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*Graduando de Bacharelado em Direito no Instituto de Ensino Superior Florence. E-mail: leandro.direito@ig.com.br INSTITUO FLORENCE DE ENSINO SUPERIOR CURSO: BAC. EM DIREITO 1º PERÍODO NOT. DISCIPLINA: INTRO. AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA PROFESSOR (A): JOÃO MARCELO MACENA ALUNOS: LEANDRO SILVAMACHADO CÓD.: 14157070 DATA: 20.05.2014 O RACISMO: A RELAÇÃO ENTRE AS NORMAS JURÍDICAS E A REALIDADE SOCIAL BRASILEIRA. Leandro Silva Machado* RESUMO Como lidar com as antinomias jurídicas face às diferenças socioculturais e, principalmente, raciais indiscutivelmente existentes no território brasileiro? A garantia dos direitos fundamentais à vida, liberdade, segurança e propriedade que todos os brasileiros inviolavelmente possuem estão relacionados à cor, religião, idade, sexo ou outra peculiaridade da pessoa humana em detrimento à sua dignidade? A prisão é realmente um depósito de monstros negros, pobres e desumanos que a sociedade, desde sua formação histórica exclui da participação executiva, judicial e legislativa ou mesmo propriamente social no meio em que vivem? Esses questionamentos constituem o ponto de partida para a análise ora proposta. O presente artigo problematizará o racismo no Brasil frente às normas e suas execuções, em especial na esfera penal. PALAVRAS-CHAVE: Direitos Fundamentais. Brasileiros. Dignidade. Prisão. Racismo. A liberdade humana é a máxima aspiração essencial para sua plena realização. Em determinados casos essa liberdade é suprimida pela discriminação e, inclusive, pelo desprezo da garantia constitucional à igualdade independente de raça, cor, religião ou cultura. No Brasil a legislação penal vigente regula que não há crime sem lei que o defina. Partindo do principio da isonomia legal, onde todos são iguais perante a lei, é fácil notar através dos veículos de comunicação de todo o Território, que diariamente cidadãos são mortos, presos e até mesmo torturados de forma inocente. Tudo isso por conta de sua cor ou classe social que estão historicamente ligadas às práticas ilícitas e a costumes de necessidade financeira. A realidade dessa afirmação pode ser vista através dos dados levantados por Augusto Santos onde afirma que os mortos pela polícia entre os anos de 1993 e 1996 contabilizam 70,2% de pardos para somente 29,8% de brancos. Essa realidade pode ter duas análises: uma é de que pessoas que nascem em subúrbios, morros, favelas e ruas geralmente são de cor negra e essas, estão mais propicias a marginalização devido ao fato da dificuldade de acesso a saúde, lazer, assistência social e, principalmente, educação. Se for pensar na lei 2 LARAIA, Roque de Barros. Cultura : um conceito antropológico. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Pg. 29-64. DA MATTA, Roberto. O que faz o Brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1999. Cap. 3. SANTOS, Ivair Augusto Alves dos. Direitos Humanos e a Prática do Racismo. http://bdcamara.leg.br. 2013. penal brasileira, essas pessoas estariam em competição de igualdade com aquelas que não fazem parte desse cenário. Mas, a realidade que é vista no Brasil é bem diferente. Se a polícia estão matando mais pessoas com esse perfil suspeitas de cometer crimes é porque está havendo uma discriminação em relação à cor. É necessário se entender que isso já é uma prática abusiva que viola o direito de dignidade da pessoa humana. Por outro lado, o Estado que é detentor do poder de punir fecha os olhos para as camadas que já nascem em condições de risco e demonstra uma falsa preocupação com a educação abrindo mão do principio da isonomia e estabelecendo decreto que determina vagas específicas para negros em alguns seletivos de ordem pública. Se em vez de abrir vagas restritas para os excluídos, o Estado incluísse esses cidadãos em políticas públicas de assistência à saúde – para garantir condições físicas e mentais, educação – a fim de garantir o conhecimento de ciências naturais e políticas para compreender o espaço em que vivem e as pessoas as quais irão lhe representar possivelmente tais excluídos estariam fazendo parte de forma mais direta da sociedade brasileira. Atualmente, o sistema carcerário do Brasil é formado em sua grande maioria por pobres, negros e que estão na classificação menos favorecida da sociedade. Geralmente estão inseridos em programas assistencialistas que, em suma, não auxiliam o cidadão a manter sua dignidade tampouco de uma família, não garantem educação de qualidade e muito menos atestam garantia de segurança e saúde. Nesses termos, a vida do cidadão está em cheque, pois, ainda que criminoso, não lhe são asseguradas as mínimas condições de segurança nem mesmo quando sob custódia da justiça. Muitos são mortos com caráter de justiça ilegal, atribuindo- lhes pena de morte em detrimento às suas práticas que não passam de consequências de um sistema de democracia representativa falida. Desta forma, aquilo que era para ser um sistema de ressocialização ou simplesmente reclusão até a data de um julgamento, passa a ser a escola que o encarcerado não teve quando devia, porém que vai lhe ensinar tudo de outra forma: na forma do crime. Faz-se necessário a sociedade como um todo e o próprio Estado, que tem a responsabilidade de garantir o direito fundamental à vida, apreender que não se trata de monstros humanos, mas de pessoas que não tiveram a oportunidade que deveriam ter garantidas quando compram um quilo de arroz, um litro de gasolina, ou qualquer outro produto como qualquer um dos tributados exorbitantemente no País. Mas será que isso só ocorre com os negros e pobres? Até que ponto uma pessoa com perfil diferente do supracitado pode ser punido com os mesmos critérios da legislação vigente? Essa problemática é resolvida quando a imprensa – principal visionário político, mostra de forma descarada e aberta o que acontece esporadicamente no país com aqueles ditos mais favorecidos. Um estudo realizado por Boris Fausto em São Paulo-SP revela que existem condenações de brancos e com poder aquisitivo razoável onde aproximadamente 36% das condenações são de pessoas com esse tipo de perfil enquanto 48% são de pessoas negras. Felizmente essa realidade está mudando. O Brasil já tem ministros, deputados, prefeitos, representantes de forças armadas e policias que são negros, mas infelizmente isso ainda está longe de se tornar uma realidade humanizada. Ainda é difícil um comandante da polícia militar, do corpo de bombeiros, um secretário de segurança, e até mesmo um presidente da república legitimamente negro ou mesmo “negra”. Ao que parece ainda vai custar essa classe sucumbida e desfavorecida se enraizar nesses cargos. O Brasil vai continuar miscigenado, mas com uma exclusão dos mais fortes na cor e mais fracos na visão do sistema.
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