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Segunda Guerra Mundial(Milagre em Midway)

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De Abril a Junho de 1942
 
Milagre em Midway
 
 
Tópicos do capítulo:
 
Preparação da resposta a Pearl Harbor
18 de abril: o Coronel Doolittle bombardeia Tóquio
Cai Cingapura. Os japoneses avançam sobre o Ceilão
O Almirante Nagumo dá meia-volta
Na Nova Guiné, MacArthur prepara seu exército
7 de maio: Batalha do Mar de Coral
Capitulação de Bataan e Corregidor
Midway, atol solitário e ponto estratégico de escolha
3 de junho: uma escolha para os marinheiros japoneses
A aviação americana em perigo
O Almirante Spruance sabe assumir seus riscos
A esquadrilha perdida do Comandante Waldron
O Segundo-Tenente Gay, único sobrevivente
Afundados o Kaga, o Soryu e o Akagi
Morte do Almirante Yamagushi e do Comandante Kaka
4 de junho: vitorioso de manhã, o Japão está vencido à tarde
 
 
 
Vingança
 
A primavera de 1942 representa para o Japão um desses ápices de plenitude e de alegria que as nações atingem, cada uma por sua vez, durante períodos breves e fugazes. Atenas depois de Salamina, a Inglaterra depois de Blenheim, a França depois de Lena, a Alemanha depois de Dunquerque.
 
A impressão de invencibilidade resulta do consentimento do adversário e exerce sobre este um efeito paralisante. Aos vencedores nada parece impossível; aos vencidos todas as suas tentativas parecem fadadas ao fracasso.
 
Segundo o calendário de guerra japonês, a conquista do Sudeste Asiático devia exigir cinco meses; foi resolvida em três; de 7 de dezembro (Pearl Harbor) a 7 de março (capitulação de Java). Seis meses estavam previstos para a recuperação das instalações mineiras e industriais: a terra foi tão superficialmente queimada que um terço desse prazo bastará. O preço pago por tais resultados grandiosos é incrivelmente baixo. O Exército conta menos de 5.000 mortos. A Marinha perdeu apenas 23 unidades, das quais a maior é um destróier. Consideravam-se as vitórias alemães obras-primas de economia e de rapidez. As vitórias japonesas as obscurecem.
 
A primeira nuvem tolda o brilhante sol nipônico no dia 18 de abril O sangue de Pearl Harbor clamava por vingança. A audácia de um submarino japonês, emergindo diante de Los Angeles e canhoneando a costa californiana, pela primeira vez na sua história, permanecia impune. Roosevelt perguntou ao Almirante King se era possível exercer represálias bombardeando Tóquio. Nada mais difícil. Nenhum avião naval se prestava a essa missão. Resolveu-se o problema que consistia na decolagem de bombardeiros terrestres de um porta-aviões, mas o problema que consistia em recolhê-los ficou insolúvel. Era preciso, assim, que o reide terminasse em um território amigo. Na Rússia, era impossível, em virtude de sua neutralidade prudente em relação ao Japão. Quem sabe na China? Mas a conservação do segredo proibia comunicar a Chiang Kai-chek por que lhe pediam que acolhesse bombardeiros americanos. Cheio de desconfiança, ele acabou designando cinco áreas, umas perigosamente próximas às zonas japonesas, outras perigosamente longe, no interior do China. Características e condições de aproximação desconhecidas. A operação pretendida por Roosevelt consiste em fazer levantar vôo, de uma pista de convés demasiadamente estreita, bimotores carregados de 10.400 kg; em percorrer 800 km sobre o mar inimigo; em atacar, sem cobertura dos caças, uma cidade poderosamente defendida e, depois, em percorrer ainda 1.100 km, para finalmente aterrar no desconhecido!
 
Apesar de tudo, os preparativos começam. Voluntários são requisitados, nos três grupos de bombardeio, para uma missão excepcionalmente perigosa: apresentaram-se 200, são selecionados 80. Constituirão as tripulações dos 16 B-25 que foi possível amontoar sobre o mais moderno dos porta-aviões, o Hornet. O treinamento dos aviadores e a preparação dos aparelhos começaram na Flórida e prosseguem na Califórnia. O material bélico é retirado, a fim de dar lugar à instalação de reservatórios suplementares, mas são montadas metralhadoras de madeira, para intimidar os caças inimigos.
 
No dia 1o de abril, o Hornet transpõe a Golden Gate com sua carga de homens e de máquinas. Um porta-aviões de escolta, o Enterprise, que partira das ilhas Havaí, reúne-se a ele, no dia 13 de abril, com quatro cruzadores, 8 destróieres e dois tankers. O almirante que comanda a expedição é William Halsey. O aviador que conduzirá os bombardeiros é o Tenente-Coronel James Doolittle, californiano de nascimento, diplomado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, engenheiro e piloto de ataque.
 
No dia 18, às 2 horas da manhã, os radares da esquadra captam a aproximação de dois navios. Pela manhã, e não sem um excesso de munições, o cruzador Nashville afunda um desses importunos, o patrulheiro Karita Maru. A Task Force sabe, pois, que está descoberta. Encontra-se ainda a 800 milhas das costas japonesas, da qual contava aproximar-se durante o dia, para lançar seus aviões ao pôr do sol. Halsey propõe renunciar ao ataque, mas Doolittle recusa. Aceita o risco da distância suplementar e a mudança de um bombardeio planejado para a noite em um ataque diurno.
 
O primeiro avião, o de Doolittle, decola às 7h25, sobre um mar turbulento que cobre de nevoeiro a pista de vôo. O décimo sexto atinge os ares uma hora depois.
 
Está combinado que os 13 primeiros bombardearão Tóquio e Iocoama, enquanto os três últimos se dividirão entre Osaca, Cobe e Nagóia. São cartões de visita que os Estados Unidos depositam no Japão.
 
Doolittle e seus 12 comandados apresentam-se sobre Tóquio ao meio-dia em ponto. Um exercício aéreo acaba de terminar. Os aviões americanos são tomados por japoneses. Apenas um aparelho é atingido por uma DCA tardia. O bombardeio se faz em vôo rasante. Os objetivos visados formam uma linha impressionante de arsenais, de casernas, de docas, de refinarias, de siderúrgicas, etc, mas foi sempre impossível estabelecer a natureza e a extensão dos prejuízos causados. Um providencial vento de popa ajuda os atacantes a afastarem-se, compensa, de certo modo, a distância suplementar que tiveram que percorrer. O fim da incursão não é, contudo, menos difícil nem menos perigoso. Apenas um aparelho aterra em um aeródromo: em Vladivostok; a tripulação é internada. Dos outros 15 aparelhos, 11 tem sua tripulação salva pelos pára-quedas e quatro caem. Apenas três aviadores morrem neste brutal retorno à terra, mas as tripulações dos Tenentes Hallmark e Farrow, capturados pelos japoneses, são condenados à morte por uma corte marcial. Os dois comandantes de bordo são executados, e também o sargento bombardeador, que confessou, sob tortura, ter visado voluntariamente uma escola.
 
O reide em si foi custoso, pelos resultados insignificantes, mas gerador de um efeito moral considerável. “Doolit do it” torna-se um slogan americano, a promessa de represálias mais apropriadas ao insulto de Pearl Harbor.
 
 
 
O Japão dá as costas a Hitler
 
No momento em que um punhado de bravos fere sua capital, o Japão acaba de conquistar uma nova e fácil vitória. A Inglaterra esteve perto de um desastre mais grave do que a perda da Malásia.
 
Tendo caído Cingapura, a barragem é o Ceilão. Tenta-se febrilmente colocá-lo em estado de defesa. O Almirante Layton, cujos conselhos teriam evitado a tragédia do Prince of Wales, é nomeado comandante da ilha. O Almirante Somerville é nomeado comandante da esquadra. O Almirantado lança mão de seus últimos recursos financeiros para fornecer-lhes navios. Dá-lhe dois porta-aviões grandes e um pequeno, Indomitable, Formidable e Hermes. Dá-lhe o invulnerável Warspite, curado de suas avarias do Mediterrâneo, e acrescenta ainda a estes os antiqüíssimos quatro “R”, Resolution, Ramillies, Royal Sovereign e Revenge, cujo enquadramento é um problema antigo. Dois cruzadores com peças de 8 polegadas, cinco cruzadores com canhões de 6 polegadas, entre os quais o holandês Heemskerck, 16 destróieres e 7 submarinos completam este conjunto de quilhas heterogêneas.Uma base secreta, chamada T é preparada nas ilhas Maldivas. Realmente é o limite doe esforço naval que a Inglaterra pode fazer a este de Suez.
 
No dia 2 de abril, a força de ataque do Almirante Nagumo sai do mar de Java e penetra no Oceano Índico.
 
Desde Pearl Harbor, a força ofensiva do Almirante Nagumo, pôs em seu ativo o aniquilamento-relâmpago de Darwin. Conta agora com 5 porta-aviões, 4 couraçados, 3 cruzadores e 8 destróieres, e constitui, sem contestação, no mundo, a esquadra mais coroada de glórias. Enquanto singra em direção ao Ceilão, uma força naval, comandada pelo Almirante Ozawa, composta de um porta-aviões, 6 cruzadores e 8 destróieres, atravessa o golfo de Bengala e dirige-se a Calcutá.
 
Nas águas que foram tão ciumentamente inglesas, diante de um subcontinente ainda considerado como o pedestal do Império Britânico, o poderio de um povo de cor acaba de realizar majestosa entrada.
 
Na Índia, a situação é estranha. A enorme massa humana não saiu do seu torpor. Dezenas de milhões de homens ignoram que uma grande guerra está em curso e que se aproxima deles. Milhares de soldados ingleses, centenas de funcionários da Indian Civil Service mantêm sem esforço a Pax Britannica. Os príncipes, reinando sobre 80 milhões de súditos, permanecem firmes na sua lealdade, e são eles que fornecem a maior parte dos dois milhões de voluntários que a Inglaterra incorpora aos seus exércitos. Mas as duas grandes expressões políticas da Índia, a Moslen League de Jinnah, o Congresso de Gandhi e de Nehru, recusam pronunciar-se a favor dela na sua luta contra as várias do totalitarismo. A ameaça que pesa sobre a Índia, sustentam eles, vem da presença inglesa: vão-se os ingleses, a Índia proclamará sua neutralidade e desaparecerá a ameaça. Outros ativistas sustentam que a causa indiana está ligada à causa hitlerista, atendendo à luta conduzida pela Alemanha contra os grandes impérios espoliadores. Chandra Bose, que se exilou para preparar um exército da libertação nacional, com a ajuda de Tóquio e Berlim, é o rei sem coroa de Bengala.
 
Um acontecimento como a aparição vitoriosa das armas japonesas pode provocar em toda a Índia abalos incalculáveis.
 
Estrategicamente, a marcha japonesa sobre o Ceilão implica em duas conseqüências imprevisíveis. A junção, através do Egito, de japoneses e alemães não está absolutamente fora de cogitação. De Colombo a Suez a distância é menor do que de Cobe a Colombo, e nenhum obstáculo comparável a Cingapura se levanta no caminho. A única barreira é a frota desaparelhada do Almirante Somerville. Se for destruída, nada impedirá Nagumo de ir estender a mão a Rommel. Nagumo procura essa frota. Mas, com habilidade Somerville se furta ao combate. Tem consciência da responsabilidade que pesa sobre ele. Resiste às exortações de Churchill, que, como sempre, prega a batalha. Mantém-se a leste do Ceilão, em torno de sua base secreta das Maldivas, de que, por uma sorte providencial, os japoneses não descobriram a existência. Depois de Pearl Harbor, depois de Darwin, os 300 aviões de Nagumo, maça terrível, castigam sem parar Colombo e Trincomalee. Encontram os cruzadores pesados Dorsetshire e Cornwall, o porta-aviões Hermes, o destróier Vampire, a corveta Hollyhock: mandam-nos ao fundo do mar. A esquadra de Ozawa, por sua vez, singra o golfo de Bengala, fecha o porto de Calcutá, isola a Birmânia, afunda ou captura 112.000 toneladas de navios mercantes. São perdas cruéis, humilhantes, em face das quais os ingleses não inscrevem nem mesmo a destruição de uma chalupa. Somerville, que dispensou seus quatro “R”, inúteis, escapa com dois porta-aviões às patrulhas aéreas que sulcam as paragens do Ceilão. Quanto tempo durará esta felicidade? E de repente, dá-se o milagre: Nagumo vai-se. Vai-se como vencedor. O Estado-Maior de Tóquio o chama, perfeitamente satisfeito com os resultados de seu cruzeiro, com as perdas que infligiu, com a cobertura dada à conquista da Birmânia, com a soberania potencial que afirmou no Oceano Índico. Na realidade, um brilhante sucesso mascara um erro irreparável. O Japão deixa a direção soberana da guerra. Abandona a ocasião de revolucionar a Índia, de arrastar o mundo árabe, de combinar sua ação com a dos seus aliados europeus. O cume de sua curva vitoriosa é atingido a 9 de abril, às 9 horas da manhã, ao largo de Trincomalee - diante da presa em mira que é o Ceilão! - quando Nagumo manda seus navios atracar em Cingapura.
 
A decisão do Estado-Maior imperial foi ditada pela combinação do espírito defensivo e da agressividade a todo o transe que caracteriza a estratégia japonesa. Tendo realizado as conquistas essenciais, o Japão pensa em protegê-las ao alargar o cinturão de segurança que as cerca. Ao sul, novo cinturão deve incluir a Nova Guiné, as ilhas Salomão, as Novas Hébridas, a Nova Caledônia e as ilhas Fidji. No centro, deve englobar Midway. Ao norte, deve morder o arco das Aleutas. É unicamente para o lado da América, direção do perigo, que se estende o novo boulevard líquido. Do lado oposto, lado de uma Inglaterra fraca e abalada, todo o perigo desapareceu. A linha de segurança, assim, não é deslocada. Continua fixa ao largo das ilhas de Sonda, do Sião e da Birmânia. A brilhante saída do Almirante Nagumo é uma demonstração sem amanhã.
 
De volta ao Pacífico, a força ofensiva se desmembra. Nagumo volta ao Japão com seus couraçados e três porta-aviões. Conduzindo o Zuikaku, e o Shokaku, o Contra-Almirante Tadaichi Hara segue o roteiro a sudoeste, para novos combates.
 
Chamas no Mar de Coral
 
O senso cênico de MacArthur é prodigioso. Qualquer outro general, havendo abandonado suas tropas como foi obrigado a fazê-lo, chegaria à Austrália debaixo de um complexo. Fez uma entrada de herói.
 
Habilmente, Roosevelt ajuda-o. A mais alta condecoração americana, a Congressional Medal of Honor, espera o general em Melbourne. A viagem perigosa que fez desde Corregidor, perdido nos seus pensamentos, encharcado pela grandes ondas, à mercê do mais insignificante destróier, torna-se instantaneamente uma epopéia. Marmóreo e sibilino, MacArthur afivela sua máscara de homem do destino. Encarna a vitória imanente, e a confiança renasce à sua volta.
 
Londres e Washington dividiram entre si a defesa do mundo. Três zonas estratégicas. Na zona Atlântico - Europa, a conduta das operações deve ser assumida em comum. Na zona Oriente Médio - Oceano Índico, a direção cabe à Inglaterra. Na zona do Pacífico, a responsabilidade pertence aos Estados Unidos. Estes estabelecem duas vastas subdivisões, Área do Oceano Pacífico e Área do Pacífico Sudoeste. Na primeira, as imensidões marinhas; na segunda, as grandes ilhas, a Austrália, a Nova Guiné, as Filipinas, a Indonésia. No comando da primeira, Nimitz. No da segunda, MacArthur.
 
Na Austrália reina um pessimismo negro. Os australianos calculam que lhes faltam, no mínimo, 25 divisões para defender sua ilha-continente. O máximo que lhes é possível levantar, sobre uma população de 7 milhões de pessoas, é uma dúzia. Contar com 15 divisões anglo-americanas seria quimérico. Os chefes de Estado-Maior encaram o abandono de todo o norte, de todo o oeste, para reconduzir a defesa sobre a linha Adelaide - Brisbaine, cobrindo o essencial dos recursos nacionais. O que representa ainda uma frente de 1.500 km, impossível de guarnecer!
 
MacArthur não aceita este estado absurdo. “A defesa da Austrália - diz - só é possível, vinda do exterior”. O baluarte a manter é a Nova Guiné, prolongada pelos arquipélagos de Bismarck e Salomão. Entram assim, na estratégia, terras incluídas entre as mais solitárias e menos conhecidas do mundo. A Nova Guiné é enorme e aterradora: 900.000 km², montanhas de 5.000 metros, extensões inexploradas, populações das mais primitivas do planeta. As outras ilhas são apenas pouco menos estranhas: altas montanhas, selvas terríveis, clima escaldante, os Canaques antropófagos. Uma luta inaudível, quase ignorada na Europa, vai desenrolar-se em uma regiãoque pela sua natureza e pela distância em que se encontra, parecia excluída de todo conflito. Em 1938, um inglês, sentindo chegar a guerra, decidira pôr-se ao abrigo de qualquer perigo: comprou uma plantação em Guadalcanal!
 
A primeira tarefa de MacArthur é organizar um exército. Não é simples. As fulgurantes vitórias japonesas e a passagem dos ex-isolacionistas à tese Pacific first! Não abalaram o princípio que dava a Hitler a vantagem na derrota. Quando, pelo canal de Curtin, Churchill recebe requisição para duas divisões e um porta-aviões britânicos, pergunta a Roosevelt quem esse General MacArthur pensa que é, pois parece ignorar as decisões interaliadas. Liderando o Corpo australiano, a Inglaterra encontra o meio de conservar na Líbia a 9a Divisão, por cuja ausência chora MacArthur. As novas formações australianas não são ainda utilizáveis por falta de armamento e de treino. Os Estados Unidos devem, pois, fazer um esforço. E o fazem. A 41a Divisão chegou. Chega a 32a, enquanto a 37a se dirige para a Nova Zelândia, onde o comando é exercido por Nimitz. Em meados de março, 34.000 americanos estão na Área do Pacífico Sudoeste e 23.000 em marcha. A primazia teórica da Europa não impede MacArthur de receber, de início, duas vezes mais homens e aviões do que a Inglaterra. Nem por isso se lamenta menos eloqüentemente, sublinhando sem trégua que a Europa pode ser negligenciada, enquanto que o Pacífico é primordial, fornecendo aos polemistas americanos um tema que levará muitos anos para esgotar-se.
 
Na Nova Guiné, a região perigosa, voltada para a Austrália, é a Papuásia. As montanhas selvagens de Owen Stanley Range reduzem sua importância ao litoral, mais precisamente à pequenina capital dos estabelecimentos australianos, Port Moresby. Rabaul, onde os japoneses se instalaram desde janeiro, está apenas a 500 milhas marítimas. A ocupação de Port Moresby dar-lhes-ia uma base de operações avançada, prepararia o isolamento, sustaria a invasão da Austrália. MacArthur e Nimitz estão de acordo, vendo nela o próximo objetivo inimigo.
 
Cerca de 15 de abril, as incertezas se dissipam. Grandes preparativos japoneses estão se desenvolvendo. Forças consideráveis se reúnem em Rabaul e na base temporária de Truk, arquipélago das Carolinas. O admirável Mar de Coral está designado para ser a arena. Estende-se entre as ilhas Salomão, a Nova Guiné e a Austrália. Sua Grande Barreira é uma das maravilhas do mundo. A mínima ilhota é cercada de formações de coral, cuja contemplação, do alto, é uma volúpia para os olhos. É num mar azul, mais luminoso e mais doce que o Mediterrâneo, que vai travar-se a primeira batalha pelo domínio do Pacífico.
 
Para esta batalha, os Estados Unidos dispõem de dois porta-aviões, o Yorktown e o Lexington. O primeiro encontra-se nas águas australianas desde fevereiro. O segundo, “Lady Lex”, antepassado de todos os flat tops americanos, chega de Pearl Harbor. A junção tem lugar no dia 1o de maio a 200 milhas da Nova Caledônia. O almirante do Yorktown, Fletcher, toma o comando por direito de antigüidade. Dispõe de 150 aviões, 11 destróieres e 8 cruzadores, entre os quais os australianos Australia e Hobart. Sua intenção é interceptar as forças de invasão, quando, vindas de Rabaul, contornarem a ponta da Nova Guiné, para entrar no golfo da Papuásia.
 
Mas o plano japonês é mais complicado do que pensam os americanos. Simultaneamente com Port Moresby, o Almirante Shigayoshi Inuye decidiu ocupar Tulagi, pequena ilha vizinha a Guadalcanal. A força de ataque, composta dos grandes porta-aviões Zuikaku e Shokaku, faz um gancho para oeste, contorna as ilhas Salomão, em vez de entrar diretamente no Mar de Coral. No dia 7 de maio, seus aviões caem sobre o grande petroleiro da US Navy Neosho e sobre sua escolta, o destróier Sims: afundam-no. Na tarde do mesmo dia, a sorte muda de campo: os bombardeiros e os torpedeiros do Lexington encontram o pequeno porta-aviões Shoho, guardião vigilante do comboio de desembarque, e, em cinco minutos, fazem dele um terrível buquê de chamas que afunda em um lençol de petróleo incendiado. No dia seguinte, depois de se buscarem por muito tempo, os grandes porta-aviões se encontram. Apenas o Zuikaku sai imune do choque. O Yorktown é atingido por uma bomba de 360 kg, que penetra até o quarto convés, mata 66 homens e desencadeia grave incêndio. O Shokaku, torpedeado e bombardeado, tem 108 mortos e, queimando furiosamente, se arrasta para longe do ringue. O Lexington recebe dois torpedos e várias bombas. Os danos são poucos, as avarias não parecem fatais, mas, no momento em que o oficial anuncia que a situação está resolvida, uma série de explosões devasta e abrasa o navio. O salvamento é um sucesso. Nem um homem se afoga, e, deixando o navio, em último lugar, o comandante Sherman leva seu cão nos braços. Um destróier dá o golpe de misericórdia em “Lady Lex”. Acabou a primeira batalha naval, na qual nem um só tiro de canhão foi dado sobre um navio de superfície.
 
Taticamente a vantagem é dos japoneses. Mas o comboio, levando as tropas destinadas a Port Moresby, deu meia-volta. O Almirante Inuye não julga possível recomeçar a tentativa. O Estado-Maior imperial abstém-se de forçá-lo. Novas considerações entraram em jogo. Yamamoto compreende que tem necessidade de uma vitória mais decisiva que a de ter posto fora de forma os velhos couraçados de Pearl Harbor. Concentra suas forças para alcançá-la. As operações excêntricas, como a conquista da Papuásia, são suspensas. O plano de Midway está maduro.
 
Enquanto isso, o canhão calou-se nas Filipinas. No dia 3 de abril, sexta-feira da Paixão, os japoneses atacaram, na medida de um contra dez, o setor este de Bataan. Fraca a defesa. Um tremor de terra juntou-se aos tiros da artilharia e da aviação para estabelecer o pânico nas linhas filipino-americanas. O comandante local, General Eward King, enviou, por um oficial, aos japoneses, a capitulação de Bataan, sem prevenir Wainwright, o qual, por sua vez, cometeu o erro de emparedar-se em Corregidor num momento de crise aguda. “Sei - diz King - que vou a conselho de guerra ao voltar ao Estados Unidos, mas a vida de meus 78.000 homens tem mais importância do que a minha...” Mais de 10.000 dos 78.000 homens que King procurou salvar, entre os quais 2.500 americanos, morrerão, aliás, em uma “marcha da morte” que, quatro anos depois, conduzirá ao patíbulo o General Homma, conquistador das Filipinas.
 
Corregidor sai-se melhor. Wainwright repele as intimações. Os japoneses esmagam a ilhota, com morteiros de grosso calibre. Embaraçado por centenas de feridos e por milhares de homens de nervos liquidados, o túnel de Malinta torna-se um lugar de demência e de agonia. No começo de maio, o inimigo desembarca com carros blindados. No dia 6, tendo esgotado todos os meios de defesa e obtido consentimento de Roosevelt, Wainwright se rende.
 
Uma armada contra um atol
 
No dia 26 de maio, começa a execução do plano de Midway. A mais formidável armada da história naval deixa os portos japoneses para vir propor um desafio à frota americana.
 
O Grande-Almirante Yamamoto conduz pessoalmente as operações. Arvorou seu pavilhão no colosso dos mares, o couraçado Yamato, cujas 63.000 toneladas e os canhões de 18 polegadas não tem equivalente em nenhum lugar. Está, no entanto, apreensivo e as dores de estômago de que se queixa provêm do seu moral. A reserva que manifestara, no meio da erupção de alegria nacional provocada pelo ataque de Pearl Harbor era muito bem fundamentada.
 
Nada saiu truncado, nesse golpe de audácia e de felicidade. O episódio do Mar de Coral provou que os Estados Unidos não estão riscados dos mares e que a Marinha gigante que eles constroem promete uma reviravolta no equilíbrio das forças. É preciso agir preventivamente, abrir caminho sobre as vagas, impedir, destruindo as primeiras, que as esquadras de hoje e as amanhã possam somar-se.
 
Como todos os planos japoneses, o de Yamamoto é complexo. O deslocamentoda Armada japonesa visa a dois objetivos convergentes para um fim comum. O primeiro objetivo é a ocupação das ilhas Aleútas: Attu, Kiska e Adak. O segundo objetivo é a conquista do atol de Midway. O fim comum é atrair a frota americana ao combate - para aniquilá-la.
 
Para as Aleútas, dirige-se a 5a Frota, do Almirante Boshiro Hosogaya. Consta dos porta-aviões ligeiros Ryujo e Junyo, mais 5 cruzadores e 2 comboios de desembarque. As ilhas visadas são altas terras estéreis, sepultadas num nevoeiro gelado, desprovidas de todo valor econômico ou estratégico, e a razão pela qual Yamamoto quer anexá-las às conquistas japonesas continua obscura. Supôs-se que ele preparava a invasão do continente americano - mas a ponta das Aleútas está a 3.000 km do Alasca, o que constitui um caminho de invasão totalmente impraticável. Na realidade, a estratégia japonesa se perde em meandros. Mostra-se inapta a esta concentração de esforços que constitui a essência da arte militar. A campanha das Aleútas é apenas um esmorecimento do esquema principal, a conquista de Midway.
 
Midway é semelhante a Wake. É um atol solitário, cuja vegetação se reduz a cardos retorcidos e cuja população constituiu, durante muito tempo, em hordas de pássaros marinhos, agressivos e barulhentos. A única diferença em relação a Wake resulta da sua situação: 1.000 milhas marítimas, em lugar de 2.000, o separam das ilhas Havaí. Uma força aeronaval baseada em Midway pode neutralizar Pearl Harbor e manter um território americano sob séria ameaça de invasão.
 
Em dezembro, Midway estava para ser tomado. Yamamoto censura-se por não tê-lo feito. Volta à carga, calculando que os Estados Unidos podem menos que nunca resignar-se à perda de uma posição tão importante. Defenderão Midway, e, se perdê-lo, quererão reconquistá-lo. A batalha naval geral, da qual o Japão tem necessidade, deve resultar deste fato.
 
Desde dezembro, as defesas do atol foram reforçadas. A comparação inusitada aplica-se de novo: Midway, Gibraltar do Pacífico. Nem por isso as forças são menos modestas e as condições menos árduas. A laguna é de acesso tão difícil, o ancoradouro exterior é tão perigoso, a superfície das duas ilhotas utilizáveis, Sand e Eastern, é tão reduzida que se atinge a saturação. Máquinas, armas e homens se amontoam. A composição da tropa é extraordinariamente heterogênea: aviadores do US Army, do US Marine Corps e da US Navy; o 6o Batalhão de marines, reforçado, 2.138 Leathernecks (pescoços de couro), sob o comando do Tenente-Coronel Harold Shannon; algumas centenas de Sea Bees (abelhas do mar), cujo apelido nasceu simplesmente das iniciais CB, Construction Battalions, designando suas unidades. As instalações materiais só podem ser defeituosas. A água doce está racionada. O álcool é proibido, mas forte, por ser clandestino. A promiscuidade, o vento, o barulho do mar, o concerto pungente dos pássaros, a poeira de coral, a impressão de estranheza e de absurdo abalam os nervos, provocam rixas que a SP, Shore Patrol, reprime, espancando imparcialmente os combatentes. Apesar de tudo, as realizações foram sérias. Eastern Island, ligeiramente maior que o convés de um porta-aviões, está recoberta por um triângulo de pistas aéreas. Reservatórios de gasolina foram escondidos sob o solo. Construíram-se armazéns, hangares, casernas, um hospital, uma central elétrica, uma unidade de destilação de água do mar. Vindo em inspeção, o grande chefe, o almirante do Pacífico, Chester Nimitz, encontrou a costa calçada de minas, bordada de lança-chamas, eriçada de arames farpados que se prolongam sob as vagas. Felicitou o comandante da ilha, o Capitão-de-Fragata Ciryl Simard e, regressando a Pearl Harbor, enviou-lhe esta informação: “Vocês serão atacados no dia 4 de junho...”
 
Como Nimitz sabe? Simplesmente porque, tendo descoberto o sistema de código japonês, os americanos continuam a decifrar as mensagens inimigas. A última dúvida era a significação de um certo grupo “AF” que designa o objetivo dos imensos preparativos em andamento. O commander Rochefort recorreu a um estratagema. Ordenou que fosse enviada de Midway uma mensagem clara, dizendo que o aparelho de distilação de água do mar estava avariado. No dia seguinte, o boletim de informações japonês assinalou que AF estava sem água doce. Os japoneses são menos espertos do que se imagina!
 
O dilema de Nagumo
 
Para a esquadra nipônica, a marcha sobre Midway parece uma reedição do roteiro para Pear Harbor. De novo a travessia é rude: ventos violentos, rajadas de chuva, vagalhões jogando-se a bordo dos cruzadores e destróieres. No dia 2 de junho, entra-se numa camada feita de nuvens baixas, de nevoeiro e cerração. A visibilidade torna-se tão má que se luta para encontrar os tankers, depois o funcionamento das caldeiras deve ser interrompido, devido aos riscos de colisão. A coordenação sofre com isso. O plano de informações falha. A frota submarina do Almirante Komatsu fora encarregada de estender uma cortina de observação. Não consegue fazê-lo, por falta de velocidade suficiente. Dois hidroaviões de reconhecimento deviam ser reabastecidos, por um submarino, no banco de coral de French Frigale Shoals, entre Midway e Oahu; a operação falha, porque French Frigale Shoals está vigiado por navios de guerra inimigos. Em sentido figurado, como em sentido próprio, Yamamoto mergulha no nevoeiro.
 
Mas as forças que tem sob seu comando são de tal poderio que nada parece ser capaz de pô-lo em perigo.
 
À frente, Nagumo conduz sua ilustre força de ataque. Tendo-se avariado o Shokaku, tendo-se tornado o Zuikako momentaneamente inútil, a batalha do Mar de Coral a reduziu a 4 porta-aviões: Akagi, Kaga, Hiryu e Soryu. Lança ainda no ar 250 aparelhos, pilotados pelas melhores tripulações do mundo, superiores numericamente e tecnicamente a todas as formações americanas correspondentes. Os couraçados Haruna e Kirishima, dois grandes cruzadores e 12 destróieres constituem as forças de apoio de Nagumo. Uma magnífica consciência de classe, a glória de serem os vencedores de Pearl Harbor anima as tripulações. O próprio almirante, dúbio e medroso no início da guerra, sente-se seguro, embora lhe aconteça ainda sucumbir a crises de cólera que expressam mais nervosismo do que energia.
 
Comandada pelo Almirante Kondo, a frota encarregada da conquista de Midway se aproxima do atol por um roteiro diferente. Subdivide-se num grupo de cobertura, um grupo de apoio direto, um grupo de desembarque, um grupo de transporte de hidroaviões e um grupo de caça-minas. Os couraçados Kongo e Hiei, 9 cruzadores, 20 destróieres e numerosas unidades auxiliares lhe asseguram um poderio de fogo que a neutralização dos defensores pelas esquadrilhas de Nagumo oferece as maiores oportunidades de tornar supérfluo.
 
Na retaguarda, como argumento supremo, avança a majestosa Grande Frota. Os modernos couraçados Nagato e Mutsu, formam, com o colossal Yamato, a primeira esquadra de linha. Os couraçados Ise, Hyuga, Fuso e Yamashiro formam a segunda. Três cruzadores leves, duas divisões de destróieres, o porta-aviões Hosho, irmão do Shoho, vítima do Mar de Coral, e o Shiyoda e o Nishin, navios-transportes de hidroaviões, completam essa guarda imperial do mar.
 
Independentemente dos navios destacados para as Aleútas, a frota japonesa dispõe, no total, de mais de 200 navios, entre os quais 11 couraçados, 5 porta-aviões, 22 cruzadores e 65 destróieres. Segundo os serviços de informações, as forças americanas do Pacífico são muito inferiores: no máximo 2 couraçados, 3 porta-aviões, 9 cruzadores e uns 30 destróieres. Muitos desses navios, entre os quais pelo menos 1 porta-aviões, não estarão em condições de participar de uma ação em Midway. O Japão tem diante de si apenas os destroços de Pearl Harbor.
 
No dia 3 de junho, o tempo piora ainda mais. A esquadra de porta-aviões penetra numa verdadeira coberta. Suas 26 unidades, navegando a intervalo de 600 metros, perdem-se de vista. É preciso reduzir a velocidade,para evitar colisões. A atmosfera de angústia que o nevoeiro gera no mar se insinua até as caldeiras. Os únicos que a isso escapam são os aviadores, que nada tem a fazer até o momento de se acomodarem nos seus cockpits, para jogar com a vida ou a morte. Seus refeitórios ressoam de risos e canções. Em contraste, no convés do Akagi, nave-capitânia, pesa um silêncio ansioso.
 
Dois grupos aí se formaram. A bombordo, perscrutando o nevoeiro, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Aoki, que comanda o porta-aviões, e seus oficiais de plantão. A estibordo, o Almirante Nagumo, cercado de seu estado-maior, com exceção do cérebro pensante, Minoru Genda, que um acesso de febre imobiliza num leito de enfermaria. Aproxima-se o instante decisivo. Amanhã, antes da aurora, Midway estará no alcance do canhoneio. Nagumo tem duas missões, que, sem serem contraditórias, exigem uma escolha. Uma consiste em esmagar o atol, a fim de permitir o desembarque. A outra consiste em por a pique a frota americana. Se esta encontrar-se nas proximidades, então a segunda missão terá prioridade e exige que os japoneses não se arrisquem, a não ser prudentemente. Se a frota americana, ao contrário, estiver longe, toda a carga de força, representada pelos 4 porta-aviões, pode e deve ser lançada contra Midway.
 
Nagumo consulta o chefe do seu serviço de informações, o Capitão-Tenente Furakawa: nenhuma novidade, exceto que se está ultrapassando a zona do mau tempo e que o céu está límpido sobre Midway. Nagumo consulta o chefe de seu estado-maior, o Almirante Kusaka: nada chegou da parte do Almirante Yamamoto, cujo Yamato, munido os mais poderosos radares, está a 600 milhas a oeste.
 
O chefe das operações, capitão-de-mar-e-guerra Oishi, assume em primeiro lugar a responsabilidade de dar opinião: “Nossas ordens prescrevem neutralizar Midway, para efetuar o desembarque, depois de amanhã, 5 de junho. Devemos manter-nos estritamente dentro delas, caso não nos chegue nenhuma informação sobre o inimigo antes do momento de atacar”. - Mas - pergunta Nagumo - onde está o inimigo?
 
“Se está em Pearl, e admitindo que tenha intenção de bater-se em Midway, tem 1.100 milhas a percorrer, e nós dispomos do tempo necessário para adquirir condições de recebê-lo. Em todo caso, não está perto daqui. Penso, assim, que nosso primeiro dever é executar a incursão prescrita contra Midway”.
 
Nagumo concorda. Como se o céu não esperasse senão tal decisão, o nevoeiro se dissipa. A noite traz as estrelas, pela primeira vez, desde o princípio da travessia. Às 2h45 da manhã, os alto-falantes tiram os aviadores de seus beliches. O convés dos porta-aviões se inunda de luz. Ressoa o barulho dos motores a esquentar. Às 4h30, Nagumo dá a ordem: “Atacar!”. Fachos verdes se acendem. Caças à frente, a primeira vaga jorra no céu ainda negro. Dentro de 15 minutos, 108 aparelhos estão no ar, giram um momento, como num vôo de grous, e aproam a Midway, distante 385 km. Já os elevadores roncam para erguer a segunda leva, torpedeiros e bombardeiros de mergulho, que ficarão de reserva, sobre os conveses de vão, prontos para qualquer eventualidade, até o momento em que a volta dos aparelhos, lançados contra Midway, os obrigue a baixar novamente aos seus hangares.
 
Ao mesmo tempo que os atacantes, também decolaram 7 hidroaviões de reconhecimento, partindo dos couraçados Haruna e Shikuma, do cruzador Tone e dos porta-aviões Kaga e Akagi. Cada um deve estender-se num ângulo de 20 graus. Não se julgou necessário aplicar o princípio da dupla patrulha, como se faz cada vez que a informação se reveste de interesse especial. Como diz o comandante Oishi, a frota inimiga não pode estar ao lado. Seria bom demais!
 
Por outro lado, o hidroavião do cruzador Tone tem dificuldades com seu motor. Os mecânicos o desmontam, no momento em que os outros aparelhos desaparecem no horizonte. Ínfimo detalhe!...
 
Para o Estado-Maior americano, Midway é um porta-aviões inafundável. Aí se amontoaram 121 aparelhos. Porém são mais notáveis pela sua heterogeneidade do que pelo seu número. Pertencem à Marinha, aos Marines e à Força Aérea. Fazem pensar mais numa exposição de máquinas volantes do que numa unidade de combate.
 
O grosso é constituído dos 32 hidroaviões PBY, entre os quais 5 Catalinas anfíbios, robustos e regulares, mas lentos e pesados. O grupo de caça é constituído por 20 Buffalos, antiquados, designados pelo apelido animador de “esquifes voadores”, e por 7 Wildcats, sensivelmente melhores. A mesma disparidade encontra-se nos bombardeiros de mergulho: 16 Dauntless mais ou menos aproveitáveis e 11 velhos Vindicators. Para falar realmente em aviação moderna, é preciso chegar a um pequeno grupo de 6 Avengers, torpedeiros da marinha, e principalmente à participação da Air Force: 4 B-26 Marauders e 19 B-17 Flying Fortress, os primogênitos dos grandes bombardeiros quadrimotores.
 
São 5h25 de uma bela manhã clara. Brisa delicada, força 3, visibilidade de 25 a 30 milhas. Midway está alerta, desde 3 horas da madrugada, as tripulações ao lado de seus aparelhos e muitos homens olhando seu último nascer do sol. Desde a véspera, 3 de junho, do alto de um Catalina, o suboficial Jewell Reid percebeu um comboio japonês, que alguns B-17 atacaram sem resultado. As primeiras notícias dos PBY que decolaram da laguna, antes da aurora, confirmam a importância da operação inimiga. O mar está coberto de navios e nuvens de aviões dirigem-se para Midway. O posto de radar da ilha confirma às 3h52: “Muitos aviões 89 milhas 320 graus”... A informação do Almirante Nimitz era boa.
 
Instantes depois, os milhares de pássaros de Midway erguem violento concerto de protestos: todos os seus congêneres mecânicos ganham o ar, numa algazarra intolerável. Os PBY e alguns enfermos recebem ordem de manter-se a distância. Os bombardeiros recebem ordem de atacar os navios inimigos. Os caças, ordem de cumprir suas obrigações de caças, defendendo Midway.
 
Batalha desigual. Os 36 Kates, bombardeiros de vôo horizontal, e os 35 Vals, bombardeiros de mergulho, são escoltados por 36 Zeros que sobrepujam os Buffalos e mesmo os Wildcats, mais ou menos como a águia sobrepuja o falcão. O Major Parks ordena que suas esquadrilhas se elevem a 5.180 m, na esperança de lançar-se sobre os bombardeiros, mas os Zeros tem tal superioridade, em rapidez e manejo, que alcançam os caças americanos e fazem uma devastação. Vinte e seis pilotos decolaram da pista de Eastern Island; apenas nove, dos quais apenas dois trazem um aparelho utilizável, obedecem, 25 minutos depois, à ordem: “Land and reservice”. Os outros morreram.
 
As duas ilhotas aparecem em chamas. Um reservatório queima, em fantástica coluna de fumaça. O hospital está destruído, várias construções estão destelhadas, crateras destripam o solo, mas as perdas efetivas são mínimas. As pistas de Eastern Island estão intactas e os defensores não tem uma arma de menos. As baixas em pessoal se reduzem a alguns mortos e feridos. Se não fosse o massacre dos Buffalos, o reide contra Midway teria falhado completamente. O oficial que o comanda, o Capitão-Tenente Joishi Tomonaga, tem tanta consciência disso que, regressando com 10 aparelhos a menos, faz-se preceder de uma mensagem: “Necessário segundo ataque”... Três palavras que vão desempenhar no destino do Pacífico um papel importante.
 
Nesse momento, 7h10, nova fase começa. Os bombardeiros americanos aproximam-se dos navios japoneses. Os PBY guiaram-nos aos porta-aviões, alvos altamente prioritários, mas poderosamente defendidos. A tática é atacar em grosso, todos ao mesmo tempo, para dispersar os caças inimigos. Infelizmente, os ataques são sucessivos, em vez de simultâneos, e, para a proteção de seus navios, Nagumo guardou uma parte de seus temíveis Zeros.
 
O primeiro grupo é o dos 6 Avengers, aviões torpedeiros. Voam ao nível da água, mas os Zeros destroem 5, antes que possam alcançar a distância para o lançamento. O sexto, com seu metralhador morto, de asas perfuradas, acabapor se espatifar nos arrecifes de Midway.
 
Em seguida vêm os quatro Marauders, da Força Aérea igualmente equipados como torpedeiros. Diante deles a DCA está compacta como uma parede e ouve-se o último grito de um piloto no seu microfone: “Oh, mamãe, se tu me visses!...” Dois dos Marauders voam em estilhaços. Dois escapam. Os mecânicos contarão em um deles mais de 500 impactos.
 
Às 7h55, meia hora depois do golpe sofrido pelos aviões torpedeiros, os Dauntless tentam a sua sorte. Em 16 pilotos, 13 são inexperientes; assim, o Major Lofton Henderson substitui o bombardeio de mergulho por um glide bombing, que, efetuando-se sob menor ângulo, requer menos destreza. A violência do fogo e a brutal intervenção dos Zeros, que mergulham em sua própria DCA, deslocam o ataque. Nenhuma bomba encontra seu objetivo e, a Midway, de cada dois Dauntless, não voltará senão um.
 
Mas, muito alto no céu, uma majestosa formação acaba de aparecer. As 15 Flying Fortresses do Tenente-Coronel Sweeney tem a palavra. Os Zeros sobem até aqueles colossos, experimentam a intensidade do fogo que parte deles, verificam a eficácia de seu ataque e guardam distância. Sweeney tem toda a tranqüilidade de espírito necessária para lançar seu tapete de bombas sobre os porta-aviões, imprudentemente agrupados. Gêiseres jorram do mar, recaem sobre os navios, fazendo com que os aviadores, lá em cima, acreditem que amputaram a frota inimiga. Mas, em plena batalha, o pequeno Almirante Nagumo anota no caderninho barato que traz consigo: “Não atingido”.
 
Acabou? Não inteiramente. Eis que chegam os atrasados da tropa, os 11 Vindicators, rebatizados Vibrators, para os quais um dos chefes da aviação formulou a seguinte regra: ‘Todo Vindicator em ação deve ser considerado como um avião perdido”. Os de 4 de junho desmentem o aforismo, pois, de 11, 6 voltam à base. Mas não conseguiram nem mesmo aproximar-se dos porta-aviões e abateram-se sobre os couraçados Haruna e Kirishina. Não os acertaram por um triz, mas não os acertaram...
 
São 8h25. Os navios japoneses não tem um arranhão. A aviação de Midway está destruída, com exceção dos B-17. Nagumo empenhou apenas um terço de suas forças e o aniquilamento dos caças inimigos permite-lhe agora todas as audácias. Fora seus navios, forças esmagadoras convergem para um punhado de americanos confinados no seu banco de coral: o Almirante Kondo, com sua frota de desembarque, o Almirante Yamamoto, com suas fortalezas do mar. Amanhã o Japão vai vibrar com a nova vitória. O posto avançado nas ilhas Havaí estará em suas mãos. A Califórnia tremerá. As comunicações inimigas, no Pacífico, serão secionadas. O dia apenas começa; 4 de junho de 1942. Um belo dia.
 
Cinco minutos verdadeiramente decisivos
 
Tendo conseguido enfim funcionar seu motor rebelde, o hidroavião do cruzador Tone decolou às 5h05 com 40 minutos de atraso. Ninguém julgou necessário substituí-lo por outro aparelho. É esta a razão pela qual a primeira mensagem do observador não chega ao Akagi senão às 7h28, depois de todas as outras que assinalavam o vazio completo do oceano em seu setor. O hidroavião do Tone, ao contrário, anuncia estar percebendo uma concentração de navios. Uma dezena.
 
Há exatamente 13 minutos, o Almirante ordenou que regressassem ao seus hangares os 93 bombardeiros que mantinha em reserva para esta oportunidade. Os relatos negativos de seus observadores acabaram por convencê-lo de que o mar está livre de inimigos. Nagumo poderá mandar subir de novo os aparelhos ao convés, para jogá-los sobre os navios assinalados? Não logo. Deu ordem para substituir os torpedos por bombas, para um segundo reide sobre Midway, conforme sugestão do Tenente Tomonaga. Trabalha-se embaixo e a execução da contra-ordem exige tempo. É preciso, aliás, guardar os conveses livres, para que os grupos do primeiro ataque, esperados de um momento para outro, possam aí pousar.
 
Quase uma hora se escoa. Os que voltam de Midway se fazem esperar. Nagumo não está muito inquieto e, quando o observador do Tone volta a emitir comunicação, às 8h09, ele se sente inteiramente seguro. “O inimigo compõe-se de 5 cruzadores e 5 destróieres...” Assim, nada de alarmante. É uma flotilha, não uma frota. Ver-se-á do que se trata, depois de neutralizar Midway.
 
O telégrafo óptico fala do Hiryu. O comunicado parte do Contra-Almirante Tamon Yamaguchi, comandante da 2a Divisão dos porta-aviões. Nele é visto o sucessor de Yamamoto e sua alta reputação permite-lhe dar conselhos a seu superior: “Recomendo ataque imediato aos navios inimigos”. Yamaguchi oferece-se para ocupar-se disso. Ainda não mandou descer aos hangares seus bombardeiros, mantidos em reserva. Enfileirados nos conveses do Hiryu e do Soryu, 42 Vals esperam apenas um sinal.
 
Nagumo consulta Genda, que saiu do leito, febril, para estar presente às decisões do combate. Genda olha o céu. Os aviões, regressando do bombardeio de Midway, começam a aparecer, alguns sem gasolina, outros lançando fumaça pelas perfurações recebidas. Os caças, que repeliram os ataques contra os porta-aviões, pedem para descer, por se terem esgotado a gasolina e a munição. “Minha opinião - diz Genda - é de que devemos recuperar e reabastecer nossos aparelhos, em primeiro lugar. Atacaremos em seguida, com todas as nossas forças”.
 
Alguns segundos depois, trazem ao almirante uma nova mensagem do hidroavião do Tone: “Ao que parece, o inimigo está acompanhado de um porta-aviões”. Nagumo morde os lábios. Se soubesse, não seria contra Midway que teria atirado sua flecha. Não será com a metade de seus aparelhos regressando de um reide, e a outra metade sob os conveses, que abordará essa nova peripécia.
 
Mas o Almirante Chuichui Nagumo ainda não sabe de tudo. Não é apenas um porta-aviões americano que está diante dele, porém três: o Enterprise, o Hornet e o Yorktown ... Como eles estão aí? Por uma obra-prima de audácia e por um milagre de velocidade. Há quinze dias atrás, estavam no Pacífico Sul. O Hornet e o Enterprise chegaram tarde demais para participar da Batalha do Mar de Coral. O Yorktown recebera seu grave ferimento. Nimitz chamara a Pearl Harbor os dois válidos e o ferido, com vontade bem definida de opor-se à conquista de Midway e entrar em combate.
 
As forças de que dispõe são limitadas e dispersas. Alguns couraçados, monumentos de outras eras, foram agrupados em São Francisco, onde se entregam a tímidas navegações costeiras. O porta-aviões Saratoga ainda está em reparos em San Diego. Devendo as Aleútas ser atacadas ao mesmo tempo que Midway, Nimitz considera não ser possível abandoná-las e destina-lhes um de seus melhores subordinados, o Almirante Theobald, com um grupo de cruzadores. Resta-lhe, para Midway, a Task Force n° 17, quer dizer, o Enterprise e o Hornet, com um fraco anteparo de 2 cruzadores e os 6 destróieres, e a Task Force n° 16, que conta com 5 cruzadores pesados, mas cujo sustentáculo, o Yorktown, está um tanto avariado. A situação e a condição desses navios fornecem a Nimitz todas as razões para abster-se de entrar em ação.
 
Contudo, ele decide de outro modo. Tendo chegado a Pearl Harbor no dia 24 de maio, a Task Force n° 17 recebe ordem de voltar ao mar no dia 28. Seu chefe, o Almirante Halsey, passa pela humilhação de ir para o hospital, por causa de uma doença de pele, no momento em que seus navios se estão aparelhando para lutar. Nimitz o substitui pelo Contra-Almirante Raymond Spruance. As instruções que lhe dá são tão concisas quanto vagas: “Defender Midway a infligir ao inimigo o máximo de danos”. Em outros termos, entrega-o à própria inspiração”.
 
Resta a Task Force n° 16. O Yorktown entra nos estaleiros a 27 de maio. Uma primeira sondagem de suas avarias fixa em 3 meses o prazo necessário para deixá-lo em bom estado. Nimitz se exalta. Não se encontrará, no patriotismo dos operários de Pearl Harbor, na lembrança do dia 7 de dezembro, estímulo para uma concentração de esforços? Encontra-se. Dois mil homens trabalham a bordo,como loucos, enquanto, em terra, as fábricas fundem e forjam peças sobressalentes, segundo modelos de madeira, porque não há tempo para realizar os desenhos. No dia 29 - depois de dois dias e não de três meses - o Yorktown sai da doca. No dia seguinte, às 9 da manhã, depois de uma última noite de trabalho febril, deixa Oahu, para reunir-se ao Enterprise e o Hornet. No encontro combinado, a 300 milhas de Midway. Havendo Nimitz decidido ficar nos eu posto de Pearl Harbor, para exercer o papel de coordenador, o comando passa ao mais antigo dos dois almirantes, Frank Fletcher, a bordo do Yorktown.
 
Quatro de junho encontra os navios americanos em rota para oeste, a 25 nós. No porta-aviões o desjejum é servido à 1h30. A longa espera que se segue enerva ao aviadores, que clamam pelo momento de levantar vôo. Fora do alcance da vista e do ouvido, a Batalha de Midway começa pelo bombardeio do atol. Nas Salas de Operações, sucedem-se ansiosamente as peripécias e conferem-se informações emitidas pelos infatigáveis Catalinas. Deve-se admitir que os japoneses, por sua vez, estão a par das Task Forces, pois se ouve, a intervalos, um insólito barulho de motor que não se consegue localizar. Do Yorktown, Fletcher lançou uma cortina de 11 observadores, o que o apressa, pela necessidade em que está de recuperá-los. Pressiona Spruance para o ataque, mas Spruance, oficial da marinha clássica, preferiria chegar mais perto do inimigo. Este ainda está a mais de 200 milhas de distância; com o roteiro e a velocidade atuais, reduzir-se-ia esta distância à metade, retardando até 9 horas o ataque.
 
Por felicidade, Spruance conservou o estado-maior de Halsey, e principalmente seu chefe, um grande atrevido, de olhar de águia, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Miles Browning. Este combate o ponto de vista do almirante. Os aviões são feitos para os riscos. O essencial é surpreender o inimigo no momento em que está vulnerável, o que acontecerá incessantemente, em virtude da obrigação em que se acha de recolher os aparelhos que volta do bombardeio de Midway. Existe a oportunidade fugaz de apanhar os flat tops japoneses, com seus conveses cobertos de aviões não disponíveis. Mas é preciso atacar sem demora. Spruance compreendeu. Spruance convenceu-se. Spruance arrisca para aproveitar a oportunidade. Às 6h56, o Enterprise e o Hornet mudam de roteiro. Vem de SSE para colocar-se contra o vento. Às 7h02, os primeiros aviões decolam. Às 8h06, a decolagem está acabada. Em esquadrilhas, como pequenos grupos de pontos dissolvendo-se no horizonte marinho, 119 aparelhos desaparecem rumo a sudoeste. Estão assim divididos: 10 caças Wildcats, 14 torpedeiros Devastator e 35 bombardeiros de mergulho Dauntless, do Enterprise, 10, 15 e 35 do Hornet, respectivamente.
 
Os homens que acabam de decolar são jovens americanos. Não tem a emotividade poética de seus adversários de olhos amendoados. Subiram ao cockpit mascando chicletes e proferindo sólidas obscenidades. Preferem voltar, a encontrar a morte de heróis. Mas dissimulam a própria emoção atrás de um rosto de jogador de pôquer ou de um cinismo de soldado. Um dos raros que se exteriorizam é o Tenente-Comandante John Waldron, que comanda a esquadrilha de torpedeiros do Hornet. Natural de Dakota do Norte, com um quarto de sangue índio por parte de uma avó sioux, Waldron, antes de partir, apertou a mão de seu chefe, o Capitão Marc Mitscher. “Sei - disse-lhe - que minha esquadrilha está voltada à destruição total e que não tenho nenhuma chance de rever este porta-aviões, mas conte comigo, Sir... “. Partiu, e é o primeiro de 15 pontos negros no ar.
 
Um momento depois, às 8h38, o Yorktown começa, por sua vez, a soltar a carga: 10 caças, 12 torpedeiros, 17 bombardeiros voam ao assalto dos porta-aviões japoneses.
 
É preciso encontrá-los. Não é tão simples assim. O Pacífico é grande. Os navios andam depressa. Os aviões ainda não têm radar. Conduzindo o grupo de bombardeiros de mergulho do Hornet, o Tenente-Comandante Stanhope Ring não vê senão um deserto líquido no lugar onde julgava encontrar o inimigo. Para combater a esquadra americana, Nagumo mudou de rota e, afastando-se de Midway, encaminhou-se para norte. Ring, ao contrário, ruma em direção oblíqua, para sul. Seus 35 Vertical Bombers e os 10 caças que os acompanharam por engano (deveriam escoltar os torpedeiros), ou seja, um quarto da força americana, estão perdidos para a batalha. Os dez caças estão simplesmente perdidos. Todos, com a gasolina para acabar, se precipitarão no oceano.
 
Os três grupos de torpedeiros se orientam para noroeste. O ardente Waldron é o primeiro a descobrir o inimigo. O 2o Tenente George Gay, que ataca atrás dele, ouve seus gritos “Atenção a esses caças! Bum!... Eu daria um milhão para saber quem... Meus dois vizinhos caem na água...” O 2o Tenente Gay também ouve o grito de seu próprio metralhador: “Pegaram-me!” O 2o Tenente Gay ouve ainda o barulho de um obus explodindo a seu lado, depois o barulho de seu aparelho, batendo contra a água. Lançou se torpedo, saltou sobre o porta-aviões que atacava e, milagrosamente, flutua numa água que o agitar das hélices torna furiosa. Um barco pneumático dança a seu lado, mas Gay se abstém de enchê-lo, para não chamar a atenção dos Zeros. Cobre a cabeça com seu salva-vidas de borracha e finge-se morto, como se faz na Marinha, enquanto os japoneses desfilam à sua volta, com uma rapidez de raio. Um Catalina o recolherá no dia seguinte. O que o 2o Tenente Gay ainda não sabe é que ele é o único sobrevivente dos 30 homens que se atiraram sobre o Kaga e o Akagi. Tendo sido os protagonistas do torpedeamento aéreo, os japoneses o temem mais do que a qualquer outra forma de combate naval. É por isso que seu caças mergulham do céu, é por isso que sua DCA se concentra contra os adversários que voam ao nível da água. A esquadrilha de Waldron atraiu sobre si mais de 50 Zeros, que não lhe deram uma única oportunidade. Das superestruturas japonesas, os oficiais e os marinheiros batem palmas.
 
E o massacre dos aviões torpedeiros continua. Conduzida pelo Tenente-Comandante Eugene Lindsey, a esquadrilha do Enterprise ataca o Kaga, em volta do qual, dirá um sobrevivente, os Zeros são tão numerosos quanto moscas ao redor de uma lata de lixo. Dos 14, 10 são abatidos. A esquadrilha do Yorktown, cujo comandante é Lance Massey, ataca o Soryu: de 13 aviões, 12 são destruídos. Ao todo, apenas 7 torpedos são lançados; nenhum atinge o alvo. Dos 41 torpedeiros empenhados na ação, apenas 5 escapam aos caças japoneses e retornam aos porta-aviões.
 
São 10h20. Os navios japoneses sempre sem um único arranhão. A vitória se anuncia resplandecente. Pelo número de aparelhos que o atacaram, Nagumo sabe agora que tem diante de si, não um, mas, pelo menos, dois porta-aviões dos Estados Unidos. A situação dos americanos é trágica. Consumiram suas forças em três ataques infrutíferos e vão conhecer agora a resposta do adversário contra o qual falharam. A bordo do Soryu e do Hiryu bombardeiros e torpedeiros estão prontos, há muito tempo, e já estariam sobre o inimigo se Nagumo não quisesse que todos os ataques fossem simultâneos. A bordo do Akagi e do Kaga, as operações que tem por objetivo encher os reservatórios e carregar os projéteis não foram interrompidas durante o massacre dos Devastators. Um depois do outro, os aparelhos são içados do hangar ao convés superior. Os motores se aquecem. As tripulações estão a bordo. Às 10h20, Nagumo ordena a partida logo que tudo estiver pronto e, às 10h24, a ordem de execução soa nos alto-falantes do Akagi. A bandeira do oficial do convés se abaixa. Um Zero abre caminho, acelera a marcha, decola...
 
Ao mesmo tempo, um grito terrível ecoa: “Bombardeiros!”
 
Ninguém os viu chegar. Saem do sol. Como aves de rapina saciadas, os Zeros não recuperaram a altitude, depois da carnificina que acabam de praticar. Nada consegue deter os Dauntless, dardejantes como flechas. Nada os detém. Seu assobio enche os ouvidos com estridência. Um terrívelchoque abala o Akagi, da chaminé à quilha. Homens são projetados em todos os sentidos. Um buraco escancarado, uma caverna, cavou-se ao lado do elevador central. O próprio elevador, retorcido por mão gigantesca, prostra-se no hangar. As placas de aço do convés erguem-se verticalmente, como escamas eriçadas. Os aviões, enfileirados, quase se tocando, incendeiam-se mutuamente. A gasolina queima em chamas pálidas. As munições explodem: montões de cartuchos crepitam, bombas e torpedos detonam. Outras explosões, surdas e poderosas, abalam as quilhas. Homens correm, homens gritam, homens ardem - e homens choram, como o Capitão-de-Fragata Mitsuo Gushida, quando, refazendo-se por um instante, verifica que espessas colunas de fumaça se elevam também do Soryu e do Kaga. Assim, os três porta-aviões foram atingidos ao mesmo tempo. Cinco minutos bastaram para transformar num desastre uma vitória que os japoneses julgavam assegurada.
 
Tudo esteve, literalmente, por um triz...
 
Como seu colega do Hornet, o comandante dos bombardeiros de mergulho do Enterprise, Clarence McClusky, não encontrou o inimigo no local previsto. Orienta-se para NNE, voa 50 milhas sobre o oceano vazio e já encara a necessidade da volta, quando percebe, embaixo dele, o fio de prata de um sulco de navio. Um destróier dirige-se a toda velocidade para noroeste. McClusky supõe que o barco se junta ao corpo da batalha. Segue. O embriagante espetáculo de três grandes porta-aviões lhe aparece. Ordena à sua esquadrilha que se divida entre os dois mais próximos, que são o Akagi, identificável pelo fato de que sua “ilha” se encontra a bombordo, em lugar de estar a estibordo, como nos outros porta-aviões, e o Kaga. Alguns minutos depois as bombas estripam as orgulhosas unidades.
 
Os golpes de sorte chegam aos pares. No momento em que McClusky viu um sulco, Maxwell Leslie, comandante da mesma categoria no Yorktown, via uma fumaça. A fumaça o conduz ao campo de batalha e o primeiro navio que descobre é um enorme porta-aviões - por acaso o Soryu. Mergulha a 70 graus, sente bruscamente o avião tornar-se mais leve, vê seu companheiro da direita fazendo grandes gestos e compreende que sua bomba errou o alvo. Ser aviador naval com 15 anos de prática, ter-se entregado com paixão a esse momento e errar o alvo!... Leslie, não podendo fazer outra coisa, metralha a unidade inimiga. Atrás dele, seus pilotos atingem quatro alvos: uma bomba no elevador, à frente, uma bomba perto do elevador, atrás, uma bomba a estibordo, atrás, uma bomba bem no meio, perto da “ilha”. Enormes chamas se erguem, blocos de aço saltam no ar. Os bombardeiros que desciam verticalmente se aprumam. Nem um só é atingido.
 
No Akagi, o Almirante Nagumo é presa de estupor. Seu chefe de estado-maior o pressiona para que transfira seu pavilhão para o cruzador Nagara. “A maioria de nossos navios está intacta. O senhor deve assumir o comando”.
 
O ancião, que momentos antes era tão voluntarioso, balança a cabeça, embasbacado. Seu ajudante-de-ordens, o Capitão-Tenente Nishibayashi, toma-o pela mão e fala-lhe como uma criança. “Almirante, todos os corredores estão em chamas. A única maneira de escapar é descer por uma corda até atingir o convés das ancoras. Um destróier espera pelo senhor. O retrato de Sua Majestade, o Imperador, já foi transferido. Venha”. Nagumo deixa-se arrastar, como um autômato.
 
São 10h46. Os três porta-aviões foram atingidos há 25 minutos. Todos estão perdidos. O Kaga e o Soryu desaparecerão, à tarde, quase ao mesmo tempo, o primeiro arrastando para o abismo seu comandante morto, e o segundo, seu comandante vivo, Yamagimoto, que um suboficial, campeão de luta japonesa, tentou inutilmente arrancar de seu posto. O Akagi flutua a noite inteira, e não receberá o golpe de misericórdia a não ser ao raiar da aurora, conforme a ordem de Yamamoto. “Meu primeiro alvo de guerra”, dirá soluçando o comandante do destróier encarregado de acabar com o grande navio.
 
Terminou a Batalha de Midway? Não. Resta um porta-aviões japonês, o Hiryu, e, na falta de Nagumo, completamente acabrunhado, o almirante mais agressivo da Marinha japonesa, Tamon Yamaguchi. Resta uma frota imensa de couraçados e de cruzadores. Além dos dois porta-aviões enviados contra as Aleútas e que Nagumo chama precipitadamente. A sorte, que sorriu primeiramente aos japoneses, voltou-lhes as costas para favorecer aos americanos. Basta uma nova reviravolta para que Midway se constitua numa vitória para o Sol Nascente.
 
Yamaguchi não esperou uma ordem superior para lançar os aviões do Hiryu contra o único porta-aviões inimigo cuja localização conhece. Escoltados por 12 caças, 18 bombardeiros e 18 torpedeiros voam em direção do Yorktown, encontram-no, atingem-no e incendeiam-no. Como o Akagi, o Yorktown, evacuado, flutua por longas horas e será afundado por um torpedo amigo.
 
Mas a vingança está a caminho. Tudo o que Fletcher e Spruance possuem ainda de bombardeiros, 24 no total, decola do Enterprise e Hornet, às 5 horas da tarde. O Hiryu morre heroicamente. Marcha a 30 nós, em ziguezague desesperadamente, protege-se com uma DCA frenética. Inutilmente. Seus caças oferecem-se em holocausto durante o ataque ao Yorktown e os aviadores americanos, ébrios de fadiga e de ódio, lutam como demônios. Quatro bombas caem em rápida sucessão sobre o navio. Seu efeito parece imediatamente tão decisivo, que os Dauntless, que ainda não lançaram sua carga, abandonam o porta-aviões e toma como alvo os couraçados Harun e Kirishima. Estes fogem com toda a rapidez de suas máquinas e Fletcher pode enviar a Nimitz esta breve prestação de contas da vitória: “Estou senhor do ar”.
 
O Hiryu, por sua vez, está perdido. Os porões são o próprio inferno. Todas as tentativas para atingir as máquinas e restabelecer as bombas de sucção fracassam diante das cortinas de chamas. Às 2h30 do dia 5 de junho, Yamaguchi dá ao Comandante Kaka ordem de reunir os sobreviventes no convés. São 800, com as fardas chamuscadas, com as sobrancelhas e os cabelos queimados. A lua e o incêndio iluminam seu cortejo silencioso, atento à ordem de comando, embora o convés lhes queime a planta dos pés. Yamaguchi é um homem baixo, de rosto redondo, que estudou o inglês e o inimigo na Universidade de Princeton. Estando cortada a corrente de intercomunicação, fala usando um alto-falante, como nos bons tempos: “Comandando esta divisão de porta-aviões, assumo plenamente a responsabilidade pela perda do Hiryu e do Soryu. Ficarei a bordo. Ordeno-lhes que abandonem o navio e que continuem a servir lealmente Sua Majestade, o Imperador”.
 
Os homens obedecem, passam para bordo do destróier que bravamente aborda o porta-aviões condenado. O estado-maior de Yamaguchi pede-lhe que o deixe ficar com ele. O almirante recusa, agradecendo, e, depois de um brinde com água límpida, por não haver outra bebida, todos se despedem com a mais dura e a mais formal das saudações. Exceto o Comandante Kaka, também ele senhor do seu posto. Humilde, porém coberto de honra pela confiança que nele depositou o Imperador, dando-lhe um de seus navios, ficará para morrer com o Hiryu. Por que um precioso servidor do Imperador, como Yamaguchi, não considera que o sacrifício de Kaka é suficiente? Por que não se reserva para as missões da guerra e para conduzir à vitória esta marinha que sofreu hoje uma honrosa derrota?
 
Yamaguchi sorri. Se Kaka quer morrer com o Hiryu, que seja. A decisão o honra, a ele, Yamaguchi. Morrerão, pois, juntos, ao explodir o torpedo que ordenou ao destróier lançar logo que os últimos homens do Hiryu o tiverem abandonado.
 
A Batalha de Midway está terminada.
 
Resta a Yamamoto a maior parte de sua frota. Nenhum de seus navios jamais viu um navio inimigo. Nenhum deu um só tiro de canhão, exceto de DCA. A maioria não atirou absolutamente. As gigantescas peças do Yamato permaneceram mudas e as 13 toneladas de seu poderio não desempenharam qualquer papel. Num conselho de guerra noturno, opiniões ardentes pleitearamo prosseguimento das operações, o ataque, apesar de tudo, contra Midway, e que toda a frota se lance contra os navios americanos, pagando, para destruí-los, o preço que exigiria a perda do céu. Yamamoto recusa. Conhece melhor que os jovens, cegos pela humilhação, pelas lágrimas da derrota, a impotência dos navios de superfície sob a asa dos bombardeiros. A tentativa que lhe propõem resultará apenas em novas perdas, em um enfraquecimento mais grave do Japão, na luta desigual que tem pela frente.
 
Às 2 horas do dia 5 de junho, parte do Yamato a ordem fatal: meia-volta geral. A sorte se encarniça. Mudando de rota, os cruzadores pesados Mikuma e Mogami colidem. Os dois outros cruzadores da divisão os abandonam e eles se arrastam, solitários, a alguns nós. O submarino americano Tambor guia até eles as Fortalezas Voadoras de Midway. O Mikuma, massacrado, afunda ao fim de algumas horas. O Mogami, por verdadeiro milagre, consegue voltar à base japonesa. os reparos o imobilizarão durante um ano.
 
O único balanço positivo da saída japonesa é a ocupação das duas ilhas quase inabitadas e completamente sem defesa, de Attu e de Kiska. Os japoneses aprisionam 39 nativos e um casal de missionários. O Almirante Hosogaya não ousou nem mesmo ocupar Adak, que julgou muito próxima das bases americanas de Dutch Harbor e de Kodiak.
 
A 4 de junho, de manhã, o Japão era invencível. A 4 de junho, à tarde, o Império do Sol Nascente está vencido. Jamais a longa e movimentada história das guerras no mundo registrou uma reviravolta mais brutal e mais total.

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