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134 Morcegos do Brasil NOWAK, 1994). Esta espécie possui o focinho pontudo e ausência de folha nasal; os lábios chei- os, sendo o superior um “lábio leporino” e o infe- rior possui dobras de pele no queixo, assemelhan- do-se a um “bulldog”. As orelhas são grandes, del- gadas, pontudas e separadas. A cauda é longa e sua ponta é livre. O calcâneo é grande, mas não tanto quanto em N. leporinus, que, assim como seus membros posteriores, é adaptado para pescar. Pos- sui um odor almiscarado, característico da Família (HOOD & PITOCCHELLI, 1983; NOWAK, 1994; HOOD & JONES-JR, 1984). Noctilio albiventris é insetívoro (GARDNER, 1977a) e usa ecolocalização para encontrar os insetos na superfície ou próximo da água. Os animais forrageiam em pequenos bandos e seu padrão de atividade inclui dois picos, um após o pôr-do-sol e outro após a meia-noite (HOOD & PITOCCHELLI, 1983; NOWAK, 1994; NOGUEIRA & POL, 1998; EISENBERG & REDFORD, 1999). Quanto à reprodução, a espécie possui ci- clo poliestro bimodal, tendo sido encontradas fê- meas lactantes em Minas Gerais no período de abril e outubro e nascimentos no início e no final do período chuvoso (NOGUEIRA & POL, 1998), sendo um filhote por gestação (HOOD & PITOCCHELLI, 1983; EISENBERG & REDFORD, 1999). Os jovens começam a voar após 35 a 40 dias de vida e se tornam independen- tes da mãe após o desmame, entre 75 a 90 dias (EISENBERG & REDFORD, 1999). Parece estar associado primariamente a florestas tropicais úmidas e habitáts próximos a cursos d’água, abrigando-se em ocos de árvores, folhagens e construções (HOOD & PITOCCHELLI, 1983; NOWAK, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999). Noctilio albiventris não se encontra na lista das espécies ameaçadas, para o território nacio- nal, de acordo com dados do MMA (2003) e da IUCN (2003,2006). Noctilio leporinus (Linaeus, 1758) Noctilio leporinus distribui-se desde o leste e oeste do México, na América do Norte, e se es- tende ao sul, para a América do Sul, desde as Guianas e o Peru, até o norte da Argentina e Su- deste do Brasil, e compreendendo, ainda, as Bahamas e a maioria das ilhas do Caribe na Amé- rica Central (HOOD & JONES-Jr, 1984; NOWAK, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999; SIMMONS, 2005). No Brasil, assim como Noctilio albiventris, distribui-se tanto em áreas lito- râneas quanto continentais, ocorrendo nos Esta- dos do AM, AP, BA, CE, ES, GO, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Localidade tipo: Suriname. Esta espécie possui a pelagem curta, com a coloração variando do laranja claro ao escuro, ou laranja acinzentado e marrom-avermelhado ou ferrugíneo, com uma faixa mediana e dorsal mais clara. O ventre é mais claro do que o dorso, vari- ando do amarelo claro ao cinza ou laranja claro (HOOD & JONES-Jr, 1984; NOWAK, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999). De acordo com BORDIGNON & FRANÇA (2004), os ma- chos possuem uma variação mais ampla na colo- ração da pelagem do que as fêmeas e, indepen- dente do sexo, há um escurecimento nos matizes de cor, nos indivíduos adultos em relação aos jovens. O comprimento da cabeça e corpo em Noctilio leporinus varia entre 98-132 mm, o compri- mento do antebraço entre 70-92 mm (NOWAK, 1994) e possui peso sempre acima de 50 g (HOOD & JONES-JR, 1984; NOWAK, 1994). É, portan- to, maior que N. albiventris e suas características externas também se assemelham às desta espécie, com exceção de seus membros posteriores, que são maiores e mais robustos, e de suas garras e pés, que são bem mais desenvolvidos e fortes, adapta- 135 Reis, N.R. dos; Veduato, P. M. M. & Bordignon, M. O. Capítulo 09 - Família Noctilionidae dos para a pesca (HOOD & PITOCCHELLI, 1983; HOOD & JONES-JR, 1984; NOWAK, 1994). De acordo com FISH et al. (1991) as modi- ficações nos membros posteriores de N. leporinus surgiram a partir de adaptações dos morcegos insetívoros primitivos. Em um estudo utilizando análises de DNA mitocondrial, LEWIS-ORITT et al. (2001) chegaram à conclusão de que a piscivoria em N. leporinus é recente (entre 280 e 700 mil anos atrás), tendo ocorrido a partir de um processo de especiação de um ancestral insetívoro, hábito este que se mantém em N. albiventris. Noctilio leporinus é piscívoro (GARDNER, 1977a) e utiliza as longas garras de seus pés para capturar os peixes na superfície da água, com au- xílio da ecolocalização, através da agitação que os cardumes causam na água pelos seus movimen- tos. Seu padrão de atividade é semelhante ao de N. albiventris, com dois picos, um após o pôr-do- sol e outro após a meia-noite, forrageando indivi- dualmente ou em grupos de 5 a 15 indivíduos (HOOD & JONES-JR, 1984; FISH et al., 1991; NOWAK, 1994; EISENBERG & REDFORD, 1999; BORDIGNON, 2006b). BORDIGNON (2006b), estudando sua dieta, encontrou oito es- pécies de peixes, além de insetos, crustáceos e aracnídeos, que complementam sua alimentação, conforme a disponibilidade de recursos durante as estações. Neste mesmo estudo, foi observado que os hábitos alimentares dos machos e das fê- meas são diferenciados, sendo que estas podem incluir mais insetos em sua dieta, do que os machos. Em outro estudo, BORDIGNON (2006c) observou que o deslocamento dos cardumes de pequenos peixes de superfície, tais como o peixe-rei (Atherinella brasiliensis), a sardinha (Harengula clupeola) e a manjuba (Cetengraulis edentulus) influenciam a ativida- de de forrageamento, na medida em que pro- curam deslocar-se pelo ambiente, conforme o ciclo da maré. Assim como observado em N. albiventris, esta espécie também tem ciclo poliestro. A gestação ocorre no período en- tre verão e outono e inverno e primavera e os nascimentos nos meses de abril a junho e de outubro a dezembro, com um filhote por gestação (HOOD & JONES-Jr, 1984). São encontrados, sobretudo, em habitáts de planícies tropicais, preferencial- mente associados a cursos d’água. Abrigam- se em colônias de dezenas e até centenas de indivíduos, geralmente em ocos de árvores, cavernas e fissuras de rochas (HOOD &Noctilio leporinus (Foto: A.L. Peracchi).
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