Prévia do material em texto
NJVIKTORFRANKMLW wmv 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO CAMlNHOS PARA ENCONTRAR A RAZÃO DE VIVER Cupyrighl 0 Viklur Lü Prankl publicado cm acurdu cum us hcrdciros dr Victor E. ankL Pnra mais infotmaçàcs sobrc o aulnn aasac o silc hllp://www.viku›rfr.1-nkLorglclslnndardlcxlauhlmL Copyrighl dd cdiçào bmsilcim M 2015 É Rcalizações líduorn Tllulo origimL Das Lcídcn um sinnlosvn chm Editar Edsun Manoel de Olivcira Filho Produçâo sdímrial c projcto grújico É Realizaçóes Editura Prcpamçáa dc tcxm Lucas Carmxo Revisâo Dyda Bessana Capa AZlMika Matsuzake Crédim dc imagcm da capu Copyright @ Roy Ooms¡/ Masterñlc / Latinstock Rcservadus lodos 05 dircnm Llesta obra. Pmihida ludn c qualqucr rcprodução deam edlçàu pnr qualqucr mcio ou forn|a, sc)a cla ulelrónicn ou mccàmcm folocópia. gmvação ou qualquer nulm meio de reprnduça'u, scm permlssão expressa dn cditon CIP-Bk^s¡L. CATALUGAÇÃO-N^-FON'I'E SINDICATO NACIONAL nos EanoREs m LIVR()S. RI F915$ FrnnkL \'ikmr l':. (\'Iklur Em|l). 1905~l997 O sofnmenln de umn vidn scm ›r:mido : cammhos para cncunlrar a mzão de viverl VIklor Franld ; lmdução Karlcno Bocarm - l. cd. › Sàu Paulo : É Rcalizaçôcs. 2015 128 p. ; ..3 cm. deuçào de: Das leidcn nm smnlosen lcben lnclui btbliugmña c índlce ISBN 978~8578033›209A4 l. Psicnnálise 2. Psicologia cxis|enC|aL I.T1tulo. CDD: 150.l95 CDU2 1593642 15725038 28/07/201527/0712015 E Rcahzações Ed|'lom. Ijvmria c Dlstribuldora Ltda. Rua Frdnça Pintcn 498 ~ São Paulo Sl' - 04016-002 Calxn Poslalz 45321 -04010-970 - Tclclhxz (5511) 5572 5363 alendImenlo®ercallzacneycomhr - wwwrrcahmcoacumbr Lm Ilvro rm xmpmssn pcln |'-.d|çucs' Loyoln m agnam de 2015. Os hpoA sãn da mnilu Mnuon Pm c Frcvboolcr Scnpl chulan O papul du mwln é u uíÍ whne norbritc sbg. e u d4 cap.l. carlàu nmgbu mr ZSOg VIKTOR E. FRANKL U SUFRIMENTD DE UMA VIDA SEM SENTIDO CAMINHOS PARA ENCONTRAR A RAZÃO DE VIVER Tradução Karleno Bocarro Rcvisão técnica Nilsy Helena (SOBRAL - .›\'s.50ciaç30 Brasilcira dc Logolcrapia c Análísc l'- islcnc1'.x-l Y-r.\'nl\'li.'1na) Jl i ' '..,. ~1: Win u _ ~_ FSUMÁRIO Introduçãoz O sofrimemo dc uma vida scm scnlido ..................................................9 A REUMANIZAÇÃO DA PSICOTERAPIA 1. Freud, Adler e Iung ...................................................................................................33 2. A logoterapia..............................................................................................................43 3. A intenção paradoxal ................................................................................................51 4. A derreñexão..............................................................................................................59 5. A vontade de sentido 6. A frustração existencial ............................................................................................69 7. O semido do sofrimento ..........................................................................................73 8. Pastoral médica ..........................................................................................................79 9 . Logolcrapía c rcligião................................................................................................85 10. A crílica do psicologismo dinàmico ANEXO Índice onomástico ....................................................................................................... 119 Indice analítico ............................................................................................................ 123 !g ( T ãnv m '.. Introdução O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO| Cada época tem suus ncuroscs c CdLLl lcmpo prccisa dc sua p'~.icotcrupia. De falo, hojc não nus defmnlalnns mais, comn nm lcmpns dc Frcud. cnm uma frustração sexuaL mas, sinL com unm fruslmçàu cx1's.lcncx'ul. li o paciemc típico de nossos dias nào snfre talm›, como nm tcmpos dc Adlcn dc um scntimcn~ to de 1'nferioridadc, mus dc um svmimcmo abismnl dc fuha dc scnlidm quc cx.ta' associado a um sentimcmo dc vnzio intcrior, mmo pclu quul lcndo u fdhr dc um vazio existcnciaL 'lo'memus uma carla quc mc c.scrcvcu um csludunlc umcricuno c da qu.11 mc contentarci em cilar duas frascsz “líncnnlr07mc uquL nm lísladus Unld0s., ccrcadn por jovens de minhzl 1'dadc, que buscum dcscspcmdumcnw um scmidn p.1m sun emslêncim Um dc mcus mulhorcs amigm lhlucu rcucnlcmcnlc purquc nàu c011s:c- guia cncomrur cste sentiddÍ li minhu c.\'pcriónci.1' cm univcrs.|'d.1'dcs. .'unerican.1'.s* - ' O le.\l0 quc sc scguc corrcspondc a confcrúlmias. Lleds cm \'.1rsu\id. .I mnvnc d.1 Suucdadc Poloncsa du Psiqlualrim na Aula dJ Um'\'cr.sldadc dc /'.unquc. .\ cnnvilc d.\ l-und.|ç.|'n lilnnmh c em Munlque, n cnnvnc dn líundaçam Carl |~ricdridrvun Slcmcnx l)cmm d rsLl inlroduçím n lilulu de "0 sofrlmcnln Llc umu vlda scm scmuln" purquc h(›.1 purlc dclu rupmdul pmugcm LIC dum cnnlLTéncias com cssc mcsmo lilulu DU lcxlu d.1 pruncmL pl'u|n1ml.\d.1 n.¡ Auld d.l Unlvcrudddc dc /,'un'quc. u hmdaçàu I.Imm.¡l (Rnwl1bll|xl~kra›sc ÂL (III-X(I~H, /'.lllIL|llL') dixpàc dc xUPldh cm Íorma dc vídco c a'udu›. Quanln à scgundm a l-'un(›lcc.1 Auslr¡'.n-.n (\'\'chL,›'.¡ssc 2'. ›.\ |U(~(). \'Icn.1) ~ um inslilutu dn \.1inislúrlodc('.i'-u)c'ms ~ utcrccc rcpruduçücs vm mn mssclu Adcxu.\ls. .I Pundaçàn Limmal I.Inçou s.cpam(a.s dc um nmgn pubhudo nn Srlnv :crl\.(hm .-\kudvmíkcr› umi Snulmlvn vamg cnm u lilulo “() sufrinwnlu dc uma v1d.1 scm xcnliduÍ lonmndu pur hnsu wm Inudlhkdçócsn a gravaçâo cm ñlu magnéncm IU U \Ul RHH \,' IU l)I l'\.|.r\ \'1D.r\ SIÂ\| 51\I|¡)U alé o momcmo devu lcr proferido 129 confbréncias somente nos Estados Unidos, o que me otbreceu ocasiãn pmpícia para entrar em comato com os estudantcs - corro- bora que as partes da citadu carta sâo represemativa5, à medida que retlctem o estado de ânimo e 0 semimemo dc vida predominames na juvemude acadêmica aluaL No emnnm, não someme entre os jovens. A respcito da geração dos adul- ¡(›s. limitar-mc-eí a apontar o resultado das pesquisas levadas a cabo por Rolfvon Ecknnsbcrg jumo aos alunos lbrmados da Universidade Harvardz vime anos após a conclusãu de sua graduaçãq uma porcemagem considerável desscs estudantes - que, cnlrcmentes, tinham feito carreira em suas respectivas árcas c, além disso, aparcntemcnte lcvavam uma vida digna e feliz - queixavam-se de um sentimento abismal c dcñnitivo de auséncia de sentidcx E nmltipHcam-5e os indícios de que o scntimcnto de absurdo e falta de sentido granjeia uma crescentc propagaçàa Sua presença é hoje constatada tam- bém pclos colcgas de orientação puramentc p51'canalítica, bem como por aqueles do campo marxism Assim, num reccnte cncnntro internacional de discípulos de Frcud. lodos estiveram de acordo em .s'alientar que se confrontam cada vez mais com paciemes cujos achaques consistem essencialmente em um sentimento dc completo vazio a afctar suas vidas. Mais aindaz CSSCS nossos colegas chegaram inclusive a presumir que, em não poucos casos das chamadas análises incomple- tas, 0 lraiamcnlu pbicanalítico enquanto lal acabava por tornar-sc - por assim dizer,_cfmte dc micux [na falla dc uma deñniçào mclhorJ -, o u'nico conteúdo na vida dos pacienles. No quc diz respeito ao Círculo marx1'sla, mencionaremos tão somcntc o nnmc VymetaL antigo diretor da Clínica Psiquiátrim da Universidade de Olmütz (Tchecoslováquia), o qual ~ em consonância com outros autores da Tchecoslo- va'an'a, bem como da República Democrática Alemã - chamou expressamente a atenção para a presença da frustraçâo cxistencial nos países comunistas e, a ñm de lidar com esse fenómeno de maneíra adequada, salientou a exigéncia de novos princípios e novas formas de intervençõesterapêuticas. Finalmente, dever-se-á aqui também mencinnar Klitzke, profeAssor ame- ricano visitante em uma universidade afr1'cana, que num estudo recentemente publicado no Amerícan Iournal of Humanistic Psycholagy. chamado “Students in |\ i KUlll( \(l Emcrging Africa › Logothcrupy in 'I.¡"n/.'an|'n'2 pódc coníirmar quc n VMÍO cxislcn- ciul sc fa'1.' moslrar clurnmcntc c sc infundc no 'l'crccir0 Mund0. sobrctudo - c pclo menos ~ entre os jovcns univcrsitzirinsz Uma 1'ndic.1'ç.\"o análnga dcvemm a Io:~.cph L. Phílbríck (“A Cmss-Cultural Study of I'<r.111kl's Thcory nf Mcaning-in-Lifc"). Quando mc perguntum como cxplicar 0 advenm dcssc vazio cxislemíaL cuido então de otbrcccr a seguimc tórmula abrcviada: cm conlrapoüçào an ani~ maL os instimos não dizem ao homcm 0 quc clc tcm dc thzcr c. ditbrcnlcnwntc do homcm do passada 0 homem dc huje nào lcm mais a tradição quc lhc diga u quc deve fazen Não sabendo 0 que tcm c lampuuco 0 que dcve tàzcn muilas vczcs já nào sabe mais 0 que. no fund(›, qucn AssinL sú qucr 0 quc US outros fazcm - con~ formismo! Ou sÓ thz o quc os oulros qucrcm que fuçn - lotalilarisnmx2 No cntant0, esses dois sinmmas não dcvcm induzir-nm: u omilir uu csquc- cer um lerceir0, nomeadnmcntc um ncurolicismo c*s.pcciñco « a prcscnça daquilo que tenho designado como ncurosc naogôniaL Ao cnmrárin da neumse no seu sentido estrito. que constitui, pcr dtjfínitiwmm umn afetação psícogêln'ca. a ncum- se noogênica não se reportu a Complexos e cnnílilos nn scntido cl:1's.s'ico. mas de› riva de contlítos de consciênc1'a, de colisóes de valores c. Iust but not IeusL dc uma frustração existenciaL a quaL uma vez ou oulrm pndc c'›\pre~.;sar-sc e nmnitbstarse sob a forma dc uma simomatologia llellrÓtÍCiL E é gmças a Jzunes C. CrumbauglL diretnr de um laboralório de psicologm cm Miss sipL que já dispnmos de um teste (0 PIL ou Purpose in LI_'/e'-7L'›sl). elaborado pelo própriu Crumbnugln com 0 objetivo especíñco de difbrcnciur o diagnósüm da ncurose noogénica duquele da p51'c0¡g,ênic.1'.I Após avaliar os dados com zl ajudu de um computadou clc chcgou à conclusão de que a neurose noogênica constitui uma nova patnlog¡.-1, que supem o " Como 1)iam Yuung. uma dnutorundd pcl.\ Ulúvcrsidddc dc liurkulcyg púdc dcnmmlmr cnm \c~tcs c cstulíhticasz U scnlimcmo dc vuio sc cnconlm signitimummcmc nmix difundidu cnlrc os imcns dn quc enlrc os adullust Ancormsc nisso um nrgumcntu n lavnr de nossa lcuria du perdn da lmdiçào como uma dus duas causas pam o udvcmo dn mmimcnlu dc \'.1¡in. l)c l'-.zln, scgundo casa lerL d scmeçào da lradl'çà1), lãn c.'1r.x'clcri.xlica cnlrc us jn\'cn_s. lrm mlcnsilimdo u scntuncnln dc Jusüncid dc bcnlth \ Disponivcl cm Psyrlwnwlrir Ajfilíumx Pnsl Uliicc Hox 31(›7. Munslcn Indiann 4632L US.›\. lDisponívcl on line cmz hltp://|hcuhyfurtlcwi.s'.cdu/burkc_h/|'cr~.'on'.1|¡l_\'/PlLpdíl .›\ccssn cm 18 de junho dc 2015.] I l xl U NUHUAH \.H7 lJl L'\.l.\ \ ll).\ SHI >k\'lll)u âmbito dn psiquiatria tradicional não só da pcrspectim do di.1'gn('›su'co, mas um- bém da terapêut1ta. Com rcspcito à frcquênciu da ncurose noogênica, Contentar-nos-emos em reporlar aus rcsullados da invcstigaçãu estatíslica alcançada por Niebauer e Lucas em Vicna. ank M. Buckley cm Worcesten \u1'.155., Estados Unidos, Werner em Londrcs, Langcn e Volhard em Tu"bingen, Prill em Würzburg, Popielski na Polónia e Nína Toll em Middlclowm Conn.. Estados Unidos. Análises dos lestcs mostra- ram que as neuroscs noogênicas cstão presenles em média em 20“,\'n' dos resultados, Por finL Elísabcth Lukas desenvolveu um novo teste que permile um diágnóstico mais exato da fruslração existenciaL que comprcendc lambém o propúsilo de obter possibilidndes de intervenção 1ant0 terapéutica como pro~ filáticm 0 “Logu-Test'."' As eslatístltas tém mostrado que, entre os estudames american05. o suicídio ocupa - depois dos acidemes de trànsito - o scgundo lugar como causa mais fre- quentc de óbilo. Adexmís, o número de tcnratims de suicídio (não resultando em morte) é quinzc vezes maior. Recentemenla foi-me apresemada uma e.s'tatística 111arcante, aplicada a scssenta estudantes da Idaho State Uni\'crsity, na qual se índag0u, com grande precisàm o motivo pclo qual inlcntaram o suicídia Dcla resultou que 85% deles não conseguimn ver nenhum senlido em suas vidas. O interessante, entretamo, é que 93% eram física e psiquicamcnte suuda'vcis, Iinham uma boa .síluação ñ- nanceira e um excelente enlendimento cum a famílizu desenvolviam uma vida socialmente ativa e estavam satistéitos com seus pmgressos acadêmicos. Não se poderia falar em hipótesc alguma de satisfação insuñciente de necessídadcs. Pnr isso, devemos perguntar-nos qual foi a “c0ndição de possibilidade" dessas tentativas de suicídio. o que deve achar~se íncorpomdo na “rondition humaine” para quc se possa chegar a uma tcntativa de suicídio apesar da satisfação das necessidades mais ubíquas. Bem, isso só é possível se se admite que 0 homem ' \'ikt0r là l'~rankl. "Zur \'alidierung der LogmhcrapieÍ In: Dcr Willc :um SlmL Berna. Hans Huber, 1972 [Ed|çán brasileirm Vikmr E. FrankL A \u'nmde dc Scnnda Trad. Ivo Studan Percira. Sào Paulo, Paulus. lOl 1.| IN1R011L'\,.\L) dcslina-sc vcrdadcimmentc ~ c ondu nàu mais, zm mcnos nriginalmentc - a cn~ cnmrar um sentido em sua vida e a rcalizar ussc scntid(›. lssn é 0 que também procuramos descrevcr na logoterapia com o conccito mmivacional tcóricn dc “vontadc dc scutiddí À primciru vista podc parecen ccrtamcnta quc sc tmla dc uma supervalori'/.açà0 do lwman como se qun"›.e'sscnms cnlocáJo sobre um pedestal bem alt0. Em reluçãu a isso, vcío-me à mente o quc me di5_sc, certa vcz, 0 meu instrutor de voo culilbrníannz Considerandn quc prelcndn vonr para n lcsm cnquamu do nortc sopra um vcmo latcraL mcu zwhío lcrmílmria por dcsviarasc para o sudcslc; ›c, pelo comrár1'o, manobro a máquim puru n nordcstc, cnlão voarci dc falo pam o Icstc e aterrissn ondc prctcndiu .1'tcrrissar. Nào acontece o mcsmo com o homem? Tomcmo-lo pura c simplesmemc como ele é, torna'-lo-emos conscquentememe pion 'Ibmc¡m›-lo comn deve s.er, e convertêJmemos no que ele pode tornar~se. Mas isso nâo me foi dito pclo mcu instrutor de v00. Essa é uma scntcnça de Goclhc. Como se sabe, existe uma ps.1'cologia que se chama a si mesma de “p.s*icolo- gia profunddÍ Entrctant0, ondc se encontra a “p.s*icologia1 das alturas" - que inclui a vontade de sentido em seu campo de vísão? Em todo caso, não sc pode menUS- prezar a vomadc dc sentido como um mero desejo, um “wi5h_/1'll tlzinlcing'.' Trata~se antes de uma “sc1_f_~'htljíllingpraphccy" [pr0te'cia autorreaHI,.'¡'vcl|, como nomciam os umericanos uma hipótese de lrahalho que, no ñm das contas. lem an mcsmo ñm que projetou. E n0's, médicos, presemizunos isso diariauncnle e de hora cm hora em nossos consultór1'(›s. Assim é. por exemplo, quando medimos a pressâo arterial de um pacieme e verificamus quc alinge 160. Sc o paciemc pcrgu11ta-x1os sobre a prcssâo arteriaL e dizemos a cle “160'.' jà não lhc Llizemos mais a vcrdadc. pois ele se agíta c imediatamcntc a pressâo Chegn a 180. Se, pelo contrári0. lhe dizemos quc a sua pressão é pmlicameme normaL não 0 cnganumos, e clc cmào respira aliviado e nos confessn que rcceavn tratapse realmeute de um acidentc vascular cerebraL mas quc, aparcntemenlc, se tratava de reccio infundudo. E, de falo, se lhe medíssemos ncssc momento n pressãa poderíumos constatar que cstu havia voltado ao seu nível normaL l \ IJ U \7()|-1U.'\1L-\.'I(Y Dl l'\.l.n\ \'I[)A Sl.\.1\|\'l›ll)0 Isso nos mostra, alia's, que é pcrfeilamentc possível provan de uma perspec- tiva mcramentc cmpír1'ca, 0 conceito de vontade dc sentid0. Limitar-me-ei aqui a rcte'r1'r-me an trabulho de Crumbaugh e Maholick5 bem como ao de Elisabeth SA l.ukas.que desenvolveu testes cuidadosamente elaborados a Íim de quantiñcar a vontade de scnt1'do. Ademaís, cxistem dezenas de dissertações, príncipalmente com auxílio dcsses testes, que podem validar a teoria da motívação da logoterapia. Nâo é possível aquí, dentro do tempo disponíveL uma análise de todos esses estudos. Nào posso, conludo, privar-me de trazer ao debale os 1'es_ultados de pes› quisas concluídas por aqueles que não são alunos meus. Quem podcría, portanto, duvidar da vontadc de scntido - note~se bem: nada mais, nada menos do que a motivação especiñcamemc humana - ao ter em mãos 0 relalório do American Council on Education, segundo o qual o intcresse primárío de 73,7% de 189.733 cstudantcs de 360 universidades rcsidc em “conseguir uma concepção de mundo n partír da qual a vída cncomra um sentido"? Ou considcremos 0 relatório do Na- tional Institute of Mental Healthz entrc 7.948 estudantes de escolas superiores, 0 grupo dos mclhorcs (78%) qucria “encomrar um sentido cm suas vidas°Í O mesmo se pode dizer de adultos. e não apcnas de jovens. O University of Michigan Survey Research Center te'z uma pesquisa entre 1.533 trabalhadores a respeito do valor que davam ao próprio trabalho. A pesquisa constatou que 0 intercsse por uma boa remuneração ocupava 0 quinto lugar na escala de valores. A comraprova, do citado exemplo, tbi conduzida pelo psiquiatra Robert Coles: os trabalhadores com os quais teve a oportunidade de conversar queixavam~se, aci- ma de tudo, de um semímento de vazio. Assim, pode~se compreender aquilo que Ioseph Katz, da State University of New York, profetizouz a próxima leva dc pesso- as que entrar na indústria só tem interesse por proñssões que não apenas rendam bom sala'rio. mas que também deem um sentido à vida. Ev1'dentememe, o que mais deseja 0 d()enle, em primeiro lugar e antes de tudo. é recuperar a saúde; e o pobre, ter um bom dínheiro (“se eu fosse rico',' canta ' Iamcs C. (Irumbaugh; I.conard T. Maholíckz “Eín psychometrischer Ansalz zu Viktor Franlds Kumcpl dcr 'noogcncn Neurose".' lnz Nikolaus Pctrilowitsch, Die Simflmge in der Psychoterap1'e. DarmsladL 1972. l\' HHHH (V \n o leilciro no musical Um violinistu no tclhado). No cnlanlo. é incgávcl quc ambm desejam conduzir a vida ao scu scnlid(›, para podcr rualizar o .w¡1tidode suas vidasl Bastante conhecidu é a distinção que Maslow tbz cmrc as neccszsidadcs inteW riores e superioresz a sutisíílçào das ncccssidauies intkriores é n condiçào indispcn~ sável para sc poderem satíslhzer as supcriorcs. Enlre as ncccssidadcs supcriurcs clc inclui também a vontadc de sentid0. E não npenas íssm clc a qualiñca dc “molivaçàn primária do homcnfÍ Isso equivale a dizcr que ao homem só é dado conhccer a exigência de um scntido dc \'ida quando elc está bcm (“primcir0 vcm u esto'nmg0, depois a moral”). Entretanto, comrariamemc a issq tcmos - c não somcnte no's. os psiquiatras - a oportunidade de ubservnn repclidas vc¡.'cs. que a nccussidadc c a questão de um sentido de vida irmmpcm justamcnte quando as coisas beiram 0 dc- sespero. É o que podem testemunhan enlrc nossos pacicmcm os moribund0s, bcm como os sobreviventes dos campos dc concemmção e os prisioneirus dc gucrra! Por outm lado, a questào do sentido da vida evoca nâo só a frustração das necessídades inferíores, mas também. evidememcnle, a satistàção das ncccssi~ dades ínferiores, no âmbito, por excmplo, da "a_[fluvnl x.*oa'cty" (\'cr p. 28). Claru que não estaremos em erro sc disscrmos que ncssa aparcntc contradíção avista~ mos uma conñrmação de nossa hipo'tesc. segundo a quzll a vomadc de semido é uma motivaçào sui generi$, que não pode rcduzirse a outras neccs.~;idades nem pode deduzir-sc delas (conforme empirícamentc demonslmdo por Crumbuugh e Maholick e também por Kratochvil e Plamova). Deparamo-nos aqui com um tknómeno humano quc considero fundamem Ialdo ponto de vista anlropológícoz a '.1ul0lranscendénCia da cxisléncia humanal O que pretendo descrcver com isso é o futo de que o scr humano scmpre upunta para algo além de si mesmo. para algn que não é cle mesmo - para algo (›u para alguémz para um sentido que se deve cumpn'r, ou para um oulro ser hL1n1ano, a cujo encontro nos dirigimus com amur. Em scrvíço a umu causa ou no amor a uma pessoa, realiza~se 0 homcm a sí mesm0. Quamo mais se absorvc em sua tarefa, quamo mais se entrcga à pessoa que ama, tanto mais ele é humem c lanto mais é si mesmo. Por conseguinte, só pode realizar a si mcsmo à mcdida que se csquece de si mesmo, que não rcpara em si mcsmo. Não é issu que acontcce com o 01ho, cuja capacidade ótica depcnde dc quc não veju u si mcsnm? Quando u l 1 qu_m--r---rw ».w.,_. v .. v ? 5°"W . WMUTÍÁT VNW1&ÍÇ lh 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA \l›\.| SF.\T|II(\ olho vê algo de si mesmo? Somcmc quando está doemcz por cxemp10, quando sofro de uma camrata, cnlão vejo uma nuvcm - e cnm isso percebn a turbidez dn crislaüna L'- quando padeço dc um glaucoma, vejo entào um halo de cores do arco-íris cm torno das fonlcs de luz - que é. por sua vez, o glaucoma. No cnlanto, na mmma proporçãu, cssa percepção afeta e míngua a capacidadc do meu olho de perceher o ambicntc ao mcu rcdor. Aqui dcvemus falar, porém, dos rcsultados parciais (de um tmal de no- vcntaJ de uma pesquisa empírica tbita pela Sra. Lukas. Esta revela que. entre os visilantes do célcbre Wicner Pruter <um grande parque público de Viena). um lu- gar de divcr5ã0. o nívcl objetivo de frustração exismncial era signíñcativamente superior à médiu do nível da população vienensc (o quaL por seu turno, revelava valores sensivclmune iguais àqueles medidos \e publicados por aumres amcri~ Canos c japonescs). Em oulros tcrmos, a pcssoa que sc dcdica mpecialmente ao pmzer e às divcrsõcs é aqucla que. em relação à sua vomade dc sentido. ao ñm, se mostra frustrada ou - para usar novamente as palavras de Maslow - presa ao seu desejo primário. lsso me faz lcmbrar uma anedota americana a rcspeito dc um homcm quc se encontra na rua com scu médico particular, o qual lhe pergumn pelo seu estndo de 5aúdc, Durante a conversa, o pacicme coníexssa que vem snfrendo ultimamentc de uma certa surdc7.. “E pmvável quc 0 senhor esteja bebendo n1ui10',' adverte-o o mé- dico. Alguns meses mnis tarde, voltam a cncontrarAse na rua, e novamente 0 mé- dico toma intercsse pela saúde dc seu pacicnte, elcvando a voz paru se fazer ouvir. "Oh'§ díz estc entãa "O senhor não precisa falar lão alml Voltei a ouvir muito bexn'Í "Cerlamcnlc 0 senhor parou de bebcr',' retruca o médico. “lsso é pertbilamenle corrcto, continue assinfÍ Alguns outros mescs mais turdcz "C(›mo vai o scnh0r?'.' “O que disse?'Í “Pcrguntei como vai o scnhor'.' Finalmente 0 pacientc entende. “Bem. como o senhur percebe, minha audição piorouÍ “É provável que 0 senhor tenha voltado a beber'.' O paciente emão explica toda a convcrsaz “Veja 0 senhorz anles eu bebía e ouvia mal. Depois, dcixei de bcber c cstava ouvindo melhor. No cntanto. o que eu ouvia não era tão bom Como n uisqudÍ Podelm›s, p0is. dizer o scguinte na auséncia dc um sentídu de Vida, Cuja realização o tería mrnndo íe'h'7., cle procurou alcançar a felicidade cvitando loda realização de sentidm apoiando-se Êáw ' Ilelmuçku numa suhsmncia quimicm Dc falo. 0 acnlimcnto dc fclicidadm quc cm circunsmm cias normais nunca é proposlo como uma mcm da aspimçào humana. mas snmcn~ te como um lbnómeno concmuilanlc do ¡¡laznrc-d0-prápr¡o-cscopo - um “cfcito" de menor 1'mpurtànu'a. que Ibi juslamcnlc possibililado pcln consumo do álcuoL B. A. MakL dirclor do Naval Alcohol Rclmbilitation Ccntcn atirmuz “n(›tr.ll.1mcnm dos alcooli'/.¡1dns, muitas vczes. conslatamm quc a vída parccc tcr pcrdido mdo sentido para 0 indivídudÍ Uma dc minhas nlunns Lla Unilcd Statcslnwrnalional Universily de San Dlego póde uprescnlan no undamcmo de suns pcsquisas (cuj(›s rcsultados rcuniu depuís cm tbrma dc di*.sscrt'.1ç1.'n). a prova de quc 90% dos caws crónicos de alcoolismo agudu por cla cmmínados rcvclavam um prnnunciado va- zio exístencialz então se compreendc mclhor 0 tlltn dc que numa lagoterapia dc grupo para superar a t'ru's.lr-.1çào exislencmL conduzidu por CrumbauglL obtivc- mm-sc mclhorcs resultados nos cusos dc alcoolisnm do quc nu àmhim de grupos dc commle tratados cnm os métndns dn tcrapiu convcmionaL O mesmo se pode dizen de modo amu'logo, dos dupendenlcs de drogas. Se lcvarmos em conla a opínião de Stanlcy Krippncn o scnlimcnln dc vazio nos vi- ciados cm drogas cslá cm 100% dos casns. lím 10090 dos cnsm. ao sc Ihes colocur a perguma se tudo lhcs parccia scm scntínlm a rcspnsla í(')i. scm cucaim añrmalivm Uma de minhas doutorandas. Bctty Lou Padellhrd. dcmunelrom como Shean c Fcclmnan, que nos dependenlcs de drogas u frustrnçào cxislcncial ú mais dc duas vezcs maior do que no grupo dc comparuçño. L-' nnvumcnlc ó comprwnsível quc Fmiser, quc dirige um cenlm de reabilimção dc dcpcndentcs dc drngn na Califór- nia, onde x'nlr(›du1,'iu a logolcrapl'a, lenha alcançado uma laxa média dc éxito dc 40% - muito acima da média comum dc l l%. Nessc contextm cuhe ñnnlmcntc citur Black c Grcgwm cstudiosus du Novu Zelándia. chundo cles. os criminosns .'1prcs.cntzun um gmu de fruslnaçíwn exisv tencial substancíalmeme supcrior à múdia da pupulaçâu (Iusa-.s'e bcm com isso o trabalho rcalízado por Barbcr entre jovuns criminusns lcvadm a scu Ccmro dc rcabilitaçào calitbrniano e trulados com n métudo dn logutcraplku rcdu1.'iu-sc aí 0 índice dc reincidéncia dc 40% parn l7%. Podcríamos agoru dar mais um passo c cstcnder nossas rctlexóes c consi~ dcmçõc.s' a uma escala plunctárizL lsto c'. lançarnurmw à pcrgunlu sc nàu sc fhz 0 hOFIHMlNTO DI: UMA \'H)A 51 .\| \l-,\.'lll)() necessária uma reoríentação no domínio da investigação da paz. De fato. desde há muilo essa invesligação vem de braços dados com a problemática do poten- cial agrcsxcivo segundo o senlido cumpreendido por Sígmund Freud e também por Konmd LorenL Na realidade, permanecemos como antes, com as mesmas ques- Iões, em uma dimensâo sub-humana sem ousar asccnder a uma dímensão huma~ na. Todavim é na dímensào dos tewnómenos especiñcamente humanos - a úníca na qual podemos cnconlrar algo como a vontade de sentido - que se poderia verihl can em dcñnitivo. que a frustração dessa mesma vontade de sentido, a frustração existencial e 0 senlimento de vazio cada vez mais cresccnte - note«$e bem2 não no animaL mas no ser humano, no plano humano! - promovem a agressiv1'dade, ou, ao menos, são seu alicerce. Tanto 0 conceito de agressividade delfundamento psicológico, no senti- do da psic.1'nálise de Sigmund Frcud, como o dc fundamento b1'ológico, no sen~ lido de investignção comparada do comporlamento feita por Konrad Lorenz, careccm de um elemcnto; a saber, a análise da 1'ntencíoxmlídade. que é o que caracteriza 0 impulso vital do homem enquanto tal, enquanto ser human0, Na dimcnsão dos fcnômcnos humanos simplesmeme incx1'stc, ern uma quan- tidade detern1inada. uma agressividade que force uma saída e me impulsione como “sua vítima indefesa',' procurando determinados objetos concretos sobre os quais, ao fim, “aquielar-se)í Por mais que a agressividade tenha uma pré~ ~formação biológica e um fundamemo psicológíco, ao nível humano eu a deixo de lad0. deixo que ela se disperse por supcração (numa perspectiva hegeliana) cm uma outra coisa completamente diferenlez ao nível humano cu 0dei0! E 0 ódin, precisamente em contraposíção à agressividade, é inlencionalmente di- rigido a algo que 0deío. Ódio e amor são te'nómenos humanos porque são intencionaís, porque 0 homem tem sempre motívos para odiar algo e para amar a alguém Trala~se sempre dc um motivo sobre o qual ele atua. e nâo de uma causa (psía›l<›'gica ou biológica) quc, "às suas coslas” e “sobre sua cabeçzfí tenha como consequéncia a agressividade c a sexwalidade (encontramo-nos diante de uma causa biológica no experimento de W R. He›s, no âmbito do qual se conseguiu provocar acessos de cólera em um gato - por mcío de eletrodos colocados na região subcortical de seu cérebro). IN1 R()l)l'ÇA() Quão injustos para com os combalentcs da rcsisténcin cuntra o nacional- -socíalismo. se os considerássemos mcms vílimas de um "potcncial agressivdl 0 quaL maís ou nwnos ulcatorialmntc, se havin dirigidu conlra Adolf Hítlcn lnlrin- secamente, eles nào pensavan1, com auas lutas, cstar num combalu cnntra clc, se- não contra 0 nacíonal-socialismo. um sistema. Não sc \'(›haram comra 21 pessoa, mas contra um 0bjeto. E, intrinsecamente, só somos rcalmcnlc nós mesmos quan- do podemos sen nesse sen11'do. “objetivm".' tumbém vcrdndcirameme humanos; somente quand0, a partir dessa objctl'v1'dude. somos Capauns nào sú de viver para uma causa, mas também de morrer por clzL Enquanto a invesligação da paz rcsl1'ingir-se a imorpretar a agressividade como um fenómeno sub~humuno c nào .1'n.'llisur o fcnómcno humano do “o'di0“,' estará condenada à esterilidada O homem não cessará dc odiar se 0 levurmos a crer que é dominudo por ímpulsos c mcc.1'nismos. Essc tíualísnm ignora que. sem- pre que sou agressivo, náo contam os mccanisnws e us impulsos quc cxislem em mim, que podem estar em meu “id',' scnão quc sou aquele quc odciu e que para isso não há desculpas, e sim responsabilidade. Acresce aíndu 0 fato de quc o díscurso sobrc os “polcnciui5 agressiv05“ trazem em si a intenção de canali/.'á-los ou .s*ublimá-lo.x*. 'I(')davia. como provmmn os pcsqu¡- sadores da escola dc Konrad I.orenz, a agrcssividade - por cxcn1p10,d1'anlc da telcví- são - deveria ser dírigida a objetos inotbnsivos c neutralizando sohrc cles seu p<›der. quando na rcall'dade, ao contrário, é provocada c. como um reílcx0. mais tbmenladu. A1én_1 disso, a socíóloga Carolyn Wood Sherifrelatou que é falsa a noçào po« pular de quc as competições csportivas sejnm um sub.s*t1'tuto. scm derramumcnlo de sangue, da guerraz trés grupos de j(›vcns, colucados num acampanwmo i5(›|.'1- do, tinham kHrtalecidq e não mítígad(›, as agrcssõcs dc uns contra os oulros cm Competíçóes esp<›rtivas. Mas 0 inesperado vcio (lepois: uma única vez demram dc lado suas mútuas agressóes, como se tivessem sido levzldas pam longc. Foi quando tiveram dc mobilizar~se para tirur de um amleiro um dos carms cncarregudos de levar víveres ao acampamemo; essa "enlrcga a uma tarufa'.' dcsgastantc porém sen- sata. literalmente os fez “esquecer“ suas agressóex.'. Aqui vejo uma indícação frutífera para uma invcstignçào da paz muito mais apropriada do que as intermináveis ruminações de discursos sobre os potenciais lu .›.y. .. Ww .N -.u.« gtfpnz nw qn wewrivr f:* .' 'T J " _TñTZÊ S PF L í l_, E f 0 50FR1\¡1FNT() Dlz UMA \'IHA ShM \¡ N HDO agressivos. conccito com 0 qual se faz crer aos homens que a violéncia e a guerra sejam partes de seu deslimx Essc tcma íbi por mim analisado cm oulro lugar." Comentar-mc-ei emão dc indicá-lo e ccder a palavra a Robcrt Jay Liñon - um especialista inKernacional na área - que cm seu livro History and Human Survival escreveu o seguintez “Os homens sào propensos a matan sobretudo quando se cncontram em um vazio de semido'.' De fat0, os impulsos agressivos parecem proliferar, pr1'ncipalmente. ali ondc se faz preseme 0 vazío exislencíaL 0 que vale para a criminalidade, aplica~se também à sexualidadez somente no vazio exz"›tcncia1prolfíera a libido scxuaL Essa hipertrofia no vazio aumcnta a disposição às reações sexuais neurólicas. Pois 0 que se disse untes a respeito da felicidade e de scucaráter de “efeito”. não é menos válido em rclaçãu ao prazer sexualz quanm mais alguám busca o prazen tanta mais ele o perde. E com base em uma experiéncia clínica de várias décadas, ouso afirmar que as perturbações de poténcía e orgasmo redu7.em-se, na maioria dos casos, n esse padrão dc reação, quer di7,er, ao fato de que a sexualidade é distorcida na exata medida cm que é reforçada a sua intenção e se c0n- cenlra subre ela a atençào. Quanto mais sc desvia a atenção do parceiro para se concentrar no alo sexual em si, tanlo mais compromelido fica o ato sexuaL Isso é bem verificável naqueles casos cm que nossos paciemes se semem impelidos a demonstrar, amcs dc tudo. sua potência. ou nos quais nossas pacientes se interessam, antcs de tudo. em provar a si mesmas que são realmenle capazes de alcançar um orgasmo completo e que, ao fim, não sofrem de fríg1'de'/.. Vemos novamente que se trala de “ulcançar" algo que é normalmente um "efeito" - e é assim que devc pcrmanccen a não scr que isso também já esteja destruído. Esse perigo se mostra maior quando a sexuulidadc prolifera em larga escala no vazio existenciaL Confromamomoc hoje em dia com uma inñação sexual que, como toda inflação - a do mercado moneta'r1'o, por exemplo - anda lado a lado " Viklnr E. ankL “Exislentie|le Frustratinn aIs '- iologischer Faklnr in Fãllen von agressivem Verhallen'.' Inz Fesrschrtjifür Ridmrd Lunge :um 70. GeburtSMg Berlim, Walter dc Gruyten l976. ~.F.-;... mwxma INTRODUCAO com a dcsvalor1'zação. Na verdada a scxualidadc ustá lão dcsvalnrizada quanm cslà dcsumanizada. Entrctanla a sulmlidadc hummm é muís do quv mcm svxualidada c o é à medida que - cm um plano humuno - cla ó um vcículo dc rclaçócs tmn- sexuais (para ulém do s.cxo), pessoalisz quc. natumlmcnm não sc dcixa apcrtar cm um lcito dc Procustn tbitn de clíchês lais como “anscio*~. de objclívo inibitw0" ou “meras subl¡'n1.1çócs',' somcntc porquc 50 prcfcrc negar a rcalidadc cnquanlo se rompe 0 quadm dc sixnp11'h“c.'1çóes poplll.'trcs. ((Êomo dcmonslmu Eileiibchk1dt. essa deformação do funciommcnto da sexunlidude nàu sc pmduz apcnas no pla~ no hummw mas mmbém cm um nívcl sub-humano: lambém a sexualidadc ani- mal podc ser mais do quc mera sscxmnalidada L3vidcnlcn1cntc não sc encomra csta. cumo a hunmnn, a serviço das rclaçócs pc.s'.s'om's, ainda quc cstcjamos cicntcs dc que a copulação do babuín()-sagradm por excnnplo, sirva n um hhm sociaL do mcs- mo modo que, em lermos g8mis, o comportamcnm scxunl dus “vcrtebradus sc encontra a serviço dc uma ñnalidadc sucial do grupo"). Seria inclusive do mais i11tr1'n.scco intcressc daquclcs aus qu.1is nâo resta outra cnisa senão o prazer c o gozo sexual xc cslcs sc prcocupmscm em culocar seus comatos sexuais num nívcl dc relação com o purcciro pam além do simples sexo, elevand(›-os, portant0. a um nível humunu Dc 11no. a scxunlidadc lem ncsta dimensão humana uma funçào dc expressàoz na dimcnsão humana cln sc torna .¡ expressão de uma relaçào dc amon dc uma “Flcischwcrdung" - uma cncurnaçíu -. de algo como amar uu eslar amzmdo. Quc a scxualidudc só podc scr fcliz sob cs- sas condiçócs revela um cstudo recentcmcntc rcnli'/.'.1dn pelu rcvism mncriulna Psydmlogy 7bdayz das vinle mil rcspnslas à pergumu sobrc uquilu quc mais cs~ timulava a potência e 0 0rgasmo_ concluiu-.w quc 0 csllmulo dc muiur conliança era o romanlisma ou sej.'1, eslar apaixonadn pcln parmiroz ponumo. 0 amur u elc. Porém, não apcnas cm dircção à pcssou do parccirm considcmdn a parlir de um ponto dc vista da pr0ñl;\.\'ia dus ncumscs scxuais, é dcsejlivtl u máxi- ma “pcr5(mali/.'.1ç.1"0” possívcl da scxualidadm mas nunbém em rcluçñu à prúpria pcssoa. O desenvolvimcnto .sexual nurmul e 0 amadurecimenlo normal do scr humano tende a uma crcscente 1'ntcgrm;ão da sexualidade na eslruluru gcrdl da pcssoa. A partir disso, vê-se clnrameme quc 0 wnlrário. o isulamcnm complelo da sexual¡'dadc, comraria todus as lcndé11c1'.1'«».~ dc integração c, com isso. famrecc 21 “ITE'JJWIJ <, r "5'l'›v1 V¡Í ” ñToW LV' "'! ? ' ..,_ _ u u 0 SOFRIMIÊNTO DE UMA VIDA SEM SFNTllJO as tendéncias neurotizantes. A desintegração da sexualidade - o “seu romper“ da totalidade transexual pcssoal c interpcssoal - sígníñca uma regressão. No entantq por trás dessas tendências regressivas pressente a indústriu do prazcrsvxmzl sua chance u'm'ca, um negócio singulan Põe em jogo a dança ao redar do porco de ouroA Visto, novamente, a partir de uma perspectiva da proñlaxia das neuroses sexuais, 0 grave nisso tudo é a waçüo uo consumo sexual que procede da indústria da ir_1fo'rmaça'o. No's, psiquíatras, conhecemos de nossos pacientes como eles se scntem ao se verem coagidos, por uma opinião pública manipulada pela in- dústria da íníbrmaçã0, a interessar-se pelo sexual em si mesmo. ou scja, no sentido de uma sexualidade despersonali1.'ada e desumanizadzL Mas sabemos igualmente quanlo ísso se preslou para enfraquecer a poténcia e 0 orgasmu E quem, por c0n- seguinte, pondera que sua salvação está no rcñnamentn de uma técnica do amor, nâo faz mais do que matar 0 resto daquela cspontaneidade, daquilo que é direto, daquela naturalidade e duquela ingenuidadc que são a condíção e o pressuposto de um funcionamento sexual normal de que tanto precisam os neuróticos sexuais. Isso não quer dizer dc modo algum que pretendemos manter qualquer tabu ou que nos posicionamos contra a liberdade da vida sexuaL Mas a ll'berdade, defen- dida por aqueles que a têm sempre na ponta da língua, é, em última instáncia, a liberdade de fazer bons negócios com ajuda da assim chamada informaçãa Na realidade, é nada mais do que alimentar os psícopatas sexuais e os voyeurs com material para suas fantasias. Informação, tudo bem. Mas devemos perguntar-nos1 informação para quem? E temos de esclarecer, antes de tudo, a opiníão pública acerca do fato de que, não faz muito tempo, 0 proprietário de um cincma que pas- sava princípalmente os chamados ñlmes de ínformação declarou numa entrevista à televisàoz com raras exceço'es, 0 seu público sequioso compunha-se de pessoas com idade emre seus 50 e 80 anos... Contra a hípocrisia na vida sexual somos todos; mas é preciso também proceder contra aquela hipocrísia dos que dízem “liberdade" pensando, contudo, no lucro. Retornemos ao vazio existenciaL ao sentímento de vazio. Certa vez, Freud escreveu numa carta o seguintez “N0 momento em que alguém se pergunta pelo sentido e valor da vida, este alguém eslá doente, porque os dois problemas nâo exislem de forma objetíva; a única coisa que se pode reconhecer é que se tem : v-,. T'n,w..__( zvcwwuva -.:~>-::-n:,.c IN l RODUÇÀO uma provisão de libido insat1'ste'ilaf.' Pessoalmcnla não posso acrcdilar nisso. Julgo que não só é algo espcciñcamcnle humanu pcrguntarsc pclo scmido da vida, senão que é também próprio do homem colocar cssc scntido em qucslã0. É um privílégio partícularmente dos jovcns dar provas de scu amadurccimcnto ao considerar em primeim lugar o sentido da vida e. dcsle privi1égi0. fazcr bas- tante uso (ver nota na p. ll). Einstein añrmou uma vez que quem scnte quc sua vida não lcm .~;entid0. não apenas é infeliz senão também pouco capaz de viven Dc fato, pcrlencc à von- tade de semido algo daquílo quc a psícologia amcricann qualiñca como "survival value'Í Não tbí essa, añnal de contas, a lição que pude Icvar comigo dc Auschwitz c Dachau: que os quc se mostraram mais aptos u sobrcviven ainda maís em tais situ- ações limites, foram aqueles que, rcañrmo, estavnm orientadm pura o futuro, paru uma tarelh que os esperava maís ad1'.'111te. para um scmido quc dcsejuvam realizan E os psiquiatras americanos puderam conñrmar muis tarde csta expcriência com os campos de prisioneiros de guerrajaponeses, nortc-v¡'etn.1'mitas e norte~c0rea- nos. Ag()ra. o que vale para os indivíduos não pode valcr iguulmente para a huma~ nidade imeira? E nào deveríamos tambénL no âmbito da denuminada investigação da paz, colocar a questão de que talvez a única oportunidade de sobrcvivéncía da humanidade se encontre numa vontadc geral para com um scntido colclívo? Essa questão não pode ser resulvida someme por nós psiquiatras. Ela deve manter-se aberta, ou ao menos prccísa ser lcvamadu. E ser lcvantada, cumo já dissemos, no plano humano, o único no qual podemos encontrar a vomadc de scntído e sua frustração. E isso valc também parn a patologia do cspírito du épom, assim como a conhecemos pela teoria das neuroses c da p.s'icmerapia do indivíduo: prec1'samos, contra as tendéncias despcrsonalizantcs c dcsumanizuntes, quc por toda parte se amplíam, de uma psicolerapia reunuznizndLL O que dissemos anteriormente? Cada época tcm suas neuroscs, e cada épo~ ca precisa de sua psicolerap1'a. Agora sabemos maisz somcntc a psícotempia reu~ manizada pode compreender os síntomas da época - e rcagir às neccssid.1'de.s* de nosso temp0. No entant0, retomando agora o sentímcnlo de vazi0. perguntemos: pode- mos por acaso dar um sentido ao homem de hoje, existencialmcnte frustrad0? 2| .¡.,-.¡:,:_ .. <, vvvvyrrhrvvrz P ,¡. ¡ w.._,vmq:~.,ww: .. mr nm AÍÇHVZ§~ W w(›N-¡ i m uk udkw. M 0 SOFRIMENTO IJF UMA VIDA SEM SENTIDO Podcmos sentir-nos satisfcitos sc não já foi arrancado ao homem de hoje esse sentido em conscquéncia de uma doutrinação reducioni.'sta. Devcria 0 Scntidu scr factívcl? É possível reanimarmos as tradiçóes perdidas ou mesmo os instinlos per- didos? Ou ainda vigoram as palavras de Novalis segundo as quais não há volta à ingenuidade e que a escada pela qual ascendemos veío abaixo? Dar sentido implica uma ñnalidade moralizante. E a moraL no semído anli- go. ebgolar-se-á em breve. Mais dia menos dia. deixaremos de moralizar, passando, contrar1'a1n1entc, a ontologizar a moral ~ o bem e o mal não serão mais dcñnidos no senlido dc algo que dcvemos ou não devemos fazer. AssinL 0 bem é aquilo que promove o cumprimento de um sentido aplicado e exigido a um ser, e o mal aquilo que ímpede esse Cumprimenla O smtido nâopode ser dado; rmtes, tem de ser cncomrada E esse processo de encontro do sentido tem como ñnalidadc a percepção dc uma Gestall, uma ñgura. Os fundadorcs da psicologia da Gestalt, Lewin e Wertheímer, já falavam de um caráter de ex1'gência, que vem ao nosso encontro em cada uma das situações com as quais confrontamos a realidade Wertheimer chcgou ao ponto de atribuir a cada exigência (“reqzu'rcdncss"), ímplicada cm cada situação, uma qualidade objetiva (“olj›'ective quulity"). A pmp0'51't0, diz também Adorno: “O conceito de sentido en- volve a objctividade além dc lodo agir'Í O que distingue 0 encontro de semido, em comparaçâo com a percepção gcstáltica, é, no meu entender, o seguintez o que se percebe nâo é simplesmen- Ie uma figura, que nos salta ante os olhos a parlir de um “fundo).' Mas sim› na pcrcepção-de-sentido, a descoberta de uma possibilidade a partir do fundo da re- alidade. E essa possibilídade é sempre únic.1'. Efémera. Contud0, somente ela é efêmera. Sc essa possibilidade de sentído se realiza, se 0 sentido é cumprido, então se cumprirá de uma vez por todas. O scntidv devc scr cncontrada mas náo pode ser produzido. O que se deixa produzir ó um sentido subjctiv0, um mero sentimento de sentído, ou de absolu- ta falta de sentído. E ísso é naturalmente compreensível se pensarmos que 0 h0- mcm, que não é mais capaz de encontrar um seutido em sua vida, ncm tampouco de inventá-lo, a ñm de -cvad1'r-se do sentimento de vazi0, de absurdo ou de falta de ,mw›sw- 5 g i LJ llg 1\.'1RunUL,Au semido cada vcz mais difuso, crie arbitmriamcntc scnlidos subjclims ou conlras~ sentidosz enquanto aqucle acomece num palco - tcnlro do ub~.urdo! -. cste se dá na embriaguey., no êxlase, cspecialmentc naquele cstímulado pclo LSI). No enlant0, nessa embriaguez corre-se U risco dc passar longc do vcrdadeiro sentido. da mi5- são autêmica que nos espera lá fora. no mundo (em conlraposiçãn às vivéncias de sentido meramente subjetivas, em si mcsmas). lsso mc la'/,' lembrar os animais de laburatório que tivcram elctmdos plantados em scu hipotálamo pur pesquisa- dores c.1'lifornianos. Sempre quc a corrcmc era conectmla. os animais cxperimcn- tavam um sensaçào de contentamenlo. quer dc impulso sexuaL qucr dc impulso uo alimcnto. Por ñnL cles própríos aprenderam a conectar a correnle, ¡'gnornndo, contudo, n parceiro sexual e o alimento verdadciro que lhes eram otbrecidos. O sentido mio só dcvc, mas padu scr cnmntrudu, c a co¡1.sc¡'énc1'a conduz o homem em sua busca. Em .s*íntesc. a con.«:iéncia é um órgào do senlida Podemos deñm'-la, entâo, como u capacídade íntuítiva dc descobrir o rastro do sentido - único e singular - escondido cm cadu situ.'\ç.1-'0. A consciênciu é um dos fcnómcnos muis espcciñcamente humanos; mas nào apenas humano. É também dcmasiadamente humano. e de ml' maneira que participa na condition hunwinc, e portanto c' marcudn por sua ñnitudc. Só assim se compreende como a consciência pode, às ve/.'us, cng.'m.1'r-s›c. e lambém desvínr o homem. Mais do que issoz até o derradciro moment0, até o último suspiro, n ho~ mem não sabe se realmeme cumpriu u senlido da vida ou nntcs somente acreditou té-lo cumprid0: ignommus ct ignombinms. Desde Peter WusL “incerte7._1 e risco" penencem ao mesmo grupo. Por muis que a coustiéncm possa deixur o homcm na incerteza quamo à questão de sabcr se comprccndeu e capturou o scmido de sua vida, essa “incerteza” não o desmuiná do “risco" de obcdecer à sua constiéncia ou. em prímeiro lugur, de escutar n sua vo7.. Mas não só o “risco” pcrtcncc àquclu “inccrteza',' senão igualmcnte a hu- mildade. O fato de que nem em nosso leito de morte chcgaremos a saher se 0 Órgão-d0›sentido, nossu consciénc1'a, tbi ou nào subjugado a um cngano-du- -sentido. signiñca igualmeme que é a consciéncm dm outros aquela que pode ter razão. Isso não quer dizer quc não existe ncnhuma verdadc Só pode cxístir uma verdade; mas ninguém pode sabcr se é ele e não um outro que a lem. Humildade H 1 ¡ll al í k 1. zwqu rr Mc vv.-- mwvacprw ¡› ›~ rsozxuaus r a lú O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO s¡'gniñca, portant0, tolerância. Tolerância, contudo, não quer dizer indiferença. porque respeítar a fé dos que pensam diferente não signiñca necessariameme identiñcar-se com esta. Vivemos numa era em que o scntimento de vazio se propaga ímensamente. Nesta nossa época, a educação tem de cuidar não só de transmitir o conhecimento, mas também de reñnar a consciéncia, de modo que o homem aguce 0 ouvido a ñm de perceber as exigências e desaños ineremes a cada situaçãa Em um tempo no qual os Dez Mandamentos parecem perdcr 0 seu valor para tantos e muitos, o homem tcm de estar preparado para perceber os dez mü mandamemos cifra- dos em dez mil situaçóes com as quais ele confronta sua vida. Porque isso não só faz com que sua vida se apreseme novamente plena de sentido, senâo que ele próprio também se imunize contra o conformismo e o totalítarísmo - essas duas consequências do vazio exislencial; pois somente uma consciência dcsperta 0 tor« na “resistentemenlewapazí de modo que ele nem se sujeile ao conformismo nem se curve ao totalitarisma De um modo ou de outroz mais do que nunca a educação é, hoje em dia, uma educação para a responsab1'lidade. E ser responsável signiñca ser seletívo, ser mai- culoso. Vivemos no Ventre de uma ajluent sociery, vívemos inundados de estímulos provenientesdos mass media e vivemos na era da pílulzL Se não quisermos at0'gar- -nos numa torrente de estímulos, e nem perecer numa promiscuidade completa, enlão devemos aprender a distinguir emre 0 que é essencial e 0 que não é, entre o que tem sentido e o que não tem, entre 0 que é responsável e 0 que não é. Sentido é, por consegu1'nte, o sentido concreto em uma situação concreta. É sempre “a exigência do momento'.' Esta, por seu turno, encontra~se sempre dire- cionada a uma pessoa concreta. E assim como cada sítuação tem sua singularídade, de igual modo cada pessoa tem algo de singular. Cada dia, cada hora, atende, pois, com um novo sentido, e a cada homem espera um semido distint0. Existe, portanto, um sentido para cada um, e para cada um existe um sentído especiaL De tudo isso resulta o fato de que o sentído, de que aqui se trata, deve mudar de situação para situação e de pessoa para pessoa. Ele é, contud0, onipresente. Não há nenhuma situação na qual a vida cesse de oferecer uma possíbilidade de sentido, m _ mm ::-4.::,.n cwm n . rtw F'""7r'."f,"mm"r í':"t~ IN |'R()|)UÇÀ() e não há nenhuma pessoa para qucm a vida não coloque à dísposição um dcven A poswsibilidadc dc realízução dc um sentido é, em cada caso. u'm'ca, e a pcrsonah'- dade que pode realizar~sc é ígualmcnte .s*ingular em cada caso. Na Iitcralum Iogotc- rapêutica encontram-se os traballms publicados dc CnscíanL Crumbaugh, Dansart, Durlak, KratochviL Lukas. Mason, Mc¡'er, Murphy, Planova, Popiclski. Richmond. Ruch, Sallee, Smith, Yarnell e Young, dos quais sc conclui que a possibilidadc de sc encontrar um sentido na vida é independeme dn sex0, do coeticiente de ínteligén- cia, do nível de formaçãm é independente de scrmos religiosos ou não." e, se somos religiosos, de que profcssemos esta ou aquela conñssão. Pur h'm, demonstrou-se que a descoberla de um sentido é indcpcndcnle do carátcr e do ambieme. Nenhum ps¡'qu1'atra, nenhum psicoterapeuta - também nenhum logotera~ peuta - pode dizer a um paciente qual é o sentído; comudo, podc muito bem ah'r- mar que a vida tem um sent1'do. Sim, e maisz que cste sc conscnm sob quaisquer condições e circunstância5. graças à possibilídade de encontrar um sentido tam- bém no sofrimenm Uma análisc fenomen0lógica da vivéncia in1ediata, aute'ntíca, tal como podemos experimentar no despretcnsioso e simples “homcm da rua',' e que precisa apenas ser traduzida para uma tcrminologia cientíñcau propriamcnte revelaria que o homem não só - em virtudc de sua vontade de sentido - procuru um sentíd0, senão que igualmente 0 encontra, por três cam1'nlms. Em primeim lugar, vê um sentido no que faz ou crizL A par disso, descobre um senlido nas ex- períências que víve ou em amar alguém. Mas também descobrc, evcntu.'llmenle, um sentido em uma situação desesperadora com a quaL desampa1'ado, se defronta. O que realmente conta é a firmeza e a atitude com que ele vai ao encontro de um destino inevitável e irrevogáveL Somente a ñrmeza e a atítudc pcrmitcm que o homem dê testemunho de algo daquilo que só ele é capazz transthrmar e rcmodc- lar o sofrimento no nível humano para lomá-lo uma realização. Um estudanle de medicína dos Estados Unídos me escreveuz ' Algo de que nâo precisamus admirarmu~nos, visto que considcnunos que alguénn tcnhn consciéncia religiosa ou nn'u, pode muíto bcm ser rcligioso dc mnncira incunsciente, ainda que 0 seja no scnlido lato do tcrmo, tal como o fomm. por exemplo. Alhen Einstein, Paul Tillich c Ludwig ngcnhlcín (vcr p. 88-89). ZE 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO Recentemente. ta'|eceu um de meus mclhores amigos porque não con- scguia cnconlrar um scmida Hojc. contudo, eu sei que pudcria muilo bem té-lu ajudado, graçns à lugoterap1'a, se ele cstivcsse Vivo. A sua mone. to- davia. me scrvirá para ajudnr aqueles que sofrcm Acrcdito não haver um molivo mais profundo. Apcsar da tristeza pela mortc de meu amigo. apesar dc minha corrcsponsabilidade pela sua morte, sua existência - c scu não- -mais-acr - é algo excepcíonalmenlc carrcgado de scntidu Se algum dia eu tiver tbrças para trahalhar Como médíco e mc encontrar à allura de minha rcsponsabilidadc, cnlão cle não tcrá morrido cm vão. Mais do quc qualquer outru coisa no mundo. qucro rcalizar istoz impcdir quc uma tragédia como csta acontcça novumcnte - que não acomcça a mais ninguénL Não há nenhuma situaçâo dc vida que seja realmeme sem sentido. Isso ocorre porquc os aspcctos aparentemente ncgativos da cxisténcia humana, espe- cialmente aquela tríade trágica na qual convergem 0 sofrimento, a culpa e a morte também podem plasmar-se cm algn positivo. numa realizaçãa Mas, é clar0, me- diante uma atitude e ñrmeza adequadas. E ainda há um vazio existenciaL E isso no meio de uma “ajlucnt socicryÍ que nào deveria deixar insaxisfeita ncnhuma das neces.s'idades que Maslow deno› mínou fundamcnlais. Isso se deve ao fato de que essa sociedade só satisfaz neces~ sidades, mas não a vontadc de sentida “Tenho 22 anos',' escreveu~me certa vez um estudante amerícano. “Tenho uma formaçào um'versita'ria. tenho um carro de lux0, usufruo de uma completa indepcndéncia ñnanceíra c tenho à minha disp0- sição mais sexo e prestígio do que sou capaz de suporlan Mas 0 que me pergunto é qual 0 sentido de tudo isso." A sociedade do bem~cstur traz consigo uma profusão de tempo livre que oferece. é verdade, ocasião para se conñgurar uma vida plena de sentido, mas que, na realidade, não faz senão aflorar o vazio exislenciaL tal como podem observar os psiquiatrzls nos casos da chamada “neurose dominicaPÍ E esta, ao que parece, encontra-se a aumentar. Quanto a isso, enquanto 0 Institut für Demoskopie de AllensbaclL em l952, comprovava que a quantidade de pessoas que considerava o domingo um dia dcmasiadamente longo perfazia os 26%, hoje a cífra chega aos 37%. E toma compreensível 0 que añrma Jcrry Mandelz INTRODUCÃO A técnica poupou-nus dc emprcgar lodas as nnssas cnpacidadcs cm prol da lula pela existência'. Criamos. purlamol um Estado dc hcm-csmr social quc garanle quc sc possu enfrcnmr a v1d.1 scm csfurço pcsan Quando se chcgar ao ponm cm quv. grnças à lécnicn. 1590 da populaçáo americana scrá sulkicmc pura atcndcr .15 ncccxaidadcs dc Imla a naçâo. enlão se apresemarão n nós dois prohlcmag qucm furá parte dcsscs l5% que irão lrabalhar c o quc dcvcrâo fazcr 05 dcmm'.s com acu Icmpo Iwrc - e com a pcrda du wnlido da vida? Pode scr quc a Ingotcrapia Icnha nmis o quc dizcr ans Estudos Unidns dn próximn século do quc jà lcnha dadn aos Estndos Unidos dcstc sécula lnfeh'21nenle. a problem:itica. nqui c .'|g()r.'l, é outnu frcqucnlcmcnte é 0 desemprego que conduz à abumiáncíu dc tcmpo livrc, c já cm 1933 dcscrcvi u patologia de uma “neurose dc dcscmprcgnfÍ Scm lmbnlho. a vida parccia às pes- soas um absurdo - elas mesnms semium-.s'c imilcisx 0 muis oprcssivo nào em 0 desemprego em si, mas o scmimenlo dc vulxio cxistcnciaL 0 homcm nào vivc 56 dc seguro~descmprcgu Em contraposição aos anos l930. a crisc cconómica hoje é de ordcm energét1'ca. Pura nosso cspantm tivcmus dc dcacobrir quc us fomcs de encrgiu não são perenes. Espero que nàn se tnmc pur uma frívulidadc a .\'ñrnmç.1'-u quc ouso fazer de que a crisc energética c scu impedimcnlo incrcmc ao crcscimcnlo econômíco oferecan no quc di7. rcspeilo à nussa vuntndc dc scntidu frustruda. uma oportunidade u'nica e grandiosu. Tcmos u oporlunidadc dc rccupcmr 0 “sen-ti-d0'.' À época do bcm-estar sociaL u muiuriu das pcswus tinha o suli- ciente para viver. Mas muitas não sabinm para quc vivcr. Donwunlc podc muilu bem acontecer uma transposição dc énfusc nos mcins dc vidu puru um objctivo de vida, para 0 sentidu da vida. E, ao comrário dns fontes dc cnergl'a, o scntido é inesgntável e 0nipresente.Com quc direito, porém, arrismmomos u dizcr que u vida ccssa dc ler um sentído para algue'n1? lsso se devc ao fato dc quc n homcm ó capaz de convcrtcr uma situação que, humanamentc consl'derada. nào lcm saídu cm ncnhuma rcalização. É por isso que existe no sofrimcnto uma pnssibílidadc dc semidu Evidcntcmcmn cslamos a falar de situaçõcs insolúveis c incvitáwis quc não sc dcixam mudiñcan 20 qugbs ñ .A ,_......_- awm»ü-~ W~ 4 - ~.z»;- 4~W ”“ ._;._-,\-v'a.~o.;~: _ › yz 30 0 SUIJRIMFNIU l1I3 l7M¡\ \'l|),\ .\l-M \›I'N I IIIlI dc um 's.ol'rimcnto cnm quc nào sc podc acabnn Comn médim. pcnsu nntu¡'n|1nc¡1|c nas dncnças incuráwi5. cm carcimmms que nño sc podcm muis opcrmz .›\(› cumprír um scmid(), 0 hnmcm rculilxu n si 1ncsmo. Sc cumprimos u sentido du sofrinlmto, rculimmos cnlào 0 que dc nmis humnnn u lmmcm tcnu -.1madurcccmus. crcsccmm ~ c1'c.s'ccnw.s pam ulém dc nós mcsn1os. Prccismncnlc '.u', omlc nus mcontrunms dcx.”.\n1p¡u".1dns c dcscspcra1dos. quundn cnfrcnlaumw si luaçõu quc nãu sc podcm mudan prccisamcntc aí Ó quc somos cl1.'\nI:uI(›s.', c nos ó cÀ\'igidn. a mudar u nós mc.s'mos. E ninguém dcscrcvcu isso com mais cmuidào do que Ychuda Bacom que cstcvc cm Auschwiu quundo aimla cm um mcnino c sofrcu dc (›bsess(›c.s' depois dc suu lÍbCl'l'.lçkl-(): Vi um cnlcrro, com nuísica c um magníiico cníxàu morltuirim c cumccci a rirz cstão Inucns, ludn isso por causa dc um únicu c-.\dávcr? lendu ia a um mnccrto ou zm tcalru. linhn dc calculnr quunm lcmpn cra prcciso para cxlcrmimr. cm càmnram dc gás. us lwssuas ali rcunidnsx c quunlaw pcças dc roupaL dcmcs dc ouru c sacos dc cubclus sc podcriam juntaua E então pcrgunmmm a Ychuda Bacon quc scnlido podcriam lcr os anos cm quc passaru em Au.s*chwiU,': Quando rapa7,. pelrsavm vuu contar uo mundo 0 quc vi cm Auschwilz ~ na cspcmnçn dc quc 0 mundo su lornaaxsc outm. Mas 0 mundo nào mudou. c o mundo nuda quis quir sohrc Auschwilz. SÓ muilo nmis lardc comprccndi Vcrdadcirumcnlc qual é u scmido do sofrimcnta O snfrimcnlo lcm um scn- tido quando m mcsmo tornas~lc outm 'vJ~à '-"W~-¡~" *--«--=N.L_ .J' sapm ..t"3' -' T›'" ' \. ' ”A” RWEÇUFMAN|ZAÇÃO DA PSICOTERAPIA Conlerênclas pmíeridas no comexlo da Semana Unlversllárla da Universldade de Salzburg em 1957, a convlle de sua dlreção. 1 Freud, Adler e Jung Defrontar-$e com 0 dever de thlar da contribuíçào da psicoterapia à íma~ gem do homem de hoje signiñca defrontar~se com uma escolhm a saben a escolha de proceder príncipdlmeme de maneira histórica ou emào principalmeme de ma~ neira sislemática. E essa escolha 's.igniñca uma torturm porque no caso concreto da maneira sistemàticm terinmos de desenvolver uma polissistcmálica; p0is, pam o atual estado do conhecimento e método psicoterapêutiv:os. vale unm \'nriante da sentença. que soarín assimz Quut mpim mr sysrenmm Em outras pal.¡-\'ras. sería algo ilimitado pretender aqui .1-nalisar mmbém ns mais imporlantes e correntes sistemas psicoterapêuticos. A nào ser quL= imentawse exigir de meu público uma paciência sobre-humana. Sim. mais do que issoz teria de presumir uma aprecia- ção insuñciente sobre o conhecimemu da psicoterapia que já tum. Dinnte desse dilema. decídi~me a abordar o tema não de modo histórico ou sistemátícm mas cr1'tican1ente. Mas tambénL a respeilo di550. dá~se que nem podemos limitar-nos a um só dos grandes sistemas, nem tampoucn estender~nos ao conteúdo geml de cada um deles. O que somente intcressa. pormnto, é destacar um denmninndor comum, isto é, no semido concreto de sublinhar a tbnte de perigos e crros inercn~ tes a todos os sistemas. Espero que, no àmbito de minha e.\'posição. se evidencíe que o psicologismo dinámico é uma das mais consideráveis to_n¡e'› de perigos e errOS prescmes nn atual psicoterapia. Muito menos conseguiram manter~se livre de todo o psiculogisnw. H U SUFRXMFNIH IHÍ lÍMA \'Il)r\ \F.\1\H\'l'll)0 ou atuar livrcmente sobre cle, os três clássicos da sistemática psicoterapéutica, Freud, Adlcr c lung. Considcrando que a psicoterapia atual jaz nas trés colunas da psicanáll'se, da psicologia indivídual e da psicologia analíüca, parece aconselhável ponderar as duvidals ames mcncionadas e depois passá-las em rev1'sla. É-nns cvideme quc Freud tbi “o” pionciro puro c simples no campo da psico- lerapia e "0" gónio no que diz respeito à sua própria pcrsonalidada Se de repcnte - se assím possn cxpressarmc - me tbssc cxigido fazer um esboço dos ensínamcntos de Frcud, eu diria que foi mérito scu haver colocudo a questâo do senüd0, conquan- to lhc dessc um signiñcado difercmc do nosso ou mesmo não lhe dcsse nenhuma resposla. À medida que o fez. essa queslão foi colocada no âmbilo do cspírito dc scu tempo, islo é, cm um duplo aspectoz primeiro no aspecto matcriaL uma vez que Freud encontrava-se preso ao espíríto da chamada cullura de veludo vitoriana - pu- dica de um lado. ldsciva. dc outro -, c segundo, no aspccto tbrmaL uma vez que suas concepçóes tinham como basc um modelo mecânico que não era de ncnhum modo o mais eñcaz só porque se chamara (eufemisticamente) “dinâmico'Í Em especiaL Freud se empenhou em interpretar 0 senlido dos sintomas ncuróticos, o que o levou a avançar sobre a vida inconscienle da alma, descobrindo assim, nem mais nem mcnos, toda uma dimensão dn ser p51'quico. Mais tarde, no ámbito do "inc0nsciente“.' conscguimos ver e reconhecer nlgo maís do que meros instimos e inconscicme inslint1'vo, tendo conseguido comprovar a ex1's.'tênc1'a de algo assim como um inconscienle espirituaL uma cspiritualidade inconsciente e até uma te" inconscientc;' tudo isso tàz parte de uma outra página e nào reslrínge o mérim hístórico que observamos na obra c no pcns.1'mcnto de Frcud. Para Frcud, 0 sentido dos sintomas neurólicos era ínconsciente não apenas na acepção de “esqucciddl mas também na accpção dc “reprimido”.' Qucr dizer, lratava-se de um sentido que fora empurrado para 0 inc0115c1'ente. Isso porque tudo que se lomara inconscienle ou sc ñzera inconscieme cra algo desagradáveL No en- tnnto. os conteúdos respectivos da conscPCnCía eram dcsagradáveis segundo 0 siste- ma de coordenadas daquela cultura vitoriana de veludo, de que se falou há pouco. ' \'iktor E. FranU', A Pwsvnça lgnomda de l)cus. de. Walter 0. Schlupp e Helga H. Rcinhoch Sáo Lcopoldo, Sinodal l Petrópoh's, \'ozes. 2008. HDLI lll lUNhfRIliH Compreendc-56 de igual modo que. para aquclcs pacicmcs pudicos da pnssagcm do sécula o quc primciro sc lcvava cm conm cra n rcprcssño da scxualidadc. Nào esqueçanws. porénL quc a c.\^tcnsào do cnnccitn dc ~.cxuahdadc na psicanállsc c'. dc u1111ado. mais amplo do que 0 dc genimL c. de nutro. mms rcstritu dn quc 0 conccilu de libido cunhado por Frcud. Para a psicanálisc. n ncurose inc|I'n.1'-sc. nñnnL a um cnmpmmism a um cmnpmmissu cmrc os inminlm connitivos entrc si ou cmãn cnlrc .1s¡,1rclcnsócs dc divcrsas insmncias intrapsiquicahz cumn as quc âào dcnumindes pclal psicanálhc dc id, ego u .s*upercgo. Um Compmnússu é tamhúm a nalurclxn duquiIu quc Frcud chamou de atos fhlhng c o mcsmo sc podc dizcn por ñnL dn nalurcla do sonho. Assim, paru cilar um exenlplo, qunndo um n.-1cíonal-socialisla dizia quc. cm umn daquelas famigcradas 1'nstí1uiçóc.s' nndc sc praticmmm a cutanalsiag sc “.1's.s^asu'n.'1- vam" - e não sc “intcmavam" - p.'|c1'cmCS, ou qu.1ndu um pnhtico socialllsta thlava - c cu a isso prescnciei ~ nào dc “prcvcnç.\"u cnntm .1conccpçào". nma dc "prc\'cnç.io contra a famlidadél é claru quc em ambos ns cusos sc impós algo que furu vítimu da rcpressão ou que pclo menos fora condcnadn a cLL Quanto ao sonho, 0 cnmpmmissu sc Llai por calusu du prctcnsa ccnsum do sonho, e lbi Max Schelcr qucm primciro chumnu u alc¡1ç.1"npara cssc ponlu fraco da p51'cana'lise, a sabcr. a aporia dcssc cnnccílu. quc rcaidc m idciu dc quc a inst.in- cia que rcprime, censura e sublima nún é algo quc sc pmsa dcdunr dns insh'ntos. os quais proporcionam o quc do rcprimido ~ c, conscqucnlcmcnm nào podcm acr por si mesmos o quom da rcpressàa Cuslunm axplicur cssc aspccto alus nuvimcs de minhas conferéncias por mcio dc uma cnmparaçãm aindu nãu acontcceu dc um rio construir sua própriu rcprcsa. No enta1m›, a psicwálisc cumctcu u crm dc limilar u campo dc visào nãn sú em relação a uma “genc.1'login da mnral'.' qucr d¡/.cr, Cnmu um hllPUSlO apoiu u th~ vor da repressão do 1'nstinlo, mas taunbóm cm rcl.'1g.1"oà lclcologiu quc dominu o scr psíquico, visto que prcssupõc U príncípiu -- dcduxido da hiologiu - du humwslusc. o qual valeria, em primcim lugaln no âmbitu dn naturuum c. cm scgundo. no da cultura. Em síntese, e em scnlido cstr1'lo, isso s.*igniñcaria mmn quanln admitir quc 0 humem está deslinudo ou sc dcixa destinur "a duminar c a rcmuvcr (› ncúmulo de excilações e estímulos que recaem sobre elc dc dcmm c de Íbrafl c quc “para |\ l› FREUD. ADLER E IUNG0 SOFRIMENTO Dlí UMA VIDA SEM SFNTIDU senão também como reação diante da doença, da fmqucm e da deforn1idade.isso serve 0 aparato anímicdÍ2 'A's tendências principais admitidas por Freud estão H iz HO sentimento dc infcriorídadc cxigc por sua vcz a compensação; scja no ãmbilopcnsadas em termos hmneostáticos. Quer dizer, Freud explica toda açâo como da comunidade. e eventuulmente na sua cxprcssão, o "scntimcnto dc solidaric-colocada a serviço do rcstabelecimento do equilíbrio perturbado. Todavia. essa hipótese, vinda da física de seu tempo, e segundo a qual a distcnsão seria a única tendéncia básica primária do ser vivo, está completamente errada. O crescimento e a reprodução são processos quc resistem à explicação através e tão someme do princípio homeostálicoÊn Portant0, nem sequer no âmbito da dimensão biológica se faz valer 0 princípio homcostát1'co, para não falar do àmbito psicolo'gico-noo~ lógicoz “A“qucle que cria',' por exemplo, “coloca seu produto e sua obra em uma re- alidade posítivamente concebidm enquanto a aspimção ao equilíbrio daquilo que se acomoda à realidade é concebida ncgalivamente'Í" Gordon W. Allport também assume uma posição crítica em relação ao princípio da homeostascz A molivação é considerada um esmdu de lensãu, que nos leva a buscar o cqu1'líbrio, o Sosscga a aconwdação, a salisfaçào e a homeoslasc. No qua› dro dussa visão do 5cr humamn a personalidndc não é nada mais do que 0 modo dc dimínuir nnssas tcnsÕcs. Naturalmel1le, essa pcrspcctiva casa per~ tc'ilameme bem com a concepça-'o, que servc de basc ao empir1'smo, scgundo a qual o homem é imrinsecamente um ser passivo que recebe impressóes úníca c exclusivumcntc do cxlerior c rcage única e cxclusivamentc a e|as. Isso podc scr baslantc correto quando temos dc lidar com a natureza da aspiraçâo cspeciñcameme humana, cuja característiü própria é justumentc a de não se cncontran de modo algum, \'0cnci0nada ao equilíbrio ou à redu- ção das tensñes - pelo contrário; é vocacionada à manutenção das tensões. Alfred Adler, em contraposição a Sigmund Freud, vai muito além do psi- cológico, uma vez que recorre, em primeiro lugan ao biológico sob forma de "inteári0ridade ()rg.1'm'c.1".' Esta, como fato somálic0, conduz ao “Scnlimemo de infe- rioridade" como rcaçâo psíquica - não só cm relação a uma ínferioridade orgânica, '~ Sigmund Frcud, Gesammclre Wcrka Frankfurt, S. Fischen voL XI, 1940 p. 370. “ Charlolte Bu"hler. Psyclwlagische Rundschau. H.1n1burgo, vol. VIlll l, 1956. * lhidenL dade" - a parrir daqui se moslra quc, para além do biológ|'co, sc comprccndc um momento sociológico -. seja na condução a uma compensação ou a umn supercompensação desse sentimenlo pam alóm da a›nmn1'dnde. 0 que, segun~ do a teoria da psicologia individuaL constítui a naturcza da ncurusa A pctilio principii da impulsividad'(. quc se rcprimc a si mcsnm, scgundo a pcrspcclm psi- canalitica, corresponde tambc'm, nu âmbilo da psicologia individuaL a uma nu~ tra petitia principii à medida que, comn conscquênau du tcoria de Alfrcd Adlcr, não é uma instância pessoaL senão uma instâncm social quc delcrmina a aliludc e a oriemação do homem para com a comunidadez decisivos sã0, cm relação a ísso, as círcunstância5, a educação e 0 ambiente social - sc podemns acreditar na psicologia individuaL Ao discorrermos agora sobre C, G. lung e sua psiculogiu anal¡'tica, nunca é bastante saliemar o mérito a ele impumdo dc, cm seu tcmp0, islo é, nos primeims anos do século, ousar deñnir a neurosc como “o sofrimento da alma que não en~ controu seu sentiddÍ À vista diss0, tanto maís tcmador é o p*s.icologismo analítico associado à psícologia analíüca. O mérito de tê~lo delinitivamcnle dcsnmscarado pertence, sobretudo, ao barão Victor E. von GebsattcL que, em seu Christcntum Lmd Humanismusf apresema a pessoa como uma instâncía suprapsicolo'gica. a qual ele sente faltar na imagcm dc homem aprcscmado porlu11g. Só essa instâ11cia, orienlada a critérios adcquados a ela, é capaz dc instituir uma ordcm igualmcnte no caos dos motivos religiosos e das expcriências intcrnas quc lhc ofcrccc o ¡ncuns~ cieme - ao aceitar uns e ao rejeitar outms. Todavia. nessa imagcm de ser hum\ano falta a instância capaz de encontrar a decisào perante as “crinç(›es du inmnsc1'ente'.' Deus é escolhid0, mas não na decisão da fé. “Se isso não é psicologismo'.' díz von GebsatteL concluindo, assim, sua exposição. “então sc pode dizer que o clefame é uma margarida e añrmar justamemc que se é um bolân1'co'."' 'Vicl0r E. von GcbsaltcL Chrtsrvnlum zmd Hmmlnismui SluugarL chlL l947. " Ibídem. p. 364 3N O SOFRIMENTO DF UMA VlDA SLM SENTIDO Amargas palavras dirigidas à psicologia junguiana também se encontram em Schmid. quando estc diz - e a censura por isso - que aquela se lornou uma reli› gião. Os novos dcuscs scriam os arquétipos. Só com rete~rência a eles se proporciona à vida seu scntido. O derradeiro apoio metafísico do homem enconlrar~se-ia. con- sequentenaente, em si mesmo, e sua “psique” seria algo assim como um modemo Momc Olimpo povoado de dcuses arquctípic05. A psicotcrapia individual tornar- -se-ia uma açãn sagrada, c a psicologl'a, uma concepção de mundo. “Perguntamo- -nos'l segundo as palavras de Hans Jórg Wtitbrechn “com cerla admiraça'0. como é possível quc haja teólogos que não se dào conta dessa rcdução consequente de toda lranscemíência à imanéncia psicológica e p(›dem. além d1'ssu, ser convictos discí~ pulos dc lung'.' A transccndência é reduzida até mesmo a uma imanéncia biológi- caz "Herdam-se os arquétipos com a estrutura ccrebrah são inclusive seu aspecto psíquicoÍ" Mais do que issoz dois estudiosos americanos “parecem ter conseguid0',' dísse Jung com ar de triunfo, “provocar, através de cstímulos ao tronco encefálic0, a visão alucínada de uma thrma arquetíp1'ca'.' isto é, “do chamado símbolo de man- dala, cuja localizm;ão, neste tronco enccfálico',' C. G. Jung “há muito tempo presu~ mia. Sc tbr possível conñrmar essa idcia dc uma localização do arquétipo mediante experiências po.s'teríores, então se aumentaria consideravelmente a probabilidade da hipótese da autodestruição do complexo patogénico por meío de uma toxina especíñca, e então sc predisporia a possibílidade de entcnder o processo destrutivo como uma espécie de reação de defesa biológica falida'.' Em toda essa questã0, não podemos ignorar que Medard Boss, por excmplo, denominou “a noção do arqué- tipo como um produto abslrato, e hipostasiado, do isolamento mental'Í Seria insistir no erro pretender veriñcar a leoria do psicologismo dinàmi- co a partir da terapia, ou seja, “cx iuvantíbusÍ Há muitotempo que descobrimos quc. no àmbito da psioterapia, o respeito muilo difundido para com (f'acts” e "ejfíciency” encontra~se descolocado e obsolet0; já não é mais possível ater-se ao mandamento: “Pelos seus frutos vós os conhecereis'.' Independentemente do respectívo método psicoterapêutico empregado, a porcentagem de casos cura- dos ou signiñcaüvamente melhorados oscila entre 45% e 65% (Caruso e Urban, 7 C. G. lung, Scclenprablcme dcr GcgcmvarL Zuriquc, Rascher Verlag, voL 3, l946, p. 179. . mwr z :m mmrrK Wmm L l PRBUD. ADLER E IUNG AppelL Lhamon, Myers e Harvey). E somentc em casos cxccpcionais. como na clinica ambulatorial psicotcmpêulicu dc Eva Nicbauer, dirigida scgundo os prin- cípios da lugolerap1'a. rcgistra-se uma indice de alú 75%. Mnis do quc issoz B. Stokis póde mostrar quc casos cxlmordinários de sua “união pcssonV dc pacicm tes tratadus com ajuda de métudos psicoterapéumos antagónicus tinham alcan~ çado os mesmos rcsullados favorávci5. É também igualmenm conhccido quc a porcentagem de curas permuncnlm é indcpcndentc do métodn psicoterapéulico empregado; a única coisa quc divcrgc é a duraçàn do lratamcnlo. Para além dis- so, deve-se acrescentar quc numa clínicn eslrangcira se pódc comprovar quc os pacíentes que se encnnlrawun na lista de cspcra. islo é, ainda nãn apreciadns pelo tratamento psícolcrapéutic0, aprescntaranh mediante tcstes, mclhoras ob~ jetivas cujas porcemagens revelanuwse signiñcativamente mais elcvadas do quc aquelas de pacientes cm lratamcnm Quem nào se lcmbm aqui da indicação dc Schaltenbrand, scgundo a qual as mcdídas tempêutims comm a csclcrose mu'l- tipla, quando não conduzem a mclhoras cm uma porccnmgem delerminada de casos - ou seja, em uma porccnlagem que corresmmda à tcndéncia cspontànca de remissão da doença -, equivnlem já u uma Icsão do paciente? Para entender ludo isso, é precíso distunciarse do prccunccito cliológico dc que a psicoterapia, em especial a psicanálllm nào é cñcicnle no scnlido de uma tera- pia inespecíñca, senão no scntido de uma 1erapia causaL Mus ncm todos os tão incri- minados complexos, conHitos e sonhos aqui mencionados ~ c u cujo dcscobrimcnto atribuem os métodos psicolcrupéuticos seus possívcis êxitos - são tãu patogéni~ cos como se pensa ou se sup›(e. Na vcrdadc, como mcus colaboradorcs thcilmcntc puderam demonstrar ao longo de levuntumcntos CSldÍÍSliC()S. uma série não sele- cionada de pacientes de nossa clínica neurolúgica lraziam consígo muilo muis com~ plexos de traumas e conflitos quc uma outra série de casos, lambém não selctivos, da enfermaria ambulatorial de psícoler3pia. E é prccíso csclarccar quc lcvamos cm conta no cálculo a carga adicíonal de problemas dos docntes neumlógicos_ Seja dc que modo for, não se pode falar quc os complcx<›S, os conflitos e os traumas scjnm realmente patogênicos - pelo simples fato dc que sào ubíquos. O quc se toma gemL mente como patogênico é, na rcah'dade, palognômicu quer dizcr, é mcnos a causa e muito maís 0 sinal de doença. Quando no quadro de um levanmmcmo anmnnésico 39 J1 40 U SOFRIMENTO DE UMA \'H).›\ SLM SLNTIDU emergem complexos, conflitos e lraumas, acontece algo semelhante ao recite~ que emerge junto a maré bam"a, mas que não é a causa desta. Não é, portant0, 0 recife que dá origem à maré baLKm senão a maré balx'a que faz nascer 0 recife. Analog1'ca- mcnte. uma análise faz añorar complexos que são precisamente sintomas de neu- roses, indicaçóes de d(›ença. No caso dos conflitos e dos traumas, se trata de uma tensão e uma exigéncia, em síntese, de um estresse no sentido de Selye, mas essa é uma razão a mais para se advertír como scmpre, do erro tão disseminado, que vê só na tensão nlgo de patogênico c nã0, ao contra'rio, no alívio: evidentemente deverá tratarse de uma certa tensão bem dosada; de fato o estar submetido a um esforço, o ÊIÍO de enconlrar-se em tensào para realizar uma determinada tarefa pode bem ser “antipatogênicdÍ Houve poucos Iugares no mundo com mais cstresse do quc em Auschwilz e cxatameme ali desaparecemm p“raticamentc as doenças psicossomáticas que com tanto gosro ejrfquência são consideradas condiciomzdas pelo estrcsse. Porém, nào só os complexos não resultam ser em si mesmos patogênicosz muílas vezes são até iatrogênicosl Seja como for, Emil A. Guthcil e I. Ehrenwald mostraram que os pacientes dos freudianos sonhavam com 0 complexo de Édipo; os dos adlerianos, com os contlitos de poder, e os dos junguianos, com arquétipos Os íntérpretes dos sonhos não podem mais ñar~sc neles, uma vez que - como bem añrmam os própríos eminentes analistas - estâo de tal maneira dirigidos que são muito “bem-vindos" pelo médíco que os trata, quer dizer, correspondem perte'1'ta- mente às suas tendências interpretativas. Onde a psicanálise atua tcmpeuticamente, atua, em suma. como uma tera~ pia de sugestào. 0 paciemc não consegue nem sequer compreender a procura de complcxos reprimidos empreendida pelo médico, a não ser que se informe sobre 0 procedimcnto dcssa procuru. No entanto, se ele se inforlnn, 0 quc, de- vido à grandc publicidade dos conceitos fundamentais da psicanálise. é quase sempre uma regra, demonstra, já pelo simples fato de pór~se sob tratamento psicanall'u'co, quc o aceitara e se encontra animado pelo correspondente sen- timento de expectaliva em rclaçâo a ele, que atua por autossugesta'o.“ “ L Berzc, “Psychmhcrapie von Vcrnunft zu \'ernunñ'.' In: Hubert I. Urban (org.), chtschr_iñ zum 704 Gcburtsmg von me. D.r ()m› Po"Izl. Innsbruck. 1949. <WW M _.-«3-;: .› rrrts '~ 1amwm7 mnimnww '-” vr iammlrx w .'»:';:r'. 'v . , . mwr r L ê › r H hí l. HZFUIL ADLER E IUNG "O processo de sugesnío começa antes quc se pronuncic a primeim palavra'.' assinala M. PHanL e "o conhecimenlo de quc quase em toda terapia tomam parle no jogo qumas de sugestã0. como mmbém salienla Slokvis, talvcz ajudc a rcmovcr os preconceitos com que se nmnifesta a sugcstãdÍ Abstraindo desse tàtor sugcslivm 0 mnmenm da simples oporlunidnde de sc pronuncíar desempenha igualmeme um papel dc alívío no pacicnle. Com efcito, nào só a dor “partilhada" mas tamhém a "comparlilhada" é mcia don sc Lsso carccc de uma prov.1', rccorrercí cntão ao seguintc episódiuc fuí um dia pmcurado por uma estudante ameríaum interessada cm me íhlar de suas quci.\'as. F.xpressava-se. contudo, por meio de um jargão tão terrível quc, apesar de todos os mcus estbrçosx não consegui compreendcr uma sú de suas palavras. Como e|a, añnal dc conlas. desabafara, c também com o intuito de disfarçar o mcu cmbaraço. cncnminhci-a a um de meus colegas - também mncricano - com o pretexm dc que precisava fazer um eletrocard1'ograma. Só quc ela ncm procurou o colega ncm vollou a me procurar. Na verdade, eucontramo~nos tcmpos LICPOÍS no meio da rua, quando se veriñcou que a convcrsa comigo lhc havia bastado paru superar uma situação c0n~ flitiva C011creta. e até hoje não tenho a menor ideia do quc ela mc dissel De tudo isso se conclui que 0 quc a ps¡'cmm'll'se. ao cuntrário dc como ela sc compreende a si mesma, isto é, no semido que atua por meio de uma convcrsào do dinamísmo afetivo e da energia 1'mpulsiva, faL na reall'dudc, quando alcança seu efeito terapéut1'c0. é trazer uma nova oriemaçào eÁ\'í.s'tencial ao pacieme. Se uma palavra tão em moda não causur horror, podemos thlar com r.-17,ào de um encontro humano como o agente uuténticu das normas dc tratamcnto psicana- 1ítico. De igual modo, a chamada trzmsfcrência nada mais é do quc um veículo desse encontro human0, e assim também o entcndc Rotthaus quando comesta que a transferência representa um pressupusto incomiicional dn prmcdimcnm psicotcrapêutico. É evidente que uma nova oríentaçào L-*x1'stcnci.1'l~ como aquela quc vise à análise existcncml de modo dircto c com plenn consciência dc métm do - considerada como taL quer dizen enquanto e4\'ístencial, ron1pe. pelo menos tanto quzmto a chamada transferênc1'a. as frnnteiras dos processos meramentc intelecluai5, racx'onais, e com efeito póe em andamemo um procesxsn tolaL plc~ nameme humano. Devc ser menos cv1'dente. por seu lurno, 0 fato dc quc a nom 41 .t xàü v..« cu -=›.cz- 0 SOIIRIMFÀWO IJF UMA VIDA SFM SFNTIDO orienlação existencial sc sublraia necessarhmente a todo método e a toda técnica; mas, como já se disse uquL o que menos importa no âmbito da psicoterapia é o métodn c a técnica empregados. O que conta muito mais é a relação humana en- tre o médíco e 0 pacientc. Existem casos mais do que suñcientemente registrados, nos quais se rcvela que aquilo que impressiona ao pacicnte de modo dccis1'vo, c que torna accssívcis as influências médicas é 0 ser desvestido do próprio papeL ou seja, o deixar de lado u atitudc díslamcn Parece~me que o sonho de meio século chegou ao ñm, 0 sonho da eficiência de uma mecânica da alma ou de uma técnica da psicoterapia ou ~ em outras palavms ~ 0 sonho da possibilidade de se explicar a vida psíquica com base em mecanismos e de um tratamemo dos sofrimenlos anímicos com ajuda de tecnicismos. ...;í" M M í 2 A logoterapia Há agora uma psicoterapiu que reconhccc, de antenm'0, que - ubslraindo das neumses príncipalmente noogênicas - atua nâo de modo causaL senão no scn~ tido de uma terapía ine.s*pec1'fíca. E delu, isto é. da logoter.-11,›ia, dil Edith Ioclson dn University ofGeorgia em “Some Comments on a Vienncse School ofPsych1'.1'lry".-' Com efeilo, é possívcl que a leorin psicodinâmica das neurosns csteja ccrtu quundo uñrma quc nu géncsc dc loda ncumsc p.1'rlícip.1'm de mamcirn dec1'siva. na prímcira 1'nfância, os cunílitos instintiv0s. Nn cnt.'1nt0, pouco sc alcança - cspecialmenle cm pncicntcs adulms - sc nãn sc lcva cm cnnm umn reorienlaçào para valores c scntidm csscnciaís ao proccsso tcrapéulicu Em outros termosz 0 que intcressu vcrdadeirameme é a entrega a uma tare- fa, quero di2er, a uma tarefa pessoal e concreta que se torna clara no decorrcr da respectíva análise exístenciaL E uma péssimn moda de nosso tcmpo achar que a psicoterapin “pm- priamentc d¡(a" deve ser scmpre psicanálisc. Essc tipo dc añrmaçào prcs- supõc o parecer completamente cquivocado de que no fundo toda ncur0~ se [...] deve ser atribuída a uma atitudc errónca da primeira infância e se ' Edith Joelsom "50me Commcnts on n Viennesc School of Psychiatry'.' Thc Ioumal _ofAbnornml nnd Social Psychology. voL Sl, n. 3. l955. anm =~ Vr A. ~__.!.,.,«x-- ..v-._ .~.«- 44,.-_,_ ,n--v~_-~«---r .. v .W , np 44 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO enraiza profundamente. ponamo, na personal¡'dacle, e que todos os outros Lrutamemos psicoterapéulicos não passam de um sucedânco de pouco valor, uma nbra incomplcm, um autocngano do lnédico, etc. Essc perigoso equívo~ co só póde [...] nascer em círculns de trabalho nos quais a sensibilidade para a prálica gcral da medicina [...] dcsapareceuÊ Uma psícotcrapia não psicanalítica também tem êxitos dignos de nota. lsso vale, em especiaL para a escola behaviorista c retlexológica. Ev1'dentemente. tais éxitos podem ser potencializados, lão logo se arrisque a ascender à dimen- sâo propriamentc humana. N. Petrilowitsch nos revela 0 que se pode conseguir com csse fator adicionaL quando añrma que, ao contrário das outras psicotera~ pias, a logotcrapia nào permanece na csfera da neurosa scnão que a ultrapassa c encontra a dimensão dos fenômenos espccificamentc humanosf De fato, a psi- canálise, por exen1pl(›,vê na neurose o resultado de processos psicodinâmicos e tenta, em conformidade cnm isso, lratá-la de modo que promova novos proces- sos psicodinânúcos, como acontece com a transferência. A terapía do comp0r- tumento - uma teoria fundamentada na .'1prendizagem -. por seu turno. vê na neurose o produto de processos de aprendizagem ou condirioningprocesscs e se esforça, consequcntementc, em iníluencíar a neurose de modo que a encaminhe para uma espécíe de reaprendizado ou recandítioning processm Em comrapar- tidu, a logoterapia ascende à dímensão humanau lornando-se. dessa maneira, capaz de acolher cm seu instrumemal os tbnômenos especiñcamemc humanos que nela se encontram Não se pode empregar qualquer método cm qualquer caso com as mes~ mas esperanças de éxito nem tampouco toda terapia pode manejar qualquer método com a mesma eñc1'ém'1'a. E o que é válido em relação à psicolerapia em geraL o é. também e partkularmcnte, em relaçào à logoterapia. Numa palavra, ela náo á uma panaceial " l. H. SchullL ch scvhschc Kmnkenbvimmilwzg Stuugum 1hieme, 1958. * N. Petrilowilsch. “Ul›cr die Slellung der Logmherapie in der klinischen Pxçychuthcrapiéí DI'›: medizimsche \'VL"Í,1"L 2. l9(›4. p.79()› M ,_.:m .2-r 4:< f L¡. i 1ALOGOTER^PIA Contrariamente a ]. H. R. Vnnderpas. que ousou añrmar que “os logolera~ peutas podcm lambém trahalhar scm a ps.*ic.'lnálíse'.' F.. K. lxdermanm do Marlbu- rough Day HospitaL detbndc u conccpçào scgundo a quul uma análise dn cxisténcia não exclui a nccmsidadc de uma análíse du libido e que podc acomeccr que csm última seja necessária para tàzcr com que a prinwira scja eñcaL Em contraposição a ísso. añrma G. R. Heycrz É prcciso conlradizcr a hipótcsc. que sc lé com frequéncim dc que cm um trutamcmo de psicoloW profunda n pnrtc dc descnnstrução "analílica" seria complcludu mai› Iurdc por uma pnrlc dc cnnslruçào ".sintélic.x"Í Scmclham tcs concepçõcs são inopormms c pcnsam dc mndn mcuinicuz é cnmo sc a psique ((› “apamto anímico" dc l-'rcud) se dcs'u›nlpu›c'.xsc primciru c dcpuis sc construn'.s".sc “sobrc U nnvdÍ Qucm nàn Icva cm considcmção u positívu. u todo c 0 sã0, 0 “hnmem concrcldl Com suu imagcm sccrclzL c nán sc dirigc a elc internamultc. dcsdc 0 primciro mnmcnlo c igualmcnlc n.| thsc crílica - e com ñrmcza -, perdu o quc rcsulta dc dccisivo cm todo lmtamcnm e orien~ tação humanos. Descriçõcx~ cumo a refcrida › das duas lllses nitidamcmc sc- paradas ~ revelnm quc csses aulurcs ainda sc nlnjam num profundn cncnnlo peln frcudismo 0rloduxo. De mancira análoga se cxpre.s'sa, por 1im, A. Maedcn quando evoca e udver~ te por mcio da fórmulaz “Nào há ncnhum csquema cnmo eslcz primeiro a análise. depois a síntesãí "Parecc-me algo além de qualqucr evidéncia o thto dc quc tcnho de emrar em cas_a todas as vezes pelo porão c. lodas as vezcs, lr1'llm"-lu e cumcç.1r qualquer reparo a parlir de ba1'xo."" Lcrnbmno~1105, cunmdo, ncssc conlextm quc tbi o próprío Freud aquelc que assim Compreendcu a psiczmálisc: “Eu sempre me detive no rés do chão ou no subsolo do cdifícidl escreveu clc a l.udwig Binsmmgcn OS dois exemplos quc segucm pretendem esclarcccr como não é indispcn- sável que a análisc existencial lugolcmpéutíca seja prcccdidu dc umu psicamàliscz Desde os lrczc anos, Judith K. padecia dc uma agorafhbiu agudaL Já hawia sído tratada por colegas especialistas proeminuum submetida unm vez à hipnoscx * Franz Iachym, Kullwlik und Psichotherapin Vienn. l954. 45 ¡. s .v..., í 1 U 3 Í .-'__-Íy4(. Í , ~ . Ê a f 2 6 S U I N I É K W H H À É . n ã . . i s â a í n ã . : § g . i ã , k s t l l i v ã p ¡ E | . . u R . Ê § 0 Ê . A . É § | Ê . E . Ê R H I M | . « . § . » H ~ . U N § . Ê . Ê Í E . Ê . Ê § n m n Ê ¡ M Ê ¡ . Ê . . . 4 ã . r w mb n u m n m u . o . « Ê ¡ i f Ê u â h ã ã ã l ã n HN ê l u 4 h u m W r ñ m H Ê L n r y l n H á ã . ñ n , w n N u M H m ã q ¡ ã . x b \ . ¡ w . . x , 5 . h n n n d l l k . h t q u m ã u í m n E I N É . › | Ê E . . M n m p l u u u W L r l . 1 3 \ H ¡ “ 1 › $ 2 l à . u . . ! h ñ . . l ã m l › t n . . = í n q ã b n u a u u ã q n a u n n â E a ñ u . . _  % . Ê v x . g \ n ê : à ñ ê ê n u ã a ã 5 N I Ê Ê T B F Ê N H N H E N Ê ã § . \ . v § \ 1 b v u h ü h j í l P ã ã s h Ê . Í › . , . . . Ê . y ã w N B B . . . í l n n n u m R \ . É . Á - N u u d . . h . . . L W 1 1 U 9 . . H › . a › F 1 4 . ã . r n . x u m s u ã ñ ñ 1 É Ê N H P J K Ê K A Ê . . 4 . ¡ m c â n , . . › h m w j ã H E u B . › . . x k Ê 1 . . . . . L ; . 4 . Á u ? . . v . J l › . r . . . r . a . E u H . n , w h ã a u ã Ê h i ç k a w m w m h w i u l m g u n u u ã ? . 4 \ l n ñ m u ¡ ¡ . , y . Ê M « u n w i l m s r a u D É q ñ à s k b í '1 ê - N Ê . « § l i n n í H w A B w u Ê Ê J s w ê n . ã . g í › . 1 W R H W I Ê I . . H B U § J À . a Ê v « Ê J P J \ . Ê I « \ À Ê \ É T 1 1 . . É I ~ » H Ê Ê n ã § . m s n . x ê _ m n n ã R . H 1 . k g w n g , § 4 . J . . . U « . ã . _ u . . U R N V . ¡ H N H A ã ã l . b ñ m . n w , l u ñ u w x H m l v u n m a m w o m w c n n a u y ã . \ ã . 4 . ã \ n h r l . ü í y . v N ã u n . D u ñ u § . . ñ i r › n v | n ê l u ã 4 § . . ¡ e › n 5 r n . n ê c . . Ê . Í u § . , Ê s l g . Ê Ê m j k x ã x ê ü ã y m ü â u , . n . M R ü u ã r \ A m ñ i . J . a u . : Ê l b r W u p ü u n « . ã ú k ñ . l ã . r w ü m n ã ã n ê Í ; ) . . ã y . a ñ q ü x w ã f n h . . . . . á ñ \ . . u ã 1 t Ê ¡ \ § , , w u ñ n n n n ã E é Ê t É Ê a I Z É H u u u h ã L F . . Ê . U Ê | É u k v a i l b f J u w r n J u n á l F t l c Ê J H D P S Ê L A ú H N Ê U W Ê g . . u l l a i i l . . t ü [ m . l í ã ã ¡ § Ê « R Ê , . Ê I U Q É U É D Ê V Q . ã . b e § m l a ê u i g n d ã l l ã í i i 1 Ê B S E Ê É R Ê H B Ê C Ê n O ã b H Ç Ê Ç Ê Ê R Ê u ã n u ã . E . a a n g . . i n a b n r g u Ê \ \ v o ñ f \ N 8 u § . - ã h n § . . m e v v â x ã . g . ã \ a v . u § . í e ã l Ê U H M Ê B Ê W É Ê E Ê Ê . § Í b b g u n n g g r d 4 Ê 4 = m z h ã ã a § 0 § § 1 Ê . . Ê í i h u N § › . , Í - _ I Ê Q Ê % U ã ê m ñ ü w d ü ã . § $ § § . â i i e ã g , ã ã . _ H ã . n n a n l o ã n n Ê o . § \ . a Ê g D H - P ã . . â . w o . ã o l Ê _ Ê . ~ Ê , § A R , Ê › Ê Ê u ñ õ u d ê m u n n ã ã a g n g : z g . § . 3 Ê 1 Ê . n § § . v g . g ê . í . - n n Ê â u n g g g k ã § . - n a ã m l n ê a . Ê T Ê É . Ê V Ê \ Q N É Ê W Ê . - K . . Ê . E F D P . É H Ê \ - Ê Ê ; Ê . ¡ Ê . ã § . ê = x w u . u u n u ü . \ ã \ n ã v § › ã w ã ã . 1 $ , Ê . ã R Ê u q u l n à T n Ê Í Ê â u ã n n ã n u Ê à Ê J í P n Ê . Ê . Ê . Ê U Ê ã § . Ê . . ã 2 Ê i u ã § . B g i g \ ã › n F É g s . Ê Ê M É O Ê R É Í Ê X Ê N Ê Ê Ê E U m w E L JN U SUTRIMLNTO DE UMA VIDA SEM SIENTIDO disso, que scria irremediáveL Na rcall'dade, Como a nós ñcou evidente em pouco tcmpo, tralava-se não dc uma neurosc psicogénica, mas de uma pseudoneurose. Rcalrmnte. algumas poucas injcçóes de diidroergotamina tbmm suñcientes para a paciente se ver inteiramenle livre do problema, de modo que, depois de sua re- cuperação médic-a, também cessou. sob todas as formas possíveis. o conflíto ma- trimnniaL É incomestável que csse conflilo existia, mas não cra do tipo patogénico c. consequemenlente, tampouco era psicogênica a doença de nossa paciente. Se todo conílito matrimonial toÂsse patogênico, cmão provavclmente 90% dos casados seriam neuróticos. Mas não é como se toda hipofunção da glândula tírcoide conduzisse direta- mente a uma agorafobia; pclo contrárío. o que se vcriñca é que a hipofunção traz consigo uma mera predisposição ao medo, da qual deve logo apodcrar~se uma ansiedade amecípatória, cujo mecanismo é baslante conhecido por no's, psícotera- peutasz um sintoma, em si inofensivo ep.-1.s'sagcir(›, provoca no paciente o rece1'oto"- bico de sua repetiçãa Em segu1'da, essa ansiedadc antccipaúwia reforça o síntoma, e, ao ñm, cste, já reforçad0, conñrma aínda maís o paciente em sua fobia. Fecha-se assim o círculo vicioso, no qual o paciente se vé pre50 e detido, como num casulo. De tais casos pode-se dizen sc o desejo, comn añrma o provérbi0, é o pai do pen~ samento, então a angústia é a màe do acontecimento, a saber, do processo pat0- lógíca O propriameme patogênico é, em muitos casos, a ansiedade antec1'pat<›'ría, enquantn esta é aquela que, antes de mais nada, ñxa 0 sinlomzL Nossa terapia, contudo, deve atuar ao mesmo tempo no polo psíquico e somárico desse círculo vicioso, dirigind0-se de um lado comra a predisposição ao medo - prccisamente pela medicação para csse ñm especíñco - e, de 0utr0. simultaneamente, contra a ansiedade antecipatória - no sentido daquilo que diremos ao falarmos em seguida do método da intenção paradoxaL Desse modo, 0 círculo neurótico permanece inserido numa pinça terapéutíca. No entant0, o que é que provoca a ansiedade antecipalóría? De maneira tí- pica, o medo tão frequente do pacíente dianle do próprio med0, e precisamente ao recear as possíveis consequéncias para a saúde derivadas da sua excilação ansiosa, uma vez que receia a possibilidade de que ele própriocolabore com um ataque de coraçào ou com um derrame cerebral que possam vír a atingi-10. Por medo do r.. wmxw .. :Leç nazu rvnü mwm mw ._, .\-' 2 k mnorranu med0. póe-se cm fuga do mcdo, cscnpa dn medo para pcrmancccn pamdoxalmcm te, preso a ele: tcmus aqui, pois. dc rcmelcr-nus ao modclo da rcaçào agorafóbica. Nesse senu'do, quer dizcn no scnlido dc quc cxislcm ditbrcnlcs lípos de rcaçâq distinguimos pois, na logmcrapia clínica. divcrsos mudclos de rcaçào. Assim como o ncurótico fóbico rcagc aos acus alaqucs de mcdo com mcdo ao medo, tumbém o ncurótico ubscssivo rcagc.-1 scus ataqUCS obwssivos com medo à 0bsessão, e apcnas a partir dcssa rcuçio é que surgc a neumsc pmpriamenlc 0b- sessiva e clinícanwnle n1an¡'lc'stu. É prccisamentc por tcmcr scus alaqucs obscwl vos que os pacientes atklados vecm ncles indícius ou sínlomns de uma psicosm ou cntão receiam convcrtcr cm am scus impulsos obsmssivmy Iíntrctanto. ao conlrário do tipo neurótico tõbic0. que por rcceio ao mcdo sc póe a llugir do medo, o lípn neurótico obsessivo reage de modo que. por rcccio à obscssúm comcça uma lutn contra a obscssâu Enquanto 0 ncurólim tbbicu lbgc du mcd0. u ncurólicu obses- sivo corre dc cncontro à obscssãn » c, cm numcrusos cusos de ncurosc obscssiva. é precisamente esse mecanismo o pauugénico pmpriumcnlc dim. Numa perspecliva dos fundanwnlos cnnsliluciomis. ó possívcl compmvar a existência de uma disposíçãn psicopátimy (Ínm clbilm é ncssa psicopatin anan~ cástica onde se cnxerta por si mcsmm scgundu 05 casos dislintos. csta ou aquela característica do mcdo que afela o pacicnla A psicopalia nnnncástica - 0 subslmto de sua neurose obscssiva - não é imputável à pcssoa (cspiritual) do p.au'cntc. senão que se cncontra ancorada em scu carátet (anímicu). Nesse sentida o pacicnte não é nem livre ncm responsável - somcnte o é. ludav1'a.e1n vista dc suu alitude dianle do 'A'nankasmus" (ananquc). O quc rculmemc conta lcrapeulimmcmc é a amplim ção do cspaço dcssa liberdade a panir dn momcmo em que sc cria umu dislànakl entre 0 humano no doente e 0 docnlc no homan Tal lcrapia não é síntomáticm ao contrárioz não sc preocupa demasiudamcntc com os sintomasy scnào que sc dirigc à pessoa do pacienle - a sabcrz que ela se csforcc em mudar a nlitudc dcslc pcrante o sintoma. Contamo que a logotcrapia nào sc voltc pam o sinlonm mus procurc levar a uma mudança de at|'tude. a uma novu oriemação para com 0 5inloma. ela é uma auténtica psicotcmpia pcrzsonallistau Ao contrário dos modclos de ncurusc fóhicu e de neurosc ObSCSSiViL enc0n~ tramo-nos, no modelo de rcação dos neuróticos sexuaisx dianlc dc um pacicntc JO 4.-.› q .›-.-' ,r›4«-› c -w-1¡ -m_;. . A. . _ A. .~“~W~, wm_ -_._.,-___. AWJ1~4 . mkl ' SLI O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SEM SENTIDO que por alguma razão se sente inseguro de sua sexualidade e, em consequência dessa insegurançm reagc de maneira que ou intenciona tbrçar o prazer sexual ou imencíona reílctir ao extrcmo o ato sexuaL No primeiro caso, ele faz do ato um programa; mas o prazer não pode intencíonar como ñm último em si mesmo, scnão que se reali7.a. propriamente falando, no sentído de um efeito. de modo es- pontáneo. justamcnte quando não é perseguída Pelo contrári0, quando mais se busca 0 prazen tanto mais ele tbge. E como dissemos há poucoz o medo já reali/'.a aquilo que teme. Então po- demos dizer doravante: 0 descjo demasiadamente intenso já impossibilíta 0 que lanto deseja. De tudo isso tira proveilo a logotcrapia à medida que oriema 0 paciente a cnfrentar-se, ainda que por algumas fmções de segundo, justamcnte com aquilo que tamo teme - portanto, a desejá-lo paradoxalmente, ou a aceitá-lo antecipada~ mente, conseguindo assim tirar da ansiedade anlecípalória ao menos o vento que sopra sua velzL .:ar. xrm ~=rmmm m .1-› 5 A intenção paradoxal Pretendemos agora retomar 0 tema da intenção paradoxaL tal como já foi descrito em meu artígo “Sobre 0 Apoio Mcdiulmcnloso da Psicolcrapia no Caso de I\Ieuroc›.es'll publicado em l939. Nesse contexto, pnrccc dc bom tom rcmclcnmc antes de tudo aos casos que foram discutidos em mcus livros 'lhcaric xmd Yherupic der Ncuroscn ÍTeoria c Terapia das Neuroscs]. A Psirotempm unm Oasuístím pam Médz'cos,3 A Vonmdc dc Scntido' e Logotcmpiu u Amilisc Ifuvc1'stwu'z'al.l A seguin con- centraremos a atenção em um malerial ainda não publicado. Spencer M., de San Diego, Calito"rni.1', escreveu-no.s*: Dois dias após lcr lido u scu livro, Em Busca de Scnlidof cncnnlrei-me em uma sítuação quc me proporciunou n uporlunidadc dc pór à pr0va. pcla prímeira vez, a logotcrapia. Participci na univcrsidudc dc um scminário so- bre Martin Buber, e durante o primeiro cncontm não livc papas na língua ' Viktor E. FrankL “Sobre u Apniu Medicamcmosu da Pskutcrupia nn kiaso dc Neurose§Í ln: Lagoterupia v Amílise ExísrcmiaL São Paulu, Forcnse Unívcrsilária. 2011 '^ ldem, A Psicotcmpiu mz Práticw Trad. Cláudid M. CnmL Cumpinas;, Pap1'rus. 199L ' ldcm. A Vonladc zlc Sentida Trad. Ivo Sludan Percim Sào Paulu, Pduluau 201 l. ' Idem, Psiwlcmpiu c Sculído da \'ida. de. Alipio Muia dc Custm S. cd. Sàu l'au10, Quadrnnlc. 2010. 5 ldcn1, Em Busca dc Scntido. TrmL Waller O. Schlupp e Carlos Avch'nc. São l,cupo|do. Sinodal / Pctrópolis. Vozes, 2009. 52 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO quando acredilei ter de dizer mtameme 0 contrário do que os demais u- nham dilu Enlâo comecei sem mais nem menos a transpírar intensamente. Logu quc mc dci conta disso ñquci com medo dc que os outros pudessem percebcr u mutivo pelo qual comccei a transpiran De repcnte, lembrei-me do caso de um médico quc consultou o senhor por causa do receio que lhe causava 0 prorromper dc suas transpiraço'es, e emão pensci que a situação era scmelhame à minha. Mas eu não dedicava uma grnnde estima à psicote- rapia. e mcnos ainda à logotcrapia. Por isso mesmo me pareceu que a minha situação oferecia uma ocasião única para lestar o valor da intenção parado- xaL Qual' tbra mesmo o conselho quc 0 senhnr dera ao seu colega? Que ele podia, para varian desejar c pmpor-se mostrar às pcssoas qunnto cra capaz de transpirar - “atc' agora só linha ¡ranspirad0 um lilro. agora, contud0, vou transpirar dcz litrosÍ diz em scu livm. E enquanto eu contínuava a falan dizia a mim mesmm “Moslra, dc uma vcz por lodas. aos teus colcgas, 0 que é tmnspirnn Spencerl Exatamentc assim, mas ísso aindn não é suñc1'cntc, dcvcs transpirar muilo ma1's.".' Não sc tinham passado alguns scgund(›s. e então pude observar que a pelc secava. Tíve de rir comigo mcsmo. O que não conseguia ainda compreender é que a intcnção paradoxal funciona e. a.|ém disso, imedíalamcnle. “C0m mil diabosFl disse a mim mesmo, deve haver algo nessa intenção paradoxaL pois rcalmeme dá cert0, e nesse ponto eu mc sentia célico quamo à log(›lerapia. De um relato de Mohammed Sadiq retiramos 0 seguínte casoz A senhora N., uma paciemc dc 48 anos, padecia dc trcmores, mas com tul intensidadc que não conseguia sequer segurar uma xícara de café ou um copu dligua sem verter 0 c0nteu'do. Tampoucu sc semia capaz de escrevcr ou de mamer um livro para ler cntre as mâos. Aconteccu que uma manhã, quando nos encontrávamos semados um díantc do outr0, começou a tremer mais uma vcz. Resolví cntão recorrer à intenção parudoxaL mas, é claro, com certo humon Assim, disse-lhe: “Que tal. senhora N., promovermos uma compctição de rreme-tremc?” Ela retrucouz “O quc ísso quer dizchÍÍ E euz “Vamos ver de uma vez por todas. quem de nós dois treme mais rápido e por n vr J. A INTENÇÁO PARÀDOXAl maís tempo'.' Elaz "Eu não sabia quc o senhor Iambém sufria dc lremnrcsLn Euz "Não. não - de modo alguml Mas sc eu quiscr. lambém posso lrcmcr'.' (Ecomccei r c com quc intcnsidach E claz ^'Oh. o scnhnr cunscguc lrcmcr mais rápido do que cu',' (E. sorrindm comcçnu a aprcasar 0 scu trcmurJ Euz “Mais rápido. vamos. scnhorn N.! .›\ scnhom lcm dc lrcmcr mais ra'pldo,” Elaz “Mns cu não possu mais. parcl lú nàn cnnsigo mals cuntimmr'.' E usmva rcalmcnte cansada. chamou~sc. íhi mé .1 cozinha c vollou cum uma xícam dc café. ›]hmou 0 café wm dcrramar uma golu. Quandu. dcsdc cnlào, cu a surprccndia tremcndo. baslava dizcrz “P(›¡s bcm, scnhorn N., 1uc tal uma á ccrlo. cslá ccrm." E issocompelição de trcmc-trcn1c?'.' Ií cla rcspnndi tcm ajudado todas as vczcs. George PynummootiL dos Esmdns Unidos, rclnta o scguintez Um homem jovcm entrou no mcu consuhório médico padcccndo de um grave tiquc nervoso no olho quc sc nlanifcstavu scmprc que tinha dc falar com alguém Cmno as pessoas cuiduvam dc lhu pcrgunlar o quc clc tinha, isso 0 dcixava mais ncrvoso. <IZnCuminhci-o a um psicanalislm Mas. uo ñm de mda uma séric de s ssõccm vollou a mc prucurur para informur quc o psicanm lisla não tinha dcscobcrlo a causzL quamo mais podcr ujudáJa 1\c0nscHwi-0 então que da próxima vcz cm quc tivcsae dc falar com alguénL piscassc os olhos lantn quanto possíveL a fim dc mostrar an scu inlcrloculor quanm em capaz dissu PCIISOLL porénL quc cu dcvia lcr licado qucn parn lhc dar lul com*elho, uma vez que cstc só pndiu piorur ›,cu cslud(›. li sc tkuÇ Nu cntamm voltolu um dia, para mc comar. complcmcnlc cntusmsmada o quc. cmremcn- tes, tinha acontccidoz como nào lcvnu a sério a minha proposta, não pcnsou cm colocá-la em prálica. O piscar de olhos pioranL alé quc uma nuite vcio- -lhe à mentc n que cu lhe tinha dim. Enlào disse a si mcsmnz “Alé agura tentei de tudo 0 que existc c nadu ajudou. 0 quc pnde acontcccr se eu lcnlan au mcnos uma vcz, aquílo quc mc foí rcc0111cndado?'Í E uss¡m, no dia scguinlm propôs~sc. diantc da primcira pcssoa quc enconlrnsse. a piscnr os ons mmu quanto possích c, paru a sua grandc surprcsa, perccbcu que cra incupaz dc um simples piscar. A partir dc entào n tique ncrvoso dcsaparcccu tol.1lmexm-. SJ _ ...~ 54 0 SOIIRIMINYU DE UMA \'ll)A SFM SLNHDO Um assistente de universidade escreve-nos: Devia aprcscnlaFmC a um poslo dc trabalhu que eu buscava e que me era cómod0, uma vcz quc podcria tmzcr à Califórnia a minlxa mulhcr e os meus h'lhos. Mas estnvu bnstame nervoso e me esforçando enormementc para cau- sar uma boa impressão. O pmblema é que, ao mc semir nervoso, mínhas per- nas comcçam a lremcr, mas a um punto quc as pcssoas presemes não deixam de percebé-lo. E assim acomcccu clurantc a entrevislzL Desta vcz, contudo, disse a mim mcsmo: “Vou agora obrigar estes músculos nojentos a tremer com tal intensidade quc não conseguirei scquer ñcar sentado, senào que te- rei dc mc lcvamar num pulo c comcçar a dançar pelo rccimo até as pessoas acrcditarem que estou louco. Estcs músculos nojcmos vão tremer hoje como nunca - hoje se vai bater o recorde de trcmer'.' Pois bem, os músculos das per- nas não lremeram uma ve1',sequer durante toda a entrev1'sta, consegui o posto de trabalho e, cm brevc, minha família cstará aqui comigo na Califórnia. Sadiq, que já citamos aqui, tratou, certa vez, de uma paciente de 54 anos, que caíra no vício em soníferos e fora internada em um hospitaL Às dez da noitc, saiu de seu quano e me pediu um sonífero. Ela: “Pos- so pedir uma pílula para dormir?)Í Eu: “Sinto muito, acabaram por hoje e a entêrmeíra se esqucccu de fazer a tempo um novo pediddÍ Ela: “C0mo vou agora poder dormir?'.' E euz “Para esm noitc, terá de ser sem soníferos'.' Duas homs mais tardc, reaparece. Ela: “Simplesmente não dáÍ Eu: “E que tal se a senhora voltasse a deitar›5e e, para variar, em vez de dormir, tentasse passar a noite em claroTÍ E elaz "Eu sempre pensei que fosse louca, mas mc parece que o senhor é igualmente loucdÍ Eu: “Veja a senhora, às vezes me agrada ser um pouco louco, ou a senhora não é capaz de entender isso?'.' Elaz “O senhor fala séríoTí Eu: “Sobre 0 qué?›í Ela: “Que devo tentar não dormir'.' Eu: “Claro que falo sérío. Tente uma vez so". Vamos ver se a senho- ra consegue passar a noíte acordada. Tudo bem?'.' Elaz “O.k.'.' E quando a en- fermeira, na manhã seguinte, entrou com 0 café da manhã em seu quarlo, encontrou a pacíente ainda dormínd0. | A |N1I'N(,A0 I'ARI\DUX;\L 5 É admirável conslatar cnmo as pcssoas leigas recorrcm com bons resulmdos à intenção paradoxaL Tenhu aqui diame dc mim a carm dc uma pacicmc quc snfrc- ra de agorafobia durante catorze anos c que, duranlc lrôs, sc submcteu scm succsso ao tmtamemo psicwalítico ortodoxo~ Ao longo dc dois anos rcccbcu o tratamento de um hipnotizador. 0 que lhe proporcionou uma lcvc mclhora. Estcve inclusivc in- ternada por seis semanas. Nada, de fato, a ajudava. Dc qualqucr mod0. escrcvc a pn- ciente: “Nada mudou em catorzc anos. Cada dia era para mim um inferno". A coisa chegou ao extremo de um dia querer sair à rua, mas foi logn acomctida pcla agoru~ fobia. Ocorreu-lhe então lembrar que tinha lido o meu livro Em Busca dc Sentidm e dísse a si mesmaz “Agora vou mostrar a lodas estas pessoas que sc encomram aqui ao meu redor, na rua. do que sou bcm capaz1 cair em pânico e sofrcr um desmaidÍ E subitamente se sentiu calma. Cominuou 0 Caminho até o supermercado e fez as compras. No entanto, quando chegou o momento de pagar. comcçou a lranspirar e a tremeu Disse a si mesmaz “Vou mostrar ao caixa quamo sou verdadeirameme ca~ paz de transpirar. Ele irá arregalar os olhos'.' Somentc no caminho dc volta percebeu o quanto estava calma. E assim continuou. Ao cabo de algumas poucas semnnaaç era capaz de dominar a tal ponto a agorafob1'a, com a ajuda da imenção parado.\'al. que às vezes não conseguia acreditar quc tivcsse estado doente. No símpósio sobre a logoterap1'a, organizado no âmbito do Sexto Congres- so Internacional de Psicoterapia, o Dr. Gerz, diretor clínico do Cunnecticut State HospitaL referiu-se aos seguintes casos clínicos: A.V., de 45 anos, casada, mãe dc um jovem de dezesseis anos, sofria hnvia 24 anos (!)_ de uma doença. durante os quais padcceu de uma grave síndrome to"~ bica, composta por claustrofob1'a, agorafob1'a, temor excesm'vo. medo de clevado- res, passar por pontes, entre outras coisas. Por causa de todos esscs transtornos, foi tratada durante todos aqueles 24 anos por diversos psiquialras, que aplicaram repetidas vezes, entre outros remédios, chamadas anàlises de longa duração. Ti- veram de intemá-la nos últimos quatro anos numa clínica. Apesar dos calman- tes que recebia, sentia-se num estado de permanenle e elevada excítaçào. Esteve igualmente durante um ano e meio aos cuidados de um experiente analista, mas sem nenhum êxíto. Em 1° de março de 1959, o Dr. Gerz assumiu o tralamento, a saber, por meio da intenção paradoxaL Cinco mcses mais tarde, a paciente viu-se "u 56 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO pela primeira vez, após 24 anos, livre de qualquer sintoma. Deram-lhe alta logo em scguida. Dcsde cntão, passa1^an1«se vários anos, nos quais leva uma vida normal e fcliz no scio de sua família. E agom o caso de um pacieme neurótico obsessivoz o senhor M. P. é um advogado, casado, de 56 anos dc idade, pai de um estudante colegial de dezoito an0.s. Há de.7e.ssete anos acometewlhe “dc repente, como um raio vindo de um céu sercn0, a terrível alucinaçào 0bsessiva” de que o valor de 300 dólares de imposto pago à reccíta cra muito baixo e que, por conseguintc, enganara 0 Estad0, embora tívcsse feito a sua declaração de imposto de renda com conscíência e todo 0 cuida- do. “Mas não conscguia, por mais que me esforçasse, livrar-me desta ideiafl contou ao Dr. Gerz. Ele ja' se via a sofrer um processo por fraude ñscal e ser preso, via os jomais chciosde artigos sobre ele e a perda de sua posiçâo proñssionaL Imemou- -se entào num sanatório. onde se submeteu a um tratamcnto psicoterapêutico e, em segu1'da, a 25 sessóes de eletrochoque - sem melhora5. Enquanlo isso, 0 estado de saúde piorou de tal modo que foi obrigado a fcchar o seu escritório de adv0- cacia. Noites dc insônia fizerammo lutar contra a alucínação obsessiva que se in- tensiñcava dia após dia. “Eu mal conseguia I1'vrar-me de uma dessas obsessões e já dcsenvolvia uma 0utra',' relatava ao Dr. Gerz. Em especiaL queixava-se da obsessâo que o ac<>n1et1'a. de que seus diversos contratos dc seguros tinham expirado sem que se desse ContcL Repetidas vezes. tinha de revé-los para logo em seguida trancá~ ›los num cofre especial de aço; cada contrato era selado c atado inúmeras vezes. Por ñm, acertou com o Lloyds, de Londres, um seguro especialmente redigido para ele, que 0 preservava das consequências de qualquer erro que, inconsciente e invuluntariamente, viesse a cometer no âmbito de sua prálica jurídica. No entam to, logo teve de deLx'ar igualmente essas atividades proñssionais, pois a alucinação obsessiva tornowse tão grave que foi preciso imernar-se na Clínica Psíquiátrica de Míddlctown, onde então começou 0 tratamento com a intenção paradoxaL pelas mãos do Dr. Gerz. Ao longo de quatro meses, trés vezes por semana, esteve sob cuidados da logoterapia. Foi instruído, diversas e repetidas vezes, a empregar as seguintes formulaçóes de intenção paradoxalz “Rio-me de tudo. Que o diabo pr0- cure 0 perfeccionisma Para mim, tudo está bem - por mim, podem encaxcerar- -me. Quanto mais ced0, melhonl Ter medo das consequências de algum err0, que 34 A INTENCÀO PARADOXAL por acaso deixci cscapar? Quc me prendnm então - lrês vczes ao dia! Ao mcnos recebo de volta o mcu dinheiro, meu belo dinhcirinh0. que arrcmcssei no focinho daqueles senhorcs de Londres...'.' Começou então a dcscjan no sentido da imcnção paradoxaL ter comctido 0 maior número possível de crros c fazer novns la'ltas.' um- baralhar o seu tmbalho com o íntuito de provar à sua sccrcláriu que cra “o maior fraudador do munddÍ E 0 Dr. Gcrz não teve a menor dúvida dc que cstava em jogo a completa auséncia detodapreocup.1ç.1"o de sua purte - tal comn linha dc esmr por trás de suas inslruções -, quando 0 pacícnle se mostrou cupaz não só dc realizar a íntenção paradoxaL mas também de tb1'mul.1"-la pur meio dc um extraordínário senso de humor, o mesmo com que u Dr. Gcrz tinha, ev1'denlcmente. de conlribuir. Assim, por exemplo, quando 0 pàcicnlc entrava cm scu consullório médico, ele n saudava do seguinte modoz “O quê? Pelo amor dc Dcusl O scnhor aindn andn por aí Iivre e solt0? E eu pensando que já estava há tempos por trás das grades. Estive inclusive lendo os jornais e perguntand0-me quandu iam informur a rcspeito do grande escândalo que o senhor causarafÍ A isso reugia o pacicntc com uma sonora gargalhada. E, cada vez maís. símpatizava com cssu aliludc 1'rónica, ironizando também contra si mesmo c contra a própria ncumsc quand0, por cxemplo, diziaz “Nã0 me interessa a mínima que me prendmm 0 máximo que podc ucnmccer é a companhia de seguros ta']¡r).' Agora. já tàz um ano que o tratamento chcgou ao ñm. Estas fórmulas - o quu 0 scnhnr chama dc inlcnção pumdoxaL doutor - acenaram~me em chci0; atuam quase cumu um milagm Possu então dizcr ao senhorz em quatro mcscs, u scnhor conbeguiu lhzcr dc mim um uutro hómenL completamcntc difercnlc. Scm dúvida. aqui e ali mc vém à mcn› tc os velhos lcmores. No entant0. saíba o senhun sou cnpaz aguru de lidur imcdialamcntc com is*so;.1'gora sci muilo bcm comu tmtar dc mim mesmo! Pratico a intenção paradoxal desde l92'~)," mas somcnte cm 1947 publiquei- -a com esse nomeÍ É evidenIe a semelhança dcla com os métodos de tratumento da terapia comportamental quc surgiram mais tarde no mercado - algo que não " Ludwig ]. PnngratL Psycothempic in SelbsldarstvllxmgwL Berna. l973. ' Viklor E. FrankL Dic Psytlwfherapic in dcr Prax¡s. Vicna. Franz Dcutickc. l947. ñd 0 SOFRIBHÉNTO DE UMA VlDA SEM S'[.-NT|D0 passou despercebido por alguns tempeutas do comportamenm À vista disso, é nolável o fato de quc a prímeim tcntaliva de comprovar empiricamenle a cñciêmcia da ínlcnção paradoxal tenha sido emprecndida por tcrapeutas do comporMmentQ annL no cnlantm os profcssores L. Solyom, I. Gar'/,a-Percz, B. L. Ledwidge c C. Soly0m. da Clínica de Psiquialria da McGill University quc nos casos de neurose obsessiva crónica cscolheram doís sintomaxs característícos dc igual imensidude e. logo, procederam a 1ratar cada um deles - um deles foi o sintoma de 0bjctivo. tralado com o método da intenção paradnxaL cnquanto o oulr0, o sintoma de “conlrole',' permunccía uusente no lratamcmu Com efeit0, dcnwn51r0u-sc que sn- meme os rcspectivos sintomas lratados dcsapareceranL c no dccurso de poucas semanasx E em nenhum dos casos ocorreram os sintomas de substituição!"' Meus colabomdores, Kurt Kocourek e Eva Kozdem conseguiram, com aju~ dn do método de imenção paradoxaL chegar muilo longe e cm pouco tempo, inclu- sive nos casos de antigos pacicnlcs afctados de neumsc ohscssiva - esles pudcram tornar~se novamcnte aptos ao trabalh0. Tais resultados terapêuttms do lratamento dcmonstram que a chamada tcrapia breve pode scr, eíetivamente, breve e boa. Acrescentmse a isso que “as dúvidas muitas vezes expressadas de que à eli- minação de um sintoma deve seguir-3c necessarimnenle a formação de um sin~ toma substituto ou de outra atitude inoportuna 1'nICI.'na, formuladas com essa generalização, são añrmações complelamcntc injustiñcadasÍm Mas não se devc despertar a impressão de que os resultados alcançados em todos os casos tralados pela logoterapia tenham se dado em tão curto espaço de tempo como nos casos anteriormente citados. Citei-os porque sc prestam bem ao intuilo didálic0. *"' L. Soylum el ¡l].. “P-.¡radoxical lnlcntíon in the Trcntmcnt othsessive Thnughtm A Pilm Study". Inz Comprclmxsivc Psychiulry, n. l3, l972, p. 29l. " J. H. SchultLAcm Psycholhcmpculíca, n. 1. 1953, p. 33. 4 A derreflexão O elememo caractcríslico do mndclo dc realção ncur()'tica sexual é a luta pelo prazcr. E podemos aqui obscrvan m›van1cme, cumo u pacicmc se emaranha num círculovicinso.Alulapclopmcr.alulnpclapoténciacpcluurgu.s*1no,avon- tadc dc pmzcn n hiperintcnçà0 llwçada ao g01'.0 conduzcm nào uo prazcn mus u uma hipcrrcflexào f01'çnda.s'obre si mesmnz inicia-sc, dur.'1m-u›.'\ln.u obscrvar a si mesmo c, sc é possích a lambém espiur 0 parcc1'ro. É o ñm pnra a cspunlancidade. Um caso concrctoz a senhora S. procur0u-no.s* por causu dc sua frigidcz. Na in^fância, a paciente foi molestada sexualnwnle pclu próprío paL Dc uma pcr's.pcclivu lwurísnc.1', rcsolvemos lratáJa Como sc não cxislism ulgn parccido a um 1r.-1um.1-psi- cossexuaL Pclo contrairi0, perguntaunos à pacicnlc sc cla já cspcrava cslar lcsadu por causa do incest0. A pacicntc conñrmou nussas suposiçócs au añrmar quc chcgara a essa conclusào por ínfluéncia d.1'leíluradc um livm popular, cujo conleúdo aprcsen- tava uma interprclaçào vulgar da psicanálisc. "Aquilo lcm de scr respondido à allu~ ra',' rezava a convícçào da pacientc. Em uma palavraz ins(.1*l.'1r.1'~sc ncla uma ansiedude antecipatória. No âmbito dessa un.s'icdadc anlccipulo'ria, a paci'ultc. todas us vezcs que tinha um contato íntimo com scu parcel'ro. punha1~sc “'.'1 cs'preita"; porquc qucria ñnalmentc .s*ati.s*fazer e conñrmar a própria feminilidadc. No enlanm prccisumentc desse m0d0, dividia a atenção cntre ela e 0 parceim Tudo isso, porém. acubava por também fruslrar 0 orgasmo; porque na medida em quc alguém rcpara no ato sexual em si, nessa mesma medida se íhz inapto à entrega plenu a clc. 60 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO É claro quedo mesmo modo que a intenção forçada patogênica deve ser subs- tiluída na terapia pela intenção paradoxaL de maneira análoga a híperreflexão palo- gênica precisa, cumo corretivo, de uma derreflexãa Muitas vezes temos comprovado que, a ñm de solucionar um sintoma, a única coisa necessária é a dissolução da aten~ ção localizada centralmente no dito simoma. E foi o que aconteceu no caso da pa- ciente S. Disse a ela que, naquele 1noment0, nâo dispunha de tempo para dar ínícío ao tratan1ento, mandando que retomasse dois meses mais tarde. Até lá› rccomendeL não devia preocupar-se nem com a capacidadc nem com a incapacidade de obter o orgasmo - a respeito do qual voltaríamos a ocupar-nos quando iniciássemos 0 tra- tamento -, senão que, durante a relação sexuaL deveria voltar a atenção ao parceim E a evolução do caso deu~me inteira razão. Aquílo que esperava secretamente, de fato aconteceu. A pacíente não retornou ao consultório ao ñm de dois meses. senâo ao ñm de dois dias - curada! Bastou dcixar de'voltar a atenção a si mesma, à sua capacidade ou à sua incapacidade ao orgasmo - em resumoz uma derreflexão -, e entregar-se despreocupadamente ao parceíro para, pela primeira vez, atingír o 0rgasmo. O que acontcceu? A paciente fora vítima de uma íntenção forçada ao 0r- gasmo. Na logoterapia, denominamos a isso hiperintençào. A ela se junta, em geraL aquilo que na logoterapia qualiñcamos de híperretlexão, ou seja, a direçào e a dedicação da atenção ao ato sexual em si mesmo. A hiperintenção contraída e a hiperretlexão paralisante encadeiam-se, por C()nseguinte, num círculo vicioso no qual a paciente se viu presa. E como foi possível libertá-Ia dele? Tudo isso se deu pelo que, na logoterapía, se chama derreflexão. Voltemo-nos agora à impotência masculina. E aqui devemos perguntar-nos, em primeiro lugar, o que, nesses casos.', leva 0 paciente a “hiperintentar” sua po- têncía a ponto de resultar em uma perturbação dela. Nossos estudos aportaram ao resultado de que o homem cuja potêncía se encontra prejudicada expcrimenta o coito como ulgo que dele se exige e se reclama. Em uma palavra, o coito adquire um “cara'ter obrigatóridÍ Quer seja pela obrigação de “prestar-se" ao coit0, que parte da situação dada, quer seja pelo próprio paciente, que programa, por as- sím dizcn 0 coit0. Sob determinadas circunstânc1'as, contudo, a exigência parte da parce1'ra, aínda que seja tão só uma inicíativa, mas que, a um homem inseguro em sua relação sexuaL parece difícil de suportar. Uma reaçã0, de qualquer modo, 4 A DERREFLEXÀO humanamente compreensíveL Mais do que isso, porémz Konrad Lorenz referiu- -se certa vez a uma fêmea de peixe-beta adestrada por elc a tal ponto que não se afastava coquete, como de costume, do nmch0. senão que nadava energeticamente ao seu encontro. O macho “reag¡a humannmenleÍ scgundo o rclato do etólogo austríaco, quer dizer, tornara-se completamente impotente. Às três instâncias menc1'0nadas, as quais os paciemes se sentem pressionados à sexualidade, acrescentam-se por u'ltimo dnis novos fatores. Em primcíro lugnr. o valor de não somenos ímportan^cia que a sociedade do dcscmpenho impula à capací- dade de desempenho sexuaL É a pcerprcssure, islo é, a dependecm que 0 indivíduo isolado tem de seus semelhantes e dos outros. daquílo que o grupo a que pertencc considera como “in” - essa peer pressurc conduz, de modo tkwçudm à poténcia e ao orgasmo. E o resíduo de espontancídade, que a pucr prcssure deixara ainda intacto. é arrancado do homem de hoje pelos prcssurc graups. Pensemos aqui, por exemplo, nas indústrias do prazer e da informação sexuaL A coerção ao consumo sexuaL que elas tém em míra, é apresemada às pessoas pelos hiddcn perstuzders, enquanto os meios de comunicação de massa tàzcm 0 resto. O único paradoxo é que n jovem de hoje também se presta a seguir os dítames dessa índu'stría, sem percebcr quem 0 manipula, e se deixa levar igualmente por essa onda sexuaL Quem se apresema como inimigo da hipocrísia, deve também atuar ali, onde a pornograña, para não ler seus negócios perturbados, se faz passar por arte ou por intbrmaçâa Recentemente, apresentaram-se na literatura mais vozes (Ginsberg, Frosch. Shapiro e Stewart) a chamar a atcnção para o aumcnlo de fcnômenos de impotên- cia entre os jovens e a referir-se, nesse contexto ~ em total concordância cum o há pouco discutido “caráter de exigéncia” -, ao fato de que primeiro a pílula e logo também a “w0men,s liberation” jogaram nas mãos das mulheres a iniciativa scxuaL Defrontamos logoterapeuticamente a hiperreflexâo com u derreflexão, en~ quamo, a ñm de combater os casos de impotência provenientes da híperínten- ção patogênica, dispomos de uma técnica logolerapéutica que remonta ao ano de l947.l Quanto a isso, aconselhamos 0 pacienle a não “se ocupar do ato sexuul ' Viktur .F. Fr3nk1'. Dic Psychulhcmpíc in dcr mei& Viena. anz Dcuticku l947. lEm edição brasile|'ra: A Psicotcmpiu mz Prática. Trad Cláudia M. Caon. Campina5, Papiru5. 199l.] 61 0 SOFRIMENTO Dl'. UMA VIDA SEM \.F..\'IH10 de modo programát1'co. senâo a dar-se por satllsthilo com 05 carinhos prelinu'na- res, no sentido de múluo prelúdio sexual'.' Também sugerimos “ao paciente que explique à suu parccira quc tcríamos rigorosnmenlc dc proibir, por enquant0, 0 am sexuaFÍ E o pacientc tem de comunicar igualmeme a ela a dispensa dessa proibi- ção. Em scu próprio intcresse, cla deve cvitar de agora em diame exercer quaisquer prcssócs dc ordcm sexual sobre ele. Assim que tem lugar essa descarga subjetiva, u pacicntc podc *c.xercilar-sc em Íbrmas dc prclúdio sexual cada vez mcnos prelimi- narcs, protclando, contudo, 0 quamo possa, o ato sexual propriamenle dito, até o dia no qual se cncontre frentc ao "1a'il accomplfÍ William S. Sahakían e Barbara Jacquelyn Sahakian2 defendem a opinião de que os resultados das invcsligaçóes de W. Masters c V. Iolmson conñrmaram ín- leimmeme as nossas. De thta o método de tratamcnto desenvolvido em 1970 por Maslers e lohnson lem muims pomos em comum com a técníca de tratamento que acabamos de esboçar, c por nós publicada em l947. Ilustremos, a seguir, nossa exposiçâo com alguns casosz Do mesmo modo que a derretlexão reagc contm a ln'perref1exa'o, a pmibição ao ato sexual acaha com a hiperimenção. No cnlanto, esse nosso “truque" só podc ser usado quando ncm um nem outro dos parceiros 0 conhece. O scguinte relat0, que dcvo a um antigo cstudante meu, Myron I. Horn, esclarece quão engenhosa~ mente precísamos proccder ncssa situaçãoz Um jovcm casal procurou-mc prcocupado com a impoténcía do cspu- so. Sua mulher lhc havia dito rcitcradas vezes quc elc era um amante mí- serável (“a lousy lover"), c que agora pemava em procurar outros humens para ñnalmcnte semir~sc salisfeita. Sugeri que ao longo dc uma semama. todas as noitcs c durantc au mcnos uma hora, clcs se deitassem jumos, nus, c ñzessem n que lhes agradassc; a única coisa não permitida sob ncnhu- ma ckcunslàncm cra que manlivessem rclaçócs sexuais. Uma semana mais tardc, reenconlrci-os. Tinham tentado, disseram~me. seguir mínhas instru- ções, mas, “infelizmente',' por trés vezes acabaram chegando ao alo sexuaL " Willinm S. Sahakium Barbam Iacquelyn Salmkian, “Logotherapy as a Personality Thcory." Ismel Annals ofPsyrhialry, n. lO, 197Z, p. 230. 4, A DHlRPFlkaÁO Fiz-mc dc irn'lndo, insislíndo quc uo Incnus nu acmnnn scguinlc ubscrvasu sem minhas inhlruçüc"\.. Parssaranbsc um poucus dms c mc chamam ao lclc- fonc para mc comunicar quc mais uma vcz nãu cnnwguirum alcrsc au mcu pedid0. Pelo cuntrari0. mnnlinham agnm rcluçôcs scxuaLs nlé mms dc uma vcz ao dia. Um anu maís lurdc soubc quc n éxito cnminuava a vingnn Um sexólogo da Califórn1'a. Claude Farris, fcz chcgar até mim um relalo do qual se deprecndeque a intenção pumdoxal é igualmcnlc aplicávcl cm casos dc vaginísmo. Para um.1'p-.1c1'cntc. quc rbra cducudu num convcnm católico. a scxuali- dade cra tabu sevcro. Veio em busca dc tratamcnlo por cnusa das forlca dorcs quc semia duranlc o alo sexuaL Farris a ínslruiu u nàn rclaxur a rcgião gcnilaL scnão a enervnr a musculatura da vngina na medida do posxsích dc modu que scu cspusu não conseguisse pcnctrá~la. 0 csposo lbi instruídu n thzcr o que cstivcssc ao scu alcance a ñm dc vcncer essa rc.s*i.s'tência. Uma senmna mais tardm ambus rclornam para informar~me que, pcla primeira vcz cm sua vidu nmtrimuan o ato scxual ocorrera livre das dores. Não houvc rccidívas por regístra r. Isso mostra, portanto. que cm certo sentidu nño sc dcvc intcnciomr dire- tamente algo cnmo a díslcnsào, mus se p0dc. por nutro ladn. lcnlnr 0 caminho de uma intcnção paradoxaL ou seja, da inlençâo nposm à di.s*tcn.~a.1'*o. Rctiro dc um trabalho de David Iu Norris, um dc mcus alunos califbrnianns. n seguinlc epi- sódioz no âmbito de um trabalho dc pesquisa c inves11'gaç.1"o, Norris tevc dc fazcr alguns experimentos com pessoas conectudas n um clctmmiógrafo a ñm de medir -lhes 0 grau de distemã0. Entre clas huviu um homem quc rcpctidas vczes Ievnvu o aparclho dc medição à escala dc 50 microampêrc Ncm com u mclhor dus von- tades - ou se deveria dizer pur musa dc uma vomadc lbrçudu. pur musu dc umn lúperintençãU? -. 0 sujeito COIISCEUÍH dislcndcrsc dc mamcira .'\dcquadn. Até que o diretor do experimento pcrdcu a pacíêncim “Slcvc, junmis conscguírás dlcançar uma distensão decentéí Stcvc então cstourou dc raivaz “Cnm os Lliubos lodo csle palavreado de dislensà0. Estou me 11'xando. sc o scnhor qucr sabcr!" Após u que a agulha do aparelho desccu de 50 pA para 10 pA - c com tama vclncidudc quc o diretor pensou que a energia elétrica linhu cuídu 6\7 u... »:p.v:< . 4 nk., OwWLM m_ '1 wn 4 Q 1 n 5 A vontade de sentído Comojá d1'ssem05. a psícanálise rclcvu não só a somutogêncse. mas lambém a noogênese das doenças neurólicas. As ncur0505, comuda nào sc cnraíz.1-m nc- cessariamente no complcxo de Édipu ou no cmnplcxo dc 1'nfcrioridadc. ”Ihmbém podem estar fundadas cm um problcmu cspirituuL cm um conÍlito dc consciéncia e em uma crise existenciaL A psicamílise nos deu a conhcccr a vontadc de pra/'.er, a parlir da qual p0« demos conceber o princípio do prazcn c a psicologiu indivídtml nus lornou t.1"mi› liarizados com a vomade de pnder, sob u fnrmn da tcndóncia a fazer~sc vallcn Mns no homem enraízansc mais profundamentc uquilo que designcí como a vomade dc Sentidoz o esforço pclo mclhor cumprimcnto possívcl do scnlido dc sua cx ñlênciax Nâo é, portamo, a felicidade aquilu que o homem anseia de modo mnis pr0- fundo e verdadeir0? Não foi 0 que admitiu o própríu KanL quc essa ó a rculidadc. e que só postcriormente o homcm anseia por scr digno de fcl|'cídadc? l-.'u diria quc aquílo que o homcm realmente quer é, añnul dc C(›nlas, nàn 21 fclicidudccn1 si. mus um motivo para scr feli/.'. Assim quc, a sabcn é dada uma ruzào pura scr MiL uprc- sema-se cssa felic1'dadc, comparcce csponluncamcntc o pruzcr. A c.\'pcriénci.1' chí nica diária nos revelau com freque'ncia, quc L'*ju.s'tamente o afastmnento do “motívo para ser feliz" quc impede o homem sexualmeme neurólico - o homem impulcnte ou a mulher frígida - de ser feliL Como sc da'.poré¡11.cs.'se athw;tnn]c11to palogénico do “motivo para scr feliz"? Através de uma doação tbrçadn a uma 1blicídadc em si 06 0501RIMENTODE UMA VIDA SEM SPNT IDU mesm.1. a um prazer em si n1esmo. Como estava certo Kierkegaard ao añrmar que a porta du felicidadc sc abrc para fora e que, quando alguém tema arronlbá-la. nào fnz mais do que fechá-1a. Mmivo Efcito __--___-› Vontadc dc Scntido Vomade de Prazer No entama como podemos cxplicar isso? Em virtude de sua vontade de semid0. 0 homcm tendc a achar um semido c realizá-lo, mas também a encomrar- -se com outro ser humano, a amá-k) sob a forma de um lu. Ambos, a rc.'111"1.açãn c 0 encomro, dão ao homem um motivo para a fclicidadc e para 0 prazcn No neu› rótíco, contudo, tal aspiração primária permanece como que desviada pam uma aspímção dircla à íe'11tid.1'dc. à vontadc de prazcn Ao invús de permanccer aquilo que deve scn ou sej¡1, um cfcilo ((› efeíto secundário de um sentido realizado e do scr humanu encontrado), 0 prazer se lorna o nbjcm de uma intcnção forçada, dc uma hiperimençã0. e esta hipcrimenção faz-se sempre acompanhar de uma hi- perreflexão. () prazer sc mrna conteúdo e objeto únicos da atenção. No entanto, à medida que o homem neurótico se intcressa pclo pramn perdc de vista 0 mativo para o prazer - e 0 efeítn “pr.'1/.'er" já não pode muis ser obtida No que díz rcspeito ao tão propalado tcma da autorrca11'zação, ouso añrmar que 0 homem só é capaz de realizar-sc à medida que cumpre um sentida O impe- ralivo de Píndaro, .s'cgundo o qual o homem deve tornar~se qucm ele é, requer um complemcnto, que encomro nas palavras de Iaspersz “O que 0 hnmem é, 0 é através da coisa que faz sua'.' Como o bumerangue volta para o caçador que 0 arremessou, quando fhlha o alv0. assim também só propende para a autorrealização o homem quc, anles de tud0. fracassou no cumprimento do semido, e que talvez nem sequer tbssc capaz de cncontrar o sentído que vale a pena realízar. S A \.0.'\TADE DFV MNTIDO EfcitoF im Ml//ciu O mesmo valc, de nmncim amálogm u rcspcilu du vnnmdc dc pramr e da vomade de podcr. PorénL cnqunnto o prauxcr nàn é scnàn um efciln sccund.1'ri0 do cumprimemo do scntidm o poden por seu lurno. é um meio pam um 11m, ¡'.1'que rcali~ zação e senxido eslão ligadoa a ccrlns preswpuslm c cundiçócs SUCÍdÍS c camón1was. Mas e quando o homem uslá voltadu pura o prnzcr cnmo um simplcs ctbim sccun- dária c quando sc Iimita a um simplcs mcio para um lim chamadn pnder? 0r'.1. essa vomade de prazer c também cssa vonlade dc podcr só sc lbrnmm quamdo é frustrndn a vontade de sentido. Em outrus pal'.wr.1's. u princípin dn pruzcr comu u tcndéncia J ürllerasc valcr é uma molivaçàu ncurótica. E isso nus pcrmitc igualmcnlc cumprccn~ der por que Frcud c Adlcr tivcram LlC dc.su›nhcccr a oricnlaçãu primáriu do homcm por um scntidoz rcalizamm scus diagnóslicos e csludus cm pcssoas n¡:uru'lica›! Já não vivemos mais hoje. como no lcmpu de FrCULL cm umu época de frus- tração sexuaL Nossa épuca é a da frumaçàn c,\'i.s*lcncial. E cm purlicular enlrc os jovens, cuja vontadc dc scntido sc encontra frustrada “() que dizcm Frcud e Adlcr para a jovem gcraçào de hojc?',' indaga Bccky I.cct. .'l rcdalora-chclc~ dc um jornall publícado pelus esludanles da Univcrsity of GeorgiaL 'lc'mus a pílula quc nus libcrla da.s comcquc'nci.1s du rcnlizalçàtv scxunl - hojc não cxislc mais ncnhum mnlivo pnra sc csmr s.c'.\uulmcmc lullu'do. E tcnws 0 podcr - basta lão smncnlc lançarmm um nlhar suhrc us pulíliCm '.\nwric.mos, quc cstrcmeccm diantc da jovcm gcruçàu. comn sc cxuwçxsun a cunfromar a Guarda Vcrmclha da Chi|1a. Mas Framkl dil quc .1.~ pcssms vivcm huic cm um valiiu cxislcncíaL c quc csw vazio c.\'i›tcncial sc manífcsLL solm~ludu, pulu lédiu Tédio - isso sua, cnmudo, imcimmcmc ditbrcmm não é mcsmo? Muilu mais fu~ nu'liar. não é vcrdade? Ou n scnhur conhccc puuquissinms pcssms au scu rcdur F O SOFRIMENTO DE UMA \'lD^ SFVM SLNTIDO que sc queixam do lédio, não obstante o fato de que lhes bastam estender a mão para tudo lcr, inclusivc o scxo de Frcud e o poder dc Adler? Com cfeito, é cada vez maior o númem de pacienles que nos procura com 0 svcnthento de um vazio ínlerior - descrito e qualiñcado por mim de “vazío exis› tencial'” -. com o sentimcnto de uma auséncia abismal dc sentido em sua existéncia. Seria um erro supor que sc trata deum fenómeno restrito ao mundo ocidental. Pelo contrário, Osval-d Vymetal chamou expressmwnle a atenção para o fato de que “esta doença de hoje, a pcrda do scntido da vida, uhrapassa *sem concessão e controlel par- ticuhamente entre os jovcns, as fronteiras da ordem social capitalista e socíalista'.' Foi Vymetal quem também declarou. por ocasião dc um congresso tchecoslovaco de neu- rologia, após ter professado, ex pracsidio, seu entusiasmo por Pavlov, que mesmo em vista do vazío existencial o médico da alma não pode angariar seu sustento com uma psicoterapia orienlada em Pavlov. E dcvemos a L. L. Klilzke' e Joseph L. Philbrick2 a indícação dc que o problema mmbém sc faz sentir nos países cm desenvolvimcnlo. Aconteceu, porlant0, o que Paul Polak já em 1947 havia previst0, quando em uma confcrência proferida na Verein für Individualpsychologie [Sociedade de Psicologia Individuall añrmou que a solução da qucslão social apenas deixaria livrc a problemálica espíritual quando esla pudessc mobílizar-se autcnticamenta somemc entào o ho- mcm seria livre para cmpcnharise de verdade a favor dc si mesmo. e só então conhecerá o que há dc problemálico em si mesmo. a problemálica auténtíca da exislência. Ernst Bloch seguiu nessa mesma trilha quando dissc recentemenlez “Os ho› mens recebem de presente aquelas preocupações que, de outro mod0, só a teriam na hora da morte'Í ' L. L. l(lirch. “Sludcnls in Emcrging Afríca - Lugolherapy in 'l-'.1nz.m-ía'.' Amcrimn Iourmzl of Humanistíc Psydmlagy. n. 9. l)*(›9, p. 105. '- Ioscph L Philbrick. “A Cross-(Iullural Sludy of Frankfs Thcory of Mcaníng~in-I.ilk'.' artigo aprescnlado à Amcrican Psychologkal AbSDCÍaÍÍOIL ó A frustração existencial O psíquiatra de hoje encnnlra muilo frcqucmcmcntc a vonladc de senlído. não raras vezes, em forma dc frustraçãu Não há, porlantm sumcntc a fru>lraçã0 scxuaL a frustração do instimo scxual ou. cm tcrmos gcru¡'s. a du vonmdc dc pmzcn mas também aquela frustraçào existcnc1'zú. como a chaunamos na lugotcnqpim ou scja. um sentimento de ausência dc sentido da própria cximêncim Essc .s'cmimcnt0 dc fulta de sentído e de vazio deixou para trás 0 senlimenlu dc ínlbrioridadc no quc diz rcspcito à etiologia das doenças neuróticas. () homcm dc hojc não snfre tamo do semimenlo de que tem menos valor do qUe algum 0utm qualqucr, mas antcs du scntimenm dc que sua existência não tem scmida Essa frustmção cxislcncizll é nn mínimu putogénl'ca. qucr dizer, pode scr a causu dc docnças psíqu1'cas. cum u mesma frequéncia quanto a tão incriminada frustração scxuaL O homem existencialmente frustradu náo conhece nada com que possu pre~ encher aquilo que denomino scu vazío exislenciaL Sclwponhaucr dizia quc a huma- nidade oscila cnlre a ncccssidade e o tédiu Ora. hoje temos - e nós, ncurologist'.Ls, também - de lidar mais cnm 0 tédio do quc com n ncces.s1'dadc, sem cxcluin senão incluindom catcgoricamcnte, a chamada neccssidade sexuaL De íukto. é palcntc quu, por lrás dos numemsos casus de fruslração sexuaL sc esconde na vcrdudc a frustnb ção da vonladc de senlidoz SÓ nU vazio existcncial prolitbru a libido scxunL Como a linguagem já nos ensina, 0 lédio pode scr “mortal'.' Com efeit0. alguns autores chegam a añrmar quc os suicidios podem scr atribuídos, em última instância, àquele vazío intcrior que corrcspondc à frustraçào exislenciaL 70 O SOFRIMEN"I'0 DE UMA VIDA SF.¡\1.N'IZ'N1'1D0 Todas essas queslões assumem hoje em dia uma atualidade singular. Vi~ vemos cm uma época de crescente tempo 1ivre. Mas há um tempo livre não só em rclaçàn a algo, senão também para a1g0; 0 homem existencialmente frustrado, t()davia, não sabe com que ou como poderia preenchê-lo. Se nos perguntássemos pelas mais importantes formas clínicas com as quaís podcríamos fazer frente à frustração exístenciaL teríamos de mencionar, cntre outras, aquilo que descrevi como ncurusc de dc.s*emprego.' Aqui também se comprecndem as crises dos aposentados - um problema atual e premente para a geriatria. Podemos tranquilamente ir tão longe quanto Hans Hoff. quando añrmaz “A possibilidade de dar um Sentido à sua vida, no qual o futuro também assumc um aspecto de imeresse, pode, em inúmeros casos, retardar 0 surgimen- to dos simomas da velh1'ce'i E entendemos perfeítamente a sabedoria que emana das palavras de Harvey Cushing, o maior neurocirurgião de todos os tempos, citadas por Percival Bailey na conferência que pronunciou por ocasião das c0- memoraçóes do 112° Congresso da Sociedade Americana de Psiquíatriaz “Existe somentc uma maneira de perseverar na vidaz ter sempre uma tarefa que cum- prifÍ Por exemplo. 1embro~me de que poucas vezes em mínha vida vi uma mesa tão sobrecarregada de lívros - livros à espera de uma leitura atenta e ponderada - como a mesa do professor vienense de psíquiatría Josef Berze, quando ele já contava noventa anos de ídade. A crise dos aposentados é, por assim dizer, uma neurose de desemprego permanente, porém existe também uma neurose de desemprego passageira, períó- dica. Reñro~me aqui à neurose dominicaL uma depressão que acomcte aquelas pessoas que se tornam conscíentes do conteúdo raso de sua vida quando, chegan- do o domingo e suspendendo-se 0 lrabalho diário, se interrompe a atívidade da semana e se revela 0 vazio existenciaL Em geraL a frustração existencial não é evidenle, senão 1atente. O vazio exis- tencial pode também permanecer dissimulado, ñcar mascarad0, e conhecemos ' Viklur E FrankL “Wirlschaftskrise und Seelenleben vom Standpunkt des lugcndberatcrs” [Crise económica e Vidd espírilual do ponto de vísta dus jovens]. Sozíalárztliche Rundsthau, março de l933. P. 43416. n A FRb'\TRACÁO EXISTENCIAL diversas máswras por trás das quais se escondc n vazio cxislenciaL Pcnsemos símplesmente na docnça do cmprcsário que. movidu por um fumr ao trahalhm se atira com ímpeto numa atívídadc insana dc modo quc a vomade dc podcr - para nào utilizar uma expressão cxtremamcnle primitiva c banalz a “vontade de dinheiro" - reprime a vontade dc scntido! No entanto. assim como os cmpwsários tém semprc 0 que tàlwn e com isso pou- co tempo alé pam respirar ou para descubrir u si mcsnws, Suas cspmwy pnr sun ch têm muito pouco o quc fuer c, cnnsequcntcmente, muito te1np0; não sabcm fauwr uso de tantas horas vagas e, por consegu¡'ntc. muito menos emprecnder algo por inicialivn própria. Terminmn então por .-mcstcsiar 0 própriu vuzio imcrior rccorrcndo à bcbicLL à bisbilhotice c ao jogo... Todas csws pcssoas cnmntmm-sc numa fuga de si mcsmas au entregar-se a uma forma de conñguruçào dc seu tcmpo livre, que chamo dc centrífubai c à qual gostaria de opor uma oumL que lcnde a d.'U' ao homem não só uma uportunidndc de d1'spcrsão, mas também dc rccolhímento intcrion Devemos salientar que existe ígualmente o horror vacui - o mcdo dn vazio ~ que acontece não apenas no domínio físicm mas também no domíniu psicológícu Na tentativa de dominar o vazio cxistcnciul com o burulhu dos molorcs c a un- briaguez da velocidade, observo o dinâmico psíquico vis a tcrgo do rápido e crcs- cente aumento da motorizaçã(›. Considcro 0 ritmn acclcrado da vida dc hojc cumo uma vã tentativa de automcdic.1'ç.1"o da fruslraçân cxistcnciah p0ís. quanto menos conhece 0 homem a ñnalidade de sua vida, muis clc ucelera o ritmo com o qual a segue. Nesse sentido, 0 artisla de cabaré vienense Helmul Qualtingcn cm uma can- çã0, parodia um afetado sclvagcm da mowcicletnz “Eu não tenho a míníma nuçào de aonde vou, mas pra lá vou a toda velocidaddí Uma tal ambiçào pode. algumas vezes, também lançar màu dc objclivos elevados. Conheço um pacícnle, como nunca imaginura encuntmn quc é a repre~ sentação típica de um caso de “doença de emprcsáridí Mal sc exuminava o ho- mem, logo se percebia que era um tipo dc sujeiloque trabulha até sc matan Pude então constmar por quc se atirava com lal ímpcto uo trabalho, e a ponm dc um esgotamento: era, é verdade, muito rx'co, tinha alé mesmo um aviào particulnn No entanto, confessou que todo o seu sacrifício consíst1'.-1 cm um dia poder tornar-se proprietário de um jatinho. em vcz daquele aviãwvxínho urdinária 7l 72 O SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SPM SENTIDO Preocupar~sc com algo assim como 0 sentído da exísténcia humanav igual- mcntc duvidar dcste ou até desespcrar~se perame a pretensa falta de sentido da cxisténcia humanzL não é de modo algum um eslado doenlio, um fenómcno pa~ lolúgictL e devemos acautclar-nos. precisameme no quadro clim'co, comra scme- lhante concepçãq que poderiamos qualiñcar de patologismu Pois é justamenlc a prcocupação com 0 sentido dc sua existência aquilo que distingue o homem cnquanto lnl - é impossível imaginar um só tipo de animal afetado por seme- lhante inquietação -, c não podcmos reduzir estc humano ~ mais do que isso, pri- mordialmenle esle mais humano do homem ~ a um simples demasiado human0, classiñcamio-o. por exemplo. de fraqueza, de docnça, de sinloma. de complexo. Também acomeceu o contrárioz conhecí o caso concreto de um pacíente - cra pmtelssor univcrsitário - que foi encamínhado à minha clínica porque se sentia desesperado frente ao problema do senlido da exjsténcia. Durante a conversa foi possível constatar que se tratava, na rea11'dade, de um estado depressivo end0'geno. e não de um estado psicogénico ou ncur0'tíc0, mas sim de um estado somawgêni- co. ou seja. psico'tico. Evidenciou-se entâo que suas divagaçóes sobre o sentido de sua vida não 0 acometiam ~ como se poderia supor - nos períodos de fases depres~ sivas. Pelo contrár1'o, nesses momentos se sentia tão assaltado pela hipocondria que nem sequer conseguia pensar n1'sso. Era somente nos inlervalos, nos quais se semía bem, que aquelas divagações lhe sobrevínham! Em outras palavras, entre a necessídade espiritual dc um ludo c a doença psiquica de outro, tinha-se chegado, ncsse caso concret0, a uma relação dc exclusão. A frustração existencial - ou como podemos chamá-la: a tr'ustração da vou- tade de sentido - não é, portamo, nada patológico, sobretudo pela necessidade de sentido em si mesma. O anseío humano a uma existência plena (até o limite do possíveD de sentido é tão pouco patológica em si mesmo que pode - e deve - ser mobililado tcrapeuticamente. Conseguir ísso é um dos objetivos mais nobres da logolerapia - enquanto oríentada ao logos -, o que, em uma relação concreta, sig- níñcaz um tratamento orientado para o sentido (e reorientadur do pacicntc!)4 Em determinadas círcunstâncias não se trata apenas de mobílizar a vontade de scntí› do, mas também de despertá-la ali onde se encontra soterrada, onde permanece inconsciente, onde se encontra reprímida. 7 0 sentido do sofrimento O médico, no dcsempcnho dc scu ofício. lcm dc lidar continuumcntc com pessoas que sofrcm e, entres estals, as que sofrcm de docnçus incurávci5. Sàu pcs« soas, no enlant0, quc se deparam (e assim também ucontcce ao médicn) com a questão de se a vida, à vista dcsse sofrimcntu que nào sc pudc altcrar - mais .-1índa, que se transformou em algo inevitávcl -. nãu pcrdcm cmnplctumcmc 0 senlidn O médico é confrontado não somente com a tarcfa dc tornar 0 pacicnte uptu ao trabalho e dc restaurar-lhe o bcm-cstar, como scmprc alribucm à p1'oñs›ão, mals também com um último devcrz ajudá-lo a conquistar a capacidndc de suportar o próprio sofrimenta A capacidade de suportur o próprio sofrimcma contudo. não ó nada mais do que a capacidade de realizar o quc chamo dc valores dc au'ludc. Dc fnm não é só o criar (relatív0 à capacidade dc trabalho) quc pnde dar senlído à ctdsléncía - ta'lo nesse caso da realizaçâo dc valores criativos -, ncm somcnte a cxpcriôncim o encontro e o amor (relativo à capacídade de desfrutar du vida) - tlllo de valures vivenciais que podcm fazer com que a vida tenhu scntido -; mas também u sofri- mento. Não se trata aqui só de uma posxcibilidadc qualquen senão da possílülidade de realizar 0 valor supremo, da oporlunidadc de realizar o mais allo valon da oca~ sião de fazer cumprir o sentido mais profundo. Mas o que 1'ntercssa, do ponto dc vista médico, ou, melhor d1'zcndo, do pomo de vista do doente. é a atitude com que o indivíduo cnfrcnta a docnça, a 74 0 SÚFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO disposiçâo com que lida contra essa doença. Em uma palavraz o que imeressa é a atitude adequada, o sofrimento sinccro de um destino auténtico. O modo de suportar o sofrimento neccssário encerra um pnssivel sentido. É o que nos faz re- cordar aquele poema de Iulius Sturm, que Hugo Wolftão bem musicouz Naite após Iwitc vêm a alegria c a d0r. E untcs que se perccbu aband0nun1-nus as duas E vãn conlara Dcus Como as suportamos ao dizer-Ihcs adeus. Porque assim é, efetivamentez o que importa é como se suporta o destíno logo que nos escapa das mãos. Em outras palavrasz quando não é mais possível moldar 0 destino. então se faz necessário ír ao encontrp desle destino com a atitude certa. Fica clam agora com que direito Goelhe póde añrmar: “Nã0 existe nenhu- ma siluação que não possa ser enobrecida seja agínd0, seja aceitanddÍ SÓ que po- demus completá-lo: a aceitação, ao menos no sentido de que csta nos faz suportar um s.'ofr1'mento de forma correta e leal a um destíno autêmico, é por si mesma uma ação - maís do que isso, a maís elevada ação c a mais elevada realí'/,aça'o permiti~ da a um h0mem. E compreendemos igualmente as palavras de Hermann Cohen: “A“ suprema dignidade do homem é o sofrimentdÍ Tentemos agora responder à seguinte perguntaz por que o sentido que 0 ho- mem pode encontrar no sofrimento é o mais elevado de quantos podemos conce- ber? Bem, os valores de atítude m03tram~se aqui mais excelentes do que os valores de criação e de vívêncía, enquanto o sentído do sofrímento é superior, dimensio- nalmente, ao sentido do trabalho e ao sentido do amor. E por que é ass¡m? Parta- mos da ideia de que 0 Homo sapiens se articula no Homofaber, que cumprc seu semido existencial ao criar; no Homo amans, que enriquece o sentido de sua vída ao experimenlar, ao encontral o outro e ao amar, e no Homo patiens, 0 homem que sofre e rende serviço ao sofrimenta O Homojàber é aquele que podemos com razão chamar de um homem de éx1't0; conhece somente duas categorias, e só nelas pensaz 0 sucesso e 0 fracassa Sua vída agita-se então entre esses dois extremos, na linha de uma ética do êxito, ao contrário do Homo patíensz as categorias deste não são o sucesso 0u 0 fracassa mas a realização c o desespem “ (› \I-N I Ilm hu sol RIMI NYU Com esse par de calegorias, contudo. o Homo puliens colnca~sc vcrlicalmemc na linha da ética do êxim, uma vez que a realimçào c o duscspem pcrlcnccm a uma outra dimensào. Dessa dikrença dimensinnal rcsulla uma superioridadc igualmcn- te dimensionaL porque 0 Homo paticns podc realiln'r-5c. ainda. nu mais agudo in~ sucesso ou fr.1-casso. A expcriôncia então mostra que a realização e o insuccsso sáo perfeitamente compall'vci.s", não dilbrcnlc llO éxito em rclaçào ao descspem Mas isso não deve ser comprecndido apenus a purtir da diíbrcnça dimcnsional dos duis pares de categorias. Sem diwidaz sc pmjctá.sscmos o lriunfo do lwmo puücns. seu cumprimento de sentído e sun autorrca1izaç.1"o no sofrinlenlo. na linha da ética do êxito, ler-se-ia então de represcnlá~lo puntualmcntc sobrc a busc da dilbrença d1'- mensionaL quer dizer, semelhante a um nad¡1,a um absurdo 1'mponc¡1te. L"m outras palavrasz aos olhos do Homojàbcr o triunfo do Homo paticns é loucura e cscândala Rcal imção Êxito+Frncasso Dcscspcm Em tudo isso, ñca~nos claro quc a possibilidndc dc rcalimr valorcscrinlivos. ou seja, de lomarmos as rédeas du deslinu por mcio dc umu uçào corrcla. assegu- ra a primazia sobrc a nccessidadc de accitar 0 dcslinn com u miludc correla. ou seja, de realizar os valores dc at1'tudc. Iãm sumaz mesmo quando a possibilidade dc sentido que sc encerra no sofrimenlo c'. scgundo uma cscala dc vulorcs. supcrior à possibilidade de sentiducn'.'1d0r,qucr di7.er, por mais que a primnzia corrcspom da ao sentido do sofr1'ment0, a prioridade recai sobre 0 sentido criudor: dc íhta aceitar um sofrimento que vem neccssariamentc murcudo pclo dcsn'no, um sofri- mento desnecessár1'0, não scria nenhum scrviço, scnão atrevimento. O sofrimcnto desnecessário é - para usarmos uma exprcssào de Max Brod - uma desgraçn “or- dínária” e não uma "nobre" infe11'cidade. Como se rctletem então essus relaçócs no quadro da prática médicaf ch, o que aqui foi dilo equivaleria a añrman por cxempkn quc um carcinumn passível ".'\ lb 0 SOFRIMENTO DE UMA \'IDA SFM SE\.'Tll)() de uma intervcnção cirúrgica não é uma doença cujo sofrimento lenha sentido. Pclo contr;1'rí0, lratar-se-ia de um sofrimento inúliL O adoentado leria que recor- rer à coragem de submeter~se à 0pcração. enquanto aquele quc se defroma cego de fúría com um carcínoma incurável a ser operado deveria recorrcr à humll'dade. E tampouco são as dores, em geraL um sofrimento supe'rf1u0, uma necessidade irremediável do dcstinu. De fato, é scmprc possível dentm dc limites mais amplos atenuá-las. A renúncia hcroica à narcose ou à anestesia locaL ou também, no caso de uma doença impossível de operar, a renúncia a um medicamento sedativo, não é para qualquer um, ainda que estivessc ao alcance de Sigmund Freud. Ele se permitiu renunciar, de modo heroico e até o ñm, a lodo tipo de analgésicos - literalmente "pcrmitiu-se” renunciar (como é sábio o idioma!). No entanto. não é a qualquer um que se pode exigir tal renúncia. Náo cumpro nenhuma renúncia válida, se renuncio por capr1'cho, a tudo aquilo que poderia .'mes.'tesiar a dor. O médico tcm frequememente oportunidade de observar como um pa- cientc faz uma mudança de rumoz passando da possibilidade de dar um sentido a própria vida com a atividade - po.s*sibilidade que está em primeiro plano na consciência habituaL na exísléncia quolidiana - à necessidade de realizar 0 sen~ tido da própria cxisténcia através do sofrinmnto. a aceitação de um dcslino dolo~ roso. Dispomos aqui de um caso concreto quc nos permite mostrar como não só a renúncia ao trabalho e à possibilidade de sentido nele existente mas também a renúncía ao amor pode levar o ser humano a perceber que esse empobrecimento também nas possibilidadcs de sentido imposlo pelo destino traz em si ainda possibílídades mais altas de sentídoz Recorreu a mim um médíco idoso. que. por muito tempo. exercem as fun› çócs de clínico geraL Um ano ames falecera sua esposa, a pcssoa que amava mais do que tud0. e não conseguia, no entant0, afastar a dor da perda. Perguntei a esse meu paciente, fortemente deprímíd0, se já havia refletido sobre o quc poderia ter acomecido se tivesse falecido antes da esposa. "Nem pensar',' respondeu. "minha mulher teria ñcado totaJmente desesperada'.' Só precisei então chamar-lhc a aten- çãoz "Veja 0 senhor, tudo isso acabou por poupar a sua esposa, ainda que ao preço, sem du'vida, de que seja o senhor quem deve agora suportar a saudadeÊ Seu sofrí- mento adquiriu um semído naquele mesmo instantez o sentido de um sacrifício. ' u xl NTIDU Dn SOPRIMENTo Não podín ncm um pouco mudur o dcslinm mns tinha mudadn dc ntiludc! 0 dcs~ tino lhc linha retirado a possibilidadc dc cumprir um scnndo alravés du nmon Mas lhe reservara a possibilidade dc adolar, dianle dcssc dcsnna a atiludc adc~quada. Ou poderia citm a carla quc mc cscrevcrmn os prcsidiários da pcnilenciária da Flóridaz “Enc0mrei 0 scntido de minha vida .'lg(›m. aqui na prisào. c só lenho de esperar algum tcmpo até ter a oportunidadc dc rcpurar tudo n quc ñL c de fazcr tudo melhorÍ O 11L'1n1er00-19246 c.s'creveu›me: “Aqui, na prisãa não faltam oportu~ nidades de se fazer alguma coisa e dc se crcscer além dc si mcsmo. Tenho dc dizcr que de algum modo sou mais feliz como nuncu fui'.' IE u númcro 552›022 escrcvcuz Prezado duulor! Nos últimus mcws um grupo dc prc.~.(›s \'cm lcndo scus livros e tem esculado suas gravaço'cs. Quc verdaldc csl.1: quc sc possa lnm~ bém cnconlrar no sofrimcntn um .scmido... De ulguma muncira posso dizcr que a minhn vida comcçou agurn ~ quc scnlimcntu cspléndidnl É cnlcrnc~ cedor vcr comu mcus irmàos, cm n0.sso grup(›. cnchcm ns olhos dc lágrimas ao pcrceber quc sua vida, aqui c agnrm ganhou um scmídn quc anlcs c0n~ sidcravam impossích 0 quc aconlccc aqui chcga a scr quasc um milagru Homens quc ames sc scntiam dcaamparados c dcscqwrados vccm agora um novo semido em suas vidas. AquL ncsta prisãm govcrnada pchs nmis rígidas mcdidas de segurança de loda Flúridu - aqui, a somcnlc um ccm mctms da cadeira clétrica -, prccisnmente aqui us nossus sonhos turnamm-sc vcrdu~ dciros. Estamos à véspcm dc Nulak nms, pma nós. a logotcrapin .s'ignih1*n a PáscmL Sobre 0 Gólgmu dc Auschwitz lcvunla-sc. ncsta nmnhà dc Páscuau U soL Que novo dia se aproxima de nós! 1 8 Pastoral me'dica Podemos qualíñcar aquclcs casos untcs citados como uma pastoml médica. uma pastoral com que se confronta o médico dialrmmentc em suas consulta~›, c quc represema um dever legítimo no âmbito das atividades médicas. "Pasloml médica" é 0 objeto do proñssional que tem de lidar com doenças incura~'vc¡'s, do genatra quc sc dedíca aos idosos enfermos. do dermatologism quc sc ocupa dc pcssoas desñgum- das. do ortopedisla que cuida de pessoas com deformidndcs locomotoras ou até do cirurgião, obrigado muitas vezes a mulilar um pacicnte pur causa dc uma intervem ção cirúrgica. Enñm, todos aqucles que trubalham com pacicntcs quc se encommm diame de um destino que não se pode allcrar ou que é, talveL ineviláveL L~' nessas situaçóes, naquelas que não se pode mais~ curar e ncm sequer mitigan resta-nos so- mente o recurso ao consolo. Que isso vem a propósito du ofício médico pode ser testemunhado pela inscrição que ostema a entrada pn'ncipal do Hnspital Gernl de Viena, e com a qual o impcrador Iosé ll dcdicou ao público cssa instituiçáo hospitn~ lar: saluti et solatio aegrorum - não apenas curar, mas mmbém consolar os cnfcrnms. Encontramos também uma indicação semelhanle na disposição regulamentar da American Medical Associationz “O médico deve igualmente conforlar u alma. lsto não é de modo algum uma tarcfa só do psiquiatraL É, muito 51'mp1esmenle. tarctà de todo médico que pratique a sua proñssão'.' Ev1'dentemente. é possível ser médico sem se preocupar com i550; mas aqui valc entào 0 que dixs;e. num comexto ana'log0, Paul Dubois: a única coisa, a saber, que os dite'rencia de um veterinário. é a clicnlela. BD 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM S|<N rlDO É. portanto, uma situação forçosa que pede ao médico 0 exercício da pas- toral médicaz "Sã0 os pacicntes que nos colocam díanle do dever de assumir tam~ bém a missão da pasloral médica" (Gustav Bally). Trata~se aqui de um papel para o qual 0 médícn se vé impelido (Karl Jaspers, Alphons Maeder, W. Sculte. G. R. Heyer e H. I. Weílbrccln, entre outrus). “A psicoterapia [...] é inev1'tavelmente, ain- da que 0 clínicu não saiba, ou nem queira saber, a pastoral médica [...] Frequen- temente precisa exerccr de modo expresso [...] os cuidados próprios da pastoral médiccfÍl A pastoml médica não é. evidememente, nenhum substituto da autên- tica pastoraL que é e sempre será a pastoral sacerdotaL Contudo, a añrmação de Victor E. Gebsattel de que o “éx0do da humanidade ocidental do sacerdote para o neurolog1'sta" termina por nos prover do falode que 0 sacerdote não pode mais fechar-se em si mesmo e de uma exigéncia, a saber, a de que o neurologista não pode recusar sua colaburaçãa Em uma ópoca como a nossa - uma era de ampla disseminação da frustra- ção existencial -, nesta época de tanlas pessoas desesperadas, porque desesperam do sentido de sua vida, e maisz daquelas que se revelam inaptas a suportar o sofri- mento e, na mesma medida, exageram c divinizam o valor e a capacidade do traba- lho ou do gozo e do prazen ncsta época. añrn1o, tudo isso adquire uma atualidade singular. Naturalmente, também em épocas anleriorcs existiu algo assim como a frustração existenciah mas as pessoas que dela padeciam procuravam 0 sacerdo¡e, e não o médíco. Não podemos, conlud0. esquecer-nos de que, embora a fruslração existen- cial não represente em sí um dado patológico, é bem provável que se torne pato~ gênica e conduza, part1'cularmente, a uma neurose. Ou seja, a frustração não é obrigatoriamente, mas sim facultat1'vamente, de tipo patogénicaz cla pode levar a uma neurosc, mas não necessariamente, e, ao contrárí0, uma neurose pode estear- -se numa frustração existenciaL na dúvida ou no desespero quanto ao semido c0n- creto e pessoal de uma existência, mas não é seu csteio necessa'rio. Agora, se em um caso concreto a frustração existencíal facultativamente pa- togênica se torna uma ou outra vez de fato patogên1'ca, quer dizer, conduz a uma ' A. Go"rrcs. Iahrburhfür Psychologie uml Psyrhotcrapt'c, n. 6, l958. p. 200. l PASÍORAI NEDICA doença neurótic.-1.cntãoatais neurmcs dcnomino ncumses noogénicas Quc ñque bem evidentez nem loda frustmçâo cxístcncial sc lorna palogênl'ca. e ncm lodn doença neurótica é noogén1'ca. Chegando a este ponto dc nossas considemço'cs,, dcpnmmommj - ao lado du já discutido perigo do patologismo - com oulro pcrignz o perigo do noologisma Quer dizer, incorreria no crro do patologismo quem prelcndexsc aflrmm que todn desespcro leva à neur05e. E. ao contrário. incurrcria no crro do noologismo quem añrma que toda neurosc esteia~sc no dcscspcro. Não podcmos ignorar o cspimuah mas também não podemos exagemr 0 valor do cspirituaL Vcr nn cspiritual a u'nica causa das doenças neuróticas é 0 mcsmo quc prcsmr homcnagem ao noologismu As neuroses não se enmímm apenas nas camndas do cspírilo. mas também nns camadns p51'c0físicas. Sim, não hesito em añrmar quc as ncurosesx no sentidu cslrito da pala- vra, podem ser deñnidas nào como uma doença n(mgênica, nm›, antcs, psicogén¡ca. E tampouco todas as doenças - quer dizen nào só as psicogôxlica›". scnão lam- bém as somatogênicas - são du tipo nuogénico. como añrma. a saben um noologis- mo que nomeia a si mesmo psicossmnálicm mas que c'. nn rcalidade. noussomálico. A medicina psicossomática ensinaz só lica doentc qucm sc senle docntc ~ mns sc pode demostrar quc, sob determinadas circunstâncias, ticn também doenle uqucle que se sente feliz. De falo, a doença cnrporal não tem de mndo algum nquela impor~ tâncía para a biograña pcssoal e aquele valor de cxpmssão pessoal quc a mcdicina psicossomática lão gencrosamcntc lhe alribui. É vcrdadc quc ism tem, na exi^sténcin humana. cerla importância biográñca e. na 111ed1'da cm quc tem tal imporrância, tem também um valor de expressa'o. Porque, cm última a11;1'lisc. a biogmñu não é outra coisa do que a cxplicaçâo temporal da pessoat na vida que aí dccorra nu cu,'slência que aí se desenrola, desdobra~se a pessoa, dcsenvolvc-se, como um lapelc que só assim revela seu desenho inconfundíveL No entanto, 0 quadro da docnça orgânica nào é retlcxo ñcl da pessoax A me- dicina psicossomática faz suas contas sem considcrar o dono do estabclccimem to - sem o organismo psicoswmálica Enquanto estivermos consciemcs dc quc o homem não pode impor-se no organismo psicofísico enquamo taL 0 quc desejarid enquanto pessoa eapirituaL deveremos guardar~nos - em vista dcssa impotemiu aboedientialis - do equívoco de atribuir loda docnça no corpo a uma falha no HZ U \.()I'l'\ln\1lN.'H) l|l L'\.l \ \ HH H~M Sl N l'l[!() cspírila Abstraímos aqui dos extremismos da noossomál1'ca, como aquele que añr- ma que um cànccr represema não apenas um suicídio inconsc¡'emc, senào, direta~ mentc, uma execuçào inconsciente da pena capital por algum complexo de culpa. Aindu que o homem seja um ser essencialmente espirituaL não deixa de ser uma criatura ñnita; essa limilação reílete a condição do ser humano, que é só facultativamcme incondicionad0, mas quc, de falo, permanece condicionado. Por conscgu1'nte, a pcssoa espiritual não pode impor-se incondícionalmente - atra~ Vés das camadas psicoñsicas, Nem sempre é perceptível a pessoa espiritual através dessas camadas, nem tampouco operantc. É certo que o organismo psícofísico é o conjumo dos órgãos, dos 1'nstrumenlos, ou seja, dos meios para um ñm; mas esse mcio é inleiramentc sombrio em rclaçâo à sua função exprcssiva e inteíramente indoleme em relação à sua função inslrumentaL É verdade que toda docnçn tem um “selnlid0"; mas 0 semido real de uma doença não está ali onde 0 procura a ínvcstigação psicossomátíca - não no “que" do eslar doente, antes no “como" do sofrimento; e assin1, p0is, é um sentido que já deve estar dado na docnça, e isso acomece sempre que o homcm sofrido, o Homopatiens, cumpre no sofrimemo autênlico, e marcado por um deslino autênt1'co, 0 sentido possível de um sofrimemo neccssar'io e inevítáveL Mas não cabe ao médíco designar esse sentido mediaute inrerpretações psicossomáticasz A esse respe1'to. é evidente que o “que” do estar doente também possui um sentido. Trat.'1-se, todavia, de um suprassenñdo, isto é, de algo que ultrapassa todo o senlido de comprecvnsão humana. É algo que se encontra além dos límites de toda temática psicoterapêutica legítÍma. A ultrapassagem desses limiles, a ten- tativa persistente de tbrjar uma patodiceía ou, até mesm0, uma teodiceia, leva 0 médíco ao fracassa No mínimo, levá-lo-a' a um embaraço semelhame ao daquele homem que, indagado pelo ñlho até que ponto Deus é amor, respondeu-lhe com um exemplo: “Bem, foi Ele qucm te curou do sarampdÍ Ao que o ñlho replicouz “Sim, mas primeiro me envíou o sarampdÍ Assim, o médico deve conhecer não só a vontade de sentido, senão 0 sentido do sofr1'memo, e, nesta época de dúvida quanto ao sentido, é maís do que nunca necessário que ele tenha consciéncia - e torne o pacíente consciente - de que a vida do homcm, também a do homem que sofre, seja sempre carregada de sentido. -< l'\'~›4m\1 \II||1( k Em vcz de íllzcr uqui considerawócss lcóricaxm gosmria muilo mnis dc rcporlabmc a expcriéncius prátiwsg purlicularmcmc a cxpcriências concrclas e rcaisz umJ di.1. tapei com uma scssào de tcrapiu de grupo organilñada por mcu ass¡'slcntc. 0 Dr. K. Kucourek O grupo discutia 0 caw dc uma mulhcr quc acnbara dc pcrdcr o ñlhn de onze anos, vitímado pnr uma '.\pcndícilc agudm rcst:mdn-Ihc um ñlho dc vinlc anos, que sofria dc parulisía ccrchral c prccisuva nwvcmc numa cadeira de rnd;¡s. A mãe havia tcntado 0 suicídiu Lx pnr comcgun'nle. fum conduzida c imernuda cm minha clínich Inscri›me na discussñu do C¡1S0, escolhcndo do grupo uma jovcm a quem dc improvíso pedi que se imaginassc aos oitcnln anos. próxima da n10ne. c que lançasse um olhar retrospcclivo sobrc a própria vida. uma vida cheia de pres~ tígio sucial c succsso amor0$0, mas também nada maús du que issuz O quc dirias u ti mcsmu? 'l'ivc ludu dc hom na vidu. fui ríuL n1imada. dci› xei os homcns loucos dc p.-u'xào, cnquanln llcrmva cmn clcsn c n.|'(›.1h.1ndom-i nenhuma tbrma dc prazcn Mas agum csluu vclhm nàu livc íilhus c lcuho dc admitir quc, rigorosnmcntc tMauIdm minha vida lbi um fracassm viatu quc não posso lcvnr nnda comigu ao túmula Pam que cstivc nn mundo? Convidei emão a mãe do dcñcíemc físico a COIOCJFSCna mesma situação e que nos dissesse 0 que pensava: Eu scmprc descjei ter ñlh()s, c cstc meu Llescjn rcdl'il.'ou›se. O mais jn- vem fuleceu. c ñquei sozinhu com o mais vcllm Sc nâu fosse cu. o quc lhc leria acontccido... provávcl que tivcssc xido lcvudu a uma ínsliluíçào pam deñcicntes mcnmis; mus cra cu qucm csmva ali c pudc ajudáJo n faurwsc homan Minhu vidu nãn foi umjrAucusm É posmívcl quc tivcssc sidu diliuL havia muims larcfus pura cumprir, mus conscgui .s'upcr¡í-I.Ls c tornar a minhu vida plcna dc scnlida Agora posso morrcr cm paz. Somcmc emrc soluços cla conscguíu prolbrir cssas pulavras. Pudcram delas então tirar os outros pacientcs a lição de quc 0 que impurlu nào é tumo que a vida de um ser humano seja do|0rosa ou pruzcrom mas que scja carrcgada dc scntidu n 1A <.<.<s_-mvm w“' .4..x WJ'O_P§WW y ~., 9 Logoterapia e religião1 Para a logoterapia, a religião pode scr um objeto « não umu posiç.1-'o. A rcli- gião é um fenómeno do homan do p.1'cicnlc, um fcnômcno cntrc oulms fen(›1ne- nos que cnconlra a logoterapia. Nu cmanm pura a lugmcrup¡'u, tunlo a c.\1“slc'ncia religiosa como a irreligiosa são, cm pr¡ncípí(›, fcnômcnos c0c.\'islcnlcs. Em oulras palavras, a logotcrapia devc assumir pcruntc clcs uma aliludc ncutnL A logolcrapia é uma orienlação da p's.ic0terapia. e csta podc scr cxcrcida - ao menns scgundo a legislação médica austríaca - pur aquelcs quc sãn méd1'cus. P(›rlanto, c nàn por 0u- tro motivo, o logotcrapcula, uma vclx quc tcnha presmdu o juramemu lu'pocr.1"lic0. deve cuidar para que seu método c técnica (Iog<›lcrapéuticos) scjam aplicudus a to- dos os doentes, crentes ou dcscrentes; c também pnm quc ns técnicm logolcrupéw ticas scjam aplicadas por qualquer médico1'ndcpcndeutemcntc dc sua cu.s'movnsãn. Dcpois desse nosso esclarecimento acerca da posição da lngotempia no âm~ bito da medic1na, voltemo-nos agora à sua dclimitaçño diamc du tcu10g¡a, u quaL a mcu ver, se podc esboçar do seguime n10do: 0 objclivo da p.s'icolcrap1'u é a cura psíquica ~ 0 objelivn da religião, contudo, é a salvação du almzL lssu não quer dizcn naluralmenle, que os objetivos da psicoterapia e da religião se cnconlram no mes~ mo plano. A dimensão na qual se ínsere o homem rcligioso é muis clcvadm qucro * Confcréncia pmferida em l964. organizada pcla Sociedadc “Medicina e Paslornl" de StuugurL n(› Colóquio de Elmauen MI 0 SOFRIMENTO Dh UMA VlDA SIÉM ShNTIDU dizer, mais abrangenle do que a dimensâo na qual sc move a psicotcrap1'a. PorénL esse avunço numa dimensão clevada não se dá no conhecimemo, mas na fé. Se pretendcmos agora determinar a relação da dimensão humana com a di- vina. ou seja, com n dimensão supra-humana, devemos entâo recorrer a um símbo~ lo da proporção áurea. Como se sabe, essa proporção matemática preconiza a ideia de que a parte menor sc rclaciona com a parte maior assím como a parte maior com o todo. Como também se sabe. 0 animal vive no ambícnte da própria espécie, enquanto 0 homem “tem o mundo" (Max Scheler); mas o mundo humano se rela- ciona com o mundo sobrenaturaL assim como o mundo animal se relaciona com 0 mundo human(›. O que quer dizerz do mesmo modo que o animal nâo é capaz de entcnder, a partir de seu amb1'entc, o homcm c o seu mundo, tampouco é possível 0 homem lançar um olhar no mundo superior. Tomemos o exemplo de um macaco em que sc aplicam injeçóes dolorosas com o íntuíto de obter um soro capalz de curar numemsas doenças. O macaco pode compreendcr por que tem de sofrer? A partir do seu ambiente ele é incapaz de com- preender as intençócs do homem empregadas em scus cxpcr1'n¡entos, uma vez que o mundo humano lhe é ínacessích Ele não alcança esse mundo, nâo consegue penetrar em sua dímensão; não podemos entào supor que 0 mundo humano é também, por seu tum0, superado por outro mund0. que, por sua ve/.', não é acessível ao homem, um mundo cujo sentido, cujo suprassentid0, é o único capaz de dar semido à sua dor? No entant0, o passo executado pcla te" na dimensão supra-humana funda- menta~se através do amor. Em princípio, isso é uma realidade bem conhecida. Menos conhecido, contud0, é 0 fato de que para essa realidade existe uma pré- -formação infra-humana. Quem já não viu um caclwrro que, conduzido ao vete~ rinário e submetido a um tratamento doloroso em seu benef1'cio, clevou 05 olhos cheios de conñança para o d0no? Sem poder "saber” qual sentido deve ter sua d0r, o animal “acrcdita),) enquanto conña em seu d0no, ele cré exatamente porque 0 ama - sit venia anthropomorphismo. No que diz respeilo ao "passo para a dimensão supra-humana'l não podemos forçar o homem, muito menos pela psicoterapia. Sentimo-nos já satisfeitos de não encontrar a porta do supra-humano bloqueada pelo reducionísmo seguido por uma psicanálise mal compreendida e vulgarmeme m'terpretada, e logo apresentada aos 'l IUGOTTRAPIA F RHIGHO pacientes. Senlimo~nos iguulmcntc satisfel'ms dc quc não se aprescntc Dcus cnmo um “nada mais que" uma ímagem~de-Pai e a religiãn como um "nada mnis quc" uma neurose da humamidadtx nem de quc os rcb3ixc. assinL aos olhos do pacicntc. Ainda que a rclig1'.1'-o, como dito antcriormente, não scja para a lngolcrapia mais do que um objcto, ela. contudo, Ihc ó muíto cara. c pur uma razão muito sím› plcsz no contcxto du logotcrap1'a. logos signiñcn cspírito c, além disso, scnlida Por espírito entendemos a dimensão dos íbnómcnos cspcciücanlcmc humanos. e. em contraposíção ao reducionismm a logotcrapía sc rccusn a reduzi<los a lbnómcnos sub-humanos ou a dcduzi-los destcsx Na dimensão especificamcntc luumma lmvcriamos dc luculiznn cntrc oulros. os fenómcnos da aututranscendéncia dn exislência cm direçãu ao l0- gos. Com efeito, a estlência humana aponta scmprc pnra além dc si mcsnm', aponta sempre para um sent1'do. Ncsse aspcclm a cxisléncia não é para o ho- mem um empenho pelo prazer ou pelo podcn nem tampoucu pclu aulorrcali- zaçã0, mas antes pclo cumprimcmu dc um scntída Na logotcrapia lhlamos dc uma vontade de sentid0. Uma vez que podemos detinir 0 homem como um scr responsách 0 ho- mem é responsável pelo cumprimento de um scmid0. Contudo, em vez de ta'zcr- mos a pergunta do “para que" na psicotcrapi.'1, é preciso colocar-se c deixar em abcrto a pergunta do “dianle dc que" dc nosso scr«rcspL111s."d'\“Ll. prcciso deixar ao pacienle a decisão de cumo imerpretar o seu scr-rcsponsávch como ser~respon- sável diante da soc1'edade, diamc da humanidadu diantc da wnsciéncia ou diante não de algo, mas díante dc alguém, diante do divino. Poderia levanlar-se a objeção de que não sc deve dcixar ahcrtu cssu pergunta do “diantc de que" do scr-re.s*ponsávcl d(› paci011t0. Scnãu quc u rcspostu seja dadu já há muim tempo sob a forma de revclaçã0; a prova. purénL claudicn. Cmn eíc"i- tu, essa aponta para uma petitio principiL uma vcz que 0 fmo dc quc reconheço a revelação enquanto tal prcssupóc sempre uma decisão dc te". Não thria o mínimo efeit0, portanto, sc diante de um incrédulu se aludissc ao 111to de que cxisle uma rc› velação; porquc se o paciente a aceitassc como mL 10rnur~se~ia enlão um crc'dulo. A psicoterapia deve mover-se, portanlo, aquém da fé nn rcvelaçãu, e a per~ guma do sentído deve dar uma resposla aquém da linha que sepura de um lado a HB _.:.~:z=z-.w_. -›: 0 SUILRIÀÍPNJTU l)]- l \.1.\ \'H)z\ SLM M \.H|)() concepção tcísta de mundo e, de 0utro, a concepção ateísta. Mas se essa pergunta compreendc o fenômeno da fé não como uma te" em Deus, senão como a íe" num sentido mais amplo, cnlão é perfeitamente legítimo debruçar~se sobre o fenôme- no da fé e ocupar-se dele. E isso casa perfeítameme com a añrmação de Albert Einstcin, que disse, certa vez, que um homem que encontra uma resposta à ques~ tào do sentido da vida é um homemreligiosa A fé do homem no sentido é, em termos kantianos, uma categoria trans- cendentnL Do mesmo modo que, como sabemos desde Kant. é um contrassenso perguntarmo~nos por categorías como espaço e tempo, pclo simples fato de que não podcmos pensar e, portanto, não podemos perguntar sem pressupor de antemão 0 espaço e o temp0. do mesmo modo o ser humano é, de ante- mão, um ser voltado para o sentido, meshlo que ainda não o conheçaz existe. de qualqucr modo, algo assim como um conhecimento prévio do sentid0. Um pressentimenlo assim do sentido serve de base ao que na logoterapia designa- mos "vontade de sentiddÍ Quer ele o queíra ou nã0. quer ele o admita ou não, o homem crê num sentido até seu derradeiro suspir0. O suicida também crê num semído, aínda que não de vida, de continuação da vída, mas ao menos no sentido da morte. Se não acreditasse realmente cm nenhum sentid0, não teria tbrças sequer para mover um dedo e, portanlo, cometer 0 suicídi0. Vi morrer ateus convictos que durante Ioda a vida se horrorizavam com a crença em “um ente superíor” ou em algo semelhante, em uma acepção dimensio- nal do Sentido elevado da vida. No entanto, no leito de morte, tíveram algo que não foram capuzes dc viver ao longo de décadasz testemunharam uma segurança não só contrária à sua concepção de mundo, mas que também não se pode intclectualizar e racionalízar. De projímdis irrompe alg0, impõe algo, aflora uma confiançu ílimitada que não se sabe 0 que ou contra 0 que se manífesta, nem tam- pouco em que ou quem conña, mas que resisle ao conhecímento do infauslo prog~ nósticu Quem bate nessa mesma tecla é Walter von Baeyer, quando escrevez Detemo~nos nos pcnsamcntos e observaçóes pronunciados por Plu"gge. No emanto. em tcrmos objeliv05, já não existe mais nenhuma esperança. O doente que conserva plenamente sua Iucidez deve ler percebido há muito 'J l(\(¡0HR^l'lA E RHJGÍAO que já não há mais esperança de vivcn Em qué7. A csperançn dcsses docnlcs. que num primciro nwmento sc vulta à cura físic.1, cscondcndo assim no fundo um contcúdo signiñcaüvo dc carálcr lransccndcme. prccisa nncorar- -sc nn sua hulmnidudc. quc nunca pudc dcimr dc scr uma cspcrança numa consunmção futum na qunl o homcm cunvcnicmemcnlc c nntumlmcme acrcdim, ainda que não ñxadu em um dognuL O leitor depamu-se anteriormentc com uma citação dc Albert Einsteim se- gundo a qual 0 homem que encontra uma resposta il qucstão do scntido da vida é um homem religioso. Go.s*tnn'a somcnte dc completar com uma declarnção se- mclhante proferida por Paul Tillich, que nos ofcrcce a scguinte deñnição: "Ser religioso signiñca c010car-se apmlxonadmnente a pcrgunta do semido dc nosa existênciiÍ Ludwig Wittgcnstein utbrecenos u scguintc deñniçãoz “(Ircr cm Dcus signiñca ver que a vida tem um sentido" (Diu'ric›s. l914~ 1916). Em todo cas0, po~ de-sc dizer que a logoterapm - que é scmprc c primordialmeme uma psicotcrapia e que, enquanm taL pcrtcnce ao âmbilo da psiquíatria e da medicina - está legítun'a~ da a ocupar-se não só com a “v0ntade de scnlid0'.' comu a lugotcrapia o dcsigna, mas também com a vontade de um sentido últímo, com um suprassenlida como costumo chama'-lo; e a fé religiosa c'. aíinul de contas, uma te" nessc suprawsemido ~ uma conñança no mlprasscntidu É verdade que a nossu concepção de religião tcm. considerand0-a de ma- neira afetuosa, muito pouco que ver com a estrcitczn conteÃssionaL c sua conse« quéncia, a miopia religiosa, que tende a vcr em Deus um entc que só se intcressa, fundamcnlalmente, por istoz o númcro dc pcssoas que Nele acredile dcve ser 0 maior possích e, a par disso, exammentc como prescreve uma delerminada conñssão. Pessoalmente, não consigo imaginar quc Dcus possa ser lào mesqLu'- nh04 Não consigo igualmente imaginar, como algo sensalq que uma ígreja me exüa que creia. Também não posso qucrcr crer. do mcsmo modo que nào posso obrigar-me a nmar ou, do mesmo modo, obrignr-mc a ler esperança. ainda mais quando sei que isso é inútiL Há coisas que não se dcixam lcvar por um qucrcr ou não querer ~ lumpouco se dcixam produzir por meio de uma c.\'ígéncia ou por meio de uma ordem. Para aprcsentar um simples excmplo2 não posso rir por l9 - ~.-..Aaaa'_.;-.4 ~l.- 1d_~4›~".~\- W . .~ -..»,__A_4 . ._.._._,. 0 snl klMl NlU DL L'\.|›\ \'IDA 51 \.| NJN l'|lN) meío de uma ordem. Se alguém deseja que eu ria, lem emão de se esforçar para me contar uma boa piada. E de maneira análoga acontece com o amor e a fé; amor e fé não sc deixam manípular. Como te'nómenos intencionais que são, só se manífestam quando se dá um conteúdo e um objeto adcquados. Certa ve7,, fui entrevistado por uma repórter da revista americana Time, que me pergunlou se a tendência da época era de afastamento da religiãa Respondi que a tendência não era afastar-se da relig1'ão, mas, sim, daquelas conñssóes quc não tinham outra coisa que thzer senáo lutar entre si e atiçar os ñéis uns contra os oulros. A repórter perguntowmc enlão sc isso qucria dizer que, mais cedo ou mais larde, se chegaria a uma religião unívcrsaL 0 que de pmnto neguei. Muito pelo con- trári(›, disse. Caminhamos, muito mais, cm direção não a uma religião universaL mas a uma religião pessoal - profundamente personalizadm uma religiosidade a partir da qual cada indivíduo encontrará o seu próprio idioma, pessoal e originaL ao se dirigír a Deus. Mas isso nem de longe signiñca que não haverá mais rituais e símbolos co- lctív05. Existe igualmeme uma pluralidade de idiomas e, no entanto, não há para muitos entre eles um alfabeto em comum? De uma forma ou de 0utra, em sua d1'versidade, as religióes sc parecem com os diferentes idiomasz ninguém pode dizer que o seu idioma é superior ao dos demais - em todos os idiomas o homem pode aproximar~se da verdade, da única verdade, e em todos os idiomas pode ele cnganar-se e até memixz E, assim, pode também encontrar, por meio de qualquer religiâ0, a Deus - ao úníco Deus. Resta~nos perguntar se, cm geraL se pode falar de Deus, c não antes com ele. A frase de Ludwíg Wittgensteinz “whereof one cannot spcak, thcreof one must be silent” - sobre aquilo que não se pode falar, deve-se sílenciar - não só podemos traduzir do inglés para o alemão, mas também do agnosticismo para o teísmoz do que não se pode falar, a este se deve rezar. Hoje em dia os paciemes dirigem-se ao psiquiatra porque duvidam do sen- tido de suas vidas, ou porque sc desesperam de não encontrar scja que sentido fon A dizer a verdade, nínguém pode queixar-se, atualmente, de que falta um semido à vida, visto que só precisa alargar 0 próprio horízonte para perceber que. ainda v Il3tul||l|(\|'l\í RllthÀÚ que gnzcmus de pr().s'pcridndc, null'os, contmlo. padcccm dc carcslia. Gnlamus dc |ibcrdade. mas ondc sc cncontra a rcspnnsubilidadc para com os dcmai›? An Iongo dos séculos. a lnunanidade vcnceu os obstáculos a favor dc uma fé cm um Deus único. do n101wteísmo, mas onde ñca o conlwcimcnlo de uma humnnidadc u'nic.1, um conhccimcmo quc gostarin dc dcnominur monantrupisnw? O conhecimemo em torno da unidadc da humam'dndc. uma unidade quc rompa todas as difcren~ ças, quer da cor da pcle quer da cor dos partidom Il 10 A crítica do psicologismo dinâmico W. Van Dusen salíentouz “Todas as terapias assentam~se em uma con- cepção do mundo. No entamo, no que díz rcspeito a essa concepção, são poucas as que põem as cartas sobre a mesa, como faz a análise ex1'stencial". De fato, toda psicoterapia toma por sua uma determinada anlropologia - também a psicanálise. Ninguém menos que o psicanalista Paul Schilder rec0- nheceu que, realmente, ela é uma Weltanschauung -“concepção do mundo”. Gostaria de dizer que toda psicoterapia se baseia em premissas antropo- lógicas - ou, se essasnão são conscicnles. em implicaçócs antropológicas. E isso é ainda pior: devemos a Sigmund Frcud 0 conhecimemo do pcrigo que espreita os conteúdos psíquicos. mas tambénL como podcmos dizer, o peri~ go que espreita as atitudes espirituais enquanto estas permanccem incons- cientes. Não tenho dúvidas em afirmar que o psicanalista tão logo indique ao paciente para estender-se no divã e associe livremente. já lhe apresenta igualmente uma determinada concepção de ser human0, uma concepção que deixa de lado a personalidade do paciente, que evita um encontro pessoal do homem com 0 homem, um contalo face a face, olho no olho. Quando um psicanalista procura op0r-se a todo tipo de valores. essa atitude de sua parte implica então em um juízo dc valor. O que acontece na práxis? Tomemos, por exemplo, as associações livres, em cuja produçào, como é bem conhecido, se baseia o método de tratamento psicanalíticol 94 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO Iá na añrmução dada, implícita na indicação à qual se entrega a associa- çã0|1'vrc.de que é permitido entrcgar-se ao jogo livre da própria imaginação. há uma tal dec1'sãn,quc está longe de ser evidcnte, sobre o poder e o dever do homem; csta conslítui cm si mcsma uma resposta parcíal à pergunta sobre o que é o homem e qual scja 0 scu ideal c o seu ñm.' Bem, um homem de tão reconhecida reputaçã0, como 0 conhecido psica- nalista Emil A. Gutheil (Nova York), editor do American Iournal ofPsycotherapy, eleva sua voz admoestandoz Hoje em dia são poucos os casos de pacientes cujas associações são re- almente espontâneas. A maíor parte das associações que 0 pacieme produz no curso de um tratamento prolongado são qualquer coisa menos "!ivres"; muilas vezes são avaliadas para transmitír a0' analista determinadas ideias. as quais o pacieme supõe que são bem›vindas ao analista. Em tais casos, os pacientes trazem à tona um material associativo previamente calculado, ou seja. determinado a agradar o analista. Aparemelnente, os pacicnlcs da psicologia adleriana sofrem somente dc problemas de poder, e seus conflitos encomram~se, ao que parece, exclusivamenle condicionndos pcla ambiçã0. pela aspiração à superioridade c coisas do gênero. Os paciemes dos discípu~ Ios de Jung inundam seus médicos de arquétipos e de vários símbolos ana- gógícos. Os frcudíanos escutam dc seus pacientes a conñrmação da presença de complexos de castração, de traumas dc na›c1'mento ou algo equivalente. Não seria possível pensarmos que a análise didática ajuda a impedir os juí- zos de valor inconscientes? Bem, parece-me que essas análises por sua natureza são mais capazes de contribuir para o surgimento de tais juízos de valor incons- cientes. Ninguém aqui precísa ír tão Ionge como William Sargant, que em seu livro A Conquisla da Mcnte aponta para o fato de que muitas vezes a psicanálise se consídera encerrada quando o paciente acolhe inteirameme para si as opiniões do psicoterapeuta c se tenha quebrado toda a resistência com respeito à interpretaçâo ' A. Gôrres. Metlmde und Erfahrungen der Psychounalyse. Munique, KõseL l958. IO A CRÍTICA DO PSICOLOGISMO DINÀMILO psicanalítica dos acontecimentos passados. lsto é, ev1'dentementc. ir longe dcmais; contud0, não menos evidente é a resposta do analista nova-i0rquino ], Marmor~' quando chama u atenção para o hábito que todo analista tem de ínlerpretar toda crítica à sua pessoa ou à psicanálise como expressão de uma resistência por parte do paciente. Gostaria, neste ponto, de ir mais longe ao submeter à Vossa reflexão o fato de que o fenómeno contrário da resisténcia, a saber. não uma transferém cia negativa, senão uma positiva ou - se devo assim me expressar ~ a auséncia de resistência do paciente. traz em si uma atitude acrítíca perante a psicanálise. Isso pode ser apropriad0, portanto, à análise d1'dáu'ca. 0 psicólogo londrino H. ]. Eysenck declarou, de maneira estr1'ta, que todo aquele que se submete a uma análise didát1'ca“torna-seincapaz de julgar objetivamente e de um modo absoluta- mente imparcial as concepções psicanalíticas'.' “Quando o psicanalísta añrma que 0 'psiquiatra com formação purameme teór¡ca' que não tbi ele mesmo analisado, não pode, apesar da melhor boa vontade, interpretar psicologicamente de maneira correta, então é chegado o ponto em que o diálogo cientíñco se enccrra, scndo substituído por uma decisão de fé“ - explica H. ]. WeitbrechL Durante a discussão cientíñczu 0 partícipante não analisado é íntimidado com o recurso à censura, sob o título de “na'o-ser›analisado',' e, portanto, incapaz de tomar parte na discussão, senão que também se manipula, de maneira anál()ga. a opinião pública à medida que se inocula no público o sentimento dc culpa. Procede-se assim como se aquele que é contra a psicanálise fosse de antemão suspeito de scr neurótico ou repressivo, reacionári0, um antissemila ou até um nacionaLsocíalista. É da esséncia do psícologismo extrair, da génese de um ato espirituaL con- clusões sobre a validade de seu conteúdo - em outras palavrasz ao psicologísmo importa menosprezar algo de modo lógico ao mcsmo tempo que 0 deduz psi- colog1'camente. No caso especíñco de S. Freud, diz H. Kunzz *A( imprudéncia de Freud ao introduzir 0 psiwlogismo, qucr dizer, o recurso, na luta pcla psicanálise. a tendências de lipo desconhecido pode, quem sabe, encomrarse enraizada numa ànsia extracientíñcãí O ínteresse por motivações psicológicas. diz Dietrich von Hildebrand, ou seja, por saber por que alguém manítewsla uma opin1'ào, faz uma " J. Marmor, 'Ihe American Iaurnal ofPsychiatry, n. 110. 1953, p. 370. 95 96 0 SOFRIMENTO l)[<. L'.\|.-\ \'lI)A 5E\.15P\¡”I'll)0 añrmação, assume um ponto de vista diante de uma teoria - tudo isso suplanta mais e mais o imeresse pela questão de se essa opinião, añrmação ou teoria é ou não verdadeíra; logo que assim se procede, continua Dietrich von Hildebrand, co- meça a propagar-se uma perversão devastadora (“a dísustrous perversion"). Para dar um exemploz Sigmund Freud apresenta a ñlosoña como “uma das formas mais decentes de sublimação da sexualidade reprimida, nada mais'Í3 Pode- mos entenden destarte, por que Scheler falava da psicanálise como uma “alquimía'2 segundo a qual seria possível desprender dos instintos coisas como bondade, amor etc. Muito menos, añrma M. Boss, se pode deduzir de meros instintos uma existéncia lão exemplar como a que o próprio Freud supôs exemplarmeme conduzir. Uma transformação dos instintos a partir de si mesmos, em um dever humano de veracidade e em um autossacrifícío a serviço da ciência como, por exemplo, se dístingue no destino de Frcud, é algo que permanece para sempre inimagináveL É óbvio que pode haver casos em que a inquietação e a preocupação do homem com o sentído últímo e majs elevado de sua vida, digamos assim, não re- presentem “nada mais” do que uma sublimação dos instintos reprimidos, e pode igualmente haver casos nos quais os valores realmente represemem “formações de reação e racionalizações secundárias'Í Para autores como Ginsburg e Herma, são, de fat0, nada mais do que isso; mas se trata provavelmente de simples casos de exceçã0, e. de modo geraL a luta por um sentido de vida é um fator primári0, e mais aindaz a característica mais primária. E, se podemos chamá-la assím, um constitutivo da existência humana. Pode ser necessário desmascarar e desvendan Mas é preciso parar diame do auténtico; e esse ofício de desvendar sÓ pode ser um meio para o ñm de fazer sobres- sair 0 que é autêntico, de distingui-lo do inautêntico e, assin1, fazer que o autêntico se destaque mais ainda. No entanto, onde 0 desmascaramento e o desvendamen- to se tomam um ñm em si mesmo, onde não se detém diante do auténtico - o que, precisamente, não se pode desmascarar-, então esse desvendamento já não 3 Ludwig Binswanger. Erinnerungen arl Sigmund Freud Berna, Francke, l956. IO. A CRITICA DO PSICOLOGISMO DINÀMKLO é um mero meio para o ñm, então esta tendéncia ao desvendamento nào é senão uma tendéncia a desvalorizar~5e. Perante as árvores das mentiras da vida, o psicó- logo, que desvenda, já não vê mais 0 bosque da própria vida, uma vez que a ànsia de desmascarar, de desvendar. termina por desembocar em cinismo, lornando~se ao ñm e em si mesma uma ma'scara, a máscara do niilismo. A u'1tima coisa que a psicoterapia pode permitir-se é ignorar a vontade de sentido e, em vez de deter~se díante dela como algo originário, julga'-la uma sim- ples máscara, segundo os ditames de uma psicologia que se considera a si própria aquela que desmascara_. Certa vez, fui procurado por um chefe diplomático ame- ricano que se encontrava há nada menos do que cinco anos em Nova York sob tratamento psicanalítico. Sentia~se tentado por um único anseioz desistir de sua carreira diplomática. No entant0, o psicanalista que o vinha tratando todo aquele tempo procurava movê~lo a ñnalmente reconc1'líar-se com o pai: o chefe não seria, pois, “nada mais” do que uma imugo do pai, e todo o seu ressentimento e rancor provinham justamente de sua luta irreconciliável com essa imagem. A questão importante, se o chefe realmente merecia ser reje1'tado, ou se não seria melhor largar a carreira diplomática e trocar de proñssão, não foi colocada uma única vez durante todo aquele tempo de tratament0, que consistia numa desenfreada con- tenda, braço a braço, do psicanalista com 0 pacieme contra aquela imagem Tudo isso como se não houvesse nada que valessc a pena levar em consíderação, como se só a pessoa imaginária merecesse atenção e cuidado, e não a real... A verdade é que não havia mais nenhuma realidade para antepopse a essa imagem, que se tinha desvanecido havia muito tempo da presença da dupla psicanalista›pac1'ente.* não existia um chefe reaL nem tampouco um posto diplomático de fato. muito menos o mundo independente de toda essa imagenn um mundo cujos problemas e exigências esperavam uma solução. A psicanálise tinha arrastado o paciente para uma espécie de autointerpretação e uma visão de si mesmo, e arriscaria a dizerz para uma espécie de imagem monadológica do homem, uma vez que a linguagem analítica se concemrava excessivamente naquela obstinação irrecon- ciliável do paciente em relação à imago do pai. Mas não era nem um pouco difícil salientar que o serviço diplomático e a carreíra do paciente lhe haviam frustrado ~ se assim posso expressar-me - a vontade de sentido. No momento em que o 9,' 98 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO paciente largou o serviço diplomático, teve, ñnalmente, a oportunidade de fazer valer a sua verdadeira aptida'o. Resta-nos mencionar um terceiro ponto - algo que vai além da vontade de sentído e do sentido do sofrimento; discutir, a ñm de completar nossas con- siderações acerca da imagem do homem na psicoterapia, a liberdade da vontade. O que já nos leva ao centro da teoria metaclínica de toda psicoterapia, e teoria quer dizer visào, visão de uma ¡magem do homem Nâo se trata, todavia, de que nós, os médic05, devemos levar a ñlosoña para dentro da medicina, mas de que nossos pacientes nos tragam sua problemática ñlosóñca. É evidente que o homem está submelido a condicionamentos por assim di- zer biológicos, psicológicos ou sociológicos. Nesse sentido. não é livre - ele não está livre de condicionamentos; não é de modo algum lívre de algo, senão que é livre para alg0. Quero dízer, livrc pam lomar posição perante todo e qualquer condícionamenta Consideramos que o grau de liberdade também se presta a uma existéncia psicótica. De fato, 0 homem que sofre uma depressão endógena pode também se opor a essa depressão. Dai-me permissão de ilustrar isso com o trecho de uma his- tória clínica que tomo por um documento humano. A paciente era uma carmelita, e em seu diário descrevia a evolução da doença e de seu tratamenta Notai bemz um tratamento orientado também para a farmacoterapim e nào someme para a logoterapía. Limitar~me-ei aqui à citação de um trecho de seu diárioz A triSteza é minha a›111pan|1c1'ra conslantu Não imporla 0 que cu faça, a tristeza coloca um peso de chumbo sobre minha alma. Onde estão os meus ideais, toda a grandeza, a bcleza, wda a bondade, tão cstimados outrura pclo meu anseio? Meu coração se acha dominado por um tédio bocejnnm Vivo como que jogada a um vazio. Existem momentos nos quais até a própria dor me é recusada. Confrontamomos aí com os sintomas de uma melancholia anaesthetica. A paciente continua sua descriçãoz “Em meu tormento, clamo por Deus, o Pai de todos. Mas Ele também silencia. No fund0, só desejaria uma coísaz morrer; morrer hoje mesmo, se isso me fosse possíveFÍ E segue então uma reviravoltaz “Se eu não 10 A (IRÍTICA DO PSICOLQGISMO DINÀMICO tivessc a consciéncia dada a mim pela fé, segundo a qual não sou dona de minha vida, ja', e muims vezes. teria mc cnlregado ao vazio'.' E conlinua, triunfamez Ncstu lb'. comcçn a trunsrbrmarsc mda a amargura du sofrimcnm Por- que aqucle que pcnsn quc a vida humana tcm dc scr um cmuinhar dc éxilo a éxitU, '.1s.".scnwlha›'s.c a um tulo quc mcncia a cabcça dianlc dc uma constru~ ção e sc admim quc sc csleja cavundo um abismo ondc sc dcva ergucr uma catcdraL Deus cdiíicu um lcmplo cm cada ulma humana. No meu caso. Ele está juslmnenlc a cawar o aliccrcc. Mcu dcvcr consiste em suportar dc boa vontade os golpes dc Sua pá. Seu contbssor a repreend1'a, dizendo-lhe que uma boa cristà não deve sofrer de depressão. Mas isso era como colocar água no moinho diante da tendéncia à zlutorreprowúçâa tâo camclerística da dcpraxsãu cndo'gena. Na reall'dade. a religiw sidade não tàculta nenhuma garuntia conlra us docnças neurótims e nem sequer comm as psicóticas. E, ao contrár1'o, eslar livrc dc neuroscs nãu é ncnhuma gamn- tia de que u pessoa scju religi(›sa. Dim dc outra tbrmaz sería precipitado supor que estar livrc de ncuroscs é uma guramia mais ou mcnos uulonuitiw de verdadcira rcligiosidmic. li não seria menos prccipitado supor que uma vcrdadcira religíosi~ dade protege de doenças neuróticax Nesse sentido. nem a verdade nos toma livres, nem a libcrdadc nos 1342 vcrdudciros. É claro quc 0 clínico podc lançnr um olhar aqui c ali ao fundo da superfície do psicótico até a pcrsonalidnde do docmc 7 duslocadal c oculta por cssa psicosa A despeito disso. a prática módica conñrma de maneím contínua aquilo que uma vez designci como meu credo psiquiálricoz a crença absoluta na pessoa espirituaL c também na dos doentcs p.s1'cóticus. Scja-Ine agnra permitido refcrir-me a um caso clínico especíñcm certa Vc7,. troumrmwme um homan de uns scssenta anos, quc sofria de uma dchkiência que, em seu cstado tinaL aprcsentava traços de csquizofrenia. Ouvia vozes. pois padccia de alucinaçóes acúslicas, aulismo e 0 dia todo não thzia oulra coisa sc- não rasgar papé1's, e lcvava uma vida aparcntememe sem sent1'do. Quisóssemus ater-nos à divisào de tarefas vitaisg segundo Alfred Adlen 0 nosso paciente - csse “idiota',' como era chamado - não cumpria, portunta ncnhuma dessas tarethsz nào 99 100 O SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO \.\_ . ' "'!¡ .ç¡"- ~, .'-'-°w~›v-':_-..U ':~ .': EL .-' ›'r. '- -.. m- z- - - > h - se ocupava de um trabalho, encontrava-se como que excluído da comunidade e Qs ,~~\ privado sexualmeme, para não se falar do amor e do matrimônio. E, contudo, que singular e notável charme desprend1'a-se daquele homem, do âmago de sua humanidade, que permanecera intacto e não afetado pela psicosez tínhamos diante de nós um grande senhonI Durante nossas conversas, constatamos que às vezesse irrilava sem um motivo aparente, mas que, no último moment0, era capaz de dominar~se. Aconteceu então que eu lhe perguntasse mais ou menos o seguintez “A“ñnal de contas, por amor a quem o senhor se domina?" E ele me respondeu: “Por amor a Deus...'.' Vieram-me então à mente as palavras de Kierkegaardz “Mes- mo se a loucura me surgisse aos olhos em seu traje de bufão, sempre posso salvar a minha alma, se triunfa em mim o meu amor para com DeusÍ 0 que diz o psiquiatra a respeito da literatura moderna?1 Quando me convidaram a pronunciar, neslu reunião, uma conferéncía, mi- nha primeira reaçào foi de hcsitaçãa Vede, scnh()res, são tantos os represemantes da litcratura conlcmporânca que sc ocupam por goslo dos ramos da psiquialria - ainda que de uma forma antiquada de psiquiatriu ›, que não mc via tentado a aumentar o número de taís diletantcs, 1'ntr01nctcndo-1ne, como p51'quiatra, no ter- reno da literatura conlcmporâncax A isso vem juntar-se 0 falo, ainda não delnonstrad0, de quc a psiquialria esteja autorizada a adotar uma posição sobrc o assunto. Não vos deixcis lcvar pela ideín dc que a psiquiatria sc encontrc apta a solucionar lodos os problemas. Até os dias dc hoje, nÓs, psíquiatras, não sabemos sequcr, por exemplo, qual é a rcal causa da esquizofrcnia - quanto ma¡s. como bem já sabcmos, os meios de curá~la. Nós, os psiqu1'atras, não somos ncm oniscimtes, ncm onipotentcs; 0 único atributo divino que se podc a nós conccdcr é 0 da oniprescnçaz em todo simpósio vedes um p51'quiatr.1', em Koda discussão estutais sua voz e o encontrais uté nestu rcuniãom Penso, contudo, c para falar a sério, que é prcciso que se deixe ñnalmemc de superestíman de idolatrar a psiquia1riu, e que se faria muílo melhon e mais, se passássemos a humanizá-la. Deveríamos, de início, evitar colocar no mesmo ' Conferência pmnunciada cm língua 1'ng|esn, em 18 de novembro de 1975, com 0 lítulo “A Psychiatrist Looks al l.i|cralur<.",' n convite do PL"N-Club ImernalionaL 104 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO saco 0 que existe de humano no homem e o que existe de doente nele. Em outras palavras, o que se nos pede é um diagnóstico diferencial entre um estado psíquico adoentado e um estado de necessidade espirítual - aquela necessidade espiritual que resulta, por exemplo, do desespero de um homem diante da apareme ausência de sentído em sua existência ~, e quem poderia negar que estamos a tratar aqui de um dos temas favoritos da literatura contemporânea? Pois bem, assim se manifestou Sigmund Freud numa carta à princesa Bona- partez uNo instanle em que alguém se pergunta sobre o senlido ou valor da Vida, está doente. Nesses casos, simplesmeme a pessoa mostra que tem uma carga de libido 1'nsatisfeita'Í Entretamo, pessoalmeme. inclino-me a pensar que é justamen- lc neste momento que o homem evidencia uma única coísa, a saberz que é um homem verdadeirameme auténtico. Nenhum animaL porlanto. jamaís se colocou a questão do sentido de sua existéncia. Nem sequer um dos gansos de Konrad Lo- renz. Mas é 0 homem que se aflíge com essa questã0. Não 0bstante, não se deve ver nela o sinloma de uma neurose; pelo comrário, considero uma realização humana. uma vez que é próprio do homem não apenas perguntar-se pelo sentido da vida, mas também questionar tal sentido. Mesmo se em algum caso particular sc Concluísse que 0 autor de uma obra literária estava realmente doeme - que talvez até sofresse de uma psicose e não apenas de uma neurose -, isso implicaria uma objeçã0, ainda que mínima, contra 0 valor e a verdade de sua obra? Creio que na'0. Dois mais dois sâo quatro, aindu que seja um esquizojrfnico quc o ajirme. E, de maneira similar, creio que em nada avilta a poesia de Hõlderlin e a Verdade da ñlosoña de Nictzschc 0 fato dc que o primeiro sofria de esqui7.ofrenia, e o segundo, de pamlisia cerebraL Pelo contra'rio, estou Convencido de que as obras de Hõlderlin c Nietzsche conlinuam sendo lidas, enquamo o nome dos psiquiatras que escreveram volumes inteiros a rcspeito des- ses “casos" há muito tbi esquecid0. Todavia, embora seja verdade que a patologia está longe dc dizcr algo contra o valor de uma 0bra, não é menos verdade que diga algo a favor. Mesmo no caso de um escritor que seja um doeme psíquico, veriñcamos que uma obra importante sua jamais surgiu por causa dc uma psicose, mas apesar dela. A doença nunca é. por si só, criativa. í › 1 f1<1I1I ANEXO > 0 QUE DIZ 0 PSIQUIATRA A RESPEITO DA LITERATURA MODERNM Tornou~se moda em nosso tempo avaliar a literatura não só a partir de uma perspectíva psiquiátrica, senão, em particular, a partir de uma psicodinâmi~ ca ínconsciente, na qual supostamente se fundamenta. Em consequéncia, a assim chamada psicologia profunda considera que sua príncipal tarefa consiste em des~ mascarar as motivaçóes secretas ou reprimidas no inconscieme. O mesmo vale. evidememente, para a produção literária. O que disso resulta. quando a obra de um poela é estendida sobre um “leito de Procusto',' podeis julgar pela crílica literá« ria escrita por um dos mais ilustres psicanalistas e publicada numa revista amerí- cana em uma obra de dois volumes sobre Goelhe2 Ao longo de l.538 páginas. 0 autor retrala um gênío com sinais parti- cularcs de perlurbação maníaco-deprcssiva, paranuica c epileptoidc, dc hOA n1(»*sexualid.1'de, incesta voyeurisnm, exibicionisnw. fetichismo, impmén- cia, narcisisn10, ncurosc obsessivu, hlslcr1'a, n¡cg.'\lomanía, elc. O autor parece tbcalizar quase exclusivameme a dinámica instintiva que servc de aliccrce à obra artística. Ele nos quer fazcr crcr quc a obra dc Goethe não é mais do que 0 resultado de ñxações pré-genitais. Sua luta c esforço não seriam por um ideaL pela belcza ou por oulros valorcs, mas. na rca11'dade, pretenderiam superar o problema de uma ejaculação precocc Como Freud foi sábio ao añrmar, certa vez, que nem sempre se deve imerpretar um charuto como um símbolo fálico - às Vezes, um charuto pode signiñcar simplcsmcntc um charuta Diria que há um ponto no qual o desmascarumento deve paran isto é, exa- tamente ali onde o psicólogo depara com um tewnómeno em que simplesmeme não há por que desmascarar, porque é autêntico. Se 0 psiaãlogo seguc adianle com seu trabalho de desmaxaramcnm acaba, é verdadc. por revelar algo, o seu próprio motivo inconsciemez desvalorizar 0 que há dc humano no human Perguntemomos então o quc torna esse desmascaramento lão alrativu Bem, parcce que aos medíocrcs causa prazer ouvir diler que Goethe era, afmal de contas, um neurótico, um ncurótico como tu e eu, sc é quc posso expressar-me assim. (E quem estiver 100% livre de neurose, que atire a primeira pedra.) Apa~ rentemente, e por alguma razão estra'nha, agrada-lhcs quando alguém añrma que 0 homem não é nada mais que um simples macacm 0 campo de batalha do id. do IOS 106 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO ego e do superego, o joguete de instintos, o produto de processos de aprendizagem, vítima de condições e circunstâncias socioeconómicas Ou de pretensos comple- xos. Apesar desse determinismo e desse fatalismo, lão amplameme difundidos, escreveu-me uma vez uma leitora do Alabamaz “O único complexo que me afeta é o pensamento de que eu devería ter com efeíto algum complexo. De1x'ei para trás uma infância medonha e, contudo, estou convencida de que do terrível pode tam- bém resultar algo posilivdÍ A mim parece que esse desmascarament0, que antecipadamente põe em prática 0 reducionismo, com sua frase estereotipada do unada mais que',' pro- porciona a muitas pessoas uma pronunciada alegría masoquista. Acrescentese a isso o que disse o psiquíatra londrino Brian Goodwim 'A(s pessoas se semem bem quando são levadas a crer que não são mais do que (1'sto' ou (aquilo,' do mesmomodo quc muitas são aquelas que acrcditam que um remédio, para ter efeit0, deve ter gosto amargdÍ Retomando, contud0, o tema do desmascaramento literári0, diremos o se- guintez seja qual for 0 fenómeno ao qual 0 reducionismo atribui a produção 1iterá- ría - seja um fenômeno normal ou anormaL consciente ou inconsciente -, tende-se hoje em dia a interpretar a produção literária como um ato de autoexpressa'o. Em contrapart1'da, defendo a opinião de que o escrever nasce do 'fdlar e todo falar, por seu turno, do pensar. E não existe pensamemo sem algo pensado, sem algo a que se referir, sem síntese, sem um objeto. E o mesmo se pode dizer do escrever e do falar, uma vez que ambos estão ligados a um sentido - 0 semido justameme de querer comunicar algo. E se a linguagem nào tem um sentído, se não tem nenhu- ma mensagem para comun1'car, então não é de modo algum h'nguagem. É um erro enorme a añrmação (contida no título de um livro bastante conhecido): “O meio é (em si) a mensagenfÍ Pelo contrári0, penso que é a mensagem que transforma 0 meio transmissor da mensagem em verdadeiro meio. Para todos os efeitos, a linguagem é a expressão de uma realidade; é algo mais que mera autoexpressã0. Com uma exceção. Faz parte da verdadeira es- séncía da línguagem dos esquizofrênicos, como pude demonstrar anos atrás, a não referência a um 0bjet0. De fato, ela é sempre, e tão somente, a expressão de um estad0. ANEXO - O QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA? Emretanto, a linguagem do homem normal é e permanece, sempre, uma reíêréncia a um objeto, isto é, aponta para algo além de si mesma. Numa palavra, a linguagem se distíngue pela autotranscendénc1'a. E o mesmo se pode dizer, de modo geraL da existéncia humnmL O ser humano está sempre voltado para algo que não é ele mesmo - para algo ou para alguém, para um sentido que o homem cumpre, ou para outro ser humano que venha a encontran Essa autolranscendência da cxistência humana pode ser mais bem exph'« cada se recorremos ao exemplo do olh0. Haveis alguma vez vos dado conta do paradoxo de que a capacidade do olho de apreender o mundo depende de sua incapacidade de ver a si mesmo? Quando 0 olho vé a si mesmo uu algo de si mes- mo? Só quando adoece. Se sofro dc catarata, percebo-0 sob a forma de uma nu- vem; vejo então, em volta das fontes luminosas, uma auréola de cores do arco-ín's. De um modo ou de outro, à medida quc o olho vê algo de si mesmo, nessa mesma proporção perturbmse a visa'o. O olho devc ter a capacidade de não reparar em si mesmo. E o mesmo acontece ao homem. Quamo menos repara em si mesmo. quanto mais esquece a si mesm0, ao emregar-se a uma causa ou a outras pessoas, mais ele é 0 próprio homem, mais se realiza a si mesmo. SÓ 0 esquecimento de si conduz à scnsibilidude e só a enlrcga de si amplia a cr1'atividadc. O homem é, em virtude dc sua autotranscendência, um ser em busca de sentida No fundo, é dominado por uma vontade de sentid0. No entanto, hoje em dia essa vontade de semido encontra-se em larga medida frustrada. São cada vez mais numerosos os pacientes que recorrem a nós, os psiquiatras, acometidos de um semimento de vazio. Esse semimcnto de vazio tornou~sc, em nossos dias. uma neurose de massa. Hoje o homcm não sofre muis tanto. como nos tempos de Freud, de uma frustraçào sexuaL mas sim de uma frustração existenciaL E hoje náo 0 anguslia tamo, como na época de Alfred Adler, um semimento de 1'nte'- rior1'dade, sena'o, bem mais, um senlimcmo dc faltu de sentido, acompanhado de um sentimento de vazio, dc um vazio existenciaL Se me pergumais como eu explico a génese desse sentimento de vazio, só posso dizer que. ao contrário do animaL o homem não tem ncnhum instimo que lhe diga o que tem dc ser, e. ao contrário do homem de tempos anteriores, não há mais uma tradiçào que lhe diga 0 que dcve ser - e, aparentemente, não sabe sequer 0 que quer ser de verdade. IO 1 108 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO Por conseguinte, cle só quer 0 que os outros fazem - e então nos encontramos diante do conformismo -, ou só faz o que os outros querem dele - e emão nos encontramos diame do totalitarismo. E se não soar tão frívolo, diria que esse sentimento de vazio tem algo que ver com o tema geral deste encontro, e com o fato de que justameme as três dé- cadas de paz que se tem concedído ao homem de hoje possib¡'h'tam-lhe o luxo de elevar-se acima da luta pela sobrcvívência, acima da mera subsistência, para pergumar-se pelo “para que” da sobrevivência, pelo derradeiro sentido da exis- lêncía. Em outras palavras, quanto a esses trima anos, deixemos que nos fale Ernst Bloch: 'A'os homens são concedidas preocupações que antcs só o confron- tavam na hora da morteÍ Seja como for, o sentimemo de vazio é também 0 pano de fundo do aumen- to generalizado de fenómenos como a agressividade, a críminalídadcx a dependén- cia de drogas e o suicídio - particularmente emre a juvemude uníversitária. Parte das obras da literatura contemporànea também pode ser interpretada como sintoma da neurose de massa. Precisamente quando o escritor se limíta a uma mera autoexpressão ou se contenta com um expressar de si - um exibicionís- mo Iiterário que não díz nada - é que traz à tona a expressão de seu sentimento de vazio e falta de sentido. Maís do que íssoz nào apenas traz à tona, senão que põe em cena o absurdo, o contrassrznsa E ísso é completamente compreensíveL De fato, o senlído autémico precisa ser descoberto, pois não pode ser inventado. Sentido nâo pode ser produzido. Não é tecnicamente exequível. No entanto, o absurdo e o contrassenso podem ser criados, e deles fazem uso generoso alguns escritores. Tomados pelo sentimento de auséncia de semido, expostos c entrcgues a um vazio completo de sentído, atiram-se sem hesitar à aventura de prcencher 0 vazio com o contrassenso e o absurdo. A literalura, porém, tem uma escolha. Não precisa conlinuar sendo um sin- toma da atual neurose de massa, mas pode muilo bem contribuir para o seu tra- tament0. Com efeíto, os homens que passaram pelo inferno do desespero, através da aparente falla de sentido da existéncia, são precisamente aqucles que podem oferecer aos outms homens, como um sacrifíc1'o, seus sofrimcntosx justameme a autoexpressão de seu desespem que podc ajudar o leitor - igualmente atingido ANEXO - 0 QUE DIZ O PSIQUIATRA A RESPEITO DA LlTERATURA MODERNA! pelo sofrimenta de uma vida sem sentido - a supera'›lo, mesmo que seja para mos- trar~lhe que não se encontra só. Em outras palavras, ajudá-lo a lransformar o sen- timento de absurdidade em sentimento de soliduríedude. Nesse caso. a alternativa não é mais “sintoma ou terapia',' senão que o síntoma é uma terapia! Sem du'vida. se a literatura deve exercer essa função terapéutica ~ ou seja. realizar seu potencial terapêutico -, deve renunciar a entregar-se, numa prálica sadomasoqu1'sta, ao niilismo e ao cinismo. Ainda que o escritor possa provocar no leitor - ao comunicar e compartilhar com ele seu sentimento de auséncia dc sentido - uma reação catártica, não deixa, contudo, de agir irresponsavelmente quando lhe prega tão somente o absurdo da existéncia. Se o escritor não for capaz de imunizar o leitor contra 0 desespero. deveria ao menos evitar infectá~lo com seu próprio niilism0. Mínhas senhoras e meus senhores, amanhã terei a honra de fazer o pro~ nunciamento de abertura da Semana Austríaca do Livro. O título que escolhi éz “O livro como terapia'Í Nesse context0, comunicarei aos meus ouvintes alguns ca- sos nos quais um livro mudou de maneira decísiva a vida do leitor. díssuadind0- -o de cometer suicídia Como médíco, conheço alguns casos nos quais um livro ajudou homens no leito de morte ou no cárcere. E contar-vos-ei agora a história de Aaron MitchelLO diretor da mal afamada colónia penal de San Quentin, que se encontra nas proximidades de San Francisco, convidou-me para proferir uma palestra aos presos - todos réus de delitos graves. Ao ñm de mínhas palavras, aproximou~se de mim um dos ouvintes e me disse que haviam impedido os con- denados ao death row, retidos em sua cela à espera da execução, de assistir à pa~ lestra. Perguntou-me então se eu não poderia dizer algumas palavras, ao menos pelo m1'crofone, a um delcs, o Sr. MitchelL que seria executado na câmara de gás dentro de poucos dias. Senti-me impotente. Mas não podería furtar~me àquele pedido. lmprovisei, portamoz Acredite em mim, Sn MitchelL dc alguma maneira posw entender a sua s¡'tuaçào. Añnal de comas. eu também tive de viver, durante algum tempo, à sombra de uma câmara dc gás. Mas, acred1'te-me, Sr. MitchelL nem sequer emâo renunciei por um só momento à minha convicção de que scjam quaís forem as condições e as c1'rcunstan'c¡'as, a Vida tem um sentido. Porque ou a 109 hMN_ llO O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO w'da tem realmente um sentido - e então preserva esse sentido mesmo que só venha a durar poucos instantes ~ ou não tem ncnhum sentido - c então não o terá nunca, mcsmo que dure muito tcmpo. Até mesmo uma vida apa- rentememe desperd1'çada, pode. relroativamente. encher-se de Senlidoz ao nos elevarmos, mediante o autoconhecimento, acima de nós mesmos. E vós sabeis enlão o que contei em seguida ao Sr. Mitchell? A história da morte de lvan Ilitch, como nos foi legada por Liev Tolsto'i. E com certeza a conhe- ceisz é 0 relato de um homem que, confrontado com o fato de que não mais viveria muito tempo, adquire de repente a consciéncia de como havia arruinado a vida. Contudo, precisamente esse conhecimento o fez crescer tanto em seu interior que foi capaz de preencher de sentido retrospectivo uma vida que parecia lào absurda. O Sr. Mitchell foi 0 último homem executado na Câmara de gás de San Quentin. Pouco antes de sua morte, concedeu uma entrevista ao San Francísco Chrom'cle, em que não deixou dúvida de que ñzera sua, sob todos os aspectos, a história da morle de Ivan Ilitch. De tudo isso se pode concluir 0 quanto um livro pode ajudar 0 simples “ho- mem da rua" em seu caminho, em seu caminho de vida e em seu caminho para a morte. Ao mesmo tempo, lança uma luz sobre a imensa responsabilidade social que recai sobre os escritores. Não me objeteis que estou defendendo e propugnando incondicional- mente a Iiberdade de pensamento e sua manifestação de palavm e de escrita. Sou contra o “1'ncondic1'0naln1ente'Í Pois a liberdade não é a última palavra. A liberdade pode degenerar em arbitrariedade, caso não scja vivida com respon- sabilidade. Talvez agora compreendais por que recomendo tão frequentemente aos meus estudantes americanos que ergam uma estátua da rcsponsabílidade junto àquela sua da liberdade. Bibliografia de Viktor E. Frankl FRANKL, Viktor E. Ãrztliche Seclsorgc. Grundlagen de Logotherapie und Existenzanalysc. Viena: Franz Deuticke; Frankfurt am Main: Fischer Taschen- buch 42302. 1946-l987. . Die Psychothempic in der Praxis. Eine kasuistische Einjúhrungfür Ãrzta Vienaz Franz Deuticke; Muniquez Seric Piper 475, Ernst Reinhardn l947- l986. . Dcr unbewusste Gott. Psychotherapíc zmd Religion. Muniquez Kõsel- Verlag, 1948-l988. . Theorie und I'h'erapic der NeuroserL Einführung in Logotherapie und Existenzanalyse; Mum'que-Basileia: Uni-'1'aschenbücher 457, Ernst Reinhardt, l956-l987. . Psychotherapic für den LaierL Run_dfu*rzkv0rtra”ge über Seelenheilkunde [0u Psychotherapiefürjedermarml› Freiburg im Breisgauz Herder, 1971 - l989. . Der Wille zum SimL Ausgewãhlte Vortrãge übcr Logotherap1'c. Muniquez Serie Piper 1.238, 1972-l991. . Der Lciden am simxlosen Leben. Psychotherapie jumr heute. Freibung im Breisgauz Herder, l977«1989. trotzdem Ia zum Leben sageIL Ein Psycholage erlebt das Konzentralionslagen Muniquez K0"sel-Verlag e DTV 10023, l977-l990.l . Der Mensch vor der Frage nach dem Sían Eine Auswahl aus dcm Gesamtwerk Vorwort von Konrad Lorenz. Munique: Serie Piper 289, 1979-1989. ' Uma edição extra para os alunos japoneses apareceu emTóqu1'o, e saiu pela Dogakuscha Verlag. 112 0 SOFRlMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO FRANKL, Viktor E. Die Sinnfrage ín der Psychothempie. Vorwort von Franz Kreuzer. Muniquez Serie Piper 214, 1981-l988. . Logotherapie und Existenzanalyse. Texte ausfu"nflahrzehnten. Munique: Piper, l987. . “Psychotherapy and ExistentialismÍ In: Selected Papers on Logotherapy. Nova Y0rk: Simon and Schuster; Londres: Hodder and Stoughtom l978«1988. . The Will to Meaning Foundations and Applications ofLogotherapy. Nova Y0rk: New American Library; Londresz Scarborough, l969-l988. . Íhe Unheurd Cryfor Meam'ng. Psychotherapy and Humanism Nova Y0rk: Simon and Schuster; Londresz Hodder and Stoughton, l978-1988. . A Presençu Ignorada de Deu$. Petrópolis: Vozes, 2008. .A Vontade dc Sentida São Pauloz Paulus, 2011. . Em Busca de Sentido. Petrópolisz Vozes, 2009. . Logoterapia e Análise ExistenciaL São Pauloz Forense Uníversitáría. 2012. . O Que Não Está Escríto nos Meus Livros - Memárias. Trad. de Cláudia Abeling. São Pauloz É Realizações, 2010. . Psicoterapia e Sentido da Vida - Fundamentos da Logoterapia e análise exístenciaL Trad. de Alípio Maia de Castro. São Pauloz Quadrante, 1986. . Psicoterapia: uma Casuística para Médicos Trad. de Humberto Schoen- feld e Konrad Ko"rner. São Pauloz E.P.U., l975. . Um Sentido para a Vida - Psicoterapia e Humam'smo. São Pauloz Ideias & Letras, 2014 ; Kreuzer, Franz. Im Anfang war der Sínn. Von der Psychoanalyse zur Logotherapic. Viena: Franz Deuticke, 1982; Muniquez Serie Piper 520, l982- l986. ; Piepen Ioscph; Scho"ck, Helmut. Altes Ethos - neues Tabu. Kõlnz Adamas, 1974. ; Tournier, Paul; Levinson, Harry; 1h1'el¡'cke, Helmut; Lehmann Paul; M1'ller, Samuel H. Are You Nobodyñ Richmondc John Knox Press, 1966-l97l. BIBLIOGRAHA DE VIKTOR E. FRANKL BIBLIOGRAFIA SELECIONADA SOBRE LOGOTERAPIA Bo"CKMANN. Walter. Sim1-orienn'erte Lcistungsmotivation und Milarbeitefru"hrung. Ein Beitrag der Humanistirchen Psychologie, insbcsonderc dcr Logotherapic nach Viktar E. FrankL zum Sinn-Problcm der Arbeit Stuttgartz Enke, 1980. . Heilen zwischen Magie und Maschinenzeitalten Ein Beitrag der Humanistischen Psycholog1'e, insbesondere der Logothcrapie nach Viktor E. FrankL zum Phânomen des Heilens. Bielefcld: Littera producti0n, l981. BÕSCH, Delman Fn'edenspad"agogik im UnterrichL 71woríe und meis der Logotherapie Vzktor E. Frankls und ihre Bedeutung fiir unterñchtlichcs Plancn und HandeIrL Oldenburgz Universitãt Oldenburg (Zentrum fúr psychologische Berufsprmds), 1982. BÕSCHEMEYEK UweA Die St'm_1frugc in Psychotherapie und Theologia Dic Exislenzanulyse und Logotherapíe Viktor E. Frankls aus theologischer Sícht. Ber- límlNova Y0rk: Walter de Gruyten 1977. . Mut zum Neubegirm Logotherapeutische Beratung in Lebenskrisen. Freiburg im Breisgauz Herder, l988. BULKA, Reuven P. 771e Qucst for Ultimate Meaning Principlcs and Applications of Logotheramt Com prefácio de V1k10r E. FrankL Nova Yorlc Philosophical Libmry, 1979. . Uncommon Sensefor Common Problems (A Logothempy Guide to L1f'es' Hurdles and Challenges). Torontoz Lugus. l990. ; Fabry, Joseph B.; Sahak1'an, Willíam S. Logotherapy in ActiorL Com pre- fácio de Viktor E. Frankl'. Nova Y0rk: Aronson, 1979. CRUMBAUGH, lames C. Everything ta Gain. A Guide to Self~fulf11ment Through Logoanalysi$. Chicagoz Nelson«Hall, l973. ; W00d, William M.; Wood, W. Chadwick. Logotherapy. New Help far Problem Drz'nkers. Prefácio por Viktor E. FrankL Chicagoz Nelson-Hall, 1980. DlENELT, Karl. Erziehung zur Verantwortlichkeit. Die I:'x1'5tenzanalyse V E. Franklsund ihre Bedeulungfürdie Erziehung. Viena: Õsterreichischer Bundesverlag, l955. . Von Freud zu FrankL Vienaz Õsterreichischer Bundesverlag, 1967. . Von der Psychoanalyse zur Logotherapic. Munique-Basileia: Uni- Taschenbücher 227, Ernst ReinhardL l973. lll IH O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO DÕRING, Dieten Die Logotherapie Viktor Emil Frankls. Forschungsstelle des Instituts für Geschichte der Medizin der UniversitüL Kõln 1981. FABRY, Joseph B. Das Ringen um SimL Eine Einführung in die Logotherapie. Freiburg ím Breisgauz Herder, l973~1980. FINCK, Willis C.; Finck, Margaret Davis; Larson, Larry D. (orgs.). Pursuit of Meaning: 7712 Proceedings ofthe Seventh World Congress ofLogothcrapy. Berke- ley: Institute of Logotherapy Press, l989. FRANKL, Viktor E. et allí. Sinn-voll heilen. Viktor E. Frankls Logothempie - Seelenhcilkundcaufneuen WegcrL Vorwort von Irmgard Karwatzki. Freiburg im Breisgau: Herder, l984. IONES, Frederic H.; ]ones, ludith K. Viktor Frankls' Logothempy. 7he Procecdings of thc Ffiih World Congrcss of Logotherapy. Berkeleyz Institute of Logotherapy Press, 1986. KEPPE, Norberto R. From Sigmund Freud to ViktorE ankL IntegralPsychoanalysis. São Pauloz Pr0t0n, 1980. KOLBE, Christophz Heilung oder Hinderm's. Religion bei Freud, Adlcr, Fro»1n1, Iung und FrankL Stuttgartz Kreuz-Verlag, 1986. KÚHN, Rolf. Sinn - Sein - Sollenz Bcitrâge zu einer phãnomenologische Existenzanalyse in Auseinandcrsetzung mit dem Denken Víktor E. Frankls. Cuxhavenz Iunghans, l99l. KURZ, Wolfram K. Ethische Erziehungals reIigionspiidagogische AujgÀaba Strukturen einer sinnorientieren Konzeptíon religiõser Erziehung untcr bcsonderer Berücksichtígung der Símz-Kategorie und dcr Logotherapic V. E. Frankls. Go"t- tingenz Vandenhoeck & Ruprecht, 1987. LÃNGLE, Alfried (org.). Wege zum Sinn. Logotherapie aIs Orienrierungshilfe. Mum'- quez Serie Piper 289, 1985. . Sinnvoll lcbcrL Angewandtc Existenzanalysc. St. Po"lten-Viena: Nieder0"s- terreichisches Pressehaus, 1987. (org.). Entscheidung zum Sein. Viktor E. Frankls Logorherapie in der Praxis. MuniquelZuriquez Serie Piper 791, I988. ; FUNKE, Günter (0rgs.). “Mut und SchwermuL Ex1'sten.1'analyse der Depression". Gesellschañjw Logotherapie und Existenzanalysa Viena, 1987. BIBLIOGRAFIA DE VIKTOR E. FlANKL LÃNGLE, Alfried (org.). “Existenz zwischen Zwang und Fre1'hcit'.' Tagungsberi~ cht der Gesellschañ für Logothempie und Ex1'stenzanalyse. Gesellschafr für Logotherapie und I:'xistenzanalyse, Viena, l988. LAZAR, Edward; Wawrytk0, Sandra A.; Kidd, Iames W. (orgs.). Viktor FrankL People und Memzing: A Commemorative Tribute lo the Founder ofLogotherapy on His Eightieth Birthday. São Franciscm Golden Phõnix Press, l985. LESLIE, Robert C. Icsus und Logothcmpy. 'Ihe Ministry ofjesus as Intcrpreted Thmugh the Psychothcrapy of Viktor FrankL Nova YorldNashvillez Abingdon Press, 1965› l968. LUKAS, Elisabelh. Auch dein Leben har Sinn. Logotherapeutische Wege zur Gesundung Freiburg im Breisgam Herder, 1980-l984. . Auch deínc Familie bruucht Sinn. Logotherapeutische Hiflen in Ehe und Erzt'ehung. Freiburg im Breisgam Herden l981. .Auch dein chen hat SimL Logothcrapeutische Trost in der Kris. Freiburg im Breisgauz Herder, l982- l986. der Tiefen- Hàhenpsychologia Logotherapie Beratungspraxis. Freiburg im Breisgauz Herdcr, 1983›1984. Psychologische Seelsorgc. .Von zur derin Logolhcrapie - die Wende zu einer mensrhenwürdigen Psycholog1'e. Freiburg im Breisgauz Herden l985. . Psychologischc Vorsorge. Kriscnprâwntion und Innenweltschutz aus Iogotherapeutischcr SichL Freiburg im Breisgauz Herdcr, l989. . SiereilerL Logotherapeutische Weisheiten. Freiburg im Breisgauz Herder, l985-l987. . Die magischc Fragc "wozu". Logothcrapcutische Antworten auf exiszenziellc FragerL Freiburg im Breisgauz Herdcn l99l. . Meaningful Living Logothempeutic Guide to Health. Com prefácio de Viktor E. FrankL Nova Yorkz Grove Press, l986. . Mcmzing in Stjitkring Conftort in Crisis through Loguthempy. Berkeleyz Institute of Logotherapy Press, 1986. . Loga›1'e'st. Tcst zur Messung 'e'xistentíeller Frustrati0n”. Viena, Franz Deuticke, 1986. . \'o'n dcr Trotzmucht des Geiste$. Mcnschenbild und Methodcn der Logotherapie. Freiburg im Breisgau: Herder, l986. llS Hõ 0 SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO LUKAS, Elisabeth. Gesinnung und Gesundhe1't. Lebenskunst und Heilskunst in der Logotherapie. Freiburg im Breisgauz Herder, 1988. .Geist undSinmLogotherapie - die drítte WienerSchulederPsychotherapie. Mít Beitrãgen von Gertrud Sx'mmerding, Franz Sedlak und Wolfram K. Kurz. Munique: Psychologie Verlags Uni0n, 1990. PAREJA HERRERA, Guillermo. ViktorE FrankL Comunicación y resístencia. Tlahuapan (México): Premia, l987. PEECK, Stephan. Suízid und Seelsorge. Die Bedeutung der anthropologischen Ansãtze V. E. Frankls und P. Tillichs für Theoríe und Praxís der Seelsorge an suizidgefãhrdeten Menschen. Stuttgart; Calwer, l99l. POLAK, Paul. Frankls Existenzunalyse in ihrer Bedeutung für Anthropologie und Psychotherapie. Innsbrucle1'ena: Tyrolia-Verlag, l949. RÕHL1N, Karl-Heinz. Sinnorientierte Seelsorge. Die Existenzanalyse und Logothe- rapie V. E. Frankls im Vergleich mit den neueren evangelischen Seelsorgekanzep- tionen und als Impulsfür die kirchliche Seelsorge. Muníquez tuduv- Verlagsge- sellschaft, l986. TAKASHIMA, Hiroshí. Psychosomatic Medicine and Logotherapy. Com prefácio de Viktor E. Frankl. Nova Yorkz Dabor Science Publications, Oceanside, 1977. . Humanistic Psychosomatic Medicine. A Logotherapy Book. Berkeleyz Institute of Logotherapy Press, 1984. TWEEDm Donald F. Logotherapy and the Christian Faith. An Evaluation ofFrankls' Existential Approach to Psychotherapy. Prefácio de Viktor E. Frankl. Michigan: Baker Book House, Grand Rapids, l961-l972. . The Christian and the Couch. An Introduction to Christian Logotherapy. Michiganz Baker Book House. Grand Rapids, l963. WAWRYTKO, Sandra A. Analecta Frankliana. The Proceedings of the First World Cangress ofLogotherapy (1980). Berkeleyz Institute of Logotherapy Press, l982. WICK1, Beda: Die Existcnzanalyse von Viktor E. Frankl als Beitrag zu einer anthropologischfundierten Pa"dagogík. Berna: Paul Haupt, 1991. YODER, Iames D. Meaning in '1'herapy. A Logotherapy Casebook for Counselors. Georgiaz Columbus, 31908, Quill Publications, 1989. BIBLIOGRAHA DE VlKTOR EV FRANKL ÁUDIO E VIDEOCASSETE.' As gravaçóes histórícas de som e imagem de conferéncias, palestras e entre~ vístas dadas por Viktor Frankl no decurso das últímas décadas, em todo mundo, são conservadas e guardadas com apoío do Departamento de Cultura da Cídade de Viena. Gravações em língua alemã podem ser adquirídas no: AUDITORIUM Netzwerk, Dipl.-Pa"d. Bernd Ulrich, Weinbergstrasse 4, D-97359 Schwarzach, Deutschland Disponível também na página: http://www.auditon'um-netzwerkddmainl frankl.htm. Referéncias bibliográñcas, bem como informaçóes a respeito de gravações de vídeo e áudio em alemão e ínglês, estão disponíveis na página do Vikt0r-Frank1- -Institut: httpzllwww.viktorfrankl.org ll7 Índice onomástico A C Adler, 9, 33-34, 36~37, 67-68, 99, Caruso, 38 107 Casciani, 27 Adorno, 24 Allport, Gordon W., 36 AppelL 38 Cohen, Hermann, 74 Crumbaugh, James C., ll, 14-15, l7, 27 Cushing, Harvey, 70 D Dansarl, 27 Dubois, PauL 79 Durlak, 27 Dusen, W. Van, 93 B Bacon, Yehuda, 30 Baeyer, Walter von, 88 Bailey, PercivaL 70 Bally, Gustav, 80 Barber, 17 Berze, Iosef, 40, 70 E Binswanger, Ludwig, 45, 96 ECkartsberg RolfV0n, 10 Black, 17 Ehrenwald, I., 40 Bloch, Ernst, 68, 108 Eibl-Eibesfeldt, 21 Boss, Medard, 33› 96 Einstein, Albert, 23, 27, 88-89 Bmd Maxy 75 Eysenck, H. I.. 95 BÀuckley, FrankM., 12 Bu"h1er, Charlotte, 36 F Fechtman. 17 120 0 SOFRIMENTO DE UMA VlDA SEM SENTIDO Fraíser, l7 Freud, Sigmund, 9-10, 18, 22, 33-36, 45, 67-68, 76, 93, 95-96, lO4-05, 107 Frosch, 61 G Garza-Perez, J., 58 GebsatteL Victor E., 37, 80 Gerz, 55-57 Ginsberg, 61 Ginsburg, 96 Goethe, l3, 74, 105 Goodwin, Brian, 106 Go"rres, A., 80, 94 Gregson, 17 GutheiL Emil A., 40, 94 H Harvey, 39, 70 Herma, 96 Hess, W. R., 18 Heyer. G. R., 45, 80 Hildebrand, Dietrich von, 95-96 Hoff, Hans, 70 Horn, Myron ]., 62 I Iachym, Franz, 45 Jaspers, KarL 66, 80 Ioelson, Edith, 43 Johnson, V., 62 Jung, 33-34, 37-38, 94 K Kant, 65, 88 Katz, Ioseph, 14 Kierkegaard, 66, 100 Klitzka LA L., lO, 68 Kocourek, K., 46, 58, 83 Kozdera, 46, 58 KratochviL 15, 27 Kr1'ppner, Stanley, 17 Kunz, H., 95 L Langen, 12 Ledermann, E. K., 45 Ledwidge, B. L., 58 Leet, Becky, 67 Lewin, 24 Lham0n, 39 Lifton, Robert Iay, 20 Lorenz, Konrad, 18-19, 6l, 104 Lukas, Elisabeth, 12, 14, 16, 27 M Maeder, Alphons, 45, 80 Maholick, Leonard T., l4-15 Maki, B. A., 17 MandeL Ierry, 28 Marmor, I., 95 Maslow, 15›16,28 Mason, 27 Masters, W., 62 Meier, 27 Murphy, 27 Myers, 39 N Norris, David L., 63 Novalis, 24 ~7ww- bfrm P Padelford, Betty Lou, l7 Pavlov, 68 Petrilowitsch, Nikolaus, 14, 44 PtlanL M., 41 Philbrick, Joseph L., 11, 68 Píndaro, 66 Planova, 15. 27 Plügge, 88 Polak, PauL 68 Popielski, 12, 27 PrilL 12 PynummootiL George, 53 Q Qualtinger, Helmut, 71 R Richmond, 27 Rotthaus, 41 Ruch, 27 S Sadiq, Mohammed, 52, 54 Sahakian, B. ]., 62 Sahakian, W. S., 62 Sallee, 27 Sargant, William, 94 Schaltenbrand, 39 Scheler, Max, 35, 86, 96 Schilder, PauL 93 Schmid, 38 Schopenhauer, 69 Schultz, I. H., 44, 58 Selye, 40 Shapiro, 61 INDICE ONOMÁSTICO Shean, 17 Sherif, Carolyn Wood, 19 Smith, 27 Soly0m, C., 58 Soly0m, L., 58 Stewart, 61 Stokvis, 41 T Tillich, PauL 27, 89 TolL Nina. 12 Tolstó1', Liev, 110 U Urban, 38, 40 V Vanderpas, J. H. R., 45 V()lhard, 12 VymetaL Osvald, 10, 68 W Weitbrecht. H. J., 38, 80, 95 Werner. 12 Wertheimer, 24 Wittgenstein, 27, 89-90 Wust, Peter, 25 Y YarnelL 27 Young, ll, 27 -.: W-w .4-_..:, Ind ICe A Ajluent society, 15, 26, 28 Agorafobia, 45, 47-48, 55 Agressa'0, agressiv1'dade, 18-20, 108 Alcoolismo, 17 Amor, 15, 18, 21-22, 73›74, 76›77, 86, 90, 96, 100 Análise didática, 94-95 Ansiedade antecipatória, 48, 50, 59 Arquétip0, 38, 40, 94 Associação livre, 94 Atos t'alhos, 35 Autoexpressão, 100, 106 Aut01'nterpretaça'o, 97 Autotranscendêncía, 15, 87, 107 C Capacidade de sofrer, 73-77 Ciência, 96 Competições esportivas, 19 Complexo, ll, 38-40, 65, 72, 82, 94, 106 Condições sociaís e econônúcas, 67, 106 analIt'I'co Conflito, ll, 39-40, 43, 47~48, 65, 94 Conformismo, ll, 26, 108 Consciênc1'a, ll, 25~27, 34, 4l, 56, 65, 76, 82, 87, 99, 110 Crescimento econômic0, 29 Cr1'al1'vidade, 73, 75. 104. 107 Criminalidade, 20, 108 Crise da aposentadoria, 70 Crise energética, 29 Culpa, 28, 82, 95 D Dependência de drogas, l7, 108 Derreñexãm 59-63 Desmascarar, desvendar, 96-97, 105 Despersonalização, 22-23. 47 Distensã0, 36, 63 Doença do empresári0, 71 E Educação, 26, 37 Eñc1'éncia,42, 44, 58 Encontro, 15, 24, 4l, 66, 73, 93 124 O SOFRIMENTO DE UMA VIDA SEM SENTIDO Espiritualidade, 34 Estado de bem›estar sociaL 28-29 Estatística, ll-12 Estresse. 40 Experiment0, 18, 63, 86 F Frustração exístencíaL 9-12, 16-18, 67, 69-72, 80-81, 107 G Gestalt, 24 H Hiperintençã0, 59-63, 66 Hiperreflexão, 59-62. 66 Homeostase, 35-36 Homo patiens, 74-75, 82 I Inconsciente, 34, 37, 56, 72, 82, 93~94, 105-06 Intenção paradoxaL 48, 51-58, 60, 63 Investigação da paz, 18- l9, 23 L Liberdade, 22, 49, 9l, 98-99, 110 L1'nguagem, 69, 97, 106-07 Logoterapia (ver também “Derreflexão" e “Intenção paradoxal”), 55-56, 58, 60, 69, 72, 77, 85-91, 98 Logoterapia de grupo, 17 M Marxism0, 10 Medicma psícossomátíca, 81 Monantropism0, 91 Morte, 12, 25, 28, 68, 83, 88, 108-10 N Necessidade, 12, 15, 23, 28-29, 69, 72, 76, 104 Neurose dominicaL 28, 70 Neurose fóbica, 49 Neurose noogénica, ll-12 Neurose obsessiva, 46, 49, 58, 105 Neurose sexuaL 20›24, 59-64 Noolog1'smo, 81 P Pastoral médica, 79-83 Patodiceia, 82 Poder, 40, 65, 67-68, 7l, 87, 94 Pornograña, 61 Prazer, 16, 20-22, 50, 59, 61, 65-69, 80, 83. 87, 105 Psicanálise, 18, 34-35, 39-47, 59, 65, 86, 93«97 Psicologia analítica, 34, 37 Psicologia das alturas, 13 Psicologia individuaL 34, 37, 65, 68 Psícologismo, 33, 37-38, 93, 95 Psicosc, 49, 99-100, 104 Psíquiatria, 9, 12, 58, 70, 89, 103 R Reducionismo, 86-87, 106 Religiã0, 38, 85-9I Repressão, 35 Resistência, 47, 63, 94›95 Reumanização da psicoterapia, 23 Revelaçã0, 87 S Satisfação insuñcieme, 12 Sensíb1'lidade, 44, 107 Sentid0, 9›30, 34, 37-38, 43, 65-77. 80, 82-83, 86›90, 96-99, 104, 106-10 Sexualidade, 18, 20-22, 35, 50. 61, 63, 96 Sintoma substituto, 50 Sofrimento, 9, 27-30, 37, 73-77, 80, 82, 98-99, 108409 Sonho, 35, 39›40, 42, 77 Sugestã0, 40›41 Suicídi0, 12, 69, 82783. 88, 108-09 Suprassemido, 82, 86, 89 T Teatro do absurdo, 25 Técnica, 22, 29, 42. 61~62, 85 Tédi0, 67-69, 98 Tempo livre, 28-29, 70-7l Terapia breve, 58 Terapia do comportamento, 44, 57 Teste, 11412, l4, 39 Tolerância, 26 Totalitarism(), ll, 26, 108 Tradição, ll, 107 Transferénc1'a, 4l, 44, 95 Transpirar, 52, 55 Trauma, 39-40, 46, 59, 94 Trem0r, 52v55 Tríade trágica, 28 Tristeza, 28, 98 V Valor, 11, l4, 16. 22, 43, 73-75, 80, 93, 96, 104 125INDICE ANALITICO Vazio existenciaL 9, l I, l7, 20. 22, 26, 28-29,67-71,107 Verdade, 25, 28, 90. 99 Vontade de poder. 65. 67, 71 Vontade de prazer, 59, 65-67, 69 Vontade de sentido, l3-18, 23, 27- 29, 51, 65-69, 7l-72, 82, 87-89, 97-98, 104