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214 Morcegos do Brasil nação do sexo do tipo XX / XY1Y2. Isso ocorre devido a uma translocação entre um autossomo (Y2) e o cromossomo X (translocação X- autossomo) (KASAHARA & DUTRILLAUX, 1983). Assim, o Y1 é o cromossomo Y original e o Y2 é um autossomo ímpar, homólogo ao segmento translocado para o cromossomo X. RODRIGUES et al. (2003) discutiram a origem do sistema multiplo de determinação do sexo em Stenodermatinae e propuseram uma hipótese al- ternativa a de TUCKER (1986), onde o cromossomo X original de Stenodermatinae é si- milar ao cromossomo X de Phyllostomus hastatus e o rearranjo envolvendo o cromossomo homólogo ao Y2 pode ter sido fusão in tandem (centrômero- telômero) seguida de inativação centromérica. Nas espécies Sturnira lilium e Platyrrhinus lineatus, que apresentam complemento autossômico bastante parecido com o de Artibeus, parece ter ocorrido algo similar entre um autossomo e o cromossomo Y, levando ao sistema neo-XY (TUCKER, 1986). VARELLA-GARCIA et al. (1989) obser- varam, em Platyrrhinus lineatus procedente de São Paulo, variação em relação à adição de heterocromatina constitutiva ao braço curto do maior autossomo subtelocêntrico e grandes blo- cos de heterocromatina em ambos os braços de um pequeno autossomo metacêntrico, o que indi- ca variação intraespecífica. Nas espécies Artibeus planirostris e A. lituratus, bandas C mostraram a presença de heterocromatina constitutiva nas regiões centroméricas, nas regiões interticiais de diversos braços autossômicos, nos braços curtos de quatro cromossomos autossomicos subtelocêntricos e do cromossomo X. O Y1 é inteiramente heterocromático nas duas espécies. O Y2, que não tem papel na determinação do sexo, tem heterocromatina constitutiva no centrômero e telômero e possui padrão de banda C similar ao do braço curto do cromossomo X em cada espécie (VARELLA-GARCIA et al., 1989; ALTHOFF, 1996). Artibeus jamaicensis tem o mesmo cariótipo e A. cinereus tem o mesmo complemento padrão de autossomos (SOUZA & ARAUJO, 1987). ALTHOFF (1996) observou que Artibeus lituratus, A. fimbriatus, A. jamaicensis e A. obscurus do sul do Brasil compartilham o mesmo padrão de bandas G, similar ao descrito na literatura. Artibeus lituratus e A. obscurus apresentam bandas C teloméricas nos pares 5, 6, 7 e 9, e A. fimbriatus e A. aff. jamaicensis apresentam uma variação intracelular, que, segun- do ALTHOFF (1996), não se configura como o padrão distinto comumente verificado em Artibeus. A morfologia dos cromossomos sexuais em Artibeus (Artibeus) pode variar. ALTHOFF (1996) obser- vou variação na forma e tamanho do Y1, e cita que essa variação pode acontecer devido à inver- são pericêntrica e adição de heterocromatina constitutiva. De acordo com VARELLA-GARCIA et al. (1989), os Stenodermatinae brasileiros podem ser classificados em dois grupos com base em suas características citogenéticas: o primeiro corresponde aos gêneros Artibeus, Sturnira e Platyrrhinus, e o segundo ao gênero Chiroderma. As espécies do primeiro grupo têm 2n = 30 ou 31 ( ) e 30 ( ), mostrando similaridade na morfologia cromossômica e extensiva homeologia nos padrões de bandas G, exceto para o cromossomo 7, que difere por uma inversão paracêntrica entre Artibeus e Sturnira-Platyrrhinus. Há, também, um aumento no total de heterocromatina constitutiva, revelada pelas ban- das C, e uma redução no número de RONs ativas por genoma de Artibeus para Sturnira-Platyrrhinus. As espécies do grupo Chiroderma têm 2n = 26 e mesmos padrões de bandas C e G, mas é observa- da uma redução no número de RONs ativas de C. doriae para C. villosum. Apesar da diferença de nú- mero diplóide, observa-se extensiva homeologia entre os cariótipos. Os cromossomos 1-4, 6-11, 13 e X têm padrões similares, e uma inversão pericêntrica no cromossomo subtelocêntrico do 215 Moratelli, R. & Morielle-Versute, E. Capítulo 15 - Métodos e aplicações da citogenética... primeiro grupo pode ter originado o cromossomo metacêntrico 5 de Chiroderma (VARELLA- GARCIA et al., 1989). As espécies dessa subfamília raramente mostram variabilidade intra e interespecífica. En- tre as que fogem a essa regra, estão as espécies do gênero Uroderma, que caracterizam-se pelo alto grau de evolução cariotípica, mostrando grande variabilidade nas duas espécies existentes: U. bilobatum e U. magnirostrum (BAKER, 1979). Para o Brasil, espécimes de U. magnirostrum da região norte, que foram estudados por SILVA et al. (2005), apresentam cariótipo similar (2n = 36 e NF = 62) ao de espécimes da América Central estudados por BAKER & LOPEZ (1970). A única variação ob- servada se deve a um espécime que mostrou heteromorfismo no braço curto do cromossomo 5, que corresponde ao maior submetacêntrico. Uroderma bilobatum (2n = 42) também apresentou cariótipo similar ao estudado por BAKER & LOPEZ (1970) e BAKER et al. (1982). Para SIL- VA et al. (2005), apesar dos diferentes números diplóides, o alto grau de homeologia cromossômica entre essas duas espécies reforça a hipótese de pro- ximidade evolutiva. Elas possuem características exclusivas, tais como o par 15 de U. magnirostrum e o par 10 de U. bilobatum, não encontrados em ne- nhuma outra espécie de Stenodermatinae até o momento. Elas também compartilham dois pares (16 e 17 em U. magnirostrum e 12 e 15 em U. bilobatum) que surgiram por fissão de cromossomo metacêntrico. A análise comparativa conduzida por SILVA et al. (2005) permite concluir que o gênero é monofilético. Dentro do gênero, U. magnirostrum apresentaria o cariótipo primitivo e U. bilobatum o cariótipo derivado. Para os autores, a direção da evolução cariotípica nesse grupo indica aumento no número cromossômico por eventos de fissão, seguidos de fusão, inversão e/ou translocação. Desmodontinae Citogeneticamente, os três gêneros são muito similares em relação ao par sexual e todos os cromossomos do conjunto autossômico são meta ou submetacêntricos (CADENA & BAKER, 1976). Os gêneros Diphylla e Diaemus possuem os mesmos 2n e NF, o que sugere que sejam mais relacionados entre si do que qualquer um deles com Desmodus. CADENA & BAKER (1976) observa- ram que os três gêneros de Desmodontinae apre- sentam grande similaridade cariotípica bastante grande com certos membros das subfamílias Phyllostominae e Glossophaginae, divergindo, por outro lado, dos membros das subfamílias Carolliinae e Stenodermatinae. Representantes brasileiros das três espé- cies já foram estudados tendo-se verificado exten- sa homeologia cromossômica entre os membros dessa subfamília (VARELLA-GARCIA et al., 1989). Comparando os cariótipos de Desmodus rotundus (2n = 28 e NF = 52) e Diphylla ecaudata (2n = 32 e NF = 60) através de bandas G, SAN- TOS et al. (2001) observaram homeologia dos pa- res 1, 2 e 3 e identificaram o cromossomo 7 de D. rotundus como homeólogo ao cromossomo 8 de D. ecaudata. Os autores observam ainda, que essas espécies têm padrões de bandas conservados. Carolliinae As espécies Carollia brevicauda, C. subrufa, C. perpicillata e C. castanea (sensu SOLARI & BAKER, 2006) possuem uma translocação X-autossomo, idêntica a que ocorre em Artibeus (BAKER & BLEIER, 1971; PATTON & GARDNER, 1971). Assim, o sistema de determinação do sexo para essas espécies é do tipo XX / XY1Y2. Até recentemente considerava-se que C. castanea apresentava dois citótipos onde as popu- lações da América Central, Equador e Colômbia apresentavam a translocação X-autossomo (2n = 20/21), enquanto que as populações do Peru, Bolívia e Brasil não portavam essa variação (2n = 22). A partir desses citótipos, de dados moleculares e da clina observada por MCLELLAN (1984),
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