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CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS EXTERNAS DISTITINTIVAS DE Myotis albescens, M. nigricans, M. simus E M. riparius (CHIROPTERA; VESPERTILIONIDAE) Eliane Cristina Vicente1, 2 Jorge Jim4 Valdir Antonio Tadde

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Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS EXTERNAS 
DISTITINTIVAS DE Myotis albescens, M. nigricans, M. 
simus E M. riparius (CHIROPTERA; VESPERTILIONIDAE) 
 
 
Eliane Cristina Vicente1, 2 
Jorge Jim4 
Valdir Antonio Taddei (in memorian)1, 3 
 
 
 1Projeto Chiroptera da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal– UNIDERP 
2Coordenadora do Instituto de Pesquisa do Pantanal (IPPAN) – UNIDERP 
3Programa de Mestrado em meio Ambiente e Desenvolvimento Regional – UNIDERP. Rua Alexandre Herculano, 1400 – CEP 
79037-280, Campo Grande, MS 
Endereço eletrônico: chiropterauniderp@yahoo.com.br 
4Universidade Estadual Paulista – UNESP. Departamento de Zoologia. jjim@ibb.unesp.br 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A família Vespertilionidae, constituída por aproximadamente 35 gêneros e 318 espécies, é a mais diversificada e 
também a mais cosmopolita da ordem Chiroptera. Das 75 espécies que ocorrem nas Américas, 19 já foram 
registradas no Brasil. A sintopia é bastante comum entre as espécies do gênero Myotis. Alem disso, essas 
espécies apresentam muitas similaridades morfológicas e morfométricas. Deste modo, destacar características 
distintivas entre os taxa é de fundamental importância para a interpretação de dados biológicos gerais. Neste 
trabalho foram destacadas características morfológicas externas que permitem a identificação segura, em 
campo, das espécies de Myotis que ocorrem no Estado de mato Grosso do Sul, Brasil. O ponto de inserção do 
plagiopatágio nos pés, assim como a coloração da região plantar são características que permitem a distinção 
segura de M. albescens, M. nigricans, M. simus e M. riparius. 
 
Palavras-chave: Chiropterofauna, Conservação, Identificação, Morcego, Sistemática. 
 
 
 
 
Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Os Vespertilionidae constituem a maior 
família de Chiroptera, incluindo cerca de 35 
gêneros e 318 espécies, 75 de ocorrência 
conhecida nas Américas e 19 já registradas no 
Brasil, distribuídas pelos principais biomas 
nacionais, conforme sumarizado por Marinho-
Filho; Sazima (1998), com algumas 
atualizações. Trata-se de uma família 
verdadeiramente cosmopolita (MILLER, 1907; 
ALLEN, 1939), com várias espécies atingindo 
as zonas temperadas mais frias (Koopman, 
1970). O gênero Myotis inclui 97 espécies 
amplamente distribuídas, das quais, cinco já 
foram registradas em território brasileiro (M. 
albescens, M. nigricans, M. simus, M. riparius, 
M. ruber e M. Levis) e, a ocorrência de duas 
delas (M. keaysi e M. oxyotus), se restringe em 
registro marginais de localidades bolivianas 
(NOWAK, 1991). 
 As informações existentes sobre 
Vespertilionidae brasileiros são, em geral, 
fragmentadas e, conseqüentemente, não 
possibilitam análises taxonômicas e 
biogeográficas mais detalhadas das espécies. 
Os espécimes disponíveis, de modo geral, 
foram obtidos em capturas casuais e as 
informações mostram que a cobertura 
geográfica é muito descontínua, com 
agrupamentos de amostras caracterizados, 
muitas vezes, por grande heterogeneidade 
geográfica. As revisões de gêneros são 
pontuais, e incluem pouco material obtido no 
Brasil. Entre os vários trabalhos de revisão de 
gêneros de Vespertilionidae podem ser 
destacados os de Thomas (1916, 1920), Davis 
(1966), La Val (1973), Williams (1978), Baker et 
al. (1988), Baud; Menu (1993) e Anderson 
(1997). As mais completas destas revisões são 
as de La Val (1973) e Anderson (1997) para as 
espécies de Myotis, mas, mesmo neste caso, 
não foi examinado material brasileiro suficiente 
para permitir critérios claros de separação das 
espécies e generalizações sobre a distribuição 
geográfica e biologia reprodutiva das mesmas. 
As espécies de Myotis demonstraram bastante 
complexidade taxonômica e, portanto, de difícil 
diagnóstico. Isto se deve ao fato de que estas 
espécies apresentam estreitas relações de 
similaridade quanto aos caracteres 
morfoanatômicos, ecológicos e 
comportamentais. Além disso, devem ser 
consideradas as relações de simpatria e 
sintopia, comuns, não só em espécies de 
Myotis, mas em muitas outras de Chiroptera em 
geral. 
 Mediante a grande complexidade do 
processo de identificação das espécies de 
Myotis, a seleção de características 
morfológicas externas distintivas torna-se 
primordial para o reconhecimento dos taxa em 
campo. 
 Este trabalho reuniu informações que 
permitem a distinção de M. albescens, M. 
nigricans, M. simus e M. riparius com base em 
características morfológicas externas e deverá 
favorecer e viabilizar atividades de pesquisa 
que exigem a soltura dos exemplares. 
 
2 MATERIAL E MÉTODOS 
 
 Foram analisados 66 exemplares de M. 
albescens (38 fêmeas, 28 machos), 425 de M. 
nigricans (277 fêmeas, 148 machos), 18 de M. 
simus (cinco fêmeas e 13 machos) e oito 
 
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fêmeas de M. riparius, totalizando 517 
indivíduos amostrados. O material é constituído 
por espécimes reunidos e depositados nas 
coleções do Museu de Zoologia da 
Universidade de São Paulo – USP, São Paulo, 
SP e do Laboratório de Chiroptera da 
Universidade para o Desenvolvimento do 
Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP, 
Campo Grande, Mato Grosso do Sul. 
 Os espécimes foram coletados com o 
uso de redes de neblina ("mist nets") armadas 
junto aos abrigos diurnos, geralmente 
explorados pelas espécies “internas”, em 
supostos locais de vôo, de forrageamento e nas 
proximidades de pequenos lagos geralmente 
freqüentados por estes animais. Os animais 
foram transportados para o laboratório em 
sacos com numeração individual, onde foram 
anestesiados e mortos em recipiente fechado, 
contendo algodão embebido com éter. Após a 
morte a boca dos animais foi mantida aberta 
por meio da utilização de pedaços de cortiça 
dispostos de modo a manter afastados os 
maxilares, permitindo, assim, o exame da 
dentição, e a facilidade de retirada do crânio. 
 A fixação foi efetuada com o uso de 
formol a 10% injetado na cavidade geral e na 
região cervical dos animais. Em seguida, os 
exemplares foram montados em posição 
adequada, de modo a facilitar a realização de 
medidas externas. Para a preservação 
definitiva os animais são mergulhados em 
álcool 70o G.L., em frascos de vidro. Cada 
exemplar foi devidamente numerado (RG de 
coleção) e os respectivos dados, foram 
anotados no catálogo geral da coleção e em 
fichas complementares. Os espécimes que já 
se encontravam em coleções foram preparados 
basicamente com os mesmos critérios. 
 Os espécimes foram comparados 
quanto à morfologia externa, dentária e 
craniana, visando destacar caracteres de 
diagnóstico taxonômico. Foram reunidos dados 
morfométricos de algumas características 
externas e cranianas (Antebraço – Ant. e 
Largura pós-orbitária – Lp). Todas as medidas 
estão expressas em mm e foram efetuadas 
com a utilização de paquímetro com 
aproximação de 0,05mm. Os dados 
morfométricos foram analisados 
estatisticamente, determinando-se as 
freqüências relativa e absoluta. 
 
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Myotis albescens (E. Geoffroy) 
Vesp. (ertilio) albescens E. Geoffroy, 1809, Annales 
Mus. Hist. Nat., Paris, vol. 8, pp. 204-205. 
 
Myotis nigricans (Schinz) 
Vesp. (ertilio) nigricans Schinz, 1821, Das 
Thierreich, vol. 1, pp. 179-180. 
 
Myotis simus Thomas 
Myotis simus Thomas, 1901. Ann. Mag. Nat. Hist., 
ser. 7, vol. 8, p. 541. 
Myotis riparius Handley 
Myotis simus riparius Handley, 1960. Proc. U. S. 
Nat. Mus. 112: 466-468. Tacarcuna Village, Rio 
Pucro, Darien, Panamá. 
Myotis guaycuru Proença, 1943. Ver. Brasileira Biol. 
3:313-315. Salobra, Mato Grosso, Brasil. 
 
 
 Neste estudo, quatro espécies de Myotis 
foram colecionadas de diferentes regiões do 
Pantanal sul-mato-grossense: Myotis 
albescens,M. nigricans, M. riparius e M. simus. 
Foi registrado ainda que essas quatro espécies 
podem ser observadas em coabitação, em 
diferentes combinações, envolvendo inclusive 
outros gêneros de Vespertilionidae e espécies 
de outras famílias (Noctilionidae, Molossidae), 
quando as condições ambientais são 
extremamente favoráveis, como é o caso de 
 
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alguns refúgios estudados no Pantanal de 
Miranda, município de Miranda, MS. 
 López-González et al. (2001) 
registraram cinco espécies deste gênero no 
Paraguai e, em acréscimo as coligidas neste 
trabalho, os autores incluem M. ruber, além de 
considerar M. Levis com grande possibilidade 
de ocorrência. Esta consideração se deve ao 
material amostrado por Baud; Menu (1993) 
cujos resultados ampliaram o registro de 
ocorrência de espécies de Myotis no Paraguai 
e países adjacentes. 
 A distinção das espécies de Myotis aqui 
estudadas foi feita a partir de características 
morfológicas e morfométricas. Foram 
identificados como indivíduos representantes 
de M. albescens, os exemplares apresentando 
valores das medidas tomadas da largura pós-
orbitária (Lp) variando entre 3,8 e 4,2 mm, 
Antebraço (Ant) variando entre 33,3 e 37,2 
(Figuras 1 e 2), franja de pêlos bem distinta na 
borda distal da membrana interfemural 
observada por ampliação estereoscópica e, em 
acréscimo às informações da literatura 
pertinente, mesmo a olho nu, a membrana da 
asa (lateral ao corpo – plagiopatágio) inserida 
em posição mediana-distal da região plantar 
dos pés e pêlos, ligeiramente dourados, bem 
evidentes na face dorsal dos artelhos dos pés 
(Figuras 3a, 3b e 5). As últimas características 
descritas permitem, com boa margem de 
segurança, a identificação de indivíduos em 
campo. 
 Muitas das características mencionadas 
por La Val (1973) podem ser utilizadas na 
identificação dessas espécies, mas Myotis 
nigricans apresenta uma extensa variação 
geográfica, morfológica e morfométrica, sendo 
muitas vezes confundida com M. albescens e 
M. riparius, notadamente as fêmeas. Em 
algumas circunstâncias e dependendo das 
fases de desenvolvimento e do sexo 
(exemplares jovens, juvenis e fêmeas) existem 
maiores dificuldades. 
 É necessário enfatizar que os padrões 
morfométricos valorados, mesmo considerando 
apenas indivíduos adultos, apresentam 
superposição interespecíficas dos valores 
amostrais, principalmente os referentes à Lp e 
Ant., como pode se visto nas figuras 1 e 2. As 
principais características distintivas de M. 
nigricans e M. albescens, até então utilizadas, 
foram os valores morfométricos de Ant. e Lp 
que, conforme mencionado, além de não 
permitir a total distinção dos táxons é de pouca 
utilidade, mediante aos limites de aplicabilidade 
em campo. 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
3.0 - 3.2 3.3 - 3.5 3.6 - 3.8 3.9 - 4.2
%
M . albescens M . nigricans M . riparius M . simus 
 
Figura 1. Freqüência relativa dos indivíduos adultos 
quanto aos parâmetros morfométricos da largura pós-
orbitária, uma das principais características distintivas em 
nível de espécie utilizada até agora. 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
29.2 - 31.2 31.3 - 33.2 33.3 - 35.2 35.3 - 37.2 37.3 - 40.0
%
M . albescens M . nigricans M . riparius M . simus
 
Figura 2. Freqüência relativa dos indivíduos adultos 
quanto aos parâmetros morfométricos do Antebraço, uma 
das principais características distintivas em nível de 
espécie utilizada até agora. 
 
 
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 De forma comparativa o tamanho dos 
pés e desenvolvimento de pelos nos mesmos, 
constituem uma boa característica de 
diferenciação entre M. nigricans (pés pequenos 
com pelos curtos e pouco visíveis) e M. 
albescens (pés maiores com pelos bem 
visíveis). Além disso, foi observado neste 
estudo que, em M. nigricans, a inserção da 
membrana da asa (lateral ao corpo – 
plagiopatágio) ocorre nos limites da articulação 
do artelho com a região plantar dos pés 
(Figuras 4a e 4b) e que a coloração da região 
plantar, dos pés de M. nigricans, quando 
comparado com M. riparius e M. simus, é mais 
escura (Figuras 5 e 6a). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3. M. albescens em (A) vista parcial dos membros posteriores onde as setas indicam o ponto médio de inserção do 
plagiopatágio e os pêlos (melhor vistos na fig. 5) da face dorsal dos artelhos e (B) modelo esquemático que indica (pelas 
setas) o ponto médio de inserção do Plagiopatágio.Foto: Daniel De Granville / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 4. M. nigricans em (A) vista parcial dos membros posteriores, onde a seta indica o ponto médio de inserção do 
plagiopatágio na região de articulação dos artelhos com a planta do pé e (B) modelo esquemático que indica (pelas setas) o 
ponto médio de inserção do Plagiopatágio. Foto: Daniel De Granville / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira 
 
 As características descritas para os pés 
permitem, com boa margem de segurança, a 
identificação de indivíduos em campo e, 
viabiliza os estudos que incluem a necessidade 
de manutenção de espécimes vivos, além de 
favorecer ao processo de identificação de 
filhotes, juvenis e jovens, já que estes não estão 
dentro dos parâmetros morfométricos 
estabelecidos para indivíduos adultos. M. simus, 
assim como outras do gênero Myotis, deve ser 
[a] [b] 
[a] [b] 
 
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considerada de grande valor taxonômico. Isto se 
deve ao fato de que muitas das características 
distintivas, em nível de espécie, apresentam 
muitas variações entre os táxons que 
constituem o gênero. 
 Deve ser identificado como M. simus 
indivíduos que apresentem membrana da asa 
(plagiopatágio) inserida no tornozelo, valores 
das medidas tomadas do antebraço variando 
entre 34,8 e 40,2 mm e com padrão de 
coloração do pêlo em tons de laranja (Figuras 2, 
6a e 6b). 
 
Figura 5. Pés de três das espécies de Myotis aqui estudadas. 1 = M. nigricans; 2 = M. riparius; 3 = M. albescens. Note a 
diferença do padrão de pigmentação e tamanho dos pés. Em 3 observe a ocorrência de pêlos, mais longos e visíveis, da face 
dorsal dos artelhos. Foto: Daniel De Granville 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 6. Myotis simus em (A) note a coloração em tons de laranja e a membrana lateral (plagiopatágio) inserida na altura do 
tornozelo (cf. indicado pela seta) e em (B) o modelo esquemático que indica (pelas setas) o ponto médio de inserção do 
Plagiopatágio em M. simus. Foto: Eliane C. Vicente / Ilustração: Larissa Figueiredo de Oliveira 
[1] 
[3] 
[2] 
[a] [b] 
 
Ensaios e ci., Campo Grande, v. 9, n. 2, p. 293-304, ago. 2005 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7. Myotis riparius (A) e M. nigricans (B) em vista geral. Note a diferença na coloração dos pés entre as duas espécies. 
M. riparius pode apresentar a pelagem com Tons de marrom idênticos a M. nigricans. Foto: (A) Daniel De Granville / (B) 
Neiva Guedes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8. Vista geral do pé de M. riparius. Descrição de detalhes na legenda lateral. Foto: Daniel De Granville. 
 
 Quanto a Myotis riparius pode-se dizer 
que é um taxa pouco comum e, portanto muito 
valiosa em coleções científicas. Isto se deve à 
grande similaridade, quanto à aparência, com 
M. nigricans (Figura 7a e 7b) e às relações de 
simpatria e sintopia entre as espécies que 
constituem o gênero. Os indivíduos que 
apresentam membrana da asa (plagiopatágio) 
inserida na região articular do artelho com o 
metatarso (Figuras 7a e 8), pés com coloração 
clara ou, quando vivo, avermelhada (Figura 8), 
valores das medidas tomadas do antebraço 
variando entre 34 e 36mm, Lp entre 3,2 e 
3,6mm (Figuras 1 e 2) e com padrão de 
 
 
 
 
 
 
Note o ponto de inserção do plagiopatagioindicado pela seta. Este espécime foi 
fotografado vivo e a região plantar do pé 
apresenta coloração avermelhada devido a 
vascularização que é visível por 
transparência da pele. Quando fixado o 
animal, esta estrutura apresenta-se 
esbranquiçada (clara). 
 
Obs: M. riparius (a) em tom de marrom avermelhado 
[b] [a] 
 
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coloração do pêlo em tons de marrom escuro a 
marrom avermelhado é, aqui, considerado M. 
riparius (Figura 7a). 
 Basicamente, utilizando características 
já mencionadas por LaVal (1973), Myers; 
Wetzel (1983) e Anderson (1997) e, somando 
as características destacadas e utilizadas, 
durante o desenvolvimento deste trabalho, foi 
possível a elaboração de uma chave artificial 
de identificação para as espécies de Myotis 
aqui estudadas (Quadro 1). 
 No quadro 1 são apresentadas as 
características distintivas, aqui destacadas e 
utilizadas, das espécies de Myotis ora 
estudadas. Tais características são de total 
aplicabilidade tanto em campo como em 
material de coleções. As características que 
permitem a identificação em campo 
(características morfológicas externas) estão 
em destaque (Negrito). 
 
Quadro 1: Chave artificial de Identificação de espécies de Myotis que ocorrem no Estado de Mato Grosso do Sul. 
 
1. Membrana da asa (plagiopatágio) inserida no tornozelo; antebraço 
 maior (Ant: 34,8 – 40,2); coloração geral alaranjada Myotis simus 
 
Membrana da asa (plagiopatágio) inserida na base do dedo do pé (artelho) ou um pouco 
mais deslocado em relação à região mediana da planta do pé; Antebraço geralmente menor 
que 36,0; coloração geral marrom, às vezes marrom avermelhado ou ferrugíneo 
 
02 
 
2. Crista sagital geralmente não desenvolvida; largura pós-orbitária geralmente maior que 3.6; pés 
com a região plantar mais escura 
 
03 
 
Crista sagital geralmente desenvolvida; largura pós-orbitária geralmente menor que 3,6; 
plagiopatágio inserido na base do dedo do pé (artelho); pelos dos pés pouco desenvolvidos 
e pouco visíveis a olho nu; pés com a região plantar mais clara (Figura 7) 
 
Myotis riparius 
 
3. Borda distal da membrana interfemural sem franja de pelos, mesmo quando observada com 
ampliação; largura pós-orbitária geralmente menor que 3,8; plagiopatágio inserido na base do 
dedo do pé (artelho); dedos dos pé providos de pelos curtos e pouco visíveis (Figura 4) 
 
Myotis nigricans 
 
Borda distal da membrana interfemural com franja de pelos bem distinta quando observada com 
ampliação; largura pós-orbitária geralmente maior que 3,8 (3.8 – 4,2); plagiopatágio inserido 
abaixo da base do dedo do pé (artelho), ligeiramente deslocado em direção à região 
mediana plantar; dedos dos pé providos de pelos longos e bem visíveis, sobretudo por 
ampliação (Figura 5) 
 
Myotis albescens 
 
 
 As políticas de manejo de quirópteros, 
muitas vezes, incluem estratégias de controle 
populacional frente às importantes implicações 
médico-sanitárias (TADDEI, 1999). A aplicação 
de tais políticas é fundamentada em 
informações referentes à biologia básica das 
espécies. Os resultados, aqui discutidos, não 
só fornecem importantes subsídios para a 
aplicabilidade das informações taxonômicas em 
campo. 
 Muitas vezes as características 
utilizadas como distintivas, entre espécies 
 
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cogenéricas, demonstram, quanto a sua 
utilização, reservas e se isolam nos limites das 
coleções científicas. Isto se deve ao fato de que 
os valores morfométricos mais precisos e 
estabelecidos como funcionais para o processo 
de identificação, são, em sua maioria, 
referentes a estruturas cranianas. Deste modo, 
a utilização destes parâmetros só é possível 
por meio do sacrifício do espécime e estudos 
que envolvem a soltura de animais acabam 
permeados de pouca fidelidade taxonômica. 
Implicações desta ordem permearam por muito 
tempo espécies de Platyrrhinus e foram 
tratadas por Taddei; Vicente-Tranjan (1998), 
Vicente (2000) e Vicente et al. (2005). Estas 
publicações seguem os critérios, aqui 
discutidos e defendidos, de utilização de 
características morfológicas destacadas como 
principal meio de identificação em campo. Tais 
características, muitas vezes são referentes a 
morfologia dentária, como é o caso de distinção 
entre P. lineatus, P. helleri e P. recifinus. 
Contudo, para maior segurança e precisão do 
trabalho de reconhecimento e identificação, os 
critérios morfométricos de características 
externas são imprescindíveis. 
 Com atividades desenvolvidas em uma 
área mais ampla do Cerrado brasileiro foram 
registradas 80 espécies distribuídas por 42 
gêneros e entre estas 11 de Vespertilionidae 
(MARINHO-FILHO, 1996). Neste estudo foram 
obtidos exemplares de três espécies de Myotis 
(M. albescens, M. nigricans e M. riparius), que, 
com exceção de M. simus, constituem as 
mesmas aqui estudadas. A estrutura de uma 
taxocenose de morcegos, frente à 
fragmentação de hábitat em São Paulo, foi 
estudada por Pedro et al. (1995). Foram 
capturados 117 exemplares pertencentes à seis 
espécies de duas famílias, entre elas Histiotus 
velatus. Estes dados mostram que a 
antropização dos habitats gera uma 
simplificação na estrutura das taxocenoses de 
morcegos (AGUIAR, 1994; PEDRO et al., 
1995). 
 De modo geral estudos que visam à 
obtenção de informações relacionadas à 
reprodução, exploração de refúgios, assim 
como quaisquer outros aspectos da biologia 
animal, só serão, de fato, reconhecidos e 
validados, frente a um embasamento 
sistemático seguro. O levantamento de dados 
precisos e específicos é possível apenas a 
partir da diferenciação taxonômica correta. Isto 
se deve ao fato de que muitas espécies 
apresentam estreitas relações de similaridade 
quanto aos caracteres morfoanatômicos, 
ecológicos e comportamentais. Além disso, 
devem ser consideradas as relações de 
simpatria e sintopia, comuns, não só em 
espécies de Myotis, mas em muitas outras, 
sobretudo, de Chiroptera. 
 Seguindo as características distintivas 
sugeridas por LaVal (1973), Myers; Wetzel 
(1983), Anderson (1997) e López-González et 
al. (2001) que de fato somam as melhores 
referências taxonômicas para Myotis, a 
identificação destas espécies em campo é, em 
muitos casos, impraticável, já que se baseiam 
principalmente em diferenciação morfométrica 
cujos valores apresentam alto índice de 
superposição e variação geográfica (LOPEZ-
GONZALEZ, 2001). Não obstante quando 
acrescidas características de fácil observação 
externa, como as dos pés, que foram sugeridas 
neste trabalho, o processo de identificação 
torna-se bastante seguro e, de certo modo, de 
simples execução. A garantia do quão precisa 
 
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são estas informações está, obviamente, no 
número de indivíduos ora examinados. 
 
4 CONCLUSÃO 
 
 Este estudo permite afirmar que a partir 
da análise morfológica é possível solucionar 
problemas quanto à identificação de Myotis 
albescens, M. nigricans, M. simus e M. riparius. 
Entretanto foi necessário reunir um número 
considerável de informações morfométricas 
externas e cranianas. Em reserva, é prudente 
considerar a necessidade de coleção de maior 
número de exemplares de M. riparius e outras 
espécies do gênero. Não obstante, foi possível 
demonstrar que a expressão morfológica existe 
mesmo em espécies muito similares. 
 Os dados morfométricos não constituem 
um meio restrito, objetivo e eficaz para a 
identificação segura das espécies de Myotis. 
Todavia a morfometria constitui um importante 
subsídio da taxonomia numérica, seja em qual 
grupo for considerada. 
 
EXTERNAL DISTINCTIVE 
MORPHOLOGIC CHARACTERISTICS 
OF Myotis albescens, M. 
nigricans, M. simus E M. riparius 
(CHIROPTERA; VESPERTILIONIDAE) 
 
ABSTRATC 
 
The familyVespertilionidae is composed of about 35 
genus and 318 species and is considered one of the most 
diversified and cosmopolitan order of Chiroptera. Of the 75 
species which occurs in the American Continent, 19 were 
already registered for Brazil. Syntopy is a quite commom 
feature among species of Myotis. Also, the species show 
various morphometric and morphological similarities. 
Therefore, it is important to define distinct characteristics 
among the taxa in order to provide sound interpretation to 
general biological data. In this paper, external 
morphological characteristics were selected which allow 
for safe field identification of Myotis species occurring in 
the state of Mato Grosso do Sul, Brazil. The point of 
insertion of the plagiopatagium as well as the color of the 
plantar region are characteristics which allow for secure 
distinction between M. albescens, M. nigricans, M. simus 
and M. riparius. 
 
 Keywords: Chiropterofauna, Conservation, 
Identification, Bat, Sistematics. 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço a Fundação Manoel de Barros 
(FMB), a Universidade para o Desenvolvimento 
do Estado e da Região do Pantanal 
(UNIDERP), FUNDECT, Capes e CNPq pelo 
apoio financeiro. A Neiva Guedes e ao Prof. Dr. 
Erich Fischer (UFMS) e equipe pelo apoio e 
testes realizados com a chave artificial proposta 
neste trabalho. Aos Profs. Drs. Cleber Alho, 
Silvio Fávero, Reginaldo Donatelli, Wagner 
André Pedro e Rosemary Matias pela leitura 
cuidadosa (e valiosas contribuições) de meu 
trabalho de doutorado, do qual foi extraído este 
artigo. A Eveline Guedes, Larissa F. Oliveira, 
Marilize Duarte, e Luciene Andrade pelo auxilio 
na organização dos dados. Em especial ao 
Prof. Dr. Valdir Taddei, pela orientação, apoio, 
companheirismo e incentivo sempre prestados.

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