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62 Morcegos do Brasil gorias tróficas, entretanto, não aparecem de ma- neira descontínua dentro da subfamília, havendo condição intermediária nas espécies de médio porte (GIANNINI & KALKO, 2005). As presas podem ser capturadas em pleno vôo ou no substrato, sen- do essa última condição predominante (KALKO et al., 1996; WEINBEER & KALKO, 2004). Não existem estudos aprofundados sobre a influência dos filostomíneos na dinâmica populacional de suas presas, mas especula-se que as espécies car- nívoras não cheguem a desempenhar papel de des- taque nas comunidades em que atuam (ALTRINGHAM, 1996). Já as espécies predomi- nantemente insetívoras provavelmente têm tido sua importância ecológica subestimada, pelo me- nos em relação ao impacto sobre as populações de insetos herbívoros (KALKA & KALKO, 2006). Filostomíneos podem ter sua abundância relativa e diversidade negativamente influenciadas pela ação antrópica, sendo considerados bons indica- dores de qualidade de hábitat (WILSON et al., 1996). A lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção não inclui nenhum filostomíneo (MACHADO et al., 2005), mas em um contexto internacional sete espécies são con- sideradas ameaçadas (IUCN, 2006), quatro delas com ocorrência no Brasil. As relações filogenéticas entre os gêneros aqui incluídos em Phyllostominae, e mesmo entre esses e outros filostomídeos, ainda são controver- sas, com diferentes conjuntos de dados levando a diferentes filogenias e propostas de classificação (e.g., BAKER et al., 1989, 2000, 2003; WETTERER et al., 2000; WETTERER, tese não publicada). Em função disso, optamos aqui pela retenção do arranjo proposto por WETTERER et al. (2000), recentemente empregado por SIMMONS (2005) e que preserva a formação tra- dicionalmente adotada pela maioria dos pesquisa- dores (e.g., KOOPMAN 1994). Também em fun- ção das incertezas acerca das relações entre os filostomíneos (sensu WETTERER et al., 2000), seguimos SIMMONS (2005) em evitar o reconhe- cimento de tribos nesse grupo. Gênero Chrotopterus Peters, 1865 Chrotopterus auritus (Peters, 1856) Essa espécie pode ser encontrada do Mé- xico (sua localidade-tipo) até as Guianas, Peru, Bolívia, sul do Brasil e norte da Argentina (SIMMONS, 2005). No Brasil já foi observada no AC, AM, AP, BA, DF, ES, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP (BORDIGNON, 2006a; MARTINS et al., 2006; TAVARES et al., no pre- lo). Com base na coloração da asa e pilosidade das membranas, THOMAS (1905) reconheceu três subespécies (C. a. auritus, C. a. australis e C. a. guianae), no que foi seguido por diversos autores (e.g ., JONES & CARTER, 1976). Contudo, HANDLEY-JR (1966) e KOOPMAN (1994) não adotaram essa separação e SIMMONS & VOSS (1998), examinando a variação apresentada por três fêmeas e dois machos da Guiana Francesa, con- cluíram pela inconsistência dessa classificação subespecífica. Trata-se de um dos maiores morcegos do Novo Mundo, só suplantado em tamanho por Vampyrum spectrum. O comprimento cabeça-corpo varia entre 93 e 114 mm, a cauda entre 6 e 17 mm, o antebraço entre 77 e 87 mm e o peso entre 61 e 94 g (TADDEI, 1975b; EMMONS & FEER, 1990; REID, 1997; NOWAK, 1994). Contudo, PERACCHI & ALBUQUERQUE (1993) relata- ram a captura em Linhares, ES, de uma fêmea grá- vida que pesou 118,6 g e mediu 89,2 mm de ante- braço. Morcegos dessa espécie são facilmente re- conhecidos pelo tamanho grande, orelhas desen- volvidas, ovais e separadas, cela da folha nasal em forma de taça e pelagem felpuda, cinza no dorso e mais clara no ventre. Com respeito à dentição an- terior, podem ser separados de Vampyrum pelo 63 Nogueira, M. R.; Peracchi, A.L. & Moratelli, R. Capítulo 05 - Subfamília Phyllostominae número de incisivos inferiores: apenas um par, contra dois nesse último gênero. A dieta de C. auritus inclui pequenos ver- tebrados, insetos e, menos freqüentemente, fru- tos (GIANNINI & KALKO, 2005). Dentre os vertebrados, a lista de presas inclui roedores, pe- quenas aves, lagartos, anfíbios, pequenos marsu- piais e morcegos (MEDELLÍN, 1988). Dentre os insetos, estão assinalados coleópteros Cerambycidae e Scarabaeidae, e lepidópteros Sphingidae (MEDELLÍN, 1988). BONATO et al. (2004), examinando o conteúdo gastrointestinal de 40 exemplares depositados em coleções brasilei- ras, verificaram que pequenos mamíferos consti- tuem as presas mais consumidas, tanto na estação úmida como na estação seca, e que os insetos fo- ram mais freqüentemente capturados na estação úmida, sugerindo oportunismo. Os registros de predação de morcegos por C. auritus são escassos e geralmente envolvem observações no interior de refúgios. Enquadram-se nesse caso os registros de ACOSTA Y LARA (1951), BORDIGNON (2005a) e ARITA & VARGAS (1995), referentes, respectivamente, a Glossophaga soricina, Carollia perspicillata (Phyllostomidae) e Peropteryx macrotis (Emballonuridae). Contudo, NO- GUEIRA et al. (no prelo) capturaram um exemplar de C. auritus que carrega- va, em área de floresta secundária, uma fêmea de C. perspicillata parcialmente comida. BONATO et al (2004) menci- onaram ainda o consumo de Myotis (Vespertilionidae), através do exame do conteúdo gastrointestinal. Em estudo realizado no sudes- te do Brasil, TADDEI (1976) encon- trou fêmeas de C. auritus em atividade reprodutiva somente na segunda me- tade do ano, sugerindo monoestria (MEDELLÍN, 1989). TRAJANO (1984), entretanto, verificou, também no sudeste do Brasil, a ocorrência de estro pós-parto nessa espécie (uma fêmea simultaneamente grávida e lactante foi capturada em dezembro), o que evi- dencia padrão poliéstrico, provavelmente bimodal. Ainda no sudeste do Brasil, uma fêmea grávida foi colecionada em setembro por PERACCHI & ALBUQUERQUE (1993), e em região de Cerra- do, no Distrito Federal, BREDT et al. (1999) en- contraram uma fêmea grávida em outubro. Dados obtidos em cativeiro confirmaram a ocorrência de poliestria nessa espécie e evidenciaram maturida- de sexual das fêmeas aos 16 meses de idade (ESBÉRARD et al., 2007). Nesse mesmo estudo foi verificado ainda que há um período de gesta- ção igual ou superior a sete meses, e que o neonato pode nascer com mais de 30% do peso materno. Chrotopterus auritus ocorre em todos os biomas brasileiros (MARINHO-FILHO & SAZIMA, 1998). Tem sido encontrada principal- mente em áreas florestadas, caracterizadas por vegetação primária (PERACCHI & ALBUQUERQUE, 1993; PEDRO et al., 2001) ou mesmo secundária (BAPTISTA & MELLO, 2001; NOGUEIRA et al., no prelo). Pode ocorrer tam- bém em áreas abertas, como destacaram Chrotopterus auritus (Foto: Marco A. R. Mello - www.casadosmorcegos.org). Morcegos do Brasil Família Phyllostomidae Cap. 05 Subfamília Phyllostominae Gênero Chrotopterus
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