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Morcegos do Brasil unlocked Parte32

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Morcegos do Brasil
gorias tróficas, entretanto, não aparecem de ma-
neira descontínua dentro da subfamília, havendo
condição intermediária nas espécies de médio porte
(GIANNINI & KALKO, 2005). As presas podem
ser capturadas em pleno vôo ou no substrato, sen-
do essa última condição predominante (KALKO
et al., 1996; WEINBEER & KALKO, 2004). Não
existem estudos aprofundados sobre a influência
dos filostomíneos na dinâmica populacional de
suas presas, mas especula-se que as espécies car-
nívoras não cheguem a desempenhar papel de des-
taque nas comunidades em que atuam
(ALTRINGHAM, 1996). Já as espécies predomi-
nantemente insetívoras provavelmente têm tido
sua importância ecológica subestimada, pelo me-
nos em relação ao impacto sobre as populações de
insetos herbívoros (KALKA & KALKO, 2006).
Filostomíneos podem ter sua abundância relativa
e diversidade negativamente influenciadas pela
ação antrópica, sendo considerados bons indica-
dores de qualidade de hábitat (WILSON et al.,
1996). A lista de espécies da fauna brasileira
ameaçada de extinção não inclui nenhum
filostomíneo (MACHADO et al., 2005), mas em
um contexto internacional sete espécies são con-
sideradas ameaçadas (IUCN, 2006), quatro delas
com ocorrência no Brasil.
As relações filogenéticas entre os gêneros
aqui incluídos em Phyllostominae, e mesmo entre
esses e outros filostomídeos, ainda são controver-
sas, com diferentes conjuntos de dados levando a
diferentes filogenias e propostas de classificação
(e.g., BAKER et al., 1989, 2000, 2003;
WETTERER et al., 2000; WETTERER, tese não
publicada). Em função disso, optamos aqui pela
retenção do arranjo proposto por WETTERER et
al. (2000), recentemente empregado por
SIMMONS (2005) e que preserva a formação tra-
dicionalmente adotada pela maioria dos pesquisa-
dores (e.g., KOOPMAN 1994). Também em fun-
ção das incertezas acerca das relações entre os
filostomíneos (sensu WETTERER et al., 2000),
seguimos SIMMONS (2005) em evitar o reconhe-
cimento de tribos nesse grupo.
Gênero Chrotopterus Peters, 1865
Chrotopterus auritus (Peters, 1856)
Essa espécie pode ser encontrada do Mé-
xico (sua localidade-tipo) até as Guianas, Peru,
Bolívia, sul do Brasil e norte da Argentina
(SIMMONS, 2005). No Brasil já foi observada no
AC, AM, AP, BA, DF, ES, MG, MS, MT, PA, PE,
PR, RJ, RS, SC e SP (BORDIGNON, 2006a;
MARTINS et al., 2006; TAVARES et al., no pre-
lo). Com base na coloração da asa e pilosidade das
membranas, THOMAS (1905) reconheceu três
subespécies (C. a. auritus, C. a. australis e C. a.
guianae), no que foi seguido por diversos autores
(e.g ., JONES & CARTER, 1976). Contudo,
HANDLEY-JR (1966) e KOOPMAN (1994) não
adotaram essa separação e SIMMONS & VOSS
(1998), examinando a variação apresentada por três
fêmeas e dois machos da Guiana Francesa, con-
cluíram pela inconsistência dessa classificação
subespecífica.
Trata-se de um dos maiores morcegos do
Novo Mundo, só suplantado em tamanho por
Vampyrum spectrum. O comprimento cabeça-corpo
varia entre 93 e 114 mm, a cauda entre 6 e 17 mm,
o antebraço entre 77 e 87 mm e o peso entre 61 e
94 g (TADDEI, 1975b; EMMONS & FEER,
1990; REID, 1997; NOWAK, 1994). Contudo,
PERACCHI & ALBUQUERQUE (1993) relata-
ram a captura em Linhares, ES, de uma fêmea grá-
vida que pesou 118,6 g e mediu 89,2 mm de ante-
braço. Morcegos dessa espécie são facilmente re-
conhecidos pelo tamanho grande, orelhas desen-
volvidas, ovais e separadas, cela da folha nasal em
forma de taça e pelagem felpuda, cinza no dorso e
mais clara no ventre. Com respeito à dentição an-
terior, podem ser separados de Vampyrum pelo
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Nogueira, M. R.; Peracchi, A.L. & Moratelli, R. Capítulo 05 - Subfamília Phyllostominae
número de incisivos inferiores: apenas um par,
contra dois nesse último gênero.
A dieta de C. auritus inclui pequenos ver-
tebrados, insetos e, menos freqüentemente, fru-
tos (GIANNINI & KALKO, 2005). Dentre os
vertebrados, a lista de presas inclui roedores, pe-
quenas aves, lagartos, anfíbios, pequenos marsu-
piais e morcegos (MEDELLÍN, 1988). Dentre os
insetos, estão assinalados coleópteros
Cerambycidae e Scarabaeidae, e lepidópteros
Sphingidae (MEDELLÍN, 1988). BONATO et al.
(2004), examinando o conteúdo gastrointestinal de
40 exemplares depositados em coleções brasilei-
ras, verificaram que pequenos mamíferos consti-
tuem as presas mais consumidas, tanto na estação
úmida como na estação seca, e que os insetos fo-
ram mais freqüentemente capturados na estação
úmida, sugerindo oportunismo. Os registros de
predação de morcegos por C. auritus são escassos
e geralmente envolvem observações no interior de
refúgios. Enquadram-se nesse caso os registros de
ACOSTA Y LARA (1951), BORDIGNON
(2005a) e ARITA & VARGAS (1995), referentes,
respectivamente, a Glossophaga soricina, Carollia
perspicillata (Phyllostomidae) e Peropteryx macrotis
(Emballonuridae). Contudo, NO-
GUEIRA et al. (no prelo) capturaram
um exemplar de C. auritus que carrega-
va, em área de floresta secundária, uma
fêmea de C. perspicillata parcialmente
comida. BONATO et al (2004) menci-
onaram ainda o consumo de Myotis
(Vespertilionidae), através do exame do
conteúdo gastrointestinal.
Em estudo realizado no sudes-
te do Brasil, TADDEI (1976) encon-
trou fêmeas de C. auritus em atividade
reprodutiva somente na segunda me-
tade do ano, sugerindo monoestria
(MEDELLÍN, 1989). TRAJANO
(1984), entretanto, verificou, também no sudeste
do Brasil, a ocorrência de estro pós-parto nessa
espécie (uma fêmea simultaneamente grávida e
lactante foi capturada em dezembro), o que evi-
dencia padrão poliéstrico, provavelmente bimodal.
Ainda no sudeste do Brasil, uma fêmea grávida foi
colecionada em setembro por PERACCHI &
ALBUQUERQUE (1993), e em região de Cerra-
do, no Distrito Federal, BREDT et al. (1999) en-
contraram uma fêmea grávida em outubro. Dados
obtidos em cativeiro confirmaram a ocorrência de
poliestria nessa espécie e evidenciaram maturida-
de sexual das fêmeas aos 16 meses de idade
(ESBÉRARD et al., 2007). Nesse mesmo estudo
foi verificado ainda que há um período de gesta-
ção igual ou superior a sete meses, e que o neonato
pode nascer com mais de 30% do peso materno.
Chrotopterus auritus ocorre em todos os
biomas brasileiros (MARINHO-FILHO &
SAZIMA, 1998). Tem sido encontrada principal-
mente em áreas florestadas, caracterizadas por
vegetação primária (PERACCHI &
ALBUQUERQUE, 1993; PEDRO et al., 2001) ou
mesmo secundária (BAPTISTA & MELLO, 2001;
NOGUEIRA et al., no prelo). Pode ocorrer tam-
bém em áreas abertas, como destacaram
Chrotopterus auritus (Foto: Marco A. R. Mello - www.casadosmorcegos.org).
	Morcegos do Brasil
	Família Phyllostomidae
	Cap. 05 Subfamília Phyllostominae
	Gênero Chrotopterus

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