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ECL257 PDF 4

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0 
Em Busca da Conceituação de Livro Acessível 1 
 
Prof. Ms. Lívio Lima de Oliveira 
Doutorando pela ECA-USP e professor de Produção Editorial na Faculdade Editora Nacional 
– FAENAC 2 
 
Resumo 
 
Este artigo visa apresentar uma tentativa de conceituaçao de livro acessível, baseando-se na 
história do livro brochado (o mass market paperback) nos EUA e na Europa. Foi a partir dos 
1860 que aparece, no mercado editorial europeu, livros com acabamento mais simples e com 
preços mais baixos que os feitos até então. Isso graças às novas tentativas editoriais e às 
inovações tecnólogicas no mercado papeleiro e gráfico. Tal período (final do século XIX a 
primeiras décadas do XX) é chamado por alguns estudiosos de paperback revolution (ou 
revolução da brochura). No Brasil, infelizmente, as tentativas de edição de livros de preço 
acessível ainda são incipientes o que dificulta a conceituação desse produto no nosso país. 
 
Palavras-chave 
Livro de bolso, Livro de preço acessível, Mercado editorial brasileiro, História do livro 
 
A questão do livro como produto acessível é central neste trabalho. Acredito que torná-
lo acessível é mais uma maneira de garantir que o cidadão exerça efetivamente sua cidadania. 
Garantir o acesso a um meio diverso da televisão, do rádio e, atualmente, da Internet, é 
fundamental para a nossa sociedade, pois, entre outros benefícios, podemos ajudar a formar 
um público mais crítico. Em uma obra básica para o estudo do livro (A revolução do livro), 
Robert Escarpit observa que “como todas as revoluções, também esta tem causas múltiplas e 
complexas: explosão demográfica, difusão da educação, aumento da duração dos lazeres que 
propiciam a leitura”. Diz também que “em fins de 1964, a Conferência Geral da Unesco 
ressaltou a importância das publicações para a compreensão mútua e do desenvolvimento 
econômico e social. Reconheceu também a necessidade de reforçar a cooperação 
internacional no campo da edição e da difusão do livro e de estimular a sua publicação a preço 
baixo” (Escarpit, 1976: V). 
Nesta obra, Escarpit trata também da conceituação do livro: 
 
[...] A Conferência Geral da Unesco, de 19 de novembro de 1964, adotou uma “Recomendação 
relativa à normalização internacional das estatísticas da edição de livros e periódicos”. Há muito 
tempo preparada, esta recomendação – se respeitada por todos os países – deveria resolver o 
 
1 Trabalho apresentado ao NP 04 – Produção Editorial, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. 
2 Mestre pelo departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, sob orientação da Profa. Dra. Maria Otília Bocchini e 
doutorando no mesmo departamento. Professor de Planejamento Editorial, Produção Gráfica e Oficinas de Produção Editorial 
Impressa da Faculdade Editora Nacional – FAENAC. Produto Editorial da Editora Companhia das Letras. 
1 
problema a longo prazo, adotando definições uniformes. Livro é uma publicação não-periódica 
impressa, contendo um mínimo de 49 páginas, excluindo-se as capas. Folheto é uma publicação 
não-periódica impressa, contendo um mínimo de cinco e um máximo de 48 páginas, excluindo-
se as capas (idem: 35). 
 
Andrade também trata desse problema da conceituação e como ele atrapalha as 
estatísticas, remetendo a Escarpit: 
 
A conceituação do livro não é problema só nosso, e nem de fácil solucão. Escarpit, na obra que 
já referimos, mostra objetivamente a sua diferença em vários países, diferença que faz com que, 
por exemplo, a Índia, com um conceito extremamente liberal de livro, se apresente muito bem 
situada nas estatísticas internacionais, enquanto a Itália, com o seu conceito severo, ali 
compareça com números reais, porém aparentemente perdendo para o outro país, onde um 
simples folheto é considerado livro... Antes o autor já mostrara como a conceituação de livro é 
difícil. [....] Sem o estabelecimento de uma conceituação de livro, as estatísticas continuarão a 
nos deixar desarvorados no trato do assunto (Andrade, 1974: 69-70). 
 
Mas falar de livro acessível nos remete a vários pontos de vista. O que é o livro 
acessível? O garante essa acessibilidade? 
Diversos são fatores que influem nessa questão como, por exemplo, o que é um livro 
acessível para um cego? É um livro em braile. Para um brasileiro? É um livro escrito, 
preferencialmente, em português. Para um estudante de línguas? Um escrito na língua que ele 
está tentando aprender. O fator aí é a língua. E para uma criança? Tem de ser legível (de 
preferência diagramado com uma fonte de corpo grande), ilustrado (melhor ainda se for em 
cores), adequado ao seu tamanho (se for o livro for muito grande, é um adulto ou uma criança 
maior que terá que manuseá-lo). Para uma pessoa mais idosa, a produção do livro tem de 
levar em conta a questão dos problemas visuais que vão se acentuando com o tempo. 
Todos esses tipos de livros e de públicos acima descritos lerão livos impressos em 
papel? Essa é outra questão importante. Antigamente, não existia o papel, não existia a escola, 
não haviam professores (como os temos hoje), pois a leitura era uma atividade altamente 
intelectualizada. Não era para o povo. Dos primeiros registros pictóricos (em cavernas) ao 
aparecimento/invenção da escrita como sistema de comunicação muita coisa mudou. O livro, 
manuscrito ou impresso, nem sempre pode ser adquirido. Ele pode ser emprestado (um dos 
papéis da biblioteca) ou lido para várias pessoas (que não sabem ler)3. 
Foi preciso pensar em suportes para essa invenção. Letras/caracteres/ideogramas já 
pousaram sobre vários suportes diferentes: argila, papiro, pergaminho, couro (Diringer, 
 
3 “Nos meios populares também se pode encontrar uma mesma pluralidade dos usos do impresso – com a diferença de que 
em tais meios os impressos nem sempre são lidos. A leitura em voz alta feita por quem sabe ler para os que sabem menos 
bem ou nada constitui uma prática habitual, na cidade e no campo, por trabalho ou por lazer, ao acaso da rua ou entre 
companheiros de labuta” (Chartier, 1991: 155). 
2 
1982)4, papel e, por fim, bytes. O suporte, anteriormente “analógico” (desde os homens das 
cavernas até o livro impresso em papel), agora também tem sua versão “eletrônica” ou 
“digital” (caso do CD-ROM e do e-livro, invenções do final do século XX, cujo sucesso é ainda 
questionável devido à insignificância das vendas5 e à facilidade da pirataria). 
Então, vamos considerar que a acessibilidade do livro depende de certos fatores, tais 
como: a língua (o idioma), o público-alvo, a legibilidade (elementos gráficos que a 
diagramação deve privilegiar para que o texto fique legível), o suporte ou a matéria-prima 
[tipo de material que o editor utilizou para imprimir (já existem até livros de plástico que 
podem ser lidos debaixo do chuveiro6)], a finalidade (será usado na escola ou apenas para 
uma leitura de lazer?), entre outros tantos. Mas este trabalho vai centrar-se em dois desses 
fatores, o formato e o preço do livro, uma vez que há indícios que essas duas características 
liguem-se fortemente. 
A questão do formato do livro já foi bastante discutida. O formato é um dos fatores que 
acabam englobando outros: o seu estudo remete ao material utilizado na produção do livro, ao 
problema da legibilidade, ao local onde o livro deve ser guardado (a armazenagem), aos locais 
onde ele será vendido (distribuição e vendas). 
Em 1978, Walter Adolfo Voss, em um artigo intitulado “Aspectos dimensionais do 
assim chamado livro de bolso”, relatou seu estudo sobre a portabilidade conseqüente de 
livros, em que levanta os dados e analisa os fatores dimensionais que a determinam. Ele 
estudou 384 exemplares-amostras7 delivros de bolso (livros até 130x210 mm) em alemão, 
francês, português (Brasil e Portugal), espanhol (Espanha e países hispano-americanos) e 
inglês (Inglaterra e EUA) (Voss, 1978: 6-7). Vários desses livros são de coleções apresentadas 
na minha dissertação de mestrado, em um capítulo no qual traço um breve histórico do livro 
de preço acessível no mundo e no Brasil8. 
Para Voss, o livro de bolso é caracterizado pela sua portabilidade e pela sua facilidade 
de “sentar” na mão, o que faz da largura um item mais importante que a altura. A largura 
acaba também sendo responsável pela leiturabilidade (ou legibilidade), pois os livros com 
mancha de texto de no máximo 90 mm de largura, usanto tipos de 8 a 10 pontos tipográficos, 
garantem maior legibilidade (idem: 24-5). 
 
4 Diringer, David. The book before printing: Ancient, Medieval and Oriental. Nova York, Dover Publications, Inc., 1982. 
Interessante trabalho sobre o livro antes de Gutenberg. Nele, são apontados diversos suportes da escrita utilizados nas idades 
Antiga e Média (tanto no Ocidente quanto no Oriente). É uma reimpressão de um livro publicado em 1953, intitulado The 
Hand-Produced Book. 
5 The New York Times , “Forecasts of an E-Book Era Were, It Seems, Premature”, 28/08/2001. 
6 Jornal da Tarde, Variedades, “Que tal ler um livro embaixo do chuveiro?”, 12/11/2000. 
7 O autor conseguiu reunir esses livros através de contatos em livrarias e bibliotecas particulares (Voss, 1972: 26). 
8 Oliveira, Lívio Lima de. O livro de preço acessível no Brasil: o caso da coleção L&PM Pocket. 
3 
Após a análise, – o autor mostra, no artigo supracitado, diversos gráficos envolvendo 
larguras, alturas, manchas e formatos das coleções pesquisadas – Voss percebeu que, quanto 
às alturas dos livros, destacava-se nitidamente a medida de 180 mm e quanto às larguras dos 
livros, a maioria dos exemplares concentrava-se entre 106 e 120 mm.. 
E quanto ao formato (altura x largura) propriamente dito, notou diferenças nos livros, 
conforme sua procedência: 
– brasileiros, uma certa preferência pelas alturas de 160 a 180 mm e pela largura de 120 
mm; 
– portugueses, a preferência pelo formato 120x190 mm; 
– franceses, uma concentração nos formatos 110x165 mm, 113x180 mm e 120x187 
mm; 
– alemães, larguras médias de 114 a 116 e alturas de 180 a 190 mm, além de uma 
concentração nas alturas de 150 a 156 mm; 
– ingleses e norte-americanos, destacam-se as medidas 105 a 107 mm x 162 a 165 mm e 
105 a 111 mm x 176 a 182 mm (idem: 23-4). 
Assim, concluiu que há uma tendência para a altura de 180 mm, mas no caso da largura, 
as medidas variam bastante, mas propõe o formato 110x180 mm, como o formato médio do 
livro de bolso que oferecia ao usuário “um objeto cultural de fácil manuseio e de franca 
portabilidade” e beneficiaria também as gráficas, livrarias, bibliotecas e distribuidores. O 
autor chega a propor, com essa padronização, a elaboração de móveis e utensílios para receber 
esse tipo de livro de bolso e montar, por exemplo, bibliotecas pessoais portáteis. Além desse 
formato, chegou, pela tabulação gráfica, a outros: 105x150 mm, 106x162 mm, 109x170 mm e 
o “super bolso” 120x190 mm (idem: 25-6). 
Nesta pesquisa para a dissertação de mestrado, encontrei apenas dois trabalhos – em 
português – voltados para a questão do formato do livro bolso: o artigo já citado de Walter 
Adolfo Voss e outro de Edilberto Coutinho9, pois a bibliografia, em português, sobre essa 
questão do formato pareceu-me rara. Mas em inglês, existem diversos livros que mostram as 
primeiras tentativas de editar livros populares. Para essa popularização se tornar possível, 
alguns ajustes foram feitos: o acabamento foi modificado (o livro passa a ser brochado, já que 
até então era feito em capa dura) e o formato, reduzido. Isso fez com que o preço do livro 
baixasse consideravelmente. As primeiras tentativas nesse sentido começaram no final do 
século XIX e culminaram nos difíceis anos 1930. A bibliografia consultada chama esse 
período de Paperback Revolution (Revolução da Brochura): 
4 
 
In addition, they served as the forerunners fot what later became known as the “paperback 
revolution,” the worldwide production and distribution of inexpensive mass-marketed books, 
universally and widely available at prices most people could afford (Schreuders, 1981: 12). 
 
[…] Similarly, perhaps, the phenomenal growth of the paperback since the mid-1930s is not so 
much the result of a good idea (which was by no means new) being brilliantly put into practice 
by one person, and subsequently spreading to many parts of the world, as a development which 
had to happen as a reflection of, and a stimulus to, the great changes in society which we have 
seen since the end of the Second World War (Schmoller, 1974: 285). 
 
Entre os vários títulos consultados, há uma certa uniformidade em classificar as 
coleções, tanto brasileiras quanto estrangeiras, de mass market paperbacks ou livros de 
massa. Mas a diferença é que nos países desenvolvidos o mass market paperback foi um 
grande instrumento para aumentar o hábito de leitura de suas populações. São países com 
índices socioeconômicos absolutamente incomparáveis aos do Brasil e de outros países 
classificados comos “subdesenvolvidos”, “Terceiro Mundo” ou ainda “em desenvolvimento”. 
Steinberg classifica o livro brochado (tradução para mass market paperback) como “o 
primeiro exemplo genuíno do livro como meio de comunicação de massa” e “fenômeno do 
século XX”, mas é ciente de que como qualquer produto da indústria cultural esse tipo de 
livro sofra, pois “os métodos de distribuição de massa são tais que apenas os livros que se 
vendem constantemente permanecem em exposição” (Steinberg, 1972: 381-2). Na mesma 
obra, Kurt Enoch, um dos principais personagens da paperback revolution – tanto na Europa 
(quando atuou na Albatross) quanto nos EUA (responsável pela Penguin e pela New 
American Library10) – também acredita que “o freguês que procura determinados títulos não 
os encontra e o editor precisa contar muito mais com a compra que decorre do impulso do que 
com a compra que supõe a escolha” (idem: 392-3). E ainda sintetiza algumas características e 
funções sociais dos mass market paperbacks: 
 
Sobre os serviços prestados pelo livro: eles derivavam do fato dele não ter sido um meio de 
comunicação de massa, já que satisfazem a certos propósitos culturais que não são prontamente 
satisfeitos por nenhum outro meio, graças à simples qualidade da extensão. Essa extensão 
permite que o livro sirva a vários pontos de vista e formas de expressão cultural. Além disso, o 
livro está mais imune às pressões legais e econômicas que qualquer outro meio. 
Livros e democracia: a democracia precisa de governantes cuja visão não derive de alguns 
meios; para que essa visão seja completa é preciso contar com a experiência comum do 
significado fundamental da civilização ocidental que só os livros são capazes de transmitir. 
Quanto ao público de massa: “Por vulgarização entendo a degradação da qualidade que nasce 
da convicção às vêzes corrente de que o público de ‘massa’ possui o nível baixo de inteligência 
 
9 "O livro de bolso no Brasil", artigo de Edilberto Coutinho publicado na Revista do Livro, Brasília, n. 41, 1970, pp.85-91. 
10 A Albatross e a Penguin, européias, e a New American Library, norte-americana, foram algumas das editoras européias 
que, nas primeiras décadas do século XX, começaram a produzir livros a preços acessíveis (o mass market paperback). 
5e um gôsto barato; por uniformidade, a mesmice insôssa que provém da ilusão de que existe 
apenas um público de massa, para o qual só há uma fórmula bem-sucedida de atração”. 
Comparação com outros mass media: a deterioração de veículos como a televisão, cujo 
desenvolvimento deformou e aviltou seu significado ajudaram no crescimento e interesse do 
livro: objeto que, independentemente do preço, acabamento e canais de distribuição, precisa 
transmitir seu indispensável caráter essencial. 
Indústria do livro brochado: tem como desafio provar que o público de massa não é um público 
inferior e é capaz de digerir algo mais que a chamada subliteratura e que esse público é 
pequeno, se comparado com o do rádio, televisão e cinema, e é, ainda, heterogêneo, 
apresentando-se como desafio aos editores. 
Função do editor: se os editores de livros brochados forem capazes de contribuir para o objetivo 
de levá-los a milhões de leitores a baixo preço, sem sacrificar, nesse processo, a rija 
independência e a diversidade de pensamento ou a rica variedade que os livros sempre 
significaram, estarão participando de uma alentadora e significativa revolução cultural (idem: 
402-5, grifos meus). 
 
Nos anos 1950, uma discussão entre alguns profissionais do mercado editorial norte-
americano registrada pelo American Scholar Forum, mostra que existem opinões divergentes 
entre o paperback (o livro brochado, ou brochura) e o hardcover (o livro encadernado, ou em 
capa dura). Na época, uns achavam que aquele dominaria e excluiria este. Mas a maioria 
acredita que o paperback estava sendo o responsável pelo aumento do hábito de leitura e pela 
maior procura de livros e que o êxito desse tipo de livro empurrou quase todo o mercado 
editorial norte-americano na direção de uma indústria de massa e, assim, transformando-o, de 
fato, em um genuíno meio de comunicação de massas nos EUA (American Scholar Forum, 
1972: 406-38) 
Assim, a paperback revolution, responsável pela disseminação do mass market 
paperback, acabou criando um público leitor e consumidor nos EUA e na Europa, capaz, 
inclusive, de aceitar, com o decorrer do tempo, preços mais altos de livros com um melhor 
acabamento (caso do hardcover, ou capa dura). Mas isso só possível graças ao alto 
investimento (e ao risco nele contido) para que as suas coleções pudessem se tornar 
conhecidas nos países onde eram editadas e comercializadas. Para isso, imprimiam tiragens 
astronômicas e desenvolveram tecnologia para tal. Colocaram o livro nos mais diversos 
locais, igualando-o a uma caixa de fósforos ou a um maço de cigarro, em suma, vulgarizando-
o como um produto da indústria cultural. E essa vulgarização, para eles, funcionou. Foi um 
caminho para mostrar à população um tipo de produto que poderia ser adquirido sob um olhar 
descartável. 
Já no Brasil, as tentativas de se editar esse tipo de livro, que praticamente não dá pra 
chamar de mass market paperback, foram, na maioria das vezes, efêmeras. Tiveram, sim, um 
período de sucesso, mas, por vários fatores acabavam. O investimento aqui não tinha como 
ser o mesmo que o do exterior. As tiragens sempre foram bem mais modestas. No caso da 
6 
coleção “L&PM Pocket” – objeto de estudo de minha dissertação de mestrado –, as tiragens 
médias são de 2.000 exemplares por título. 
Dentre os personagens brasileiros dessa história do livro de preço acessível temos Pedro 
da Silva Quaresma – que conseguiu vender porque produziu os livros que o povo realmente 
queria comprar e sabia ler –, Henrique Bertaso – que apostou em uma linha editorial mais 
intelectualizada, já que estava sediado em um estado com melhores índices educacionais, o 
Rio Grande do Sul e, mesmo a preços módicos, não conseguiu vender bem. Cada coleção ou 
tentativa tinha sua história particular11. 
Para alguns editores, os livros de bolso nada mais são que uma maneira rápida e barata 
de se livrar de encalhes de estoque. Osman Lins cita, em “Frankfurt e a Feira”, alguns 
diálogos entre editores estrangeiros, falando do que fazer com refugos: 
 
Ugné Karvelis, da Gallimard: 
– Livros nos quais o departamento de vendas apostava, não se venderam tanto assim. E já não se 
vendem absolutamente. E autores nos quais eles não acreditavam, agora se vendem bastante 
bem. 
Maurice Nadeau, de Lettres Nouvelles/Denoel: 
– Autores que eu lancei e que então eram considerados inacessíveis, hoje são publicados em 
livros de bolso. (Lins, 1977: 118). 
 
Já Hallewell, cita o livro de bolso como uma das soluções para maior venda e acesso ao 
livro. 
 
O livro de bolso descartável, exposto à venda em lugares onde se vendem outras mercadorias, 
atrai a atenção pela sua capa vistosa (ou sensasional) e custa tão pouco que o leitor sente que 
pode permitir-se “correr o risco” de comprá-lo, e jogá-lo fora se não lhe agradar. Como 
assinalamos acima, isto ainda está para acontecer no Brasil (Hallewell, 1985: 573). 
 
Marshall McLuhan não faz uma definição de livro de bolso, mas acredita em um caráter 
portátil do livro. “Assim como a pintura de cavalete desinstitucionalizou a pintura, assim a 
tipografia quebrou o monopólio das bibliotecas” [...] “é desejo muito natural de se ter 
facilmente livros à disposição, e livros de formato cômodo e portáteis”, mas adverte que esse 
caráter portátil “muito contribuiu para o novo culto do individualismo” (McLuhan, 1972). 
Em suma, conceituar o livro de preço acessível nos EUA e na Europa não é tarefa tão 
árdua, já que existe um classificação feita por grande parte dos estudiosos: o mass market 
paperback (para os ingleses e norte-americanos) ou o livre de poche (para os franceses), o 
taschenbuch (para os alemães), o libro tascábile (para os espanhóis). Nesse caso, falamos de 
 
11 Para detalhamento do histórico do livro de preço acessível no Brasil e no mundo, consultar O livro de preço 
acessível no Brasil: o caso da coleção “L&PM Pocket”. 
7 
países que já têm sua economia consolidada, o formato e o preço desses livros sempre são 
medidas diretamente proporcionais. Mas no Brasil, a história é outra, pois como a situação 
econômica nunca é das melhores, o livro, independentemente do tamanho, não é um produto 
de consumo certo para a massa. Assim, preço baixo e formato pequeno não quer dizer certeza 
de acessibilidade. Na Europa e nos EUA, o binômio é perfeito, mas no Brasil, nem sempre dá 
certo. 
 
Referências bibliográficas 
 
AMERICAN SCHOLAR FORUM. “O futuro dos livros nos Estados Unidos” in: STEINBERG, 
Charles S. (org.). Meios de comunicação de massa. São Paulo : Cultrix, 1972, pp. 406-38. 
 
ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro: progressos e problemas – 1920-1971. Rio de 
Janeiro : Paralelo; Brasília : INL, 1974. 
 
CHARTIER, Roger. “As práticas da escrita”. in AIRÈS, Philippe & CHARTIER, Roger (org.). 
História da vida privada: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo : Companhia das Letras, 
1991. 
 
COUTINHO, Edilberto. “O livro de bolso no Brasil” in: Revista do Livro , Brasília, n. 41, 1970, 
pp.85-91. 
 
DIRINGER, David. The book before printing: Ancient, Medieval and Oriental. Nova York : 
Dover Publications, Inc., 1982. 
 
ENOCH, Kurt. “O livro brochado: um fenômeno editorial do século XX” in: STEINBERG, Charles S. 
(org.). Meios de comunicação de massa. São Paulo : Cultrix, 1972, pp. 381-405. 
 
ESCARPIT, Robert. A revolução do livro. Editoda da FGV/INL-MEC : Rio de Janeiro : 1976. 
 
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo : T. A. Queiroz/Edusp, 1985. 
 
LINS, Osman. Do ideal e da glória: problemas inculturais brasileiros. 3a ed. São Paulo : Summus 
Editorial, 1977. 
 
MCLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutengerb: a formação do homem tipográfico. São Paulo : 
Nacional/Edusp, 1972. 
 
OLIVEIRA,Lívio Lima de. O livro de preço acessível no Brasil: o caso da coleção L&PM Pocket. 
Dissertação de mestrado apresentada à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São 
Paulo. São Paulo : 2002. 
 
SCHMOLLER, Hans. “The paperback revolution” in: BRIGGS, Asa (ed.). Essays in the history of 
publishing in celebration of the 250th anniversary of the House of Longman – 1724-1974. 
Londres : Longman, 1974 
 
SCHREUDERS, Piet. Paperbacks, U.S.A.: a graphic history – 1939-1959. San Diego : Blue 
Dolphin, 1981. 
 
STEINBERG, Charles S. (org.). Meios de comunicação de massa. São Paulo : Cultrix, 1972. 
8 
 
VOSS, Walter Adolfo. “Aspectos dimensionais do assim chamado livro de bolso” in: Estudos 
Leopoldinenses, ano 13, v. 13, n. 44, Universidade do Vale do Rio dos Sinos : São Leopoldo, 1978. 
 
The New York Times, “Forecasts of an E-Book Era Were, It Seems, Premature”, seção 
“Business/Financial Desk”, David K. Kirkpatrick, Terça-feira, 28/08/2001. 
 
Jornal da Tarde, Variedades, “Que tal ler um livro embaixo do chuveiro?”, 12/11/2000.

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