema, já que o canal de diálogo entre as diversas formas de conhecimento estaria estabelecido. Nessa busca pelo patamar comum devem ser consideradas quatro tensões que transpõem o campo da Educação com origem em diferentes campos de ação interligados de forma a caracterizar a realidade em que se inserem os projetos pedagógico-sociais. As tensões são assim classificadas: igualdade de condições/igualdade de oportunidades, que tem relação com o campo político-social e representa nada mais do que a questão igualdade/desigualdade, colocando a escola como um elemento social minimizador de desigualdade e não aniquilador; singular/universal, concernente ao âmbito cultural, e que representa o choque dos interesses individuais com os coletivos (da sociedade), tendo a escola como um dos principais neutralizadores de diferenças, já que os alunos, geralmente, não têm suas individualidades respeitadas; disciplinar/transdisciplinar, ligado à questão epistemológica e que trata da necessidade de ter conhecimento amplo sobre cada disciplina e ter a capacidade de integrar esses conhecimentos; qualidade/quantidade, que faz referência ao campo pedagógico e marca uma já conhecida dificuldade de oferecer uma grande quantidade de conhecimentos universais sem deixar de considerar a área de interesse a aprofundar que cada indivíduo possui. Quantos a essas questões existem algumas perguntas pertinentes: será que é interessante aniquilar desigualdades sociais? Que interesses devem prevalecer: os individuais ou os da sociedade? O que cada aluno absorve realmente de cada disciplina, como são dadas as conexões com outros conhecimentos e como o resultado disso é aplicado, ou não, em sua vida prática? O que teria mais utilidade: conhecer superficialmente uma infinidade de assuntos ou aprofundar alguns conhecimentos de acordo com a área de interesse? A princípio, as respostas para essas questões vão depender, como já citado, do meio social para o qual o sistema educacional é planejado, de quem e para quem são organizadas as políticas educacionais e como essas são aplicadas. São essas reflexões que podem levar a Educação além da ciência tão debatida por Durkheim e Anísio Teixeira.

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