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O crescimento economico Moses Abramowitz

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O CRESCIMENTO ECONOMICO
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t.
., Jr
Obras publicadas nesta colecgilo:
| 
- 
Marual do Analbu de Gestdo dc Pessoal e dc Organizag&o, Josd A. Inmfu Martins
2 
- 
O Qyc Ndo Se Era;it1a rla,s Faculdades de Economla, Mark H. McCormack
3 
- 
OQru Ndo Se Ensina 
'.s 
Faculdades dc Direito, Mark H. McCormak
4 
- 
O E*ritdrio Elccthnico,John Sinclair
5 
- 
A Economb Politica-l]ns Histdrb Crttiea, John Kenneth Galb'raith
6 
- 
Segredos do Strcesso Emprewrbl, Mark H. McCormack
7 
- 
19b3 
- 
A Europ Sen krreiras, Deloitte, Haskins & Shells, [.da
8 
- 
O Novo Estado In&stiat, Jottn Kenneth Galbraith
9 
- 
Estratdgia Enprexrial, John Grieve Smith
10 
- 
CriativiMc: llm Passo para O Sucesso, Simon Majaro
I I 
- 
Organiza7Ao: Mdtdos eTdcnicas Fundanentais,leanGerbier
12 
- 
A Gestilo Efrcientc do Tenpo,John Adair
13 
- 
Cono Ndo-Perder Dinluiro no Seu Neg6cio: O Problenu fus Qucbra.s, Alain Chevalier Beaumel
eBemard Demory
14 
- 
A Gestilo Efrciente dc Urru Equipa, John Adair
15 
- 
O Devfw do Strcesso-A Sohqdo I l0?o, Mark H. McCormack
l6 
- 
Os Paraisos Fiscais, l-aurent Leservoisier
17 
- 
A Lideranga Efrciente'lolm Adair
18 
-O Crescimcnto Econimico, Moses Abramowiu
MOSESABRAMOWITZ
O CRESCIMEIVNO ECONOMICO
RrHkpg6es Europa-America
rituro ori ginar:,!#:ffii :;tr'ffi :tr: es s 6! s
Tradug[o de Renao Casquilho
Tradugio portuguqsa @ de P. E. A.
Capa: estddios P. E. A.
@Cambridge University Press 1989
Direitos reservador por
Publicaq6es Eurorpa-Am €rica" lAa.
Nenhuma parte desta publicagilo pode ser rep'roduzida
ou ransmitida por qualquer forma ou por qualquer p'ro-
cesso, electr6nico, mecinico ou foogr6fico, incluindo
fotoc6pia, xeroc6pia ou gravagio, sem autori zaqio pr€-
via e escrita do editor. Exce,ptua-se naturalme,nte a trans-
criqeo de pequenos textos ou Passagens Para apre-
s€ntageo ou critica do livro. Esta excepgiio nIo deve de
modo nenhum ser interpretada como sendo extensiva h
transcrigdo de texos em recolhas antol6gicas ou simi-
lares donde resulte preju(zo para o interesse pela obna.
Os transgressores sdo passiveis de pocedimento judicial
Editor: Francisco Lyon de Castro
p[rBl.lcAqops EuRoPA-AMERICA, LDA.
Aprtado 8
2T26MEMMARTINS CODEX
PORTUGAL
Edi96o n.0: 150518 15622
Execugio t6cnice
Grdfica Europam, [da,
Mira-Sintra 
- 
Mem Martins
Dcp&ito b gd u.r: 56 lt?lfiL
Para Catie,
com afnor
INDICE
Prcfdeio do editor
Prefifieio
P.mru I 
- 
O crescimento e os economistas
1. Reflexdes acerca do crescimento
2. Economia do crescimento
P.mrr II 
- 
AnClise do erescimento a longo prazo 135
3. Origens e tend6ncias da produgEo nos EUA desde 1870... L37
4. O crescimento econ6mico nos EUA: um ponto de vista..... L57
5. Potencial humano, eapital e tecnologra....... 181
6. Potencial de crescimento rdpido e sua rcalizagdo; a expe-
riOncia das economias capitalistas no perfodo do p6sguerra 195
7. Recuperag6o, progresso, atrasos............ 226
Pmtp m 
- 
Grandes oscilag6es no crescimento econ6mico 249
8. A natureza e o significado dos ciclos de Kuznets
9. A morte dos ciclos de Kuznets
P^mrn IV 
- 
Crescimento e bem-estar
10. Objectivos econ6micos e bem-estar social na pr6xima
geragSo
11. Crescimento numa sociedade de abunddncia
L2. O recuo dos avangos econ6micos: mudanga de ideias
sobre o progresso econ6mico .........
13. Dilemas do bem-estar e preocupag6es de produtividade
PAg.
11
13
2L
23
93
25L
279
301
303
309
322
350
PREFACIO DO EDITOR
O Crescimento Econlmico redne os principais ensaios de Moses Abra-
movitz sobre alteragdes econ6micas a longo prazo, bem como uma nova obra
nunca publicada, e que s6o fruto de mais de quarenta anos de significativo
pensamento sobre o assunto. O Prof. Abramovitz, antigo presidente da
AssociagSo Econ6mica Americana, 6 um dos mais distintos estudiosos
mundiais do processo do crescimento econ6mico.
O liwo comega por dois ensaios sobre a natureza do crescimento e os
esforgos dos economistas para compreenderem e explicarem o fen6meno.
Constituem ambos, respectivamente, as mais recentes e as mais antigas
considerag6es de Abramovitz sobre a quest6o, permitindo que o leitor se
aperceba de quanto se modificaram os seus pontos de vista devido aos
extraordindrioseventos do per(odo do p6s-guerrae irs alterag6esno esquema
intelectual desenvolvido pelos economistas. O volume encaminha-se, de-
pois, para a anrilise das causas pr6ximas das alterag6es econ6micas a longo
prazo, assunto sobre o qual o autor realizou um trabalho pioneiro. No
capftulo 3, o primeiro dessa sec96o, reproduz-se um dos mais amplamente
citados artigos jamais escritos sobre as fontes hist6ricas do crescimento
econ6mico nos EUA. Uma das preocupag6es centrais de Abramovitz rela-
ciona-se com os factores respons6veis por perfodos de diverg6ncia e conver-
gOncia nos nfveis de realizagdo econ6mica dos pafses em modernizagEg.
Prossegue com este assunto na sua andlise da ascensEo da superioridade
produtiva americana durante a primeira metade do s6culo )o( e nos esforgos
do Jap6o e de outros paises ocidentais no p6s-guerra para emularem o
sucesso americano.
A expansSo econ6mica americana no s6culo xx e princfpios do s6culo lor
realizou-se atrav6s de grandes avangos e recuos. Os ensaios na terceira parte
do liwo sdo dedicados ir consideragdo desses longos balangos, com repetidos
e euf6ricos boonzs e grandes depress6es, e a explicarpor que desapareceram
na segunda metade do s6culo xx. O volume termina com uma secgdo dedicada
ao contetido e significado da experiOncia do crescimento econ6mico. O liwo
inclui, mais uma vez, uma das primeiras express6es da visSo de Abramovitz
sobre este tdpico (capitulo 10), bem como uma das mais recentes (capftulo 12).
Estes ensaios s6o importantes. Influenciaram o curso dos trabalhos sobre
crescimento econ6mico e desenvolvimento, e motivardo muitos estudos
adicionais.
il
pnnrAcro
O meu interesse pelo crescimento econ6mico, tal como o de outros
economistas, comegou durante a II Guerra Mundial. Inicialmente, estive
envolvido no s esforgo s de plan ifi cag6o da dimen s6o do programa de produgdo
de guerra dos EUA e, mais tarde, no estudo sobre a capacidade de produgSo
alem6.
Que dimensSo poderia ter o programa dos EUA? At6 que ponto poderia
a economia ser capaz de produzir se fosse levada aos limites? A capacidade
da economia dos EUA n6o fora testada desde L929. Os programas de
armamento macigo de Roosevelt foram o resultado de um debate acerca
do crescimento da capacidade dos EUA durante os doze anos da depressSo.
Os economistas tiveram um papel de direcgso no debate e divergiam am-
plamente. Richard Gilbert e Robert Nathan encontravam-se entre os econo-
mistasher6is dabatalhaburocrdtica e polftica. Recordando o passado, estou
convicto de que a visSo e os cdlculos que sustentaram um grande programa
foram factores decisivos na guerra. Homens e arrnas tiveram de ser utiliza-
dos e tiveram de ser travadas terrfveis batalhas; mas logo que os enormes
contratos de armamento foram adjudicados verificou-se que existia capaci-
dade para a sua execugSo. Fora criada a vantagem material dos Aliados
sobre o Eixo.
Os crilculos sobre a capacidade de produgSo germdnica foram menos bem
sucedidos. Basearam-se no pressuposto de que a economia alemS tinha sido
totalmente mobilizada no inicio da guerra. As grandes esperangas que os
governos inglOs e dos EUA depositaram nos bombardeamentos estrat6gicos
partiam desse pressuposto. Foi um erro. Apesar do crescimento da diversi-
ficagdo dos homens pelas forgas armadas e apesar do pesado bombardea-
mento, a produgSo alem6 de armamento continuou a aumentar quase at6 ao
fim da guerra. Nessa altura,o erro era not6rio. Os economistas que
absorveram os riltimos relat6rios das 
"Sondagens aos bombardeamentos
estrat6gicos dos EUA" ficaram, consequentemente, menos surpreendidos
que a maioria das pessoas com o milagre econ6mico alemdo do p6s-guerra.
Quando os obst6culos monetririos para a reconstrugSo foram removidos, ndo
s6 permaneciam a tecnologra e capacidade alemSs, mas tamb6m um vasto
strck de capital. Tais experiOncias conduziram o pensamento dos economis-
tas para o crescimento a Iongo prazo das capacidades produtivas nacionais.
Por que razdo a produtividade na Europa se atrasou relativamente i dos
EUA em mais de meio s6culo? Como 6 que o Jap6o, acabado de emergir de
um virtual estado de feudalismo somente setenta anos antes da guerra,
t3
MOSES ABRAT,TOWITZ
ganhou forga para desafiar os EUA? Questdes como estas eram reforgadas
pela determinagSo da Europa de n6o somente recuperar da guerra mas
tamb6m de iniciar um programa de crescimento a longo prazo. O interesse
dos EUA numa Europa Ocidental forte ajudou essa determin agdo. Al6m
disso, a rivalidade econ6mica no crescimento a longo ptazo fazia parte da
guerra fria. Tendo auxiliado a pOr fim aos regimes coloniais, o povo dos EUA
interessou-se pelo desenvolvimento econ6mico dos pafses pobres. Conside-
rag6es geopolfticas estiveram em paralelo com impulsos generosos e ambos
suportaram um forte programa americano de auxflio ao Terceiro Mundo.
O novo interesse dos economistas pelo crescimento econ6mico adv6m de
todas estas fontes.
Tive oportunidade de juntar-me a este trabalho quando Bernard Haley
me pediu para preparar um artigo sobre a economia do crescimento para
a revista da AssociagSo Econ6mica Americana Suruey of Contemporary
Economics (1952). Esse artigo encontra-se inclufdo no segundo ensaio da
parte r deste volume. A sua elevada Onfase sobre a acumulagSo de capital
como fonte do crescimento reflecte uma vis6o comum do pensamento
econ6mico da 6poca. Ndo podia ficar por aqui, e o longo ensaio 
"Reflex6es
acerca do desenvolvimento,, com que se inicia este liwo, constitui a minha
tentativa de sintetizar anovavisSo emergente do ressurgimento dos estudos
sobre o crescimento nas d6cadas do p6s-guerra.
A minha pr6pria concepg5o do assunto e, como se verifica, de outros
autores, modifica-se com o artigo 
"Origens e tend0ncias da produgSo nosEUA desde 1870" (capftulo 3 deste volume). Preparei o artigo para um
encontro da AssociagSo Econ6mica Americana sobre hist6ria econ6mica.
Aminha modesta contribuig6o consistiu num resumo do crescimento econ6-
mico dos EUA desde a guerra civil. Com algum desespero, voltei-me para os
ntimeros da produgSo nacional. Simon Kuznets tinha-os recuado at6 1870.
John Kendrick, preparando o seu grande liwo Productiuity Growth, calca-
lava indices da ligagSo dos factores capital e trabalho, bem como fndices do
produto nacional por unidade de factor. Segur esta prritica. NEo a encarei
como um utensflio particularmente radical, mas olhei-a como mais um
exercfcio, de certo modo familiar, em muitos outros contextos. Se o produto
nacional real tivesse subido entre duas datas, o aumento poderia ser
atribufdo, parcialmente, a um aumento dos factores de produg6o, assumindo
que perrnanecia constante o produto por unidade de factor e, parcialmente
tamb6m, a um aumento na produgSo por unidade de factor. Um indice do
primeiro seria fornecido pela quantidade de factores consumidos em quan-
tidades de cada ano, multiplicado pela sua base anual de ganhos. O que
restasse do aumento do produto nacional seria o efeito da alteragEo na
produgSo por unidade de factor, isto 6, da produtividade dos recursos
utilizados.
O que poderia ser mais simples? O resultado mais excitante seria o
desequilibrado. Numa decomposig6o do crescimento per capito, verifica-se
que muito pouco foi atribuivel ao aumento do emprego per capita da popu-
lagdo, ou mesmo ao capital per capita. O restante crescimento da produti-
t4
O CRESCIMENTO rcONaMICO
vidade foi a fonte aparente de praticamente todo o aumento de receita per
capita durante quase um s6culo. Como seria isto possfvel? Para mim, 6 claro
que o aumento de produtividade n6o foi simplesmente uma esp6cie de
avango sem custos do conhecimento, um involuntririo mas bem-vindo rodo-
pio de actividades levadas a cabo com outras finalidades. O cdlculo estava
incompleto. Faltava-lhe considerar os custosos investimentos em capital
humano, ou de economias de escala, que foram um b6nus de produtividade
para maiores realizag6es de cada fonte. A escolaridade mais prolongada, a
investigagdo e o desenvolvimento, a reestruturagdo das ocupagdes e a
movimentagSo da populagSo eram importantes elementos de acumulagSo de
capital, at6 ent6o n6o avaliados. Isto constituiu um indicador para trabalho
futuro.*
Nos anos 50, a minha investigagSo foi apoiada pelo National Bureau of
Economic Research. O seu director, Arthur Burns, estava impaciente com o
meu interesse no crescimento a longo prazo. Ndo confiava nos dados que
utilizei e pressionou-me para que trabalhasse em mat6rias mais objectivas
e em assuntos de interesse prritico mais imediato, de preferOncia os ciclos
econ6micos, sobre os quais tinham incidido os meus estudos iniciais. Tentei
resolver a questEo estudando as (grandes oscilag6es>, as flutuag6es que
aparecem nos registos estatfsticos quando a influ6ncia de ciclos econ6micos
mais curtos 6 removida. Foi uma ambiguidade, por diversos motivos. Nas
s6ries estatfsticas, as oscilag6es apareciam em graus de crescimento, pr6xi-
mos dos nfveis de produgSo, isto 6, estdvamos perante informagSo idOntica
ir que dizia respeito aos pr6prios estudos acerca do desenvolvimento. A
duragdo das oscilag6es, quinze a vinte anos, era intermddia face a ciclos
econ6micos curtos e aos maiores perfodos adequados ao desenvolvimento
secular. Tal como o crescimento secular, a alteragSo de produgEo durante
grande parte das longas oscilag6es foi atribufda, principalmente, aos facto-
res de produgSo e ao crescimento da produtividade 
- 
pelo contrdrio, nos
ciclos econ6micos, essas alterag6es foram atribufdas ir intensidade da
utilizagdo dos recursos. Por outro lado, as longas oscilag6es culminavam
episodicamente numa grande depressSo ou num periodo de prolongada
estagnagdo. Cada perfodo de an6lise envolvia uma grande flutuagSo na
intensidade da utilizagdo.
Tentei reunir os dois elementos, considerando as longas flutuag6es nas
taxas de crescimento dos factores e da produtividade em fung6o de altera-
g6es na intensidade da utilizagSo. E especulei sobre a possibilidade de os
desenvolvimentos reais e financeiros associados a prolongadas tensdes de
* O meu artigo n6o foi o rinico nem o primeiro trabalho a apontar nesta direcado.
Foi rapidamente seguido pelos artigos de Kendrick, dos quais o meu pr6prio trabalho
dependeu, e pelos de Robert Solow. Existiram publicag6es anteriores, pouco divulga-
das, de Jacob Schmookler, Solomon Fabricant e George Stigler. Tanto quanto agora
sei 
- 
e ningu6m nos EUA parecia, entdo, sab6-lo 
-, 
d prioridade pertence a Jan
Tinbergen (1942). (N. do A.)
15
MOSES ABRATTOWITZ
crescimento relativamente estdvel tornarem as economias mais vulnerdveis
is grandes depress6es.
Inclufdos na parte m deste volume encontram-se dois ensaios baseados
em estudos sobre as grandes oscilag6es. As ideias neles expressas surgem
tamb6m em trabalhos posteriores sobre o pr6prio crescimento. Fui levado a
encarar os graus de crescimento a longo prazo como o resultado de duas
classes de causas: as que determinam o potencial parao crescimento e as que
governam o grau de realizagEo do potencial. As eondig6es que apoiam a
expansEo prolo-ngada o_u que iqp_oqp a estagnagdo sobrep6em-se_ is que
governam a realizagEo do potencial. No final dos anos 50 e princfpio dos anos
60, as pessoastomaram consciOncia dofacto de aexperiOncia do crescimento
no perfodo p6s-guerra ser completamentediferente de todas as coisas
conhecidas em tempos anteriores. A Europa e o Jap6o tinham avangado a
taxas de rapidez sem precedentes. O crescimento da produtividade dos EUA
foi t6o r6pido como antes, talvez at6 mais r6pido, mas muito mais lento do
que no Jap6o e na Europa. A posigSo dominante de que os EUA tinham
desfrutado nos anos 50 estava a ser perdida. Um sintoma indesejado foi o
desaparecimento da escassez do d6lar. A balanga de pagamentos dos EUA
tornou-se d6bil. Tais observag6es constitufram um desafio intelectual, mas
tamb6m era mat6ria que dizia respeito ao priblico. Em 1963, o Social Science
Research Council pediu a Simon Kuznets que organizasse uma s6rie de
estudoshist6ricos comparativos do crescimento econ6mico em vdrios pafses
europeus, no JapSo e nos EUA. Como, na altura, eu estava em Paris e numa
boa posigdo para contactos com especialistas europeus, Kuznets pediu-me
para o ajudar a organizar o trabalho. O crescimento do ap6s-guerra pode ter
sido r6pido, mas n6o o foram os estudos hist6ricos. Passou-se uma d6cada
antes que grande parte do trabalho estivesse pronto. Mais tarde (L977),
preparei um resumo para a AssociagSo Econ6mica Internacional. Tinha um
tftulo enorrne: 
"Potencial de crescimento rdpido e suarealizagdo:AexperiOn-
cia das economias capitalistas no perfodo p6s-guerraD (capftulo 6 deste
volume). Af tentei contabilizar as caracterfsticas mais significativas da
experiOncia do crescimento da 6poca: a extraordinariamente rripidataxa de
crescimento da produtividade entre a generalidade dos pafses industriali-
zados; a sistem6tica gradag6o do ritmo de crescimento entre os principais
pafses, com o Jap6o no topo da escala e os EUA na base; a longa duragdo da
expansSo de um quarto de s6culo, sem precedentes, cerca de duas vezes mais
Ionga do que as expans6es de grandes oscilag6es do passado; e o cardcter
concertado do boom, compartilhado por todos os pafses industrializados e
tamb6m por muitos paises do Terceiro Mundo.
Muitos elementos de potencial e realizagilo contribuiram para este
desenvolvimento. Do lado do potencial, foi muito forte a oportunidade dos
europeus e dos japoneses para um rripido crescimento atrav6s da captagSo
e adaptagSo de tecnologias avangadas. O fosso tecnol6gico entre esses pafses
e os EUA tinha crescido imenso entre 1913 e 1950, quando as duas grandes
guerras, as perturbagdes territoriais, politicas e financeiras que se segui-
ram, e a grande depressdo com o colapso do com6rcio internacional, se
16
I
O C RESC I M ENTO ECON 6 MI CO
reuniram para inibir o seu crescimento. Entretanto, a sua capacidade para
explorartecnologias avangadas, os seus niveis de educagdo e a sua experiOn-
cia com a indtistria e o com6rcio em grande escala tornaram-se mais fortes.
Tudo isto contribuiu para um r6pido e generalizado crescimento e para as
sistemdticas diferengas entre os pafses. O potencial para o salto tecnol6gico
era superior nos pafses mais afastados dos EUA. O Jap6o, por entre os
"seguidores>, avangou mais rapidamente, a Grd-Bretanha mais lentamente
e outros pafses dispersaram-se entre estes com posig6es inversamente
proporcionais aos seus niveis iniciais de produtividade.
No que respeita i realizagSo do potencial, o rripido avango foi favorecido
e mantido por condig6es monetdrias estiiveis. Estas foram estabelecidas
pela polftica dos EUA e reforgadas pelo sistema Bretton Woods de taxa de
cimbios. Mais tarde, foi apoiado pela liberalizagSo do com6rcio internacio-
nal, que facultou aos pafses um eaminho f6cil para a adopgSo das tecnologias
de escala em que os EUA foram pioneiros e por condigdes flexiveis de
fornecimento de m6o-de-obra. As necessidades comerciais e industriais de
m6o-de-obra foram satisfeitas atrav6s de grandes migrag6es dos campos
para as cidades. A produtividade agrfcola na Europa e no Jap6o aumentou
rapidamente, libertando trabalhadores para empregos industriais e comer-
ciais. Emigrantes provindos de agriculturas pobres de pafses mediterrini-
cos afluem para a Europa ocidental e setentrional. Ao mesmo tempo, as
restrig6es dos EUA i imigragSo limitavam o fluxo vindo do outro lado do
Atl6ntico, em rdpido crescimento, para o nosso lado, onde o crescimento era
mais lento. Ambos os lados podiam avangar em conjunto mais facilmente,
num claro afastamento do antigo padr6o de crescimento da comunidade
atl6ntica.
A oportunidade de 
"apanhar a carruagem" foi uma caracteristica central
do boom do desenvolvimento do p6s-guerra. Constituiu o potencial em que
se basearam as rdpidas etapas de crescimento e de converg6ncia dos niveis
de produtividade dos pafses entSo industrializados. Esta experiOncia coloca
um grande nrimero de quest6es. At6 onde pode ser levada a tend6ncia para
a convergOncia por meio desse 
"apanhar a carruagem"? Serri que tamb6m se
aplica a pafses nos primeiros est6dios de crescimento? Tamb6m terri funcio-
nado no passado? Se n6o, o que inibiu o seu funcionamento? O que se
encontra envolvido no processo, para al6m da captagSo tecnol6gica? E um
processo autolimitativo, enfraquecendo i medida o fosso tecnol6gico se se
torna menor? Ou existem tamb6m, no processo, elementos auto-reforgadores,
de tal forma que os pafses em causa tamb6m podem tomar a dianteira?
Considerei esta s6rie de quest6es em 
"Recuperagd,o, progresso, atrasos,, ofltimo ensaio da parte u desta obra.
As reflexdes dos economistas encontram-se quase totalmente orientadas
para as causas do crescimento econ6mico, e n6o para lhe avaliar a importAn-
cia. Os ensaios das partes I e II seguem essa tradigdo. A importAncia do
crescimento ainda ndo est6 em causa; e uma forte corrente de opinido
mant6m-se c6ptica. Poucos podem duvidar do valor de elevados rendimentos
em pafses pobres; mas por que 6 que os paises ricos se esforgam tanto para
Ecorpmie & Ciostio 18 
- 
2 l7
MOSES ABRAMOWITZ
se tornarem ainda mais ricos? Os economistas cl6ssicos, escrevendo h6 cerca
de dois s6culos, tinham uma resposta. Pensavam que s6 continuando a
progredir um pafs poderia pOr em xeque o processo malthusiano. Um pafs em
estagnagSo veria dissipar-se o seu elevado rendimento para suportar uma
populagSo crescente. John Stuart Mill, que comegou a compreender as
possibilidades do controlo da natalidade, ndo tinha a certeza disso. Os
m6todos modernos de contracepgSo tornaram o assunto indisputrivel. Ndo
existem drividas, agora,de que ospafses ricos podem manter elevados nfveis
m6dios de rendimento sem um crescimento rripido. E tamb6m 6 certo que o
pr6prio crescimento acarreta s6rios custos, com a deslocagSo das situagdes
estabelecidas, com a perturbagSo das relag6es familiares e dos modos e
lugares de vida e com os estragos ambientais. Por outro lado, sdo incertas as
satisfag6es resultantes de rendimentos cada vez mais elevados. Que importa
ter mais, se nunca deixarmos de querer ter ainda mais?
Tamb6m se prop6em respostas a estas questdes. Existem rivalidades
internacionais pelo poder que transportam o receio de perder na corrida do
crescimento. As nossas vidas, com efeito, podem ser perturbadas pelo
crescimento, mas tamb6m o podem ser, e muito desagradavelmente, quando
ficamos para tr6s. Mesmo os pafses ricos possuem algumas pessoas muito
pobres; 6 mais fiicil sustentar e, talvez, melhorar a sua situag6o e as suas
capacidades sem o aumento de rendimento facultado pelo crescimento, do
que enfrentar as tens6es polfticas da redistribuigSo de um rendimento
estrivel. As pessoas pretendem simultaneamente bens materiais e conheci-
mento. Ambos os desejos dependem um do outro. A procura do crescimento
econ6mico e o rendimento que este proporcionou constituiram poderosos
apoios para a nossa procura do conhecimento. Qual teria sido a posigdo se
tiv6ssemos parado os esforgos no sentido do crescimento econ6mico? Em que
medida teriam enfraquecido as pesquisas do conhecimento? As satisfag6es
derivadas de um rendimento cada vez maior podem n6o ser transparentes,
masa felicidade, por exemplo, ndo 6 o verdadeiro objectivo. Maiores rendi-
mentos significam horizontes mais vastos e uma maior gama de escolhas.
Ndo devemos negar a n6s mesmos a possibilidade de escolha, mesmo se n6o
soubermos se a poderemos utilizar.
As respostas s6o completamente satisfat6rias? Existe nos EUAe noutros
pafses ricos uma forte distorsdo de opiniSo anticrescimento. Essas quest6es
vieram atormentar-me muitas vezes. Desenvolvo-as na s6rie de ensaios da
parte w.
A parte rv tamb6m inclui um ensaio, 
"g crescimento numa sociedade de
abund6ncia,,, que aborda estas quest6es de um ponto de vista algo diferente.
Preparei o artigo para uma confer6ncia da Casa Branca sobre infAncia ejuventude, realizada em 1960, e tentei dizer algumas coisas acerca da
adolescOncia nos EUA, nessa 6poca de forte e confiante crescimento. Tentei
demonstrar que o nosso desenvolvimento econ6mico significava mais do que
um maior conforto e, mesmo, mais que melhor saride. Significava um per(odo
mais longo de dependOncia econ6mica, i medida que era alargado o tempo
de escolaridade. Significava, ainda, eue os jovens profissionais ambiciosos
18
o c RESCTMENTo scoN 6utco
podiam, se quisessem, ter namoros mais jovens e casarem-se mais cedo.
Nessa 6poca, assim o quiseram. Isso significava a safda de muitas m6es do
lar, d medida que encontravam um mundo mais aberto is mulheres nos
dominios da educagdo e das profiss6es. E tamb6m significava o regresso dos
pais a casa, pois as horas de trabalho eram progressivamente encurtadas.
E mais coisas desse g6nero 
- 
era um ensaio optimista e estava errado em
muitos aspectos. Salientava, correctamente para a 6poca, que mais criangas
iam crescer no seio de famflias intactas, simplesmente porque os pais
viveriam o suficiente paraverem os seusfilhos atravessarem a adolescOncia.
Falhou na previsSo o grande aumento da taxa de div6rcios e de nascimentos
fora do casamento, ambos tendo ligag6es com o crescimento econdmico.
Existiam outras falhas do g6nero. Eu pensava que o crescimento dos
subrirbios ia aproximar as criangas oriundas de diferentes classes de
rendimento. N6o previ o aumento das agudas diferengas entre os ricos e
endinheirados que ainda podiam pagar a vida citadina, e os verdadeiramen-
te pobres, eu€ n6o podiam escapar aos subrirbios. A despeito destas falhas,
penso que o artigo pode ser ritil, pois ilustra as diferentes formas como as
condig6es sociais do crescimento econ6mico invadem as nossas vidas.
Preparar uma colectdnea de antigos ensaios faz pensar em professores,
colegas e amigos. Ndo posso nome6-los a todos. Edward Mason, Douglass V.
Brown e FrankTaussigligaram-me i economia. John Maurice Clarkfoi meu
professor quando eu era estudante universitririo. Arthur Burns e Simon
Kuznets guiaram os meus primeiros trabalhos e ajudaram a formar a minha
visSo da pesquisa. Milton Friedman 6 um velho amigo. Lutdmos frequente-
mente e quebrdmos muitas langas. Beneficiei de uma longa, feliz e frutuosa
colaboragdo e amizade com Paul David. Paul Baran e Emile Despres, t6o
cedo perdidos, foram os mais chegados companheiros em Stanford. Tibor
Scitovsky e Marvin Chodorow ainda o s6o. Eli Ginzberg tem sido o meu
melhor amigo desde hri mais de cinquenta anos. Quer queiram quer nio,
deixaram as suas marcas nestes ensaios.
Dediquei este liwo a minha mulher. NEo posso manter a ilusSo, durante
mais tempo, de que escreverei, algum dia, um liwo merecedor dela.
M. A.
Stanford, Calif6rnia, Novembro de 1988.
19
PARTE I
O crescirnento
e os economistas
1
REFLnxOns ACERCA Do cRESCTMET{To
O crescimento econ6mico 6 um dos temas mais antigos da economia e um
dos mais jovens. Foi uma importante preocupagSo da Riqueza das Nagdes e
ocupou o pensamento dos economistas durante os tr6s quartos de s6culo que
se seguiram. No entanto, i medida que passava a 6poca vitoriana, o
crescimento perdeu a sua influOncia na atengfio e na imaginag6o do grande
corpo dos economistas acad6micos. Foi deixado a Marx e aos seus seguidores,
cuja prematura obsessSo com a queda do capitalismo n5o era apelativa para
as preferOncias polfticas, nem para as tendOncias cientificas dos represen-
tantes das disciplinas. Ent€lo, depois da II Guerra Mundial, e seguindo-se a
cem anos de relativo desprezo, houve um ressurgimento de interesse e de
estudos que prosseguiu com vigor durante as duas riltimas d6cadas. Com o
novo esforgo, muito do que tinha sido conhecido hri mais de um sdculo teve
de ser reaprendido. No entanto, o novo esforgo beneficiou de melhores e mais
extensos materiais hist6ricos e estatisticos e de uma estrutura de trabalho
mais sofisticada. Os resultados da nova pesquisa foram, no entanto, modes-
tos, tanto devido ir complexidade do assunto, como is limitagdes da economia
e de outras ci0ncias sociais. Contudo, o estudo do crescimento prossegue
vigorosamente. E interessante, mesmo assim, perguntar o que o novo
trabalho acrescentou ao antigo e em que situagdo se encontra, agora, o
assunto. Este esbogo do enante envolvimento dos economistas com o
crescimento econ6mico, embora se estenda por muitas priginas, ndo passa de
um esbogo. E frugal e aberto, como um esbogo deve ser.' Tem a ver,
principalmente, com as causas do crescimento econ6mico, n6o com as suas
consequ6ncias. Olha para o trabalho passado, principalmente em termos
daquilo em que contribuiu para a nossa actual compreensSo. Tem a ver com
o pr6prio crescimento actual nos pafses capitalistas avangados. Concentra-
-se no aumento da produtividade, principal componente do crescimento da
produgdo per capito,'e acompanha a questSo paralela do crescimento popu-
lacional. Preocupa-se, principalmente, com o crescimento global da produti-
vidade das na96es; desprezaamudanga estrutural exigida pelo crescimento,
Reconhego com agradecimentos a cuidadosa revis6o e encorajamento dos colegas que leram
os primeiros esbogos deste artigo. Incluem-se Eli Ginzberg, Charles Kindleberger, Richard
Nelson, Nathan Rosenberg, Walt Rostow e os editores deste volume, louis Galambos e Robert
Gallman. Tenho uma dfvida especial para oom Paul David, pela sua minuciosa leitura cr(tica.
23
MOSES ABRN,IOWITZ
excepto no caso em que uma capacidade dos pafses para conseguirem tal
mudanga limita a sua taxa de desenvolvimento conjunto. Em todas estas
vias, este esbogo do terreno 6 incompleto; mesmo assim, satisfaz uma
finalidade, especialmente se n6o dispusermos de mapas mais pormenori-
zados e completos.
1. O erescimento e os antigos economistas
Adam Smith foi o pai, n6o somente da moderna economia, mas, mais par-
ticularmente, da economia polftica do crescimento. A Riqueza das Nagfus,
pelo seu tftulo, anuncia a preocupagSo de Adam Smith com as forgas que
governam os niveis relativos de bem-estar entre pafses e com as causas que
levam alguns ao progresso e outros ao atraso. Os seus primeiros capitulos
s6o dedicados is vantagens da divis6o do trabalho e h sua dependOncia da
escala de actividade e da extensSo do mercado. Smith viu que a actividade
em larga escala permitia a especializagdo e simplificagdo de neg6cios e
tarefas, que aumentavam a capacidade dos trabalhadores com um melhor
aproveitamento do seu tempo e permitiam que artesSos inteligentes inven-
tassem dispositivos e utensflios para poupar tempo; aumentava a aplicag6o
de capital na organizagd,o dos mdtodos de produgSo e facultava aos homens
de neg6cios uma forma lucrativa e produtiva de empregarem as suas
poupangas. Por conseguinte, do ponto de vista de Smith, o avango da
produtividade era um processo interactivo que corria da escala de mercado
para a divisSo do trabalho, seguidamente para a revelag6o das capacidades,
a invengSo de novas ferramentas e a acumulagSo de capital e, finalmente,
realimentava a escala de mercado. Smith viu as instituig6es polfticas sob as
quais viviam as pessoas como a principal determinante para a sua capaci-
dade de explorarem as vantagensde escala tornadas possfveis pelos neg6-
cios e, consequentemente, para a sua capacidade de utilizarem amplamente
os seus talentos e recursos naturais.
Com poucas excepg6es, Smith pensava que a 
"polftica da Europa" deveria
ser do grSnero laissez-faire. Mas a Riqueza das Nagdes tamb6m mostra a
percepgSo bem realista de Smith da tend6ncia das pessoas para se multipli-
carem e para pressionarem os ]imites fisicos de uma extensSo limitada de
terra. Pensava que uma nagSo estaria melhor e seria mais progressista
quando existisse um fosso entre a sua populagSo e o ntimero miiximo de
pessoas que o territ6rio poderia sustentar. Portanto, o crescimento tenderia
a serrdpido, quando um crescimento conjunto da populagSo e do rendimento
expandissem mercados e abrissem caminho a uma cada vez maior e mais
intensa divisdo do trabalho. As teorias de Smith foram desenvolvidas e
refinadas nas d6cadas que se seguiram ao aparecimento do seu liwo. O
famoso ensaio de Malthus sobre a populagSo, em conjunto com o estudo de
Ricardo sobre a diminuigSo dos dividendos na utilizagSo da terra, agugaram
o sentimento de conflito entre populagSo e recursos. Ao mesmo tempo, houve
uma crescente apreciagSo das possibilidades do progresso baseado no
24
O C RESC I M ENTO EC ON 6 MI C O
avango da tecnologia. Os Princtpios de Economia Politica (L848) de John
Stuart Mill deram i, economia do crescimento o seu estatuto definitivo para
os economistas cLissicos. O tema agregador do tratado de Mill possui uma
ressondncia distintamente moderna:
Podemos dizer, entSo [...] que os requisitos da produgSo s6o traba-
lho, capital e terra. Por conseguinte, o aumento da produgSo depende
das propriedades destes elementos. Constitui o resultado do aumento,
tanto dos pr6prios elementos, como das suas produtividades. A lei do
aumento da produgEo deve ser consequOncia das Ieis desses elemen-
tos; os limites para o aumento da produgdo devem ser os limites, sejam
eles quais forem, estabelecidos por essas leis. (Prlnciples of Political
Economy, EdigSo Ashley, p6g. 156).
O que s6o essas leis? No que respeita ao trabalho, Mill 6 malthusiano.
Liwe de restrig6es, a populagfio multiplica-se rapidamente, desde que o
rendimento per capita exceda um determinado padr6o mfnimo . 
"A utiliza-g5o que [as pessoas] normalmente escolhem fazer de qualquer alterag6o
vantajosa das suas circunstAncias 6 aproveitri-la de uma forma que, pelo
aumento da populagdo, priva a gerag5o seguinte do beneficio" (pdg. 161).
Mas Mill 6 um malthusiano relutante e, de certa forma, qualificado. E
concebfvel que as pessoas possam elevar o seu padrSo minimo. 
"Cada avangoque fazem na educagdo, civilizagdo e melhoria social tende a aumentar esse
padrSo e n6o hd dfvida de que, gradual e vagarosamente, ele est6 a
aumentar, nos pafses avangados da Europa ocidental" (pdg.161).
Mill notou que o crescimento da populagdo nesses pafses em progresso
entrara em declinio; contudo, n6o confiou totalmente nesses esperangosos
sinais. Temia o poder da forga natural das pessoas para aumentarem o seu
rendimento.
Tamb6m o capital tende a aumentar sob o impulso do seu poder de
compra. No entanto, tal como com os rendimentos do trabalho, a taxa de
Iucro deve exceder um padrSo minimo. Esse nfvel 6 baixo quando o bem-estar
6, abundante e quando 6 forte o 
"desejo efectivo de acumulag6o" das pessoas.E elevado quando o neg6cio 6 arriscado e a propriedade insegura.
Se o trabalho fosse o rinico elemento da produg6o, o rendimento aumen-
taria proporcionalmente com a populagSo. Mas o capital, uma vez que
tamb6m 6 um elemento da produgdo, imp6e um limite, a menos que cresga
h mesma taxa do trabalho; mas o capital n6o pode aumentar rapidamente
durante muito tempo sem que prontamente faga descer a taxa de lucro. E
uma vez que a terra, que por definigio 16 de oferta fixa, constitui o terceiro
elemento, o aumento quer do capital, quer do trabalho deve declinar e,
finalmente, parar, mesmo que cada um deles aumente simultaneamente
com o outro. Ver-se-6o perante rendimentos decrescentes se forem empre-
gues em conjunto com uma quantidade de terra fixa; a recuperagSo do
capital 6, ent6o, dificultada, ir medida que a renda aumenta d custa do lucro.
O consequente declfnio na taxa de acumulagSo do capital, juntamente com
MOSES ABRN,IOWITZ
o aumento do prego dos alimentos, diminui o rendimento real dos trabalha-
dores. A taxa de crescimento da populagdo 6 tamb6m reduzida. Por conse-
guinte, existe uma tend6ncia inerente para a paragem do crescimento:
Sempre foi visto, de uma forma mais ou menos distinta pelos
economistas politicos, que o aumento do bem-estar n6o 6 ilimitado:
que, no limite, iquilo a que chamam estado progressivo est6 subjacen-
te o estado estacion6rio, que todo o progresso no bem-estar ndo 6 mais
que um seu adiamento e que cada passo em frente 6 uma aproximagdo(pde.746).
Todavia, contrariamente aos seus antecessores, Mill n6o acreditava que
o (progresso da sociedade tenha de acabar em pentiria e em mis6ria" $65.
747). O pr6prio Malthus reconheceu que o aumento populacional pode ser
interrompido antes que osrendimentos desgam abaixo do mfnimo requerido
para o sustento da vida. Pode permanecer muito mais elevado se as pessoas
insistirem num padrdo de vida mais elevado. Mill argumenta que seriam
necess6rias restrig6es aos nascimentos, mesmo em paises em crescimento,
para se evitar que a populagdo superasse o aumento do capital.No entanto,
as mesmas restrig6es podem manter uma situagSo confortrivel, mesmo no
estado estaciondrio, favorecendo perspectivas muito favordveis para o
crescimento intelectual e moral (livro w, cap. vl).
Quer o estado estacionririo que paira no horizonte das nag6es seja de
conforto ou de mis6ria, ele paira efectivamente: "[...] estamos sempre no seu
limiar e t...1 se n6o o atingimos h6 muito mais tempo 6 porque ele se nos
escapa> (p6g. 74O.
nh rittima andlise, a forga que p6e em cheque o estado estaciondrio 6 "o
crescimento das artes produtivas" 
- 
isto 6, o progresso tecnol6gico. A
discussSo de Mill diminui a Onfase que Smith colocou na extensdo do
mercado e na divisSo do trabalho. Mill via as economias de escala como
facultando, somente, uma situag6o transit6ria at| que a populagSo !e
tornasse suficientemente densa (para permitir os principais beneficios da
combinagSo do trabalho" (p6gs. 191-192). Depois disso, o progresso torna-se
uma competigSo:
Se, no presente ou em qualquer 6poca, o produto da indristria
proporcionalmente ao trabalho empregue estiver a aumentar ou a
diminuir [...] isso depende dapopulag6o estar aavangarmais depressa
que o progresso, ou o inverso (pd9.191).
A mudanga da Onfase de Mill reflecte os setenta e cinco anos p_assado_s
entre Smith, que somente escreveu nas v6speras da Revolug6o Industrial,
e os meados do s6culo xDq quando poderosas maquinarias 
- 
o comboio, o
barco a vapor e o teldgrafo electromagn6tico 
- 
comegaram_a criar expecta-
tivas acerca das futuias possibilidades do progresso tecnol6gico.
26
O CRESCIMENTO ECON 6MICO
Dos aspectos que caracterizam este movimento econ6mico progres-
sivo das nag6es civilizadas, aquele que mais desperta atengSo pela sua
fntima ligagSo com o fen6meno da produgSo 6 o perp6tuo e, tanto
quanto a imaginagEo humana pode prever, ilimitado crescimento do
poder do homem sobre a Natureza (pdg.696).
AvisSo de Mill sobre o assunto 6 rica e extensa, e foi preciso algum tempo
para que economistas posteriores recuperassem essa vis6o de grande alcan-
ce, se 6 que, na verdade, o conseguiram.
O progresso deve ser entendido t...1 num sentido lato, incluindo n6o
somente as novas invengdes industriais, ou uma maior utilizagSo dasjd conhecidas, mas tamb6m os progressos das instituigdes, da educa-
96o, das opini6es e dos assuntos humanos em geral, desde que estes
tendam, como quase todos os avangos, a proporcionar novas motiva-
gdes e novas facilidadesi produgdo (prig. L92).
Mill, tal como os seus antecessores, dava grande relevo aos arranjos
institucionais e irs polfticas ptiblicas das economias nacionais. Estava
principalmente preocupado com quatro assuntos: a seguranga da proprie-
dade como condigSo de poupanga e investimento; a capacidade das pessoas
para uma efectiva cooperagSo como base para a orientagdo da indtistria em
larga escala; os princfpios correctos dos impostos 
-tornar as taxas o menosarbitrdrias, pesadas e distorcidas possfvel 
-, 
e, finalmente, a verdadeira
extensfio e limites do laissez-faire.
At6 ao fim, Mill sentiu-se desesperado. Manteve a convicaSo comum aos
economistas politicos, desde Hume a Smith, de que os indivfduos deveriam
desfrutar o mais possivel das oportunidades de se langarem em neg6cios e
estabelecerem contratos, liwemente, uns com os outros. Todavia, insistiu
que este princfpio tinha os seus pr6prios limites e estava sujeito a excepg6es.
Tratou do assunto em toda a sua amplitude. Num ensaio acerca do cresci-
mento sobressaem quatro casos de actividades ptiblicas ou de interveng6es
desej6veis:
Aprotecgdo da esp6cie de coisas que pertencem is pessoas em comum,
mas s6o usadas por todos individualmente: o ambiente;
O fornecimento de bens ou a prestagdo de servigos cuja utilidade social
excede a particular: educag6o e pesquisa cientifica;
A regulamentagSo de actividades que s6 podem ser executadas por
"agen ci amento dele gado" 
- 
p or exempl o, por empresa s dej oint stuk
- 
e a regulamentagEo ou o fornecimento priblico de servigos que
s6o monop6lios naturais e priiticos: companhias de gris e dgua,
caminhos de ferro, canais;
Mais geralmente, o fornecimento desse tipo de utilidades, importan-
tes para o interesse pfblico, que as entidades privadas podem
efectuar, mas que n6o efectuam porque, (nas circunstdncias par-
MOSES ABRAMOWTTZ
ticulares de uma dada 6poca ou na95o", o pdblico, ou 6 
"demasiadopobre pararecrutar os recursos necessiirios, ou muito pouco avan-
gado em intelig6ncia para apreciar os fins, ou ndo possui suficiente
prritica de ac96o conjunta para ser capaz de reunir os meios (pdg.
e78).
Ningu6m pode ler ou reler Mill sem sentir como ele e os outros economis-
tas cl6ssicos foram longe na antecipagSo do trabalho contempordneo, o
quanto podemos aprender com eles e, tamb6m, o quanto os esquecemos
durante o hiato de um s6culo, em que os estudos sobre o crescimento foram
negligenciados.
2.O crescimento e a economia dtrante o hiato
Uma das mais fortes impress6es que se obt6m de Mill 6 a sua ambiva-
lGncia quanto ao equilibrio das forgas do crescimento. Ele sente que o
crescimento da populagSo comegou por ser limitado, mas receia o poder da
capacidade humana para se multiplicar. Apercebe-se das possibilidades do
g6nero humano vencer as forgas da Natureza e do avango cumulativo do
processo industrial, mas n6o tem a certeza do ritmo e da continuidade. Em
resultado disso, deu-nos uma visSo de uma corrida entre a populagSo e o
crescimento, cujo vencedor era duvidoso.
Esta atitude de ambivalOncia desapareceu gradualmente durante a
passagem do riltimo s6culo. Na Grd-Bretanha e nos EUA, e numa cadavez
mais vasta 6rea da Europa, os rendimentos aumentaram de d6cada para
d6cada. A energia e a maquinaria aplicadas i indfstria aumentaram a
produtividade da agricultura e da indfstria. Aplicadas aos transportes,
abriram caminho a novas terras e trouxeram alimentos e mat6rias-primas
mais baratos para pafses mais populosos. A resposta da populagSo torna-se
mais fraca enquanto o avango tecnol6gico prossegue a passo rdpido. Ate a
sombria ciOncia aprende a sorrir; absorveu a mais ampla f6 num progresso
ilimitado.
Todavia, o papel do crescimento n6o se expandiu nos estudos e nos
escritos dos economistas. Antes pelo contrdrio! Talvez por o crescimento
econ6mico ter sido absorvido por uma mais generalizada visSo do progresso
humano, deixando de ser visto como um problema. Ou talvez tenha sido
afastado por outras preocupag6es maiores. Rendimentos mais elevados,
maior difusdo da educagSo e alargamento do sufr6gio 
-todos concomitantescom o pr6prio crescimento econ6mico 
- 
tornaram os trabalhadores numa
forga polftica. Correspondentemente, as exigOncias do trabalho e, mais
genericamente, a questio da distribuigSo do rendimento, tornaram-se
quest6es mais urgentes. Ou talvez os economistas tenham sido seduzidos
pela coer0ncia l6gica da teoria neocliissica dos pregos relativos e da atribui-
96o de recursos, eue parecia uma construg6o s6lida nas suas fundagdes
estriticas. A teoria considerava as instituig6es das nag6es, a sua populagSo
28
O C RESC I M ENTO EC ON 6 MI CO
e a sua tecnologia e os elementos centrais do avango do crescimento como
dados aut6nomos. Eram encarados como constrangimentos e condig6es a
que se ajustavam os pregos e a atribuigdo dos recursos. Mas as causas das
suas mudangas n6o eram quest6es para serem investigadas pelos economis-
tas e as implicagdes eram, sobretudo, negligenciadas. A teoria neocl6ssica,
por conseguinte, impOs fronteiras i economia; pelo menos, i ciOncia que os
economistas ambicionavam construir. Atd a questdo da escala, a divisSo do
trabalho e o aumento dos resultados 
- 
a intuigSo bdsica de Adam Smith 
-comegou a ser vista como simplesmente um problema da teoria do equilibrio
dos pregos relativos. E Allyn Young teve de escrever um famoso ensaio ( 1928)
para lembrar aos economistas que era algo mais, parte de um processo
interactivo e acumulativo que implicava a acumulagSo de capital, o cresci-
mento da produtividade, o aumento dos rendimentos e a extensdo dos
mercados, que era tanto um elemento do crescimento econ6mico como um
problema da teoria estritica. Finalmente, qualquer impulso que tenha
existido para desfazer as barreiras da teoria est6tica foi absorvido pelas
perturbag6es que submergiram o mundo industrial depois de 1914. Duas
grandes guemas, a hiperinflagSo do p6s-guerra e a Grande Depressdo
facultaram um quarto de s6culo de distracgdes aos economistas que tinham
em mente estudar algo diferente das condig6es do equilfbrio geral.
No meio de tudo isto, Joseph Schumpeter foi uma honrosa e notdvel
excepgSo. O seu primeiro cldssico, The Theory of Economic Deuelopment
(1911), afirmava que, na aus6ncia de crescimento populacional e de avango
tecnol6gico, ndo persistiriam nem uma taxa de juro positiva, nem o lucro
lfquido. Na verdade, o lucro constitui a recompensa pela sucessiva introdu-
96o de novos m6todos e produtos. Se a actividade econ6mica seguisse um
intermindvel ciclo fechado, n6o existiria fungdo para os empresdrios, nem
ocasiSo para o lucro. E o rendimento desapareceria i medida que a acumu-
lagSo continuada, incorporando uma tecnologia estagnada, conduziria o
produto marginal do capital para zerol.
Os argumentos de Schumpeter tinham a intengSo, antes de mais, de
alargar as fundagdes da teoria neocl6ssica do factor prego. Como contribui-
96o positiva para a economia do crescimento, repetiram e reforgaram os
antigos pontos de vista acerca da tendOncia do lucro bruto (uro mais Iucro
lfquido) para um mfnimo e depend6ncia da acumulagSo do capital lfquido e
do retorno do capital da taxa de crescimento.
Schumpeter foi mais longe. Distinguiu entre 
"inveng6oD, ou avango do
conhecimento ftil a produgSo, e oinovagSo,, que era a exploragdo desse
conhecimento, a verdadeira introdugSo de novos produtos ou de novos
m6todos nas operagdes comerciais. Os antigos economistas trataram ambos
como desenvolvimentos aut6nomos, mas Schumpeter afirmava que a inova-
96o era uma actividade econ6mica, fungEo peculiar dos empresilrios. A sua
visSo implicava que a competigSo do mercado inclufsse rivalidade na
introdugdo de novos produtos e processos. Por conseguinte, os pregos
relativos flufam, constantemente perturbados pela mesma competigSo de
mercado que, na referida teoria, era tida como estabelecendo oseu equilf-
MOSES ABRN,TOWITZ
brio. Schumpeter pensava que a inovagSo era o elemento central da econo-
mia do crescimento. Assim, reforgava as exig6ncias para uma inovagdo bem
sucedida: mercados abertos que permitissem o aparecimento de 
"novos
homens" e <novas empresa$D, acesso ao cr6dito e condig6es macroecon6micas
suficientemente estdveis para que os homens de neg6cios pudessem avaliar
os seus mercados e os seus pregos e custos sem um excessivo sentido de risco.
Schumpetervia nos ciclos de negdcios, particularmente asgrandesvagas de
crescimento acelerado e retardado, e consequentes distors6es financeiras,
como parte do processo inovador. Esteve entre os primeiros a sugerir que as
incertezas que acompanham a inflag6o e outras perturbag6es financeiras
poderiam colocar um pesado obstriculo ir inovagdo e ao crescimento da
produtividade 
-uma 
lig6o para o cen6rio e 6poca contemporineos. Schum-
peter foi largamente admirado pelo seu brilhantismo e longamente despre-
zado pela sua originalidade. As suas teorias inovadoras ndo se acomodavam
facilmente no interior do modelo neocl6ssico dominante.
Finalmente, quando o interesse pelo crescimento econ6mico ressurgiu,
depois da II Guerra Mundial, os economistas voltaram a estudar Schumpe-
ter. Foram atraidos especialmente pelas teses do seu riltimo trabalho,
Capitalism, Socialism, and Democracy 0942). Nele dilatou as suas primei-
ras ideias acerca do papel dos lucros. Argumentava, agora, que a inovagSo
surge na mira de lucros elevados e competitivos; muitas vezes, tamb6m
confere poder monopolista e os seus concomitantes lucros monopolistas. Via
estes factores como necess6rios e, por conseguinte, como titeis estfmulos e
recompensas 
- 
um prego aceitdvel para os beneficios da inovagSo e do
crescimento. Al6m disso, esses pr6mios eram transit6rios, sendo dilufdos e,
finalmente, eliminados pelas invas6es imitativas e posteriores inovag6es
dos empresdrios rivais. Por conseguinte, um certo grau de poder monopo-
lista foi uma caracterfstica regular do progresso econ6mico 
- 
constante-
mente limitado, mas tamb6m constantemente renovado pela actividade
inovadora dos empres6rios. Schumpeter tamb6m abandonou a rigorosa
distingSo que os seus primeiros escritos tinham estabelecido entre a inven-
96o, o resultado de actividades fora do sistema econ6mico e a inovagdo, esta
encarada como um investimento corajoso e arriscado. Reconhecendo que
companhias grandes e estiiveis tinham substitufdo os empres:irios indivi-
duais, sugeriu que tanto a pesquisa de novas tecnologias, como a sua
exploragSo comercial se tinham transformado em aspectos rotineiros da
actividade dos neg6cios. Os actuais modelos econ6micos do progresso tecno-
l6gico incluem versdes das mesmas ideias; mas o reviver da economia
schumpeteriana permaneceu para o futuro. Enquanto a sua atengSo estava
dirigida para outros temas, o ponto de vista dos economistas acerca do
crescimento econ6mico mantinha-se imut6vel. Guiados pela teoria neockis-
sica, encaravam os avangos tecnol6gicos como independentes dos incentivos
econ6micos e viam somente a acumulagdo do capital como uma fonte de
crescimento da produtividade, sensivel a causas econ6micas.
30
O CRNCIMENTO ECONhMICO
3. O reaparecimento, no pds-guerra, do interesse pelo crescimento
e a reacgSo dos economistas
Esta era a situagSo quando a II Guerra Mundial atingra o seu fim. No
entanto, o interesse mudou rapidamente. O crescimento tornou-se um
objectivo fundamental das polfticas nacionais e, consequentemente, uma
absorvente mat6ria de estudo por parte dos economistas. Existiam conside-
rag6es de seguranga nacional e rivalidade, das conquistas da pobreza e de
ayangos para o bem-estar e press6es para que o crescimento atingisse outros
objectivos sociais urgentes.
As pessoas, incluindo os polfticos, tinham consciGncia de que os resulta-
dos da guerra tinham sido determinados pelo PNB (produto nacional bruto).
Mais do que nunca, asnagdesviam a sua seguranga epodercomo repousando
numa base econ6mica. Para garantirem a sua independ6ncia e seguranga,
concluiram que deveriam crescer; se estavam ir frente, mantinham-se i
frente; se estavam atrds, recuperavam.
Os europeus tomaram consciOncia de que tinham perdido terreno em
relagSo aos EUAquanto ao nfvel de vida, n6o s6 durante aguerra, mas desde
1913 e mesmo antes. Sentiram, correctamente, que os seus nfveis de ci0ncia
. dg educagSo, a sua experiOncia com o comdrcio, a indristria e finangas
modernos e suas instituigdes polfticas teriam de ser capazes de suportarum
estado relativo muito mais elevado.
Analogamente, os novos pafses independentes, antigas col6nias, viram o
crescimento econ6mico ndo s6 como umaforma de ultrapassarem a pobreza,
mas como condig6o indispens6vel para a consolidagdo dos seus novos
regimes polfticos.
Noutro nfvel, a rivalidade entre a URSS e os EUA tornou estes pafses
an siosos por provarem que os respectivos sistemas eram capaz es de produzir
condig6es materiais cada vez mais elevadas e que, por conseguinte, eram
merecedores de aceitagSo, amizade ou at6 de alianga.
Tamb6m as forgas polfticas internas pressionavam no sentido do cresci-
mento. O alargamento do sufrrigio democrritico nos pafses industrializados,
um sentimento mais forte de igualdade e uma apreciag6o mais elevada das
pessoas quanto aos riscos e aos custos do avangado nivel de vida capitalista,
levou os pafses a desenvolverem sistemas de protecgso e beneficio s: o welfare
state (estado provid6ncia). Foi rapidamente compreendido que seria mais
fiicil pagar esses sistemas com rendimentos crescentes, do que atrav6s de
taxas de redistribuigdo. As tensOes polfticas e os conflitos sociais inerentesi redistribuigSo seriam mitigados pelo crescimento. Os economistas reagi-
ram ao desafio dos novos problemas priblicos e interesses politicos abrindo
trOs grandes ramos de pesquisa. Um deles era o estudo do desenvolvimento
secular nos pafses quejri se encontravam bastante avangados no caminho da
industrializagdo e capazes de operar pr6ximo ou nas fronteiras da moderna
tecnologia. Outro era o estudo do crescimento nos pafses pobres, ainda
_emergentes de uma condigdo pr6-industrial, pafses em que as instituig6esbdsicas e as capacidades para a exploragSo da tecnologia contemporAnea
31
MOSES ABRAT,IOWITZ
perrnaneciam por estabelecer. O terceiro respeitava aos pafses comunistas,
onde tinha sido estabelecido um novo conjunto de instituig6es baseado na
propriedade estatal dos recursos e num sistema de planificagdo e controlo
central. Este ensaio tem a ver com o primeiro destes ramos de pesquisa: o
crescimento nos actuais pafses industrializados, cujas economias depen-
dem, principalmente, da iniciativa privada e da direcaSo do mercado.
Os estudos do crescimento recairam em duas divis6es. A primeira era
sobretudo hist6rica e descritiva. A sua intengSo e, na verdade, a sua s6lida
realizagdo, consistia em estabelecer as caracterfsticas observdveis do cres-
cimento nabase de uma ampla sobrevivOncia de experiOncias durante longos
per(odos e atrav6s de um consider6vel nfmero de pafses. O trabalho de
Simon Kuznets 6 o melhor exemplo de tais estudos, embora, em alguns
aspectos, Colin Clark tenha sido seu percursor.
A maior realizagdo de Kuznets foi a fundagdo do moderno produto
nacional e da contabilizag6o do rendimento nacional. Trabalhou nas suas
bases conceptuais, realizou as primeiras estimativas para os EUA e projec-
tou as sdries do produto nacional dos EUA desde 1870. Encorajou a
compilagSo de dados estatisticos a longo prazo para completar os valores do
produto nacional e elaborou, ele mesmo, alguns deles: populagSo e outras
estatisticas vitais, forga de trabalho, saride e muitos outros. Estimulou e
auxiliou esforgos semelhantes noutros pafses. As generalizagdes empfricas
que ele e os seus colaboradores realizaram compreendem muitos dos prin-
cipais factos para cuja explicagdoestri a ser orientado muito trabalho. Uma
lista dessas generalizagdes, incompleta mas ilustrativa, inclui o seguinte:
O aumento dataxa de crescimento agregada epercapifo, associado ao
impeto do 
"crescimento econ6mico moderno".
As transig6es demogrrificas, desde o crescimento ao declfnio das taxas
de crescimento populacional, no decurso da industrializagdo.
Agradual difusdo do crescimento moderno, desde a Gr6-Bretanha atd
aos EUA, Europa, pafses de tradigSo europeia e Japdo.
A aceleragao secular do aumento da produtividade; em especial, a
pronunciada aceleragdo ap6s a II Guerra Mundial e a travagem dos
riltimos quinze anos.
A tendOncia qualificada para a convergOncia das taxas de aumento da
produtividade e nfveis dos pafses industrializados.
As muitas mudangas estruturais associadas ao crescimento, nomea-
damente as mudangas da produgSo e do emprego da agricultura
para a manufactura e, depois, para os servigos e para a administra-
g5o, e da locagdo rural para a urbana.
O aumento do papel do governo como agente econ6mico na produgSo,
no investimento e na distribuigSo dos rendimentos, e como regula-
dor da actividade privada.
A tend6ncia para o atraso no crescimento da produtividade e da
produgSo de determinadas mercadorias e indristrias, combinada
com uma taxa constante, ou me smo crescente, da pro dugdo per cap it a
32
O CRESCIM ENTO ECON 6MICO
e da produtividade de todas as indristrias em conjunto; associada
a esta, a mudanga da importAncia das indfstrias, das antigas is
mais jovens.
Estas e outras generalizag6es empfricas constituem a necess6ria estru-
tura de trabalho dentro da qual devem prosseguir os esforgos no sentido da
compreensdo das alterag6es historicas e das diferengas nacionais nas taxas
de crescimento. Uma vez que as teorias do crescimento econ6mico devem ter
implicagOes consistentes com estas observagdes, s5o o suporte indispensdvel
para o trabalho analftico. Este trabalho analftico constitui a segunda divisSo
do assunto e 6 o objecto do resto deste artigo.
4. As fontes imediatas do crescimento
Os esforgos descritivos de Colin Clark, Simon Kuznets e outros pioneiros
na avaliagdo do rendimento e do produto nacional e dos dados associados
sobre aforgade trabalhoestock de capital nSoforamvdsincursdes no cosmos
estatfstico. Foram guiados pela concepgdo de uma fungSo de produgSo, o que
significa, pela ideia de que a produgSo 6 fungSo das utilizag6es de trabalho,
capital acumulado, terra e da produtividade destes factores. Esta ideia fez
parte da visSo dos economistas cldssieos e, como vimos, foi o tema organi-
zador dos Principios, de Mill. A mesma nogSo fundamental foi assumida
pelos economistas neocldssicos e tornou-se uma caracterfstica central dos
seus modelos estdticos de pregos e distribuigSo do rendimento. Foi, por
conseguinte, t6o natural para os economistas, quando estes retomaram o
estudo do crescimento, como tinha sido para o pr6prio Mill pensar que <o
aumento da produgeo... 6 resultado do aurnento dos prdprios [factoresJ, ou
da sua produtividade". Mas quanto teria sido devido ao aumento de cada um
dos factores e quanto devido d sua produtividade? Esta foi, obviamente, uma
questSo primordial. A 
"contabilizag6,o do crescimento" foi uma tentativa de
resposta.
A descoberta do residual
Os c6lculos que decompuseram o crescimento da produgSo em contribui-
g6es do factor trabalho e produtividade do trabalho foram feitos para muitos
anos2. Deixaram em aberto a questSo de saber quanto do aumento da
produtividade do trabalho era atribuivel ao aumento do capital por traba-
lhador. Uma s6rie de estudos publicados em apenas alguns anos forneceram
uma resposta surpreendente e revelaram um grande falha na compreensSo
dos economistas. Os estudos que primeiro chamaram a atengSo e desperta-
ram os economistas foram os trabalhos contemporAneos (1956), d. John
Kendrick (1956, 1961), e de Robert Solow (1957)3.
Os crilculos prosseguiram no pressuposto de que os saldrios e o retorno do
capital tamb6m representavam o produto adicional de aumentos destes
Economia & C:cstio l8 
- 
3
MOSES ABRAMOWITZ
factores produtivos. Este pressuposto permitiu deduzir que a taxa de
crescimento do resultado poderia ser decomposta numaporg6o influenciada
pelo 
"total de factores de produg6o", que era a contribuigdo conjunta detrabalho e do capital (incluindo a terra), e numa porgdo influenciada pelo
"total do factor produtividade". O primeiro era a soma das taxas de cresci-
mento dos factores de produg6o, cada um afectado pela distribuigSo dos seus
ganhos no rendimento nacional. O segundo era a diferenga entre a taxa de
crescimento da produgSo e o total dos factores de produgSo. No entanto, como
hei muito era conhecido que o crescimento da produgdoper capita era, quase
inteiramente, devido i produtividade do trabalho, e n6o ir utilizag5o de
trabalho per capita, foi a decomposigSo do crescimento da produtividade do
trabalho que se tornou no aspecto mais interessante. Mas o mesmo pressu-
posto, ganhos igual a produtividade marginal, levou i conclusSo de que a
taxa de crescimento da produtividade do trabalho poderia ser dividida numa
porgSo influenciada pela taxa de crescimento da razdo capital-trabalho
afectada pela distribuigSo do rendimento do capital e numa porgSo afectada
pelo factor de produtividade total.
Embora os primeiros investigadores utilizassem dados algo diferentes e
estudassem periodos algo diferentes, atingiram conclus6es qualitativamen-
te id6nticas. Somente uma pequena fracgdo do crescimento per capito nos
EUA, durante muitas d6cadas, poderia ser atribufdo ao crescimento total
dos factores per capita. Somente uma pequena fracgso do crescimento da
produtividade no trabalho poderia ser atribufda ao crescimento do capital
por trabalhador, ou hora-homem. Uma enorrne fracgdo (aproximadamente
907o) era devida ao avango do factor de produtividade total, isto 6, a algo cujo
conterido, atd af, ndo estava identificado e medido.
Talvez devido a Solow, cujo ensaio (de 1957) melhor revelava a subjacente
teoria dos crilculos, chamava ao factor desconhecido 
"alteragSo t6cnica" e
mostrava que, no seu esquema te6rico, correspondia a alterag6es numa
fungSo agregada da produgSo, muitos economistas comegaram por falar do
elemento desconhecido como (progresso tecnol6gico". Al6m disso, tinham
tend0ncia para ver o progresso assim representado como tendo a sua fonte
no avango do conhecimento. No entanto, nenhum dos primeiros contabi-
listas do crescimento viu o assunto a esta luz e todos explicaram, cuidado-
samente, eu€ os grandes componentes nio medidos deviam incluir as
contribuigdes de muitos elementos para al6m do novo conhecimento. Entre
estes, os mais importantes foram os seguintes:
1) Crescimento do 
"capital humano" pelo investimento de recursos na
escolaridade obrigat6ria mais prolongada, no aperfeigoamento
profissional, na nutrigSo e nos cuidados de saride, na pesquisa e no
desenvolvimento. AacumulagSo do capital humano deveria tender
para aumentar a eficiicia das horas de trabalho, tal como o capital
tangfvel, e outros componentes, como a composigSo por idade e sexo
da forga de trabalho e a intensidade deste, tamb6m afectariam a
produtividade do trabalho;
34
O CRESCIMENTO ECON 6MICO
2) Economias de escala. Uma vez que a divisSo do trabalho est6
limitada pela dimensdo do mercado, tornam-se possfveis ganhos de
produtividade quando aumenta a produg do agregada, mesmo que
o pr6prio stock de conhecimento se mantenha inalterado. A produ-
tividade, por conseguinte, deve subir com o aumento da produgao,
por vdrias raz6es, n6o somente pelo prdprio progresso tecnol6grco,
mas tamb6m pelo crescimento da forga de trabalho, ou pela acumu-
lagSo do capital, ou pela descoberta de novos recursos.
3) Melhor afectagdo dos recursos 
- 
isto 6, a transfer6ncia dos traba-
lhadores ou do capital de qualidade normal das actividadesem que
os ganhos e, presumivelmente, a produtividade s6o relativamente
baixos, para outras em que sejam mais elevados.
Erros e desvios nos dados tamb6m podem fazer parte do factor de
crescimento total da produtividade, tal como este 6 actualmente medido,
porque o seu valor no cOmputo ndo 6 mais do que a diferenga entre a medida
da taxa de crescimento da produgdo e a da taxa dos factores de produgdo. Em
consequOncia deste conterido desmesurado e heterog6neo, o presente autor
caracterizou essa diferenga como (uma esp6cie de medida da nossa igno-
rincia sobre as causas do crescimento econ6mico" (1956, pdg. 11). No final,
tudo isto vem a ser bem compreendido e o misterioso elemento do factor
de crescimento da produtividade total era designado, simplesmente, por
Residual.
O desenvolvimento da contabilidade do crescimento
Aimportdncia dominante do residual inescrutdvel era um desafio irresis-
tfvel e os economistas encarregaram-se de a reduzir, descobrindo formas de
medir o seu conterido. O trabalho de Edward Denison 6 representativo do
crilculo do desenvolvimento nos EUA; mas outros, especialmente John
Kendrick e Dale Jorgenson deram importantes contribuig6es. E existiram
muitos estudos semelhantes, destes e de outros especialistas, que fornece-
ram a contabilidade para paises europeus, Jap6o, Canadri e outrosa.
O quadro 1.1, retirado da riltima publicagSo de Denison (1985), ilustra os
resultados. As colunas referem-se irs fontes de crescimento da produtividade
do trabalho, medidas pelo rendimento nacional por pessoa empregada,
durante os trinta e um anos entre 1948 e 1979. Quando Denison confina o
seu conceito de factores de produgSo para trabalho medidos em unidades
naturais (horas de trabalho) e para capital e terra medidas pelos seus
perfodos-base de custo, parece que o factor de produg6o por trabalhador
praticamente n6o aumentou. A contribuigSo de capital adicional por traba-
Ihador foi essencialmente anulada pelo declfnio em horas por trabalhador.
O crescimento do factor de produtividade total 
- 
chamo-lhe aqui o residual
primitivo 
- 
contabiliza, por conseguinte, o crescimento total da produtivi-
dade do trabalho. Este resultado corresponde ao de estudos anteriores.
35
MOSES ABRAMOWITZ
QUADRO 1.1.
tr'ontee de crescimento na produtividade do trabalho,
estimativa de Denison, 1948-1979
Pontos Perrcentagem
Pencentagem porano
por ano crescimento total
1. Rendimento nacional por pessoa empregada
2. Horas porpessoa
3. Stock de capital por pessoa"
4. Factor de pmdugdo total (linhas 2 + 3)
5. Factor de produtividade total(- residual primitivo) (linhas 1-4)
6. Qualidade do trabalho
o) Desvio da eficiOncia
b) Idade-sexo
c) Educagio
d) Outms
?. Factor de prcdugdo total ajustado (lin.4+6)
8. Factor de produtividade total (lin. 1-7)
Distribuig6o de recursos
Escala
Intensidade daprocura
Outros
Conhecimento e n.c. (residual final)'
1,81
- 0,41
0,43
0,o2
L,79
0,530
0,05
- 0,16
0,41
0,22
0,55
L,26
0,?/L
0,31
0,13
0,08
-o,92
1.00
-23
24
1
99
29
3
-9
23
L2
30
70
13
L7
-7
-4
51
" Inclui terra.
DO total n6o igualiza a soma dos componentes devido a arredondamento.
'n.c. = n6o classificado.
Fonte: Denison (1985), qr-radro 8.3. Os valores sflo m6dias aritm6ticas ponderadas de taxas
de crescimento para 1948-1973 e 1973-1979.
No entanto, Denison neo ficou por aqui. Encontrou formas de medir as
contribuig6es destas mudangas na qualidade do trabalho que neo podem,
pelo menos i primeira vista, ser atribuidas ao progresso tecnol6gico, mas
representam maior esforgo, mudanga na composigSo demogrdfrca da forga do
trabalho ou escolaridade prolongada. O seu 
"desvio da eficiOncia" (para a
redugSo de horas) 6 uma ponderagdo, de certa forma admitidamente arbitr6-
ria, para a maior intensidade, cuidado e precisSo do trabalho que, provavel-
mente, acompanharam o declfnio em horas. As suas ponderag6es para os
efeitos de mudangas na composigdo demogrtifica e educacional da forga de
trabalho s6o baseadas na evidOncia de sistemriticas e persistentes diferen-
gas nos rendimentos de trabalhadores classificados por idade, sexo e duragSo
36
O C RESC I M ENTO FC ON 6 MI CO
de escolaridade. A contribuigSo da escolaridade prolongada 6 um valor
Particularmente impressionantes. Mostra que a subida do nfvel de educagdodo trabalhador m6dio acrescenta tanto ao crescimento da produgSo por
trabalhador, como o fazem a acumulagSo de maquinaria, as estruturas e
outras formas de capital comum.
Se acompanharmos Denison, a ponderagSo para o crescimento na quali-
dade do trabalho introduz uma apreci6vel diferenga. Agora, tr6s d6cimos do
aumento na produgdo por pessoa empregada podem ser atribufdos a um
aumento do factor de entrada, seja por maior capital convencional por
trabalhador, seja por maior capital humano (educag6o), ou maior intensi-
dade do trabalho. Mas sete d6cimos do aumento de produgdo por trabalhador
mantOm-se inexplicados no factor de produtividade 
"ajustado".Denison prosseguiu. Ensaiou medigdes dos efeitos das mudangas na
"intensidade da procura>, no grau de utilizagdo de trabalho e capital, na
"melhor atribuigSo" de recursos, conforme o trabalho e o capital passavamda agricultura e dos pequenos neg6cios para ocupag6es mais produtivas na
indtistria e no comdrcio e em economias em alargamento de escala, conforme
aumentava o rendimento nacional e a dimensSo dos mercados metropolita-
nos fechados. A ponderag6o para economias de escala 6, mais uma vez, uma
figura de certo modo arbitr6ria, mas as outras duas fontes s6o calculadas a
partir de dados relevantes. Por riltimo, o residual final, embora substancial-
mente reduzido, 6, todavia, de longe, a fonte mais importante (\LVo) de
crescimento da produtividade do trabalho no perfodo p6s-guerra6. Como
Denison julgava ter medido uma grande parte do conterido do factor de
crescimento de produtividade total, o qual n6o 6 consequ0ncia da aplicagdo
de novos conhecimentos, e porque o seu residual final provou ser aproxima-
damente constante durante o perfodo de crescimento geralmente est6vel
entre 1948 e L973, Denison encarava-o como uma medigSo de crescimento
devido ao (avango dos conhecimentos, incorporado na produgdo?.
A finalidade da contabilizagdo do crescimento consiste em medir a
importdncia das fontes imediatas de crescimento. Se essas fontes tivessem
sido totalmente identificadas e rigorosamente medidas, poderfamos conti-
nuar a querer compreender por que razSo a escolaridade foi tdo aumentada
e por que razSo um ano de escolaridade a mais provocou uma tal diferenga;
poderiamos querer saber por que razd,o o capital por trabalhador cresceu t6o
depressa ou t6o lentamente, como sucedeu e ainda por que razdoo incremen-
to da produtividade do capital foi tdo elevado. A pr6pria contabilizagdo, no
entanto, conduzir-nos-ia muito longe. Dir-nos-ia que as alterag6es observa-
das no desenvolvimento da produtividade num pafs foram devidas a deter-
minadas fontes imediatas e n6o a outras. Dir-nos-ia que as causas das
diferengas entre ataxa de crescimento de um pafs para outro deviam ter sido
vistas em certas direc96es e n6o noutras.
Assim encarada, a contabilizagSo do crescimento constitui uma contri-
buigSo potencialmente importante. Mant6m-se objecto de s6rias limitag6es
para as quais, agora, me oriento; mas as pr6prias limitag6es, tal como as
viemos a compreender, apontam o caminho para um melhor entendimento.
MOSES ABRNilOWTTZ
Limitag6es da contabilizagEo do crescimento
Tal como qualquer conjunto de medidas, a contabilizagdo do crescimento
estri sujeita a erros. A precis6o de alguns dos dados subjacentes estd em
causa. Tamb6m existem problemas acerca das pr6prias definig6es e concei-
tos. O mais importante 6 saber se o produto agregado deve sermedido lfquido
ou bruto do capital produzido para o capital equivalente depreciado ou
retirado.Aresposta representa uma pequena diferenga para a taxa medida
do stoc& de capital. Representa uma diferenga muito grande para o peso
atribufdo ao crescimento da entrada de capital. A base lfquida 6 mais
adequada em andlises de crescimento de produgSo, comofonte de bem-estar
econ6mico. No entanto, trabalho e capital devem ser utilizados para produ-
zir capital de substituigdo, pelo que a base bruta 6 mais apropriada para
medig6es de produtividade. Existem outras questdes. Deverd a depreciagdo
incluir a obsolesc6ncia? Podem os proveitos diferenciais ser incondicional-
mente tratados como boas medig6es da efectividade ou 
"qualidade" das
diferentes classes de trabalho ou capital? Como poderia o rendimento obtido
pelos proprietririos de firmas n6o colectivas ser dividido entre trabalho e
capital em quotas determinantes? Existem problemas de princfpio, bem
como precisdo de dados, contemplados nestas e noutras quest6es semelhan-
tes. Uma comparagSo entre as contabilizagdes compiladas por Denison e
DaleJorgenson aparece no quadrc 1.2. Este mostra at6 que ponto os valores
s6o vulnerriveis irs diferengas de conceito e formas de estimativa. Os valores
deste quadro s6o decomposig6es do crescimento da produgSo total, n6o da
produgSo por trabalhador. Utilizo-os para uma mais f6cil comparagSo entre
Denison e Jorgenson, dado que o tiltimo n6o fornece uma decomposigSo da
produtividade do trabalho. Um c6mputo do crescimento da produgdo total,
em lugar da produgdo por trabalhador, ndo altera, por si s6, a taxa de
crescimento do factor de produtividade total, mas adiciona o efeito do
crescimento da forga de trabalho empregpe, tanto ao crescimento da entrada
como ao da produgdo. Assim, o factor de produtividade total fornece uma
contribuigSo proporcionalmente mais pequena ao crescimento da produgSo
total. Umacomparagdo dosvalores de Denison entre o quadro 1.1e o quadro
1.2 mostra como isto corta ao meio o factor de produtividade total ajustado
- 
de 70Vo, para 36Vo do crescimento da produgdo.
No entanto, a estimativa de Jorgenson do factor de crescimento de
produtividade ajustado 6 um tergo menor que a de Denison. A maior parte
da diferenga acontece porque Denison mede a produgSo por rendimento
nacional lfquido, enquanto Jorgenson o faz por valor bruto acrescentado.
Para Denison, por conseguinte, o peso partilhado acrescentado ao cresci-
mento do capital 6 determinado pelos rendimentos lfquidos do capital; para
Jorgenson, s5o os rendimentos brutos da ponderagSo para o consumo do
capital. Principalmente por este motivo, o peso que Jorgenson acrescenta i,
acumulagdo do capital 6 duas vezes o de Denison;e o peso que acrescenta ir
entrada de trabalho 6 correspondentemente mais pequeno. Uma vez que o
capital 6 a entrada com crescimento mais rripido, o factor de entrada total
38
O CRNCIMENTO ECONoMICO
QUADRO 1.2.
tr'ontee de crescimento na produgio total nacional, lg48-19?g:
comparagEo das estirnstivas de Edward Denison e llale rrorgeneon:
Pontos de pencentagem
por ano
Perrcentagem da taxa
de crescimento total
Denison Jorgenson Denison Jorgenson
1. Produg6d
2. Total de horas de trabalho
3. Qualidade do trabalho
4. Stock de capitalD
5. Qualidade do capital
6. Total de entrada de trabalho (linhas 2 + 3)
7. Total de entrada de capital (linhas 4 + 5)
8. Factor de produgdo total (linhas 6 + ?Y
9. Factor de prcdutividade total (linhas 1-8I
3,49
0,93
0,53
o,r!
L,46
0,77
2,23
L,26
3,42
0,68
0,37
1,15
0,40
1,05
1,56
31
46
2,61
0,81
100
20
11
34
12
76
24
100
27
15
,?
42
22
64
36
'A pmdrrgEo de Denison 6 o rendimento lfquido nacional; a de Jorgenson 6 o valor bruto
acrescentado.
Dlnclui terra-
"Devido ao arredondamento a soma das linhas n6o iguala necessariamente os totais.
Fontes:Denison (1985) quadro 8.1. Os valores s6o m6dias aritm6ticas ponderadas das taxas
de cnescimento para 1948-1973 e 1973-19?9. Jorgenson, Gollop e Fraumeni (1g8?), quadrc g.E.
de Jorgenlon traz uma contribuigSo maior ao crescimento da produgdo doque o de Denison e deixa menos para ser atribufdo ao factor tolal deprodutividade. A entrada de capital de Jorgenson fornece uma maior
contribuigSo do que a de Denison, por outro motivo. Correspondendo ao
crescimento da qualidade do trabalho, Jorgenson estima o crescimento da(qualidade" do capital. Com efeito, isto conititui a diferenga entre o cresci-
mento do stock de capital, quando os seus aumentos anuais iao medidos pelo
periodo-base de custo estimado de diferentes classes de fundos e o seu
crescimento quando as diferentes classes de fundos se combinam com os seus
<pregos de rendimento> anuais, isto 6, com aquilo que devem render para que
o investimento seja comp_ensador. Na base de produgdo bruta de Joigenson,
os pregos de rendimento devem incluir depreciageo, a qual 6 necessaria-er-
te mais elevada para fundos de vida curta, do que parafundos de longa vida.
E, co_m_o o equiPamento de vida curta cresceu mais depressa que as estrutu-
ras de longavida no perfodo p6s-guerra, s 
"qualidade" do capital sobe e, nosvalores de Jorgenson, sobe a contribuigSo do seu crescimento de entrada
total de capital em L,56Vo ao ano, o que 6 36Vo superior h contribuigdo do
39
MOSES ABRAMOWITZ
pr6prio stock de capital e duas vezes maior que a contribuigdo do capital, de
acordo com Denisons.
O resultado 6 que, enquanto as primeiras contabilizag6es do crescimento
concentravam a atengSo no factor de produtividade total e apresentavam a
acumulagSo de capital como uma fonte muito menos importante de cresci-
mento da produgSo, o quadro 6 muito diferente de acordo com Jorgenson.
O seu cOmputo coloca a entrada de capital na primeira posigSo, ainda mais
importante que a entrada de trabalho e quase duas vezes mais importante
como factor de produtividade total ajustada. Embora Jorgensen ndo estime
o <avango do conhecimento", isto 6, o residual final de Denison, que continua-
ria a ser, necessariamente, pouco importante sob o seu ponto de vista.
Diferengas de conceito e de m6todo, tais como as que separam Jorgenson
de Denison, ndo s6o, contudo, os mais s6rios problemas da contabilizagSo do
crescimento. As bases conceptuais das duas contabilidades estSo clara-
mente identificadas. Uma pessoa pode utilizar os valores que sirvam o
objectivo 
- 
por exemplo, a base de rendimento lfquido nacional em estudos
do crescimento do bem-estar econ6mico e a base do produto bruto para
analisar o avango da produtividade. Outros problemas, aos quais irei
dedicar-me, sdo menos facilmente resolvidos ou iludidos.
Estimativas arbitrririas ou duvidosas
Se a contabilidade do crescimento ndo fizesse mais do que gerar o enorme
e indefinido residual dos quadros primitivos, teria pouco valor. O residual
dos cOmputos posteriores 6 muito mais pequeno e o esforgo em decompor o
"factor de produtividade total" ensinou-nos muito acerca das estatfsticasque utilizamos, acerca dos problemas conceptuais da medigdo das partes n5o
avaliadas da acumulagSo do capital humano e acerca dos servigos do capital
humano e convencional. Fazer e utilizar as contas forgou os economistas a
reflectirem rigorosamente sobre as bases te6ricas da fungdo de produg6o
parp compreenderem o crescimento.
A primeira vista houve progresso. O avango do conhecimento, o residual
final no cOmputo de Denison (1948-1979) ndo passa de metade do residual
primitivo original. Passa-se o mesmo com a produtividade ajustada das
contas de Jorgenson. Mas podemos confiar nas medig6es que conduziram i
redugSo? Infelizmente, n6o podemos. Estas medigdes incluem estimativas
arbitrririas e duvidosase. Utilizo a justamente admirada contabilizagSo de
Denison para ilustrar o problema.
1. O cOmputo de Denison inclui uma ponderagSo para uma associagSo
inversa entre horas m6dias de trabalho e intensidade de esforgo e cuidado
mostrado pelos trabalhadores. Ele imagina,razoavelmente, Que , quando

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