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NJVIKTORFRANKMLW
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0 SOFRIMENTO
DE UMA VIDA
SEM SENTIDO
CAMlNHOS PARA ENCONTRAR
A RAZÃO DE VIVER
Cupyrighl 0 Viklur Lü Prankl publicado cm acurdu cum us hcrdciros dr Victor E. ankL Pnra mais
infotmaçàcs sobrc o aulnn aasac o silc hllp://www.viku›rfr.1-nkLorglclslnndardlcxlauhlmL
Copyrighl dd cdiçào bmsilcim M 2015 É Rcalizações líduorn
Tllulo origimL Das Lcídcn um sinnlosvn chm
Editar
Edsun Manoel de Olivcira Filho
Produçâo sdímrial c projcto grújico
É Realizaçóes Editura
Prcpamçáa dc tcxm
Lucas Carmxo
Revisâo
Dyda Bessana
Capa
AZlMika Matsuzake
Crédim dc imagcm da capu
Copyright @ Roy Ooms¡/ Masterñlc / Latinstock
Rcservadus lodos 05 dircnm Llesta obra. Pmihida ludn c qualqucr rcprodução
deam edlçàu pnr qualqucr mcio ou forn|a, sc)a cla ulelrónicn ou mccàmcm folocópia.
gmvação ou qualquer nulm meio de reprnduça'u, scm permlssão expressa dn cditon
CIP-Bk^s¡L. CATALUGAÇÃO-N^-FON'I'E
SINDICATO NACIONAL nos EanoREs m LIVR()S. RI
 
F915$
FrnnkL \'ikmr l':. (\'Iklur Em|l). 1905~l997
O sofnmenln de umn vidn scm ›r:mido : cammhos para cncunlrar a mzão de viverl
VIklor Franld ; lmdução Karlcno Bocarm - l. cd. › Sàu Paulo : É Rcalizaçôcs. 2015
128 p. ; ..3 cm.
deuçào de: Das leidcn nm smnlosen lcben
lnclui btbliugmña c índlce
ISBN 978~8578033›209A4
l. Psicnnálise 2. Psicologia cxis|enC|aL I.T1tulo.
CDD: 150.l95
CDU2 1593642
15725038
28/07/201527/0712015
E Rcahzações Ed|'lom. Ijvmria c Dlstribuldora Ltda.
Rua Frdnça Pintcn 498 ~ São Paulo Sl' - 04016-002
Calxn Poslalz 45321 -04010-970 - Tclclhxz (5511) 5572 5363
alendImenlo®ercallzacneycomhr - wwwrrcahmcoacumbr
Lm Ilvro rm xmpmssn pcln |'-.d|çucs' Loyoln m agnam de 2015. Os hpoA sãn da mnilu
Mnuon Pm c Frcvboolcr Scnpl chulan O papul du mwln é u uíÍ whne norbritc sbg. e u d4 cap.l. carlàu nmgbu mr ZSOg
VIKTOR E. FRANKL
U SUFRIMENTD
DE UMA VIDA
SEM SENTIDO
CAMINHOS PARA ENCONTRAR
A RAZÃO DE VIVER
 
Tradução
Karleno Bocarro
Rcvisão técnica
Nilsy Helena
(SOBRAL - .›\'s.50ciaç30 Brasilcira dc
Logolcrapia c Análísc l'-
 
islcnc1'.x-l Y-r.\'nl\'li.'1na)
 
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FSUMÁRIO
Introduçãoz O sofrimemo dc uma vida scm scnlido ..................................................9
A REUMANIZAÇÃO DA PSICOTERAPIA
1. Freud, Adler e Iung ...................................................................................................33
2. A logoterapia..............................................................................................................43
3. A intenção paradoxal ................................................................................................51
4. A derreñexão..............................................................................................................59
 
5. A vontade de sentido
6. A frustração existencial ............................................................................................69
7. O semido do sofrimento ..........................................................................................73
8. Pastoral médica ..........................................................................................................79
9 . Logolcrapía c rcligião................................................................................................85
 
10. A crílica do psicologismo dinàmico
ANEXO
Índice onomástico ....................................................................................................... 119
Indice analítico ............................................................................................................ 123
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Introdução
O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO|
Cada época tem suus ncuroscs c CdLLl lcmpo prccisa dc sua p'~.icotcrupia.
De falo, hojc não nus defmnlalnns mais, comn nm lcmpns dc Frcud. cnm
uma frustração sexuaL mas, sinL com unm fruslmçàu cx1's.lcncx'ul. li o paciemc
típico de nossos dias nào snfre talm›, como nm tcmpos dc Adlcn dc um scntimcn~
to de 1'nferioridadc, mus dc um svmimcmo abismnl dc fuha dc scnlidm quc cx.ta'
associado a um sentimcmo dc vnzio intcrior, mmo pclu quul lcndo u fdhr dc um
vazio existcnciaL
'lo'memus uma carla quc mc c.scrcvcu um csludunlc umcricuno c da qu.11 mc
contentarci em cilar duas frascsz “líncnnlr07mc uquL nm lísladus Unld0s., ccrcadn
por jovens de minhzl 1'dadc, que buscum dcscspcmdumcnw um scmidn p.1m sun
emslêncim Um dc mcus mulhorcs amigm lhlucu rcucnlcmcnlc purquc nàu c011s:c-
guia cncomrur cste sentiddÍ li minhu c.\'pcriónci.1' cm univcrs.|'d.1'dcs. .'unerican.1'.s* -
' O le.\l0 quc sc scguc corrcspondc a confcrúlmias. Lleds cm \'.1rsu\id. .I mnvnc d.1 Suucdadc
Poloncsa du Psiqlualrim na Aula dJ Um'\'cr.sldadc dc /'.unquc. .\ cnnvilc d.\ l-und.|ç.|'n lilnnmh c
em Munlque, n cnnvnc dn líundaçam Carl |~ricdridrvun Slcmcnx l)cmm d rsLl inlroduçím n lilulu
de "0 sofrlmcnln Llc umu vlda scm scmuln" purquc h(›.1 purlc dclu rupmdul pmugcm LIC dum
cnnlLTéncias com cssc mcsmo lilulu DU lcxlu d.1 pruncmL pl'u|n1ml.\d.1 n.¡ Auld d.l Unlvcrudddc
dc /,'un'quc. u hmdaçàu I.Imm.¡l (Rnwl1bll|xl~kra›sc ÂL (III-X(I~H, /'.lllIL|llL') dixpàc dc xUPldh cm
Íorma dc vídco c a'udu›. Quanln à scgundm a l-'un(›lcc.1 Auslr¡'.n-.n (\'\'chL,›'.¡ssc 2'. ›.\ |U(~(). \'Icn.1) ~
um inslilutu dn \.1inislúrlodc('.i'-u)c'ms ~ utcrccc rcpruduçücs vm mn mssclu Adcxu.\ls. .I Pundaçàn
Limmal I.Inçou s.cpam(a.s dc um nmgn pubhudo nn Srlnv :crl\.(hm .-\kudvmíkcr› umi Snulmlvn
vamg cnm u lilulo “() sufrinwnlu dc uma v1d.1 scm xcnliduÍ lonmndu pur hnsu wm Inudlhkdçócsn
a gravaçâo cm ñlu magnéncm
 
IU U \Ul RHH \,' IU l)I l'\.|.r\ \'1D.r\ SIÂ\| 51\I|¡)U
alé o momcmo devu lcr proferido 129 confbréncias somente nos Estados Unidos, o
que me otbreceu ocasiãn pmpícia para entrar em comato com os estudantcs - corro-
bora que as partes da citadu carta sâo represemativa5, à medida que retlctem o estado
de ânimo e 0 semimemo dc vida predominames na juvemude acadêmica aluaL
No emnnm, não someme entre os jovens. A respcito da geração dos adul-
¡(›s. limitar-mc-eí a apontar o resultado das pesquisas levadas a cabo por Rolfvon
Ecknnsbcrg jumo aos alunos lbrmados da Universidade Harvardz vime anos após
a conclusãu de sua graduaçãq uma porcemagem considerável desscs estudantes -
que, cnlrcmentes, tinham feito carreira em suas respectivas árcas c, além disso,
aparcntemcnte lcvavam uma vida digna e feliz - queixavam-se de um sentimento
abismal c dcñnitivo de auséncia de sentidcx
E nmltipHcam-5e os indícios de que o scntimcnto de absurdo e falta de
sentido granjeia uma crescentc propagaçàa Sua presença é hoje constatada tam-
bém pclos colcgas de orientação puramentc p51'canalítica, bem como por aqueles
do campo marxism Assim, num reccnte cncnntro internacional de discípulos de
Frcud. lodos estiveram de acordo em .s'alientar que se confrontam cada vez mais
com paciemes cujos achaques consistem essencialmente em um sentimento dc
completo vazio a afctar suas vidas. Mais aindaz CSSCS nossos colegas chegaram
inclusive a presumir que, em não poucos casos das chamadas análises incomple-
tas, 0 lraiamcnlu pbicanalítico enquanto lal acabava por tornar-sc - por assim
dizer,_cfmte dc micux [na falla dc uma deñniçào mclhorJ -, o u'nico conteúdo na
vida dos pacienles.
No quc diz respeito ao Círculo marx1'sla, mencionaremos tão somcntc o
nnmc VymetaL antigo diretor da Clínica Psiquiátrim da Universidade de Olmütz
(Tchecoslováquia), o qual ~ em consonância com outros autores da Tchecoslo-
va'an'a, bem como da República Democrática Alemã - chamou expressamente a
atenção para a presença da frustraçâo cxistencial nos países comunistas e, a ñm
de lidar com esse fenómeno de maneíra adequada, salientou a exigéncia de novos
princípios e novas formas de intervençõesterapêuticas.
Finalmente, dever-se-á aqui também mencinnar Klitzke, profeAssor ame-
ricano visitante em uma universidade afr1'cana, que num estudo recentemente
publicado no Amerícan Iournal of Humanistic Psycholagy. chamado “Students in
|\ i KUlll( \(l
Emcrging Africa › Logothcrupy in 'I.¡"n/.'an|'n'2 pódc coníirmar quc n VMÍO cxislcn-
ciul sc fa'1.' moslrar clurnmcntc c sc infundc no 'l'crccir0 Mund0. sobrctudo - c pclo
menos ~ entre os jovcns univcrsitzirinsz Uma 1'ndic.1'ç.\"o análnga dcvemm a Io:~.cph
L. Phílbríck (“A Cmss-Cultural Study of I'<r.111kl's Thcory nf Mcaning-in-Lifc").
Quando mc perguntum como cxplicar 0 advenm dcssc vazio cxislemíaL
cuido então de otbrcccr a seguimc tórmula abrcviada: cm conlrapoüçào an ani~
maL os instimos não dizem ao homcm 0 quc clc tcm dc thzcr c. ditbrcnlcnwntc do
homcm do passada 0 homem dc huje nào lcm mais a tradição quc lhc diga u quc
deve fazen Não sabendo 0 que tcm c lampuuco 0 que dcve tàzcn muilas vczcs já
nào sabe mais 0 que. no fund(›, qucn AssinL sú qucr 0 quc US outros fazcm - con~
formismo! Ou sÓ thz o quc os oulros qucrcm que fuçn - lotalilarisnmx2
No cntant0, esses dois sinmmas não dcvcm induzir-nm: u omilir uu csquc-
cer um lerceir0, nomeadnmcntc um ncurolicismo c*s.pcciñco « a prcscnça daquilo
que tenho designado como ncurosc naogôniaL Ao cnmrárin da neumse no seu
sentido estrito. que constitui, pcr dtjfínitiwmm umn afetação psícogêln'ca. a ncum-
se noogênica não se reportu a Complexos e cnnílilos nn scntido cl:1's.s'ico. mas de›
riva de contlítos de consciênc1'a, de colisóes de valores c. Iust but not IeusL dc uma
frustração existenciaL a quaL uma vez ou oulrm pndc c'›\pre~.;sar-sc e nmnitbstarse
sob a forma dc uma simomatologia llellrÓtÍCiL E é gmças a Jzunes C. CrumbauglL
diretnr de um laboralório de psicologm cm Miss sipL que já dispnmos de um
teste (0 PIL ou Purpose in LI_'/e'-7L'›sl). elaborado pelo própriu Crumbnugln com 0
objetivo especíñco de difbrcnciur o diagnósüm da ncurose noogénica duquele da
p51'c0¡g,ênic.1'.I Após avaliar os dados com zl ajudu de um computadou clc chcgou à
conclusão de que a neurose noogênica constitui uma nova patnlog¡.-1, que supem o
" Como 1)iam Yuung. uma dnutorundd pcl.\ Ulúvcrsidddc dc liurkulcyg púdc dcnmmlmr cnm \c~tcs
c cstulíhticasz U scnlimcmo dc vuio sc cnconlm signitimummcmc nmix difundidu cnlrc os imcns dn
quc enlrc os adullust Ancormsc nisso um nrgumcntu n lavnr de nossa lcuria du perdn da lmdiçào como
uma dus duas causas pam o udvcmo dn mmimcnlu dc \'.1¡in. l)c l'-.zln, scgundo casa lerL d scmeçào
da lradl'çà1), lãn c.'1r.x'clcri.xlica cnlrc us jn\'cn_s. lrm mlcnsilimdo u scntuncnln dc Jusüncid dc bcnlth
\ Disponivcl cm Psyrlwnwlrir Ajfilíumx Pnsl Uliicc Hox 31(›7. Munslcn Indiann 4632L US.›\.
lDisponívcl on line cmz hltp://|hcuhyfurtlcwi.s'.cdu/burkc_h/|'cr~.'on'.1|¡l_\'/PlLpdíl .›\ccssn cm 18 de
junho dc 2015.]
I l
 
xl U NUHUAH \.H7 lJl L'\.l.\ \ ll).\ SHI >k\'lll)u
âmbito dn psiquiatria tradicional não só da pcrspectim do di.1'gn('›su'co, mas um-
bém da terapêut1ta.
Com rcspcito à frcquênciu da ncurose noogênica, Contentar-nos-emos em
reporlar aus rcsullados da invcstigaçãu estatíslica alcançada por Niebauer e Lucas
em Vicna. ank M. Buckley cm Worcesten \u1'.155., Estados Unidos, Werner em
Londrcs, Langcn e Volhard em Tu"bingen, Prill em Würzburg, Popielski na Polónia
e Nína Toll em Middlclowm Conn.. Estados Unidos. Análises dos lestcs mostra-
ram que as neuroscs noogênicas cstão presenles em média em 20“,\'n' dos resultados,
Por finL Elísabcth Lukas desenvolveu um novo teste que permile um
diágnóstico mais exato da fruslração existenciaL que comprcendc lambém o
propúsilo de obter possibilidndes de intervenção 1ant0 terapéutica como pro~
filáticm 0 “Logu-Test'."'
As eslatístltas tém mostrado que, entre os estudames american05. o suicídio
ocupa - depois dos acidemes de trànsito - o scgundo lugar como causa mais fre-
quentc de óbilo. Adexmís, o número de tcnratims de suicídio (não resultando em
morte) é quinzc vezes maior.
Recentemenla foi-me apresemada uma e.s'tatística 111arcante, aplicada a
scssenta estudantes da Idaho State Uni\'crsity, na qual se índag0u, com grande
precisàm o motivo pclo qual inlcntaram o suicídia Dcla resultou que 85% deles
não conseguimn ver nenhum senlido em suas vidas. O interessante, entretamo,
é que 93% eram física e psiquicamcnte suuda'vcis, Iinham uma boa .síluação ñ-
nanceira e um excelente enlendimento cum a famílizu desenvolviam uma vida
socialmente ativa e estavam satistéitos com seus pmgressos acadêmicos. Não
se poderia falar em hipótesc alguma de satisfação insuñciente de necessídadcs.
Pnr isso, devemos perguntar-nos qual foi a “c0ndição de possibilidade" dessas
tentativas de suicídio. o que deve achar~se íncorpomdo na “rondition humaine”
para quc se possa chegar a uma tcntativa de suicídio apesar da satisfação das
necessidades mais ubíquas. Bem, isso só é possível se se admite que 0 homem
' \'ikt0r là l'~rankl. "Zur \'alidierung der LogmhcrapieÍ In: Dcr Willc :um SlmL Berna. Hans Huber,
1972 [Ed|çán brasileirm Vikmr E. FrankL A \u'nmde dc Scnnda Trad. Ivo Studan Percira. Sào Paulo,
Paulus. lOl 1.|
IN1R011L'\,.\L)
dcslina-sc vcrdadcimmentc ~ c ondu nàu mais, zm mcnos nriginalmentc - a cn~
cnmrar um sentido em sua vida e a rcalizar ussc scntid(›. lssn é 0 que também
procuramos descrevcr na logoterapia com o conccito mmivacional tcóricn dc
“vontadc dc scutiddí À primciru vista podc parecen ccrtamcnta quc sc tmla
dc uma supervalori'/.açà0 do lwman como se qun"›.e'sscnms cnlocáJo sobre um
pedestal bem alt0. Em reluçãu a isso, vcío-me à mente o quc me di5_sc, certa vcz,
0 meu instrutor de voo culilbrníannz
Considerandn quc prelcndn vonr para n lcsm cnquamu do nortc sopra
um vcmo latcraL mcu zwhío lcrmílmria por dcsviarasc para o sudcslc; ›c,
pelo comrár1'o, manobro a máquim puru n nordcstc, cnlão voarci dc falo
pam o Icstc e aterrissn ondc prctcndiu .1'tcrrissar.
Nào acontece o mcsmo com o homem? Tomcmo-lo pura c simplesmemc
como ele é, torna'-lo-emos conscquentememe pion 'Ibmc¡m›-lo comn deve s.er, e
convertêJmemos no que ele pode tornar~se. Mas isso nâo me foi dito pclo mcu
instrutor de v00. Essa é uma scntcnça de Goclhc.
Como se sabe, existe uma ps.1'cologia que se chama a si mesma de “p.s*icolo-
gia profunddÍ Entrctant0, ondc se encontra a “p.s*icologia1 das alturas" - que inclui
a vontade de sentido em seu campo de vísão? Em todo caso, não sc pode menUS-
prezar a vomadc dc sentido como um mero desejo, um “wi5h_/1'll tlzinlcing'.' Trata~se
antes de uma “sc1_f_~'htljíllingpraphccy" [pr0te'cia autorreaHI,.'¡'vcl|, como nomciam
os umericanos uma hipótese de lrahalho que, no ñm das contas. lem an mcsmo
ñm que projetou. E n0's, médicos, presemizunos isso diariauncnle e de hora cm
hora em nossos consultór1'(›s. Assim é. por exemplo, quando medimos a pressâo
arterial de um pacieme e verificamus quc alinge 160. Sc o paciemc pcrgu11ta-x1os
sobre a prcssâo arteriaL e dizemos a cle “160'.' jà não lhc Llizemos mais a vcrdadc.
pois ele se agíta c imediatamcntc a pressâo Chegn a 180. Se, pelo contrári0. lhe
dizemos quc a sua pressão é pmlicameme normaL não 0 cnganumos, e clc cmào
respira aliviado e nos confessn que rcceavn tratapse realmeute de um acidentc
vascular cerebraL mas quc, aparcntemenlc, se tratava de reccio infundudo. E, de
falo, se lhe medíssemos ncssc momento n pressãa poderíumos constatar que cstu
havia voltado ao seu nível normaL
l \
IJ U \7()|-1U.'\1L-\.'I(Y Dl l'\.l.n\ \'I[)A Sl.\.1\|\'l›ll)0
Isso nos mostra, alia's, que é pcrfeilamentc possível provan de uma perspec-
tiva mcramentc cmpír1'ca, 0 conceito de vontade dc sentid0. Limitar-me-ei aqui
a rcte'r1'r-me an trabulho de Crumbaugh e Maholick5 bem como ao de Elisabeth
SA l.ukas.que desenvolveu testes cuidadosamente elaborados a Íim de quantiñcar
a vontade de scnt1'do. Ademaís, cxistem dezenas de dissertações, príncipalmente
com auxílio dcsses testes, que podem validar a teoria da motívação da logoterapia.
Nâo é possível aquí, dentro do tempo disponíveL uma análise de todos esses
estudos. Nào posso, conludo, privar-me de trazer ao debale os 1'es_ultados de pes›
quisas concluídas por aqueles que não são alunos meus. Quem podcría, portanto,
duvidar da vontadc de scntido - note~se bem: nada mais, nada menos do que a
motivação especiñcamemc humana - ao ter em mãos 0 relalório do American
Council on Education, segundo o qual o intcresse primárío de 73,7% de 189.733
cstudantcs de 360 universidades rcsidc em “conseguir uma concepção de mundo
n partír da qual a vída cncomra um sentido"? Ou considcremos 0 relatório do Na-
tional Institute of Mental Healthz entrc 7.948 estudantes de escolas superiores, 0
grupo dos mclhorcs (78%) qucria “encomrar um sentido cm suas vidas°Í
O mesmo se pode dizer de adultos. e não apcnas de jovens. O University
of Michigan Survey Research Center te'z uma pesquisa entre 1.533 trabalhadores
a respeito do valor que davam ao próprio trabalho. A pesquisa constatou que 0
intercsse por uma boa remuneração ocupava 0 quinto lugar na escala de valores.
A comraprova, do citado exemplo, tbi conduzida pelo psiquiatra Robert Coles: os
trabalhadores com os quais teve a oportunidade de conversar queixavam~se, aci-
ma de tudo, de um semímento de vazio. Assim, pode~se compreender aquilo que
Ioseph Katz, da State University of New York, profetizouz a próxima leva dc pesso-
as que entrar na indústria só tem interesse por proñssões que não apenas rendam
bom sala'rio. mas que também deem um sentido à vida.
Ev1'dentememe, o que mais deseja 0 d()enle, em primeiro lugar e antes de
tudo. é recuperar a saúde; e o pobre, ter um bom dínheiro (“se eu fosse rico',' canta
' Iamcs C. (Irumbaugh; I.conard T. Maholíckz “Eín psychometrischer Ansalz zu Viktor Franlds
Kumcpl dcr 'noogcncn Neurose".' lnz Nikolaus Pctrilowitsch, Die Simflmge in der Psychoterap1'e.
DarmsladL 1972.
l\' HHHH (V \n
o leilciro no musical Um violinistu no tclhado). No cnlanlo. é incgávcl quc ambm
desejam conduzir a vida ao scu scnlid(›, para podcr rualizar o .w¡1tidode suas vidasl
Bastante conhecidu é a distinção que Maslow tbz cmrc as neccszsidadcs inteW
riores e superioresz a sutisíílçào das ncccssidauies intkriores é n condiçào indispcn~
sável para sc poderem satíslhzer as supcriorcs. Enlre as ncccssidadcs supcriurcs clc
inclui também a vontadc de sentid0. E não npenas íssm clc a qualiñca dc “molivaçàn
primária do homcnfÍ Isso equivale a dizcr que ao homem só é dado conhccer a
exigência de um scntido dc \'ida quando elc está bcm (“primcir0 vcm u esto'nmg0,
depois a moral”). Entretanto, comrariamemc a issq tcmos - c não somcnte no's.
os psiquiatras - a oportunidade de ubservnn repclidas vc¡.'cs. que a nccussidadc c a
questão de um sentido de vida irmmpcm justamcnte quando as coisas beiram 0 dc-
sespero. É o que podem testemunhan enlrc nossos pacicmcm os moribund0s, bcm
como os sobreviventes dos campos dc concemmção e os prisioneirus dc gucrra!
Por outm lado, a questào do sentido da vida evoca nâo só a frustração das
necessídades inferíores, mas também. evidememcnle, a satistàção das ncccssi~
dades ínferiores, no âmbito, por excmplo, da "a_[fluvnl x.*oa'cty" (\'cr p. 28). Claru
que não estaremos em erro sc disscrmos que ncssa aparcntc contradíção avista~
mos uma conñrmação de nossa hipo'tesc. segundo a quzll a vomadc de semido é
uma motivaçào sui generi$, que não pode rcduzirse a outras neccs.~;idades nem
pode deduzir-sc delas (conforme empirícamentc demonslmdo por Crumbuugh e
Maholick e também por Kratochvil e Plamova).
Deparamo-nos aqui com um tknómeno humano quc considero fundamem
Ialdo ponto de vista anlropológícoz a '.1ul0lranscendénCia da cxisléncia humanal
O que pretendo descrcver com isso é o futo de que o scr humano scmpre upunta
para algo além de si mesmo. para algn que não é cle mesmo - para algo (›u para
alguémz para um sentido que se deve cumpn'r, ou para um oulro ser hL1n1ano,
a cujo encontro nos dirigimus com amur. Em scrvíço a umu causa ou no amor
a uma pessoa, realiza~se 0 homcm a sí mesm0. Quamo mais se absorvc em sua
tarefa, quamo mais se entrcga à pessoa que ama, tanto mais ele é humem c lanto
mais é si mesmo. Por conseguinte, só pode realizar a si mcsmo à mcdida que se
csquece de si mesmo, que não rcpara em si mcsmo. Não é issu que acontcce com
o 01ho, cuja capacidade ótica depcnde dc quc não veju u si mcsnm? Quando u
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lh 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA \l›\.| SF.\T|II(\
olho vê algo de si mesmo? Somcmc quando está doemcz por cxemp10, quando
sofro de uma camrata, cnlão vejo uma nuvcm - e cnm isso percebn a turbidez
dn crislaüna L'- quando padeço dc um glaucoma, vejo entào um halo de cores do
arco-íris cm torno das fonlcs de luz - que é. por sua vez, o glaucoma. No cnlanto,
na mmma proporçãu, cssa percepção afeta e míngua a capacidadc do meu olho de
perceher o ambicntc ao mcu rcdor.
Aqui dcvemus falar, porém, dos rcsultados parciais (de um tmal de no-
vcntaJ de uma pesquisa empírica tbita pela Sra. Lukas. Esta revela que. entre os
visilantes do célcbre Wicner Pruter <um grande parque público de Viena). um lu-
gar de divcr5ã0. o nívcl objetivo de frustração exismncial era signíñcativamente
superior à médiu do nível da população vienensc (o quaL por seu turno, revelava
valores sensivclmune iguais àqueles medidos \e publicados por aumres amcri~
Canos c japonescs). Em oulros tcrmos, a pcssoa que sc dcdica mpecialmente ao
pmzer e às divcrsõcs é aqucla que. em relação à sua vomade dc sentido. ao ñm,
se mostra frustrada ou - para usar novamente as palavras de Maslow - presa ao
seu desejo primário.
lsso me faz lcmbrar uma anedota americana a rcspeito dc um homcm quc se
encontra na rua com scu médico particular, o qual lhe pergumn pelo seu estndo de
5aúdc, Durante a conversa, o pacicme coníexssa que vem snfrendo ultimamentc de
uma certa surdc7.. “E pmvável quc 0 senhor esteja bebendo n1ui10',' adverte-o o mé-
dico. Alguns meses mnis tarde, voltam a cncontrarAse na rua, e novamente 0 mé-
dico toma intercsse pela saúde dc seu pacicnte, elcvando a voz paru se fazer ouvir.
"Oh'§ díz estc entãa "O senhor não precisa falar lão alml Voltei a ouvir muito bexn'Í
"Cerlamcnlc 0 senhor parou de bebcr',' retruca o médico. “lsso é pertbilamenle
corrcto, continue assinfÍ Alguns outros mescs mais turdcz "C(›mo vai o scnh0r?'.'
“O que disse?'Í “Pcrguntei como vai o scnhor'.' Finalmente 0 pacientc entende.
“Bem. como o senhur percebe, minha audição piorouÍ “É provável que 0 senhor
tenha voltado a beber'.' O paciente emão explica toda a convcrsaz “Veja 0 senhorz
anles eu bebía e ouvia mal. Depois, dcixei de bcber c cstava ouvindo melhor. No
cntanto. o que eu ouvia não era tão bom Como n uisqudÍ Podelm›s, p0is. dizer o
scguinte na auséncia dc um sentídu de Vida, Cuja realização o tería mrnndo íe'h'7.,
cle procurou alcançar a felicidade cvitando loda realização de sentidm apoiando-se
Êáw
'
Ilelmuçku
numa suhsmncia quimicm Dc falo. 0 acnlimcnto dc fclicidadm quc cm circunsmm
cias normais nunca é proposlo como uma mcm da aspimçào humana. mas snmcn~
te como um lbnómeno concmuilanlc do ¡¡laznrc-d0-prápr¡o-cscopo - um “cfcito"
de menor 1'mpurtànu'a. que Ibi juslamcnlc possibililado pcln consumo do álcuoL
B. A. MakL dirclor do Naval Alcohol Rclmbilitation Ccntcn atirmuz “n(›tr.ll.1mcnm
dos alcooli'/.¡1dns, muitas vczes. conslatamm quc a vída parccc tcr pcrdido mdo
sentido para 0 indivídudÍ Uma dc minhas nlunns Lla Unilcd Statcslnwrnalional
Universily de San Dlego póde uprescnlan no undamcmo de suns pcsquisas (cuj(›s
rcsultados rcuniu depuís cm tbrma dc di*.sscrt'.1ç1.'n). a prova de quc 90% dos caws
crónicos de alcoolismo agudu por cla cmmínados rcvclavam um prnnunciado va-
zio exístencialz então se compreendc mclhor 0 tlltn dc que numa lagoterapia dc
grupo para superar a t'ru's.lr-.1çào exislencmL conduzidu por CrumbauglL obtivc-
mm-sc mclhorcs resultados nos cusos dc alcoolisnm do quc nu àmhim de grupos
dc commle tratados cnm os métndns dn tcrapiu convcmionaL
O mesmo se pode dizen de modo amu'logo, dos dupendenlcs de drogas. Se
lcvarmos em conla a opínião de Stanlcy Krippncn o scnlimcnln dc vazio nos vi-
ciados cm drogas cslá cm 100% dos casns. lím 10090 dos cnsm. ao sc Ihes colocur a
perguma se tudo lhcs parccia scm scntínlm a rcspnsla í(')i. scm cucaim añrmalivm
Uma de minhas doutorandas. Bctty Lou Padellhrd. dcmunelrom como Shean c
Fcclmnan, que nos dependenlcs de drogas u frustrnçào cxislcncial ú mais dc duas
vezcs maior do que no grupo dc comparuçño. L-' nnvumcnlc ó comprwnsível quc
Fmiser, quc dirige um cenlm de reabilimção dc dcpcndentcs dc drngn na Califór-
nia, onde x'nlr(›du1,'iu a logolcrapl'a, lenha alcançado uma laxa média dc éxito dc
40% - muito acima da média comum dc l l%.
Nessc contextm cuhe ñnnlmcntc citur Black c Grcgwm cstudiosus du Novu
Zelándia. chundo cles. os criminosns .'1prcs.cntzun um gmu de fruslnaçíwn exisv
tencial substancíalmeme supcrior à múdia da pupulaçâu (Iusa-.s'e bcm com isso
o trabalho rcalízado por Barbcr entre jovuns criminusns lcvadm a scu Ccmro dc
rcabilitaçào calitbrniano e trulados com n métudo dn logutcraplku rcdu1.'iu-sc aí 0
índice dc reincidéncia dc 40% parn l7%.
Podcríamos agoru dar mais um passo c cstcnder nossas rctlexóes c consi~
dcmçõc.s' a uma escala plunctárizL lsto c'. lançarnurmw à pcrgunlu sc nàu sc fhz 
 
0 hOFIHMlNTO DI: UMA \'H)A 51 .\| \l-,\.'lll)()
necessária uma reoríentação no domínio da investigação da paz. De fato. desde
há muilo essa invesligação vem de braços dados com a problemática do poten-
cial agrcsxcivo segundo o senlido cumpreendido por Sígmund Freud e também por
Konmd LorenL Na realidade, permanecemos como antes, com as mesmas ques-
Iões, em uma dimensâo sub-humana sem ousar asccnder a uma dímensão huma~
na. Todavim é na dímensào dos tewnómenos especiñcamente humanos - a úníca na
qual podemos cnconlrar algo como a vontade de sentido - que se poderia verihl
can em dcñnitivo. que a frustração dessa mesma vontade de sentido, a frustração
existencial e 0 senlimento de vazio cada vez mais cresccnte - note«$e bem2 não no
animaL mas no ser humano, no plano humano! - promovem a agressiv1'dade, ou,
ao menos, são seu alicerce.
Tanto 0 conceito de agressividade delfundamento psicológico, no senti-
do da psic.1'nálise de Sigmund Frcud, como o dc fundamento b1'ológico, no sen~
lido de investignção comparada do comporlamento feita por Konrad Lorenz,
careccm de um elemcnto; a saber, a análise da 1'ntencíoxmlídade. que é o que
caracteriza 0 impulso vital do homem enquanto tal, enquanto ser human0,
Na dimcnsão dos fcnômcnos humanos simplesmeme incx1'stc, ern uma quan-
tidade detern1inada. uma agressividade que force uma saída e me impulsione
como “sua vítima indefesa',' procurando determinados objetos concretos sobre
os quais, ao fim, “aquielar-se)í Por mais que a agressividade tenha uma pré~
~formação biológica e um fundamemo psicológíco, ao nível humano eu a deixo
de lad0. deixo que ela se disperse por supcração (numa perspectiva hegeliana)
cm uma outra coisa completamente diferenlez ao nível humano cu 0dei0! E 0
ódin, precisamente em contraposíção à agressividade, é inlencionalmente di-
rigido a algo que 0deío.
Ódio e amor são te'nómenos humanos porque são intencionaís, porque 0
homem tem sempre motívos para odiar algo e para amar a alguém Trala~se sempre
dc um motivo sobre o qual ele atua. e nâo de uma causa (psía›l<›'gica ou biológica)
quc, "às suas coslas” e “sobre sua cabeçzfí tenha como consequéncia a agressividade
c a sexwalidade (encontramo-nos diante de uma causa biológica no experimento de
W R. He›s, no âmbito do qual se conseguiu provocar acessos de cólera em um gato -
por mcío de eletrodos colocados na região subcortical de seu cérebro).
IN1 R()l)l'ÇA()
Quão injustos para com os combalentcs da rcsisténcin cuntra o nacional-
-socíalismo. se os considerássemos mcms vílimas de um "potcncial agressivdl 0
quaL maís ou nwnos ulcatorialmntc, se havin dirigidu conlra Adolf Hítlcn lnlrin-
secamente, eles nào pensavan1, com auas lutas, cstar num combalu cnntra clc, se-
não contra 0 nacíonal-socialismo. um sistema. Não sc \'(›haram comra 21 pessoa,
mas contra um 0bjeto. E, intrinsecamente, só somos rcalmcnlc nós mesmos quan-
do podemos sen nesse sen11'do. “objetivm".' tumbém vcrdndcirameme humanos;
somente quand0, a partir dessa objctl'v1'dude. somos Capauns nào sú de viver para
uma causa, mas também de morrer por clzL
Enquanto a invesligação da paz rcsl1'ingir-se a imorpretar a agressividade
como um fenómeno sub~humuno c nào .1'n.'llisur o fcnómcno humano do “o'di0“,'
estará condenada à esterilidada O homem não cessará dc odiar se 0 levurmos a
crer que é dominudo por ímpulsos c mcc.1'nismos. Essc tíualísnm ignora que. sem-
pre que sou agressivo, náo contam os mccanisnws e us impulsos quc cxislem em
mim, que podem estar em meu “id',' scnão quc sou aquele quc odciu e que para isso
não há desculpas, e sim responsabilidade.
Acresce aíndu 0 fato de quc o díscurso sobrc os “polcnciui5 agressiv05“ trazem
em si a intenção de canali/.'á-los ou .s*ublimá-lo.x*. 'I(')davia. como provmmn os pcsqu¡-
sadores da escola dc Konrad I.orenz, a agrcssividade - por cxcn1p10,d1'anlc da telcví-
são - deveria ser dírigida a objetos inotbnsivos c neutralizando sohrc cles seu p<›der.
quando na rcall'dade, ao contrário, é provocada c. como um reílcx0. mais tbmenladu.
A1én_1 disso, a socíóloga Carolyn Wood Sherifrelatou que é falsa a noçào po«
pular de quc as competições csportivas sejnm um sub.s*t1'tuto. scm derramumcnlo
de sangue, da guerraz trés grupos de j(›vcns, colucados num acampanwmo i5(›|.'1-
do, tinham kHrtalecidq e não mítígad(›, as agrcssõcs dc uns contra os oulros cm
Competíçóes esp<›rtivas. Mas 0 inesperado vcio (lepois: uma única vez demram dc
lado suas mútuas agressóes, como se tivessem sido levzldas pam longc. Foi quando
tiveram dc mobilizar~se para tirur de um amleiro um dos carms cncarregudos de
levar víveres ao acampamemo; essa "enlrcga a uma tarufa'.' dcsgastantc porém sen-
sata. literalmente os fez “esquecer“ suas agressóex.'.
Aqui vejo uma indícação frutífera para uma invcstignçào da paz muito mais
apropriada do que as intermináveis ruminações de discursos sobre os potenciais
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agressivos. conccito com 0 qual se faz crer aos homens que a violéncia e a guerra
sejam partes de seu deslimx
Essc tcma íbi por mim analisado cm oulro lugar." Comentar-mc-ei emão
dc indicá-lo e ccder a palavra a Robcrt Jay Liñon - um especialista inKernacional
na área - que cm seu livro History and Human Survival escreveu o seguintez “Os
homens sào propensos a matan sobretudo quando se cncontram em um vazio de
semido'.' De fat0, os impulsos agressivos parecem proliferar, pr1'ncipalmente. ali
ondc se faz preseme 0 vazío exislencíaL
0 que vale para a criminalidade, aplica~se também à sexualidadez
somente no vazio exz"›tcncia1prolfíera a libido scxuaL Essa hipertrofia no
vazio aumcnta a disposição às reações sexuais neurólicas. Pois 0 que se disse
untes a respeito da felicidade e de scucaráter de “efeito”. não é menos válido
em rclaçãu ao prazer sexualz quanm mais alguám busca o prazen tanta mais
ele o perde. E com base em uma experiéncia clínica de várias décadas, ouso
afirmar que as perturbações de poténcía e orgasmo redu7.em-se, na maioria
dos casos, n esse padrão dc reação, quer di7,er, ao fato de que a sexualidade
é distorcida na exata medida cm que é reforçada a sua intenção e se c0n-
cenlra subre ela a atençào. Quanto mais sc desvia a atenção do parceiro
para se concentrar no alo sexual em si, tanlo mais compromelido fica o ato
sexuaL Isso é bem verificável naqueles casos cm que nossos paciemes se
semem impelidos a demonstrar, amcs dc tudo. sua potência. ou nos quais
nossas pacientes se interessam, antcs de tudo. em provar a si mesmas que
são realmenle capazes de alcançar um orgasmo completo e que, ao fim, não
sofrem de fríg1'de'/.. Vemos novamente que se trala de “ulcançar" algo que é
normalmente um "efeito" - e é assim que devc pcrmanccen a não scr que
isso também já esteja destruído.
Esse perigo se mostra maior quando a sexuulidadc prolifera em larga escala
no vazio existenciaL Confromamomoc hoje em dia com uma inñação sexual que,
como toda inflação - a do mercado moneta'r1'o, por exemplo - anda lado a lado
" Viklnr E. ankL “Exislentie|le Frustratinn aIs '- iologischer Faklnr in Fãllen von agressivem
Verhallen'.' Inz Fesrschrtjifür Ridmrd Lunge :um 70. GeburtSMg Berlim, Walter dc Gruyten l976.
~.F.-;...
mwxma
INTRODUCAO
com a dcsvalor1'zação. Na verdada a scxualidadc ustá lão dcsvalnrizada quanm cslà
dcsumanizada. Entrctanla a sulmlidadc hummm é muís do quv mcm svxualidada
c o é à medida que - cm um plano humuno - cla ó um vcículo dc rclaçócs tmn-
sexuais (para ulém do s.cxo), pessoalisz quc. natumlmcnm não sc dcixa apcrtar cm
um lcito dc Procustn tbitn de clíchês lais como “anscio*~. de objclívo inibitw0" ou
“meras subl¡'n1.1çócs',' somcntc porquc 50 prcfcrc negar a rcalidadc cnquanlo se
rompe 0 quadm dc sixnp11'h“c.'1çóes poplll.'trcs. ((Êomo dcmonslmu Eileiibchk1dt.
essa deformação do funciommcnto da sexunlidude nàu sc pmduz apcnas no pla~
no hummw mas mmbém cm um nívcl sub-humano: lambém a sexualidadc ani-
mal podc ser mais do quc mera sscxmnalidada L3vidcnlcn1cntc não sc encomra csta.
cumo a hunmnn, a serviço das rclaçócs pc.s'.s'om's, ainda quc cstcjamos cicntcs dc
que a copulação do babuín()-sagradm por excnnplo, sirva n um hhm sociaL do mcs-
mo modo que, em lermos g8mis, o comportamcnm scxunl dus “vcrtebradus sc
encontra a serviço dc uma ñnalidadc sucial do grupo").
Seria inclusive do mais i11tr1'n.scco intcressc daquclcs aus qu.1is nâo resta
outra cnisa senão o prazer c o gozo sexual xc cslcs sc prcocupmscm em culocar
seus comatos sexuais num nívcl dc relação com o purcciro pam além do simples
sexo, elevand(›-os, portant0. a um nível humunu Dc 11no. a scxunlidadc lem ncsta
dimensão humana uma funçào dc expressàoz na dimcnsão humana cln sc torna .¡
expressão de uma relaçào dc amon dc uma “Flcischwcrdung" - uma cncurnaçíu -.
de algo como amar uu eslar amzmdo. Quc a scxualidudc só podc scr fcliz sob cs-
sas condiçócs revela um cstudo recentcmcntc rcnli'/.'.1dn pelu rcvism mncriulna
Psydmlogy 7bdayz das vinle mil rcspnslas à pergumu sobrc uquilu quc mais cs~
timulava a potência e 0 0rgasmo_ concluiu-.w quc 0 csllmulo dc muiur conliança
era o romanlisma ou sej.'1, eslar apaixonadn pcln parmiroz ponumo. 0 amur u elc.
Porém, não apcnas cm dircção à pcssou do parccirm considcmdn a parlir
de um ponto dc vista da pr0ñl;\.\'ia dus ncumscs scxuais, é dcsejlivtl u máxi-
ma “pcr5(mali/.'.1ç.1"0” possívcl da scxualidadm mas nunbém em rcluçñu à prúpria
pcssoa. O desenvolvimcnto .sexual nurmul e 0 amadurecimenlo normal do scr
humano tende a uma crcscente 1'ntcgrm;ão da sexualidade na eslruluru gcrdl da
pcssoa. A partir disso, vê-se clnrameme quc 0 wnlrário. o isulamcnm complelo
da sexual¡'dadc, comraria todus as lcndé11c1'.1'«».~ dc integração c, com isso. famrecc
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as tendéncias neurotizantes. A desintegração da sexualidade - o “seu romper“ da
totalidade transexual pcssoal c interpcssoal - sígníñca uma regressão.
No entantq por trás dessas tendências regressivas pressente a indústriu do
prazcrsvxmzl sua chance u'm'ca, um negócio singulan Põe em jogo a dança ao redar
do porco de ouroA Visto, novamente, a partir de uma perspectiva da proñlaxia das
neuroses sexuais, 0 grave nisso tudo é a waçüo uo consumo sexual que procede da
indústria da ir_1fo'rmaça'o. No's, psiquíatras, conhecemos de nossos pacientes como
eles se scntem ao se verem coagidos, por uma opinião pública manipulada pela in-
dústria da íníbrmaçã0, a interessar-se pelo sexual em si mesmo. ou scja, no sentido
de uma sexualidade despersonali1.'ada e desumanizadzL Mas sabemos igualmente
quanlo ísso se preslou para enfraquecer a poténcia e 0 orgasmu E quem, por c0n-
seguinte, pondera que sua salvação está no rcñnamentn de uma técnica do amor,
nâo faz mais do que matar 0 resto daquela cspontaneidade, daquilo que é direto,
daquela naturalidade e duquela ingenuidadc que são a condíção e o pressuposto
de um funcionamento sexual normal de que tanto precisam os neuróticos sexuais.
Isso não quer dizer dc modo algum que pretendemos manter qualquer tabu ou
que nos posicionamos contra a liberdade da vida sexuaL Mas a ll'berdade, defen-
dida por aqueles que a têm sempre na ponta da língua, é, em última instáncia, a
liberdade de fazer bons negócios com ajuda da assim chamada informaçãa Na
realidade, é nada mais do que alimentar os psícopatas sexuais e os voyeurs com
material para suas fantasias. Informação, tudo bem. Mas devemos perguntar-nos1
informação para quem? E temos de esclarecer, antes de tudo, a opiníão pública
acerca do fato de que, não faz muito tempo, 0 proprietário de um cincma que pas-
sava princípalmente os chamados ñlmes de ínformação declarou numa entrevista
à televisàoz com raras exceço'es, 0 seu público sequioso compunha-se de pessoas
com idade emre seus 50 e 80 anos... Contra a hípocrisia na vida sexual somos
todos; mas é preciso também proceder contra aquela hipocrísia dos que dízem
“liberdade" pensando, contudo, no lucro.
Retornemos ao vazio existenciaL ao sentímento de vazio. Certa vez, Freud
escreveu numa carta o seguintez “N0 momento em que alguém se pergunta pelo
sentido e valor da vida, este alguém eslá doente, porque os dois problemas nâo
exislem de forma objetíva; a única coisa que se pode reconhecer é que se tem
:
v-,.
T'n,w..__(
zvcwwuva
-.:~>-::-n:,.c
 
IN l RODUÇÀO
uma provisão de libido insat1'ste'ilaf.' Pessoalmcnla não posso acrcdilar nisso.
Julgo que não só é algo espcciñcamcnle humanu pcrguntarsc pclo scmido da
vida, senão que é também próprio do homem colocar cssc scntido em qucslã0.
É um privílégio partícularmente dos jovcns dar provas de scu amadurccimcnto
ao considerar em primeim lugar o sentido da vida e. dcsle privi1égi0. fazcr bas-
tante uso (ver nota na p. ll).
Einstein añrmou uma vez que quem scnte quc sua vida não lcm .~;entid0.
não apenas é infeliz senão também pouco capaz de viven Dc fato, pcrlencc à von-
tade de semido algo daquílo quc a psícologia amcricann qualiñca como "survival
value'Í Não tbí essa, añnal de contas, a lição que pude Icvar comigo dc Auschwitz c
Dachau: que os quc se mostraram mais aptos u sobrcviven ainda maís em tais situ-
ações limites, foram aqueles que, rcañrmo, estavnm orientadm pura o futuro, paru
uma tarelh que os esperava maís ad1'.'111te. para um scmido quc dcsejuvam realizan
E os psiquiatras americanos puderam conñrmar muis tarde csta expcriência com
os campos de prisioneiros de guerrajaponeses, nortc-v¡'etn.1'mitas e norte~c0rea-
nos. Ag()ra. o que vale para os indivíduos não pode valcr iguulmente para a huma~
nidade imeira? E nào deveríamos tambénL no âmbito da denuminada investigação
da paz, colocar a questão de que talvez a única oportunidade de sobrcvivéncía da
humanidade se encontre numa vontadc geral para com um scntido colclívo?
Essa questão não pode ser resulvida someme por nós psiquiatras. Ela deve
manter-se aberta, ou ao menos prccísa ser lcvamadu. E ser lcvantada, cumo já
dissemos, no plano humano, o único no qual podemos encontrar a vomadc de
scntído e sua frustração. E isso valc também parn a patologia do cspírito du épom,
assim como a conhecemos pela teoria das neuroses c da p.s'icmerapia do indivíduo:
prec1'samos, contra as tendéncias despcrsonalizantcs c dcsumanizuntes, quc por
toda parte se amplíam, de uma psicolerapia reunuznizndLL
O que dissemos anteriormente? Cada época tcm suas neuroscs, e cada épo~
ca precisa de sua psicolerap1'a. Agora sabemos maisz somcntc a psícotempia reu~
manizada pode compreender os síntomas da época - e rcagir às neccssid.1'de.s* de
nosso temp0.
No entant0, retomando agora o sentímcnlo de vazi0. perguntemos: pode-
mos por acaso dar um sentido ao homem de hoje, existencialmcnte frustrad0?
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0 SOFRIMENTO IJF UMA VIDA SEM SENTIDO
Podcmos sentir-nos satisfcitos sc não já foi arrancado ao homem de hoje esse
sentido em conscquéncia de uma doutrinação reducioni.'sta. Devcria 0 Scntidu
scr factívcl?
É possível reanimarmos as tradiçóes perdidas ou mesmo os instinlos per-
didos? Ou ainda vigoram as palavras de Novalis segundo as quais não há volta à
ingenuidade e que a escada pela qual ascendemos veío abaixo?
Dar sentido implica uma ñnalidade moralizante. E a moraL no semído anli-
go. ebgolar-se-á em breve. Mais dia menos dia. deixaremos de moralizar, passando,
contrar1'a1n1entc, a ontologizar a moral ~ o bem e o mal não serão mais dcñnidos
no senlido dc algo que dcvemos ou não devemos fazer. AssinL 0 bem é aquilo que
promove o cumprimento de um sentido aplicado e exigido a um ser, e o mal aquilo
que ímpede esse Cumprimenla
O smtido nâopode ser dado; rmtes, tem de ser cncomrada E esse processo de
encontro do sentido tem como ñnalidadc a percepção dc uma Gestall, uma ñgura.
Os fundadorcs da psicologia da Gestalt, Lewin e Wertheímer, já falavam de um
caráter de ex1'gência, que vem ao nosso encontro em cada uma das situações com
as quais confrontamos a realidade Wertheimer chcgou ao ponto de atribuir a cada
exigência (“reqzu'rcdncss"), ímplicada cm cada situação, uma qualidade objetiva
(“olj›'ective quulity"). A pmp0'51't0, diz também Adorno: “O conceito de sentido en-
volve a objctividade além dc lodo agir'Í
O que distingue 0 encontro de semido, em comparaçâo com a percepção
gcstáltica, é, no meu entender, o seguintez o que se percebe nâo é simplesmen-
Ie uma figura, que nos salta ante os olhos a parlir de um “fundo).' Mas sim› na
pcrcepção-de-sentido, a descoberta de uma possibilidade a partir do fundo da re-
alidade. E essa possibilídade é sempre únic.1'. Efémera. Contud0, somente ela é
efêmera. Sc essa possibilidade de sentído se realiza, se 0 sentido é cumprido, então
se cumprirá de uma vez por todas.
O scntidv devc scr cncontrada mas náo pode ser produzido. O que se deixa
produzir ó um sentido subjctiv0, um mero sentimento de sentído, ou de absolu-
ta falta de sentído. E ísso é naturalmente compreensível se pensarmos que 0 h0-
mcm, que não é mais capaz de encontrar um seutido em sua vida, ncm tampouco
de inventá-lo, a ñm de -cvad1'r-se do sentimento de vazi0, de absurdo ou de falta de
,mw›sw-
5
g
i
LJ
llg
 
1\.'1RunUL,Au
semido cada vcz mais difuso, crie arbitmriamcntc scnlidos subjclims ou conlras~
sentidosz enquanto aqucle acomece num palco - tcnlro do ub~.urdo! -. cste se dá na
embriaguey., no êxlase, cspecialmentc naquele cstímulado pclo LSI). No enlant0,
nessa embriaguez corre-se U risco dc passar longc do vcrdadeiro sentido. da mi5-
são autêmica que nos espera lá fora. no mundo (em conlraposiçãn às vivéncias de
sentido meramente subjetivas, em si mcsmas). lsso mc la'/,' lembrar os animais
de laburatório que tivcram elctmdos plantados em scu hipotálamo pur pesquisa-
dores c.1'lifornianos. Sempre quc a corrcmc era conectmla. os animais cxperimcn-
tavam um sensaçào de contentamenlo. quer dc impulso sexuaL qucr dc impulso
uo alimcnto. Por ñnL cles própríos aprenderam a conectar a correnle, ¡'gnornndo,
contudo, n parceiro sexual e o alimento verdadciro que lhes eram otbrecidos.
O sentido mio só dcvc, mas padu scr cnmntrudu, c a co¡1.sc¡'énc1'a conduz o
homem em sua busca. Em .s*íntesc. a con.«:iéncia é um órgào do senlida Podemos
deñm'-la, entâo, como u capacídade íntuítiva dc descobrir o rastro do sentido -
único e singular - escondido cm cadu situ.'\ç.1-'0.
A consciênciu é um dos fcnómcnos muis espcciñcamente humanos; mas
nào apenas humano. É também dcmasiadamente humano. e de ml' maneira que
participa na condition hunwinc, e portanto c' marcudn por sua ñnitudc. Só assim
se compreende como a consciência pode, às ve/.'us, cng.'m.1'r-s›c. e lambém desvínr o
homem. Mais do que issoz até o derradciro moment0, até o último suspiro, n ho~
mem não sabe se realmeme cumpriu u senlido da vida ou nntcs somente acreditou
té-lo cumprid0: ignommus ct ignombinms. Desde Peter WusL “incerte7._1 e risco"
penencem ao mesmo grupo. Por muis que a coustiéncm possa deixur o homcm na
incerteza quamo à questão de sabcr se comprccndeu e capturou o scmido de sua
vida, essa “incerteza” não o desmuiná do “risco" de obcdecer à sua constiéncia ou.
em prímeiro lugur, de escutar n sua vo7..
Mas não só o “risco” pcrtcncc àquclu “inccrteza',' senão igualmcnte a hu-
mildade. O fato de que nem em nosso leito de morte chcgaremos a saher se 0
Órgão-d0›sentido, nossu consciénc1'a, tbi ou nào subjugado a um cngano-du-
-sentido. signiñca igualmeme que é a consciéncm dm outros aquela que pode ter
razão. Isso não quer dizer quc não existe ncnhuma verdadc Só pode cxístir uma
verdade; mas ninguém pode sabcr se é ele e não um outro que a lem. Humildade
 
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lú O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
s¡'gniñca, portant0, tolerância. Tolerância, contudo, não quer dizer indiferença.
porque respeítar a fé dos que pensam diferente não signiñca necessariameme
identiñcar-se com esta.
Vivemos numa era em que o scntimento de vazio se propaga ímensamente.
Nesta nossa época, a educação tem de cuidar não só de transmitir o conhecimento,
mas também de reñnar a consciéncia, de modo que o homem aguce 0 ouvido a
ñm de perceber as exigências e desaños ineremes a cada situaçãa Em um tempo
no qual os Dez Mandamentos parecem perdcr 0 seu valor para tantos e muitos,
o homem tcm de estar preparado para perceber os dez mü mandamemos cifra-
dos em dez mil situaçóes com as quais ele confronta sua vida. Porque isso não
só faz com que sua vida se apreseme novamente plena de sentido, senâo que ele
próprio também se imunize contra o conformismo e o totalítarísmo - essas duas
consequências do vazio exislencial; pois somente uma consciência dcsperta 0 tor«
na “resistentemenlewapazí de modo que ele nem se sujeile ao conformismo nem
se curve ao totalitarisma
De um modo ou de outroz mais do que nunca a educação é, hoje em dia, uma
educação para a responsab1'lidade. E ser responsável signiñca ser seletívo, ser mai-
culoso. Vivemos no Ventre de uma ajluent sociery, vívemos inundados de estímulos
provenientesdos mass media e vivemos na era da pílulzL Se não quisermos at0'gar-
-nos numa torrente de estímulos, e nem perecer numa promiscuidade completa,
enlão devemos aprender a distinguir emre 0 que é essencial e 0 que não é, entre o
que tem sentido e o que não tem, entre 0 que é responsável e 0 que não é.
Sentido é, por consegu1'nte, o sentido concreto em uma situação concreta.
É sempre “a exigência do momento'.' Esta, por seu turno, encontra~se sempre dire-
cionada a uma pessoa concreta. E assim como cada sítuação tem sua singularídade,
de igual modo cada pessoa tem algo de singular.
Cada dia, cada hora, atende, pois, com um novo sentido, e a cada homem
espera um semido distint0. Existe, portanto, um sentido para cada um, e para cada
um existe um sentído especiaL
De tudo isso resulta o fato de que o sentído, de que aqui se trata, deve mudar
de situação para situação e de pessoa para pessoa. Ele é, contud0, onipresente. Não
há nenhuma situação na qual a vida cesse de oferecer uma possíbilidade de sentido,
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e não há nenhuma pessoa para qucm a vida não coloque à dísposição um dcven
A poswsibilidadc dc realízução dc um sentido é, em cada caso. u'm'ca, e a pcrsonah'-
dade que pode realizar~sc é ígualmcnte .s*ingular em cada caso. Na Iitcralum Iogotc-
rapêutica encontram-se os traballms publicados dc CnscíanL Crumbaugh, Dansart,
Durlak, KratochviL Lukas. Mason, Mc¡'er, Murphy, Planova, Popiclski. Richmond.
Ruch, Sallee, Smith, Yarnell e Young, dos quais sc conclui que a possibilidadc de sc
encontrar um sentido na vida é independeme dn sex0, do coeticiente de ínteligén-
cia, do nível de formaçãm é independente de scrmos religiosos ou não." e, se somos
religiosos, de que profcssemos esta ou aquela conñssão. Pur h'm, demonstrou-se
que a descoberla de um sentido é indcpcndcnle do carátcr e do ambieme.
Nenhum ps¡'qu1'atra, nenhum psicoterapeuta - também nenhum logotera~
peuta - pode dizer a um paciente qual é o sentído; comudo, podc muito bem ah'r-
mar que a vida tem um sent1'do. Sim, e maisz que cste sc conscnm sob quaisquer
condições e circunstância5. graças à possibilídade de encontrar um sentido tam-
bém no sofrimenm Uma análisc fenomen0lógica da vivéncia in1ediata, aute'ntíca,
tal como podemos experimentar no despretcnsioso e simples “homcm da rua',' e
que precisa apenas ser traduzida para uma tcrminologia cientíñcau propriamcnte
revelaria que o homem não só - em virtudc de sua vontade de sentido - procuru
um sentíd0, senão que igualmente 0 encontra, por três cam1'nlms. Em primeim
lugar, vê um sentido no que faz ou crizL A par disso, descobre um senlido nas ex-
períências que víve ou em amar alguém. Mas também descobrc, evcntu.'llmenle,
um sentido em uma situação desesperadora com a quaL desampa1'ado, se defronta.
O que realmente conta é a firmeza e a atitude com que ele vai ao encontro de um
destino inevitável e irrevogáveL Somente a ñrmeza e a atítudc pcrmitcm que o
homem dê testemunho de algo daquilo que só ele é capazz transthrmar e rcmodc-
lar o sofrimento no nível humano para lomá-lo uma realização. Um estudanle de
medicína dos Estados Unídos me escreveuz
' Algo de que nâo precisamus admirarmu~nos, visto que considcnunos que alguénn tcnhn consciéncia
religiosa ou nn'u, pode muíto bcm ser rcligioso dc mnncira incunsciente, ainda que 0 seja no scnlido
lato do tcrmo, tal como o fomm. por exemplo. Alhen Einstein, Paul Tillich c Ludwig ngcnhlcín
(vcr p. 88-89). 
 
 
ZE 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
Recentemente. ta'|eceu um de meus mclhores amigos porque não con-
scguia cnconlrar um scmida Hojc. contudo, eu sei que pudcria muilo bem
té-lu ajudado, graçns à lugoterap1'a, se ele cstivcsse Vivo. A sua mone. to-
davia. me scrvirá para ajudnr aqueles que sofrcm Acrcdito não haver um
molivo mais profundo. Apcsar da tristeza pela mortc de meu amigo. apesar
dc minha corrcsponsabilidade pela sua morte, sua existência - c scu não-
-mais-acr - é algo excepcíonalmenlc carrcgado de scntidu Se algum dia eu
tiver tbrças para trahalhar Como médíco e mc encontrar à allura de minha
rcsponsabilidadc, cnlão cle não tcrá morrido cm vão. Mais do quc qualquer
outru coisa no mundo. qucro rcalizar istoz impcdir quc uma tragédia como
csta acontcça novumcnte - que não acomcça a mais ninguénL
Não há nenhuma situaçâo dc vida que seja realmeme sem sentido. Isso
ocorre porquc os aspcctos aparentemente ncgativos da cxisténcia humana, espe-
cialmente aquela tríade trágica na qual convergem 0 sofrimento, a culpa e a morte
também podem plasmar-se cm algn positivo. numa realizaçãa Mas, é clar0, me-
diante uma atitude e ñrmeza adequadas.
E ainda há um vazio existenciaL E isso no meio de uma “ajlucnt socicryÍ
que nào deveria deixar insaxisfeita ncnhuma das neces.s'idades que Maslow deno›
mínou fundamcnlais. Isso se deve ao fato de que essa sociedade só satisfaz neces~
sidades, mas não a vontadc de sentida “Tenho 22 anos',' escreveu~me certa vez
um estudante amerícano. “Tenho uma formaçào um'versita'ria. tenho um carro de
lux0, usufruo de uma completa indepcndéncia ñnanceíra c tenho à minha disp0-
sição mais sexo e prestígio do que sou capaz de suporlan Mas 0 que me pergunto
é qual 0 sentido de tudo isso."
A sociedade do bem~cstur traz consigo uma profusão de tempo livre que
oferece. é verdade, ocasião para se conñgurar uma vida plena de sentido, mas que,
na realidade, não faz senão aflorar o vazio exislenciaL tal como podem observar
os psiquiatrzls nos casos da chamada “neurose dominicaPÍ E esta, ao que parece,
encontra-se a aumentar. Quanto a isso, enquanto 0 Institut für Demoskopie de
AllensbaclL em l952, comprovava que a quantidade de pessoas que considerava
o domingo um dia dcmasiadamente longo perfazia os 26%, hoje a cífra chega aos
37%. E toma compreensível 0 que añrma Jcrry Mandelz 
INTRODUCÃO
A técnica poupou-nus dc emprcgar lodas as nnssas cnpacidadcs cm
prol da lula pela existência'. Criamos. purlamol um Estado dc hcm-csmr
social quc garanle quc sc possu enfrcnmr a v1d.1 scm csfurço pcsan
Quando se chcgar ao ponm cm quv. grnças à lécnicn. 1590 da populaçáo
americana scrá sulkicmc pura atcndcr .15 ncccxaidadcs dc Imla a naçâo.
enlão se apresemarão n nós dois prohlcmag qucm furá parte dcsscs l5%
que irão lrabalhar c o quc dcvcrâo fazcr 05 dcmm'.s com acu Icmpo Iwrc -
e com a pcrda du wnlido da vida? Pode scr quc a Ingotcrapia Icnha nmis
o quc dizcr ans Estudos Unidns dn próximn século do quc jà lcnha dadn
aos Estndos Unidos dcstc sécula
lnfeh'21nenle. a problem:itica. nqui c .'|g()r.'l, é outnu frcqucnlcmcnte é 0
desemprego que conduz à abumiáncíu dc tcmpo livrc, c já cm 1933 dcscrcvi u
patologia de uma “neurose dc dcscmprcgnfÍ Scm lmbnlho. a vida parccia às pes-
soas um absurdo - elas mesnms semium-.s'c imilcisx 0 muis oprcssivo nào em 0
desemprego em si, mas o scmimenlo dc vulxio cxistcnciaL 0 homcm nào vivc 56
dc seguro~descmprcgu
Em contraposição aos anos l930. a crisc cconómica hoje é de ordcm
energét1'ca. Pura nosso cspantm tivcmus dc dcacobrir quc us fomcs de encrgiu
não são perenes. Espero que nàn se tnmc pur uma frívulidadc a .\'ñrnmç.1'-u quc
ouso fazer de que a crisc energética c scu impedimcnlo incrcmc ao crcscimcnlo
econômíco oferecan no quc di7. rcspeilo à nussa vuntndc dc scntidu frustruda.
uma oportunidade u'nica e grandiosu. Tcmos u oporlunidadc dc rccupcmr 0
“sen-ti-d0'.' À época do bcm-estar sociaL u muiuriu das pcswus tinha o suli-
ciente para viver. Mas muitas não sabinm para quc vivcr. Donwunlc podc muilu
bem acontecer uma transposição dc énfusc nos mcins dc vidu puru um objctivo
de vida, para 0 sentidu da vida. E, ao comrário dns fontes dc cnergl'a, o scntido
é inesgntável e 0nipresente.Com quc direito, porém, arrismmomos u dizcr que u vida ccssa dc ler um
sentído para algue'n1? lsso se devc ao fato dc quc n homcm ó capaz de convcrtcr uma
situação que, humanamentc consl'derada. nào lcm saídu cm ncnhuma rcalização.
É por isso que existe no sofrimcnto uma pnssibílidadc dc semidu Evidcntcmcmn
cslamos a falar de situaçõcs insolúveis c incvitáwis quc não sc dcixam mudiñcan
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30 0 SUIJRIMFNIU l1I3 l7M¡\ \'l|),\ .\l-M \›I'N I IIIlI
dc um 's.ol'rimcnto cnm quc nào sc podc acabnn Comn médim. pcnsu nntu¡'n|1nc¡1|c
nas dncnças incuráwi5. cm carcimmms que nño sc podcm muis opcrmz
.›\(› cumprír um scmid(), 0 hnmcm rculilxu n si 1ncsmo. Sc cumprimos u
sentido du sofrinlmto, rculimmos cnlào 0 que dc nmis humnnn u lmmcm tcnu
-.1madurcccmus. crcsccmm ~ c1'c.s'ccnw.s pam ulém dc nós mcsn1os. Prccismncnlc
'.u', omlc nus mcontrunms dcx.”.\n1p¡u".1dns c dcscspcra1dos. quundn cnfrcnlaumw si
luaçõu quc nãu sc podcm mudan prccisamcntc aí Ó quc somos cl1.'\nI:uI(›s.', c nos
ó cÀ\'igidn. a mudar u nós mc.s'mos. E ninguém dcscrcvcu isso com mais cmuidào
do que Ychuda Bacom que cstcvc cm Auschwiu quundo aimla cm um mcnino c
sofrcu dc (›bsess(›c.s' depois dc suu lÍbCl'l'.lçkl-():
Vi um cnlcrro, com nuísica c um magníiico cníxàu morltuirim c cumccci
a rirz cstão Inucns, ludn isso por causa dc um únicu c-.\dávcr? lendu ia a
um mnccrto ou zm tcalru. linhn dc calculnr quunm lcmpn cra prcciso para
cxlcrmimr. cm càmnram dc gás. us lwssuas ali rcunidnsx c quunlaw pcças dc
roupaL dcmcs dc ouru c sacos dc cubclus sc podcriam juntaua
E então pcrgunmmm a Ychuda Bacon quc scnlido podcriam lcr os anos cm
quc passaru em Au.s*chwiU,':
Quando rapa7,. pelrsavm vuu contar uo mundo 0 quc vi cm Auschwilz ~
na cspcmnçn dc quc 0 mundo su lornaaxsc outm. Mas 0 mundo nào mudou. c
o mundo nuda quis quir sohrc Auschwilz. SÓ muilo nmis lardc comprccndi
Vcrdadcirumcnlc qual é u scmido do sofrimcnta O snfrimcnlo lcm um scn-
tido quando m mcsmo tornas~lc outm
 
'vJ~à
'-"W~-¡~" *--«--=N.L_
 
 
 
.J'
sapm ..t"3' -' T›'" '
\.
 
' ”A” RWEÇUFMAN|ZAÇÃO
DA PSICOTERAPIA
Conlerênclas pmíeridas no comexlo da
Semana Unlversllárla da Universldade de Salzburg
em 1957, a convlle de sua dlreção.
 
 
1
Freud, Adler e Jung
Defrontar-$e com 0 dever de thlar da contribuíçào da psicoterapia à íma~
gem do homem de hoje signiñca defrontar~se com uma escolhm a saben a escolha
de proceder príncipdlmeme de maneira histórica ou emào principalmeme de ma~
neira sislemática. E essa escolha 's.igniñca uma torturm porque no caso concreto
da maneira sistemàticm terinmos de desenvolver uma polissistcmálica; p0is, pam
o atual estado do conhecimento e método psicoterapêutiv:os. vale unm \'nriante
da sentença. que soarín assimz Quut mpim mr sysrenmm Em outras pal.¡-\'ras. sería
algo ilimitado pretender aqui .1-nalisar mmbém ns mais imporlantes e correntes
sistemas psicoterapêuticos. A nào ser quL= imentawse exigir de meu público uma
paciência sobre-humana. Sim. mais do que issoz teria de presumir uma aprecia-
ção insuñciente sobre o conhecimemu da psicoterapia que já tum. Dinnte desse
dilema. decídi~me a abordar o tema não de modo histórico ou sistemátícm mas
cr1'tican1ente. Mas tambénL a respeilo di550. dá~se que nem podemos limitar-nos
a um só dos grandes sistemas, nem tampoucn estender~nos ao conteúdo geml de
cada um deles. O que somente intcressa. pormnto, é destacar um denmninndor
comum, isto é, no semido concreto de sublinhar a tbnte de perigos e crros inercn~
tes a todos os sistemas.
Espero que, no àmbito de minha e.\'posição. se evidencíe que o psicologismo
dinámico é uma das mais consideráveis to_n¡e'› de perigos e errOS prescmes nn atual
psicoterapia. Muito menos conseguiram manter~se livre de todo o psiculogisnw. 
H U SUFRXMFNIH IHÍ lÍMA \'Il)r\ \F.\1\H\'l'll)0
ou atuar livrcmente sobre cle, os três clássicos da sistemática psicoterapéutica,
Freud, Adlcr c lung. Considcrando que a psicoterapia atual jaz nas trés colunas da
psicanáll'se, da psicologia indivídual e da psicologia analíüca, parece aconselhável
ponderar as duvidals ames mcncionadas e depois passá-las em rev1'sla.
É-nns cvideme quc Freud tbi “o” pionciro puro c simples no campo da psico-
lerapia e "0" gónio no que diz respeito à sua própria pcrsonalidada Se de repcnte -
se assím possn cxpressarmc - me tbssc cxigido fazer um esboço dos ensínamcntos
de Frcud, eu diria que foi mérito scu haver colocudo a questâo do senüd0, conquan-
to lhc dessc um signiñcado difercmc do nosso ou mesmo não lhe dcsse nenhuma
resposla. À medida que o fez. essa queslão foi colocada no âmbilo do cspírito dc
scu tempo, islo é, cm um duplo aspectoz primeiro no aspecto matcriaL uma vez que
Freud encontrava-se preso ao espíríto da chamada cullura de veludo vitoriana - pu-
dica de um lado. ldsciva. dc outro -, c segundo, no aspccto tbrmaL uma vez que suas
concepçóes tinham como basc um modelo mecânico que não era de ncnhum modo
o mais eñcaz só porque se chamara (eufemisticamente) “dinâmico'Í
Em especiaL Freud se empenhou em interpretar 0 senlido dos sintomas
ncuróticos, o que o levou a avançar sobre a vida inconscienle da alma, descobrindo
assim, nem mais nem mcnos, toda uma dimensão dn ser p51'quico. Mais tarde, no
ámbito do "inc0nsciente“.' conscguimos ver e reconhecer nlgo maís do que meros
instimos e inconscicme inslint1'vo, tendo conseguido comprovar a ex1's.'tênc1'a de
algo assim como um inconscienle espirituaL uma cspiritualidade inconsciente e
até uma te" inconscientc;' tudo isso tàz parte de uma outra página e nào reslrínge o
mérim hístórico que observamos na obra c no pcns.1'mcnto de Frcud.
Para Frcud, 0 sentido dos sintomas neurólicos era ínconsciente não apenas
na acepção de “esqucciddl mas também na accpção dc “reprimido”.' Qucr dizer,
lratava-se de um sentido que fora empurrado para 0 inc0115c1'ente. Isso porque tudo
que se lomara inconscienle ou sc ñzera inconscieme cra algo desagradáveL No en-
tnnto. os conteúdos respectivos da conscPCnCía eram dcsagradáveis segundo 0 siste-
ma de coordenadas daquela cultura vitoriana de veludo, de que se falou há pouco.
' \'iktor E. FranU', A Pwsvnça lgnomda de l)cus. de. Walter 0. Schlupp e Helga H. Rcinhoch Sáo
Lcopoldo, Sinodal l Petrópoh's, \'ozes. 2008.
 
 
HDLI lll lUNhfRIliH
Compreendc-56 de igual modo que. para aquclcs pacicmcs pudicos da pnssagcm
do sécula o quc primciro sc lcvava cm conm cra n rcprcssño da scxualidadc. Nào
esqueçanws. porénL quc a c.\^tcnsào do cnnccitn dc ~.cxuahdadc na psicanállsc c'. dc
u1111ado. mais amplo do que 0 dc genimL c. de nutro. mms rcstritu dn quc 0 conccilu
de libido cunhado por Frcud.
Para a psicanálisc. n ncurose inc|I'n.1'-sc. nñnnL a um cnmpmmism a um
cmnpmmissu cmrc os inminlm connitivos entrc si ou cmãn cnlrc .1s¡,1rclcnsócs dc
divcrsas insmncias intrapsiquicahz cumn as quc âào dcnumindes pclal psicanálhc
dc id, ego u .s*upercgo. Um Compmnússu é tamhúm a nalurclxn duquiIu quc Frcud
chamou de atos fhlhng c o mcsmo sc podc dizcn por ñnL dn nalurcla do sonho.
Assim, paru cilar um exenlplo, qunndo um n.-1cíonal-socialisla dizia quc. cm umn
daquelas famigcradas 1'nstí1uiçóc.s' nndc sc praticmmm a cutanalsiag sc “.1's.s^asu'n.'1-
vam" - e não sc “intcmavam" - p.'|c1'cmCS, ou qu.1ndu um pnhtico socialllsta thlava -
c cu a isso prescnciei ~ nào dc “prcvcnç.\"u cnntm .1conccpçào". nma dc "prc\'cnç.io
contra a famlidadél é claru quc em ambos ns cusos sc impós algo que furu vítimu
da rcpressão ou que pclo menos fora condcnadn a cLL
Quanto ao sonho, 0 cnmpmmissu sc Llai por calusu du prctcnsa ccnsum do
sonho, e lbi Max Schelcr qucm primciro chumnu u alc¡1ç.1"npara cssc ponlu fraco
da p51'cana'lise, a sabcr. a aporia dcssc cnnccílu. quc rcaidc m idciu dc quc a inst.in-
cia que rcprime, censura e sublima nún é algo quc sc pmsa dcdunr dns insh'ntos.
os quais proporcionam o quc do rcprimido ~ c, conscqucnlcmcnm nào podcm acr
por si mesmos o quom da rcpressàa Cuslunm axplicur cssc aspccto alus nuvimcs
de minhas conferéncias por mcio dc uma cnmparaçãm aindu nãu acontcceu dc um
rio construir sua própriu rcprcsa.
No enta1m›, a psicwálisc cumctcu u crm dc limilar u campo dc visào nãn sú
em relação a uma “genc.1'login da mnral'.' qucr d¡/.cr, Cnmu um hllPUSlO apoiu u th~
vor da repressão do 1'nstinlo, mas taunbóm cm rcl.'1g.1"oà lclcologiu quc dominu o scr
psíquico, visto que prcssupõc U príncípiu -- dcduxido da hiologiu - du humwslusc.
o qual valeria, em primcim lugaln no âmbitu dn naturuum c. cm scgundo. no da
cultura. Em síntese, e em scnlido cstr1'lo, isso s.*igniñcaria mmn quanln admitir quc
0 humem está deslinudo ou sc dcixa destinur "a duminar c a rcmuvcr (› ncúmulo
de excilações e estímulos que recaem sobre elc dc dcmm c de Íbrafl c quc “para
|\
 
l› FREUD. ADLER E IUNG0 SOFRIMENTO Dlí UMA VIDA SEM SFNTIDU
 
senão também como reação diante da doença, da fmqucm e da deforn1idade.isso serve 0 aparato anímicdÍ2 'A's tendências principais admitidas por Freud estão
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HO sentimento dc infcriorídadc cxigc por sua vcz a compensação; scja no ãmbilopcnsadas em termos hmneostáticos. Quer dizer, Freud explica toda açâo como
da comunidade. e eventuulmente na sua cxprcssão, o "scntimcnto dc solidaric-colocada a serviço do rcstabelecimento do equilíbrio perturbado. Todavia. essa
 
hipótese, vinda da física de seu tempo, e segundo a qual a distcnsão seria a única
tendéncia básica primária do ser vivo, está completamente errada. O crescimento
e a reprodução são processos quc resistem à explicação através e tão someme do
princípio homeostálicoÊn Portant0, nem sequer no âmbito da dimensão biológica
se faz valer 0 princípio homcostát1'co, para não falar do àmbito psicolo'gico-noo~
lógicoz “A“qucle que cria',' por exemplo, “coloca seu produto e sua obra em uma re-
alidade posítivamente concebidm enquanto a aspimção ao equilíbrio daquilo que
se acomoda à realidade é concebida ncgalivamente'Í" Gordon W. Allport também
assume uma posição crítica em relação ao princípio da homeostascz
A molivação é considerada um esmdu de lensãu, que nos leva a buscar
o cqu1'líbrio, o Sosscga a aconwdação, a salisfaçào e a homeoslasc. No qua›
dro dussa visão do 5cr humamn a personalidndc não é nada mais do que 0
modo dc dimínuir nnssas tcnsÕcs. Naturalmel1le, essa pcrspcctiva casa per~
tc'ilameme bem com a concepça-'o, que servc de basc ao empir1'smo, scgundo
a qual o homem é imrinsecamente um ser passivo que recebe impressóes
úníca c exclusivumcntc do cxlerior c rcage única e cxclusivamentc a e|as.
Isso podc scr baslantc correto quando temos dc lidar com a natureza da
aspiraçâo cspeciñcameme humana, cuja característiü própria é justumentc
a de não se cncontran de modo algum, \'0cnci0nada ao equilíbrio ou à redu-
ção das tensñes - pelo contrário; é vocacionada à manutenção das tensões.
Alfred Adler, em contraposição a Sigmund Freud, vai muito além do psi-
cológico, uma vez que recorre, em primeiro lugan ao biológico sob forma de
"inteári0ridade ()rg.1'm'c.1".' Esta, como fato somálic0, conduz ao “Scnlimemo de infe-
rioridade" como rcaçâo psíquica - não só cm relação a uma ínferioridade orgânica,
'~ Sigmund Frcud, Gesammclre Wcrka Frankfurt, S. Fischen voL XI, 1940 p. 370.
“ Charlolte Bu"hler. Psyclwlagische Rundschau. H.1n1burgo, vol. VIlll l, 1956.
* lhidenL 
dade" - a parrir daqui se moslra quc, para além do biológ|'co, sc comprccndc
um momento sociológico -. seja na condução a uma compensação ou a umn
supercompensação desse sentimenlo pam alóm da a›nmn1'dnde. 0 que, segun~
do a teoria da psicologia individuaL constítui a naturcza da ncurusa A pctilio
principii da impulsividad'(. quc se rcprimc a si mcsnm, scgundo a pcrspcclm psi-
canalitica, corresponde tambc'm, nu âmbilo da psicologia individuaL a uma nu~
tra petitia principii à medida que, comn conscquênau du tcoria de Alfrcd Adlcr,
não é uma instância pessoaL senão uma instâncm social quc delcrmina a aliludc
e a oriemação do homem para com a comunidadez decisivos sã0, cm relação a
ísso, as círcunstância5, a educação e 0 ambiente social - sc podemns acreditar na
psicologia individuaL
Ao discorrermos agora sobre C, G. lung e sua psiculogiu anal¡'tica, nunca é
bastante saliemar o mérito a ele impumdo dc, cm seu tcmp0, islo é, nos primeims
anos do século, ousar deñnir a neurosc como “o sofrimento da alma que não en~
controu seu sentiddÍ À vista diss0, tanto maís tcmador é o p*s.icologismo analítico
associado à psícologia analíüca. O mérito de tê~lo delinitivamcnle dcsnmscarado
pertence, sobretudo, ao barão Victor E. von GebsattcL que, em seu Christcntum
Lmd Humanismusf apresema a pessoa como uma instâncía suprapsicolo'gica. a
qual ele sente faltar na imagcm dc homem aprcscmado porlu11g. Só essa instâ11cia,
orienlada a critérios adcquados a ela, é capaz dc instituir uma ordcm igualmcnte
no caos dos motivos religiosos e das expcriências intcrnas quc lhc ofcrccc o ¡ncuns~
cieme - ao aceitar uns e ao rejeitar outms. Todavia. nessa imagcm de ser hum\ano
falta a instância capaz de encontrar a decisào perante as “crinç(›es du inmnsc1'ente'.'
Deus é escolhid0, mas não na decisão da fé. “Se isso não é psicologismo'.' díz von
GebsatteL concluindo, assim, sua exposição. “então sc pode dizer que o clefame é
uma margarida e añrmar justamemc que se é um bolân1'co'."'
'Vicl0r E. von GcbsaltcL Chrtsrvnlum zmd Hmmlnismui SluugarL chlL l947.
" Ibídem. p. 364
 
3N O SOFRIMENTO DF UMA VlDA SLM SENTIDO
Amargas palavras dirigidas à psicologia junguiana também se encontram
em Schmid. quando estc diz - e a censura por isso - que aquela se lornou uma reli›
gião. Os novos dcuscs scriam os arquétipos. Só com rete~rência a eles se proporciona
à vida seu scntido. O derradeiro apoio metafísico do homem enconlrar~se-ia. con-
sequentenaente, em si mesmo, e sua “psique” seria algo assim como um modemo
Momc Olimpo povoado de dcuses arquctípic05. A psicotcrapia individual tornar-
-se-ia uma açãn sagrada, c a psicologl'a, uma concepção de mundo. “Perguntamo-
-nos'l segundo as palavras de Hans Jórg Wtitbrechn “com cerla admiraça'0. como é
possível quc haja teólogos que não se dào conta dessa rcdução consequente de toda
lranscemíência à imanéncia psicológica e p(›dem. além d1'ssu, ser convictos discí~
pulos dc lung'.' A transccndência é reduzida até mesmo a uma imanéncia biológi-
caz "Herdam-se os arquétipos com a estrutura ccrebrah são inclusive seu aspecto
psíquicoÍ" Mais do que issoz dois estudiosos americanos “parecem ter conseguid0','
dísse Jung com ar de triunfo, “provocar, através de cstímulos ao tronco encefálic0,
a visão alucínada de uma thrma arquetíp1'ca'.' isto é, “do chamado símbolo de man-
dala, cuja localizm;ão, neste tronco enccfálico',' C. G. Jung “há muito tempo presu~
mia. Sc tbr possível conñrmar essa idcia dc uma localização do arquétipo mediante
experiências po.s'teríores, então se aumentaria consideravelmente a probabilidade
da hipótese da autodestruição do complexo patogénico por meío de uma toxina
especíñca, e então sc predisporia a possibílidade de entcnder o processo destrutivo
como uma espécie de reação de defesa biológica falida'.' Em toda essa questã0, não
podemos ignorar que Medard Boss, por excmplo, denominou “a noção do arqué-
tipo como um produto abslrato, e hipostasiado, do isolamento mental'Í
Seria insistir no erro pretender veriñcar a leoria do psicologismo dinàmi-
co a partir da terapia, ou seja, “cx iuvantíbusÍ Há muitotempo que descobrimos
quc. no àmbito da psioterapia, o respeito muilo difundido para com (f'acts” e
"ejfíciency” encontra~se descolocado e obsolet0; já não é mais possível ater-se
ao mandamento: “Pelos seus frutos vós os conhecereis'.' Independentemente do
respectívo método psicoterapêutico empregado, a porcentagem de casos cura-
dos ou signiñcaüvamente melhorados oscila entre 45% e 65% (Caruso e Urban,
7 C. G. lung, Scclenprablcme dcr GcgcmvarL Zuriquc, Rascher Verlag, voL 3, l946, p. 179.
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AppelL Lhamon, Myers e Harvey). E somentc em casos cxccpcionais. como na
clinica ambulatorial psicotcmpêulicu dc Eva Nicbauer, dirigida scgundo os prin-
cípios da lugolerap1'a. rcgistra-se uma indice de alú 75%. Mnis do quc issoz B.
Stokis póde mostrar quc casos cxlmordinários de sua “união pcssonV dc pacicm
tes tratadus com ajuda de métudos psicoterapéumos antagónicus tinham alcan~
çado os mesmos rcsullados favorávci5. É também igualmenm conhccido quc a
porcentagem de curas permuncnlm é indcpcndentc do métodn psicoterapéulico
empregado; a única coisa quc divcrgc é a duraçàn do lratamcnlo. Para além dis-
so, deve-se acrescentar quc numa clínicn eslrangcira se pódc comprovar quc os
pacíentes que se encnnlrawun na lista de cspcra. islo é, ainda nãn apreciadns
pelo tratamento psícolcrapéutic0, aprescntaranh mediante tcstes, mclhoras ob~
jetivas cujas porcemagens revelanuwse signiñcativamente mais elcvadas do quc
aquelas de pacientes cm lratamcnm Quem nào se lcmbm aqui da indicação dc
Schaltenbrand, scgundo a qual as mcdídas tempêutims comm a csclcrose mu'l-
tipla, quando não conduzem a mclhoras cm uma porccnmgem delerminada de
casos - ou seja, em uma porccnlagem que corresmmda à tcndéncia cspontànca
de remissão da doença -, equivnlem já u uma Icsão do paciente?
Para entender ludo isso, é precíso distunciarse do prccunccito cliológico dc
que a psicoterapia, em especial a psicanálllm nào é cñcicnle no scnlido de uma tera-
pia inespecíñca, senão no scntido de uma 1erapia causaL Mus ncm todos os tão incri-
minados complexos, conHitos e sonhos aqui mencionados ~ c u cujo dcscobrimcnto
atribuem os métodos psicolcrupéuticos seus possívcis êxitos - são tãu patogéni~
cos como se pensa ou se sup›(e. Na vcrdadc, como mcus colaboradorcs thcilmcntc
puderam demonstrar ao longo de levuntumcntos CSldÍÍSliC()S. uma série não sele-
cionada de pacientes de nossa clínica neurolúgica lraziam consígo muilo muis com~
plexos de traumas e conflitos quc uma outra série de casos, lambém não selctivos,
da enfermaria ambulatorial de psícoler3pia. E é prccíso csclarccar quc lcvamos cm
conta no cálculo a carga adicíonal de problemas dos docntes neumlógicos_ Seja dc
que modo for, não se pode falar quc os complcx<›S, os conflitos e os traumas scjnm
realmente patogênicos - pelo simples fato dc que sào ubíquos. O quc se toma gemL
mente como patogênico é, na rcah'dade, palognômicu quer dizcr, é mcnos a causa e
muito maís 0 sinal de doença. Quando no quadro de um levanmmcmo anmnnésico
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40 U SOFRIMENTO DE UMA \'H).›\ SLM SLNTIDU
emergem complexos, conflitos e lraumas, acontece algo semelhante ao recite~ que
emerge junto a maré bam"a, mas que não é a causa desta. Não é, portant0, 0 recife
que dá origem à maré baLKm senão a maré balx'a que faz nascer 0 recife. Analog1'ca-
mcnte. uma análise faz añorar complexos que são precisamente sintomas de neu-
roses, indicaçóes de d(›ença. No caso dos conflitos e dos traumas, se trata de uma
tensão e uma exigéncia, em síntese, de um estresse no sentido de Selye, mas essa é
uma razão a mais para se advertír como scmpre, do erro tão disseminado, que vê só
na tensão nlgo de patogênico c nã0, ao contra'rio, no alívio: evidentemente deverá
tratarse de uma certa tensão bem dosada; de fato o estar submetido a um esforço,
o ÊIÍO de enconlrar-se em tensào para realizar uma determinada tarefa pode bem
ser “antipatogênicdÍ Houve poucos Iugares no mundo com mais cstresse do quc em
Auschwilz e cxatameme ali desaparecemm p“raticamentc as doenças psicossomáticas
que com tanto gosro ejrfquência são consideradas condiciomzdas pelo estrcsse.
Porém, nào só os complexos não resultam ser em si mesmos patogênicosz
muílas vezes são até iatrogênicosl Seja como for, Emil A. Guthcil e I. Ehrenwald
mostraram que os pacientes dos freudianos sonhavam com 0 complexo de Édipo;
os dos adlerianos, com os contlitos de poder, e os dos junguianos, com arquétipos
Os íntérpretes dos sonhos não podem mais ñar~sc neles, uma vez que - como bem
añrmam os própríos eminentes analistas - estâo de tal maneira dirigidos que são
muito “bem-vindos" pelo médíco que os trata, quer dizer, correspondem perte'1'ta-
mente às suas tendências interpretativas.
Onde a psicanálise atua tcmpeuticamente, atua, em suma. como uma tera~
pia de sugestào. 0 paciemc não consegue nem sequer compreender a procura
de complcxos reprimidos empreendida pelo médico, a não ser que se informe
sobre 0 procedimcnto dcssa procuru. No entanto, se ele se inforlnn, 0 quc, de-
vido à grandc publicidade dos conceitos fundamentais da psicanálise. é quase
sempre uma regra, demonstra, já pelo simples fato de pór~se sob tratamento
psicanall'u'co, quc o aceitara e se encontra animado pelo correspondente sen-
timento de expectaliva em rclaçâo a ele, que atua por autossugesta'o.“
“ L Berzc, “Psychmhcrapie von Vcrnunft zu \'ernunñ'.' In: Hubert I. Urban (org.), chtschr_iñ zum 704
Gcburtsmg von me. D.r ()m› Po"Izl. Innsbruck. 1949.
 
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"O processo de sugesnío começa antes quc se pronuncic a primeim palavra'.'
assinala M. PHanL e "o conhecimenlo de quc quase em toda terapia tomam parle
no jogo qumas de sugestã0. como mmbém salienla Slokvis, talvcz ajudc a rcmovcr
os preconceitos com que se nmnifesta a sugcstãdÍ
Abstraindo desse tàtor sugcslivm 0 mnmenm da simples oporlunidnde de sc
pronuncíar desempenha igualmeme um papel dc alívío no pacicnle. Com efcito,
nào só a dor “partilhada" mas tamhém a "comparlilhada" é mcia don sc Lsso carccc
de uma prov.1', rccorrercí cntão ao seguintc episódiuc fuí um dia pmcurado por
uma estudante ameríaum interessada cm me íhlar de suas quci.\'as. F.xpressava-se.
contudo, por meio de um jargão tão terrível quc, apesar de todos os mcus estbrçosx
não consegui compreendcr uma sú de suas palavras. Como e|a, añnal dc conlas.
desabafara, c também com o intuito de disfarçar o mcu cmbaraço. cncnminhci-a
a um de meus colegas - também mncricano - com o pretexm dc que precisava
fazer um eletrocard1'ograma. Só quc ela ncm procurou o colega ncm vollou a me
procurar. Na verdade, eucontramo~nos tcmpos LICPOÍS no meio da rua, quando se
veriñcou que a convcrsa comigo lhc havia bastado paru superar uma situação c0n~
flitiva C011creta. e até hoje não tenho a menor ideia do quc ela mc dissel
De tudo isso se conclui que 0 quc a ps¡'cmm'll'se. ao cuntrário dc como ela sc
compreende a si mesma, isto é, no semido que atua por meio de uma convcrsào
do dinamísmo afetivo e da energia 1'mpulsiva, faL na reall'dudc, quando alcança
seu efeito terapéut1'c0. é trazer uma nova oriemaçào eÁ\'í.s'tencial ao pacieme. Se
uma palavra tão em moda não causur horror, podemos thlar com r.-17,ào de um
encontro humano como o agente uuténticu das normas dc tratamcnto psicana-
1ítico. De igual modo, a chamada trzmsfcrência nada mais é do quc um veículo
desse encontro human0, e assim também o entcndc Rotthaus quando comesta
que a transferência representa um pressupusto incomiicional dn prmcdimcnm
psicotcrapêutico. É evidente que uma nova oríentaçào L-*x1'stcnci.1'l~ como aquela
quc vise à análise existcncml de modo dircto c com plenn consciência dc métm
do - considerada como taL quer dizen enquanto e4\'ístencial, ron1pe. pelo menos
tanto quzmto a chamada transferênc1'a. as frnnteiras dos processos meramentc
intelecluai5, racx'onais, e com efeito póe em andamemo um procesxsn tolaL plc~
nameme humano. Devc ser menos cv1'dente. por seu lurno, 0 fato dc quc a nom
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0 SOIIRIMFÀWO IJF UMA VIDA SFM SFNTIDO
orienlação existencial sc sublraia necessarhmente a todo método e a toda técnica;
mas, como já se disse uquL o que menos importa no âmbito da psicoterapia é o
métodn c a técnica empregados. O que conta muito mais é a relação humana en-
tre o médíco e 0 pacientc. Existem casos mais do que suñcientemente registrados,
nos quais se rcvela que aquilo que impressiona ao pacicnte de modo dccis1'vo, c
que torna accssívcis as influências médicas é 0 ser desvestido do próprio papeL
ou seja, o deixar de lado u atitudc díslamcn Parece~me que o sonho de meio século
chegou ao ñm, 0 sonho da eficiência de uma mecânica da alma ou de uma técnica
da psicoterapia ou ~ em outras palavms ~ 0 sonho da possibilidade de se explicar
a vida psíquica com base em mecanismos e de um tratamemo dos sofrimenlos
anímicos com ajuda de tecnicismos.
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A logoterapia
Há agora uma psicoterapiu que reconhccc, de antenm'0, que - ubslraindo
das neumses príncipalmente noogênicas - atua nâo de modo causaL senão no scn~
tido de uma terapía ine.s*pec1'fíca. E delu, isto é. da logoter.-11,›ia, dil Edith Ioclson dn
University ofGeorgia em “Some Comments on a Vienncse School ofPsych1'.1'lry".-'
Com efeilo, é possívcl que a leorin psicodinâmica das neurosns csteja
ccrtu quundo uñrma quc nu géncsc dc loda ncumsc p.1'rlícip.1'm de mamcirn
dec1'siva. na prímcira 1'nfância, os cunílitos instintiv0s. Nn cnt.'1nt0, pouco sc
alcança - cspecialmenle cm pncicntcs adulms - sc nãn sc lcva cm cnnm umn
reorienlaçào para valores c scntidm csscnciaís ao proccsso tcrapéulicu
Em outros termosz 0 que intcressu vcrdadeirameme é a entrega a uma tare-
fa, quero di2er, a uma tarefa pessoal e concreta que se torna clara no decorrcr da
respectíva análise exístenciaL
E uma péssimn moda de nosso tcmpo achar que a psicoterapin “pm-
priamentc d¡(a" deve ser scmpre psicanálisc. Essc tipo dc añrmaçào prcs-
supõc o parecer completamente cquivocado de que no fundo toda ncur0~
se [...] deve ser atribuída a uma atitudc errónca da primeira infância e se
' Edith Joelsom "50me Commcnts on n Viennesc School of Psychiatry'.' Thc Ioumal _ofAbnornml nnd
Social Psychology. voL Sl, n. 3. l955.
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44 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
enraiza profundamente. ponamo, na personal¡'dacle, e que todos os outros
Lrutamemos psicoterapéulicos não passam de um sucedânco de pouco valor,
uma nbra incomplcm, um autocngano do lnédico, etc. Essc perigoso equívo~
co só póde [...] nascer em círculns de trabalho nos quais a sensibilidade para
a prálica gcral da medicina [...] dcsapareceuÊ
Uma psícotcrapia não psicanalítica também tem êxitos dignos de nota.
lsso vale, em especiaL para a escola behaviorista c retlexológica. Ev1'dentemente.
tais éxitos podem ser potencializados, lão logo se arrisque a ascender à dimen-
sâo propriamentc humana. N. Petrilowitsch nos revela 0 que se pode conseguir
com csse fator adicionaL quando añrma que, ao contrário das outras psicotera~
pias, a logotcrapia nào permanece na csfera da neurosa scnão que a ultrapassa c
encontra a dimensão dos fenômenos espccificamentc humanosf De fato, a psi-
canálise, por exen1pl(›,vê na neurose o resultado de processos psicodinâmicos e
tenta, em conformidade cnm isso, lratá-la de modo que promova novos proces-
sos psicodinânúcos, como acontece com a transferência. A terapía do comp0r-
tumento - uma teoria fundamentada na .'1prendizagem -. por seu turno. vê na
neurose o produto de processos de aprendizagem ou condirioningprocesscs e se
esforça, consequcntementc, em iníluencíar a neurose de modo que a encaminhe
para uma espécíe de reaprendizado ou recandítioning processm Em comrapar-
tidu, a logoterapia ascende à dímensão humanau lornando-se. dessa maneira,
capaz de acolher cm seu instrumemal os tbnômenos especiñcamemc humanos
que nela se encontram
Não se pode empregar qualquer método cm qualquer caso com as mes~
mas esperanças de éxito nem tampouco toda terapia pode manejar qualquer
método com a mesma eñc1'ém'1'a. E o que é válido em relação à psicolerapia em
geraL o é. também e partkularmcnte, em relaçào à logoterapia. Numa palavra,
ela náo á uma panaceial
" l. H. SchullL ch scvhschc Kmnkenbvimmilwzg Stuugum 1hieme, 1958.
* N. Petrilowilsch. “Ul›cr die Slellung der Logmherapie in der klinischen Pxçychuthcrapiéí DI'›:
medizimsche \'VL"Í,1"L 2. l9(›4. p.79()›
 
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Contrariamente a ]. H. R. Vnnderpas. que ousou añrmar que “os logolera~
peutas podcm lambém trahalhar scm a ps.*ic.'lnálíse'.' F.. K. lxdermanm do Marlbu-
rough Day HospitaL detbndc u conccpçào scgundo a quul uma análise dn cxisténcia
não exclui a nccmsidadc de uma análíse du libido e que podc acomeccr que csm
última seja necessária para tàzcr com que a prinwira scja eñcaL Em contraposição
a ísso. añrma G. R. Heycrz
É prcciso conlradizcr a hipótcsc. que sc lé com frequéncim dc que cm um
trutamcmo de psicoloW profunda n pnrtc dc descnnstrução "analílica" seria
complcludu mai› Iurdc por uma pnrlc dc cnnslruçào ".sintélic.x"Í Scmclham
tcs concepçõcs são inopormms c pcnsam dc mndn mcuinicuz é cnmo sc a
psique ((› “apamto anímico" dc l-'rcud) se dcs'u›nlpu›c'.xsc primciru c dcpuis
sc construn'.s".sc “sobrc U nnvdÍ Qucm nàn Icva cm considcmção u positívu. u
todo c 0 sã0, 0 “hnmem concrcldl Com suu imagcm sccrclzL c nán sc dirigc a
elc internamultc. dcsdc 0 primciro mnmcnlo c igualmcnlc n.| thsc crílica - e
com ñrmcza -, perdu o quc rcsulta dc dccisivo cm todo lmtamcnm e orien~
tação humanos. Descriçõcx~ cumo a refcrida › das duas lllses nitidamcmc sc-
paradas ~ revelnm quc csses aulurcs ainda sc nlnjam num profundn cncnnlo
peln frcudismo 0rloduxo.
De mancira análoga se cxpre.s'sa, por 1im, A. Maedcn quando evoca e udver~
te por mcio da fórmulaz “Nào há ncnhum csquema cnmo eslcz primeiro a análise.
depois a síntesãí "Parecc-me algo além de qualqucr evidéncia o thto dc quc tcnho
de emrar em cas_a todas as vezes pelo porão c. lodas as vezcs, lr1'llm"-lu e cumcç.1r
qualquer reparo a parlir de ba1'xo."" Lcrnbmno~1105, cunmdo, ncssc conlextm quc
tbi o próprío Freud aquelc que assim Compreendcu a psiczmálisc: “Eu sempre me
detive no rés do chão ou no subsolo do cdifícidl escreveu clc a l.udwig Binsmmgcn
OS dois exemplos quc segucm pretendem esclarcccr como não é indispcn-
sável que a análisc existencial lugolcmpéutíca seja prcccdidu dc umu psicamàliscz
Desde os lrczc anos, Judith K. padecia dc uma agorafhbiu agudaL Já hawia
sído tratada por colegas especialistas proeminuum submetida unm vez à hipnoscx
* Franz Iachym, Kullwlik und Psichotherapin Vienn. l954.
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disso, que scria irremediáveL Na rcall'dade, Como a nós ñcou evidente em pouco
tcmpo, tralava-se não dc uma neurosc psicogénica, mas de uma pseudoneurose.
Rcalrmnte. algumas poucas injcçóes de diidroergotamina tbmm suñcientes para
a paciente se ver inteiramenle livre do problema, de modo que, depois de sua re-
cuperação médic-a, também cessou. sob todas as formas possíveis. o conflíto ma-
trimnniaL É incomestável que csse conflilo existia, mas não cra do tipo patogénico
c. consequemenlente, tampouco era psicogênica a doença de nossa paciente. Se
todo conílito matrimonial toÂsse patogênico, cmão provavclmente 90% dos casados
seriam neuróticos.
Mas não é como se toda hipofunção da glândula tírcoide conduzisse direta-
mente a uma agorafobia; pclo contrárío. o que se vcriñca é que a hipofunção traz
consigo uma mera predisposição ao medo, da qual deve logo apodcrar~se uma
ansiedade amecípatória, cujo mecanismo é baslante conhecido por no's, psícotera-
peutasz um sintoma, em si inofensivo ep.-1.s'sagcir(›, provoca no paciente o rece1'oto"-
bico de sua repetiçãa Em segu1'da, essa ansiedadc antccipaúwia reforça o síntoma,
e, ao ñm, cste, já reforçad0, conñrma aínda maís o paciente em sua fobia. Fecha-se
assim o círculo vicioso, no qual o paciente se vé pre50 e detido, como num casulo.
De tais casos pode-se dizen sc o desejo, comn añrma o provérbi0, é o pai do pen~
samento, então a angústia é a màe do acontecimento, a saber, do processo pat0-
lógíca O propriameme patogênico é, em muitos casos, a ansiedade antec1'pat<›'ría,
enquantn esta é aquela que, antes de mais nada, ñxa 0 sinlomzL Nossa terapia,
contudo, deve atuar ao mesmo tempo no polo psíquico e somárico desse círculo
vicioso, dirigind0-se de um lado comra a predisposição ao medo - prccisamente
pela medicação para csse ñm especíñco - e, de 0utr0. simultaneamente, contra a
ansiedade antecipatória - no sentido daquilo que diremos ao falarmos em seguida
do método da intenção paradoxaL Desse modo, 0 círculo neurótico permanece
inserido numa pinça terapéutíca.
No entant0, o que é que provoca a ansiedade antecipalóría? De maneira tí-
pica, o medo tão frequente do pacíente dianle do próprio med0, e precisamente ao
recear as possíveis consequéncias para a saúde derivadas da sua excilação ansiosa,
uma vez que receia a possibilidade de que ele própriocolabore com um ataque
de coraçào ou com um derrame cerebral que possam vír a atingi-10. Por medo do
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med0. póe-se cm fuga do mcdo, cscnpa dn medo para pcrmancccn pamdoxalmcm
te, preso a ele: tcmus aqui, pois. dc rcmelcr-nus ao modclo da rcaçào agorafóbica.
Nesse senu'do, quer dizcn no scnlido dc quc cxislcm ditbrcnlcs lípos de rcaçâq
distinguimos pois, na logmcrapia clínica. divcrsos mudclos de rcaçào.
Assim como o ncurótico fóbico rcagc aos acus alaqucs de mcdo com mcdo
ao medo, tumbém o ncurótico ubscssivo rcagc.-1 scus ataqUCS obwssivos com medo
à 0bsessão, e apcnas a partir dcssa rcuçio é que surgc a neumsc pmpriamenlc 0b-
sessiva e clinícanwnle n1an¡'lc'stu. É prccisamentc por tcmcr scus alaqucs obscwl
vos que os pacientes atklados vecm ncles indícius ou sínlomns de uma psicosm ou
cntão receiam convcrtcr cm am scus impulsos obsmssivmy Iíntrctanto. ao conlrário
do tipo neurótico tõbic0. que por rcceio ao mcdo sc póe a llugir do medo, o lípn
neurótico obsessivo reage de modo que. por rcccio à obscssúm comcça uma lutn
contra a obscssâu Enquanto 0 ncurólim tbbicu lbgc du mcd0. u ncurólicu obses-
sivo corre dc cncontro à obscssãn » c, cm numcrusos cusos de ncurosc obscssiva. é
precisamente esse mecanismo o pauugénico pmpriumcnlc dim.
Numa perspecliva dos fundanwnlos cnnsliluciomis. ó possívcl compmvar
a existência de uma disposíçãn psicopátimy (Ínm clbilm é ncssa psicopatin anan~
cástica onde se cnxerta por si mcsmm scgundu 05 casos dislintos. csta ou aquela
característica do mcdo que afela o pacicnla A psicopalia nnnncástica - 0 subslmto
de sua neurose obscssiva - não é imputável à pcssoa (cspiritual) do p.au'cntc. senão
que se cncontra ancorada em scu carátet (anímicu). Nesse sentida o pacicnte não
é nem livre ncm responsável - somcnte o é. ludav1'a.e1n vista dc suu alitude dianle
do 'A'nankasmus" (ananquc). O quc rculmemc conta lcrapeulimmcmc é a amplim
ção do cspaço dcssa liberdade a panir dn momcmo em que sc cria umu dislànakl
entre 0 humano no doente e 0 docnlc no homan Tal lcrapia não é síntomáticm ao
contrárioz não sc preocupa demasiudamcntc com os sintomasy scnào que sc dirigc
à pessoa do pacienle - a sabcrz que ela se csforcc em mudar a nlitudc dcslc pcrante
o sintoma. Contamo que a logotcrapia nào sc voltc pam o sinlonm mus procurc
levar a uma mudança de at|'tude. a uma novu oriemação para com 0 5inloma. ela é
uma auténtica psicotcmpia pcrzsonallistau
Ao contrário dos modclos de ncurusc fóhicu e de neurosc ObSCSSiViL enc0n~
tramo-nos, no modelo de rcação dos neuróticos sexuaisx dianlc dc um pacicntc
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SLI O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SEM SENTIDO
que por alguma razão se sente inseguro de sua sexualidade e, em consequência
dessa insegurançm reagc de maneira que ou intenciona tbrçar o prazer sexual ou
imencíona reílctir ao extrcmo o ato sexuaL No primeiro caso, ele faz do ato um
programa; mas o prazer não pode intencíonar como ñm último em si mesmo,
scnão que se reali7.a. propriamente falando, no sentído de um efeito. de modo es-
pontáneo. justamcnte quando não é perseguída Pelo contrári0, quando mais se
busca 0 prazen tanto mais ele tbge.
E como dissemos há poucoz o medo já reali/'.a aquilo que teme. Então po-
demos dizer doravante: 0 descjo demasiadamente intenso já impossibilíta 0 que
lanto deseja.
De tudo isso tira proveilo a logotcrapia à medida que oriema 0 paciente a
cnfrentar-se, ainda que por algumas fmções de segundo, justamcnte com aquilo
que tamo teme - portanto, a desejá-lo paradoxalmente, ou a aceitá-lo antecipada~
mente, conseguindo assim tirar da ansiedade anlecípalória ao menos o vento que
sopra sua velzL
 
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5
A intenção paradoxal
Pretendemos agora retomar 0 tema da intenção paradoxaL tal como já foi
descrito em meu artígo “Sobre 0 Apoio Mcdiulmcnloso da Psicolcrapia no Caso
de I\Ieuroc›.es'll publicado em l939. Nesse contexto, pnrccc dc bom tom rcmclcnmc
antes de tudo aos casos que foram discutidos em mcus livros 'lhcaric xmd Yherupic
der Ncuroscn ÍTeoria c Terapia das Neuroscs]. A Psirotempm unm Oasuístím pam
Médz'cos,3 A Vonmdc dc Scntido' e Logotcmpiu u Amilisc Ifuvc1'stwu'z'al.l A seguin con-
centraremos a atenção em um malerial ainda não publicado.
Spencer M., de San Diego, Calito"rni.1', escreveu-no.s*:
Dois dias após lcr lido u scu livro, Em Busca de Scnlidof cncnnlrei-me
em uma sítuação quc me proporciunou n uporlunidadc dc pór à pr0va. pcla
prímeira vez, a logotcrapia. Participci na univcrsidudc dc um scminário so-
bre Martin Buber, e durante o primeiro cncontm não livc papas na língua
' Viktor E. FrankL “Sobre u Apniu Medicamcmosu da Pskutcrupia nn kiaso dc Neurose§Í
ln: Lagoterupia v Amílise ExísrcmiaL São Paulu, Forcnse Unívcrsilária. 2011
'^ ldem, A Psicotcmpiu mz Práticw Trad. Cláudid M. CnmL Cumpinas;, Pap1'rus. 199L
' ldcm. A Vonladc zlc Sentida Trad. Ivo Sludan Percim Sào Paulu, Pduluau 201 l.
' Idem, Psiwlcmpiu c Sculído da \'ida. de. Alipio Muia dc Custm S. cd. Sàu l'au10, Quadrnnlc. 2010.
5 ldcn1, Em Busca dc Scntido. TrmL Waller O. Schlupp e Carlos Avch'nc. São l,cupo|do. Sinodal /
Pctrópolis. Vozes, 2009.
 
52 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
quando acredilei ter de dizer mtameme 0 contrário do que os demais u-
nham dilu Enlâo comecei sem mais nem menos a transpírar intensamente.
Logu quc mc dci conta disso ñquci com medo dc que os outros pudessem
percebcr u mutivo pelo qual comccei a transpiran De repcnte, lembrei-me
do caso de um médico quc consultou o senhor por causa do receio que lhe
causava 0 prorromper dc suas transpiraço'es, e emão pensci que a situação
era scmelhame à minha. Mas eu não dedicava uma grnnde estima à psicote-
rapia. e mcnos ainda à logotcrapia. Por isso mesmo me pareceu que a minha
situação oferecia uma ocasião única para lestar o valor da intenção parado-
xaL Qual' tbra mesmo o conselho quc 0 senhnr dera ao seu colega? Que ele
podia, para varian desejar c pmpor-se mostrar às pcssoas qunnto cra capaz
de transpirar - “atc' agora só linha ¡ranspirad0 um lilro. agora, contud0, vou
transpirar dcz litrosÍ diz em scu livm. E enquanto eu contínuava a falan
dizia a mim mesmm “Moslra, dc uma vcz por lodas. aos teus colcgas, 0 que
é tmnspirnn Spencerl Exatamentc assim, mas ísso aindn não é suñc1'cntc,
dcvcs transpirar muilo ma1's.".' Não sc tinham passado alguns scgund(›s. e
então pude observar que a pelc secava. Tíve de rir comigo mcsmo. O que
não conseguia ainda compreender é que a intcnção paradoxal funciona e.
a.|ém disso, imedíalamcnle. “C0m mil diabosFl disse a mim mesmo, deve
haver algo nessa intenção paradoxaL pois rcalmeme dá cert0, e nesse ponto
eu mc sentia célico quamo à log(›lerapia.
De um relato de Mohammed Sadiq retiramos 0 seguínte casoz
A senhora N., uma paciemc dc 48 anos, padecia dc trcmores, mas com
tul intensidadc que não conseguia sequer segurar uma xícara de café ou um
copu dligua sem verter 0 c0nteu'do. Tampoucu sc semia capaz de escrevcr
ou de mamer um livro para ler cntre as mâos. Aconteccu que uma manhã,
quando nos encontrávamos semados um díantc do outr0, começou a tremer
mais uma vcz. Resolví cntão recorrer à intenção parudoxaL mas, é claro, com
certo humon Assim, disse-lhe: “Que tal. senhora N., promovermos uma
compctição de rreme-tremc?” Ela retrucouz “O quc ísso quer dizchÍÍ E euz
“Vamos ver de uma vez por todas. quem de nós dois treme mais rápido e por n vr
J. A INTENÇÁO PARÀDOXAl
maís tempo'.' Elaz "Eu não sabia quc o senhor Iambém sufria dc lremnrcsLn
Euz "Não. não - de modo alguml Mas sc eu quiscr. lambém posso lrcmcr'.'
(Ecomccei r c com quc intcnsidach E claz ^'Oh. o scnhnr cunscguc lrcmcr
mais rápido do que cu',' (E. sorrindm comcçnu a aprcasar 0 scu trcmurJ Euz
“Mais rápido. vamos. scnhorn N.! .›\ scnhom lcm dc lrcmcr mais ra'pldo,”
Elaz “Mns cu não possu mais. parcl lú nàn cnnsigo mals cuntimmr'.' E usmva
rcalmcnte cansada. chamou~sc. íhi mé .1 cozinha c vollou cum uma xícam
dc café. ›]hmou 0 café wm dcrramar uma golu. Quandu. dcsdc cnlào, cu a
surprccndia tremcndo. baslava dizcrz “P(›¡s bcm, scnhorn N., 1uc tal uma
 
á ccrlo. cslá ccrm." E issocompelição de trcmc-trcn1c?'.' Ií cla rcspnndi
tcm ajudado todas as vczcs.
George PynummootiL dos Esmdns Unidos, rclnta o scguintez
Um homem jovcm entrou no mcu consuhório médico padcccndo de um
grave tiquc nervoso no olho quc sc nlanifcstavu scmprc que tinha dc falar
com alguém Cmno as pessoas cuiduvam dc lhu pcrgunlar o quc clc tinha,
isso 0 dcixava mais ncrvoso. <IZnCuminhci-o a um psicanalislm Mas. uo ñm de
mda uma séric de s ssõccm vollou a mc prucurur para informur quc o psicanm
lisla não tinha dcscobcrlo a causzL quamo mais podcr ujudáJa 1\c0nscHwi-0
então que da próxima vcz cm quc tivcsae dc falar com alguénL piscassc os
olhos lantn quanto possíveL a fim dc mostrar an scu inlcrloculor quanm em
capaz dissu PCIISOLL porénL quc cu dcvia lcr licado qucn parn lhc dar lul
com*elho, uma vez que cstc só pndiu piorur ›,cu cslud(›. li sc tkuÇ Nu cntamm
voltolu um dia, para mc comar. complcmcnlc cntusmsmada o quc. cmremcn-
tes, tinha acontccidoz como nào lcvnu a sério a minha proposta, não pcnsou
cm colocá-la em prálica. O piscar de olhos pioranL alé quc uma nuite vcio-
-lhe à mentc n que cu lhe tinha dim. Enlào disse a si mcsmnz “Alé agura tentei
de tudo 0 que existc c nadu ajudou. 0 quc pnde acontcccr se eu lcnlan au
mcnos uma vcz, aquílo quc mc foí rcc0111cndado?'Í E uss¡m, no dia scguinlm
propôs~sc. diantc da primcira pcssoa quc enconlrnsse. a piscnr os ons mmu
quanto possích c, paru a sua grandc surprcsa, perccbcu que cra incupaz dc
um simples piscar. A partir dc entào n tique ncrvoso dcsaparcccu tol.1lmexm-.
SJ
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...~
 
54 0 SOIIRIMINYU DE UMA \'ll)A SFM SLNHDO
Um assistente de universidade escreve-nos:
Devia aprcscnlaFmC a um poslo dc trabalhu que eu buscava e que me era
cómod0, uma vcz quc podcria tmzcr à Califórnia a minlxa mulhcr e os meus
h'lhos. Mas estnvu bnstame nervoso e me esforçando enormementc para cau-
sar uma boa impressão. O pmblema é que, ao mc semir nervoso, mínhas per-
nas comcçam a lremcr, mas a um punto quc as pcssoas presemes não deixam
de percebé-lo. E assim acomcccu clurantc a entrevislzL Desta vcz, contudo,
disse a mim mcsmo: “Vou agora obrigar estes músculos nojentos a tremer
com tal intensidade quc não conseguirei scquer ñcar sentado, senào que te-
rei dc mc lcvamar num pulo c comcçar a dançar pelo rccimo até as pessoas
acrcditarem que estou louco. Estcs músculos nojcmos vão tremer hoje como
nunca - hoje se vai bater o recorde de trcmer'.' Pois bem, os músculos das per-
nas não lremeram uma ve1',sequer durante toda a entrev1'sta, consegui o posto
de trabalho e, cm brevc, minha família cstará aqui comigo na Califórnia.
Sadiq, que já citamos aqui, tratou, certa vez, de uma paciente de 54 anos,
que caíra no vício em soníferos e fora internada em um hospitaL
Às dez da noitc, saiu de seu quano e me pediu um sonífero. Ela: “Pos-
so pedir uma pílula para dormir?)Í Eu: “Sinto muito, acabaram por hoje e
a entêrmeíra se esqucccu de fazer a tempo um novo pediddÍ Ela: “C0mo
vou agora poder dormir?'.' E euz “Para esm noitc, terá de ser sem soníferos'.'
Duas homs mais tardc, reaparece. Ela: “Simplesmente não dáÍ Eu: “E que
tal se a senhora voltasse a deitar›5e e, para variar, em vez de dormir, tentasse
passar a noite em claroTÍ E elaz "Eu sempre pensei que fosse louca, mas mc
parece que o senhor é igualmente loucdÍ Eu: “Veja a senhora, às vezes me
agrada ser um pouco louco, ou a senhora não é capaz de entender isso?'.'
Elaz “O senhor fala séríoTí Eu: “Sobre 0 qué?›í Ela: “Que devo tentar não
dormir'.' Eu: “Claro que falo sérío. Tente uma vez so". Vamos ver se a senho-
ra consegue passar a noíte acordada. Tudo bem?'.' Elaz “O.k.'.' E quando a en-
fermeira, na manhã seguinte, entrou com 0 café da manhã em seu quarlo,
encontrou a pacíente ainda dormínd0. 
| A |N1I'N(,A0 I'ARI\DUX;\L 5
É admirável conslatar cnmo as pcssoas leigas recorrcm com bons resulmdos
à intenção paradoxaL Tenhu aqui diame dc mim a carm dc uma pacicmc quc snfrc-
ra de agorafobia durante catorze anos c que, duranlc lrôs, sc submcteu scm succsso
ao tmtamemo psicwalítico ortodoxo~ Ao longo dc dois anos rcccbcu o tratamento
de um hipnotizador. 0 que lhe proporcionou uma lcvc mclhora. Estcve inclusivc in-
ternada por seis semanas. Nada, de fato, a ajudava. Dc qualqucr mod0. escrcvc a pn-
ciente: “Nada mudou em catorzc anos. Cada dia era para mim um inferno". A coisa
chegou ao extremo de um dia querer sair à rua, mas foi logn acomctida pcla agoru~
fobia. Ocorreu-lhe então lembrar que tinha lido o meu livro Em Busca dc Sentidm e
dísse a si mesmaz “Agora vou mostrar a lodas estas pessoas que sc encomram aqui
ao meu redor, na rua. do que sou bcm capaz1 cair em pânico e sofrcr um desmaidÍ
E subitamente se sentiu calma. Cominuou 0 Caminho até o supermercado e fez as
compras. No entanto, quando chegou o momento de pagar. comcçou a lranspirar e
a tremeu Disse a si mesmaz “Vou mostrar ao caixa quamo sou verdadeirameme ca~
paz de transpirar. Ele irá arregalar os olhos'.' Somentc no caminho dc volta percebeu
o quanto estava calma. E assim continuou. Ao cabo de algumas poucas semnnaaç era
capaz de dominar a tal ponto a agorafob1'a, com a ajuda da imenção parado.\'al. que
às vezes não conseguia acreditar quc tivcsse estado doente.
No símpósio sobre a logoterap1'a, organizado no âmbito do Sexto Congres-
so Internacional de Psicoterapia, o Dr. Gerz, diretor clínico do Cunnecticut State
HospitaL referiu-se aos seguintes casos clínicos:
A.V., de 45 anos, casada, mãe dc um jovem de dezesseis anos, sofria hnvia
24 anos (!)_ de uma doença. durante os quais padcceu de uma grave síndrome to"~
bica, composta por claustrofob1'a, agorafob1'a, temor excesm'vo. medo de clevado-
res, passar por pontes, entre outras coisas. Por causa de todos esscs transtornos,
foi tratada durante todos aqueles 24 anos por diversos psiquialras, que aplicaram
repetidas vezes, entre outros remédios, chamadas anàlises de longa duração. Ti-
veram de intemá-la nos últimos quatro anos numa clínica. Apesar dos calman-
tes que recebia, sentia-se num estado de permanenle e elevada excítaçào. Esteve
igualmente durante um ano e meio aos cuidados de um experiente analista, mas
sem nenhum êxíto. Em 1° de março de 1959, o Dr. Gerz assumiu o tralamento, a
saber, por meio da intenção paradoxaL Cinco mcses mais tarde, a paciente viu-se
"u
 
 
56 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
pela primeira vez, após 24 anos, livre de qualquer sintoma. Deram-lhe alta logo em
scguida. Dcsde cntão, passa1^an1«se vários anos, nos quais leva uma vida normal e
fcliz no scio de sua família.
E agom o caso de um pacieme neurótico obsessivoz o senhor M. P. é um
advogado, casado, de 56 anos dc idade, pai de um estudante colegial de dezoito
an0.s. Há de.7e.ssete anos acometewlhe “dc repente, como um raio vindo de um céu
sercn0, a terrível alucinaçào 0bsessiva” de que o valor de 300 dólares de imposto
pago à reccíta cra muito baixo e que, por conseguintc, enganara 0 Estad0, embora
tívcsse feito a sua declaração de imposto de renda com conscíência e todo 0 cuida-
do. “Mas não conscguia, por mais que me esforçasse, livrar-me desta ideiafl contou
ao Dr. Gerz. Ele ja' se via a sofrer um processo por fraude ñscal e ser preso, via os
jomais chciosde artigos sobre ele e a perda de sua posiçâo proñssionaL Imemou-
-se entào num sanatório. onde se submeteu a um tratamcnto psicoterapêutico e,
em segu1'da, a 25 sessóes de eletrochoque - sem melhora5. Enquanlo isso, 0 estado
de saúde piorou de tal modo que foi obrigado a fcchar o seu escritório de adv0-
cacia. Noites dc insônia fizerammo lutar contra a alucínação obsessiva que se in-
tensiñcava dia após dia. “Eu mal conseguia I1'vrar-me de uma dessas obsessões e já
dcsenvolvia uma 0utra',' relatava ao Dr. Gerz. Em especiaL queixava-se da obsessâo
que o ac<>n1et1'a. de que seus diversos contratos dc seguros tinham expirado sem
que se desse ContcL Repetidas vezes. tinha de revé-los para logo em seguida trancá~
›los num cofre especial de aço; cada contrato era selado c atado inúmeras vezes.
Por ñm, acertou com o Lloyds, de Londres, um seguro especialmente redigido
para ele, que 0 preservava das consequências de qualquer erro que, inconsciente e
invuluntariamente, viesse a cometer no âmbito de sua prálica jurídica. No entam
to, logo teve de deLx'ar igualmente essas atividades proñssionais, pois a alucinação
obsessiva tornowse tão grave que foi preciso imernar-se na Clínica Psíquiátrica de
Míddlctown, onde então começou 0 tratamento com a intenção paradoxaL pelas
mãos do Dr. Gerz. Ao longo de quatro meses, trés vezes por semana, esteve sob
cuidados da logoterapia. Foi instruído, diversas e repetidas vezes, a empregar as
seguintes formulaçóes de intenção paradoxalz “Rio-me de tudo. Que o diabo pr0-
cure 0 perfeccionisma Para mim, tudo está bem - por mim, podem encaxcerar-
-me. Quanto mais ced0, melhonl Ter medo das consequências de algum err0, que 
34 A INTENCÀO PARADOXAL
por acaso deixci cscapar? Quc me prendnm então - lrês vczes ao dia! Ao mcnos
recebo de volta o mcu dinheiro, meu belo dinhcirinh0. que arrcmcssei no focinho
daqueles senhorcs de Londres...'.' Começou então a dcscjan no sentido da imcnção
paradoxaL ter comctido 0 maior número possível de crros c fazer novns la'ltas.' um-
baralhar o seu tmbalho com o íntuito de provar à sua sccrcláriu que cra “o maior
fraudador do munddÍ E 0 Dr. Gcrz não teve a menor dúvida dc que cstava em jogo
a completa auséncia detodapreocup.1ç.1"o de sua purte - tal comn linha dc esmr por
trás de suas inslruções -, quando 0 pacícnle se mostrou cupaz não só dc realizar
a íntenção paradoxaL mas também de tb1'mul.1"-la pur meio dc um extraordínário
senso de humor, o mesmo com que u Dr. Gcrz tinha, ev1'denlcmente. de conlribuir.
Assim, por exemplo, quando 0 pàcicnlc entrava cm scu consullório médico, ele n
saudava do seguinte modoz “O quê? Pelo amor dc Dcusl O scnhor aindn andn por
aí Iivre e solt0? E eu pensando que já estava há tempos por trás das grades. Estive
inclusive lendo os jornais e perguntand0-me quandu iam informur a rcspeito do
grande escândalo que o senhor causarafÍ A isso reugia o pacicntc com uma sonora
gargalhada. E, cada vez maís. símpatizava com cssu aliludc 1'rónica, ironizando
também contra si mesmo c contra a própria ncumsc quand0, por cxemplo, diziaz
“Nã0 me interessa a mínima que me prendmm 0 máximo que podc ucnmccer é a
companhia de seguros ta']¡r).' Agora. já tàz um ano que o tratamento chcgou ao ñm.
Estas fórmulas - o quu 0 scnhnr chama dc inlcnção pumdoxaL doutor -
acenaram~me em chci0; atuam quase cumu um milagm Possu então dizcr
ao senhorz em quatro mcscs, u scnhor conbeguiu lhzcr dc mim um uutro
hómenL completamcntc difercnlc. Scm dúvida. aqui e ali mc vém à mcn›
tc os velhos lcmores. No entant0. saíba o senhun sou cnpaz aguru de lidur
imcdialamcntc com is*so;.1'gora sci muilo bcm comu tmtar dc mim mesmo!
Pratico a intenção paradoxal desde l92'~)," mas somcnte cm 1947 publiquei-
-a com esse nomeÍ É evidenIe a semelhança dcla com os métodos de tratumento
da terapia comportamental quc surgiram mais tarde no mercado - algo que não
" Ludwig ]. PnngratL Psycothempic in SelbsldarstvllxmgwL Berna. l973.
' Viklor E. FrankL Dic Psytlwfherapic in dcr Prax¡s. Vicna. Franz Dcutickc. l947. 
 
ñd 0 SOFRIBHÉNTO DE UMA VlDA SEM S'[.-NT|D0
passou despercebido por alguns tempeutas do comportamenm À vista disso, é
nolável o fato de quc a prímeim tcntaliva de comprovar empiricamenle a cñciêmcia
da ínlcnção paradoxal tenha sido emprecndida por tcrapeutas do comporMmentQ
annL no cnlantm os profcssores L. Solyom, I. Gar'/,a-Percz, B. L. Ledwidge c C.
Soly0m. da Clínica de Psiquialria da McGill University quc nos casos de neurose
obsessiva crónica cscolheram doís sintomaxs característícos dc igual imensidude
e. logo, procederam a 1ratar cada um deles - um deles foi o sintoma de 0bjctivo.
tralado com o método da intenção paradnxaL cnquanto o oulr0, o sintoma de
“conlrole',' permunccía uusente no lratamcmu Com efeit0, dcnwn51r0u-sc que sn-
meme os rcspectivos sintomas lratados dcsapareceranL c no dccurso de poucas
semanasx E em nenhum dos casos ocorreram os sintomas de substituição!"'
Meus colabomdores, Kurt Kocourek e Eva Kozdem conseguiram, com aju~
dn do método de imenção paradoxaL chegar muilo longe e cm pouco tempo, inclu-
sive nos casos de antigos pacicnlcs afctados de neumsc ohscssiva - esles pudcram
tornar~se novamcnte aptos ao trabalh0. Tais resultados terapêuttms do lratamento
dcmonstram que a chamada tcrapia breve pode scr, eíetivamente, breve e boa.
Acrescentmse a isso que “as dúvidas muitas vezes expressadas de que à eli-
minação de um sintoma deve seguir-3c necessarimnenle a formação de um sin~
toma substituto ou de outra atitude inoportuna 1'nICI.'na, formuladas com essa
generalização, são añrmações complelamcntc injustiñcadasÍm Mas não se devc
despertar a impressão de que os resultados alcançados em todos os casos tralados
pela logoterapia tenham se dado em tão curto espaço de tempo como nos casos
anteriormente citados. Citei-os porque sc prestam bem ao intuilo didálic0.
*"' L. Soylum el ¡l].. “P-.¡radoxical lnlcntíon in the Trcntmcnt othsessive Thnughtm A Pilm Study".
Inz Comprclmxsivc Psychiulry, n. l3, l972, p. 29l.
" J. H. SchultLAcm Psycholhcmpculíca, n. 1. 1953, p. 33. 
4
A derreflexão
O elememo caractcríslico do mndclo dc realção ncur()'tica sexual é a luta
pelo prazcr. E podemos aqui obscrvan m›van1cme, cumo u pacicmc se emaranha
num círculovicinso.Alulapclopmcr.alulnpclapoténciacpcluurgu.s*1no,avon-
tadc dc pmzcn n hiperintcnçà0 llwçada ao g01'.0 conduzcm nào uo prazcn mus u
uma hipcrrcflexào f01'çnda.s'obre si mesmnz inicia-sc, dur.'1m-u›.'\ln.u obscrvar a si
mesmo c, sc é possích a lambém espiur 0 parcc1'ro. É o ñm pnra a cspunlancidade.
Um caso concrctoz a senhora S. procur0u-no.s* por causu dc sua frigidcz. Na
in^fância, a paciente foi molestada sexualnwnle pclu próprío paL Dc uma pcr's.pcclivu
lwurísnc.1', rcsolvemos lratáJa Como sc não cxislism ulgn parccido a um 1r.-1um.1-psi-
cossexuaL Pclo contrairi0, perguntaunos à pacicnlc sc cla já cspcrava cslar lcsadu por
causa do incest0. A pacicntc conñrmou nussas suposiçócs au añrmar quc chcgara a
essa conclusào por ínfluéncia d.1'leíluradc um livm popular, cujo conleúdo aprcsen-
tava uma interprclaçào vulgar da psicanálisc. "Aquilo lcm de scr respondido à allu~
ra',' rezava a convícçào da pacientc. Em uma palavraz ins(.1*l.'1r.1'~sc ncla uma ansiedude
antecipatória. No âmbito dessa un.s'icdadc anlccipulo'ria, a paci'ultc. todas us vezcs
que tinha um contato íntimo com scu parcel'ro. punha1~sc “'.'1 cs'preita"; porquc qucria
ñnalmentc .s*ati.s*fazer e conñrmar a própria feminilidadc. No enlanm prccisumentc
desse m0d0, dividia a atenção cntre ela e 0 parceim Tudo isso, porém. acubava por
também fruslrar 0 orgasmo; porque na medida em quc alguém rcpara no ato sexual
em si, nessa mesma medida se íhz inapto à entrega plenu a clc.
60 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
É claro quedo mesmo modo que a intenção forçada patogênica deve ser subs-
tiluída na terapia pela intenção paradoxaL de maneira análoga a híperreflexão palo-
gênica precisa, cumo corretivo, de uma derreflexãa Muitas vezes temos comprovado
que, a ñm de solucionar um sintoma, a única coisa necessária é a dissolução da aten~
ção localizada centralmente no dito simoma. E foi o que aconteceu no caso da pa-
ciente S. Disse a ela que, naquele 1noment0, nâo dispunha de tempo para dar ínícío
ao tratan1ento, mandando que retomasse dois meses mais tarde. Até lá› rccomendeL
não devia preocupar-se nem com a capacidadc nem com a incapacidade de obter o
orgasmo - a respeito do qual voltaríamos a ocupar-nos quando iniciássemos 0 tra-
tamento -, senão que, durante a relação sexuaL deveria voltar a atenção ao parceim
E a evolução do caso deu~me inteira razão. Aquílo que esperava secretamente, de fato
aconteceu. A pacíente não retornou ao consultório ao ñm de dois meses. senâo ao ñm
de dois dias - curada! Bastou dcixar de'voltar a atenção a si mesma, à sua capacidade
ou à sua incapacidade ao orgasmo - em resumoz uma derreflexão -, e entregar-se
despreocupadamente ao parceíro para, pela primeira vez, atingír o 0rgasmo.
O que acontcceu? A paciente fora vítima de uma íntenção forçada ao 0r-
gasmo. Na logoterapia, denominamos a isso hiperintençào. A ela se junta, em
geraL aquilo que na logoterapia qualiñcamos de híperretlexão, ou seja, a direçào e
a dedicação da atenção ao ato sexual em si mesmo. A hiperintenção contraída e a
hiperretlexão paralisante encadeiam-se, por C()nseguinte, num círculo vicioso no
qual a paciente se viu presa. E como foi possível libertá-Ia dele? Tudo isso se deu
pelo que, na logoterapía, se chama derreflexão.
Voltemo-nos agora à impotência masculina. E aqui devemos perguntar-nos,
em primeiro lugar, o que, nesses casos.', leva 0 paciente a “hiperintentar” sua po-
têncía a ponto de resultar em uma perturbação dela. Nossos estudos aportaram ao
resultado de que o homem cuja potêncía se encontra prejudicada expcrimenta o
coito como ulgo que dele se exige e se reclama. Em uma palavra, o coito adquire
um “cara'ter obrigatóridÍ Quer seja pela obrigação de “prestar-se" ao coit0, que
parte da situação dada, quer seja pelo próprio paciente, que programa, por as-
sím dizcn 0 coit0. Sob determinadas circunstânc1'as, contudo, a exigência parte
da parce1'ra, aínda que seja tão só uma inicíativa, mas que, a um homem inseguro
em sua relação sexuaL parece difícil de suportar. Uma reaçã0, de qualquer modo, 
4 A DERREFLEXÀO
humanamente compreensíveL Mais do que isso, porémz Konrad Lorenz referiu-
-se certa vez a uma fêmea de peixe-beta adestrada por elc a tal ponto que não se
afastava coquete, como de costume, do nmch0. senão que nadava energeticamente
ao seu encontro. O macho “reag¡a humannmenleÍ scgundo o rclato do etólogo
austríaco, quer dizer, tornara-se completamente impotente.
Às três instâncias menc1'0nadas, as quais os paciemes se sentem pressionados
à sexualidade, acrescentam-se por u'ltimo dnis novos fatores. Em primcíro lugnr. o
valor de não somenos ímportan^cia que a sociedade do dcscmpenho impula à capací-
dade de desempenho sexuaL É a pcerprcssure, islo é, a dependecm que 0 indivíduo
isolado tem de seus semelhantes e dos outros. daquílo que o grupo a que pertencc
considera como “in” - essa peer pressurc conduz, de modo tkwçudm à poténcia e ao
orgasmo. E o resíduo de espontancídade, que a pucr prcssure deixara ainda intacto.
é arrancado do homem de hoje pelos prcssurc graups. Pensemos aqui, por exemplo,
nas indústrias do prazer e da informação sexuaL A coerção ao consumo sexuaL que
elas tém em míra, é apresemada às pessoas pelos hiddcn perstuzders, enquanto os
meios de comunicação de massa tàzcm 0 resto. O único paradoxo é que n jovem
de hoje também se presta a seguir os dítames dessa índu'stría, sem percebcr quem 0
manipula, e se deixa levar igualmente por essa onda sexuaL Quem se apresema como
inimigo da hipocrísia, deve também atuar ali, onde a pornograña, para não ler seus
negócios perturbados, se faz passar por arte ou por intbrmaçâa
Recentemente, apresentaram-se na literatura mais vozes (Ginsberg, Frosch.
Shapiro e Stewart) a chamar a atcnção para o aumcnlo de fcnômenos de impotên-
cia entre os jovens e a referir-se, nesse contexto ~ em total concordância cum o há
pouco discutido “caráter de exigéncia” -, ao fato de que primeiro a pílula e logo
também a “w0men,s liberation” jogaram nas mãos das mulheres a iniciativa scxuaL
Defrontamos logoterapeuticamente a hiperreflexâo com u derreflexão, en~
quamo, a ñm de combater os casos de impotência provenientes da híperínten-
ção patogênica, dispomos de uma técnica logolerapéutica que remonta ao ano
de l947.l Quanto a isso, aconselhamos 0 pacienle a não “se ocupar do ato sexuul
' Viktur .F. Fr3nk1'. Dic Psychulhcmpíc in dcr mei& Viena. anz Dcuticku l947. lEm edição
brasile|'ra: A Psicotcmpiu mz Prática. Trad Cláudia M. Caon. Campina5, Papiru5. 199l.]
61
 
0 SOFRIMENTO Dl'. UMA VIDA SEM \.F..\'IH10
de modo programát1'co. senâo a dar-se por satllsthilo com 05 carinhos prelinu'na-
res, no sentido de múluo prelúdio sexual'.' Também sugerimos “ao paciente que
explique à suu parccira quc tcríamos rigorosnmenlc dc proibir, por enquant0, 0 am
sexuaFÍ E o pacientc tem de comunicar igualmeme a ela a dispensa dessa proibi-
ção. Em scu próprio intcresse, cla deve cvitar de agora em diame exercer quaisquer
prcssócs dc ordcm sexual sobre ele. Assim que tem lugar essa descarga subjetiva, u
pacicntc podc *c.xercilar-sc em Íbrmas dc prclúdio sexual cada vez mcnos prelimi-
narcs, protclando, contudo, 0 quamo possa, o ato sexual propriamenle dito, até o
dia no qual se cncontre frentc ao "1a'il accomplfÍ
William S. Sahakían e Barbara Jacquelyn Sahakian2 defendem a opinião de
que os resultados das invcsligaçóes de W. Masters c V. Iolmson conñrmaram ín-
leimmeme as nossas. De thta o método de tratamcnto desenvolvido em 1970 por
Maslers e lohnson lem muims pomos em comum com a técníca de tratamento
que acabamos de esboçar, c por nós publicada em l947. Ilustremos, a seguir, nossa
exposiçâo com alguns casosz
Do mesmo modo que a derretlexão reagc contm a ln'perref1exa'o, a pmibição
ao ato sexual acaha com a hiperimenção. No cnlanto, esse nosso “truque" só podc
ser usado quando ncm um nem outro dos parceiros 0 conhece. O scguinte relat0,
que dcvo a um antigo cstudante meu, Myron I. Horn, esclarece quão engenhosa~
mente precísamos proccder ncssa situaçãoz
Um jovcm casal procurou-mc prcocupado com a impoténcía do cspu-
so. Sua mulher lhc havia dito rcitcradas vezes quc elc era um amante mí-
serável (“a lousy lover"), c que agora pemava em procurar outros humens
para ñnalmcnte semir~sc salisfeita. Sugeri que ao longo dc uma semama.
todas as noitcs c durantc au mcnos uma hora, clcs se deitassem jumos, nus,
c ñzessem n que lhes agradassc; a única coisa não permitida sob ncnhu-
ma ckcunslàncm cra que manlivessem rclaçócs sexuais. Uma semana mais
tardc, reenconlrci-os. Tinham tentado, disseram~me. seguir mínhas instru-
ções, mas, “infelizmente',' por trés vezes acabaram chegando ao alo sexuaL
" Willinm S. Sahakium Barbam Iacquelyn Salmkian, “Logotherapy as a Personality Thcory." Ismel
Annals ofPsyrhialry, n. lO, 197Z, p. 230.
 
4, A DHlRPFlkaÁO
Fiz-mc dc irn'lndo, insislíndo quc uo Incnus nu acmnnn scguinlc ubscrvasu
sem minhas inhlruçüc"\.. Parssaranbsc um poucus dms c mc chamam ao lclc-
fonc para mc comunicar quc mais uma vcz nãu cnnwguirum alcrsc au mcu
pedid0. Pelo cuntrari0. mnnlinham agnm rcluçôcs scxuaLs nlé mms dc uma
vcz ao dia. Um anu maís lurdc soubc quc n éxito cnminuava a vingnn
Um sexólogo da Califórn1'a. Claude Farris, fcz chcgar até mim um relalo do
qual se deprecndeque a intenção pumdoxal é igualmcnlc aplicávcl cm casos dc
vaginísmo. Para um.1'p-.1c1'cntc. quc rbra cducudu num convcnm católico. a scxuali-
dade cra tabu sevcro. Veio em busca dc tratamcnlo por cnusa das forlca dorcs quc
semia duranlc o alo sexuaL Farris a ínslruiu u nàn rclaxur a rcgião gcnilaL scnão a
enervnr a musculatura da vngina na medida do posxsích dc modu que scu cspusu
não conseguisse pcnctrá~la. 0 csposo lbi instruídu n thzcr o que cstivcssc ao scu
alcance a ñm dc vcncer essa rc.s*i.s'tência. Uma senmna mais tardm ambus rclornam
para informar~me que, pcla primeira vcz cm sua vidu nmtrimuan o ato scxual
ocorrera livre das dores. Não houvc rccidívas por regístra r.
Isso mostra, portanto. que cm certo sentidu nño sc dcvc intcnciomr dire-
tamente algo cnmo a díslcnsào, mus se p0dc. por nutro ladn. lcnlnr 0 caminho de
uma intcnção paradoxaL ou seja, da inlençâo nposm à di.s*tcn.~a.1'*o. Rctiro dc um
trabalho de David Iu Norris, um dc mcus alunos califbrnianns. n seguinlc epi-
sódioz no âmbito de um trabalho dc pesquisa c inves11'gaç.1"o, Norris tevc dc fazcr
alguns experimentos com pessoas conectudas n um clctmmiógrafo a ñm de medir
-lhes 0 grau de distemã0. Entre clas huviu um homem quc rcpctidas vczes Ievnvu
o aparclho dc medição à escala dc 50 microampêrc Ncm com u mclhor dus von-
tades - ou se deveria dizer pur musa dc uma vomadc lbrçudu. pur musu dc umn
lúperintençãU? -. 0 sujeito COIISCEUÍH dislcndcrsc dc mamcira .'\dcquadn. Até que
o diretor do experimento pcrdcu a pacíêncim “Slcvc, junmis conscguírás dlcançar
uma distensão decentéí Stcvc então cstourou dc raivaz “Cnm os Lliubos lodo csle
palavreado de dislensà0. Estou me 11'xando. sc o scnhor qucr sabcr!" Após u que
a agulha do aparelho desccu de 50 pA para 10 pA - c com tama vclncidudc quc o
diretor pensou que a energia elétrica linhu cuídu
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A vontade de sentído
Comojá d1'ssem05. a psícanálise rclcvu não só a somutogêncse. mas lambém
a noogênese das doenças neurólicas. As ncur0505, comuda nào sc cnraíz.1-m nc-
cessariamente no complcxo de Édipu ou no cmnplcxo dc 1'nfcrioridadc. ”Ihmbém
podem estar fundadas cm um problcmu cspirituuL cm um conÍlito dc consciéncia
e em uma crise existenciaL
A psicamílise nos deu a conhcccr a vontadc de pra/'.er, a parlir da qual p0«
demos conceber o princípio do prazcn c a psicologiu indivídtml nus lornou t.1"mi›
liarizados com a vomade de pnder, sob u fnrmn da tcndóncia a fazer~sc vallcn Mns
no homem enraízansc mais profundamentc uquilo que designcí como a vomade dc
Sentidoz o esforço pclo mclhor cumprimcnto possívcl do scnlido dc sua cx ñlênciax
Nâo é, portamo, a felicidade aquilu que o homem anseia de modo mnis pr0-
fundo e verdadeir0? Não foi 0 que admitiu o própríu KanL quc essa ó a rculidadc.
e que só postcriormente o homcm anseia por scr digno de fcl|'cídadc? l-.'u diria quc
aquílo que o homcm realmente quer é, añnul dc C(›nlas, nàn 21 fclicidudccn1 si. mus
um motivo para scr feli/.'. Assim quc, a sabcn é dada uma ruzào pura scr MiL uprc-
sema-se cssa felic1'dadc, comparcce csponluncamcntc o pruzcr. A c.\'pcriénci.1' chí
nica diária nos revelau com freque'ncia, quc L'*ju.s'tamente o afastmnento do “motívo
para ser feliz" quc impede o homem sexualmeme neurólico - o homem impulcnte
ou a mulher frígida - de ser feliL Como sc da'.poré¡11.cs.'se athw;tnn]c11to palogénico
do “motivo para scr feliz"? Através de uma doação tbrçadn a uma 1blicídadc em si 
06 0501RIMENTODE UMA VIDA SEM SPNT IDU
mesm.1. a um prazer em si n1esmo. Como estava certo Kierkegaard ao añrmar que
a porta du felicidadc sc abrc para fora e que, quando alguém tema arronlbá-la. nào
fnz mais do que fechá-1a.
Mmivo Efcito
__--___-›
Vontadc dc Scntido
Vomade de Prazer
No entama como podemos cxplicar isso? Em virtude de sua vontade de
semid0. 0 homcm tendc a achar um semido c realizá-lo, mas também a encomrar-
-se com outro ser humano, a amá-k) sob a forma de um lu. Ambos, a rc.'111"1.açãn c
0 encomro, dão ao homem um motivo para a fclicidadc e para 0 prazcn No neu›
rótíco, contudo, tal aspiração primária permanece como que desviada pam uma
aspímção dircla à íe'11tid.1'dc. à vontadc de prazcn Ao invús de permanccer aquilo
que deve scn ou sej¡1, um cfcilo ((› efeíto secundário de um sentido realizado e do
scr humanu encontrado), 0 prazer se lorna o nbjcm de uma intcnção forçada, dc
uma hiperimençã0. e esta hipcrimenção faz-se sempre acompanhar de uma hi-
perreflexão. () prazer sc mrna conteúdo e objeto únicos da atenção. No entanto, à
medida que o homem neurótico se intcressa pclo pramn perdc de vista 0 mativo
para o prazer - e 0 efeítn “pr.'1/.'er" já não pode muis ser obtida
No que díz rcspeito ao tão propalado tcma da autorrca11'zação, ouso añrmar
que 0 homem só é capaz de realizar-sc à medida que cumpre um sentida O impe-
ralivo de Píndaro, .s'cgundo o qual o homem deve tornar~se qucm ele é, requer um
complemcnto, que encomro nas palavras de Iaspersz “O que 0 hnmem é, 0 é através
da coisa que faz sua'.' Como o bumerangue volta para o caçador que 0 arremessou,
quando fhlha o alv0. assim também só propende para a autorrealização o homem
quc, anles de tud0. fracassou no cumprimento do semido, e que talvez nem sequer
tbssc capaz de cncontrar o sentído que vale a pena realízar. 
S A \.0.'\TADE DFV MNTIDO
EfcitoF im
Ml//ciu
O mesmo valc, de nmncim amálogm u rcspcilu du vnnmdc dc pramr e da
vomade de podcr. PorénL cnqunnto o prauxcr nàn é scnàn um efciln sccund.1'ri0 do
cumprimemo do scntidm o poden por seu lurno. é um meio pam um 11m, ¡'.1'que rcali~
zação e senxido eslão ligadoa a ccrlns preswpuslm c cundiçócs SUCÍdÍS c camón1was.
Mas e quando o homem uslá voltadu pura o prnzcr cnmo um simplcs ctbim sccun-
dária c quando sc Iimita a um simplcs mcio para um lim chamadn pnder? 0r'.1. essa
vomade de prazer c também cssa vonlade dc podcr só sc lbrnmm quamdo é frustrndn
a vontade de sentido. Em outrus pal'.wr.1's. u princípin dn pruzcr comu u tcndéncia J
ürllerasc valcr é uma molivaçàu ncurótica. E isso nus pcrmitc igualmcnlc cumprccn~
der por que Frcud c Adlcr tivcram LlC dc.su›nhcccr a oricnlaçãu primáriu do homcm
por um scntidoz rcalizamm scus diagnóslicos e csludus cm pcssoas n¡:uru'lica›!
Já não vivemos mais hoje. como no lcmpu de FrCULL cm umu época de frus-
tração sexuaL Nossa épuca é a da frumaçàn c,\'i.s*lcncial. E cm purlicular enlrc os
jovens, cuja vontadc dc scntido sc encontra frustrada “() que dizcm Frcud e Adlcr
para a jovem gcraçào de hojc?',' indaga Bccky I.cct. .'l rcdalora-chclc~ dc um jornall
publícado pelus esludanles da Univcrsity of GeorgiaL
'lc'mus a pílula quc nus libcrla da.s comcquc'nci.1s du rcnlizalçàtv scxunl - hojc
não cxislc mais ncnhum mnlivo pnra sc csmr s.c'.\uulmcmc lullu'do. E tcnws 0
podcr - basta lão smncnlc lançarmm um nlhar suhrc us pulíliCm '.\nwric.mos,
quc cstrcmeccm diantc da jovcm gcruçàu. comn sc cxuwçxsun a cunfromar a
Guarda Vcrmclha da Chi|1a. Mas Framkl dil quc .1.~ pcssms vivcm huic cm um
valiiu cxislcncíaL c quc csw vazio c.\'i›tcncial sc manífcsLL solm~ludu, pulu lédiu
Tédio - isso sua, cnmudo, imcimmcmc ditbrcmm não é mcsmo? Muilu mais fu~
nu'liar. não é vcrdade? Ou n scnhur conhccc puuquissinms pcssms au scu rcdur 
F
 
O SOFRIMENTO DE UMA \'lD^ SFVM SLNTIDO
que sc queixam do lédio, não obstante o fato de que lhes bastam estender a mão
para tudo lcr, inclusivc o scxo de Frcud e o poder dc Adler?
Com cfeito, é cada vez maior o númem de pacienles que nos procura com
0 svcnthento de um vazio ínlerior - descrito e qualiñcado por mim de “vazío exis›
tencial'” -. com o sentimcnto de uma auséncia abismal dc sentido em sua existéncia.
Seria um erro supor que sc trata deum fenómeno restrito ao mundo ocidental. Pelo
contrário, Osval-d Vymetal chamou expressmwnle a atenção para o fato de que “esta
doença de hoje, a pcrda do scntido da vida, uhrapassa *sem concessão e controlel par-
ticuhamente entre os jovcns, as fronteiras da ordem social capitalista e socíalista'.' Foi
Vymetal quem também declarou. por ocasião dc um congresso tchecoslovaco de neu-
rologia, após ter professado, ex pracsidio, seu entusiasmo por Pavlov, que mesmo em
vista do vazío existencial o médico da alma não pode angariar seu sustento com uma
psicoterapia orienlada em Pavlov. E dcvemos a L. L. Klilzke' e Joseph L. Philbrick2 a
indícação dc que o problema mmbém sc faz sentir nos países cm desenvolvimcnlo.
Aconteceu, porlant0, o que Paul Polak já em 1947 havia previst0, quando
em uma confcrência proferida na Verein für Individualpsychologie [Sociedade de
Psicologia Individuall añrmou que
a solução da qucslão social apenas deixaria livrc a problemálica espíritual
quando esla pudessc mobílizar-se autcnticamenta somemc entào o ho-
mcm seria livre para cmpcnharise de verdade a favor dc si mesmo. e só
então conhecerá o que há dc problemálico em si mesmo. a problemálica
auténtíca da exislência.
Ernst Bloch seguiu nessa mesma trilha quando dissc recentemenlez “Os ho›
mens recebem de presente aquelas preocupações que, de outro mod0, só a teriam
na hora da morte'Í
' L. L. l(lirch. “Sludcnls in Emcrging Afríca - Lugolherapy in 'l-'.1nz.m-ía'.' Amcrimn Iourmzl of
Humanistíc Psydmlagy. n. 9. l)*(›9, p. 105.
'- Ioscph L Philbrick. “A Cross-(Iullural Sludy of Frankfs Thcory of Mcaníng~in-I.ilk'.' artigo
aprescnlado à Amcrican Psychologkal AbSDCÍaÍÍOIL
ó
A frustração existencial
O psíquiatra de hoje encnnlra muilo frcqucmcmcntc a vonladc de senlído. não
raras vezes, em forma dc frustraçãu Não há, porlantm sumcntc a fru>lraçã0 scxuaL
a frustração do instimo scxual ou. cm tcrmos gcru¡'s. a du vonmdc dc pmzcn mas
também aquela frustraçào existcnc1'zú. como a chaunamos na lugotcnqpim ou scja. um
sentimento de ausência dc sentido da própria cximêncim Essc .s'cmimcnt0 dc fulta de
sentído e de vazio deixou para trás 0 senlimenlu dc ínlbrioridadc no quc diz rcspcito à
etiologia das doenças neuróticas. () homcm dc hojc não snfre tamo do semimenlo de
que tem menos valor do qUe algum 0utm qualqucr, mas antcs du scntimenm dc que
sua existência não tem scmida Essa frustmção cxislcncizll é nn mínimu putogénl'ca.
qucr dizer, pode scr a causu dc docnças psíqu1'cas. cum u mesma frequéncia quanto a
tão incriminada frustração scxuaL
O homem existencialmente frustradu náo conhece nada com que possu pre~
encher aquilo que denomino scu vazío exislenciaL Sclwponhaucr dizia quc a huma-
nidade oscila cnlre a ncccssidade e o tédiu Ora. hoje temos - e nós, ncurologist'.Ls,
também - de lidar mais cnm 0 tédio do quc com n ncces.s1'dadc, sem cxcluin senão
incluindom catcgoricamcnte, a chamada neccssidade sexuaL De íukto. é palcntc quu,
por lrás dos numemsos casus de fruslração sexuaL sc esconde na vcrdudc a frustnb
ção da vonladc de senlidoz SÓ nU vazio existcncial prolitbru a libido scxunL
Como a linguagem já nos ensina, 0 lédio pode scr “mortal'.' Com efeit0.
alguns autores chegam a añrmar quc os suicidios podem scr atribuídos, em última
instância, àquele vazío intcrior que corrcspondc à frustraçào exislenciaL
 
70
 
O SOFRIMEN"I'0 DE UMA VIDA SF.¡\1.N'IZ'N1'1D0
Todas essas queslões assumem hoje em dia uma atualidade singular. Vi~
vemos cm uma época de crescente tempo 1ivre. Mas há um tempo livre não só
em rclaçàn a algo, senão também para a1g0; 0 homem existencialmente frustrado,
t()davia, não sabe com que ou como poderia preenchê-lo.
Se nos perguntássemos pelas mais importantes formas clínicas com as
quaís podcríamos fazer frente à frustração exístenciaL teríamos de mencionar,
cntre outras, aquilo que descrevi como ncurusc de dc.s*emprego.' Aqui também
se comprecndem as crises dos aposentados - um problema atual e premente
para a geriatria. Podemos tranquilamente ir tão longe quanto Hans Hoff. quando
añrmaz “A possibilidade de dar um Sentido à sua vida, no qual o futuro também
assumc um aspecto de imeresse, pode, em inúmeros casos, retardar 0 surgimen-
to dos simomas da velh1'ce'i E entendemos perfeítamente a sabedoria que emana
das palavras de Harvey Cushing, o maior neurocirurgião de todos os tempos,
citadas por Percival Bailey na conferência que pronunciou por ocasião das c0-
memoraçóes do 112° Congresso da Sociedade Americana de Psiquíatriaz “Existe
somentc uma maneira de perseverar na vidaz ter sempre uma tarefa que cum-
prifÍ Por exemplo. 1embro~me de que poucas vezes em mínha vida vi uma mesa
tão sobrecarregada de lívros - livros à espera de uma leitura atenta e ponderada -
como a mesa do professor vienense de psíquiatría Josef Berze, quando ele já
contava noventa anos de ídade.
A crise dos aposentados é, por assim dizer, uma neurose de desemprego
permanente, porém existe também uma neurose de desemprego passageira, períó-
dica. Reñro~me aqui à neurose dominicaL uma depressão que acomcte aquelas
pessoas que se tornam conscíentes do conteúdo raso de sua vida quando, chegan-
do o domingo e suspendendo-se 0 lrabalho diário, se interrompe a atívidade da
semana e se revela 0 vazio existenciaL
Em geraL a frustração existencial não é evidenle, senão 1atente. O vazio exis-
tencial pode também permanecer dissimulado, ñcar mascarad0, e conhecemos
' Viklur E FrankL “Wirlschaftskrise und Seelenleben vom Standpunkt des lugcndberatcrs”
[Crise económica e Vidd espírilual do ponto de vísta dus jovens]. Sozíalárztliche Rundsthau,
março de l933. P. 43416. 
n A FRb'\TRACÁO EXISTENCIAL
diversas máswras por trás das quais se escondc n vazio cxislenciaL Pcnsemos
símplesmente na docnça do cmprcsário que. movidu por um fumr ao trahalhm
se atira com ímpeto numa atívídadc insana dc modo quc a vomade dc podcr -
para nào utilizar uma expressão cxtremamcnle primitiva c banalz a “vontade de
dinheiro" - reprime a vontade dc scntido!
No entanto. assim como os cmpwsários tém semprc 0 que tàlwn e com isso pou-
co tempo alé pam respirar ou para descubrir u si mcsnws, Suas cspmwy pnr sun ch
têm muito pouco o quc fuer c, cnnsequcntcmente, muito te1np0; não sabcm fauwr uso
de tantas horas vagas e, por consegu¡'ntc. muito menos emprecnder algo por inicialivn
própria. Terminmn então por .-mcstcsiar 0 própriu vuzio imcrior rccorrcndo à bcbicLL
à bisbilhotice c ao jogo... Todas csws pcssoas cnmntmm-sc numa fuga de si mcsmas au
entregar-se a uma forma de conñguruçào dc seu tcmpo livre, que chamo dc centrífubai c
à qual gostaria de opor uma oumL que lcnde a d.'U' ao homem não só uma uportunidndc
de d1'spcrsão, mas também dc rccolhímento intcrion
Devemos salientar que existe ígualmente o horror vacui - o mcdo dn vazio ~
que acontece não apenas no domínio físicm mas também no domíniu psicológícu
Na tentativa de dominar o vazio cxistcnciul com o burulhu dos molorcs c a un-
briaguez da velocidade, observo o dinâmico psíquico vis a tcrgo do rápido e crcs-
cente aumento da motorizaçã(›. Considcro 0 ritmn acclcrado da vida dc hojc cumo
uma vã tentativa de automcdic.1'ç.1"o da fruslraçân cxistcnciah p0ís. quanto menos
conhece 0 homem a ñnalidade de sua vida, muis clc ucelera o ritmo com o qual a
segue. Nesse sentido, 0 artisla de cabaré vienense Helmul Qualtingcn cm uma can-
çã0, parodia um afetado sclvagcm da mowcicletnz “Eu não tenho a míníma nuçào
de aonde vou, mas pra lá vou a toda velocidaddí
Uma tal ambiçào pode. algumas vezes, também lançar màu dc objclivos
elevados. Conheço um pacícnle, como nunca imaginura encuntmn quc é a repre~
sentação típica de um caso de “doença de emprcsáridí Mal sc exuminava o ho-
mem, logo se percebia que era um tipo dc sujeiloque trabulha até sc matan Pude
então constmar por quc se atirava com lal ímpcto uo trabalho, e a ponm dc um
esgotamento: era, é verdade, muito rx'co, tinha alé mesmo um aviào particulnn No
entanto, confessou que todo o seu sacrifício consíst1'.-1 cm um dia poder tornar-se
proprietário de um jatinho. em vcz daquele aviãwvxínho urdinária
7l
 
72
 
O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SPM SENTIDO
Preocupar~sc com algo assim como 0 sentído da exísténcia humanav igual-
mcntc duvidar dcste ou até desespcrar~se perame a pretensa falta de sentido da
cxisténcia humanzL não é de modo algum um eslado doenlio, um fenómcno pa~
lolúgictL e devemos acautclar-nos. precisameme no quadro clim'co, comra scme-
lhante concepçãq que poderiamos qualiñcar de patologismu Pois é justamenlc
a prcocupação com 0 sentido dc sua existência aquilo que distingue o homem
cnquanto lnl - é impossível imaginar um só tipo de animal afetado por seme-
lhante inquietação -, c não podcmos reduzir estc humano ~ mais do que isso, pri-
mordialmenle esle mais humano do homem ~ a um simples demasiado human0,
classiñcamio-o. por exemplo. de fraqueza, de docnça, de sinloma. de complexo.
Também acomeceu o contrárioz conhecí o caso concreto de um pacíente -
cra pmtelssor univcrsitário - que foi encamínhado à minha clínica porque se sentia
desesperado frente ao problema do senlido da exjsténcia. Durante a conversa foi
possível constatar que se tratava, na rea11'dade, de um estado depressivo end0'geno.
e não de um estado psicogénico ou ncur0'tíc0, mas sim de um estado somawgêni-
co. ou seja. psico'tico. Evidenciou-se entâo que suas divagaçóes sobre o sentido de
sua vida não 0 acometiam ~ como se poderia supor - nos períodos de fases depres~
sivas. Pelo contrár1'o, nesses momentos se sentia tão assaltado pela hipocondria
que nem sequer conseguia pensar n1'sso. Era somente nos inlervalos, nos quais se
semía bem, que aquelas divagações lhe sobrevínham! Em outras palavras, entre a
necessídade espiritual dc um ludo c a doença psiquica de outro, tinha-se chegado,
ncsse caso concret0, a uma relação dc exclusão.
A frustração existencial - ou como podemos chamá-la: a tr'ustração da vou-
tade de sentido - não é, portamo, nada patológico, sobretudo pela necessidade de
sentido em si mesma. O anseío humano a uma existência plena (até o limite do
possíveD de sentido é tão pouco patológica em si mesmo que pode - e deve - ser
mobililado tcrapeuticamente. Conseguir ísso é um dos objetivos mais nobres da
logolerapia - enquanto oríentada ao logos -, o que, em uma relação concreta, sig-
níñcaz um tratamento orientado para o sentido (e reorientadur do pacicntc!)4 Em
determinadas círcunstâncias não se trata apenas de mobílizar a vontade de scntí›
do, mas também de despertá-la ali onde se encontra soterrada, onde permanece
inconsciente, onde se encontra reprímida. 
7
0 sentido do sofrimento
O médico, no dcsempcnho dc scu ofício. lcm dc lidar continuumcntc com
pessoas que sofrcm e, entres estals, as que sofrcm de docnçus incurávci5. Sàu pcs«
soas, no enlant0, quc se deparam (e assim também ucontcce ao médicn) com a
questão de se a vida, à vista dcsse sofrimcntu que nào sc pudc altcrar - mais .-1índa,
que se transformou em algo inevitávcl -. nãu pcrdcm cmnplctumcmc 0 senlidn
O médico é confrontado não somente com a tarcfa dc tornar 0 pacicnte uptu ao
trabalho e dc restaurar-lhe o bcm-cstar, como scmprc alribucm à p1'oñs›ão, mals
também com um último devcrz ajudá-lo a conquistar a capacidndc de suportar o
próprio sofrimenta
A capacidade de suportur o próprio sofrimcma contudo. não ó nada mais
do que a capacidade de realizar o quc chamo dc valores dc au'ludc. Dc fnm não é
só o criar (relatív0 à capacidade dc trabalho) quc pnde dar senlído à ctdsléncía -
ta'lo nesse caso da realizaçâo dc valores criativos -, ncm somcnte a cxpcriôncim o
encontro e o amor (relativo à capacídade de desfrutar du vida) - tlllo de valures
vivenciais que podcm fazer com que a vida tenhu scntido -; mas também u sofri-
mento. Não se trata aqui só de uma posxcibilidadc qualquen senão da possílülidade
de realizar 0 valor supremo, da oporlunidadc de realizar o mais allo valon da oca~
sião de fazer cumprir o sentido mais profundo.
Mas o que 1'ntercssa, do ponto dc vista médico, ou, melhor d1'zcndo, do
pomo de vista do doente. é a atitude com que o indivíduo cnfrcnta a docnça, a 
 
74 0 SÚFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
disposiçâo com que lida contra essa doença. Em uma palavraz o que imeressa é
a atitude adequada, o sofrimento sinccro de um destino auténtico. O modo de
suportar o sofrimento neccssário encerra um pnssivel sentido. É o que nos faz re-
cordar aquele poema de Iulius Sturm, que Hugo Wolftão bem musicouz
Naite após Iwitc vêm a alegria c a d0r.
E untcs que se perccbu aband0nun1-nus as duas
E vãn conlara Dcus
Como as suportamos ao dizer-Ihcs adeus.
Porque assim é, efetivamentez o que importa é como se suporta o destíno logo
que nos escapa das mãos. Em outras palavrasz quando não é mais possível moldar
0 destino. então se faz necessário ír ao encontrp desle destino com a atitude certa.
Fica clam agora com que direito Goelhe póde añrmar: “Nã0 existe nenhu-
ma siluação que não possa ser enobrecida seja agínd0, seja aceitanddÍ SÓ que po-
demus completá-lo: a aceitação, ao menos no sentido de que csta nos faz suportar
um s.'ofr1'mento de forma correta e leal a um destíno autêmico, é por si mesma uma
ação - maís do que isso, a maís elevada ação c a mais elevada realí'/,aça'o permiti~
da a um h0mem. E compreendemos igualmente as palavras de Hermann Cohen:
“A“ suprema dignidade do homem é o sofrimentdÍ
Tentemos agora responder à seguinte perguntaz por que o sentido que 0 ho-
mem pode encontrar no sofrimento é o mais elevado de quantos podemos conce-
ber? Bem, os valores de atítude m03tram~se aqui mais excelentes do que os valores
de criação e de vívêncía, enquanto o sentído do sofrímento é superior, dimensio-
nalmente, ao sentido do trabalho e ao sentido do amor. E por que é ass¡m? Parta-
mos da ideia de que 0 Homo sapiens se articula no Homofaber, que cumprc seu
semido existencial ao criar; no Homo amans, que enriquece o sentido de sua vída
ao experimenlar, ao encontral o outro e ao amar, e no Homo patiens, 0 homem
que sofre e rende serviço ao sofrimenta O Homojàber é aquele que podemos com
razão chamar de um homem de éx1't0; conhece somente duas categorias, e só nelas
pensaz 0 sucesso e 0 fracassa Sua vída agita-se então entre esses dois extremos, na
linha de uma ética do êxito, ao contrário do Homo patíensz as categorias deste não
são o sucesso 0u 0 fracassa mas a realização c o desespem 
“ (› \I-N I Ilm hu sol RIMI NYU
Com esse par de calegorias, contudo. o Homo puliens colnca~sc vcrlicalmemc
na linha da ética do êxim, uma vez que a realimçào c o duscspem pcrlcnccm a uma
outra dimensào. Dessa dikrença dimensinnal rcsulla uma superioridadc igualmcn-
te dimensionaL porque 0 Homo paticns podc realiln'r-5c. ainda. nu mais agudo in~
sucesso ou fr.1-casso. A expcriôncia então mostra que a realização e o insuccsso sáo
perfeitamente compall'vci.s", não dilbrcnlc llO éxito em rclaçào ao descspem Mas
isso não deve ser comprecndido apenus a purtir da diíbrcnça dimcnsional dos duis
pares de categorias. Sem diwidaz sc pmjctá.sscmos o lriunfo do lwmo puücns. seu
cumprimento de sentído e sun autorrca1izaç.1"o no sofrinlenlo. na linha da ética do
êxito, ler-se-ia então de represcnlá~lo puntualmcntc sobrc a busc da dilbrença d1'-
mensionaL quer dizer, semelhante a um nad¡1,a um absurdo 1'mponc¡1te. L"m outras
palavrasz aos olhos do Homojàbcr o triunfo do Homo paticns é loucura e cscândala
Rcal imção
Êxito+Frncasso
Dcscspcm
Em tudo isso, ñca~nos claro quc a possibilidndc dc rcalimr valorcscrinlivos.
ou seja, de lomarmos as rédeas du deslinu por mcio dc umu uçào corrcla. assegu-
ra a primazia sobrc a nccessidadc de accitar 0 dcslinn com u miludc correla. ou
seja, de realizar os valores dc at1'tudc. Iãm sumaz mesmo quando a possibilidade dc
sentido que sc encerra no sofrimenlo c'. scgundo uma cscala dc vulorcs. supcrior
à possibilidade de sentiducn'.'1d0r,qucr di7.er, por mais que a primnzia corrcspom
da ao sentido do sofr1'ment0, a prioridade recai sobre 0 sentido criudor: dc íhta
aceitar um sofrimento que vem neccssariamentc murcudo pclo dcsn'no, um sofri-
mento desnecessár1'0, não scria nenhum scrviço, scnão atrevimento. O sofrimcnto
desnecessário é - para usarmos uma exprcssào de Max Brod - uma desgraçn “or-
dínária” e não uma "nobre" infe11'cidade.
Como se rctletem então essus relaçócs no quadro da prática médicaf ch,
o que aqui foi dilo equivaleria a añrman por cxempkn quc um carcinumn passível
".'\
 
lb 0 SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SFM SE\.'Tll)()
de uma intervcnção cirúrgica não é uma doença cujo sofrimento lenha sentido.
Pclo contr;1'rí0, lratar-se-ia de um sofrimento inúliL O adoentado leria que recor-
rer à coragem de submeter~se à 0pcração. enquanto aquele quc se defroma cego
de fúría com um carcínoma incurável a ser operado deveria recorrcr à humll'dade.
E tampouco são as dores, em geraL um sofrimento supe'rf1u0, uma necessidade
irremediável do dcstinu. De fato, é scmprc possível dentm dc limites mais amplos
atenuá-las. A renúncia hcroica à narcose ou à anestesia locaL ou também, no caso
de uma doença impossível de operar, a renúncia a um medicamento sedativo,
não é para qualquer um, ainda que estivessc ao alcance de Sigmund Freud. Ele
se permitiu renunciar, de modo heroico e até o ñm, a lodo tipo de analgésicos -
literalmente "pcrmitiu-se” renunciar (como é sábio o idioma!). No entanto. não
é a qualquer um que se pode exigir tal renúncia. Náo cumpro nenhuma renúncia
válida, se renuncio por capr1'cho, a tudo aquilo que poderia .'mes.'tesiar a dor.
O médico tcm frequememente oportunidade de observar como um pa-
cientc faz uma mudança de rumoz passando da possibilidade de dar um sentido
a própria vida com a atividade - po.s*sibilidade que está em primeiro plano na
consciência habituaL na exísléncia quolidiana - à necessidade de realizar 0 sen~
tido da própria cxisténcia através do sofrinmnto. a aceitação de um dcslino dolo~
roso. Dispomos aqui de um caso concreto quc nos permite mostrar como não só
a renúncia ao trabalho e à possibilidade de sentido nele existente mas também a
renúncía ao amor pode levar o ser humano a perceber que esse empobrecimento
também nas possibilidadcs de sentido imposlo pelo destino traz em si ainda
possibílídades mais altas de sentídoz
Recorreu a mim um médíco idoso. que. por muito tempo. exercem as fun›
çócs de clínico geraL Um ano ames falecera sua esposa, a pcssoa que amava mais
do que tud0. e não conseguia, no entant0, afastar a dor da perda. Perguntei a esse
meu paciente, fortemente deprímíd0, se já havia refletido sobre o quc poderia ter
acomecido se tivesse falecido antes da esposa. "Nem pensar',' respondeu. "minha
mulher teria ñcado totaJmente desesperada'.' Só precisei então chamar-lhc a aten-
çãoz "Veja 0 senhor, tudo isso acabou por poupar a sua esposa, ainda que ao preço,
sem du'vida, de que seja o senhor quem deve agora suportar a saudadeÊ Seu sofrí-
mento adquiriu um semído naquele mesmo instantez o sentido de um sacrifício. 
' u xl NTIDU Dn SOPRIMENTo
Não podín ncm um pouco mudur o dcslinm mns tinha mudadn dc ntiludc! 0 dcs~
tino lhc linha retirado a possibilidadc dc cumprir um scnndo alravés du nmon Mas
lhe reservara a possibilidade dc adolar, dianle dcssc dcsnna a atiludc adc~quada.
Ou poderia citm a carla quc mc cscrevcrmn os prcsidiários da pcnilenciária
da Flóridaz “Enc0mrei 0 scntido de minha vida .'lg(›m. aqui na prisào. c só lenho de
esperar algum tcmpo até ter a oportunidadc dc rcpurar tudo n quc ñL c de fazcr
tudo melhorÍ O 11L'1n1er00-19246 c.s'creveu›me: “Aqui, na prisãa não faltam oportu~
nidades de se fazer alguma coisa e dc se crcscer além dc si mcsmo. Tenho dc dizcr
que de algum modo sou mais feliz como nuncu fui'.' IE u númcro 552›022 escrcvcuz
Prezado duulor! Nos últimus mcws um grupo dc prc.~.(›s \'cm lcndo scus
livros e tem esculado suas gravaço'cs. Quc verdaldc csl.1: quc sc possa lnm~
bém cnconlrar no sofrimcntn um .scmido... De ulguma muncira posso dizcr
que a minhn vida comcçou agurn ~ quc scnlimcntu cspléndidnl É cnlcrnc~
cedor vcr comu mcus irmàos, cm n0.sso grup(›. cnchcm ns olhos dc lágrimas
ao pcrceber quc sua vida, aqui c agnrm ganhou um scmídn quc anlcs c0n~
sidcravam impossích 0 quc aconlccc aqui chcga a scr quasc um milagru
Homens quc ames sc scntiam dcaamparados c dcscqwrados vccm agora um
novo semido em suas vidas. AquL ncsta prisãm govcrnada pchs nmis rígidas
mcdidas de segurança de loda Flúridu - aqui, a somcnlc um ccm mctms da
cadeira clétrica -, prccisnmente aqui us nossus sonhos turnamm-sc vcrdu~
dciros. Estamos à véspcm dc Nulak nms, pma nós. a logotcrapin .s'ignih1*n a
PáscmL Sobre 0 Gólgmu dc Auschwitz lcvunla-sc. ncsta nmnhà dc Páscuau U
soL Que novo dia se aproxima de nós!
1
 
8
Pastoral me'dica
Podemos qualíñcar aquclcs casos untcs citados como uma pastoml médica.
uma pastoral com que se confronta o médico dialrmmentc em suas consulta~›, c quc
represema um dever legítimo no âmbito das atividades médicas. "Pasloml médica" é
0 objeto do proñssional que tem de lidar com doenças incura~'vc¡'s, do genatra quc sc
dedíca aos idosos enfermos. do dermatologism quc sc ocupa dc pcssoas desñgum-
das. do ortopedisla que cuida de pessoas com deformidndcs locomotoras ou até do
cirurgião, obrigado muitas vezes a mulilar um pacicnte pur causa dc uma intervem
ção cirúrgica. Enñm, todos aqucles que trubalham com pacicntcs quc se encommm
diame de um destino que não se pode allcrar ou que é, talveL ineviláveL L~' nessas
situaçóes, naquelas que não se pode mais~ curar e ncm sequer mitigan resta-nos so-
mente o recurso ao consolo. Que isso vem a propósito du ofício médico pode ser
testemunhado pela inscrição que ostema a entrada pn'ncipal do Hnspital Gernl de
Viena, e com a qual o impcrador Iosé ll dcdicou ao público cssa instituiçáo hospitn~
lar: saluti et solatio aegrorum - não apenas curar, mas mmbém consolar os cnfcrnms.
Encontramos também uma indicação semelhanle na disposição regulamentar da
American Medical Associationz “O médico deve igualmente conforlar u alma. lsto
não é de modo algum uma tarcfa só do psiquiatraL É, muito 51'mp1esmenle. tarctà de
todo médico que pratique a sua proñssão'.' Ev1'dentemente. é possível ser médico sem
se preocupar com i550; mas aqui valc entào 0 que dixs;e. num comexto ana'log0, Paul
Dubois: a única coisa, a saber, que os dite'rencia de um veterinário. é a clicnlela.
 
 
BD 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM S|<N rlDO
É. portanto, uma situação forçosa que pede ao médico 0 exercício da pas-
toral médicaz "Sã0 os pacicntes que nos colocam díanle do dever de assumir tam~
bém a missão da pasloral médica" (Gustav Bally). Trata~se aqui de um papel para
o qual 0 médícn se vé impelido (Karl Jaspers, Alphons Maeder, W. Sculte. G. R.
Heyer e H. I. Weílbrccln, entre outrus). “A psicoterapia [...] é inev1'tavelmente, ain-
da que 0 clínicu não saiba, ou nem queira saber, a pastoral médica [...] Frequen-
temente precisa exerccr de modo expresso [...] os cuidados próprios da pastoral
médiccfÍl A pastoml médica não é. evidememente, nenhum substituto da autên-
tica pastoraL que é e sempre será a pastoral sacerdotaL Contudo, a añrmação de
Victor E. Gebsattel de que o “éx0do da humanidade ocidental do sacerdote para
o neurolog1'sta" termina por nos prover do falode que 0 sacerdote não pode mais
fechar-se em si mesmo e de uma exigéncia, a saber, a de que o neurologista não
pode recusar sua colaburaçãa
Em uma ópoca como a nossa - uma era de ampla disseminação da frustra-
ção existencial -, nesta época de tanlas pessoas desesperadas, porque desesperam
do sentido de sua vida, e maisz daquelas que se revelam inaptas a suportar o sofri-
mento e, na mesma medida, exageram c divinizam o valor e a capacidade do traba-
lho ou do gozo e do prazen ncsta época. añrn1o, tudo isso adquire uma atualidade
singular. Naturalmente, também em épocas anleriorcs existiu algo assim como a
frustração existenciah mas as pessoas que dela padeciam procuravam 0 sacerdo¡e,
e não o médíco.
Não podemos, conlud0. esquecer-nos de que, embora a fruslração existen-
cial não represente em sí um dado patológico, é bem provável que se torne pato~
gênica e conduza, part1'cularmente, a uma neurose. Ou seja, a frustração não é
obrigatoriamente, mas sim facultat1'vamente, de tipo patogénicaz cla pode levar a
uma neurosc, mas não necessariamente, e, ao contrárí0, uma neurose pode estear-
-se numa frustração existenciaL na dúvida ou no desespero quanto ao semido c0n-
creto e pessoal de uma existência, mas não é seu csteio necessa'rio.
Agora, se em um caso concreto a frustração existencíal facultativamente pa-
togênica se torna uma ou outra vez de fato patogên1'ca, quer dizer, conduz a uma
' A. Go"rrcs. Iahrburhfür Psychologie uml Psyrhotcrapt'c, n. 6, l958. p. 200.
l PASÍORAI NEDICA
doença neurótic.-1.cntãoatais neurmcs dcnomino ncumses noogénicas Quc ñque
bem evidentez nem loda frustmçâo cxístcncial sc lorna palogênl'ca. e ncm lodn
doença neurótica é noogén1'ca.
Chegando a este ponto dc nossas considemço'cs,, dcpnmmommj - ao lado du
já discutido perigo do patologismo - com oulro pcrignz o perigo do noologisma
Quer dizer, incorreria no crro do patologismo quem prelcndexsc aflrmm que todn
desespcro leva à neur05e. E. ao contrário. incurrcria no crro do noologismo quem
añrma que toda neurosc esteia~sc no dcscspcro. Não podcmos ignorar o cspimuah
mas também não podemos exagemr 0 valor do cspirituaL Vcr nn cspiritual a u'nica
causa das doenças neuróticas é 0 mcsmo quc prcsmr homcnagem ao noologismu As
neuroses não se enmímm apenas nas camndas do cspírilo. mas também nns camadns
p51'c0físicas. Sim, não hesito em añrmar quc as ncurosesx no sentidu cslrito da pala-
vra, podem ser deñnidas nào como uma doença n(mgênica, nm›, antcs, psicogén¡ca.
E tampouco todas as doenças - quer dizen nào só as psicogôxlica›". scnão lam-
bém as somatogênicas - são du tipo nuogénico. como añrma. a saben um noologis-
mo que nomeia a si mesmo psicossmnálicm mas que c'. nn rcalidade. noussomálico.
A medicina psicossomática ensinaz só lica doentc qucm sc senle docntc ~ mns sc
pode demostrar quc, sob determinadas circunstâncias, ticn também doenle uqucle
que se sente feliz. De falo, a doença cnrporal não tem de mndo algum nquela impor~
tâncía para a biograña pcssoal e aquele valor de cxpmssão pessoal quc a mcdicina
psicossomática lão gencrosamcntc lhe alribui. É vcrdadc quc ism tem, na exi^sténcin
humana. cerla importância biográñca e. na 111ed1'da cm quc tem tal imporrância, tem
também um valor de expressa'o. Porque, cm última a11;1'lisc. a biogmñu não é outra
coisa do que a cxplicaçâo temporal da pessoat na vida que aí dccorra nu cu,'slência
que aí se desenrola, desdobra~se a pessoa, dcsenvolvc-se, como um lapelc que só
assim revela seu desenho inconfundíveL
No entanto, 0 quadro da docnça orgânica nào é retlcxo ñcl da pessoax A me-
dicina psicossomática faz suas contas sem considcrar o dono do estabclccimem
to - sem o organismo psicoswmálica Enquanto estivermos consciemcs dc quc o
homem não pode impor-se no organismo psicofísico enquamo taL 0 quc desejarid
enquanto pessoa eapirituaL deveremos guardar~nos - em vista dcssa impotemiu
aboedientialis - do equívoco de atribuir loda docnça no corpo a uma falha no
 
HZ U \.()I'l'\ln\1lN.'H) l|l L'\.l \ \ HH H~M Sl N l'l[!()
cspírila Abstraímos aqui dos extremismos da noossomál1'ca, como aquele que añr-
ma que um cànccr represema não apenas um suicídio inconsc¡'emc, senào, direta~
mentc, uma execuçào inconsciente da pena capital por algum complexo de culpa.
Aindu que o homem seja um ser essencialmente espirituaL não deixa de
ser uma criatura ñnita; essa limilação reílete a condição do ser humano, que é só
facultativamcme incondicionad0, mas quc, de falo, permanece condicionado. Por
conscgu1'nte, a pcssoa espiritual não pode impor-se incondícionalmente - atra~
Vés das camadas psicoñsicas, Nem sempre é perceptível a pessoa espiritual através
dessas camadas, nem tampouco operantc. É certo que o organismo psícofísico é o
conjumo dos órgãos, dos 1'nstrumenlos, ou seja, dos meios para um ñm; mas esse
mcio é inleiramentc sombrio em rclaçâo à sua função exprcssiva e inteíramente
indoleme em relação à sua função inslrumentaL
É verdade que toda docnçn tem um “selnlid0"; mas 0 semido real de uma
doença não está ali onde 0 procura a ínvcstigação psicossomátíca - não no “que" do
eslar doente, antes no “como" do sofrimento; e assin1, p0is, é um sentido que já deve
estar dado na docnça, e isso acomece sempre que o homcm sofrido, o Homopatiens,
cumpre no sofrimemo autênlico, e marcado por um deslino autênt1'co, 0 sentido
possível de um sofrimemo neccssar'io e inevítáveL Mas não cabe ao médíco designar
esse sentido mediaute inrerpretações psicossomáticasz
A esse respe1'to. é evidente que o “que” do estar doente também possui um
sentido. Trat.'1-se, todavia, de um suprassenñdo, isto é, de algo que ultrapassa todo
o senlido de comprecvnsão humana. É algo que se encontra além dos límites de
toda temática psicoterapêutica legítÍma. A ultrapassagem desses limiles, a ten-
tativa persistente de tbrjar uma patodiceía ou, até mesm0, uma teodiceia, leva 0
médíco ao fracassa No mínimo, levá-lo-a' a um embaraço semelhame ao daquele
homem que, indagado pelo ñlho até que ponto Deus é amor, respondeu-lhe com
um exemplo: “Bem, foi Ele qucm te curou do sarampdÍ Ao que o ñlho replicouz
“Sim, mas primeiro me envíou o sarampdÍ
Assim, o médico deve conhecer não só a vontade de sentido, senão 0 sentido
do sofr1'memo, e, nesta época de dúvida quanto ao sentido, é maís do que nunca
necessário que ele tenha consciéncia - e torne o pacíente consciente - de que a
vida do homcm, também a do homem que sofre, seja sempre carregada de sentido.
-< l'\'~›4m\1 \II||1( k
Em vcz de íllzcr uqui considerawócss lcóricaxm gosmria muilo mnis dc rcporlabmc
a expcriéncius prátiwsg purlicularmcmc a cxpcriências concrclas e rcaisz umJ di.1.
tapei com uma scssào de tcrapiu de grupo organilñada por mcu ass¡'slcntc. 0 Dr. K.
Kucourek O grupo discutia 0 caw dc uma mulhcr quc acnbara dc pcrdcr o ñlhn
de onze anos, vitímado pnr uma '.\pcndícilc agudm rcst:mdn-Ihc um ñlho dc vinlc
anos, que sofria dc parulisía ccrchral c prccisuva nwvcmc numa cadeira de rnd;¡s.
A mãe havia tcntado 0 suicídiu Lx pnr comcgun'nle. fum conduzida c imernuda cm
minha clínich Inscri›me na discussñu do C¡1S0, escolhcndo do grupo uma jovcm a
quem dc improvíso pedi que se imaginassc aos oitcnln anos. próxima da n10ne. c
que lançasse um olhar retrospcclivo sobrc a própria vida. uma vida cheia de pres~
tígio sucial c succsso amor0$0, mas também nada maús du que issuz
O quc dirias u ti mcsmu? 'l'ivc ludu dc hom na vidu. fui ríuL n1imada. dci›
xei os homcns loucos dc p.-u'xào, cnquanln llcrmva cmn clcsn c n.|'(›.1h.1ndom-i
nenhuma tbrma dc prazcn Mas agum csluu vclhm nàu livc íilhus c lcuho dc
admitir quc, rigorosnmcntc tMauIdm minha vida lbi um fracassm viatu quc
não posso lcvnr nnda comigu ao túmula Pam que cstivc nn mundo?
Convidei emão a mãe do dcñcíemc físico a COIOCJFSCna mesma situação e
que nos dissesse 0 que pensava:
Eu scmprc descjei ter ñlh()s, c cstc meu Llescjn rcdl'il.'ou›se. O mais jn-
vem fuleceu. c ñquei sozinhu com o mais vcllm Sc nâu fosse cu. o quc lhc
leria acontccido... provávcl que tivcssc xido lcvudu a uma ínsliluíçào pam
deñcicntes mcnmis; mus cra cu qucm csmva ali c pudc ajudáJo n faurwsc
homan Minhu vidu nãn foi umjrAucusm É posmívcl quc tivcssc sidu diliuL
havia muims larcfus pura cumprir, mus conscgui .s'upcr¡í-I.Ls c tornar a minhu
vida plcna dc scnlida Agora posso morrcr cm paz.
Somcmc emrc soluços cla conscguíu prolbrir cssas pulavras. Pudcram delas
então tirar os outros pacientcs a lição de quc 0 que impurlu nào é tumo que a vida
de um ser humano seja do|0rosa ou pruzcrom mas que scja carrcgada dc scntidu
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Logoterapia e religião1
Para a logoterapia, a religião pode scr um objeto « não umu posiç.1-'o. A rcli-
gião é um fenómeno do homan do p.1'cicnlc, um fcnômcno cntrc oulms fen(›1ne-
nos que cnconlra a logoterapia. Nu cmanm pura a lugmcrup¡'u, tunlo a c.\1“slc'ncia
religiosa como a irreligiosa são, cm pr¡ncípí(›, fcnômcnos c0c.\'islcnlcs. Em oulras
palavras, a logotcrapia devc assumir pcruntc clcs uma aliludc ncutnL A logolcrapia
é uma orienlação da p's.ic0terapia. e csta podc scr cxcrcida - ao menns scgundo a
legislação médica austríaca - pur aquelcs quc sãn méd1'cus. P(›rlanto, c nàn por 0u-
tro motivo, o logotcrapcula, uma vclx quc tcnha presmdu o juramemu lu'pocr.1"lic0.
deve cuidar para que seu método c técnica (Iog<›lcrapéuticos) scjam aplicudus a to-
dos os doentes, crentes ou dcscrentes; c também pnm quc ns técnicm logolcrupéw
ticas scjam aplicadas por qualquer médico1'ndcpcndeutemcntc dc sua cu.s'movnsãn.
Dcpois desse nosso esclarecimento acerca da posição da lngotempia no âm~
bito da medic1na, voltemo-nos agora à sua dclimitaçño diamc du tcu10g¡a, u quaL
a mcu ver, se podc esboçar do seguime n10do: 0 objclivo da p.s'icolcrap1'u é a cura
psíquica ~ 0 objelivn da religião, contudo, é a salvação du almzL lssu não quer dizcn
naluralmenle, que os objetivos da psicoterapia e da religião se cnconlram no mes~
mo plano. A dimensão na qual se ínsere o homem rcligioso é muis clcvadm qucro
* Confcréncia pmferida em l964. organizada pcla Sociedadc “Medicina e Paslornl" de StuugurL n(›
Colóquio de Elmauen 
MI 0 SOFRIMENTO Dh UMA VlDA SIÉM ShNTIDU
dizer, mais abrangenle do que a dimensâo na qual sc move a psicotcrap1'a. PorénL
esse avunço numa dimensão clevada não se dá no conhecimemo, mas na fé.
Se pretendcmos agora determinar a relação da dimensão humana com a di-
vina. ou seja, com n dimensão supra-humana, devemos entâo recorrer a um símbo~
lo da proporção áurea. Como se sabe, essa proporção matemática preconiza a ideia
de que a parte menor sc rclaciona com a parte maior assím como a parte maior
com o todo. Como também se sabe. 0 animal vive no ambícnte da própria espécie,
enquanto 0 homem “tem o mundo" (Max Scheler); mas o mundo humano se rela-
ciona com o mundo sobrenaturaL assim como o mundo animal se relaciona com 0
mundo human(›. O que quer dizerz do mesmo modo que o animal nâo é capaz de
entcnder, a partir de seu amb1'entc, o homcm c o seu mundo, tampouco é possível 0
homem lançar um olhar no mundo superior.
Tomemos o exemplo de um macaco em que sc aplicam injeçóes dolorosas
com o íntuíto de obter um soro capalz de curar numemsas doenças. O macaco pode
compreendcr por que tem de sofrer? A partir do seu ambiente ele é incapaz de com-
preender as intençócs do homem empregadas em scus cxpcr1'n¡entos, uma vez que o
mundo humano lhe é ínacessích Ele não alcança esse mundo, nâo consegue penetrar
em sua dímensão; não podemos entào supor que 0 mundo humano é também, por
seu tum0, superado por outro mund0. que, por sua ve/.', não é acessível ao homem,
um mundo cujo sentido, cujo suprassentid0, é o único capaz de dar semido à sua dor?
No entant0, o passo executado pcla te" na dimensão supra-humana funda-
menta~se através do amor. Em princípio, isso é uma realidade bem conhecida.
Menos conhecido, contud0, é 0 fato de que para essa realidade existe uma pré-
-formação infra-humana. Quem já não viu um caclwrro que, conduzido ao vete~
rinário e submetido a um tratamento doloroso em seu benef1'cio, clevou 05 olhos
cheios de conñança para o d0no? Sem poder "saber” qual sentido deve ter sua d0r,
o animal “acrcdita),) enquanto conña em seu d0no, ele cré exatamente porque 0
ama - sit venia anthropomorphismo.
No que diz respeilo ao "passo para a dimensão supra-humana'l não podemos
forçar o homem, muito menos pela psicoterapia. Sentimo-nos já satisfeitos de não
encontrar a porta do supra-humano bloqueada pelo reducionísmo seguido por uma
psicanálise mal compreendida e vulgarmeme m'terpretada, e logo apresentada aos
'l IUGOTTRAPIA F RHIGHO
pacientes. Senlimo~nos iguulmcntc satisfel'ms dc quc não se aprescntc Dcus cnmo
um “nada mais que" uma ímagem~de-Pai e a religiãn como um "nada mnis quc"
uma neurose da humamidadtx nem de quc os rcb3ixc. assinL aos olhos do pacicntc.
Ainda que a rclig1'.1'-o, como dito antcriormente, não scja para a lngolcrapia
mais do que um objcto, ela. contudo, Ihc ó muíto cara. c pur uma razão muito sím›
plcsz no contcxto du logotcrap1'a. logos signiñcn cspírito c, além disso, scnlida Por
espírito entendemos a dimensão dos íbnómcnos cspcciücanlcmc humanos. e. em
contraposíção ao reducionismm a logotcrapía sc rccusn a reduzi<los a lbnómcnos
sub-humanos ou a dcduzi-los destcsx
Na dimensão especificamcntc luumma lmvcriamos dc luculiznn cntrc
oulros. os fenómcnos da aututranscendéncia dn exislência cm direçãu ao l0-
gos. Com efeito, a estlência humana aponta scmprc pnra além dc si mcsnm',
aponta sempre para um sent1'do. Ncsse aspcclm a cxisléncia não é para o ho-
mem um empenho pelo prazer ou pelo podcn nem tampoucu pclu aulorrcali-
zaçã0, mas antes pclo cumprimcmu dc um scntída Na logotcrapia lhlamos dc
uma vontade de sentid0.
Uma vez que podemos detinir 0 homem como um scr responsách 0 ho-
mem é responsável pelo cumprimento de um scmid0. Contudo, em vez de ta'zcr-
mos a pergunta do “para que" na psicotcrapi.'1, é preciso colocar-se c deixar em
abcrto a pergunta do “dianle dc que" dc nosso scr«rcspL111s."d'\“Ll. prcciso deixar ao
pacienle a decisão de cumo imerpretar o seu scr-rcsponsávch como ser~respon-
sável diante da soc1'edade, diamc da humanidadu diantc da wnsciéncia ou diante
não de algo, mas díante dc alguém, diante do divino.
Poderia levanlar-se a objeção de que não sc deve dcixar ahcrtu cssu pergunta
do “diantc de que" do scr-re.s*ponsávcl d(› paci011t0. Scnãu quc u rcspostu seja dadu
já há muim tempo sob a forma de revclaçã0; a prova. purénL claudicn. Cmn eíc"i-
tu, essa aponta para uma petitio principiL uma vcz que 0 fmo dc quc reconheço a
revelação enquanto tal prcssupóc sempre uma decisão dc te". Não thria o mínimo
efeit0, portanto, sc diante de um incrédulu se aludissc ao 111to de que cxisle uma rc›
velação; porquc se o paciente a aceitassc como mL 10rnur~se~ia enlão um crc'dulo.
A psicoterapia deve mover-se, portanlo, aquém da fé nn rcvelaçãu, e a per~
guma do sentído deve dar uma resposla aquém da linha que sepura de um lado a
HB
_.:.~:z=z-.w_.
-›:
0 SUILRIÀÍPNJTU l)]- l \.1.\ \'H)z\ SLM M \.H|)()
concepção tcísta de mundo e, de 0utro, a concepção ateísta. Mas se essa pergunta
compreendc o fenômeno da fé não como uma te" em Deus, senão como a íe" num
sentido mais amplo, cnlão é perfeitamente legítimo debruçar~se sobre o fenôme-
no da fé e ocupar-se dele. E isso casa perfeítameme com a añrmação de Albert
Einstcin, que disse, certa vez, que um homem que encontra uma resposta à ques~
tào do sentido da vida é um homemreligiosa
A fé do homem no sentido é, em termos kantianos, uma categoria trans-
cendentnL Do mesmo modo que, como sabemos desde Kant. é um contrassenso
perguntarmo~nos por categorías como espaço e tempo, pclo simples fato de
que não podcmos pensar e, portanto, não podemos perguntar sem pressupor
de antemão 0 espaço e o temp0. do mesmo modo o ser humano é, de ante-
mão, um ser voltado para o sentido, meshlo que ainda não o conheçaz existe.
de qualqucr modo, algo assim como um conhecimento prévio do sentid0. Um
pressentimenlo assim do sentido serve de base ao que na logoterapia designa-
mos "vontade de sentiddÍ Quer ele o queíra ou nã0. quer ele o admita ou não,
o homem crê num sentido até seu derradeiro suspir0. O suicida também crê
num semído, aínda que não de vida, de continuação da vída, mas ao menos no
sentido da morte. Se não acreditasse realmente cm nenhum sentid0, não teria
tbrças sequer para mover um dedo e, portanlo, cometer 0 suicídi0.
Vi morrer ateus convictos que durante Ioda a vida se horrorizavam com a
crença em “um ente superíor” ou em algo semelhante, em uma acepção dimensio-
nal do Sentido elevado da vida. No entanto, no leito de morte, tíveram algo que não
foram capuzes dc viver ao longo de décadasz testemunharam uma segurança
não só contrária à sua concepção de mundo, mas que também não se pode
intclectualizar e racionalízar. De projímdis irrompe alg0, impõe algo, aflora uma
confiançu ílimitada que não se sabe 0 que ou contra 0 que se manífesta, nem tam-
pouco em que ou quem conña, mas que resisle ao conhecímento do infauslo prog~
nósticu Quem bate nessa mesma tecla é Walter von Baeyer, quando escrevez
Detemo~nos nos pcnsamcntos e observaçóes pronunciados por Plu"gge.
No emanto. em tcrmos objeliv05, já não existe mais nenhuma esperança.
O doente que conserva plenamente sua Iucidez deve ler percebido há muito
'J l(\(¡0HR^l'lA E RHJGÍAO
que já não há mais esperança de vivcn Em qué7. A csperançn dcsses docnlcs.
que num primciro nwmento sc vulta à cura físic.1, cscondcndo assim no
fundo um contcúdo signiñcaüvo dc carálcr lransccndcme. prccisa nncorar-
-sc nn sua hulmnidudc. quc nunca pudc dcimr dc scr uma cspcrança numa
consunmção futum na qunl o homcm cunvcnicmemcnlc c nntumlmcme
acrcdim, ainda que não ñxadu em um dognuL
O leitor depamu-se anteriormentc com uma citação dc Albert Einsteim se-
gundo a qual 0 homem que encontra uma resposta il qucstão do scntido da vida
é um homem religioso. Go.s*tnn'a somcnte dc completar com uma declarnção se-
mclhante proferida por Paul Tillich, que nos ofcrcce a scguinte deñnição: "Ser
religioso signiñca c010car-se apmlxonadmnente a pcrgunta do semido dc nosa
existênciiÍ Ludwig Wittgcnstein utbrecenos u scguintc deñniçãoz “(Ircr cm Dcus
signiñca ver que a vida tem um sentido" (Diu'ric›s. l914~ 1916). Em todo cas0, po~
de-sc dizer que a logoterapm - que é scmprc c primordialmeme uma psicotcrapia e
que, enquanm taL pcrtcnce ao âmbilo da psiquíatria e da medicina - está legítun'a~
da a ocupar-se não só com a “v0ntade de scnlid0'.' comu a lugotcrapia o dcsigna,
mas também com a vontade de um sentido últímo, com um suprassenlida como
costumo chama'-lo; e a fé religiosa c'. aíinul de contas, uma te" nessc suprawsemido ~
uma conñança no mlprasscntidu
É verdade que a nossu concepção de religião tcm. considerand0-a de ma-
neira afetuosa, muito pouco que ver com a estrcitczn conteÃssionaL c sua conse«
quéncia, a miopia religiosa, que tende a vcr em Deus um entc que só se intcressa,
fundamcnlalmente, por istoz o númcro dc pcssoas que Nele acredile dcve ser
0 maior possích e, a par disso, exammentc como prescreve uma delerminada
conñssão. Pessoalmente, não consigo imaginar quc Dcus possa ser lào mesqLu'-
nh04 Não consigo igualmente imaginar, como algo sensalq que uma ígreja me
exüa que creia. Também não posso qucrcr crer. do mcsmo modo que nào posso
obrigar-me a nmar ou, do mesmo modo, obrignr-mc a ler esperança. ainda mais
quando sei que isso é inútiL Há coisas que não se dcixam lcvar por um qucrcr
ou não querer ~ lumpouco se dcixam produzir por meio de uma c.\'ígéncia ou
por meio de uma ordem. Para aprcsentar um simples excmplo2 não posso rir por
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meío de uma ordem. Se alguém deseja que eu ria, lem emão de se esforçar para
me contar uma boa piada.
E de maneira análoga acontece com o amor e a fé; amor e fé não sc deixam
manípular. Como te'nómenos intencionais que são, só se manífestam quando se dá
um conteúdo e um objeto adcquados.
Certa ve7,, fui entrevistado por uma repórter da revista americana Time, que
me pergunlou se a tendência da época era de afastamento da religiãa Respondi
que a tendência não era afastar-se da relig1'ão, mas, sim, daquelas conñssóes quc
não tinham outra coisa que thzer senáo lutar entre si e atiçar os ñéis uns contra os
oulros. A repórter perguntowmc enlão sc isso qucria dizer que, mais cedo ou mais
larde, se chegaria a uma religião unívcrsaL 0 que de pmnto neguei. Muito pelo con-
trári(›, disse. Caminhamos, muito mais, cm direção não a uma religião universaL
mas a uma religião pessoal - profundamente personalizadm uma religiosidade a
partir da qual cada indivíduo encontrará o seu próprio idioma, pessoal e originaL
ao se dirigír a Deus.
Mas isso nem de longe signiñca que não haverá mais rituais e símbolos co-
lctív05. Existe igualmeme uma pluralidade de idiomas e, no entanto, não há para
muitos entre eles um alfabeto em comum?
De uma forma ou de 0utra, em sua d1'versidade, as religióes sc parecem com
os diferentes idiomasz ninguém pode dizer que o seu idioma é superior ao dos
demais - em todos os idiomas o homem pode aproximar~se da verdade, da única
verdade, e em todos os idiomas pode ele cnganar-se e até memixz E, assim, pode
também encontrar, por meio de qualquer religiâ0, a Deus - ao úníco Deus.
Resta~nos perguntar se, cm geraL se pode falar de Deus, c não antes com ele.
A frase de Ludwíg Wittgensteinz “whereof one cannot spcak, thcreof one must be
silent” - sobre aquilo que não se pode falar, deve-se sílenciar - não só podemos
traduzir do inglés para o alemão, mas também do agnosticismo para o teísmoz do
que não se pode falar, a este se deve rezar.
Hoje em dia os paciemes dirigem-se ao psiquiatra porque duvidam do sen-
tido de suas vidas, ou porque sc desesperam de não encontrar scja que sentido fon
A dizer a verdade, nínguém pode queixar-se, atualmente, de que falta um semido
à vida, visto que só precisa alargar 0 próprio horízonte para perceber que. ainda
v Il3tul||l|(\|'l\í RllthÀÚ
que gnzcmus de pr().s'pcridndc, null'os, contmlo. padcccm dc carcslia. Gnlamus dc
|ibcrdade. mas ondc sc cncontra a rcspnnsubilidadc para com os dcmai›? An Iongo
dos séculos. a lnunanidade vcnceu os obstáculos a favor dc uma fé cm um Deus
único. do n101wteísmo, mas onde ñca o conlwcimcnlo de uma humnnidadc u'nic.1,
um conhccimcmo quc gostarin dc dcnominur monantrupisnw? O conhecimemo
em torno da unidadc da humam'dndc. uma unidade quc rompa todas as difcren~
ças, quer da cor da pcle quer da cor dos partidom
Il
 
10
A crítica do psicologismo dinâmico
W. Van Dusen salíentouz “Todas as terapias assentam~se em uma con-
cepção do mundo. No entamo, no que díz rcspeito a essa concepção, são
poucas as que põem as cartas sobre a mesa, como faz a análise ex1'stencial".
De fato, toda psicoterapia toma por sua uma determinada anlropologia -
também a psicanálise. Ninguém menos que o psicanalista Paul Schilder rec0-
nheceu que, realmente, ela é uma Weltanschauung -“concepção do mundo”.
Gostaria de dizer que toda psicoterapia se baseia em premissas antropo-
lógicas - ou, se essasnão são conscicnles. em implicaçócs antropológicas.
E isso é ainda pior: devemos a Sigmund Frcud 0 conhecimemo do pcrigo que
espreita os conteúdos psíquicos. mas tambénL como podcmos dizer, o peri~
go que espreita as atitudes espirituais enquanto estas permanccem incons-
cientes. Não tenho dúvidas em afirmar que o psicanalista tão logo indique
ao paciente para estender-se no divã e associe livremente. já lhe apresenta
igualmente uma determinada concepção de ser human0, uma concepção que
deixa de lado a personalidade do paciente, que evita um encontro pessoal
do homem com 0 homem, um contalo face a face, olho no olho. Quando um
psicanalista procura op0r-se a todo tipo de valores. essa atitude de sua parte
implica então em um juízo dc valor. O que acontece na práxis? Tomemos, por
exemplo, as associações livres, em cuja produçào, como é bem conhecido, se
baseia o método de tratamento psicanalíticol
 
94 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
Iá na añrmução dada, implícita na indicação à qual se entrega a associa-
çã0|1'vrc.de que é permitido entrcgar-se ao jogo livre da própria imaginação.
há uma tal dec1'sãn,quc está longe de ser evidcnte, sobre o poder e o dever do
homem; csta conslítui cm si mcsma uma resposta parcíal à pergunta sobre o
que é o homem e qual scja 0 scu ideal c o seu ñm.'
Bem, um homem de tão reconhecida reputaçã0, como 0 conhecido psica-
nalista Emil A. Gutheil (Nova York), editor do American Iournal ofPsycotherapy,
eleva sua voz admoestandoz
Hoje em dia são poucos os casos de pacientes cujas associações são re-
almente espontâneas. A maíor parte das associações que 0 pacieme produz
no curso de um tratamento prolongado são qualquer coisa menos "!ivres";
muilas vezes são avaliadas para transmitír a0' analista determinadas ideias.
as quais o pacieme supõe que são bem›vindas ao analista. Em tais casos,
os pacientes trazem à tona um material associativo previamente calculado,
ou seja. determinado a agradar o analista. Aparemelnente, os pacicnlcs da
psicologia adleriana sofrem somente dc problemas de poder, e seus conflitos
encomram~se, ao que parece, exclusivamenle condicionndos pcla ambiçã0.
pela aspiração à superioridade c coisas do gênero. Os paciemes dos discípu~
Ios de Jung inundam seus médicos de arquétipos e de vários símbolos ana-
gógícos. Os frcudíanos escutam dc seus pacientes a conñrmação da presença
de complexos de castração, de traumas dc na›c1'mento ou algo equivalente.
Não seria possível pensarmos que a análise didática ajuda a impedir os juí-
zos de valor inconscientes? Bem, parece-me que essas análises por sua natureza
são mais capazes de contribuir para o surgimento de tais juízos de valor incons-
cientes. Ninguém aqui precísa ír tão Ionge como William Sargant, que em seu livro
A Conquisla da Mcnte aponta para o fato de que muitas vezes a psicanálise se
consídera encerrada quando o paciente acolhe inteirameme para si as opiniões do
psicoterapeuta c se tenha quebrado toda a resistência com respeito à interpretaçâo
' A. Gôrres. Metlmde und Erfahrungen der Psychounalyse. Munique, KõseL l958.
IO A CRÍTICA DO PSICOLOGISMO DINÀMILO
psicanalítica dos acontecimentos passados. lsto é, ev1'dentementc. ir longe dcmais;
contud0, não menos evidente é a resposta do analista nova-i0rquino ], Marmor~'
quando chama u atenção para o hábito que todo analista tem de ínlerpretar toda
crítica à sua pessoa ou à psicanálise como expressão de uma resistência por parte
do paciente. Gostaria, neste ponto, de ir mais longe ao submeter à Vossa reflexão
o fato de que o fenómeno contrário da resisténcia, a saber. não uma transferém
cia negativa, senão uma positiva ou - se devo assim me expressar ~ a auséncia
de resistência do paciente. traz em si uma atitude acrítíca perante a psicanálise.
Isso pode ser apropriad0, portanto, à análise d1'dáu'ca. 0 psicólogo londrino H.
]. Eysenck declarou, de maneira estr1'ta, que todo aquele que se submete a uma
análise didát1'ca“torna-seincapaz de julgar objetivamente e de um modo absoluta-
mente imparcial as concepções psicanalíticas'.' “Quando o psicanalísta añrma que
0 'psiquiatra com formação purameme teór¡ca' que não tbi ele mesmo analisado,
não pode, apesar da melhor boa vontade, interpretar psicologicamente de maneira
correta, então é chegado o ponto em que o diálogo cientíñco se enccrra, scndo
substituído por uma decisão de fé“ - explica H. ]. WeitbrechL Durante a discussão
cientíñczu 0 partícipante não analisado é íntimidado com o recurso à censura, sob
o título de “na'o-ser›analisado',' e, portanto, incapaz de tomar parte na discussão,
senão que também se manipula, de maneira anál()ga. a opinião pública à medida
que se inocula no público o sentimento dc culpa. Procede-se assim como se aquele
que é contra a psicanálise fosse de antemão suspeito de scr neurótico ou repressivo,
reacionári0, um antissemila ou até um nacionaLsocíalista.
É da esséncia do psícologismo extrair, da génese de um ato espirituaL con-
clusões sobre a validade de seu conteúdo - em outras palavrasz ao psicologísmo
importa menosprezar algo de modo lógico ao mcsmo tempo que 0 deduz psi-
colog1'camente. No caso especíñco de S. Freud, diz H. Kunzz *A( imprudéncia de
Freud ao introduzir 0 psiwlogismo, qucr dizer, o recurso, na luta pcla psicanálise.
a tendências de lipo desconhecido pode, quem sabe, encomrarse enraizada numa
ànsia extracientíñcãí O ínteresse por motivações psicológicas. diz Dietrich von
Hildebrand, ou seja, por saber por que alguém manítewsla uma opin1'ào, faz uma
" J. Marmor, 'Ihe American Iaurnal ofPsychiatry, n. 110. 1953, p. 370.
95
 
96 0 SOFRIMENTO l)[<. L'.\|.-\ \'lI)A 5E\.15P\¡”I'll)0
añrmação, assume um ponto de vista diante de uma teoria - tudo isso suplanta
mais e mais o imeresse pela questão de se essa opinião, añrmação ou teoria é ou
não verdadeíra; logo que assim se procede, continua Dietrich von Hildebrand, co-
meça a propagar-se uma perversão devastadora (“a dísustrous perversion").
Para dar um exemploz Sigmund Freud apresenta a ñlosoña como “uma das
formas mais decentes de sublimação da sexualidade reprimida, nada mais'Í3 Pode-
mos entenden destarte, por que Scheler falava da psicanálise como uma “alquimía'2
segundo a qual seria possível desprender dos instintos coisas como bondade, amor
etc. Muito menos, añrma M. Boss,
se pode deduzir de meros instintos uma existéncia lão exemplar como a que
o próprio Freud supôs exemplarmeme conduzir. Uma transformação dos
instintos a partir de si mesmos, em um dever humano de veracidade e em
um autossacrifícío a serviço da ciência como, por exemplo, se dístingue no
destino de Frcud, é algo que permanece para sempre inimagináveL
É óbvio que pode haver casos em que a inquietação e a preocupação do
homem com o sentído últímo e majs elevado de sua vida, digamos assim, não re-
presentem “nada mais” do que uma sublimação dos instintos reprimidos, e pode
igualmente haver casos nos quais os valores realmente represemem “formações
de reação e racionalizações secundárias'Í Para autores como Ginsburg e Herma,
são, de fat0, nada mais do que isso; mas se trata provavelmente de simples casos
de exceçã0, e. de modo geraL a luta por um sentido de vida é um fator primári0,
e mais aindaz a característica mais primária. E, se podemos chamá-la assím, um
constitutivo da existência humana.
Pode ser necessário desmascarar e desvendan Mas é preciso parar diame do
auténtico; e esse ofício de desvendar sÓ pode ser um meio para o ñm de fazer sobres-
sair 0 que é autêntico, de distingui-lo do inautêntico e, assin1, fazer que o autêntico
se destaque mais ainda. No entanto, onde 0 desmascaramento e o desvendamen-
to se tomam um ñm em si mesmo, onde não se detém diante do auténtico -
o que, precisamente, não se pode desmascarar-, então esse desvendamento já não
3 Ludwig Binswanger. Erinnerungen arl Sigmund Freud Berna, Francke, l956.
IO. A CRITICA DO PSICOLOGISMO DINÀMKLO
é um mero meio para o ñm, então esta tendéncia ao desvendamento nào é senão
uma tendéncia a desvalorizar~5e. Perante as árvores das mentiras da vida, o psicó-
logo, que desvenda, já não vê mais 0 bosque da própria vida, uma vez que a ànsia
de desmascarar, de desvendar. termina por desembocar em cinismo, lornando~se
ao ñm e em si mesma uma ma'scara, a máscara do niilismo.
A u'1tima coisa que a psicoterapia pode permitir-se é ignorar a vontade de
sentido e, em vez de deter~se díante dela como algo originário, julga'-la uma sim-
ples máscara, segundo os ditames de uma psicologia que se considera a si própria
aquela que desmascara_. Certa vez, fui procurado por um chefe diplomático ame-
ricano que se encontrava há nada menos do que cinco anos em Nova York sob
tratamento psicanalítico. Sentia~se tentado por um único anseioz desistir de sua
carreira diplomática. No entant0, o psicanalista que o vinha tratando todo aquele
tempo procurava movê~lo a ñnalmente reconc1'líar-se com o pai: o chefe não seria,
pois, “nada mais” do que uma imugo do pai, e todo o seu ressentimento e rancor
provinham justamente de sua luta irreconciliável com essa imagem. A questão
importante, se o chefe realmente merecia ser reje1'tado, ou se não seria melhor
largar a carreira diplomática e trocar de proñssão, não foi colocada uma única vez
durante todo aquele tempo de tratament0, que consistia numa desenfreada con-
tenda, braço a braço, do psicanalista com 0 pacieme contra aquela imagem Tudo
isso como se não houvesse nada que valessc a pena levar em consíderação, como
se só a pessoa imaginária merecesse atenção e cuidado, e não a real... A verdade
é que não havia mais nenhuma realidade para antepopse a essa imagem, que se
tinha desvanecido havia muito tempo da presença da dupla psicanalista›pac1'ente.*
não existia um chefe reaL nem tampouco um posto diplomático de fato. muito
menos o mundo independente de toda essa imagenn um mundo cujos problemas
e exigências esperavam uma solução. A psicanálise tinha arrastado o paciente
para uma espécie de autointerpretação e uma visão de si mesmo, e arriscaria a
dizerz para uma espécie de imagem monadológica do homem, uma vez que
a linguagem analítica se concemrava excessivamente naquela obstinação irrecon-
ciliável do paciente em relação à imago do pai. Mas não era nem um pouco difícil
salientar que o serviço diplomático e a carreíra do paciente lhe haviam frustrado ~
se assim posso expressar-me - a vontade de sentido. No momento em que o
9,'
 
 
98 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO
paciente largou o serviço diplomático, teve, ñnalmente, a oportunidade de fazer
valer a sua verdadeira aptida'o.
Resta-nos mencionar um terceiro ponto - algo que vai além da vontade
de sentído e do sentido do sofrimento; discutir, a ñm de completar nossas con-
siderações acerca da imagem do homem na psicoterapia, a liberdade da vontade.
O que já nos leva ao centro da teoria metaclínica de toda psicoterapia, e teoria quer
dizer visào, visão de uma ¡magem do homem Nâo se trata, todavia, de que nós,
os médic05, devemos levar a ñlosoña para dentro da medicina, mas de que nossos
pacientes nos tragam sua problemática ñlosóñca.
É evidente que o homem está submelido a condicionamentos por assim di-
zer biológicos, psicológicos ou sociológicos. Nesse sentido. não é livre - ele não
está livre de condicionamentos; não é de modo algum lívre de algo, senão que
é livre para alg0. Quero dízer, livrc pam lomar posição perante todo e qualquer
condícionamenta
Consideramos que o grau de liberdade também se presta a uma existéncia
psicótica. De fato, 0 homem que sofre uma depressão endógena pode também se
opor a essa depressão. Dai-me permissão de ilustrar isso com o trecho de uma his-
tória clínica que tomo por um documento humano. A paciente era uma carmelita,
e em seu diário descrevia a evolução da doença e de seu tratamenta Notai bemz
um tratamento orientado também para a farmacoterapim e nào someme para a
logoterapía. Limitar~me-ei aqui à citação de um trecho de seu diárioz
A triSteza é minha a›111pan|1c1'ra conslantu Não imporla 0 que cu faça, a
tristeza coloca um peso de chumbo sobre minha alma. Onde estão os meus
ideais, toda a grandeza, a bcleza, wda a bondade, tão cstimados outrura pclo
meu anseio? Meu coração se acha dominado por um tédio bocejnnm Vivo
como que jogada a um vazio. Existem momentos nos quais até a própria dor
me é recusada.
Confrontamomos aí com os sintomas de uma melancholia anaesthetica.
A paciente continua sua descriçãoz “Em meu tormento, clamo por Deus, o Pai de
todos. Mas Ele também silencia. No fund0, só desejaria uma coísaz morrer; morrer
hoje mesmo, se isso me fosse possíveFÍ E segue então uma reviravoltaz “Se eu não
10 A (IRÍTICA DO PSICOLQGISMO DINÀMICO
tivessc a consciéncia dada a mim pela fé, segundo a qual não sou dona de minha
vida, ja', e muims vezes. teria mc cnlregado ao vazio'.' E conlinua, triunfamez
Ncstu lb'. comcçn a trunsrbrmarsc mda a amargura du sofrimcnm Por-
que aqucle que pcnsn quc a vida humana tcm dc scr um cmuinhar dc éxilo
a éxitU, '.1s.".scnwlha›'s.c a um tulo quc mcncia a cabcça dianlc dc uma constru~
ção e sc admim quc sc csleja cavundo um abismo ondc sc dcva ergucr uma
catcdraL Deus cdiíicu um lcmplo cm cada ulma humana. No meu caso. Ele
está juslmnenlc a cawar o aliccrcc. Mcu dcvcr consiste em suportar dc boa
vontade os golpes dc Sua pá.
Seu contbssor a repreend1'a, dizendo-lhe que uma boa cristà não deve sofrer
de depressão. Mas isso era como colocar água no moinho diante da tendéncia à
zlutorreprowúçâa tâo camclerística da dcpraxsãu cndo'gena. Na reall'dade. a religiw
sidade não tàculta nenhuma garuntia conlra us docnças neurótims e nem sequer
comm as psicóticas. E, ao contrár1'o, eslar livrc dc neuroscs nãu é ncnhuma gamn-
tia de que u pessoa scju religi(›sa. Dim dc outra tbrmaz sería precipitado supor que
estar livrc de ncuroscs é uma guramia mais ou mcnos uulonuitiw de verdadcira
rcligiosidmic. li não seria menos prccipitado supor que uma vcrdadcira religíosi~
dade protege de doenças neuróticax Nesse sentido. nem a verdade nos toma livres,
nem a libcrdadc nos 1342 vcrdudciros.
É claro quc 0 clínico podc lançnr um olhar aqui c ali ao fundo da superfície
do psicótico até a pcrsonalidnde do docmc 7 duslocadal c oculta por cssa psicosa
A despeito disso. a prática módica conñrma de maneím contínua aquilo que uma
vez designci como meu credo psiquiálricoz a crença absoluta na pessoa espirituaL
c também na dos doentcs p.s1'cóticus.
Scja-Ine agnra permitido refcrir-me a um caso clínico especíñcm certa Vc7,.
troumrmwme um homan de uns scssenta anos, quc sofria de uma dchkiência
que, em seu cstado tinaL aprcsentava traços de csquizofrenia. Ouvia vozes. pois
padccia de alucinaçóes acúslicas, aulismo e 0 dia todo não thzia oulra coisa sc-
não rasgar papé1's, e lcvava uma vida aparcntememe sem sent1'do. Quisóssemus
ater-nos à divisào de tarefas vitaisg segundo Alfred Adlen 0 nosso paciente - csse
“idiota',' como era chamado - não cumpria, portunta ncnhuma dessas tarethsz nào
99
100 O SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO 
 
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' "'!¡ .ç¡"- ~, .'-'-°w~›v-':_-..U ':~ .': EL .-' ›'r. '- -.. m- z- -
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se ocupava de um trabalho, encontrava-se como que excluído da comunidade e
Qs ,~~\
privado sexualmeme, para não se falar do amor e do matrimônio. E, contudo,
que singular e notável charme desprend1'a-se daquele homem, do âmago de sua
humanidade, que permanecera intacto e não afetado pela psicosez tínhamos diante
de nós um grande senhonI Durante nossas conversas, constatamos que às vezesse irrilava sem um motivo aparente, mas que, no último moment0, era capaz de
dominar~se. Aconteceu então que eu lhe perguntasse mais ou menos o seguintez
“A“ñnal de contas, por amor a quem o senhor se domina?" E ele me respondeu:
“Por amor a Deus...'.' Vieram-me então à mente as palavras de Kierkegaardz “Mes-
mo se a loucura me surgisse aos olhos em seu traje de bufão, sempre posso salvar
a minha alma, se triunfa em mim o meu amor para com DeusÍ
 
 
0 que diz o psiquiatra a respeito da
literatura moderna?1
Quando me convidaram a pronunciar, neslu reunião, uma conferéncía, mi-
nha primeira reaçào foi de hcsitaçãa Vede, scnh()res, são tantos os represemantes
da litcratura conlcmporânca que sc ocupam por goslo dos ramos da psiquialria -
ainda que de uma forma antiquada de psiquiatriu ›, que não mc via tentado a
aumentar o número de taís diletantcs, 1'ntr01nctcndo-1ne, como p51'quiatra, no ter-
reno da literatura conlcmporâncax
A isso vem juntar-se 0 falo, ainda não delnonstrad0, de quc a psiquialria
esteja autorizada a adotar uma posição sobrc o assunto. Não vos deixcis lcvar pela
ideín dc que a psiquiatria sc encontrc apta a solucionar lodos os problemas. Até
os dias dc hoje, nÓs, psíquiatras, não sabemos sequcr, por exemplo, qual é a rcal
causa da esquizofrcnia - quanto ma¡s. como bem já sabcmos, os meios de curá~la.
Nós, os psiqu1'atras, não somos ncm oniscimtes, ncm onipotentcs; 0 único atributo
divino que se podc a nós conccdcr é 0 da oniprescnçaz em todo simpósio vedes um
p51'quiatr.1', em Koda discussão estutais sua voz e o encontrais uté nestu rcuniãom
Penso, contudo, c para falar a sério, que é prcciso que se deixe ñnalmemc
de superestíman de idolatrar a psiquia1riu, e que se faria muílo melhon e mais,
se passássemos a humanizá-la. Deveríamos, de início, evitar colocar no mesmo
' Conferência pmnunciada cm língua 1'ng|esn, em 18 de novembro de 1975, com 0 lítulo “A Psychiatrist
Looks al l.i|cralur<.",' n convite do PL"N-Club ImernalionaL
 
104 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
saco 0 que existe de humano no homem e o que existe de doente nele. Em outras
palavras, o que se nos pede é um diagnóstico diferencial entre um estado psíquico
adoentado e um estado de necessidade espirítual - aquela necessidade espiritual
que resulta, por exemplo, do desespero de um homem diante da apareme ausência
de sentído em sua existência ~, e quem poderia negar que estamos a tratar aqui de
um dos temas favoritos da literatura contemporânea?
Pois bem, assim se manifestou Sigmund Freud numa carta à princesa Bona-
partez uNo instanle em que alguém se pergunta sobre o senlido ou valor da Vida,
está doente. Nesses casos, simplesmeme a pessoa mostra que tem uma carga de
libido 1'nsatisfeita'Í Entretamo, pessoalmeme. inclino-me a pensar que é justamen-
lc neste momento que o homem evidencia uma única coísa, a saberz que é um
homem verdadeirameme auténtico. Nenhum animaL porlanto. jamaís se colocou
a questão do sentido de sua existéncia. Nem sequer um dos gansos de Konrad Lo-
renz. Mas é 0 homem que se aflíge com essa questã0. Não 0bstante, não se deve ver
nela o sinloma de uma neurose; pelo comrário, considero uma realização humana.
uma vez que é próprio do homem não apenas perguntar-se pelo sentido da vida,
mas também questionar tal sentido.
Mesmo se em algum caso particular sc Concluísse que 0 autor de uma obra
literária estava realmente doeme - que talvez até sofresse de uma psicose e não
apenas de uma neurose -, isso implicaria uma objeçã0, ainda que mínima, contra
0 valor e a verdade de sua obra? Creio que na'0. Dois mais dois sâo quatro, aindu
que seja um esquizojrfnico quc o ajirme. E, de maneira similar, creio que em nada
avilta a poesia de Hõlderlin e a Verdade da ñlosoña de Nictzschc 0 fato dc que o
primeiro sofria de esqui7.ofrenia, e o segundo, de pamlisia cerebraL Pelo contra'rio,
estou Convencido de que as obras de Hõlderlin c Nietzsche conlinuam sendo lidas,
enquamo o nome dos psiquiatras que escreveram volumes inteiros a rcspeito des-
ses “casos" há muito tbi esquecid0.
Todavia, embora seja verdade que a patologia está longe dc dizcr algo contra
o valor de uma 0bra, não é menos verdade que diga algo a favor. Mesmo no caso
de um escritor que seja um doeme psíquico, veriñcamos que uma obra importante
sua jamais surgiu por causa dc uma psicose, mas apesar dela. A doença nunca é.
por si só, criativa.
í
›
1
f1<1I1I
ANEXO > 0 QUE DIZ 0 PSIQUIATRA A RESPEITO DA LITERATURA MODERNM
Tornou~se moda em nosso tempo avaliar a literatura não só a partir de
uma perspectíva psiquiátrica, senão, em particular, a partir de uma psicodinâmi~
ca ínconsciente, na qual supostamente se fundamenta. Em consequéncia, a assim
chamada psicologia profunda considera que sua príncipal tarefa consiste em des~
mascarar as motivaçóes secretas ou reprimidas no inconscieme. O mesmo vale.
evidememente, para a produção literária. O que disso resulta. quando a obra de
um poela é estendida sobre um “leito de Procusto',' podeis julgar pela crílica literá«
ria escrita por um dos mais ilustres psicanalistas e publicada numa revista amerí-
cana em uma obra de dois volumes sobre Goelhe2
Ao longo de l.538 páginas. 0 autor retrala um gênío com sinais parti-
cularcs de perlurbação maníaco-deprcssiva, paranuica c epileptoidc, dc hOA
n1(»*sexualid.1'de, incesta voyeurisnm, exibicionisnw. fetichismo, impmén-
cia, narcisisn10, ncurosc obsessivu, hlslcr1'a, n¡cg.'\lomanía, elc.
O autor parece tbcalizar quase exclusivameme a dinámica instintiva que
servc de aliccrce à obra artística. Ele nos quer fazcr crcr quc a obra dc Goethe não
é mais do que 0 resultado de ñxações pré-genitais. Sua luta c esforço não seriam
por um ideaL pela belcza ou por oulros valorcs, mas. na rca11'dade, pretenderiam
superar o problema de uma ejaculação precocc Como Freud foi sábio ao añrmar,
certa vez, que nem sempre se deve imerpretar um charuto como um símbolo fálico
- às Vezes, um charuto pode signiñcar simplcsmcntc um charuta
Diria que há um ponto no qual o desmascarumento deve paran isto é, exa-
tamente ali onde o psicólogo depara com um tewnómeno em que simplesmeme não
há por que desmascarar, porque é autêntico. Se 0 psiaãlogo seguc adianle com seu
trabalho de desmaxaramcnm acaba, é verdadc. por revelar algo, o seu próprio
motivo inconsciemez desvalorizar 0 que há dc humano no human
Perguntemomos então o quc torna esse desmascaramento lão alrativu
Bem, parcce que aos medíocrcs causa prazer ouvir diler que Goethe era, afmal
de contas, um neurótico, um ncurótico como tu e eu, sc é quc posso expressar-me
assim. (E quem estiver 100% livre de neurose, que atire a primeira pedra.) Apa~
rentemente, e por alguma razão estra'nha, agrada-lhcs quando alguém añrma que
0 homem não é nada mais que um simples macacm 0 campo de batalha do id. do
IOS
106 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
ego e do superego, o joguete de instintos, o produto de processos de aprendizagem,
vítima de condições e circunstâncias socioeconómicas Ou de pretensos comple-
xos. Apesar desse determinismo e desse fatalismo, lão amplameme difundidos,
escreveu-me uma vez uma leitora do Alabamaz “O único complexo que me afeta é
o pensamento de que eu devería ter com efeíto algum complexo. De1x'ei para trás
uma infância medonha e, contudo, estou convencida de que do terrível pode tam-
bém resultar algo posilivdÍ
A mim parece que esse desmascarament0, que antecipadamente põe em
prática 0 reducionismo, com sua frase estereotipada do unada mais que',' pro-
porciona a muitas pessoas uma pronunciada alegría masoquista. Acrescentese a
isso o que disse o psiquíatra londrino Brian Goodwim 'A(s pessoas se semem bem
quando são levadas a crer que não são mais do que (1'sto' ou (aquilo,' do mesmomodo quc muitas são aquelas que acrcditam que um remédio, para ter efeit0, deve
ter gosto amargdÍ
Retomando, contud0, o tema do desmascaramento literári0, diremos o se-
guintez seja qual for 0 fenómeno ao qual 0 reducionismo atribui a produção 1iterá-
ría - seja um fenômeno normal ou anormaL consciente ou inconsciente -, tende-se
hoje em dia a interpretar a produção literária como um ato de autoexpressa'o. Em
contrapart1'da, defendo a opinião de que o escrever nasce do 'fdlar e todo falar, por
seu turno, do pensar. E não existe pensamemo sem algo pensado, sem algo a que
se referir, sem síntese, sem um objeto. E o mesmo se pode dizer do escrever e do
falar, uma vez que ambos estão ligados a um sentido - 0 semido justameme de
querer comunicar algo. E se a linguagem nào tem um sentído, se não tem nenhu-
ma mensagem para comun1'car, então não é de modo algum h'nguagem. É um erro
enorme a añrmação (contida no título de um livro bastante conhecido): “O meio
é (em si) a mensagenfÍ Pelo contrári0, penso que é a mensagem que transforma 0
meio transmissor da mensagem em verdadeiro meio.
Para todos os efeitos, a linguagem é a expressão de uma realidade; é algo
mais que mera autoexpressã0. Com uma exceção. Faz parte da verdadeira es-
séncía da línguagem dos esquizofrênicos, como pude demonstrar anos atrás,
a não referência a um 0bjet0. De fato, ela é sempre, e tão somente, a expressão
de um estad0.
 
ANEXO - O QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA?
Emretanto, a linguagem do homem normal é e permanece, sempre, uma
reíêréncia a um objeto, isto é, aponta para algo além de si mesma. Numa palavra,
a linguagem se distíngue pela autotranscendénc1'a. E o mesmo se pode dizer, de
modo geraL da existéncia humnmL O ser humano está sempre voltado para algo
que não é ele mesmo - para algo ou para alguém, para um sentido que o homem
cumpre, ou para outro ser humano que venha a encontran
Essa autolranscendência da cxistência humana pode ser mais bem exph'«
cada se recorremos ao exemplo do olh0. Haveis alguma vez vos dado conta do
paradoxo de que a capacidade do olho de apreender o mundo depende de sua
incapacidade de ver a si mesmo? Quando 0 olho vé a si mesmo uu algo de si mes-
mo? Só quando adoece. Se sofro dc catarata, percebo-0 sob a forma de uma nu-
vem; vejo então, em volta das fontes luminosas, uma auréola de cores do arco-ín's.
De um modo ou de outro, à medida quc o olho vê algo de si mesmo, nessa mesma
proporção perturbmse a visa'o. O olho devc ter a capacidade de não reparar em
si mesmo. E o mesmo acontece ao homem. Quamo menos repara em si mesmo.
quanto mais esquece a si mesm0, ao emregar-se a uma causa ou a outras pessoas,
mais ele é 0 próprio homem, mais se realiza a si mesmo. SÓ 0 esquecimento de si
conduz à scnsibilidude e só a enlrcga de si amplia a cr1'atividadc.
O homem é, em virtude dc sua autotranscendência, um ser em busca de
sentida No fundo, é dominado por uma vontade de sentid0. No entanto, hoje
em dia essa vontade de semido encontra-se em larga medida frustrada. São cada
vez mais numerosos os pacientes que recorrem a nós, os psiquiatras, acometidos
de um semimento de vazio. Esse semimcnto de vazio tornou~sc, em nossos dias.
uma neurose de massa. Hoje o homcm não sofre muis tanto. como nos tempos de
Freud, de uma frustraçào sexuaL mas sim de uma frustração existenciaL E hoje
náo 0 anguslia tamo, como na época de Alfred Adler, um semimento de 1'nte'-
rior1'dade, sena'o, bem mais, um senlimcmo dc faltu de sentido, acompanhado
de um sentimento de vazio, dc um vazio existenciaL Se me pergumais como eu
explico a génese desse sentimento de vazio, só posso dizer que. ao contrário do
animaL o homem não tem ncnhum instimo que lhe diga o que tem dc ser, e. ao
contrário do homem de tempos anteriores, não há mais uma tradiçào que lhe diga
0 que dcve ser - e, aparentemente, não sabe sequer 0 que quer ser de verdade.
IO 1
108 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
Por conseguinte, cle só quer 0 que os outros fazem - e então nos encontramos
diante do conformismo -, ou só faz o que os outros querem dele - e emão nos
encontramos diame do totalitarismo.
E se não soar tão frívolo, diria que esse sentimento de vazio tem algo que
ver com o tema geral deste encontro, e com o fato de que justameme as três dé-
cadas de paz que se tem concedído ao homem de hoje possib¡'h'tam-lhe o luxo
de elevar-se acima da luta pela sobrcvívência, acima da mera subsistência, para
pergumar-se pelo “para que” da sobrevivência, pelo derradeiro sentido da exis-
lêncía. Em outras palavras, quanto a esses trima anos, deixemos que nos fale
Ernst Bloch: 'A'os homens são concedidas preocupações que antcs só o confron-
tavam na hora da morteÍ
Seja como for, o sentimemo de vazio é também 0 pano de fundo do aumen-
to generalizado de fenómenos como a agressividade, a críminalídadcx a dependén-
cia de drogas e o suicídio - particularmente emre a juvemude uníversitária.
Parte das obras da literatura contemporànea também pode ser interpretada
como sintoma da neurose de massa. Precisamente quando o escritor se limíta a
uma mera autoexpressão ou se contenta com um expressar de si - um exibicionís-
mo Iiterário que não díz nada - é que traz à tona a expressão de seu sentimento de
vazio e falta de sentido. Maís do que íssoz nào apenas traz à tona, senão que põe em
cena o absurdo, o contrassrznsa E ísso é completamente compreensíveL De fato,
o senlído autémico precisa ser descoberto, pois não pode ser inventado. Sentido
nâo pode ser produzido. Não é tecnicamente exequível. No entanto, o absurdo e
o contrassenso podem ser criados, e deles fazem uso generoso alguns escritores.
Tomados pelo sentimento de auséncia de semido, expostos c entrcgues a um vazio
completo de sentído, atiram-se sem hesitar à aventura de prcencher 0 vazio com o
contrassenso e o absurdo.
A literalura, porém, tem uma escolha. Não precisa conlinuar sendo um sin-
toma da atual neurose de massa, mas pode muilo bem contribuir para o seu tra-
tament0. Com efeíto, os homens que passaram pelo inferno do desespero, através
da aparente falla de sentido da existéncia, são precisamente aqucles que podem
oferecer aos outms homens, como um sacrifíc1'o, seus sofrimcntosx justameme
a autoexpressão de seu desespem que podc ajudar o leitor - igualmente atingido
 
ANEXO - 0 QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA!
pelo sofrimenta de uma vida sem sentido - a supera'›lo, mesmo que seja para mos-
trar~lhe que não se encontra só. Em outras palavras, ajudá-lo a lransformar o sen-
timento de absurdidade em sentimento de soliduríedude. Nesse caso. a alternativa
não é mais “sintoma ou terapia',' senão que o síntoma é uma terapia!
Sem du'vida. se a literatura deve exercer essa função terapéutica ~ ou seja.
realizar seu potencial terapêutico -, deve renunciar a entregar-se, numa prálica
sadomasoqu1'sta, ao niilismo e ao cinismo. Ainda que o escritor possa provocar
no leitor - ao comunicar e compartilhar com ele seu sentimento de auséncia dc
sentido - uma reação catártica, não deixa, contudo, de agir irresponsavelmente
quando lhe prega tão somente o absurdo da existéncia. Se o escritor não for capaz
de imunizar o leitor contra 0 desespero. deveria ao menos evitar infectá~lo com seu
próprio niilism0.
Mínhas senhoras e meus senhores, amanhã terei a honra de fazer o pro~
nunciamento de abertura da Semana Austríaca do Livro. O título que escolhi éz
“O livro como terapia'Í Nesse context0, comunicarei aos meus ouvintes alguns ca-
sos nos quais um livro mudou de maneira decísiva a vida do leitor. díssuadind0-
-o de cometer suicídia Como médíco, conheço alguns casos nos quais um livro
ajudou homens no leito de morte ou no cárcere. E contar-vos-ei agora a história
de Aaron MitchelLO diretor da mal afamada colónia penal de San Quentin, que
se encontra nas proximidades de San Francisco, convidou-me para proferir uma
palestra aos presos - todos réus de delitos graves. Ao ñm de mínhas palavras,
aproximou~se de mim um dos ouvintes e me disse que haviam impedido os con-
denados ao death row, retidos em sua cela à espera da execução, de assistir à pa~
lestra. Perguntou-me então se eu não poderia dizer algumas palavras, ao menos
pelo m1'crofone, a um delcs, o Sr. MitchelL que seria executado na câmara de gás
dentro de poucos dias. Senti-me impotente. Mas não podería furtar~me àquele
pedido. lmprovisei, portamoz
Acredite em mim, Sn MitchelL dc alguma maneira posw entender a sua
s¡'tuaçào. Añnal de comas. eu também tive de viver, durante algum tempo, à
sombra de uma câmara dc gás. Mas, acred1'te-me, Sr. MitchelL nem sequer
emâo renunciei por um só momento à minha convicção de que scjam quaís
forem as condições e as c1'rcunstan'c¡'as, a Vida tem um sentido. Porque ou a
109
 hMN_ 
llO O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
w'da tem realmente um sentido - e então preserva esse sentido mesmo que
só venha a durar poucos instantes ~ ou não tem ncnhum sentido - c então
não o terá nunca, mcsmo que dure muito tcmpo. Até mesmo uma vida apa-
rentememe desperd1'çada, pode. relroativamente. encher-se de Senlidoz ao
nos elevarmos, mediante o autoconhecimento, acima de nós mesmos.
E vós sabeis enlão o que contei em seguida ao Sr. Mitchell? A história da
morte de lvan Ilitch, como nos foi legada por Liev Tolsto'i. E com certeza a conhe-
ceisz é 0 relato de um homem que, confrontado com o fato de que não mais viveria
muito tempo, adquire de repente a consciéncia de como havia arruinado a vida.
Contudo, precisamente esse conhecimento o fez crescer tanto em seu interior que
foi capaz de preencher de sentido retrospectivo uma vida que parecia lào absurda.
O Sr. Mitchell foi 0 último homem executado na Câmara de gás de San
Quentin. Pouco antes de sua morte, concedeu uma entrevista ao San Francísco
Chrom'cle, em que não deixou dúvida de que ñzera sua, sob todos os aspectos, a
história da morle de Ivan Ilitch.
De tudo isso se pode concluir 0 quanto um livro pode ajudar 0 simples “ho-
mem da rua" em seu caminho, em seu caminho de vida e em seu caminho para
a morte. Ao mesmo tempo, lança uma luz sobre a imensa responsabilidade social
que recai sobre os escritores.
Não me objeteis que estou defendendo e propugnando incondicional-
mente a Iiberdade de pensamento e sua manifestação de palavm e de escrita.
Sou contra o “1'ncondic1'0naln1ente'Í Pois a liberdade não é a última palavra.
A liberdade pode degenerar em arbitrariedade, caso não scja vivida com respon-
sabilidade. Talvez agora compreendais por que recomendo tão frequentemente
aos meus estudantes americanos que ergam uma estátua da rcsponsabílidade
junto àquela sua da liberdade.
Bibliografia de Viktor E. Frankl
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ÁUDIO E VIDEOCASSETE.'
As gravaçóes histórícas de som e imagem de conferéncias, palestras e entre~
vístas dadas por Viktor Frankl no decurso das últímas décadas, em todo mundo,
são conservadas e guardadas com apoío do Departamento de Cultura da Cídade
de Viena. Gravações em língua alemã podem ser adquirídas no:
AUDITORIUM Netzwerk,
Dipl.-Pa"d. Bernd Ulrich,
Weinbergstrasse 4,
D-97359 Schwarzach, Deutschland
Disponível também na página: http://www.auditon'um-netzwerkddmainl
frankl.htm.
Referéncias bibliográñcas, bem como informaçóes a respeito de gravações
de vídeo e áudio em alemão e ínglês, estão disponíveis na página do Vikt0r-Frank1-
-Institut: httpzllwww.viktorfrankl.org
ll7
Índice onomástico
A C
Adler, 9, 33-34, 36~37, 67-68, 99, Caruso, 38
107 Casciani, 27
Adorno, 24
Allport, Gordon W., 36
AppelL 38
Cohen, Hermann, 74
Crumbaugh, James C., ll, 14-15, l7,
27
Cushing, Harvey, 70
D
Dansarl, 27
Dubois, PauL 79
Durlak, 27
Dusen, W. Van, 93
B
Bacon, Yehuda, 30
Baeyer, Walter von, 88
Bailey, PercivaL 70
Bally, Gustav, 80
Barber, 17
Berze, Iosef, 40, 70 E
Binswanger, Ludwig, 45, 96 ECkartsberg RolfV0n, 10
Black, 17 Ehrenwald, I., 40
Bloch, Ernst, 68, 108 Eibl-Eibesfeldt, 21
Boss, Medard, 33› 96 Einstein, Albert, 23, 27, 88-89
Bmd Maxy 75 Eysenck, H. I.. 95
BÀuckley, FrankM., 12
Bu"h1er, Charlotte, 36
F
Fechtman. 17 
 
120 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO
Fraíser, l7
Freud, Sigmund, 9-10, 18, 22, 33-36,
45, 67-68, 76, 93, 95-96, lO4-05,
107
Frosch, 61
G
Garza-Perez, J., 58
GebsatteL Victor E., 37, 80
Gerz, 55-57
Ginsberg, 61
Ginsburg, 96
Goethe, l3, 74, 105
Goodwin, Brian, 106
Go"rres, A., 80, 94
Gregson, 17
GutheiL Emil A., 40, 94
H
Harvey, 39, 70
Herma, 96
Hess, W. R., 18
Heyer. G. R., 45, 80
Hildebrand, Dietrich von, 95-96
Hoff, Hans, 70
Horn, Myron ]., 62
I
Iachym, Franz, 45
Jaspers, KarL 66, 80
Ioelson, Edith, 43
Johnson, V., 62
Jung, 33-34, 37-38, 94
K
Kant, 65, 88
Katz, Ioseph, 14
Kierkegaard, 66, 100
Klitzka LA L., lO, 68
Kocourek, K., 46, 58, 83
Kozdera, 46, 58
KratochviL 15, 27
Kr1'ppner, Stanley, 17
Kunz, H., 95
L
Langen, 12
Ledermann, E. K., 45
Ledwidge, B. L., 58
Leet, Becky, 67
Lewin, 24
Lham0n, 39
Lifton, Robert Iay, 20
Lorenz, Konrad, 18-19, 6l, 104
Lukas, Elisabeth, 12, 14, 16, 27
M
Maeder, Alphons, 45, 80
Maholick, Leonard T., l4-15
Maki, B. A., 17
MandeL Ierry, 28
Marmor, I., 95
Maslow, 15›16,28
Mason, 27
Masters, W., 62
Meier, 27
Murphy, 27
Myers, 39
N
Norris, David L., 63
Novalis, 24
~7ww-
bfrm
P
Padelford, Betty Lou, l7
Pavlov, 68
Petrilowitsch, Nikolaus, 14, 44
PtlanL M., 41
Philbrick, Joseph L., 11, 68
Píndaro, 66
Planova, 15. 27
Plügge, 88
Polak, PauL 68
Popielski, 12, 27
PrilL 12
PynummootiL George, 53
Q
Qualtinger, Helmut, 71
R
Richmond, 27
Rotthaus, 41
Ruch, 27
S
Sadiq, Mohammed, 52, 54
Sahakian, B. ]., 62
Sahakian, W. S., 62
Sallee, 27
Sargant, William, 94
Schaltenbrand, 39
Scheler, Max, 35, 86, 96
Schilder, PauL 93
Schmid, 38
Schopenhauer, 69
Schultz, I. H., 44, 58
Selye, 40
Shapiro, 61
INDICE ONOMÁSTICO
Shean, 17
Sherif, Carolyn Wood, 19
Smith, 27
Soly0m, C., 58
Soly0m, L., 58
Stewart, 61
Stokvis, 41
T
Tillich, PauL 27, 89
TolL Nina. 12
Tolstó1', Liev, 110
U
Urban, 38, 40
V
Vanderpas, J. H. R., 45
V()lhard, 12
VymetaL Osvald, 10, 68
W
Weitbrecht. H. J., 38, 80, 95
Werner. 12
Wertheimer, 24
Wittgenstein, 27, 89-90
Wust, Peter, 25
Y
YarnelL 27
Young, ll, 27
 -.: W-w
.4-_..:,
Ind ICe
A
Ajluent society, 15, 26, 28
Agorafobia, 45, 47-48, 55
Agressa'0, agressiv1'dade, 18-20, 108
Alcoolismo, 17
Amor, 15, 18, 21-22, 73›74, 76›77, 86,
90, 96, 100
Análise didática, 94-95
Ansiedade antecipatória, 48, 50, 59
Arquétip0, 38, 40, 94
Associação livre, 94
Atos t'alhos, 35
Autoexpressão, 100, 106
Aut01'nterpretaça'o, 97
Autotranscendêncía, 15, 87, 107
C
Capacidade de sofrer, 73-77
Ciência, 96
Competições esportivas, 19
Complexo, ll, 38-40, 65, 72, 82, 94, 106
Condições sociaís e econônúcas, 67, 106
analIt'I'co
Conflito, ll, 39-40, 43, 47~48, 65, 94
Conformismo, ll, 26, 108
Consciênc1'a, ll, 25~27, 34, 4l, 56, 65,
76, 82, 87, 99, 110
Crescimento econômic0, 29
Cr1'al1'vidade, 73, 75. 104. 107
Criminalidade, 20, 108
Crise da aposentadoria, 70
Crise energética, 29
Culpa, 28, 82, 95
D
Dependência de drogas, l7, 108
Derreñexãm 59-63
Desmascarar, desvendar, 96-97, 105
Despersonalização, 22-23. 47
Distensã0, 36, 63
Doença do empresári0, 71
E
Educação, 26, 37
Eñc1'éncia,42, 44, 58
Encontro, 15, 24, 4l, 66, 73, 93
 
124 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO
Espiritualidade, 34
Estado de bem›estar sociaL 28-29
Estatística, ll-12
Estresse. 40
Experiment0, 18, 63, 86
F
Frustração exístencíaL 9-12, 16-18, 67,
69-72, 80-81, 107
G
Gestalt, 24
H
Hiperintençã0, 59-63, 66
Hiperreflexão, 59-62. 66
Homeostase, 35-36
Homo patiens, 74-75, 82
I
Inconsciente, 34, 37, 56, 72, 82, 93~94,
105-06
Intenção paradoxaL 48, 51-58, 60, 63
Investigação da paz, 18- l9, 23
L
Liberdade, 22, 49, 9l, 98-99, 110
L1'nguagem, 69, 97, 106-07
Logoterapia (ver também “Derreflexão"
e “Intenção paradoxal”), 55-56, 58,
60, 69, 72, 77, 85-91, 98
Logoterapia de grupo, 17
M
Marxism0, 10
Medicma psícossomátíca, 81
Monantropism0, 91
Morte, 12, 25, 28, 68, 83, 88, 108-10
N
Necessidade, 12, 15, 23, 28-29, 69, 72,
76, 104
Neurose dominicaL 28, 70
Neurose fóbica, 49
Neurose noogénica, ll-12
Neurose obsessiva, 46, 49, 58, 105
Neurose sexuaL 20›24, 59-64
Noolog1'smo, 81
P
Pastoral médica, 79-83
Patodiceia, 82
Poder, 40, 65, 67-68, 7l, 87, 94
Pornograña, 61
Prazer, 16, 20-22, 50, 59, 61, 65-69, 80,
83. 87, 105
Psicanálise, 18, 34-35, 39-47, 59, 65,
86, 93«97
Psicologia analítica, 34, 37
Psicologia das alturas, 13
Psicologia individuaL 34, 37, 65, 68
Psícologismo, 33, 37-38, 93, 95
Psicosc, 49, 99-100, 104
Psíquiatria, 9, 12, 58, 70, 89, 103
R
Reducionismo, 86-87, 106
Religiã0, 38, 85-9I
Repressão, 35
Resistência, 47, 63, 94›95
Reumanização da psicoterapia, 23
Revelaçã0, 87
S
Satisfação insuñcieme, 12
Sensíb1'lidade, 44, 107
Sentid0, 9›30, 34, 37-38, 43, 65-77. 80,
82-83, 86›90, 96-99, 104, 106-10
Sexualidade, 18, 20-22, 35, 50. 61, 63, 96
Sintoma substituto, 50
Sofrimento, 9, 27-30, 37, 73-77, 80,
82, 98-99, 108409
Sonho, 35, 39›40, 42, 77
Sugestã0, 40›41
Suicídi0, 12, 69, 82783. 88, 108-09
Suprassemido, 82, 86, 89
T
Teatro do absurdo, 25
Técnica, 22, 29, 42. 61~62, 85
Tédi0, 67-69, 98
Tempo livre, 28-29, 70-7l
Terapia breve, 58
Terapia do comportamento, 44, 57
Teste, 11412, l4, 39
Tolerância, 26
Totalitarism(), ll, 26, 108
Tradição, ll, 107
Transferénc1'a, 4l, 44, 95
Transpirar, 52, 55
Trauma, 39-40, 46, 59, 94
Trem0r, 52v55
Tríade trágica, 28
Tristeza, 28, 98
V
Valor, 11, l4, 16. 22, 43, 73-75, 80, 93,
96, 104
125INDICE ANALITICO
Vazio existenciaL 9, l I, l7, 20. 22, 26,
28-29,67-71,107
Verdade, 25, 28, 90. 99
Vontade de poder. 65. 67, 71
Vontade de prazer, 59, 65-67, 69
Vontade de sentido, l3-18, 23, 27-
29, 51, 65-69, 7l-72, 82, 87-89,
97-98, 104

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