Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gabarito AD1 – 2017/1 Questão 1 (Valor: 5,0) – Sobre a aula 01 – Em linhas gerais, uma análise histórica concentra seu olhar, sobretudo, em apresentar ao leitor as condições de produção de uma obra literária, de modo a demonstrar, por exemplo, como as situações histórico-sociais contribuíram para determinar a existência do texto tal como ele se apresenta. Uma abordagem historiográfica, por sua vez, preocupa-se fundamentalmente em observar o modo pelo qual o escritor, através do emprego de imagens poéticas do cotidiano, constrói seu discurso literário. A partir desses apontamentos sobre história e historiografia da literatura, leia e analise a crônica a seguir. Em sua análise, utilize os princípios das duas abordagens. A polícia suburbana (Lima Barreto) Noticiam os jornais que um delegado inspecionando, durante uma noite destas, algumas delegacias suburbanas, encontrou-as às moscas, comissários a dormir e soldados a sonhar. Dizem mesmo que o delegado-inspetor surripiou objetos para pôr mais à mostra o descaso dos seus subordinados. Os jornais, com aquele seu louvável bom senso de sempre, aproveitaram a oportunidade para reforçar as suas reclamações contra a falta de policiamento nos subúrbios. Leio sempre essas reclamações e pasmo. Moro nos subúrbios há muitos anos e tenho o hábito de ir para a casa alta noite. Uma vez ou outra, encontro um vigilante noturno, um policial e muito poucas vezes é-me dado ler notícias de crimes nas ruas que atravesso. A impressão que tenho é de que a vida e a propriedade daquelas paragens estão entregues aos bons sentimentos dos outros e que os pequenos furtos de galinhas e coradouros não exigem um aparelho custoso de patrulhas e apitos. Aquilo lá vai muito bem, todos se entendem livremente e o Estado não precisa intervir corretivamente para fazer respeitar a propriedade alheia. Penso mesmo que, se as coisas não se passassem assim, os vigilantes, obrigados a mostrar serviço, procurariam meios e modos de efetuar detenções e os notívagos, como eu, ou os pobres-diabos que lá procuram dormida, seriam incomodados, com pouco proveito para a lei e para o Estado. Os policiais suburbanos têm toda a razão. Devem continuar a dormir. Eles, aos poucos, graças ao calejamento do ofício, se convenceram de que a polícia é inútil. Ainda bem. (Publicado originalmente no Correio da Noite em 28-12-1914.) Ao apresentar-nos uma imagem do subúrbio carioca nas primeiras décadas do século XX, a crônica em questão pode ser lida como um registro particular acerca da cidade do Rio de Janeiro; mais especificamente, compreende-se como a violência (ou a ausência dela) e a atuação da polícia em uma região pouco valorizada socialmente eram percebidas por Lima Barreto em determinado momento histórico. A despeito dessa “função” histórica, é imperativo destacar, também, o olhar do escritor para o prosaico, valorando-o ao transformá-lo em matéria principal de seu texto. Ademais, a linguagem simples (porém justa) empregada pelo autor de Clara dos Anjos se coaduna perfeitamente à abordagem do tema cotidiano. Questão 2 (Valor: 5,0) – Sobre a aula 8 – Com base nas discussões desenvolvidas na Aula 8, podemos verificar que na obra A Literatura no Brasil é flagrante o emprego de conceitos e formas de estudo próprios da historiografia, a começar pela própria divisão dos volumes, feita com base em “eras”. Por que essa questão se constitui como uma contradição em relação ao projeto da coleção dirigida por Afrânio Coutinho? A contradição se deve ao fato de Afrânio Coutinho ambicionar, inicialmente, empreender uma análise que valorizasse a qualidade estética das obras estudadas, mas apresentar, na verdade, uma leitura de caráter historicista, que destaca aspectos extrínsecos aos textos, tais como o contexto em que foram produzidos e/ou a biografia de seus autores.
Compartilhar