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AN02FREV001/REV 4.0 58 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 59 CURSO DE FARMÁCIA HOSPITALAR MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 60 MÓDULO II 9 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimula seus membros para que estabeleçam e apliquem uma política direcionada aos medicamentos, desde suas especificações técnicas até as condições propícias para seu uso racional. No Brasil, a Política Nacional de Medicamentos (PNM) obrigatoriamente deve ser implementada pela Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) em todas as unidades hospitalares, para isso, é essencial a elaboração de uma padronização de medicamentos. Padronização de medicamentos pode ser entendida como a constituição de uma relação básica de medicamentos, que deve constituir os estoques das farmácias hospitalares, objetivando o atendimento médico-hospitalar, de acordo com suas necessidades e peculiaridades locais, acarretando na sua utilização racional. O processo de seleção de medicamentos deve assegurar o cumprimento de uma terapêutica racional e de baixo custo. Para garantir o uso racional de medicamentos, é necessário elaborar a lista de medicamentos padronizados e desenvolver, com muita intensidade e continuidade, um processo de educação farmacológica dos profissionais de saúde do hospital, induzindo uma reflexão crítica sobre a escolha e a utilização dos fármacos. 9.1 O PROCESSO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A Seleção de medicamentos é um processo dinâmico, contínuo, multidisciplinar e participativo. Tem o intuito de assegurar ao hospital acesso aos medicamentos mais necessários, adotando critérios de eficácia, segurança, qualidade e custo. Promove a utilização racional dos medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 61 A seleção de medicamentos é um processo complexo. É importante que seja realizado considerando a contribuição das seguintes ciências: Farmacoeconomia; Farmacoepidemiologia; Farmacologia e Terapêutica Clínica; Farmacovigilância; Biofarmacotécnica; Farmacocinética. Este enfoque multidisciplinar colabora para que os diversos elementos que interferem na utilização dos medicamentos sejam contemplados na escolha do arsenal terapêutico. 9.2 VANTAGENS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A realização da seleção de medicamentos reduz custos e melhora a qualidade da farmacoterapia desenvolvida na instituição hospitalar. As vantagens da seleção de medicamentos são: Reduzir o custo da terapêutica, sem prejuízos para a segurança e efetividade do tratamento; Racionalizar o número de medicamentos e produtos correlatos, com consequente redução de custos com a aquisição; Facilitar as atividades de planejamento, aquisição, armazenamento, distribuição e controle, com redução dos custos operacionais; Disciplinar o receituário médico-hospitalar e uniformizar a terapêutica, colaborando como instrumento de ensino na área de saúde; Aumentar a qualidade da farmacoterapia e facilitar a vigilância farmacológica, o que pode ser incentivado por meio da adoção do Programa de Farmacovigilância do Ministério da Saúde (que será discutido no Módulo IV). AN02FREV001/REV 4.0 62 9.3 ETAPAS DA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS Na implantação de um processo de seleção de medicamentos, é recomendável seguir as seguintes etapas: Conscientização da equipe de saúde por meio de reuniões e informativos; Designação da comissão de seleção de medicamentos pelo diretor clínico; Levantamento do perfil dos problemas de saúde atendidos pela unidade hospitalar; Análise do padrão de utilização de medicamentos; Definição dos critérios de seleção a serem adotados; Seleção dos medicamentos, definindo a estratégia de desenvolvimento do formulário e os métodos a serem empregados; Edição e divulgação do formulário farmacêutico; Atualização periódica do formulário farmacêutico, que deve ser revisado no mínimo a cada dois anos. 9.4 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS A seleção de medicamentos depende de vários fatores, destacando-se o perfil das doenças prevalentes, a infraestrutura para o tratamento, o treinamento e a experiência da equipe disponível. Portanto, devem ser empregados no processo de seleção de medicamentos os seguintes critérios: Selecionar medicamentos com evidência de eficácia clínica – estas informações devem ser obtidas através de ensaios clínicos; Eleger entre os medicamentos da mesma indicação e eficácia, aquele de menor toxicidade e maior comodidade posológica; AN02FREV001/REV 4.0 63 Padronizar medicamentos cujo custo do tratamento/dia e o custo da duração do tratamento sejam pequenos, preocupando-se sempre com a eficácia do produto; Padronizar medicamentos que possuam estudos sobre biodisponibilidade e parâmetros farmacocinéticos; Escolher, sempre que possível, entre os medicamentos de mesma ação farmacológica, um representante de cada categoria química ou com característica farmacocinética diferente, ou que possua característica farmacológica que represente vantagem no uso terapêutico; Evitar a inclusão de associações fixas, exceto quando os ensaios clínicos justificarem o uso concomitante e o efeito terapêutico da associação for maior do que a soma dos efeitos dos produtos individuais (por exemplo, no uso da associação entre sulfametoxazol e trimetropima); Priorizar formas farmacêuticas que proporcionem maior possibilidade de fracionamento e adequação à faixa etária, principalmente em unidades hospitalares que atendem o público pediátrico; Padronizar, preferentemente, medicamentos encontrados comercialmente e formas farmacêuticas acondicionadas em dose unitária; Realizar a seleção de antimicrobianos em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), verificando os s prevalentes, padrões de sensibilidade e selecionando aqueles antimicrobianos que permitam suprir as necessidades terapêuticas; Reservar novos antimicrobianos para o tratamento de infecções por microrganismos resistentes a antimicrobianos padrões ou para infecções em que o novo produto seja superior aos anteriores, fundamentado em ensaios clínicos comparativos; Padronizar medicamentos pelo nome do princípio ativo adotando a denominação comum brasileira (DCB) e, na falta desta, a denominação comum internacional (DCI). AN02FREV001/REV 4.0 64 10 COMISSÃO DE PADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS Há duas comissões hospitalares responsáveis pela seleção de medicamentos: a Comissão de Farmácia e Terapêutica (CFT) e a Comissão de Padronização de Medicamentos (CPM). As duas comissões têm o mesmo objetivo, mas as atividades que desenvolvem são diferentes. O ideal é que as CPMs se transformem em CFTs. A CPM é a juntadeliberativa designada pela diretoria clínica com a finalidade de regulamentar a padronização de medicamentos utilizados no receituário hospitalar. As atribuições da CPM são: Padronizar os medicamentos para uso no hospital; Publicar a padronização de medicamentos e mantê-la atualizada; Divulgar informações sobre medicamentos. 10.1 COMISSÃO DE FARMÁCIA E TERAPÊUTICA A responsabilidade pelo desenvolvimento e supervisão de todas as políticas e práticas de utilização de medicamentos na unidade hospitalar com intuito de assegurar resultados clínicos ótimos e um risco potencial mínimo é da CFT. A CFT assessora a diretoria clínica nos assuntos relacionados a medicamentos e terapêutica e serve como uma ligação entre a farmácia e a equipe de saúde. Essa é a comissão hospitalar mais importante para a farmácia, pois promove ações educativas, assessoria técnica e divulgação sobre medicamentos devendo executar as seguintes atividades no hospital: Estabelecer normas e procedimentos relacionados à seleção, à distribuição, à produção, à utilização e à administração de fármacos e agentes diagnósticos; AN02FREV001/REV 4.0 65 Padronizar, promover e avaliar o uso seguro e racional dos medicamentos prescritos no hospital; Elaborar um guia farmacoterápico ou formulário farmacêutico; Avaliar periodicamente o arsenal terapêutico disponível, promovendo inclusões ou exclusões segundo critérios de eficácia, eficiência clínica e custo; Normalizar procedimentos farmacoclínicos que se relacionam com a terapêutica medicamentosa; Coordenar avaliações clínicas e estudos de consumo de medicamentos em pesquisa ou recém-lançados; Sugerir medidas que possibilitem a disponibilidade de recursos materiais e humanos, assegurando a viabilidade da política de medicamentos dentro da instituição; Disciplinar a ação dos representantes da indústria farmacêutica dentro do hospital; Estudar medicamentos sob o ponto de vista clínico, biofarmacêutico e químico, emitindo parecer técnico sob sua eficácia terapêutica como critério fundamental de escolha; Divulgar informações relacionadas a estudos clínicos relativos aos medicamentos incluídos e excluídos do formulário farmacêutico; Fazer estudos e/ou revisões bibliográficas sobre medicamentos; Elaborar programas de notificação e acompanhamento de reações adversas. AN02FREV001/REV 4.0 66 10.2 ESTRUTURA DAS COMISSÕES DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS As comissões de padronização e de farmácia e terapêutica têm a mesma estrutura básica, garantindo um caráter multidisciplinar e dinâmico ao processo de seleção de medicamentos. Devem ser compostas de: O farmacêutico deve ser o secretário da comissão, os demais membros não devem ser escolhidos em função de motivação e experiência na área de terapêutica e farmacológica. Torna-se bastante interessante ter como membro permanente desta comissão, um representante da comissão de controle de infecção hospitalar (CCIH). A equipe de saúde deve ser rotineiramente comunicada das decisões da CFT por meio de reuniões ou informativos. É recomendável que a CFT se reúna pelo menos seis vezes ao ano. Um médico que atuará como presidente; Um médico de cada especialidade (Clínica Médica, Clínica Pediátrica, Clínica Cirúrgica e/ou outras clínicas de acordo com as características do hospital); Um membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH); Um farmacêutico; Um enfermeiro. AN02FREV001/REV 4.0 67 11 FORMULÁRIO FARMACÊUTICO O Formulário Farmacêutico é uma publicação, geralmente em forma de manual, que traz a relação atualizada de medicamentos selecionados para uso no hospital e informações essenciais sobre medicamentos. O formulário deve ser completo e de fácil consulta, e sua revisão deve ser periódica. O sistema de formulário é um processo contínuo por meio do qual a farmácia e a equipe de saúde em conjunto com a CFT ou equivalente avalia e seleciona os medicamentos necessários para assistência aos pacientes. Os produtos selecionados devem estar disponíveis na farmácia. O objetivo primário da CFT é garantir o uso racional de medicamentos e reduzir os custos sociais e institucionais, ao se implementar o sistema de formulário. Estes dois objetivos aparentemente conflitantes representam um desafio para o sucesso da implementação do sistema de formulário. A atuação do farmacêutico, sugerindo ao médico substituição terapêutica ou farmacêutica e prescrição de medicamentos incluídos no formulário, implementa o sistema e reduz custos (Tabela 5). A capacidade dos membros da CFT para escolher os melhores fármacos e conscientizar os médicos sobre a relevância da seleção é importante para o êxito da implementação do formulário. Os profissionais da equipe de saúde devem ser incentivados a participar do processo de seleção de medicamentos. A ampla divulgação da revisão do formulário é importante para permitir que os profissionais do hospital enviem sugestões. As sugestões devem ser encaminhadas por meio do formulário de inclusão e exclusão de medicamentos à secretaria da CFT (Figura 6), que pode ser realizada a qualquer tempo, fato que pode trazer a necessidade de mais uma reunião da comissão para rever a padronização realizada. AN02FREV001/REV 4.0 68 TABELA 5 - ALTERNATIVAS E TIPOS DE SUBSTITUIÇÃO DE MEDICAMENTOS Definição de Alternativas e Tipos de Substituição de Medicamentos Alternativa Farmacêutica: medicamentos que contêm o mesmo fármaco, a mesma dosagem e diferem em relação ao sal, éster, forma farmacêutica ou via de administração. Alternativa Terapêutica: medicamentos que contêm diferentes fármacos, mas que pertencem à mesma classe farmacológica. Apresentam os mesmos efeitos terapêuticos quando administrados em doses terapeuticamente equivalentes. Substituição Farmacêutica: ato de fornecer uma alternativa farmacêutica no lugar do medicamento prescrito. Ex.: Estolato de eritromicina por estearato de eritromicina. Sulfato de codeína por fosfato de codeína. Ampicilina suspensão por ampicilina cápsula. Substituição Terapêutica: ato de fornecer uma alternativa no lugar do medicamento prescrito. Ex.: Enoxiparina por Fraxiparina, Omeprazol por Pantoprazol FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. O uso de medicamentos não incluídos no formulário (conhecidos como medicamentos não padrão) deve ser controlado pela CFT. Estes medicamentos só devem ser liberados para utilização, após a solicitação contendo justificativa avaliada e aprovada pela CFT. Essas medidas visam inibir o uso de medicamentos não incluídos no formulário e incentivar o uso de padronizados, com intuito de controlar a prescrição médica e reduzir custos. O farmacêutico que atua na dispensação de medicamentos do hospital deve estar consciente do importante papel da padronização de medicamentos devendo estar capacitado e disposto a interagir com os médicos em um esforço de evitar a utilização de medicamentos não padronizados. As decisões da CFT devem confirmar a prática clínica da instituição para o sistema de formulário ser efetivo. Contato direto com os médicos, distribuição de boletins e informações ajudam a motivar os médicos a prescreverem apenas medicamentos padronizados. AN02FREV001/REV 4.0 69 FIGURA 6 - FORMULÁRIO DE PADRONIZAÇÃO OU DESPADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOSÀ LISTA DE MEDICAMENTOS PADRONIZADOS FONTE: Arquivo pessoal do autor. HOSPITAL PORTAL EDUCAÇÃO SOLICITAÇÃO DE PADRONIZAÇÃO OU DESPADRONIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS INCLUSÃO EXCLUSÃO 1. Nome do Fármaco: ________________________________________________________________________________ 2. Nome(s) Comercial(is):_____________________________________________________________________________ 3. Fabricante(s):_________________________________ 4. Forma(s) farmacêutica(s) e concentração(ões) a incluir ou excluir:_____________________________________ 5. Indicações Terapêuticas: ___________________________________________________ 6. Classe(s) Terapêutica(s):____________________________________________________________ 7. Esquema terapêutico recomendado: ____________________ Duração do tratamento: _____________________________________ 8. Justificativa da escolha em relação a outro substituto incluído na padronização: __________________________________________________________________________________ 9. Efeitos observados: Benéficos: __________________________________________________________________________________ Maléficos: __________________________________________________________________________________ 10. Relacionar as contra-indicações: ______________________________________________________________________________ 11. Citar estudos clínicos que justifique sua alteração: _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________ Nome e função do solicitante: ________________________________________ Solicitante:___________________________________________________________ Data:___/___/___ Chefe do Serviço ou Unid. de Internação:___________________________________ Data:___/___/___ AN02FREV001/REV 4.0 70 12 REALIZAÇÃO DE SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS 12.1 SELEÇÃO QUALITATIVA DE MEDICAMENTOS: REVISÃO DE CLASSE TERAPÊUTICA O método de revisão de classe terapêutica consiste na avaliação comparativa de fármacos de uma determinada classe terapêutica. O farmacêutico, com o suporte do Centro de Informações de Medicamentos (CIM), elabora uma monografia dos fármacos da classe terapêutica em análise. Os aspectos mais relevantes a serem abordados na monografia estão dispostos na Tabela 6. A monografia deve ser realizada com base em uma ampla revisão da literatura. Um informativo técnico sintético deve ser encaminhado à CFT visando subsidiar as deliberações. Neste informativo, é recomendável incluir tabelas para facilitar a comparação e dar enfoque, principalmente, às indicações, eficácia clínica, posologia reações adversas, ensaios clínicos, níveis de evidência do uso terapêutico e custo. O método de revisão de classe terapêutica pode ser empregado tanto nas revisões como na elaboração inicial da padronização. A maior vantagem deste método é propiciar avaliação sistemática de cada classe terapêutica organizando o processo de seleção e assegurando uma análise adequada dos fármacos disponíveis para o arsenal terapêutico do hospital. Os métodos qualitativos, como a revisão de classe terapêutica em situações que envolvem fármacos com características muito semelhantes, muitas vezes, não permitem uma escolha adequada. Para evitar uma seleção de medicamentos baseada em critérios subjetivos, a alternativa para essas situações é o emprego de métodos quantitativos que veremos ainda neste módulo. AN02FREV001/REV 4.0 71 TABELA 6 - ASPECTOS IMPORTANTES PARA AVALIAÇÃO DE MEDICAMENTOS Informações Importantes para Avaliação de Medicamentos Identificação do medicamento: denominação comum brasileira e/ou denominação comum internacional especialidades farmacêuticas formas farmacêuticas fornecedores Classe farmacológica (o ideal é empregar a classificação anatômico- terapêutica clínica — ATC) Indicações terapêuticas do medicamento autorizadas no país e outras indicações do medicamento aprovadas em outro país de referência (geralmente são utilizadas como referência as autorizações do FDA) Farmacologia clínica Farmacocinética Reações adversas Cuidados, precauções e contraindicações Esquemas posológicos, inclusive em situações especiais: neonatologia, pediatria, geriatria gestação, insuficiência renal ou hepática e outras Ensaios clínicos publicados na literatura e, se disponíveis, metanálises Comparação com alternativas terapêuticas incluídas na padronização Custo do tratamento e análise do impacto econômico na instituição FONTE: Adaptado de Gomes, M. J. V. M. Ciências Farmacêuticas: Uma Abordagem em Farmácia Hospitalar, 2006. AN02FREV001/REV 4.0 72 12.2 MÉTODO QUANTITATIVO PARA A SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS Os medicamentos novos, frequentemente, oferecem poucas vantagens em relação aos antigos, mas podem diferir em segurança, esquema de administração e custo. Em consequência dessa homogeneidade das características dos fármacos, a seleção de medicamentos pode se tornar subjetiva. Na seleção de medicamentos é necessário um método objetivo e quantitativo que abranja todas as variáveis que influenciam na seleção do fármaco adequado, como por exemplo, a análise de decisão clínica, um método que auxilia a tomada de decisões definindo o modo mais efetivo de lidar com problemas específicos. A seleção de medicamentos empregando o método de análise de decisão envolve as etapas detalhadas a seguir. 12.2.1 Definição do problema, dos objetivos e identificação das alternativas O primeiro passo deve ser a definição do problema em questão, o objetivo pretendido e a partir disto identificar as alternativas, isto é, os possíveis fármacos para o tratamento pretendido, como exposto no exemplo abaixo: Problema — seleção de um inibidor da bomba de prótons. Objetivo — escolher o fármaco inibidor da bomba de prótons de maior eficácia, segurança e de baixo custo para o tratamento de úlcera. Alternativas — omeprazol e pantoprazol. AN02FREV001/REV 4.0 73 12.2.2 Definição dos critérios de avaliação O segundo passo é definir critérios com o objetivo de quantificar a eficácia, a segurança e o custo de tratamento com os fármacos em estudo. Os critérios são definidos especificamente para um determinado problema. Por exemplo, na seleção de um inibidor de bomba de prótons da histamina podem ser adotados os seguintes critérios: Eficácia em úlcera duodenal; Eficácia X custo; Farmacocinética; Interação medicamentosa; Reações adversas; Ensaios clínicos com o fármaco e outros. 12.2.3 Caracterização das informações necessárias à análise de decisão Os critérios de avaliação recebem certo peso e então são classificados em ordem crescente do peso. Em seguida, um grupo de médicos e farmacêuticos escolhidos pela CFT estabelece o valor utilitário de cada critério. O valor utilitário é a expressão quantitativa do valor relativo do critério. É definido também o valor probabilístico do fármaco que é uma estimativa numérica de como o fármaco preenche o critério de avaliação.A próxima etapa é a multiplicação do valor utilitário de cada critério pelo respectivo valor probabilístico e a realização da soma dos critérios. O fármaco com a maior pontuação final é o selecionado. O que pode ser aplicado ao nosso caso: omeprazol X pantoprazol. A partir da determinação dos pesos de cada critério a ser analisado, são dados os valores referentes a cada fármaco baseado em evidências científicas e somados os pontos, AN02FREV001/REV 4.0 74 um dos fármacos pode então ser selecionado como o mais adequado, dentre os critérios priorizados pela CFT desta unidade hospitalar em particular. 12.2.4 Análise de decisão Podem ser introduzidos na avaliação alguns erros, pois determinados valores numéricos, especialmente os utilitários, podem ser subjetivos. Portanto, é necessário realizar uma análise estatística empregando análise de sensibilidade. A análise de sensibilidade avalia a estabilidade das conclusões em relação a uma faixa de valores plausíveis para o valor probabilístico e o utilitário. Ausência de alteração significativa da conclusão em função das variações dos valores indica que a alternativa de maior valor preenche melhor os critérios de avaliação. Os resultados de uma análise de decisão são aplicáveis apenas no hospital onde foi realizada. As conclusões de análise de decisão variam de uma instituição para outra, principalmente devido às diferenças na definição dos critérios e na definição da importância. A importância da análise de decisão consiste em forçar os membros da CFT a considerar os critérios e as alternativas objetivamente antes de chegar a uma decisão. A quantificação de todos os atributos dos fármacos permite um processo de seleção lógico e racional, evitando longas discussões e minimizando erros pessoais. 12.3 SELEÇÃO DE MEDICAMENTOS REALIZADA POR SISTEMA DE ANÁLISE DE AVALIAÇÃO POR OBJETIVO – SYSTEM OF OBJECTIFIED JUDGMENT ANALYSIS (SOJA) A Seleção racional de medicamentos é um fator essencial na elaboração do formulário farmacêutico. Além dos critérios racionais de seleção de medicamentos (eficácia clínica, custo, tolerância, esquema de administração etc.), fatores emocionais, financeiros e relacionados ao marketing farmacêutico interferem na AN02FREV001/REV 4.0 75 seleção de medicamentos. O processo de tomada de decisão é uma alternativa para excluir a interferência desses fatores. O Sistema de Análise de Avaliação por Objetivo (SOJA) é um método de tomada de decisão para seleção de medicamentos. Este método consiste na definição prospectiva de critérios de avaliação para uma determinada classe terapêutica. A extensão com que cada fármaco preenche o critério é analisada. A cada critério é atribuído um peso relativo; quanto maior a relevância do critério, maior o peso. Um painel de especialistas escolhidos pela CFT estabelece o peso relativo de cada critério e o valor relativo para o fármaco frente ao critério. No método SOJA os seguintes critérios de avaliação do fármaco devem ser incluídos: A pontuação total do SOJA é de no máximo mil pontos, que são divididos entre os critérios considerados relevantes para classe terapêutica em estudo. A principal vantagem do SOJA é selecionar os medicamentos empregando exclusivamente critérios racionais. O método subsidia as decisões da CFT tornando o processo de tomada de decisão mais concreto. Esse método tem limitação de ser tempo-dependente, pois sofre alteração em virtude das publicações de ensaios clínicos, estudos de farmacovigilância e do registro e do tempo de comercialização. Para superar essa limitação, o método deve ser atualizado periodicamente, daí a necessidade de reunião da CFT. AN02FREV001/REV 4.0 76 13 SELEÇÃO DE MEDICAMENTO PARA REDUZIR CUSTOS COM ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA A CFT possui uma meta em especial, reduzir as despesas com medicamentos, evitando gastos que resultam em elevação desnecessária do custo do tratamento, sem contribuir com retorno à saúde do paciente. A CFT para atingir esta meta deve adotar as seguintes estratégias: garantir, por meio de medidas educativas e programas de estudo de utilização de medicamentos (EUM), que os medicamentos selecionados estão sendo adequadamente prescritos; incentivar o uso do medicamento de baixo custo quando a eficácia e a segurança não foram alterados; elaborar revisões periódicas das diversas classes de fármacos, fazendo alterações visando garantir que os medicamentos usados no hospital irão refletir a terapêutica mais econômica; promover a utilização eficiente dos medicamentos, adotando mecanismos de restrição de fármacos para serviços específicos, situações clínicas determinadas e credenciamento de médicos autorizados a prescrever. Nos últimos anos, administradores hospitalares e farmacêuticos têm observado que uma grande parte da elevação das despesas dos hospitais nos últimos anos é devida às farmácias. Entretanto, muitas das causas são por fatores externos e a CFT é vista como um instrumento com capacidade para controlar os fatores internos. O sistema de formulário oferece excelente controle dos fármacos utilizados no tratamento dos pacientes. O reconhecimento deste controle pelos administradores frequentemente resulta em pressão para CFT priorizar a redução de custos devido aos enormes gastos com medicamentos. Mas a CFT deve conscientizar os administradores que a redução dos gastos não pode ocorrer em detrimento da qualidade da farmacoterapia prestada ao paciente. Tradicionalmente, a CFT tem avaliado a inclusão de medicamentos nos formulários com base na eficácia, segurança e custos de aquisição. A utilização de informações de análise farmacoeconômica nos processos de tomada de decisão AN02FREV001/REV 4.0 77 sobre os medicamentos a serem incluídos ou excluídos do formulário irá auxiliar a CFT a garantir a redução de custos e a seleção de medicamentos eficazes. A farmacoeconomia é uma área em desenvolvimento dentro das ciências farmacêuticas de grande importância, que pode ser também realizada pela própria unidade hospitalar com seus próprios dados e, por isto, as CFTs e as CPMs devem se conscientizar da importância da farmacoeconomia e capacitar profissionais para atuar nessa área nos hospitais. Podemos concluir após a exposição deste tema que o processo de seleção de medicamentos visa: Portanto, a padronização de medicamentos de um hospital é um instrumento facilitador da implementação de um programa de uso racional de medicamentos e por este motivo o serviço de farmácia hospitalar deve incentivar a implantação de uma comissão de seleção de medicamentos atuante. E quaisquer que sejam os critérios empregados, a forma de planejar este trabalho, a divulgação, o formato, a denominação, a facilidade em se encontrar as Facilitar a escolha de fármacos seguros, eficazes e baratos; Promover a utilização racional de medicamentos; Custo do medicamento; Eficácia clínica; Incidência e intensidade de efeitos adversos; Esquema posológico; Interações medicamentosas; Estudos clínicos, indicações aprovadas; Tempo de comercialização; Farmacocinética; Aspectos farmacêuticos; Reduzir o custo da assistência farmacêutica; AN02FREV001/REV 4.0 78 informações de forma rápida e objetiva, nada será válido se não for utilizado efetivamente e se os resultados desta tarefa não forem revertidos de forma satisfatória para trazer benefícios ao elemento mais importante de todo este processo: opaciente. 14 INFECÇÕES HOSPITALARES E COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÕES HOSPITALARES (CCIH) As infecções hospitalares é problema antigo, havendo relatos desde 325 d. C., quando foram criados hospitais nas catedrais, confinando os doentes em ambientes restritivos que propiciavam a transmissão das moléstias da época. Com a descoberta da penicilina, no início do século XX, houve uma redução significativa das infecções. Para tanto, a partir dos anos 50, começaram a aparecer bactérias resistentes e as infecções hospitalares passaram a despertar maior interesse e atenção. Embora existam centros de excelência em controle de infecção hospitalar, uma grande parte dos hospitais brasileiros ainda não possui uma comissão ou serviço de controle de infecção hospitalar funcionando de maneira efetiva, indicando a necessidade de reavaliação da política de controle de infecções hospitalares. As infecções hospitalares são geralmente associadas aos diversos procedimentos invasivos, como os cirúrgicos, os cateterismos, a ventilação mecânica, entre outros. De acordo com os critérios gerais, as infecções hospitalares são definidas e descritas da seguinte forma: Quando na mesma topografia em que for diagnosticada infecção comunitária, for isolado um germe diferente, seguido do agravamento das condições clínicas do paciente; Quando se desconhecer o período de incubação do microrganismo e não internação, convenciona-se infecção hospitalar toda manifestação clínica que se apresentar a partir de 72 horas após a admissão; AN02FREV001/REV 4.0 79 Quando se manifestam antes de 72 horas de internação, sendo associadas a procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos realizados durante este período; Em recém-nascidos, com exceção das transmitidas de forma transplacentária e aquelas associadas à bolsa rota superiores a 24 horas; Os pacientes provenientes de outro hospital que se internam com infecção são considerados portadores de infecção hospitalar do hospital de origem. As principais causas das infecções hospitalares são: Condição clínica do paciente; Falta de vigilância epidemiológica adequada; Uso irracional de antimicrobianos; Utilização excessiva de procedimentos invasivos; Métodos de proteção anti-infecciosa, ineficazes ou inexistentes; As características do programa de controle de infecções hospitalares são: Possuir vigilância epidemiológica ativa, sistemática e contínua das infecções, buscando ações oportunas de prevenção e controle; Racionalizar o uso dos antimicrobianos e de outros medicamentos que possam favorecer o desenvolvimento de infecções hospitalares; Monitorar e controlar os procedimentos invasivos; Utilizar métodos de proteção anti-infecciosa efetivos; Promover a educação continuada sobre o controle de infecções hospitalares; 14.1 COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR (CCIH) A portaria 196, de 24 de junho de 1983, foi a primeira legislação sobre infecções hospitalares no Brasil que estabeleceu conceitos e parâmetros para o controle de infecção nos hospitais. Esta portaria determinou que todos os hospitais AN02FREV001/REV 4.0 80 do país, independentemente da natureza da entidade mantenedora, deveriam possuir uma Comissão de Controle de Infecções hospitalares (CCIH). Em 1992, foi publicada a portaria 930, que determinou a constituição, em todos os hospitais do país, dos Serviços de Controle de Infecções (SCIH), mantendo a exigência de existir também a CCIH. A CCIH é um órgão colegiado obrigatório, subordinado à Diretoria Clínica, com papel deliberativo. Já o SCIH apresenta papel executivo das tarefas emanadas pela CCIH. Todas as reuniões e providências tomadas pela CCIH/SCIH devem ter seu registro feito de forma adequada e estes documentos devem ficar arquivados para posterior verificação pela fiscalização ou possível utilização se houver algum processo judicial. A participação do farmacêutico nas comissões de controle de infecção é importante não somente no aspecto técnico, como está prevista legalmente no Brasil, por meio da portaria 2.616/1998, do Ministério da Saúde, que define o farmacêutico como membro consultor e executor da CCIH. Segundo a portaria 2.616/1998, a farmácia tem participação importante no controle de infecções hospitalares: Promovendo o uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares; Definindo políticas de utilização de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares; Cooperando com o setor de treinamento ou responsabilizar-se pelo treinamento de funcionários e profissionais no que diz respeito ao CCIH.(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998) Funções da CCIH - Revisão da padronização do elenco de antibióticos; - Elaboração de protocolos clínicos para tratamento de infecções; - Elaboração de relatórios com perfil de utilização, demanda e custos dos tratamentos; - Monitoramento de pacientes em uso de antimicrobianos, por meio das fichas de controle; - Definir critérios para seleção e aquisição de desinfetantes, antissépticos, saneantes, produtos para saúde e medicamentos. AN02FREV001/REV 4.0 81 15 MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS Dentro das ciências farmacêuticas, a manipulação em hospital é uma atividade especial. Envolve áreas da farmácia que não são comuns em estabelecimentos de atendimento ao público. A manipulação de medicamentos não estéreis é um serviço que propicia grande economia para a instituição, disponibilizando medicamentos e soluções que o mercado não possui ou que têm alto custo, em diferentes concentrações, quantidades e volumes. O hospital leva a vantagem de poder controlar precisamente a administração de medicamentos preparados exclusivamente para um paciente, por possuir laboratórios de manipulação especializados. A importância da manipulação de medicamentos não estéreis é vista nas seguintes ocasiões: É de extrema importância para o Sistema de Distribuição de Doses Unitárias (SDDU), podendo ser considerada uma área pré-requisito para Dose Unitária; Proporciona a qualquer momento medicamentos com qualidade aceitável, adaptados à necessidade da população que atende; Permite fracionar ou reenvasar medicamentos a fim de racionalizar sua administração e distribuição. Permite preparar, diluir ou “reenvasar” germicidas necessários para realização de antissepsia, limpeza, desinfecção e esterilização. AN02FREV001/REV 4.0 82 15.1 FORMAS FARMACÊUTICAS NÃO ESTÉREIS DE IMPORTÂNCIA NA MANIPULAÇÃO HOSPITALAR Há algumas formas farmacêuticas não estéreis que podem ser produzidas na farmácia hospitalar como: Comprimidos; Cápsulas; Papéis; Soluções; Xaropes; Suspensões. E algumas que são obtidas no mercado farmacêutico, já manufaturadas, que podem ser submetidas ao fracionamento na farmácia hospitalar, como: Comprimidos; Líquidos orais (soluções, xaropes e suspensões). O número de farmácias onde existe a manipulação de medicamentos não estéreis vem crescendo significativamente por apresentar inúmeras vantagens, como: Medicamento personalizado satisfazendo às necessidades do paciente; Associações benéficas; Vínculo entre paciente / médico / farmacêutico fortalecido; Custo reduzido. Algumas observações na manipulação de medicamentos não estéreis que devem ser levadas em consideração: Os equipamentos a serem utilizados na manipulação devemestar devidamente calibrados e aferidos; Vidrarias e materiais de porcelana devem estar íntegros; Deve haver um termostato nos refrigeradores permitindo monitoramento da temperatura; AN02FREV001/REV 4.0 83 Os insumos devem ser armazenados de acordo com as orientações do fabricante; A embalagem deve garantir a estabilidade do produto. 15.2 ESTRUTURA FÍSICA LABORATORIAL PARA MANIPULAÇÃO DE MEDICAMENTOS NÃO ESTÉREIS Sala de paramentação com lavatório. Interior subdividindo os laboratórios de líquidos, semissólidos, sólidos e controle de qualidade, com acesso independente para evitar a contaminação cruzada. Piso liso e lavável, cantos e rodapés arredondados, paredes lisas pintadas de cor clara com tinta acrílica ou epóxido, sistema de circulação de ar. Sistema de circulação de ar composto pó: ventilador insuflador de ar e exaustor. Presença de pré-filtros HEPA para proporcionar ambiente classe 100 mil, com 20 trocas de ar por hora. Bancadas com tampo de material liso e lavável, pia de aço inoxidável, fonte de água potável e de água purificada, box de pesagem com balança eletrônica, armários para estoque de vidrarias e utensílios de manipulação. AN02FREV001/REV 4.0 84 16 QUIMIOTERAPIA E AS ATRIBUIÇÕES DO FARMACÊUTICO ONCOLÓGICO Nos Estados Unidos, depois da doença cardíaca, o câncer constitui a principal causa de morte. Aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo desenvolvido poderá morrer de câncer nas próximas décadas. De acordo com estatísticas apresentadas em todo mundo, o aumento crescente da incidência do câncer é consequência do crescimento demográfico, da longevidade e provavelmente da entrada de novos fatores cancerígenos causais ou concausais cuja natureza é pouco conhecida. O câncer é um distúrbio celular caracterizado por alterações no processo de duplicação do DNA, resultado em proliferação celular alterada, de forma desordenada. A terapia oncológica consiste no tratamento dos pacientes portadores de câncer, por meio de qualquer das modalidades disponíveis à prática médica. Atualmente, o recurso mais empregado é o da quimioterapia, o qual utiliza os medicamentos antineoplásicos, por intermédio de protocolos de um ou mais medicamentos, dependendo do tipo e do estágio do tumor. 16.1 ATENDIMENTO ÀS PRESCRIÇÕES MÉDICAS Conjunto de solicitações escritas pelo médico ao farmacêutico, para a preparação e entrega de um ou mais medicamentos, a prescrição ou receituário médico é redigida contendo informações direcionadas ao farmacêutico, visando ao atendimento do doente. Um receituário médico contém partes imprescindíveis, que o torna personificado e específico para cada paciente: Nome do paciente; Fármacos; Vias de administração; AN02FREV001/REV 4.0 85 Forma farmacêutica; Indicações de uso; Forma de administração do medicamento. O farmacêutico ao receber uma prescrição deve se certificar de que todas as informações, necessárias a dispensação do medicamento, estão claras e de acordo com o protocolo predefinido pelo médico. Os fármacos devem ser prescritos pelo médico em letra legível de forma explícita, indicando as concentrações desejadas para o tratamento. Cabe ao farmacêutico conferir as doses prescritas de acordo com a superfície corporal do paciente. Caso as doses estejam aparentemente elevadas, o médico deverá sublinhar a dose desejada, demonstrando consistência do fato. Em se tratando de agentes antineoplásicos, estes dados devem ser cuidadosamente avaliados devido às suas características citotóxicas. O atendimento da prescrição médica inclui a confecção de rótulo, o qual deve conter todas as informações necessárias à identificação do paciente, características referentes à reformulação preparada à orientação para a enfermagem na assistência ao paciente. Seguindo o protocolo de cada paciente, o esquema posológico deve estar claro na prescrição médica. Formulado pelo médico, o protocolo quimioterápico combina diversos medicamentos antineoplásicos destinados ao paciente oncológico e enviados ao farmacêutico para execução das diluições. O tratamento é repetido a um dado intervalo de tempo, denominado ciclo, de acordo com a evolução do paciente. O protocolo deve expressar com clareza: Os fármacos; O veículo; A concentração; A posologia; Via de administração; Tempo de infusão; Informações sobre sequência e duração do tratamento; Periodicidade dos ciclos; Altura; Peso; AN02FREV001/REV 4.0 86 Superfície corporal; Diagnóstico do paciente. Para os esquemas de altas doses, é importante que o farmacêutico certifique-se junto ao médico de que a dose prescrita é a desejada. A via endovenosa é a mais utilizada, no entanto, outras vias podem ser utilizadas, como tópica, oral, muscular, intratecal, intraperitoneal, intrapleural, intravesical e intrarretal. 16.2 CENTRAL DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Setor onde são realizadas todas as atividades envolvendo a operação farmacêutica de preparo das soluções parenterais destinadas ao tratamento do câncer. As soluções são manipuladas de acordo com a prescrição médica destinada a cada paciente, de forma individual e personalizada. São extremamente complexas as técnicas empregadas para diluir os antineoplásicos, tornando-se aconselhável a centralização das atividades de manipulação desses fármacos. A manipulação centralizada apresenta as seguintes vantagens: Melhor controle dos riscos decorrentes da exposição dos trabalhadores envolvidos com agentes antineoplásicos e meio ambiente; Garantia de qualidade das soluções parenterais e dos serviços prestados aos pacientes oncológicos; Redução dos cistos com recursos humanos, fármacos e material utilizado na manipulação dos antineoplásicos; Melhor gerenciamento do setor, visando a alcançar eficácia, eficiência e efetividade nos serviços prestados. É necessária a elaboração de um projeto claro, conciso e coerente com a realidade de cada hospital ou clínica, para a implementação de uma Central de Manipulação de Antineoplásicos. Cada parte do projeto deve ser explicada com argumentos técnicos para justificar os equipamentos, a área física e os recursos humanos apresentados. AN02FREV001/REV 4.0 87 A central de manipulação deve ser bem planejada, buscando atender a característica de cada hospital e visando a proporcionar segurança ao trabalhador. Em linhas gerais, deve possuir os seguintes espaços físicos: Área de limpeza do material a ser utilizado Este espaço destina-se ao armazenamento de limpeza de todo material utilizado na manipulação (Figura 7). FIGURA 7- SALA DE LAVAGEM DE MATERIAL FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área destinada a paramentação do trabalhador Esta sala é composta por duas áreas separadas por um banco corrido ou por uma porta. Na primeira parte, são deixadas as vestes, sapatos, joias e outros acompanhamentos de uso pessoal. Na segunda área, o trabalhador faz a antissepsia das mãos com água e sabão neutro e se equipa com os equipamentos de proteção individual (EPI) (Figura 8). AN02FREV001/REV 4.0 88 FIGURA 8- SALA DE PARAMENTAÇÃO DO TRABALHADOR FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Sala contendo a câmara de segurança biológica Nesta área, além da câmara de segurança biológica classe II tipo B2, instalam-se as bancadas onde são colocados os materiais necessários às atividades de manipulação farmacêutica (Figura 9). São também colocadas nas bancadas as soluções já preparadas para processar a rotulagem. As paredes devem ser laváveis, com as bordas arredondadas e pelo menos uma das divisórias deve ser de vidro para manter contato visual com a área externa. O ar de dentro da sala deve ser filtrado. AN02FREV001/REV 4.0 89 FIGURA 9 - SALA DE MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS FONTE: Arquivo pessoal (instalações do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) Área de transferência Após a limpeza, o material é colocado nesta área de onde é transferido para a sala de manipulação e para receber dessas as soluções já preparadas para serem conduzidas às clínicas. Na divisória de vidro que separa as duas salas há uma janela com sistema corrediço por onde é feita a transferência dos produtos. É uma sala que impede a formação de correntes de ar que irão influenciar decisivamente na estabilidade do fluxo de ar da câmara. Esta sala tem contato com a sala de limpeza por meio de uma porta. Deve ainda fazer parte do planejamento de implantação e reestruturação das centrais de manipulação de antineoplásicos, um espaço destinado a recepção, cálculos e análises das prescrições. Nesta área, devem-se localizar as estantes com as fichas dos pacientes oncológicos, o registro com a lista dos agentes desativadores de cada antineoplásico, as normas e procedimentos adotados em AN02FREV001/REV 4.0 90 caso de acidentes, cópia dos certificados de manutenção da câmara e fichas contendo os dados de cada trabalhador, tais como dados pessoais e exames do programa de controle médico e saúde ocupacional (PCMSO), cadastro de cada paciente e um terminal de computador para processamento de dados. Câmara de segurança biológica As câmaras de segurança biológica (CSB) classe II B 2, são sistemas eletromecânicos, com pressão negativa de exaustão e filtragem absoluta do ar descendente e ou ascendente capazes de criar ambiente de fluxo laminar vertical, em pequenas áreas de trabalho, independentemente das condições do meio. As câmaras de ar classe II são as que possuem fluxo laminar vertical. As CSBs são desenhadas especificamente para o trabalho com agentes de risco biológico e adaptadas para o manuseio de agentes antineoplásicos. Portanto, é de suma importância a obediência rigorosa de técnicas de manipulação, a fim de minimizar os riscos de exposição a esses agentes. A ventilação, a temperatura do ambiente e o controle microbiológico, dentro da área de manipulação da câmara, devem ser rigorosamente monitorados. Para limpeza dos equipamentos devem-se utilizar agentes adequados e em intervalos regulares de tempo, observando-se as técnicas de procedimentos recomendadas pelo fabricante. Os desinfetantes devem ser trocados periodicamente para não devolver formas de microrganismos resistentes. A limpeza da câmara deve ser feita por pessoal devidamente treinado e conhecedor do risco a que está expondo seguindo as instruções do fabricante. O certificado contendo o laudo de manutenção da câmara deve ser fornecido por empresa idônea. A câmara deve ser instalada em uma área sem turbulência e sem frequente tráfego de pessoas. A movimentação excessiva das mãos, o excesso de materiais, ou objetos de grandes volumes distribuídos no espaço destinado à manipulação dos fármacos, dificulta a circulação do ar e gera um ambiente de ventilação instável, que prejudica a eficiência da câmara. AN02FREV001/REV 4.0 91 16.3 PROCEDIMENTOS TÉCNICOS PARA MANIPULAÇÃO DE ANTINEOPLÁSICOS Os antineoplásicos para uso oral não são prescritos com muita frequência, e muito embora os fármacos nesta apresentação já estejam prontos para a dispensação, são necessários alguns cuidados ao manuseá-los. A operação mecânica de fracionamento dos comprimidos ou individualização das cápsulas para dispensação faz liberar pó, cuja composição é semelhante a das formas farmacêuticas que lhes deram origem. Quando o fracionamento requer ajuste da dose, a operação farmacêutica envolve atividades minuciosas, como pulverização, pesagem e/ou dissolução de fármaco. É conveniente que se tenha um local exclusivo, com ventilação natural adequada para esta operação, dotado de um sistema exaustão de tal forma que as partículas não contaminem o ambiente de trabalho. É indispensável que o trabalhador esteja equipado com o EPI adequado. Na execução das atividades de manipulação de quimioterapia é aconselhável que o farmacêutico tenha auxiliares, tendo como atribuições: Ligar e preparar CSB; Separar o material; Suprir a sala de manipulação com todos os materiais necessários ao preparo das soluções, rotulá-las e acondicioná-las adequadamente; Limpar e desligar a câmara; Adicionar adequadamente todos os resíduos de antineoplásicos. Essas atribuições possibilitam maior segurança ao manipulador, uma vez que este não precisa se levantar ou se movimentar muito enquanto manipula podendo desenvolver sua atividade com destreza e a rapidez que a técnica exige. Além disso, viabiliza um trabalho mais racional, evitando erros, desperdícios e diminuindo custos. São necessárias algumas precauções para minimizar a formação de aerossol no ambiente de trabalho, tais como: a diluição deve ser rápida, cuidadosa e com rigorosa técnica asséptica; deve-se ter cuidado de não deixar ar dentro da AN02FREV001/REV 4.0 92 seringa, colocando o bisel em contato com o líquido de dentro do frasco-ampola; afim de não aspirar o ar existente; a seringa deve ser selecionada de acordo com o volume a aspirar. A sequência para a manipulação dos antineoplásicos segue, em linhas gerais, os seguintes passos: Análise das prescrições, realização dos cálculos e confecção dos rótulos; Separação e limpeza do fármaco e da bolsa de diluente. Conduzi-los à sala de transferência e desta à sala de manipulação; Após se desfazer de todos os adornos pessoais, faz-se a antissepsia das mãos e antebraços. Segue-se a paramentação com os EPIs; Cubra a bancada com um campo de plástico e, sobre este, outro campo de papel absorvente, ambos estéreis; O auxiliar vai distribuindo o material sobre a bancada à medida que forem sendo desenvolvidas as atividades de manipulação; Posicionar-se junto à câmara e calçar as luvas cirúrgicas; Proceder à reconstituição do fármaco e à sua diluição de acordo com as técnicas de manipulação farmacêutica, observando a dose prescrita pelo médico; Conectar o equipo e verificar a ocorrência de vazamento; Entregar ao auxiliar para a rotulagem; A utilização de gazes estéreis é sempre recomendada para dar mais segurança, no momento de quebrar a ampola, aspirar a solução do frasco- ampola e ao adicionar o medicamento reconstituído à bolsa de sistema fechado, contendo soro fisiológico, glicosado ou outro diluente. AN02FREV001/REV 4.0 93 16.4 SEGURANÇA NA MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA Diante da evidência do risco de exposição ocupacional em que ocorre a possibilidade dos antineoplásicos causarem mutação e câncer em trabalhadores expostos, muitos países têm elaborado recomendações para a manipulação segura destes agentes. Alguns trabalhadores se expõem desnecessariamente a esses agentes, porque não sãodevidamente treinados e educados para trabalhar com agentes potencialmente tóxicos. FIGURA 10 - MANIPULAÇÃO DE QUIMIOTERÁPICOS FONTE: Arquivo pessoal (manipulação realizada no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG) AN02FREV001/REV 4.0 94 Técnicas perfeitas de manipulação são muito difíceis de serem executadas, os equipamentos de manipulação não são absolutamente infalíveis. Por isso, é muito importante que seja adotado um programa bem estruturado para a proteção do meio ambiente e do trabalhador que manuseia antineoplásicos. Os agentes antineoplásicos devem ser preparados em CSB classe II, tipo B2, de uso exclusivo, obtida de empresa idônea, instalada por pessoal devidamente habilitado e treinado. Deve ser instalada em uma área sem turbulência, com ar filtrado, devendo ser ligada de 15 a 30 minutos antes de iniciar os trabalhos e desligada de 15 a 30 minutos após terminá-los, ou conforme orientação do fabricante. Deve-se incluir na manutenção da câmara a troca de pré-filtro e do filtro HEPA, seguindo rigorosamente as orientações do fabricante, de forma a garantir a eficiência operacional e a integridade dos processos eletromecânicos. O tempo de duração dos filtros de alta eficiência (HEPAs) é, em média, de três anos, dependendo dos cuidados utilizados na técnica de manipulação dos produtos. A limpeza da área crítica deve ser feita com produto apropriado, antes do trabalho e após o término das atividades, em concordância com as boas práticas da Farmácia. A parte externa da câmara deve ser limpa com detergente suave e a parte interna com álcool 70%, lembrando que este produto em excesso pode danificar as borrachas de vedação. O trabalhador deve utilizar capote de tyvec com gorro e botas, fechado na frente, com mangas longas e punhos. Deve usar ainda luvas cirúrgicas, óculos panorâmico de segurança e respirador classe P3. As soluções preparadas devem ser colocadas em recipientes impermeáveis rígidos, com tampa, e transportados até o local de administração em carrinhos, de modo a prevenir quebra e/ou vazamentos. O trabalhador deve estar adequadamente equipado. O lixo contendo antineoplásicos deve ser coletado em lixos resistentes à perfuração e a vazamentos de líquidos ou vapores, os quais são colocados em sacos de plástico grosso, identificados como lixo tóxico e conduzidos à incineração. O lixo contaminado com esses agentes não deve ser misturado com outro material a ser descartado. A desativação química do material contendo resíduos de antineoplásicos só deve ser feita por pessoal habilitado e devidamente treinado. A estocagem deve ser feita em prateleiras com proteção frontal, desenhadas especificamente para AN02FREV001/REV 4.0 95 produtos perigosos, para prevenir quebras e vazamentos. Os agentes termolábeis devem ser guardados em geladeira, separados dos demais medicamentos e devidamente identificados. As normas escritas de manipulação e procedimentos técnicos de segurança devem ser colocadas em local de fácil acesso aos trabalhadores de antineoplásicos e sempre que houver dúvidas, as mesmas devem ser dirimidas. Deve-se desenvolver uma política de aderência dos trabalhadores ao programa de segurança do trabalho. A farmácia deve possuir documentos que contenham informações sobre a toxicidade aguda, tratamento em caso de exposição acidental, inativadores químicos e características fisioquímicas dos antineoplásicos manuseados. É preciso desenvolver atividades de treinamento e educação de todos os trabalhadores envolvidos com antineoplásicos. Os trabalhadores expostos devem relatar, em fichas individuais, os acidentes de trabalho, nomeando os antineoplásicos envolvidos e a forma de exposição. 16.5 CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÃO DOS ANTINEOPLÁSICOS Agentes químicos usados no tratamento do câncer para inibir o crescimento celular, atuando sobre as moléculas que controlam a divisão e o desenvolvimento das células. O grupo farmacológico dos antineoplásicos inclui diversos agentes que atuam por mecanismos complexos, por meio de interações desses com o ácido desoxirribonucleico (DNA), ácido ribonucleico (RNA) e proteínas. Apesar do processo de interação não estar bem esclarecido, sabe-se que os agentes antineoplásicos atuam de forma semelhante à irradiação ionizante. Eles não destroem diretamente as células cancerígenas, porém, impedem e/ou diminuem a habilidade de replicação do DNA, não possuindo ação seletiva sobre os tecidos neoplásicos e apresentando efeitos cumulativos. O efeito antineoplásico é dependente da ação citotóxica, afetando indistintamente tanto as células normais quanto às células alteradas, especialmente AN02FREV001/REV 4.0 96 aquelas que se dividem rapidamente, como as da medula óssea, epitélio gastrointestinal, pele folículo piloso, epitélio germinativo das gônadas e as estruturas embrionárias. Os pacientes terapeuticamente expostos a esses agentes podem apresentar reações adversas, como náuseas, vômitos, alopecia, hiperpigmentação, reações cutâneas e efeitos tóxicos em diversos órgãos: coração, rins e pulmões. A classificação dos antineoplásicos é feita de forma empírica, com base no mecanismo de ação sobre o ciclo de reprodução celular. Estão distribuídos entre os grupos: Agentes Alquilantes Constituem um grupo de várias substâncias químicas, cuja característica comum é a alquilação do DNA. As células expostas a um agente alquilante têm átomos de hidrogênio substituídos por um radical alquil, resultando em ligação cruzada e formação de bases anormais nas moléculas de ácido desoxirribonucleico (DNA). Entre esses estão mostarda nitrogenada, ciclofosfamida, ifosfamida, bussulfano, carmustina, estreptozocin, dacarbazina. Todos os antineoplásicos da classe dos alquilantes apresentam reações adversas sobre o sistema reprodutivo, causando amenorreia muitas vezes permanente, particularmente em mulheres com idade próxima à menopausa e, no homem, pode causar azospemia irreversível e oligospermia. Podem causar efeitos irritantes por contato direto com a pele e, dependendo da intensidade da lesão, podem produzir efeitos sistêmicos. São agentes de atuação inespecífica, isto é, atuam em qualquer fase do ciclo de reprodução celular. Agentes antimetabólicos Constituído por fármacos que interferem em diversos processos metabólicos celulares, resultando em interrupção da síntese de ácidos nucleicos. Podem agir por duas maneiras: por incorporação do fármaco em substituição a um constituinte normal da célula; ou por inibição de uma enzima do metabolismo celular. Os efeitos tóxicos originados da ação dos antimetabólitos se manifestam por meio de náuseas, mielossupressão grave, estomatite e alopecia moderada. AN02FREV001/REV 4.0 97 Entre os agentes antimetabólicos estão o metotrexate, 5-fluorouracil, citarabina, tioguanina, mercaptopurina. Estes agentes são tóxicos para todas as células normais, especialmente as que se dividem rapidamente, com potencial teratogênico e mutagênico, e quando administrados por tempo prolongado pode levar à cirrose e a fibrose hepática. Antineoplásicos naturais O grupo dos antineoplásicos naturais é formado por alcaloides derivados da vinca, etoposido e teniposido, antibióticos e paclitáxel. Estas substâncias são agentes ciclocelulares específicos que bloqueiam as células em mitose. As atividades biológicas desses fármacos estão na capacidade de ligar-se tubulina, interferindo no funcionamento dado pelo sistema de microtúbulos, que é um dos componentes do fuso mitótico. Por meio da destruiçãodos microtúbulos, a divisão celular é detida na metástase. A ação tóxica mais importante é a mielossupressão e toxicidade neurológica. O etoposido e o teniposido estão classificados dentro do grupo dos agentes antineoplásicos naturais, por serem fármacos semissintéticos derivados da podofilotoxina. Esses agentes ligam-se à tubulina em locais diferentes daqueles usados para interação com os alcaloides da vinca. Seu mecanismo de ação parece estar relacionado com a ruptura da alça dupla do DNA. Seu efeito principal ocorre na fase terminal S e inicial G2 do ciclo de reprodução celular. Foram observadas duas diferentes respostas em função da dose: Em altas concentrações – foi observado lise das células entrando em mitose; Em baixas concentrações – foi observado que as células são inibidas ao iniciar a fase de prófase. O etoposido e o teniposido têm a sua ação citotóxica manifestada por leucopenia, trombocitopenia, neurotoxicidade, toxicidade hepática, febre, flebite, dermatite e reações alérgicas. Os antineoplásicos classificados como antibióticos resultaram da triagem de produtos antimicrobianos, que levaram à descoberta de diversos inibidores de crescimento celular, os quais se mostraram úteis no tratamento do câncer. Todos os antibióticos antineoplásicos, clinicamente úteis, são produtos semissintéticos, derivados de várias cepas, do fungo streptomyces. AN02FREV001/REV 4.0 98 Os antibióticos antineoplásicos dactininicina-D, daunorrubicina, doxorrubicina, bleomicina e mitomicina se ligam fortemente à dupla hélice do DNA, por meio da intercalação entre as bases púricas e pirimidínicas, interrompendo o prolongamento da cadeia de DNA e causando graves distorções cromossômicas. Essas distorções bloqueiam a síntese de novo RNA, do DNA ou ambos, provocando a ruptura das fitas de DNA e impedindo a duplicação celular. Os efeitos tóxicos são imunossupressão, cardiotoxicidade (aguda e acumulativa) e alopecia; e são vesicantes ao entrar em contato direto com a pele. Outros efeitos adversos são náuseas, estomatite e nefrotoxicidade. O paclitaxel promove formação e agrupamento anormal e a instabilização dos microtúbulos formados. Liga-se à subunidade beta-tubulina antagonizando a desmontagem dessa proteína, fazendo com que estruturas aberrantes apareçam nas células. Segue-se a parada da mitose podendo ocorrer morte celular. A ação citotóxica é manifestada por reações de hipersensibilidade ao fármaco, como rubor, dispneia, hipotensão, taquicardia, neurotoxicidade, cardiotoxicidade e hepatixicidade. Agentes diversos O grupo de agentes diversos é composto pelos antineoplásticos cisplatina, carboplatina, hidroxiureia, procarbazina, dacarbazina e mitutano, L-asparaginási. Esses compostos possuem um mecanismo de ação variado e pouco elucidado, agindo em fase inespecífica do ciclo celular. Interferem na duplicação do DNA, inibindo a multiplicação das células por meio de alterações cromossômicas em tecidos neoplásicos e em tecidos normais. Podem causar toxicidade neurológica, com efeitos cumulativos, como formigamento e entorpecimento das extremidades, náuseas, vômitos, anorexia, hiperuricemia, granulocitopenia, nefrotoxicidade, desequilíbrio eletrolítico e neutropenia. Inclui ainda leucopenia e trombocitopenia e imunossupressão. A procarbazina é altamente carcinogênica, mutagênica e teratogênica. Tem sido relacionada também infertilidade, particularmente em homens. O agente antineoplástico L-asparaginasi é uma enzima que, ao catalisar a hidrólise da asparagina circulante, priva essas células da asparagina necessária à síntese de proteína, podendo levar à morte celular. Os efeitos tóxicos mais significantes são de hipersensibilidade, hiperglicemia, anormalidades de coagulação e supressão da função imune. AN02FREV001/REV 4.0 99 16.6 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA AO PACIENTE ONCOLÓGICO A eficácia dos fármacos antineoplásicos é alcançada mediante o seu potencial citotóxico, indicando que pequenas variações nas doses podem gerar graves danos ao paciente. Se forem preparadas doses ligeiramente menores do que as prescritas, poderão não produzir o efeito esperado e, se as doses forem ligeiramente maiores, poderão gerar um quadro de toxicidade, que pode ser letal. As doses prescritas devem ser rigorosamente atendidas. Deve-se ainda considerar que os doentes portadores de câncer são imunossuprimidos, quer pela doença de base, quer pelo fármaco que lhe está sendo administrado. É necessário, portanto, a utilização de uma técnica rigorosamente asséptica para o preparo das soluções parenterais, contribuindo dessa maneira para evitar quadros de infecção e septicemia. O farmacêutico que atende ao paciente oncológico ajuda na detecção de sintomas indicativos de sobreposição de toxicidades. É aconselhável que o farmacêutico sugira a diminuição das doses de pelo menos um dos componentes do esquema terapêutico. É também aconselhável que o farmacêutico em qualquer situação acompanhe a evolução clínica do paciente se inteirando das reações colaterais significantes, verificar se o medicamento está sendo administrado no tempo prescrito pelo médico e a forma como está sendo acondicionado na clínica. FIM DO MÓDULO II
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