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04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 1/14 Ciências Sociais Aula 3 - Elementos essenciais do Estado INTRODUÇÃO Finalizamos a aula anterior promovendo a análise de várias teorias que tentam explicar de que maneira foi construída esta complexa instituição que denominamos Estado. Como se pode perceber, é no ambiente estatal que se desenvolvem algumas das mais importantes relações entre os membros de uma sociedade política, o que acaba por conceder ao Estado um papel central na organização das complexas sociedades de hoje. Faz-se, então, necessário que avancemos a análise. Nesta aula, analisaremos os elementos essenciais que classicamente compõem o Estado e as características principais do Governo soberano, Território e Povo. Mas, o que é “essencial” em alguma “coisa”? Essencial é tudo aquilo que faz a coisa ser o que é. Ou seja, retirando-se qualquer um dos elementos essenciais da “coisa”, ela deixa de ser “a coisa”. Assim, na concepção clássica de Estado, 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 2/14 os elementos essenciais seriam o território, o povo e a soberania. Discutiremos como se apresentam relativizados os elementos essênciais do Estado diante da realidade mundial da globalização e do neoliberalismo. Além disso, explicaremos a representação diplomática e os aspectos relativos ao reconhecimento internacional e como estes conceitos contribuíram para o surgimento de uma ciência política de viés internacional. OBJETIVOS Identi�car as características principais do Governo soberano, Território e Povo; Examinar os elementos essências do Estado diante da realidade mundial da globalização; Analisar a representação diplomática e os aspectos relativos ao reconhecimento internacional. 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 3/14 O ESTADO MODERNO E SUA CONFIGURAÇÃO A PARTIR DE VESTEFÁLIA Antes da Paz de Vestfália, de 1648, que pôs �m à Guerra dos 30 anos (entre a França e a Espanha), a organização política típica da medievalidade estava baseada nos seguintes aspectos: ASPECTO 1 Concepção dual de poder: havia o poder temporal de cada um dos senhores feudais, além do rei, portanto uma fragmentação do poder político. E havia o poder da Igreja, o poder eclesiástico, que era o único poder universal, pairando acima de todos. No período medieval não temos essa centralidade no exercício do poder. Com efeito, durante a Idade Média, essa fragmentação de poder é acentuada. A quem o indivíduo deve obedecer? ao rei? À Igreja? ao senhor feudal? às corporações de ofício? Eram muitas as fontes normativas, sem que houvesse uma organização centralizada entre elas. Essa disputa de poder evidenciava-se de forma mais aguda na disputa entre o poder temporal (do Imperador) e o poder eclesiástico (do Papa) pela supremacia política. ASPECTO 2 Guerras Religiosas: eram guerras marcadas por diferenças religiosas, como foi o caso da Guerra dos 30 anos. ASPECTO 3 Não existia o Estado Nacional propriamente dito: na Idade Média, prevaleceram as relações de vassalagem e suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao vassalo, sendo que este último deveria prestar �delidade e ajuda ao seu suserano. O vassalo oferecia ao senhor, ou suserano, �delidade e trabalho, em troca de proteção e um lugar no sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso. Todos os poderes jurídico, econômico e político concentravam-se nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos). COMO SE DEU O SURGIMENTO DESTE ESTADO MODERNO? Desde sua origem, que remonta aos acordos de Paz de Vestfália (glossário), de 1648, que acabou com a Guerra dos 30 Anos, o Estado surge na forma absolutista, ou seja, buscou colocar nas mãos do monarca o poder característico da autoridade estatal, um poder de imperium, vale dizer, um direito absoluto do Rei sobre todos aqueles que se encontrassem no território do Estado. Assim, a noção de soberania (poder político) cristaliza-se, historicamente, como única fonte do exercício do poder político, isto é, um poder uno e indivisível, que é juridicamente incontrastável. Em outros termos, é possível a�rmar que o conceito de soberania una e indivisível, com base na capacidade de estabelecer uma única ordem jurídica válida para todos, afastou a concepção de poder fragmentado, típica do período Medieval. 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 4/14 A PAZ DE VESTFÁLIA E A CRIAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS E DO DIREITO INTERNACIONAL É necessário prestar muita atenção para a importância da Paz de Vestfália, especialmente à transformação profunda e inovadora que produz e a arquitetura conceitual que traz em si. Pela primeira vez, no lento processo de evolução da formação do Estado Moderno, tem-se aquilo que se poderia chamar de percepção soberana de um Estado Nacional em relação aos demais. Então, podemos a�rmar que a criação dos Estados Nacionais (países, como os conhecemos hoje) se consolida com a Paz de Vestfália e caracteriza o �m da Idade Média e início da Idade Moderna. Essa temática vai nos levar a outro tema fundamental: a formação de uma sociedade internacional composta de Estados territoriais soberanos. Esta é o contrário da ordem medieval, cuja arquitetura era calcada na fragmentação do poder. 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 5/14 Fonte: LIMA, M. M.; GÓES, G. S. Ciência Política. Rio de Janeiro: SESES. 2015. Desse modo, é com base no pactuado em Vestfália que se cria um Direito Internacional propriamente dito, como o concebemos hoje, aplicável às relações entre nações estrangeiras, em que, ao menos teoricamente, é reconhecido o princípio da igualdade jurídica dos Estados, segundo o qual a lógica de relacionamento interestatal é o respeito mútuo, consolidado na aceitação da ordem jurídica nacional. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ESTADO: TERRITÓRIO, POVO E SOBERANIA Território Lima e Góes (2015) a�rmam que o território e o povo são o elemento material do Estado. Isso signi�ca dizer que o território é componente material da estrutura do Estado, indispensável a sua existência (lembremos do conceito de essencial), pois é a base geográ�ca do poder estatal, a base física sobre a qual o Estado irá exercer sua jurisdição soberana. É nesse sentido que a ideia de território �xa a jurisdição do Estado, aqui compreendida como os limites dentro dos quais se exerce a soberania do Estado. Os autores adotam, então, a de�nição de Ferrucio Pergolesi, que estabelece ser o território “a parte do globo terrestre na qual se acha efetivamente �xado o elemento populacional, com exclusão da soberania de qualquer outro Estado”. Em essência, este conceito de território, enquanto delimitação espacial do poder, projeta a ideia de que a soberania se estende sobre o solo, o subsolo, as águas interiores, o mar territorial e o espaço aéreo sobrejacente, perfazendo assim o caráter multidimensional do território. Vale, portanto, que examinemos com maiores detalhes este citado aspecto multidimensional do conceito de território. 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 6/14 São as seguintes as áreas do território marítimo estatal: Essas diferentes áreas, como não poderiadeixar de ser, recebem diferentes nomenclaturas para deixar claro que estão submetidas a diferentes legislações. A �gura a seguir sintetiza as diferentes áreas do território marítimo brasileiro: 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 7/14 Fonte: LIMA, M. M.; GÓES, G. S. Ciência Política. Rio de Janeiro: SESES. 2015. Uma questão interessante: existe um limite mínimo de extensão para que o Estado seja reconhecido como tal? A) Sim, existe regra internacional. B) Não, não existe regra internacional que quanti�que o mínimo de extensão territorial que um determinado Estado deva possuir. Justi�cativa Fonte da Imagem: Nesse sentido, basta lembrar o caso do Vaticano, cujo território ín�mo, vale dizer, 0,44 km², está situado dentro da cidade italiana de Roma. E há outros muito pequenos como, entre os mais conhecidos, Mônaco, com 2 km² e San Marino com 62 km². Povo O segundo elemento essencial do Estado é o povo. O termo povo tem uso amplo e indiscriminado e acaba se confundindo com outros conceitos que lhe são distintos, tais como população e nação. Por isso, é importante que 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 8/14 iniciemos nossa análise procurando uma maneira de diferenciá-lo desses outros conceitos, evitando, assim, deformações conceituais. O conceito jurídico-político de povo está relacionado ao vínculo da nacionalidade entre a pessoa e o Estado e sua aceitação como elemento essencial para a constituição do Estado é unânime. POVO É o conjunto de indivíduos que, em um dado momento, se unem para constituir o Estado, estabelecendo, assim, um vínculo jurídico de caráter permanente. POPULAÇÃO É o conjunto de pessoas que se encontram na base geográ�ca de poder do Estado, sem que isso importe necessariamente possibilidade de participar da vida política do País. NAÇÃO A nação representa uma coletividade real que se sente unida pela origem comum, pelos laços linguísticos, culturais ou espirituais, pelos interesses comuns, por ideais e aspirações comuns. Assim, nação pode ser entendida como grupos constituídos por pessoas que não necessitam ocupar um mesmo espaço físico para compartilhar dos mesmos valores axiológicos e da vontade de comungar um mesmo destino. Soberania Tendo em conta o contexto original de concepção dual de poder (poder temporal dos reis e poder secular, ou espiritual da Igreja), Jean Bodin elabora uma teoria da soberania absoluta do Estado, seja no plano interno, seja 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f03… 9/14 no plano externo, para, naquele momento, legitimar o poder do Rei de França no contexto de disputa entre o poder temporal e o poder espiritual. No decorrer da própria Modernidade, o conceito de soberania vai sendo desenvolvido a partir da elaboração das teorias clássicas dos �lósofos contratualistas. LEGALIDADE E LEGITIMIDADE COMO FUNDAMENTOS DA SOBERANIA A ideia de legalidade deve ser vislumbrada como a submissão às leis produzidas pelo próprio Estado, podendo ou não re�etir as aspirações da sociedade como um todo. O conceito de legitimidade projeta a ideia de que o poder soberano no Estado Moderno não basta estar submetido às diretrizes legais (conceito de legalidade), mas também deve se preocupar em atender as aspirações legítimas da sociedade (conceito de legitimidade). 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 10/14 O ESTADO DIANTE DA REALIDADE MUNDIAL DA GLOBALIZAÇÃO Para Steren dos Santos (2001), existe, atualmente, amplo debate sobre o papel do Estado e sua relação com a sociedade civil. Alguns fazem previsões a respeito do gradual enfraquecimento do seu poder e autonomia, enquanto outros destacam sua crescente importância como instância reguladora das profundas transformações da sociedade global. Nos últimos anos, os intelectuais orgânicos da burguesia têm divulgado inúmeros mitos em torno da globalização, entre eles o de que as fronteiras estatais, sociais e culturais tendem a desaparecer ou de que os Estados Nação são ine�cientes na resolução das questões cruciais da sociedade contemporânea. A crise do Estado é uma realidade, sendo maior seu impacto nos países periféricos: O Estado se retirou de amplas zonas urbanas marginais, convertidas em terra de ninguém, bandos ma�osos se lançam à rapina dos patrimônios nacionais, formando inéditos panoramas de subdesenvolvimento caótico e corrupção (Beinstein, 2001, p. 69). A privatização e desnacionalização das riquezas em inúmeros países são fenômenos em crescimento acelerado, veri�cando-se também índices elevados de violência e criminalidade. O poder do Estado está em questão, como decorrência do domínio do grande capital internacionalizado e das investidas da ideologia e da prática neoliberal. No entanto, é importante destacar que ele continua tendo um papel fundamental na orientação e regulação do processo de desenvolvimento. A REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA E DOS ASPECTOS RELATIVOS AO RECONHECIMENTO INTERNACIONAL 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 11/14 O reconhecimento de Estado é o ato unilateral por meio do qual um ente estatal veri�ca o aparecimento de um novo Estado e acolhe tanto as consequências jurídicas próprias a este fato, como avalia o novo Estado sujeito hábil a manter relações válidas no campo jurídico. Assim, o reconhecimento é ato simplesmente declaratório, porque não cria o Estado, visa somente atestar que um novo Estado surgiu. Por isso, não tem propósito constitutivo e não de�ne a existência do ente estatal. Reconhecer um novo Estado sugere apenas que aquele Estado Nação aceita a personalidade jurídica do Estado reconhecido com todos os direitos e deveres determinados pelo Direito Internacional, nos termos do que prevê o Art. 8° da Convenção de Montevidéu. É, em geral, um ato discricionário, baseado, consequentemente, em conceitos de interesse nacional. É, além disso, vinculado a acertadas condições, estabelecidas nos livros de Direito Internacional, pelos organismos internacionais e pela prática internacional, as quais não incluem, todavia, o reconhecimento por parte de terceiros Estados. Em razão desse caráter discricionário, o reconhecimento também não é obrigatório, ou seja, não existe nem um dever daquele que o confere, nem um direito do Estado que solicita. O reconhecimento é, em via de regra, um ato incondicionado. No entanto, esse reconhecimento pode se condicionar em relação a determinados requisitos vinculados ao respeito de normas que, por sua importância, devem ser obedecidos por todos os membros da sociedade internacional. EXERCÍCIOS Questão 1 Foi noticiado na imprensa a ocorrência de um assassinato no interior de navio mercante com bandeira da Nauru (pequena ilha no Pací�co Sul, com território inferior a 22 km quadrados) a 10 milhas marítimas de distância da linha de base do território brasileiro. A �m de realizar a entrega de produtos extraídos na ilha e comercializados para o exterior, o referido navio dirigia-se a uma plataforma da Petrobras, situada a 15 milhas marítimas de distância da costa brasileira, que explora petróleo a uma profundidade de 6 mil metros (pré-sal). Na reportagem, o jornalista a�rmou que as autoridades brasileiras seriam competentes para investigar e julgar o crime, já que o mesmo teria ocorrido dentro de seu território (o chamado mar territorial).Além disso, informou a reportagem, a pequena extensão territorial de Nauru era fator impeditivo para que se reconhecesse a mesma como um Estado detentor de soberania. Analisando as informações anteriores, responda: a) Procedem os argumentos apresentados pelo jornalista para sustentar a competência das autoridades brasileiras no que se refere à investigação e ao julgamento do crime? 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 12/14 Resposta Correta EXERCÍCIOS b) Estaria o Brasil autorizado a explorar atividade econômica fora de seu mar territorial sem a permissão da comunidade internacional? Resposta Correta Questão 2 As seguintes a�rmativas se referem ao período anterior à Paz de Vestfália. I - Concepção dual de poder. II - Fragmentação do poder político. III - Representação diplomática dos Estados Nacionais. Está correto o que se diz nas opções: A) Somente I B) Somente II C) Somente III D) Somente I e II E) Todas estão corretas. Justi�cativa Questão 3 São elementos essenciais do Estado: A) Povo, território e jurisdição B) Território, povo e jurisdição 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 13/14 C) Jurisdição, povo e soberania D) Povo, território e soberania. E) Soberania, território e jurisdição. Justi�cativa Glossário PAZ DE VESTFÁLIA A Paz de Vestfália, de 1648, diz respeito a um conjunto de tratados que encerrou a Guerra dos 30 anos, cujo início havia se dado em razão da rivalidade política entre o Imperador da dinastia dos Habsburgo, do Sacro Império Romano-Germânico e as cidades- Estado luteranas e calvinistas no território do norte da atual Alemanha, que se opunham ao seu controle. Esta guerra envolveu, por um lado, as potências católicas administradas pelos Habsburgos (Espanha e Áustria), por outro lado, os Estados protestantes escandinavos e a França (que embora católica, temia o domínio dos Habsburgo na Europa). Vê-se que os embates políticos e religiosos se misturaram neste momento histórico. 04/09/2018 Disciplina Portal http://estacio.webaula.com.br/Classroom/index.html?id=2417637&classId=984554&topicId=2191472&p0=03c7c0ace395d80182db07ae2c30f0… 14/14 Por isso, entende-se que a Paz de Vestfália, além de consolidar a independência dos Países Baixos, abalou o poder do Imperador do Sacro Império, concedendo aos governantes dos estados germânicos a possibilidade de estabelecer a religião o�cial dos territórios sem interferência externa.
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