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Ernest Mandel Teoria Marxista do Estado

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MIA > Biblioteca > Mandel > Novidades
Teoria Marxista do Estado
Ernest Mandel
Transcrição autorizada
Escrito em: .....
Fonte: MANDEL, Ernest. Teoria Marxista do Estado. Lisboa: Edições Antídoto, 1977. pp.
9-46.
Transcrição: Daniel Monteiro
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: © Edições Antídoto. Gentilmente cedidos pela Associação
Política Socialista Revolucionária.
A. A sociedade primitiva e as origens do Estado
O Estado nem sempre existiu.
Certos sociólogos e outros representantes da ciência política
acadêmica laboram em erro quando falam do Estado nas sociedades
primitivas.
O que fazem apenas na realidade é identificar o Estado com a
comunidade. E, ao fazê-lo, despem o Estado da sua característica
especial, isto é, o exercício de certas funções da comunidade como um
todo, passa a ser uma prerrogativa exclusiva de uma pequena fracção
dos membros dessa comunidade.
Por outros termos, o nascimento do Estado é o produto da divisão
social do trabalho.
Enquanto esta divisão social de trabalho é apenas rudimentar, todos
os membros da sociedade exercem, alternada e praticamente, todas as
funções sociais. Não há Estado. Não há funções especiais de Estado.
Referindo-se aos Bushemanos, o Padre Victor Ellenber escreve que
esta tribo jamais conheceu a propriedade privada, nem os tribunais, nem
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Andre Augustin
Andre Augustin
autoridade central, nem órgãos especiais de qualquer tipo(1).
Outro autor escreve da mesma tribo:
"O bando, e não a tribo, é o verdadeiro corpo político entre os
Bushemanos. Cada bando é autônomo, levando a sua própria
vida independentemente da dos outros. Os seus assuntos são,
em regra, regulados por caçadores peritos e pelos homens mais
velhos e experientes"(2).
O mesmo acontece com os povos do Egito e da Mesopotâmia na
remota antiguidade:
"o tempo não só não está amadurecido para a família patriarcal
com a autoridade paterna, como para um agrupamento político
realmente centralizado (...) Obrigações activas e passivas são
colectivas no regime do clã totêmico. Poder e responsabilidade
nesta sociedade activa têm caráter indivisível. Estamos em
presença de uma sociedade comunal e igualitária, dentro da
qual, no mesmo totem, a própria essência de cada indivíduo e a
base da coesão geral colocam todos os membros do clã em pé
de igualdade"(3).
Mas logo que a divisão social do trabalho se desenvolve e a
sociedade se divide em classes, aparece o Estado e é definida a sua
natureza: aos membros da sociedade como um todo, é negado o
exercício de um certo número de funções; só uma pequena minoria toma
o exercício dessas funções.
Dois exemplos ilustrarão este desenvolvimento, que consistiu em
tirar à maioria dos membros da sociedade certas funções que
primitivamente exerciam (coletivamente a princípio), com o fim de dar
essas funções a um pequeno número de indivíduos.
Primeiro exemplo: Armas.
O exercício das armas é uma função importante. Engels disse que o
Estado é, em última análise, nada mais do que um corpo de homens
armados.
Na colectividade primitiva, todos os membros do grupo (e às vezes
até as mulheres) andavam armados.
Numa tal sociedade, o conceito de que pegar em armas constitui uma
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prerrogativa particular de uma instituição chamada exército, ou polícia,
ou agentes militares de vários tipos, não existe. Qualquer adulto
masculino tem o direito de usar armas. (Em certas sociedades primitivas,
a cerimônia da iniciação, que marca o início da maioridade, confere o
direito ao porte de armas).
É exatamente o mesmo que se dá nas sociedades que ainda são
primitivas, mas já próximas do estádio da divisão em classes. Por
exemplo, pelo que se deu nos povos germânicos ao tempo em que
atacaram o Império Romano: todos os homens livres tinham o direito ao
porte de armas e podiam empregá-las na sua defesa e dos seus direitos.
A igualdade de direitos entre os homens livres, que vemos. nas primitivas
sociedades germânicas, é, de facto, a igualdade entre soldados, como a
anedota do vaso de Soissons tão bem ilustra(4).
Na Grécia e na Roma antigas, as lutas entre patrícios e plebeus
giravam muitas vezes em torno deste assunto do direito ao porte de
armas.
Segundo exemplo: Justiça.
Em geral, a escrita era desconhecida nas sociedades primitivas. Não
existiam portanto códigos escritos de leis. Mais ainda: o exercício da
justiça pertencia à colectividade.
À parte contendas decididas por famílias ou pelos próprios indivíduos,
só assembléias colectivas tinham o poder de pronunciar juízos. Na
primitiva sociedade germânica, o presidente do tribunal do povo não
julgava: a sua função consistia em verificar que eram observadas certas
regras e certas formalidades.
A ideia de que pudesse haver certos homens destacados da
colectividade, a quem fosse reservado o direito de dispensar justiça,
parecia aos cidadãos de uma sociedade baseada no colectivismo do clã
ou da tribo, tão fora de sentido como o reverso parece à maioria dos
nossos contemporâneos.
Em resumo: até certa altura do desenvolvimento da sociedade, antes
de ser dividida em classes sociais, certas funções, tais como a das armas
ou a administração da justiça, eram exercidas coletivamente - por todos
os membros adultos da comunidade. Só quando esta sociedade se
desenvolve mais, no momento em que aparecem classes sociais, é que
estas funções são retiradas à colectividade e reservadas a uma minoria
que passa a exercê-las de modo especial.
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Quais são as características deste "modo especial"?
Examinemos a nossa sociedade ocidental no período em que o
sistema feudal principia a ser dominante.
A independência (não formal nem jurídica mas muito real e quase
total) dos grandes Estados feudais pode mostrar-se no facto de o senhor
feudal, e só ele, exercer em todo o seu domínio todas as funções que
tinham sido entregues à colectividade adulta nas sociedades primitivas.
Este senhor feudal é dono absoluto do seu reino. É o único com
direito ao porte de armas em qualquer momento; é o único polícia, o
único agente de autoridade; é o único com direito a cunhar moeda; é o
único ministro das finanças. Exerce em todo o seu domínio todas as
clássicas funções desempenhadas pelo Estado, tal como hoje o
conhecemos.
Mais tarde, deu-se uma evolução. Enquanto o Estado é
medianamente pequeno, as funções de "Estado" do senhor são
rudimentares e nada complicadas; como o exercício dessas funções não
rouba demasiado tempo ao senhor, ele pode manejar a situação e
exercê-las pessoalmente.
Mas logo que aumente a extensão do território, e aumente
igualmente a população, as funções da responsabilidade do senhor feudal
tornam-se cada vez mais complexas, mais pormenorizadas e mais
fatigantes. Torna-se impossível para um só homem exercer todas essas
funções. Que faz então o senhor feudal?
Delega em parte os seus poderes em outras pessoas, mas não em
homens livres, visto que estes pertencem a uma classe social em
oposição à classe senhorial. Delega-os em pessoas completamente sob o
seu controle: os servos, que são parte do seu pessoal doméstico.
Esta origem servil ainda se reflete em muitos títulos dos tempos
atuais: "condestável"(ou chefe de polícia) vem de "comes stabuli", servo
chefe dos estábulos; "ministro" serf ministrable, isto é, o servo designado
pelosenhor para servir as suas próprias necessidades; "marechal" é o
servo que cuida da carruagem e dos cavalos, etc.(de marah scalc, do
Velho Alto Alemão, que significa guarda de cavalos).
Porque estes indivíduos, homens não-livres, estes domésticos, estão
sob o seu controle, o senhor delega parcialmente neles os seus poderes.
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Este exemplo leva-nos à seguinte conclusão, que é o verdadeiro
fundamento da Teoria Marxista do Estado:
O Estado é um órgão especial que surge em certo momento da
evolução histórica da humanidade , e que está condenado a desaparecer
no decurso da mesma evolução. Nasceu da divisão da sociedade em
classes e desaparecerá no momento em que desaparecer esta divisão.
Nasceu como instrumento nas mãos da classe dominante, com o fim de
manter o domínio desta classe sobre a sociedade, e desaparecerá quando
o domínio desta classe desaparecer.
Voltando atrás à sociedade feudal, notar-se-á que as funções de
Estado exercidas pela classe dominante não se limitam apenas aos
aspectos mais imediatos do Poder, tais como o exército, a justiça, as
finanças. Também sob o dedo do senhor existem ideologia, lei, filosofia,
ciência, arte, etc. Os que exercem estas funções são pobres que, para
poderem viver, vendem os seus talentos ao senhor feudal, que se
encarrega por sua vez das suas necessidades. Podemos e devemos
incluir Chefes eclesiásticos na classe dos senhores feudais, uma vez que
a Igreja era proprietária de vastas terras.
Nestas condições, pelo menos enquanto a dependência é total, o
desenvolvimento da ideologia é inteiramente controlado pela classe
dominante: esta é a única que ordena a "produção ideológica" e só ela é
capaz de subsidiar os "ideólogos".
Eis as relações básicas que temos que ter sempre em mente, se não
quisermos perder-nos em emaranhados de complicações e de sutis
distinções.
Escusado será dizer que, no decurso da evolução social, a função do
Estado torna-se muito mais complexa, com muitas mais tonalidades do
que tinha no regime feudal, tal como acabamos de descrever muito
esquematicamente.
Contudo, temos de começar a partir desta clara e óbvia situação para
compreendermos a lógica da evolução e o processo por que estas
diferentes funções se tornaram cada vez mais autônomas e principiaram
a parecer cada vez mais independentes da classe dominante.
B. O Moderno Estado Burguês
Origem burguesa do Estado moderno
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Também aqui a situação é perfeitamente clara. O moderno
parlamentarismo tem a sua origem no grito de guerra que a burguesia
inglesa lançou com violência ao rei: "Nada de impostos sem a nossa
representação!" Em palavras simples isto quer dizer: "Nem um chavo
receberás de nós enquanto nada tivermos a dizer sobre a maneira como
o irás gastar". Podemos ver imediatamente que isto não é muito mais
sutil do que a relação entre o senhor feudal e o servo nomeado para os
estábulos. E um rei Stuart, Carlos I, morreu no cadafalso por não ter
respeitado este princípio que se transformou em princípio sagrado; todos
os representantes, diretos ou indiretos do aparelho de Estado, têm tido
que lhe obedecer desde o aparecimento da moderna sociedade burguesa.
O Estado burguês, um Estado de classe
Esta nova sociedade já não é dominada pelos senhores feudais, mas
pelo capitalismo, pelos modernos capitalistas.
Como sabemos, as necessidades monetárias do Estado moderno — o
novo poder central, mais ou menos monarquia absoluta — tornaram-se
cada vez maiores, desde o século XV em diante. E o dinheiro dos
capitalistas, comerciantes, banqueiros, negociantes, que, em larga parte,
enche os cofres do Estado. Sempre, desde esse tempo, um vez que os
capitalistas pagam para manter o Estado, exigirão que este se coloque
inteiramente ao serviço deles. Tornam isto perfeitamente claro e sentido
pela própria natureza das leis que promulgam e pelas instituições por
eles criadas.
Várias instituições que hoje parecem de natureza democrática, por
exemplo a instituição parlamentar, revelam claramente a natureza de
classe do Estado burguês.
Assim, na maioria dos países em que foi instituído o
parlamentarismo, só a burguesia tem direito a voto. Esta situação durou,
na maioria dos Estados Ocidentais, até fins do último século e mesmo
princípios do século XX.
O sufrágio universal é, como se sabe, de invenção relativamente
recente na história do capitalismo. Como explicar este facto? Muito
simplesmente. No século XVII, quando o capitalismo inglês proclamou:
"Nada de impostos sem nossa representação!", era apenas a
representação da burguesia que ele tinha em mente; porque a ideia de
que o povo, que nada tinha e não pagava impostos, pudesse votar,
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parecia-lhe ridícula e absurda.
Pois não é criado o parlamento para o próprio fim de controlar as
despesas feitas com o dinheiro dos contribuintes?
Este argumento, extremamente válido sob o ponto de vista da
burguesia, foi adoptado e desenvolvido pelo partido da burguesia
doutrinária(5) no tempo em que se reivindicava o sufrágio universal. Para
este partido burguês, o papel do parlamento consistia em fiscalizar
orçamentos e despesas e só quem paga impostos tem essa fiscalização;
quem não paga tem uma tendência constante para aumentar os gastos
visto que não custeia as despesas.
Mais tarde, a burguesia começou a encarar o problema de outra
maneira. Com o sufrágio universal nasceu o imposto universal que cada
vez mais sobrecarga os operários. Foi deste modo que a burguesia
restabeleceu a "justiça" inerente ao sistema.
A instituição parlamentar é um exemplo típico do laço muito direto e
muito mecânico que existe — até no Estado burguês — entre o domínio
da classe dominante e o exercício do poder de Estado.
Existem outros exemplos: Consideremos os jurados no sistema
judicial. Os jurados parecem ser uma instituição eminentemente
democrática no seu caráter, especialmente quando comparada com a
administração da justiça por juízes inamovíveis, todos membros da classe
dominante, sobre o qual o povo não tem qualquer controle.
Mas qual a camada social de onde eram escolhidos os jurados — e
ainda, em muito larga medida, continuam hoje a ser escolhidos? Da
burguesia. Havia mesmo qualidades especiais para ser jurado,
comparáveis às necessidades para o voto, como a de ser proprietário —
um jurado tinha de ser proprietário da sua casa e pagar uma certa
quantia de impostos, etc.
Para ilustrar este laço muito direto entre o aparelho de Estado e a
classe dominante na época burguesa, podemos citar a famosa lei de Le
Chapelier, promulgada na Revolução Francesa que, a pretexto de
estabelecer a igualdade entre todos os cidadãos, proibiu as organizações
patronais e as dos trabalhadores.
Assim, sob pretexto da banir as corporações patronais quando a
sociedade industrial tinha ultrapassado o estádio de corporação — foram
postos fora de lei os sindicatos. Desta forma, os trabalhadores ficavam
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Andre Augustin
impotentes perante os patrões, visto que só a organização da classe
operária pode (até certo ponto e em extensão bastante limitada) servir
de contrapeso à riqueza dos patrões.
O Estado Burguês Aspecto da RealidadeDiária
Por meio da luta empreendida pelo movimento operário, certas
instituições do Estado burguês tornaram-se mais sutis e mais complexas.
O sufrágio universal foi substituído pelo sufrágio só de proprietários o
serviço militar tornou-se obrigatório; todos deviam pagar impostos. O
caráter de classe do Estado tornou-se então menos transparente. A
natureza do Estado comoinstrumento do domínio de classe passou a ser
menos evidente do que no tempo em que reinava a burguesia clássica,
quando as relações entre os diferentes grupos no exercício de funções do
Estado eram — tão transparentes como na época feudal.
A análise do Estado moderno terá de ser, portanto, um pouco mais
complexa; estabeleçamos primeiramente a hierarquia entre as diferentes
funções do Estado: Hoje só os mais ingênuos acreditam que o
parlamento governa de facto, que é senhor do Estado, baseado no
sufrágio universal. (Esta ilusão, contudo, está muito espalhada nos
países onde o Parlamento é uma instituição criada de há pouco).
O poder de Estado é permanente e é exercido por um certo número
de instituições isoladas e independentes dessa tão mutável e instável
influência como é a do sufrágio universal. São estas instituições que
devemos analisar se quisermos saber onde reside o verdadeiro poder:
"Governos aparecem e governos desaparecem, mas a polícia e os
administradores permanecem".
O Estado é, acima de tudo, um conjunto de instituições
permanentes: o exército (efetivo e de reserva), a polícia geral, a polícia
especial, a polícia secreta, os altos administradores nos departamentos
governamentais (os serventuários-chave dos serviços, os corpos de
segurança nacional, os juízes, etc.) — todos quantos estão livres da
influência do sufrágio universal.
Este poder executivo está a ser constantemente reforçado. À medida
que aparece o sufrágio universal e se vai desenvolvendo uma certa
democratização, aliás completamente formal, de determinadas
instituições representativas, verifica-se que o poder efetivo e real
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desloca-se dentro dessas instituições para outras que estão cada vez
mais afastadas da influência do Parlamento.
Se o rei e os seus funcionários perdem uma série de direitos em
favor do Parlamento durante a fase ascendente do parlamentarismo (que
principia na obtenção do sufrágio universal), o Parlamento perde uma
série contínua de direitos que revertem para as administrações do
Estado, permanentes e inamovíveis. E o fenômeno geral na Europa
Ocidental. A actual Quinta República Francesa é presentemente o
exemplo mais chocante e completo deste fenômeno.
Deveremos considerar esta viragem, esta inversão, como conspiração
diabólica contra o sufrágio universal, feita pelos capitalistas?
Estamos em presença de uma realidade objectiva mais profunda: os
poderes reais são transferidos do legislativo para o executivo; o poder do
executivo é reforçado de maneira permanente e contínua, como
resultado de mudanças que também se dão dentro da própria classe
capitalista. Este processo começou nos tempos da Primeira Guerra
Mundial na maioria dos países beligerantes e desde então tem continuado
ininterruptamente.
Mas este fenômeno existiu muitas vezes antes desse tempo. Assim,
no Império Alemão, esta prioridade do executivo sobre o legislativo
apareceu ao mesmo tempo que o sufrágio universal. Bismark e os
Junkers concederam o sufrágio universal para empregarem a classe
operária, até certo ponto, como alaca [no original "alaca" - erro de
impressão, provavelmente seria alavanca - nota MIA] contra a burguesia
capitalista assegurando deste modo (naquela sociedade já
essencialmente capitalista) a relativa independência do poder executivo
exercido pela nobreza prussiana.
Este processo mostra perfeitamente que a igualdade política é mais
aparente do que real e que o direito do cidadão ao voto não passa de um
mero direito de meter um pedacinho de papel na caixa da assembléia de
votos, de tantos em tantos anos. O direito não vai mais longe, nem
(sobretudo) alcança os centros reais onde se tomam as decisões e se
exerce o poder.
Os monopólios apoderam-se do Parlamento
A época clássica do parlamentarismo foi a da livre concorrência.
Naqueles tempos, o burguês individual, o industrial, o banqueiro, eram
muito fortes como indivíduos. Eram muito independentes, muito livres,
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Andre Augustin
dentro dos limites da liberdade burguesa, e podiam arriscar o seu capital
no mercado da maneira que desejassem.
Naquela sociedade burguesa atomizada, o Parlamento desempenhou
um papel muito útil, objectivo, e até indispensável ao funcionamento
tranquilo dos assuntos quotidianos.
De facto, era só no Parlamento que o denominador comum dos
interesses da burguesia se podia determinar. Podiam organizar-se dúzias
de grupos capitalistas, separados uns dos outros, grupos opostos a outro
qualquer por uma quantidade de interesses locais, regionais e
corporativos. Estes grupos só podiam unir-se de forma ordenada no
Parlamento. (É verdade que também se podiam encontrar no mercado,
mas aí era à navalha e não com palavras!). Foi só no Parlamento que
uma linha média pôde ser estabelecida, linha de tal ordem que pudesse
exprimir os interesses da classe capitalista como um todo.
Porque então era esta a função do Parlamento: servir de lugar
comum de reunião onde os interesses colectivos da burguesia pudessem
ser formulados. lembremos que, na época heróica do parlamentarismo,
não era só com palavras e votos que o interesse colectivo se
manifestava; também usavam os punhos e as pistolas. Não mandou a
Convenção milhares de cidadãos à guilhotina, pela mais ínfima das
maiorias, essa Convenção, clássico Parlamento burguês da Revolução
Francesa?
Mas a sociedade capitalista não permaneceria atomizada. Pouco a
pouco, pôde ver-se a organizar-se, a estruturar-se, em concentrações
cada vez maiores, de forma cada vez mais centralizada. A livre
concorrência desaparece e é substituída por monopólios, por trusts e por
grupos capitalistas.
O Parlamento e, mais ainda, o governo de um Estado capitalista, por
mais democrático que pareça ser, está atado à burguesia por cadeias
doiradas que tomam o nome de dívida pública.
Nenhum governo poderia durar mais de um mês sem bater à porta
dos bancos para pagar assuas despesas correntes. Se os bancos se
recusassem, o governo abriria falência.
São duplas as origens deste fenômeno. Os impostos não entram
diariamente nos cofres; as receitas concentram-se em certos períodos do
ano mas as despesas são contínuas. É deste modo que surge a dívida
pública a curto prazo.
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Andre Augustin
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Este problema não é de solução difícil, mas surge ainda outro
problema, muitíssimo mais grave. Todos os modernos Estados
capitalistas gastam mais do que recebem. Eis a origem da dívida pública
a longo prazo para a qual os bancos e estabelecimentos financeiros
adiantam dinheiro a juros elevados. Aqui está uma conexão direta e
imediata, um laço diário, entre o Estado e a Alta Finança.
A hierarquia no aparelho de Estado...
Outras cadeias doiradas, cadeias invisíveis, fazem do aparelho de
Estado um instrumento nas mãos da burguesia.
Se examinarmos, por exemplo,o método de recrutamento do
funcionalismo público, veremos que para ser um empregado de um
ministério, é preciso passar num exame. De facto, esta regra parece ser
muito democrática. Por outro lado, ninguém pode submeter-se a exame
para qual quer nível de emprego. O exame não é o mesmo para o cargo
de secretário geral de um ministério, ou de chefe do estado-maior do
exército, ou de terceiro oficial de uma pequena repartição
governamental. Também, à primeira vista, parece ser absolutamente
normal. Mas — e eis aqui um grande mas — há uma progressão nestes
exames que lhes confere caráter seletivo. O candidato tem de possuir
certos diplomas, teve de seguir certos cursos para se candidatar a certas
posições, especialmente às mais importantes. Um tal sistema exclui
vasto número de pessoas que não puderam obter instrução universitária
ou equivalente, porque uma igualdade de oportunidades de instrução não
existe na realidade. Ainda que o sistema de exame para cargos públicos
seja democrático superficialmente, não deixa de ser um instrumento
selecionador.
...é um espelho da hierarquia na sociedade capitalista
Estas invisíveis cadeias doiradas encontram-se ainda na remuneração
que auferem os membros do aparelho de Estado.
Todas as agências governativas, incluindo o exército, apresentam um
aspecto de pirâmide, a estrutura hierárquica, que caracteriza a sociedade
burguesa. Estamos tão influenciados e embebidos pela ideologia da
classe dominante que temos a tendência para não ver nada de anormal
no facto de um secretário geral de um ministério receber um ordenado
dez vezes superior ao do aspirante no mesmo ministério ou da mulher
que limpa os escritórios. O esforço físico desta mulher é por certo maior,
o que, como todos sabem, é muito mais cansativo, mas o secretário geral
do ministério pensa. De igual modo, o ordenado do chefe do
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estado-maior (mais outro que pensa.) é muito maior que o do soldado.
Esta estrutura leva-nos a pôr em destaque a existência de secretários
gerais, generais, bispos, etc, com o mesmo nível de ordenado e,
portanto, com o mesmo nível de vida, idêntico ao da grande burguesia,
de modo que participam do mesmo clima social e ideológico. Vêm depois
os funcionários médios, oficiais no meio da escala, com o mesmo nível
social e com o mesmo rendimento da pequena e média burguesia. Por
fim, a massa dos empregados sem títulos, mulheres de limpeza,
contínuos e serventes, que muitas vezes ganham menos que os operários
fabris. É claro que o seu nível de vida corresponde ao do proletariado.
Portanto, o aparelho de Estado não é um instrumento homogêneo:
compreende uma estrutura que corresponde de perto à estrutura da
sociedade burguesa, isto é, com uma hierarquia de classes e diferenças
idênticas entre si.
A estrutura em pirâmide corresponde às necessidades reais da
burguesia. Ela quer ter à sua disposição um instrumento que possa
manipular à vontade. É óbvia a razão por que a burguesia tem andado a
procurar há muito tempo, e com estranha vivacidade, negar aos
trabalhadores dos serviços públicos o direito à greve.
Será o Estado um simples árbitro?
Este ponto é importante. No próprio conceito do Estado burguês —
independentemente de ser mais ou menos democrático na forma —
existe uma premissa fundamental que se liga sobretudo à própria origem
do Estado: pela sua natureza, o Estado está em contradição, ou antes,
inadaptado às necessidades da colectividade. Por definição, o Estado é
um grupo de homens que exercem as funções praticadas, antigamente,
por todos os membros da colectividade. Estes homens não fazem um
trabalho produtivo mas são mantidos pelos outros membros da
sociedade.
Em tempos normais, não há muita necessidade de cães de guarda.
Em Moscou, por exemplo, não há vendedores de bilhetes nos autocarros:
os passageiros depositam o dinheiro no respectivo receptáculo, quer haja
ou não quem esteja de vigia. Mas nem sempre é assim: na sociedade em
que é baixo o nível de desenvolvimento das forças produtivas, onde
todos travam uma luta árdua com os restantes para obter o suficiente
para viver, tirado de um rendimento nacional demasiado baixo para ser
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distribuído, torna-se necessária uma forte engrenagem de fiscalização.
Assim, durante a ocupação alemã da Bélgica, proliferaram serviços
especializados de fiscalização (polícia especial nas estações ferroviárias,
fiscalização de tipografias, de racionamento, etc.). Em tempos como
esse, a área de conflito é tal que se torna indispensável uma imponente
engrenagem fiscalizadora.
Se pensarmos um pouco sobre o problema, poderemos ver que todos
quantos exerçam funções do Estado e pertençam à sua engrenagem, são
— de um ou de outro modo — cães-de-guarda. São cães-de-guarda a
polícia vulgar e a especial, bem como os recebedores de impostos, os
juízes, os arranha-papéis das repartições governamentais, os cobradores
dos meios de transporte, etc. Em suma, todas as funções governativas
reduzem-se a isto: vigilância e controle da vida da sociedade, no
interesse da classe dominante.
Muitas vezes diz-se que o Estado contemporâneo desempenha o
papel de árbitro. Esta afirmação não altera nada ao que acabamos de
dizer: "fiscalização" e "arbitragem" não serão, basicamente, a mesma
coisa?
Há que fazer dois comentários. Primeiro: o árbitro não é neutro.
Como atrás explicamos, os homens importantes do aparelho governativo
são parte e parcela da grande burguesia. Assim, a arbitragem não se dá
no vácuo: dá-se na estrutura que mantém a sociedade existente de
classes. Sem dúvida que podem ser feitas pelos árbitros concessões aos
exploradores; isso depende essencialmente da relação de forças. Mas o
objectivo básico da arbitragem é manter a exploração capitalista como
tal, transigindo um pouco em assuntos secundários, no, caso de ser
preciso.
O Estado cão-de-guarda é testemunha da pobreza da
sociedade.
Segundo comentário: o Estado é uma entidade criada pela sociedade
para fiscalização do funcionamento diário da vida social; está ao serviço
da classe dominante, com o fim de manter o seu domínio. Existe uma
necessidade objectiva para esta organização-cão-de-guarda, uma
necessidade muito intimamente ligada ao grau de pobreza, ao grau de
conflito social que existe na sociedade.
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Andre Augustin
Andre Augustin
Andre Augustin
De um modo geral e histórico, o exercício das funções do Estado está
intimamente ligado à existência de conflitos sociais. Por sua vez, estes
conflitos sociais estão intimamente ligados à existência de certa escassez
de bens materiais, de recursos, de meios necessários para a satisfação
das necessidades humanas.
Este facto tem que ser sublinhado: enquanto existir o Estado, será
ele a prova de que há conflitos sociais, (portanto, uma relativa escassez
de bens e serviços). Desaparecendo os conflitos sociais, desaparecerão
os cães-de-guarda, por inúteis e parasitas, — mas nunca antes disso!
Com efeito, a sociedade paga a esses homens para exercerem
funções de vigilância, enquanto esta vigilância for do interesse de uma
parte da sociedade. Mas é perfeitamente evidente que, não havendo
nenhum grupo na sociedade que esteja em perigo, para que tenha de se
exercer a função dos cães-de-guarda, a função desaparecerá logo por
inútil. E, ao mesmo tempo, desaparecerá o próprio Estado.
O próprio facto da sobrevivência do Estado prova que permanecemos conflitos sociais, bem como a relativa escassez de bens — marca de
contraste daquele vasto período na história humana entre a pobreza
absoluta (condição durante o primitivo comunismo) e a abundância
(condição da futura sociedade socialista).
Enquanto estivermos neste período de transição que abrange dez mil
anos da história humana, período que também inclui a transição entre o
capitalismo e socialismo, o Estado há-de sobreviver, continuarão os
conflitos sociais e terá de haver gente a arbitrar estes conflitos, tudo no
interesse da classe dominante, e nada mais.
O facto de o Estado burguês permanecer, fundamentalmente, ao
serviço da classe dominante, quererá significar que os operários devem
ficar indiferentes à forma particular que tome o Estado: parlamentar,
democrático, ditadura militar, ditadura fascista?
De modo nenhum! Quanto mais liberdade tiverem os operários na
sua organização e na defesa das suas ideias, tanto mais se
desenvolverão dentro da sociedade capitalista as sementes da futura
democracia socialista e tanto mais facilmente terá, historicamente, o
advento do socialismo. Por isso, devem os operários defender os seus
direitos democráticos contra todas as tentativas de os reduzir (leis
anti-greves, instituição de um "Estado forte") ou de os esmagar
(fascismo).
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Andre Augustin
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O Proletariado no Poder
O que dissemos serve para responder a algumas perguntas que se
levantam sobre o Estado e o Socialismo.
Precisará a classe operária de um Estado?
Quando dizemos que o Estado existirá ainda, mesmo na sociedade de
transição entre capitalismo e socialismo, surge a pergunta sobre se a
classe operária ainda necessitará do Estado quando alcançar o poder.
Não poderia esta classe, ao tomar o poder, abolir o Estado de um dia
para o outro? A História já respondeu a esta pergunta. Por certo,
teoricamente, a classe operária podia abolir o Estado. Contudo, seria isso
apenas um ato formal, jurídico, uma vez que os operários não se
apoderavam do poder numa sociedade já tão rica e com tal abundância
de bens materiais e serviços que os conflitos sociais como tais, isto é,
centrados na distribuição desses produtos, tivessem desaparecido; e que
a necessidade de árbitros, de cães-de-guarda e polícia que dominassem
todo aquele caos, desaparecesse ao mesmo tempo que a relativa
escassez de bens. Tal facto nunca aconteceu e não é provável que venha
a dar-se em qualquer tempo.
Se a classe operária tiver de tomar o poder num país em que exista
ainda escassez de bens, embora parcial, ou exista certa pobreza, durante
algum tempo esta sociedade não pode ainda funcionar sem um Estado.
Continuarão a existir conflitos sociais.
O contrário é o recurso a uma atitude hipócrita, como fazem certos
anarquistas: destruamos o Estado e demos outro nome às pessoas que
exerçam as funções governamentais. Mas isso é só uma pura operação
verbal e nada mais. É a "abolição" do Estado apenas no papel. Enquanto
os conflitos sociais existirem, haverá uma real necessidade de alguém
que regule esses conflitos. Ora, as pessoas que regulam conflitos
equivalem a Estado. Para a humanidade, é impossível regular conflitos
coletivamente, numa situação de desigualdade real, ou de real
incapacidade, para satisfazer as necessidades de cada um.
Igualdade na pobreza
Pode surgir uma objecção, embora seja algo absurda e não haja
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Andre Augustin
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muitos que possam apresentá-la.
Pode imaginar-se uma sociedade em que a abolição do Estado esteja
ligada à redução das necessidades humanas, numa tal sociedade,
pode-se estabelecer uma perfeita igualdade que, certamente, não será
outra a não ser a igualdade na pobreza. Assim, se a classe operária
tivesse de tomar amanhã o poder na Bélgica, todos passariam a ter pão e
manteiga — e talvez mais alguma coisa.
Mas é impossível negar artificialmente as necessidades humanas
criadas pelo desenvolvimento das forças produtivas — necessidades
aparecidas como resultado de a sociedade ter alcançado um certo nível
de desenvolvimento. Quando a produção de um nível total de bens e de
serviços não for suficiente para cobrir as necessidades de todos, banir
tais bens e serviços será sempre ineficaz. Um tal banimento apenas
criaria condições ideais para o mercado negro e para a produção ilegal
desses artigos.
Assim, todas as seitas comunistas, durante a Idade Média, e nos
tempos modernos, pensavam organizar imediatamente a perfeita
sociedade comunista, baseada na perfeita igualdade dos seus membros,
proibindo a produção de artigos de luxo, de artigos para conforto
corrente — incluindo a tipografia! Todas estas tentativas falharam. E
falharam porque a natureza humana é tal que, quando o ser humano se
dá conta de certas necessidades, estas não podem ser reprimidas
artificialmente. Savonarola(6), ao pregar o arrependimento e a
abstinência, atacou o luxo e pediu que fossem queimadas todas as
pinturas; mas, com tudo isso, não teria sido capaz de evitar que um ou
outro incorrigível amante da beleza, pintasse em segredo. E então, o
problema da distribuição de tais produtos "ilegais", que se tornariam
mais escassos do que antes, levantar-se-ia de novo — inevitavelmente.
O Jogo do Proletariado
Outra razão, embora menos importante, tem de se acrescentar ao
que dissemos no princípio deste capítulo.
Quando o proletariado alcança o poder, é em condições muito
especiais, diferentes da tomada do poder por qualquer outra classe
social. No decurso da história quando todas as outras classes sociais
tomaram o poder, já tinham na mão o poder efetivo da sociedade:
econômico, intelectual e moral.
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Não há um único exemplo, antes do nosso exemplo do proletariado,
de uma classe social chegar ao poder quando ainda oprimida sob os
pontos de vista econômico, intelectual e moral. Por outros termos:
postular que o proletariado possa tomar o poder é uma espécie de jogo,
porque, coletivamente, como classe num sistema capitalista, este mesmo
proletariado está esmagado, está impossibilitado de um completo
desenvolvimento do seu potencial criativo. Não se podem desenvolver
completamente as capacidades intelectuais e morais quando se é
obrigado a trabalhar oito, nove ou dez horas por dia na oficina, na fábrica
ou no escritório. E tal é ainda hoje a condição do proletariado.
Resulta que o poder da classe operária, quando o alcançar, é
vulnerável. Em muitos setores o poder do proletariado tem de ser
defendido de uma minoria que continuará, durante todo um período
histórico de transição, a gozar de enormes vantagens no domínio
intelectual e com largas posses materiais — pelo menos das suas
reservas de bens de consumo — relativamente à classe operária.
A revolução socialista expropria a grande burguesia, como detentora
dos meios de produção; mas não arrebata aos detentores burgueses as
suas posses acumuladas, nem os seus diplomas. Menos ainda pode
expropriar-lhes o cérebro e o conhecimento. Durante todo o período que
precedeu a tomada do poder pelo proletariado, foi a burguesia que teve o
quase exclusivo monopólio da instrução.
Assim, numa sociedade em que o proletariado obteve o poder por
algum tempo (poder político, poder de homens armados,seja como for),
muitas alavancas do poder efetivo estão e permanecerão nas mãos da
burguesia — mais exatamente, nas mãos de uma parte da burguesia a
que se pode muito bem chamar "intelligentsia", ou burguesia intelectual
e tecnológica.
Poder operário e técnicos burgueses
Sobre este assunto, Lenin teve algumas experiências amargas. De
facto, pode provar-se que, de qualquer ângulo de que o problema seja
encarado, sejam quais forem as leis, os decretos promulgados, as
instituições estabelecidas, se houver necessidade de professores, de
funcionários de alto nível, de engenheiros, de pessoal técnico de grande
treino, em todos os níveis do maquinismo social, é muito difícil colocar de
um momento para o outro, proletários nessas posições — nem mesmo
antes de cinco ou seis anos, ou mais, após a conquista do poder. Durante
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os primeiros anos do poder Soviético, Lenin, armado de uma fórmula
teoricamente correta, mas levemente incompleta, dizia:
"hoje os engenheiros trabalham para a burguesia; amanhã
trabalharão para o proletariado; para isso serão pagos e, se
necessário, serão forçados a trabalhar. O que importa é que
sejam fiscalizados pelos operários".
Mas, alguns anos depois, pouco antes da sua morte, Lenin, ao fazer o
balanço daquela experiência, perguntava para si próprio: Mas quem
controla? Serão os peritos controlados pelos comunistas ou será o
contrário?
Quando abordamos esta pergunta, dia após dia, em termos concretos
e pensamos nos países subdesenvolvidos, e vemos o que significa na
prática um país como a Argélia, compreendemos perfeitamente que se
trata de um problema fácil de resolver sobre o papel, com algumas
fórmulas mágicas, mas dá-se completamente o contrário quando o
problema tenha de se resolver num país real e na vida real.
Em países como a Argélia; por exemplo, significa um controle
perfeito: o privilégio da instrução universitária (ou de qualquer
ilustração) é apanágio de uma infinitésima minoria da sociedade, ao
passo que a grande massa do povo que combateu heroicamente para
obter a independência, encontrou-se, quando chegou o momento de
assumir o poder, perante uma total carência de conhecimentos que só
agora irá principiar a obter. A mais heróica experiência neste domínio, a
mais radical e mais revolucionária em toda a História humana, foi a
empreendida pela revolução Cubana. Tirando lições de todas as variadas
experiências do passado, a revolução Cubana empreendeu resolver este
problema, em larga escala, e no mínimo espaço de tempo, por meio de
uma extraordinária campanha de instrução(7), para transformar dezenas
de milhares de operários e camponeses analfabetos em outros tantos
mestres, professores e estudantes universitários — e num tempo
mínimo. Ao fim de cinco ou de seis anos de trabalho, os resultados
obtidos foram consideráveis.
Contudo, um simples engenheiro, ou simples agrônomo, num distrito
com dezenas de milhares de operários, pode, na prática, tornar-se patrão
do distrito, a despeito do admirável espírito revolucionário do povo
cubano, se tiver o monopólio do conhecimento técnico que seja vital para
esse distrito.
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Mais uma vez, a falsa solução seria uma transformação a nível tão
simples que os técnicos não fossem precisos. Mas esta é uma utopia
reacionária.
O Estado como guarda do poder operário
Todas estas dificuldades indicam a necessidade que tem o
proletariado, como nova classe dominante, de exercer o poder de Estado
contra todos quantos possam arrebatar-lhe o poder, pouco a pouco, ou
de uma só vez. É nesta nova sociedade de transição, em que o
proletariado possui o poder político e as principais alavancas do poder
econômico, mas em que defronta uma constelação de fraquezas e de
inimigos recém-criados, que tem de ser exercido o poder de Estado. E
uma situação que torna necessário manter o Estado após a conquista do
poder, e que torna impossível abolir esse Estado repentinamente, mas é
evidente que este Estado operário tem que ser de tipo especial.
Natureza e características do Estado operário
O proletariado, pela sua posição especial na sociedade, será obrigado
a manter o Estado. Mas, para preservar o poder desse Estado, tem de
ser radicalmente diferente do Estado que sustentava antes o poder da
burguesia ou da classe feudal e escravizadora. O Estado operário é, ao
mesmo tempo, um Estado, e não o é. Cada vez mais se torna em menos
Estado. É um Estado que começa a extinguir-se, a deperecer, no próprio
momento em que nasceu, como foi dito corretamente por Marx e Lenin.
Marx, ao desenvolver a teoria do Estado operário, da ditadura do
proletariado, como lhe chamou, deu-lhe também várias características,
exemplos dos que se encontraram na Comuna de Paris em 1871. São
três as características essenciais:
1) Não há uma separação nítida entre o poder executivo e o
legislativo.
Há necessidade de um órgão que promulgue as leis e ao mesmo
tempo as faça cumprir. Em resumo, é preciso voltar ao Estado que
nasceu do primitivo comunismo do clã e da tribo e que se podia ainda
encontrar na antiga assembléia dos Atenienses.
Isto é importante. É o melhor caminho para reduzir, tanto quanto
possível, a separação entre o poder efetivo, cada vez mais concentrado
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Andre Augustin
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nas mãos de um órgão permanente, e o poder crescentemente fictício do
parlamentarismo burguês. Não basta substituir uma assembléia
deliberativa por outra, se nada de essencial for mudado com respeito
àquela separação. As assembléias deliberativas devem dispôr de efetivo
poder executivo nas suas mãos.
2) Os cargos públicos devem ser eletivos na máxima extensão.
Não só os membros das assembléias deliberativas devem ser eleitos.
Juízes, funcionários de alto nível, oficiais da milícia, inspetores de
instrução, dirigentes das obras públicas, têm de ser todos eleitos. Isto
poderá ser algo chocante em países com tradições napoleônicas ultra-
reacionárias. Mas certas democracias especificamente burguesas, por
exemplo os Estados Unidos, a Suíça, o Canadá, a Austrália, conservaram
o caráter eletivo de certo número de funções públicas. É assim que nos
Estados Unidos o chefe da polícia é eleito pelo seus concidadãos.
No Estado operário, a eleição de oficiais públicos deve ser
acompanhada em todos os casos pelo direito de revogabilidade ou
demissão, isto é, os oficiais que não dêem boa conta de si, podem ser
imediatamente demitidos em qualquer ocasião.
Assim, será possível um controle permanente e extensivo por parte
do povo sobre os que exercem funções públicas; e a separação entre os
que exercem o poder e aqueles em cujo nome é exercido, será tão
pequena quanto possível. Será por isso necessário assegurar uma
constante mudança das pessoas eleitas, para evitar permanências nos
cargos infinitamente. As funções de Estado devem ser exercidas, em
escala sempre crescente, pelas massas como um todo.
3) Não pode haver ordenados elevados
Nenhum funcionário, nenhum membro dos órgãos representativos e
legislativos, nenhum indivíduo que exerça poder governativo, deve
receber um ordenado superior ao de um operário especializado.
É o único método válido de evitar que haja quem procure cargos
públicos com o intuito de viver comodamente a sugar a sociedade, e
também de evitar os caçadoresde bons lugares e os parasitas bem
conhecidos de todas as anteriores sociedades. Estas são regras que
exprimem corretamente o pensamento de Marx e de Lenin sobre o
Estado operário. Este já não se assemelha a nenhum Estado anterior,
porque é o primeiro Estado que se vai extinguindo ao nascer; é um
Estado cuja engrenagem é composta de pessoas sem qualquer privilégio
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em relação à massa da sociedade; as funções são, cada vez mais,
exercidas pelos membros da sociedade como um todo e vão sendo
substituídos uns pelos outros; não é um Estado constituído por um grupo
de indivíduos destacados da massa, a exercerem funções separadas e à
parte das massas, mas, pelo contrário, é indistinguível do povo e das
massas trabalhadoras; é um Estado que se extinguirá quando
desaparecerem as classes sociais, os conflitos sociais, a economia
monetária, a produção mercantil, as mercadorias, e o dinheiro. Este
deperecimento do Estado deve ser concebido como um governo dos
próprios produtores e dos cidadãos, que se expande cada vez mais, até
que, em condições de abundância material e de alto nível de cultura de
toda a sociedade, esta se encontre estruturada em comunidades de
produtores-consumidores que a si próprias se governem.
Que se passa na União Soviética?
Ao olhar para a história da URSS nos passados trinta anos, a
conclusão a tirar quanto ao Estado é simples: um Estado com exército
permanente, com marechais, diretores, empresas e até dramaturgos e
bailarinas que ganham cinquenta vezes mais do que um operário manual
ou uma empregada doméstica, um Estado em que se estabeleceu uma
seleção para certas funções públicas, tornando o acesso a essas funções
praticamente impossível para a vasta maioria da população; um Estado
em que o poder efetivo é exercido por pequenas comissões de pessoas
cujo cargo é renovado de modo misterioso e cujo poder continua fixo e
permanente por largos períodos — tal Estado não é com certeza um
Estado em deperecimento.
Por quê?
É simples a explicação. Na URSS o Estado não se extinguiu porque
não desapareceram os conflitos sociais. E estes não desapareceram
porque o grau de desenvolvimento das forças produtivas não o permitiu
— porque a situação de meia escassez que caracteriza ainda os países
capitalistas mais avançados, continua a existir na URSS. E, enquanto
essa meia escassez existir, são necessários fiscais, cães-de-guarda,
polícia especial.
Sem dúvida, num Estado operário, estes indivíduos servem uma
causa melhor, pelo menos na proporção em que defendem uma
economia socialista. Mas temos de reconhecer que estão separados do
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corpo social e que em larga medida são parasitas. O seu
desaparecimento está condicionado ao nível de desenvolvimento das
forças produtivas, único que pode permitir um termo aos conflitos sociais
e abolir as funções que Ihes estão adstritas.
E, na medida em que estes cães-de-guarda, estes fiscais, cada vez
mais monopolizam o exercício do poder político, nessa medida sem
dúvida que eles poderão assegurar privilégios materiais crescentes e
manjares escolhidos na relativa escassez que domina a distribuição.
Constituem assim uma burocracia privilegiada, sem o controle efetivo dos
operários, pronta a defender, antes de mais (e sobretudo), os seus
próprios privilégios.
O argumento do "cordão sanitário"(8)
Os perigos resultantes de estarem cercados pelo capitalismo são
constantemente citados pelos que põem objecções às críticas apontadas.
O argumento é este: enquanto existir um perigo externo, o Estado será
necessário, como dizia Stalin, mesmo que se trate apenas de defender o
país das hostilidades que o cercam.
Este argumento baseia-se num equívoco. A existência de um cerco
capitalista ameaçador só pode provar a necessidade de armamento e de
instituições militares, mas não justifica que estas instituições fiquem
separadas do corpo social. A existência de tais instituições militares,
separadas da sociedade como um todo, indica que dentro dela
permanece uma quantidade substancial de tensões sociais que impedem
o governo de armar o próprio povo e que assustam os chefes que não
podem confiar no povo para resolver os problemas militares de
autodefesa, e segundo a sua maneira.
O povo seria capaz de o fazer se a colectividade tivesse realmente o
grau de superioridade que uma sociedade realmente socialista deve ter,
em relação à sociedade capitalista.
Na realidade, o problema do cerco externo é só um aspecto
secundário de um fenômeno muito mais geral: o nível de
desenvolvimento das forças produtivas, a maturidade econômica do país,
estão muito longe do nível que deveriam ter numa sociedade socialista.
A União Soviética tem continuado a ser uma sociedade de transição
cujo nível de desenvolvimento das forças produtivas é comparável ao de
uma sociedade capitalista avançada. Tem, pois, de combater com armas
comparáveis.
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Não tendo eliminado os conflitos sociais, a URSS teve de manter
todos os órgãos de controle de vigilância da população e, por isso, teve
de manter — e até de reforçar — o Estado, em vez de permitir o seu
deperecimento. Por numerosas razões específicas, produziram-se
deformações e degenerescências burocráticas nesta sociedade de
transição, as quais têm provocado grave prejuízo à causa do socialismo,
especialmente porque a etiqueta "socialismo" foi atribuída à sociedade
Soviética com medo de dizer a verdade: "Somos ainda demasiado pobres
e demasiado atrasados para podermos criar uma verdadeira sociedade
socialista".
Na medida em que se pretendeu usar a etiqueta "socialista", a todo o
custo, para fins de propaganda, pode ser explicada a existência de coisas
como purgas "socialistas", campos de concentração "socialistas", direitos
das minorias nacionais, etc., etc.
Garantias contra a burocracia
Que garantias poderão ser introduzidas no futuro para evitar o
crescimento anormal da burocracia que surgiu na URSS?
1) Respeitar escrupulosamente as regras já mencionadas,
respeitantes ao começo da extinção do Estado operário (em particular a
limitação de ordenados a todos os funcionários — econômicos e
políticos).
2) Respeitar escrupulosamente o caráter da gestão econômica:
comissões de auto-gestão operária, eleitas pelos operários nas
empresas; congresso de produtores ("Senado Econômico"), eleito por
essas comissões. Em última análise, os que controlam o sobre produto
social devem controlar toda a sociedade.
3) Respeitar escrupulosamente o princípio de que o Estado operário
que tem necessidade de restringir as liberdades políticas de todos os
inimigos de classe que se opõem ao advento do socialismo (restrição que
deve ser proporcional à violência e à resistência oferecidas), deve, ao
mesmo tempo, alargar aquelas liberdades a todos os operários: liberdade
para todos os partidos que respeitem a legalidade socialista; liberdade de
imprensa para todos os jornais que respeitam essa legalidade; liberdade
de reunião e de associação — sem qualquer restrição; independência real
dos sindicatos em relação ao Estado; direito de greve reconhecido.
4) Respeitar o caráter democrático e público de todas as assembléias
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23 de 25 03/03/13 21:49deliberativas e a sua completa liberdade de debate.
5) Respeitar o princípio de uma lei escrita.
Teoria e prática
A teoria marxista sobre o deperecimento do Estado tem sido
completamente desenvolvida durante mais de meio século. Na Bélgica só
há um pequeno pormenor que falta, uma pequena coisa que ainda não
foi feita — pôr a teoria em prática.
Início da página
Notas:
(1) La fin tragique des Bushem: Paris, Amiot-Dumont, 1953. pp.70-73. (retornar ao
texto)
(2) I. Shapexa. The Khoisan Peoples of South Africa: Georges Routledge and Sons,
1930. p.76. (retornar ao texto)
(3) A. Moret e G. Davy. Des clans aux Empires: Paris Reinaissance du Livre, 1923. p.17.
(retornar ao texto)
(4) Anedota do vaso de Soissons. A lenda narra um incidente do reinado do Clovis entre
os Francos no Século V da nossa Era (Clovis foi o primeiro franco a aceitar o
cristianismo e, durante o seu reinado , a maior parte da Bélgica e da França foi unida
num reino). Depois da vitória de Soissons (486), quando dividiam o espólio igualmente
entre todos os soldados , Clovis quis guardar para si um certo vaso. Um soldado saiu da
fileira e esmigalhou o vaso com a espada para mostrar que nenhum combatente tinha
direito a qualquer privilégio especial na partilha do espólio. (retornar ao texto)
(5) Doutrinária. Chamaram doutrinários aos membros da ala conservadora do Partido
Liberal da Bélgica no século XIX. Opunham-se violentamente ao sufrágio universal, ao
passo que os chamados Progressistas do Partido Liberal estavam prontos a aceitar esse
sufrágio. (retornar ao texto)
(6) Savonarola (1452-1458). Reformador religioso italiano e chefe de massas que
atacou a corrupção e o vício em sermões ardentes. Caiu na inimizade do Papa Alexandre
VI, devido a Ter desvendado escândalos na corte pontifícia, que tornou públicos.
Acusado como herege, foi queimado no cadafalso em Florença. (retornar ao texto)
(7) A delegação cubana à Conferência sobre Instrução e Desenvolvimento Econômico,
realizado em Santiago do Chile, em março de 1962, declarou o seguinte: “Para se
comparar a eficiência dos métodos cubanos com relação aos adotados pela Conferência,
bastará notar que os autores da chamada “Aliança para o Progresso” ofereceram um
empréstimo de 150 milhões de dólares por ano a 19 países com uma população de 200
milhões, ao passo que um simples país – Cuba – com 7 milhões de habitantes,
aumentou o seu orçamento de instrução e cultura, gastando 200 milhões por ano, sem
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Inclusão 16/05/2009
ter que pagar juros fosse a quem fosse.
Só durante a ano de 1961, 707000 adultos aprenderam a ler e a escrever em Cuba,
cujo analfabetismo baixou para 3,9 %. Para 1961- 1964, Cuba estabeleceu os seguintes
objetivos no domínio da instrução: 1) passar os que recentemente aprenderam a ler e a
escrever para o nível médio da instrução primária; 2) completar a instrução primária de
meio milhão de operários que só tenham três anos de escola elementar; 3) assegurar a
instrução secundária básica a 40000 operários que completaram a instrução primária.
(retornar ao texto)
(8) “Cordão Sanitário”. Quando já no nosso século, surgia uma doença grave e
contagiosa em qualquer cidade, estabelecia-se um cerco militar para não permitir
entradas nem saídas de pessoas e dava-se a este cerco o nome de “cordão sanitário” .
A Rússia Soviética foi também cercada por tropas estrangeiras e seus aliados na
Primeira Guerra Mundial, privada de relações comerciais, diplomáticas e culturais com o
resto do mundo. Foi uma época de tremendas privações para a Rússia. O mesmo se dá
com Cuba, bloqueada pelos Estados Unidos, econômica e efetivamente, com o fim de
evitar “infecções”. (retornar ao texto)
Este texto foi uma colaboração
Teoria Marxista do Estado http://www.marxists.org/portugues/mandel/ano/mes/teoria.htm
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