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semipresidencialismo Octavio Amorim Neto (1).pdf

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00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 4
O Semipresidencialismo
nos Países
de Língua Portuguesa
Marina Costa Lobo
Octavio Amorim Neto
(organizadores)
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 5
Imprensa de Ciências Sociais
Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa
Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9
1600-189 Lisboa- Portugal
Telef. 21 780 47 00 – Fax 21 794 02 74
www.ics.ul.pt/imprensa
E-mail: imprensa@ics.ul.pt
Capa e concepção gráfica: João Segurado
Revisão: Soares de Almeida
Impressão e acabamento: Tipografia Guerra — Viseu 
Depósito legal: ???????/09 
1.ª edição: ?????????? de 2009
Instituto de Ciências Sociais — Catalogação na Publicação
O semipresidencialismo nos países de língua portuguesa / organizadores 
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto. — 
Lisboa : ICS. Imprensa de Ciências Sociais, 2009
ISBN 978-972-671-???-?
CDU ??? 
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 6
Índice
Os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Capítulo 1
O semipresidencialismo e a democratização da lusofonia . . . . . . . 15 
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
Capítulo 2
O semipresidencialismo português revisitado: uma avaliação 
do papel do presidente na política nacional, 1976-2006 . . . . . . . 25 
Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo
Capítulo 3
Entre o Futungo e a Assembleia: considerações sobre o sistema 
político angolano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 
José Reis Santos
Capítulo 4
A influência do semipresidencialismo português no debate 
constitucional brasileiro: 1985-1993 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 
Carlos Frederico Coelho
Capítulo 5
O papel do Chefe de Estado no semipresidencialismo 
cabo-verdiano, 1991-2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 
Daniel Henrique Costa
Capítulo 6
O semipresidencialismo na Guiné-Bissau: inocente ou culpado 
da instabilidade política? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 
Elisabete Azevedo
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 7
Capítulo 7
O semipresidencialismo (?) em Moçambique (1986 a 2008) . . . . . 171
José Jaime Macuane
Capítulo 8
Instabilidade política e revisão constitucional: 
semipresidencialismo em São Tomé e Príncipe . . . . . . . . . . . . . 201
Gerhard Seibert
Capítulo 9
Semipresidencialismo em Timor: um equilíbrio institucional 
dinâmico num contexto crítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231
Pedro Bacelar de Vasconcelos e Ricardo Sousa da Cunha
Capítulo 10
Um modelo lusófono de semipresidencialismo? . . . . . . . . . . . . . . . 261
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 8
Índice de quadros e figuras
Quadros
2.1 Poderes legislativos do presidente em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Poderes não legislativos do presidente em Portugal . . . . . . . . . . . . . 34
2.3 Atributos políticos e económicos dos executivos 
 e parlamentos em Portugal (1976-2006) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.4 Vetos presidenciais por Presidente e legislatura . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.5 Verificação de constitucionalidade das leis por presidente . . . . . . . . 44
3.1 Evolução da avaliação da Freedom House para a África lusófona 
 (1975-2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2 Poderes legislativos do presidente em Angola . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.3 Poderes não legislativos do presidente em Angola . . . . . . . . . . . . . . 66
3.4 Poderes do presidente conforme a escala de Siaroff . . . . . . . . . . . . . 67
3.5 Resultados eleitorais nas eleições presidenciais de Setembro de 1992 . . 69
3.6 Resultados eleitorais das eleições legislativas 
 de Setembro de 1992 e 2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.1 Países citados nos debates da Subcomissão do Poder Executivo 
 da Assembleia Nacional Constituinte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.2 Citações de sistemas de governo nos debates da Subcomissão 
 do Poder Executivo da Assembleia Nacional Constituinte . . . . . . . . . 93
4.3 Resultado das votações: emenda presidencialista e duração 
 do mandato presidencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.4 Resultado do plebiscito de 1993 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.1 Número e proporção de mandatos por partido nas legislativas,
 Cabo Verde, 1991-2006 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.2 Direitos políticos e liberdades civis em Cabo Verde, 1991-2007 . . . . 109
5.3 Poderes do presidente nos sistemas semipresidencialistas: 
 uma comparação Cabo Verde versus Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
5.4 Resultados das eleições presidenciais em Cabo Verde, 1991- 2006 . . 121
5.5 Nomeação de governos e remodelações ministeriais, Cabo Verde, 
 1991-2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 9
5.6 Poderes legislativos do presidente em Cabo Verde . . . . . . . . . . . . . . . 131
5.7 Poderes não legislativos do presidente em Cabo Verde . . . . . . . . . . . 132
5.8 Poderes do presidente conforme a escala de Siaroff, Cabo Verde, 
 1991-2007 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
5.9 Número de visitas dos presidentes às localidades, 1991-2007 . . . . . . 136
6.1 Síntese dos poderes presidenciais na Guiné-Bissau . . . . . . . . . . . . . . 145
6.2 Poderes legislativos do presidente na Guiné-Bissau segundo 
 a Matriz de Metcalf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
6.3 Poderes não legislativos do presidente na Guiné-Bissau segundo 
 a Matriz de Metcalf . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
6.4 Poderes presidenciais segundo a matriz de Siaroff . . . . . . . . . . . . . . 152
6.5 Número de lugares na Assembleia Nacional Popular 
 da Guiné-Bissau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
6.6 Presidentes e primeiros-ministros na Guiné-Bissau (1994-2008) . . . . 161
7.1 Poderes do presidente nas constituições moçambicanas . . . . . . . . . . 183
7.2 Resultados das eleições gerais em Moçambique 
 (1994, 1999 e 2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
7.3 Exercício de alguns poderes do presidente por mandato . . . . . . . . . 188
7.4 Leis aprovadas por proponente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191
7.5 Matérias levadas ao Conselho Constitucional por proponente . . . . 192
8.1 Comparação dos poderes presidenciais nas Constituiçõesde São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . 213
8.2 Poderes não legislativos do presidente em São Tomé e Príncipe
 (1990 e 2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
8.3 Poderes não legislativos do presidente em São Tomé e Príncipe
 (1990 e 2003) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
8.4 Poderes do presidente em São Tomé e Príncipe segundo Siaroff . . . 219
8.5 Resultados das eleições legislativas (1991 a 2006) . . . . . . . . . . . . . . . 226
9.1 Poderes legislativos do presidente em Timor Leste . . . . . . . . . . . . . . 250
9.2 Poderes não legislativos do presidente em Timor Leste . . . . . . . . . . 251
9.3 Poderes do presidente conforme a escala de Siaroff . . . . . . . . . . . . . . 252
9.4 Os resultados eleitorais nas eleições para a Constituinte em 2001 . . 254
9.5 Os resultados nas eleições presidenciais em Timor Leste, 2007 . . . . 256
9.6 Os resultados nas eleições legislativas em Timor Leste, 2007 . . . . . . 257
10.1 Os poderes presidenciais segundo as escalas de Metcalf 
 e de Shugart e Carey . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 264
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 10
10.2 Os poderes presidenciais nos regimes semipresidenciais da CPLP . . 267
10.3 Frequência de coabitação, coligação e governos minoritários
 nos países semipresidenciais de língua portuguesa . . . . . . . . . . . . . . 277
10.4 Frequência de presidentes apartidários nos países semipresidenciais 
 de língua portuguesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278
Figuras
4.1 Dispersão: IDH educação × apoio ao presidencialismo 
 por estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
6.1 Evolução das liberdades políticas e civis na Guiné-Bissau . . . . . . . . 141
10.1 Poderes presidenciais nas constituições semipresidenciais lusófonas 
 e europeias e nas propostas brasileiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 268
10.2 Padrões de autoridade nos países de língua portuguesa . . . . . . . . . . 272
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 11
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 12
Os autores
Carlos Frederico Coelho, doutorando em Ciência Política no Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), mestre em Relações
Internacionais e Europeias pela Universidade de Linkoping, advogado for-
mado pela Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), professor de Relações
Internacionais do Instituto Superior La Salle, no Rio de Janeiro.
Daniel Henrique Costa, mestre em Ciência Política pelo Instituto Uni-
versitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e doutorando em Ciência Polí-
tica na Universidade Católica de Lovaina, tem trabalhado sobre institui-
ções políticas cabo-verdianas. Foi presidente da Escola de Negócios e
Governação da Universidade de Cabo Verde, onde é professor. 
Elisabete Azevedo é doutoranda na Universidade do Cabo, na África
do Sul, onde prepara uma tese sobre parlamentos eleitos em África e ati-
tudes dos cidadãos em relação a estas instituições. Recentemente publi-
cou «Parliaments in Africa: context and constitutional design» (The Journal
of Legislative Studies, 2006) e «Parliaments in the land of big man» (The
Journal of Legislative Studies, 2009). 
Gerhard Seibert, doutor em Ciências Sociais, Leiden, 1998, é investiga-
dor do Centro de Estudos Africanos (CEA)/ISCTE. Tem trabalhos pu-
blicados sobre igrejas africanas independentes em Moçambique e em São
Tomé e Príncipe. É autor do livro Camaradas, Clientes e Compadres. Colo-
nialismo, Socialismo e Democratização em São Tomé e Príncipe (Lisboa, Vega,
2001).
José Jaime Macuane, doutor em Ciência Política, IUPERJ, 2000, é do-
cente e investigador da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique).
13
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 13
Tem trabalhos publicados na área da democratização, desenvolvimento
e reforma do sector público. Actualmente é director do curso de mes-
trado em Governação e Administração Pública da Universidade Eduardo
Mondlane.
Marina Costa Lobo, doutora em Política, Oxford, 2001, é investigadora
no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Tem traba-
lhado sobre instituições, partidos políticos e comportamento eleitoral.
Recentemente publicou Governar em Democracia (ICS, 2005) e vários ar-
tigos em revistas nacionais e internacionais e organizou Portugal at the
Polls (Lexington, 2007).
Octavio Amorim Neto, doutor em Ciência Política, Universidade da
Califórnia em San Diego, 1998, é professor da Escola de Pós-Graduação
em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
É autor de Presidencialismo e Governabilidade nas Américas (FGV Editora,
2006) e de vários artigos em revistas brasileiras e internacionais.
Pedro Bacelar de Vasconcelos, doutor em Direito pela Faculdade de Di-
reito de Coimbra, professor associado, director do mestrado em Direitos
Humanos e coordenador do Centro de Investigação Interdisciplinar –
Direitos Humanos da Universidade do Minho, é o coordenador nacional
do programa da ONU «Aliança das Civilizações» é o coordenador-geral
da Fundação das Universidades Portuguesas para a Cooperação com
Timor.
Ricardo Cunha, licenciado em Direito pela Universidade do Minho,
concluiu o mestrado em Direito Internacional, em língua inglesa, pela
Faculdade de Direito da Universidade de Macau e é, actualmente, dou-
torando em Ciências Jurídicas Públicas na Universidade do Minho, de-
sempenhando ainda funções docentes no IPCA e no curso de Direito
da Universidade Nacional de Timor-Lorosae.
O Semipresidencialismo nos Países de Língua Portuguesa
14
00 Semipresidencialismo Intro:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 14
Marina Costa Lobo
Octavio Amorim Neto
Capítulo 1
O semipresidencialismo 
e a democratização da lusofonia
Este é um livro sobre os sistemas de governo adoptados nos países de
língua oficial portuguesa desde os anos 70 do século XX. Tomando Portugal
como referência – por ter sido o primeiro país da lusofonia a democrati-
zar-se nos últimos trinta e cinco anos e por se ter difundido amplamente
a matriz semipresidencial do seu regime político entre as suas ex-colónias –,
colocámos as seguintes questões: qual é o papel dos presidentes nos regimes
semipresidenciais dos países de língua portuguesa? Existirá um modelo lu-
sófono de semipresidencialismo?
Sabemos que a história da difusão dos modelos constitucionais no
mundo se entrelaça com as relações culturais entre os Estados. O princi-
pal exemplo desta tendência é o modelo de parlamentarismo de West -
minster, já que a maior parte dos regimes em Estados que integraram o
império britânico são também eles parlamentares (Lijphart 1999; Colo-
mer 2006). Do mesmo modo, podemos afirmar que a geografia da im-
plantação do modelo presidencial segue de perto a esfera de influência
histórica dos Estados Unidos da América no mundo, tendo inicialmente
sido implantado tanto na América Latina como em partes da Ásia. Tendo
em conta esses exemplos, é legítimo perguntar: terá havido uma influên-
cia do modelo português nos desenhos institucionais escolhidos recen-
temente pelos países de língua portuguesa? 
Essa questão é formulada tendo em conta tanto uma simples consta-
tação como uma certeza. A constatação é a de que, se considerarmos
todos os países de língua oficial portuguesa, apenas o Brasil tem uma
constituição presidencialista. Mesmo no Brasil, a opção presidencialista
tem sido alvo de intenso debate político e o modelo semipresidencial é
muitas vezesreferido como alternativa ao presente regime. Todos os res-
tantes membros da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa)
15
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 15
optaram por uma constituição semipresidencial. Nestes regimes, o presi-
dente da República é eleito por sufrágio universal e partilha o poder exe-
cutivo com um governo que depende da confiança do parlamento.
A certeza é a de que, desde a democratização de Portugal, algumas fa-
culdades de direito deste país, em geral, e alguns dos seus professores de
Direito Constitucional, em particular, têm influenciado ou acompa-
nhado de perto ou mesmo aconselhado as escolhas institucionais dos
países lusófonos.
Assim, procurámos mapear as estruturas constitucionais adoptadas nos
países de expressão portuguesa, prestando particular atenção ao funcio-
namento do semipresidencialismo em cada regime. Esse objectivo serve
fundamentalmente como pretexto para uma viagem em torno da evolu-
ção política nos Estados de língua portuguesa nas últimas décadas. Para
isso decidimos convidar um conjunto de cientistas sociais (da ciência po-
lítica, da história, da antropologia e do direito) para colaborar na elabo-
ração deste livro. 
A estrutura do livro é a seguinte: em primeiro lugar apresenta-se o se-
mipresidencialismo em Portugal. De seguida faz-se a análise dos casos de
Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e
Príncipe e Timor Leste à luz de um enquadramento conceptual homo-
géneo, de modo que todos os capítulos respondam às mesmas perguntas.
A única excepção é o capítulo sobre o Brasil, o qual tem um enquadra-
mento necessariamente diferenciado. Este capítulo apresenta as discus-
sões em torno da reforma do sistema de governo do país, discutindo a
importância do modelo semipresidencial português para esses debates.
Na conclusão procurámos verificar se e em que medida há um modelo
lusófono de semipresidencialismo.
Este livro, portanto, oferece uma análise relativamente inovadora do
ponto de vista dos estudos sobre os regimes políticos dos países de expres-
são portuguesa. De facto, a maioria dos trabalhos que se debruçam sobre
este tema é de natureza histórico-antropológica (Bayard, Ellis e Hibou
1999; Chabal e Daloz 1999; Chabal 2002; Chabal e Vidal 2007; Hodges
2004 [2001]) ou jurídica (Araújo 2000; Guedes 2007). A perspectiva poli-
tológica adoptada neste volume tem consequências a vários níveis.
Em primeiro lugar, esta é uma pesquisa que pretende dialogar com al-
guns debates recentes no campo da ciência política, nomeadamente a
respeito da natureza do semipresidencialismo, da qualidade das demo-
cratizações recentes e da difusão das constituições, tal como explicaremos
adiante. Além disso, na análise empreendida trabalhámos com uma su-
posição-chave: a de que as instituições formais são importantes no con-
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
16
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 16
O semipresidencialismo e a democratização da lusofonia
texto político de cada país. Convém ressaltar que não estamos a afirmar
que o semipresidencialismo é o grande factor explicativo da política nos
países lusófonos. A nossa questão primordial é saber como funciona esse
sistema de governo nos países em análise e se tem ou não contribuído
para a consolidação democrática. E, nesse sentido, é plausível supor que
as regras constitucionais relativas à formação do executivo e à tomada de
decisões afectem a distribuição do poder e o funcionamento dos sistemas
políticos.
Reconhecemos que tal plausibilidade depende da existência de um
aparelho estatal efectivo. E isso é um problema para alguns países lusó-
fonos. Num estudo bastante recente, Rice e Patrick (2008) ordenam os
141 países em vias de desenvolvimento segundo a força do Estado. Para
os autores, a força ou fraqueza de um Estado é função do seu desempe-
nho relativo em quatro esferas críticas, nomeadamente económica, po-
lítica, de segurança e de bem-estar social. Eis os resultados para os países
de língua portuguesa, entre o mais fraco (1.º) e o mais forte (141.º): (11.º)
Angola; (18.º) Guiné-Bissau; (39.º) Moçambique; (43.º) Timor Leste;
(61.º) São Tomé e Príncipe; (99.º) Brasil; (123.º) Cabo Verde.
Dos sete países de expressão portuguesa, quatro fazem parte dos cin-
quenta Estados mais fracos do mundo. É importante registar esta informa-
ção porque as constituições e as regras formais do jogo político serão tanto
mais determinantes da dinâmica política efectiva de um país quanto mais
forte for o Estado. Nesse sentido, sustentaremos, na conclusão deste livro,
que o que definimos como modelo lusófono de semipresidencialismo se
observa mais facilmente nos países com Estados mais fortes.
De maneira complementar, cumpre afirmar que todas as perspectivas
históricas, sociológicas e antropológicas são cruciais para entender o con-
texto em que estas instituições existem. Sem embargo dessa sensibilidade
contextual, o centro das nossas pesquisas são as instituições. Como co-
rolário desse ponto de partida, é dada também grande importância à na-
tureza do sistema partidário, por ser o principal reflexo da estrutura social
nas instituições políticas vigentes.
Este livro pretende contribuir para alguns dos debates centrais na ciên-
cia política de hoje: desde logo, e tal como explicado acima, a questão
relativa à difusão dos modelos constitucionais no mundo. Recentemente,
tem havido um interesse acrescido por este tema (Cheibub, Elkins e Gins-
burg 2008). As investigações mais recentes têm-se apoiado na análise
quantitativa de textos constitucionais para detectar as semelhanças entre
os países. Pretendemos dar um contributo qualitativo e também quanti-
tativo para este tipo de investigação. Se é certo que as potências imperiais
17
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 17
foram, obviamente, importantes na propagação de certos modelos cons-
titucionais (Cheibub, Elkins e Ginsburg 2008), em que medida o mesmo
se aplica a Portugal – enquanto potência menor – em relação aos países
de língua portuguesa? 
Pela natureza do objecto de estudo, este livro é fundamentalmente
uma contribuição para o debate em torno do funcionamento dos regimes
semipresidenciais no mundo e das suas consequências para a consolida-
ção democrática. Sendo um sistema de governo mais recente do que o
parlamentarismo ou o presidencialismo, o semipresidencialismo ainda
está relativamente pouco estudado. Além disso, e salvo algumas excep-
ções (Elgie 2007), existem muito poucas análises qualitativas sobre este
regime em países não europeus, sendo as análises quantitativas mais co-
muns (Shugart e Carey 1992; Siaroff 2003). 
É evidente que, tendo em conta os países que integram este livro, de
uma forma lata ele também dialoga com estudos recentes sobre a forma
como se tem processado o alargamento dos princípios democráticos no
mundo (Norris 1998 e 2008). De facto, o presente estudo inclui países
que estão em vários pontos da escala de democraticidade criada pela Free-
dom House. Incluímos casos como os de Angola, da Guiné-Bissau ou
mesmo de Timor-Leste, todos eles com valores muito baixos ou nulos
nos índices de pluralismo político e direitos cívicos permitidos. No ex-
tremo oposto, Portugal, o Brasil e Cabo Verde apresentam níveis altos
nos mesmos indicadores, ficando Moçambique e São Tomé e Príncipe a
ocupar valores intermédios da escala. 
Segundo Huntington, a terceira vaga de democratização teve início
no Largo do Carmo a 25 de Abril de 1974, em Lisboa (Huntington 1991).
Desde então, com as transições verificadas na América Latina na década
de 80, e no seguimento da queda do muro de Berlim e do fim da Guerra
Fria, os processos de mudança política com um cariz democratizante
multiplicaram-se por todo o mundo. Assistimos a democratizações na
América Latina, na Europa de Leste, naÁsia e em África. É certo que
existem recuos nesta tendência. Mas mesmos esses não diminuem a vi-
ragem histórica que ocorreu nos últimos trinta e cinco anos.
Qual tem sido o trajecto dos países de língua portuguesa nessa ten-
dência global? Com tempos muito diferenciados, a ritmos diferentes,
estes têm seguido aquela tendência, sendo o exemplo mais recente a de-
mocratização de Timor Leste e as eleições legislativas realizadas em An-
gola em Setembro de 2008. 
De facto, desde meados dos anos 70, todos eles iniciaram processos
de mudança constitucional com vista à adopção de normas que permi-
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
18
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 18
O semipresidencialismo e a democratização da lusofonia
tam a competição partidária e as eleições livres. Não quer isto dizer que
consideremos todos os regimes em análise democráticos ou que acredi-
temos que o venham a ser num futuro próximo. Nesse sentido, o caso
de Angola merece particular destaque pelo fraquíssimo grau de demo-
craticidade das instituições políticas e do pluralismo permitido (Freedom
House, 2009). 
A análise institucional oferecida neste livro é feita em contextos muito
diversos no que diz respeito aos graus de democracia dos casos nacionais.
Naturalmente isso coloca questões cruciais sobre a importância das dis-
posições constitucionais em países onde a própria existência de um Es-
tado de direito não é um dado adquirido. Cientes dessas dificuldades,
empreendemos um diálogo com essa realidade, mostrando apenas de
que forma o desenho institucional escolhido tem inibido ou potenciado
a democratização política do país em causa.
Os capítulos aqui apresentados distinguem-se por terem quatro carac-
terísticas-chave. Em primeiro lugar, cada regime político é avaliado su-
mariamente, tendo em conta as medidas da extensão do poder presiden-
cial desenvolvidas por politólogos como Shugart e Carey, Metcalf e
Siaroff. 
Em segundo lugar, é dada uma grande ênfase à análise dos sistemas par-
tidários e outras forças políticas que podem condicionar o funcionamento
do semipresidencialismo. Se é verdade que uma hipótese central da ciência
política contemporânea é a de que as instituições contam, também é certo
que estas são moldadas crucialmente pelo contexto – social, económico e
histórico – em que se inserem. Aliás, todos os estudos de cariz antropoló-
gico e histórico alertam para os perigos das análises estritamente institu-
cionalistas dos regimes políticos existentes. Conscientes disso, em todos
os capítulos há um esforço de explicação da forma como o semipresiden-
cialismo funciona na realidade em cada regime. Para tal apresenta-se uma
análise dos sistemas partidários, a sua fragmentação e a sua estabilidade. 
Em terceiro lugar, e tendo em conta o estado da arte dos estudos nesta
área, a análise da natureza e funcionamento dos sistemas semipresiden-
ciais toma por referência fulcral os poderes do presidente. Duverger
(1980) foi o primeiro a definir o semipresidencialismo. Segundo este
autor, trata-se de um regime em que há um presidente da República eleito
por sufrágio directo e universal a quem são atribuídos poderes conside-
ráveis. Este presidente coexiste com um primeiro-ministro com poderes
executivos substanciais e responsável perante o parlamento. 
Estudos subsequentes mostraram que as diferenças nos poderes cons-
titucionais dos presidentes e a separação entre a sobrevivência da assem-
19
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 19
bleia e do governo parecem ser fundamentais para a caracterização de
subtipos dentro da família do semipresidencialismo (Shugart e Carey
1992; Shugart 2005). Estes autores avaliam quantitativamente os poderes
formais dos presidentes através de escalas ordinais. Os poderes presiden-
ciais dividem-se em duas categorias: poderes legislativos e poderes não
legislativos. Os poderes legislativos são os seguintes: o poder de iniciativa
legislativa; o poder de veto; o poder orçamental; o poder de enviar legis-
lação ao tribunal constitucional para apreciação da constitucionalidade
do diploma; poderes de decreto; o poder de convocar referendos.
Quanto aos poderes não legislativos, eles são os seguintes: o poder de
dissolver o parlamento; o poder de censura; o poder de formação de go-
vernos, o poder de demissão do governo.
Esta tipologia de poderes presidenciais serve de base para Shugart e
Carey distinguirem entre dois tipos de sistemas semipresidenciais: pre-
mier-presidencial e presidencial-parlamentar.
Os regimes premier-presidenciais conferem a um chefe de Estado eleito
pelo povo escassos poderes sobre o governo, caracterizando-se também
pela separação entre a sobrevivência do parlamento e a do governo. 
O presidente tem o poder de nomear o primeiro-ministro, que, por sua
vez, nomeia o restante governo. O parlamento, no entanto, tem o poder
de destituir o primeiro-pinistro e o governo através da votação de uma
moção de censura ou da derrota de uma moção de confiança. 
A V República francesa é o protótipo do regime presidencial de primeiro-
-ministro. 
Os sistemas presidenciais-parlamentares dão ao chefe de Estado am-
plos poderes sobre o governo (nomeação e demissão), mas não há sepa-
ração entre a sobrevivência do parlamento e a do governo, já que o par-
lamento também pode demitir o governo. Este é o único tipo de
executivo em que o governo pode ser demitido tanto pelo chefe de Es-
tado como pelo parlamento. A República de Weimar é o caso clássico
de um regime presidencial-parlamentar. 
Essa tipologia é reforçada sempre que é possível apresentar dados con-
cretos sobre a forma como o presidente exerce os seus poderes. Isso é
também algo que distingue este livro de outros que não oferecem um
esforço de avaliação – qualitativa e quantitativa – do activismo presiden-
cial (Chabal 2002; Guedes e Marques 2007). Tais considerações serviram
para determinar a estrutura de cada capítulo, que a seguir se descreve. 
A todos os autores foi pedido que seguissem uma estrutura seme-
lhante, embora sempre com alguma margem de manobra para colocar
em evidência aspectos mais relevantes ou particulares do regime político
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
20
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 20
O semipresidencialismo e a democratização da lusofonia
em análise. Esta preocupação de uniformização das estruturas dos capí-
tulos – cujo propósito é manter o fio condutor e a coesão do livro – é
tanto mais importante quanto é díspar a evolução dos regimes.
Na primeira parte de cada capítulo é feito um enquadramento histó-
rico, político e constitucional do regime em causa. Cada autor apresenta
os dados que considera mais importantes para explicar a forma como o
regime político contemporâneo foi criado e se desenvolveu. Tendo em
conta que lidamos com regimes de variado grau de democraticidade, é
importante começar por tentar classificá-los à luz de tipologias em que
essas diferenças sobressaiam. No seu conjunto, avultam as fragilidades e
os problemas que a maioria dos países encontra para um regular funcio-
namento democrático. 
No capítulo sobre Angola mostra-se a forma como, no seguimento
das primeiras eleições presidenciais livres, em 1992, o processo de libera-
lização política ficou suspenso e a guerra civil foi retomada até à morte
de Jonas Savimbi, líder da UNITA. Apenas em 2008, o regime de
Eduardo dos Santos permitiu que fossem convocadas e realizadas eleições
legislativas livres. No entanto, e de uma forma paradoxal, tal como indica
José Reis Santos, o grau de pluralismo do parlamento angolano diminuiu
ulteriormente em virtude destes resultados eleitorais, dado o grande re-
forço do partido do presidente no controlo dos assentos parlamentares
(com cerca de 80%).
No caso da Guiné-Bissau, o processo de liberalização política iniciadonos anos 90 não tem sido bem sucedido. Até hoje nenhum governo cum-
priu um mandato legislativo e os dois presidentes eleitos – Nino Vieira e
Kumba Yalá – foram forçados a abandonar o cargo antes do fim do man-
dato. As forças armadas guineenses são um actor central desta evolução
política, caracterizada por grande instabilidade e fragilidade institucional.
Timor Leste, sendo um dos mais jovens regimes formalmente demo-
cráticos do mundo, tem sofrido também vicissitudes na sua evolução po-
lítica recente. Nos seus poucos anos de vida tem-se assistido a uma con-
vivência difícil entre o principal partido político, a Fretilin, e a elite
política que se opôs, desde os anos 70, à ocupação indonésia. Os acon-
tecimentos mais recentes, como a tentativa de assassinato do presidente
Ramos Horta, vieram realçar as fragilidades deste Estado-nação inci-
piente. 
Os casos de São Tomé e Príncipe e Moçambique oferecem perspectivas
mais encorajadoras. Ambos têm evoluído no sentido de uma maior es-
tabilidade política. Mesmo assim, no caso moçambicano, a transição para
o multipartidarismo, embora tenha ocorrido formalmente, tal como de-
21
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 21
monstra Macuane (neste volume), não tem garantido uma competição
partidária efectiva, já que a Frelimo, partido do presidente, continua ex-
cessivamente dominante.
Nesse aspecto, tanto Portugal como Cabo Verde são exemplos de re-
gimes semipresidenciais em democracias consolidadas. Constituem, por
isso, exemplos animadores no panorama dos países de língua portuguesa. 
De uma forma ou de outra, todos os autores aproveitam a primeira
parte do capítulo para enquadrarem, ainda que de forma necessariamente
sucinta, os regimes de um ponto de vista histórico e político. Os factores
que os autores apresentam como fundamentais para compreender os re-
gimes são: a evolução histórica desde a descolonização; a incipiência – e
por vezes mesmo inexistência – da administração pública e dos organis-
mos estatais; as condições económicas extremamente difíceis em vários
países; as clivagens étnicas, que dificultam o funcionamento dos sistemas
partidários; a dimensão do país.
De seguida, cada capítulo trata da estrutura constitucional do regime
em causa, com foco nos poderes presidenciais. Tendo por base as escalas
de Shugart e Carey, de Siaroff e de Meltcalf, tal como explicadas acima,
pedimos aos autores de cada capítulo que classificassem o regime em
causa. Além disso, para fechar o enquadramento político e constitucio-
nal, pedimos que discutissem se houve alguma influência do constitu-
cionalismo português no desenho institucional adoptado.
Ao longo do livro, cada um dos autores caracteriza os poderes dos pre-
sidentes em termos legislativos (intervenção na feitura das leis), não le-
gislativos (formação de governos, nomeações e dissolução do parla-
mento) e partidários (controlo do partido, dimensão da maioria
presidencial). 
Posto isto, pode considerar-se a forma como os presidentes exercem
os seus poderes, em comparação com os do primeiro-ministro e os dos
ministros. Tendo em conta tanto as escalas desenvolvidas por Shugart e
Carey (1992) e expandidas por Metcalf (2000) como o caso português,
elencámos um conjunto de poderes que os autores deviam discutir. 
A saber: os poderes relativos à formação do governo e à dissolução do
parlamento; poderes legislativos (legislação, vetos, orçamento, envios
para o tribunal constitucional, referendos); outros poderes não legislati-
vos importantes (dissolução da assembleia, censura e formação e demis-
são do governo); finalmente, a comunicação com o eleitorado por meio
das chamadas presidências abertas, sendo estas um factor importante do
poder presidencial português que gostaríamos de saber se existe também
noutros regimes semipresidenciais da lusofonia.
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
22
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 22
O semipresidencialismo e a democratização da lusofonia
Como iremos ver em cada capítulo, todos os presidentes dos países
de expressão portuguesa contam com poderes constitucionais conside-
ráveis. Detêm, tal como o presidente português, extensos poderes de veto,
podendo a maioria dos chefes de Estado enviar aos tribunais diplomas
para verificação da constitucionalidade (embora este último poder seja
recente no caso de São Tomé e Príncipe e não esteja contemplado na
Guiné-Bissau). Além disso, em alguns países o Presidente detém poderes
mais extensos do que o que acontece em Portugal. Os presidentes da lu-
sofonia têm áreas reservadas de poder legislativo, nomeadamente a polí-
tica externa e de segurança, presidindo por vezes também ao conselho
de ministros. No caso de Moçambique e de Angola, acumulam mesmo
a chefia do Estado com a do governo. 
Já quanto à formação e dissolução do governo – e tal como no caso
português – há uma ambiguidade com relação às prerrogativas do chefe
de Estado que, em certas circunstâncias, realçam o poder presidencial. 
A análise do sistema partidário é uma componente fundamental de
cada capítulo. Cada autor explica o nascimento e evolução do sistema
partidário, apresentando também os resultados das eleições no país. Em
particular, procura-se realçar a fragmentação e a volatilidade do sistema
partidário e a relação entre as eleições legislativas e presidenciais. Isto é,
trata-se de saber se o presidente é líder do partido que detém a maioria
dos assentos parlamentares ou não.
De facto, devido à ambiguidade constitucional, é a natureza do sistema
partidário que se vai tornar crucial para a natureza do regime. Quando
existe um partido dominante liderado pelo presidente, como é o caso
em Angola e Moçambique, estão criadas as condições para um presiden-
cialismo com mais (Moçambique) ou menos (Angola) pluralismo.
Quando os sistemas partidários são, pelo contrário, fragmentados, tal
como na Guiné-Bissau, em São Tomé e Príncipe e em Timor Leste (em-
bora este último em menor grau), as instituições potenciam a grande ins-
tabilidade política que tem sido experimentada. Cabo Verde, com um
sistema bi-partidário, aproxima-se mais do caso português, com um papel
importante do presidente da República, mas em que o centro do poder
executivo é o governo.
No capítulo que é dedicado ao caso brasileiro, a estrutura é necessa-
riamente diferente. Aliás, a inclusão deste capítulo só se compreende
tendo em conta apenas um dos objectivos do livro. Na tentativa de saber
se a matriz semipresidencial portuguesa teve alguma influência na evo-
lução política dos países, faz todo o sentido analisar o caso brasileiro,
visto que este país é membro de pleno direito da CPLP e com elos cul-
23
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 23
turais fortes com Portugal. É interessante verificar, tal como demonstra
Carlos Coelho (neste volume), que, em sucessivas tentativas de reforma
política empreendida no Brasil, o modelo semipresidencial português foi
muitas vezes invocado como modelo alternativo possível.
Na conclusão, os organizadores do livro fazem um esforço para sinte-
tizar as principais características dos regimes em análise e verificar se se
pode falar de um modelo lusófono, de uma matriz comum à maioria
dos países de língua portuguesa.
Antes de terminar, devemos agradecer a todos aqueles que apoiaram
este projecto, seja financeiramente, seja de um ponto de vista organiza-
cional. No primeiro plano encontram-se o Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa e a Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Ja-
neiro. No segundo, a organização de um painel no IV Congresso da As-
sociação Portuguesa de Ciência Política e de outro no Congresso Luso-
-Afro-Brasileiro realizado na Universidade do Minho em 2009, os quais
permitiram a reunião dos autores deste livro. A palavra final de agrade-
cimento vai para eles, que trabalharamincansavelmente na elaboração
dos capítulos ao longo do último ano.
Marina Costa Lobo e Octavio Amorim Neto
24
01 Semipresidencialismo Cap. 1:Layout 1 8/19/09 5:15 PM Page 24
Octavio Amorim Neto
Marina Costa Lobo
Capítulo 2
O semipresidencialismo português
revisitado: uma avaliação do papel
do presidente na política nacional,
1976-2006 *
Este capítulo investiga o papel do chefe de Estado português no pro-
cesso decisório, no âmbito do regime semipresidencial, desde o estabe-
lecimento deste, em 1976, até 2006. Apesar de haver já um número con-
siderável de estudos a este respeito, consideramos que o nosso contributo
é relevante por vários motivos. Nele iremos explicar como é que o regime
se manteve solidamente semipresidencial, apesar do fortalecimento do
poder do primeiro-ministro. Assim, não iremos analisar isoladamente os
poderes do presidente tal como é comum neste tipo de estudos, mas a
forma como o poder crescente do primeiro-ministro ocorreu sem pre-
juízo da influência presidencial. Esta é uma análise inovadora porque
contribui para uma compreensão global do funcionamento do sistema
político português. Além disso, o capítulo inclui dados até ao final do
segundo mandato presidencial de Jorge Sampaio, mandato em que o pre-
sidente fez uso de prerrogativas muito importantes e que terminou em
Janeiro de 2007.
25
* Este capítulo é uma versão levemente modificada de um artigo publicado no Euro-
pean Journal of Political Research (vol. 48, n.º 2, 2009). Agradecemos a essa revista e à sua
editora, a Wiley-Blackwell, a permissão para que o texto aparecesse neste livro. Estamos
gratos também ao Nuno Guedes pelo seu excelente trabalho como assistente de investi-
gação. Amorim Neto agradece ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
o generoso apoio dado por meio da concessão de uma bolsa de investigação luso-afro-
-brasileira em 2006. Agradecemos também a António de Araújo, David Samuels e Mat -
thew Shugart os comentários muito úteis a versões anteriores deste texto. Todas as falhas
que permaneceram são da responsabilidade dos autores.
02 Semipresidencialismo Cap. 2:Layout 1 8/19/09 5:16 PM Page 25
Na esteira da terceira vaga de democratização iniciada com a revolução
dos cravos em Portugal, em 1974 (Huntington 1991), o semipresidencia-
lismo tornou-se o regime político predominante na Europa, continente
historicamente associado ao parlamentarismo (Amorim Neto e Strøm
2006). Por isso, há agora uma necessidade premente de entender como
funciona o semipresidencialismo. Quando o presidente português é con-
siderado, alguns estudos influentes tendem a subestimar o seu papel no
sistema político. Estes estudos sustentam que Portugal não deveria ser clas-
sificado como semipresidencial, devendo antes ser considerado um sistema
parlamentar (Bruneau et al. 2001; Canotilho e Moreira 1991; Lijphart 1989;
Pereira 1984; Sartori 1994). O fundamento analítico desta classificação é o
seguinte: mudanças no sistema partidário em meados dos anos 80 deram
origem a maiorias parlamentares e a governos monopartidários, o que, por
sua vez, fortaleceu consideravelmente o primeiro-ministro (doravante PM)
dentro do poder executivo, em detrimento do presidente. 
Consideramos essa análise incorrecta. Com base no trabalho de Lobo
(2005a e 2005b), argumentamos que o poder crescente do PM derivou
sobretudo da reorganização do poder executivo e da «governamentali-
zação» dos partidos, e não de qualquer redução significativa dos poderes
presidenciais. Estes processos certamente contribuíram para solidificar a
posição do PM. Porém, durante o período de fortalecimento dos poderes
do primeiro-ministro, o presidente manteve algumas prerrogativas cons-
titucionais-chave que garantem a continuidade da sua relevância política.
Além disso, a instabilidade governativa vivida em 1999-2005 ilustrou
bem a forma como o presidente da República ainda pode ter um papel
politicamente importante. Efectivamente, em 2004, o presidente socia-
lista Jorge Sampaio anunciou a dissolução do parlamento e a convocação
de novas eleições, não obstante o facto de a Assembleia da República ter
uma maioria absoluta de dois partidos de direita. A última vez em que o
presidente português tivera tal iniciativa ocorrera num período de coabi-
tação semelhante em 1982. 
Neste capítulo propomo-nos analisar empiricamente a evolução do
poder presidencial desde a democratização portuguesa, em 1976. Inicial-
mente, examinamos os estudos existentes sobre o papel do presidente por-
tuguês no processo decisório, apresentando também uma síntese dos arti-
gos constitucionais que sustentam o poder presidencial e a forma como
estes evoluíram. Em seguida, apresentamos e discutimos novos dados sobre
o papel do chefe de Estado português no processo decisório. Enfatizaremos
o papel do presidente na nomeação e demissão do governo; os seus pode-
res de dissolução do parlamento; a sua influência nas nomeações ministe-
Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
26
02 Semipresidencialismo Cap. 2:Layout 1 8/19/09 5:16 PM Page 26
O semipresidencialismo português revisitado
riais; os poderes de envio de leis para verificação de constitucionalidade ex
ante pelo Tribunal Constitucional; os seus poderes de veto e finalmente, a
influência presidencial na definição da agenda política do país através de
apelos ao público. Na conclusão salientamos que o regime português se
tem mantido solidamente semipresidencial porque o presidente continua
a desempenhar um papel relevante no processo decisório.
O semipresidencialismo português 
nos estudos de política comparada
No artigo pioneiro de Duverger, Portugal, a par da República de Wei-
mar e da Finlândia, foi caracterizado como um regime em que havia um
equilíbrio entre a presidência e o governo. Nestes três regimes, a Consti-
tuição aproximava-se em grande medida da prática política, isto é, com
uma divisão de poder efectiva entre os dois órgãos do poder executivo
(Duverger 1980, 187).
Estudos subsequentes mostraram que as diferenças relativas aos pode-
res constitucionais dos Presidentes e à separação entre a sobrevivência da
Assembleia e do governo parecem ser fundamentais para a caracterização
de subtipos dentro da família semipresidencial (Shugart e Carey 1992;
Shugart 2005). Vale a pena relembrar o influente tratado de Shugart e
Carey (Shugart e Carey 1992). Inicialmente, estes autores avaliam quan-
titativamente os poderes formais dos presidentes por meio de escalas or-
dinais. Os poderes presidenciais dividem-se em duas categorias: poderes
legislativos e poderes não legislativos. A medida global do poder presi-
dencial é a soma da pontuação de seis poderes legislativos e de quatro
poderes não legislativos. De seguida, Shugart e Carey fazem a distinção
entre dois tipos de sistemas semipresidenciais: premier-presidencial e pre-
sidencial-parlamentar.
Os regimes premier-presidenciais conferem a um chefe de Estado eleito
pelo povo poucos poderes sobre o governo, caracterizando-se também
pela separação entre a sobrevivência do parlamento e a do governo. 
O presidente tem o poder de nomear o PM, que, por sua vez, nomeia o
restante governo. O parlamento, no entanto, tem o poder de destituir o
PM e o governo, através da votação de uma moção de censura ou após
a derrota de uma moção de confiança. A V República francesa é o pro-
tótipo do regime premier-presidencial.
Os sistemas presidenciais-parlamentares dão ao chefe de Estado am-
plos poderes sobre o governo (nomeação e demissão), mas não há sepa-
ração entre a sobrevivência do parlamento e a do governo, já que o par-
27
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lamento também pode demitir o governo. Este é o único tipo de execu-
tivo em que o governo pode ser demitido tanto pelo chefe de Estado
como pelo parlamento. A República de Weimar é o caso clássico de um
regimepresidencial-parlamentar. 
Em relação a Portugal, Shugart e Carey fazem a distinção entre o pe-
ríodo anterior e posterior à revisão constitucional de 1982, um momento-
-chave que será discutido detalhadamente adiante. Na escala de Shugart
e Carey, entre 1976 e 1982, os poderes do presidente português atingiam
9 pontos, enquanto, a partir da reforma constitucional de 1982, os auto-
res consideram que eles diminuíram para 6. Consequentemente, no pri-
meiro período, Portugal é caracterizado como pertencente ao tipo presi-
dencial-parlamentar e, desde 1982, à categoria premier-presidencial
(Shugart e Carey 1992, 156-160).
Alan Siaroff (2003) também analisou nove poderes presidenciais num
grande número de países onde os presidentes são eleitos por sufrágio uni-
versal. Enquanto Shugart e Carey consideraram somente os poderes
constitucionais, Siaroff incluiu tanto os poderes constitucionais como
os de facto. De acordo com as escalas de Siaroff, Portugal obtém 6 pontos
em 1976-1982 e apenas 3 a partir de 1982. Enquanto, no período anterior,
a pontuação nacional está entre as mais elevadas dentro do grupo de paí-
ses semi-presidenciais, no último o presidente português cai para um
grupo intermédio. Portanto, tanto Siaroff como Shugart e Carey concor-
dam ter havido uma redução dos poderes presidenciais a partir de 1982.
De um modo geral, estes resultados foram amplamente corroborados em
estudos voltados exclusivamente para o caso português (Amorim Neto
2003; Araújo e Tsimaras 2000; Araújo 2003; Cruz 1995; Freire e Pinto
2005; Lucena 1996; Miranda 1997; Novais 2007; Sousa 1984 e 1992),
embora existam algumas excepções (e. g., Matos 1983).
Apesar desta concordância básica sobre o declínio dos poderes presi-
denciais depois de 1982, há, no entanto, diferenças na classificação do
regime pós-1982. Em 1994, Sartori retirou Portugal da lista original pro-
posta por Duverger (devido às mudanças constitucionais realizadas em
1982), argumentando que, na prática, o país funcionava como uma de-
mocracia parlamentar (Sartori 1994, 127). Outros autores têm vindo a
concordar parcialmente com Sartori, sustentando que, em 1982, as re-
formas constitucionais tornaram o regime «mais semiparlamentar» e
«menos semipresidencial» (Bruneau et al. 2001, 42), ou que deveria ser
denominado «semiparlamentar» (Lopes e Barroso 1980, 85), ou ainda
que o país tinha um «governo parlamentar condicionado por um ele-
mento presidencial» (Canotilho e Moreira 1991; Pereira 1984, 53). En-
Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
28
02 Semipresidencialismo Cap. 2:Layout 1 8/19/09 5:16 PM Page 28
O semipresidencialismo português revisitado
29
tretanto, a maioria dos autores afirma que o regime continua semipresi-
dencial (Amorim Neto 2003; Araújo 2003; Cruz 1995; Freire e Pinto
2005; Lucena 1996; Miranda 1997; Novais 2007; Pasquino 2005; Shugart
2005; Shugart e Carey 1992; Sousa 1992). 1
Neste capítulo defendemos uma leitura constitucional da natureza se-
mipresidencial do regime, já que os presidentes portugueses permanece-
ram activos e influentes mesmo em períodos de governos maioritários
estáveis, tornando-se actores cruciais principalmente em tempos de ins-
tabilidade governativa, tal como a que ocorreu entre 2002 e 2004, como
tentaremos demonstrar de seguida.
Os poderes constitucionais do presidente
A escolha de um sistema semipresidencial em 1976 surgiu da necessi-
dade de recompensar as Forças Armadas pelo seu papel no período de
transição do autoritarismo para a democracia, reflectindo também a his-
tória e a cultura políticas recentes (Cruz 1995, 223). A queda do regime
autoritário em 1974 foi protagonizada, não por partidos políticos, mas
pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) (Maxwell 1995; Rezola
2006). Entre 1974 e a promulgação da Constituição em 1976, o MFA,
aliado a vários grupos de esquerda, foi o actor político mais importante,
num ambiente de enorme incerteza, fluidez institucional e partidos in-
cipientes (Graham e Wheeler 1983). A Assembleia Constituinte, eleita
em Abril de 1975, foi acompanhada nos seus trabalhos por uma comissão
composta por partidos e pelo MFA. Aliás, os principais pontos contidos
no II Pacto MFA-Partidos, assinado em Fevereiro de 1976, foram acolhi-
dos no texto constitucional final que a Assembleia Constituinte aprovou. 
Em relação à presidência, o II Pacto estipulava que o chefe de Estado
seria eleito de forma directa. Houve também o que se chamou uma cláu-
sula «implícita» que surgiu das discussões em torno do II Pacto, segundo
a qual o primeiro presidente seria um oficial das Forças Armadas (Pereira
1984, 42-43). Esse acordo garantia ao chefe de Estado a possibilidade de
assumir uma dupla legitimidade, por um lado, revolucionária e, por
outro, eleitoral. Isso porque o oficial militar não apenas seria eleito por
sufrágio universal, como também exerceria o cargo de comandante das
Forças Armadas (artigo 137.º da CRP de 1976) e presidiria ao Conselho
1 Para uma relação completa de estudos que sustentam que Portugal deveria ser clas-
sificado como semipresidencial, v. Araújo e Tsimaras e Novais (Araújo e Tsimaras 2000,
399-402, e Novais 2007).
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da Revolução (artigo 136.º da CRP de 1976). Este órgão de soberania,
composto exclusivamente por oficiais das Forças Armadas, detinha po-
deres legislativos exclusivos em questões militares (artigo 149.º da CRP
de 1976) e iria actuar como um conselho constitucional sui generis (artigo
146 CRP 1976). Nessa medida, ao presidir ao Conselho da Revolução, o
chefe de Estado tornava-se o último garante da Constituição. 
Para além destes poderes importantes, o Presidente podia retirar a con-
fiança política ao governo, forçando-o, dessa forma, à demissão, visto
que este era politicamente responsável perante o presidente e o parla-
mento (artigo 194.º da CRP de 1976). Além disso, o presidente nomeava
o PM, «tendo em conta os resultados eleitorais» (artigos 136.º e 190.º da
CRP de 1976). De acordo com a Constituição de 1976, um governo
recém-empossado não necessitava, contudo, de ver aprovada uma moção
de confiança do parlamento, bastando uma não rejeição passiva por parte
da Assembleia da República para este assumir funções.
Para demitir o governo era precisa a aprovação de duas moções de
censura por uma maioria absoluta dos membros parlamentares num pe-
ríodo de trinta dias (artigo 198.º da CRP de 1976). O governo ver-se-ia
obrigado a apresentar a demissão se o seu programa fosse rejeitado por
maioria simples no parlamento ou se uma moção de confiança não fosse
aprovada. No entanto, o parlamento seria dissolvido pelo presidente se
este rejeitasse o programa de governo por três vezes consecutivas ou, al-
ternativamente, se o parlamento provocasse a queda de um terceiro go-
verno (artigo 196.º da CRP de 1976). Aliadas à legitimidade revolucio-
nária do chefe de Estado, estas disposições contribuíram decisivamente
para o fortalecimento dos poderes presidenciais e para restringir a res-
ponsabilidade do governo perante a Assembleia da República. 
Os poderes legislativos presidenciais eram particularmente abrangentes.
Para além dos poderes legislativos que a presidência do Conselho da Re-
volução conferia ao chefe de Estado – em assuntos militares e na consti-
tucionalidade das leis –, o presidente detinha poderes específicos na área
da política externa. O artigo 138.º estipulava que cabia ao presidente rati-
ficar tratados internacionais, conferindo-lhe o poder de declarar a guerra
e fazer a paz, depois da aprovação pelo Conselho da Revolução. Ele tam-
bém poderia declarar o estado de emergência. Além disso, foram-lhe atri-
buídos poderes de veto sobre projectos de lei aprovados pelo parlamento
e decretos-leis do governo, sob certas condições (artigo 278.º da CRP de
1976). Um veto presidencial não poderia ser ultrapassado se o diploma ti-
vesseorigem governativa, embora pudesse ser reapresentado como um
projeto de lei de iniciativa parlamentar. Quando se tratasse de projectos
Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
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de lei de iniciativa parlamentar, os vetos presidenciais poderiam ser ultra-
passados através de uma segunda votação, desde que o diploma fosse
aprovado por uma maioria de dois terços dos deputados em exercício, de-
pendendo do conteúdo do projeto de lei. O presidente poderia também
requerer a verificação da constitucionalidade, tanto de projectos como de
propostas de lei, pelo Conselho da Revolução, tanto ex ante como ex post.
Por fim, na Constituição de 1976, o Presidente detinha outros poderes
importantes. Ele nomeava, mediante proposta do PM, todos os membros
do governo, o presidente do Tribunal de Contas, o procurador-geral da
República e os representantes estatais das regiões autónomas. Os gover-
nos regionais eleitos nos Açores e na Madeira poderiam também ser de-
mitidos pelo presidente sob certas circunstâncias. 
Em 1982, a Constituição foi revista com o objectivo de reduzir os poderes
do presidente e o papel das Forças Armadas no sistema político. 2
A mudança mais importante efectuada foi a da dissolução do Conselho da
Revolução, a qual significou a subordinação das Forças Armadas aos órgãos
de soberania com legitimidade eleitoral, naquela que foi considerada a etapa
final da consolidação da democracia em Portugal (Linz e Stepan 1996).
No que se refere ao relacionamento entre o governo e o presidente, a
mudança mais importante foi a de que, embora o governo ainda fosse
responsável perante a Assembleia da República e o presidente, passava a
ser politicamente responsável apenas perante a primeira. Isso significava
que, em nítido contraste com o texto original, o Presidente deixava de
poder demitir o governo invocando mera falta de confiança política. Ape-
sar disso, cabe ressaltar que o poder presidencial foi somente circunscrito,
e não eliminado, ao contrário do que Shugart e Carey (1992, 155) suge-
rem. De facto, o presidente manteve o poder de demissão do governo
em circunstâncias políticas excepcionais «para garantir o funcionamento
regular das instituições democráticas» (CRP de 1982). A pouca precisão
desse artigo sugere que, sob certas circunstâncias – nomeadamente em
períodos de instabilidade política –, o Presidente detém a prerrogativa
de demitir o Governo.
A mudança nos poderes presidenciais foi acompanhada pelo aumento
do poder do parlamento face ao governo. Houve uma simplificação de pro-
cedimentos para derrubar o governo. Com a revisão de 1982, a aprovação
de apenas uma (ao invés de duas em menos de trinta dias) moção de censura
bastava para forçar a queda do governo (artigo 198.º da CRP de 1982). Tam-
2 Para um relato dos objectivos do governo da AD no que concerne à revisão consti-
tucional, v. Lopes e Barroso (1980).
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Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
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bém ficou estabelecido que o governo entrava em funções formalmente de-
pois de ver a aprovação do seu programa pelo parlamento (artigo 189.º da
CRP de 1982), aumentando assim a responsabilidade do governo perante
o órgão legislativo (Amaral 1983). Portanto, eliminou-se a disposição se-
gundo a qual era suficiente que a Assembleia não rejeitasse o governo para
que este tomasse posse. A partir de 1982, à apresentação do programa na
Assembleia seguia-se necessariamente um voto de confiança no novo go-
verno (artigo 195.º da CRP de 1982). Finalmente, os domínios de exclusi-
vidade legislativa da Assembleia foram ampliados (artigo 167.º da CRP de
1982), havendo também uma especificação maior dos termos pelos quais
o parlamento poderia delegar competências legislativas ao governo.
O poder de veto do presidente foi fortalecido porque se tornou mais
difícil ultrapassar vetos em várias áreas de decisão. 3 Porém, eliminou-se
o veto suspensivo presidencial (o chamado, em inglês, pocket veto) tanto
em projectos de lei apresentados pela Assembleia da República como em
decretos-leis emitidos pelo governo. Este tipo de veto consistia na capa-
cidade de adiar a promulgação de leis e decretos. O presidente manteve
também os poderes na área das relações internacionais, estado de emer-
gência, nomeação para cargos na hierarquia do Estado e governos da Ma-
deira e dos Açores.
Mais recentemente, a reforma de 1989 deu ao chefe de Estado a prer-
rogativa de rejeitar referendos propostos tanto por deputados como pelo
governo. Uma rejeição presidencial é definitiva, ou seja, a proposta não
pode voltar a ser apresentada no mandato legislativo decorrente, salvas
duas excepções. A saber, se houver a realização de novas eleições ou se
o governo for entretanto exonerado. 
Para finalizar esta secção apresentamos uma súmula dos poderes presi-
denciais em Portugal, utilizando para este efeito a tipologia desenvolvida
por Metcalf (2000). Esta autora adaptou a tipologia de Shugart e Carey
(1992) aos regimes semipresidenciais. Para cada poder, Metcalf desenvolveu
escalas que permitem distinguir as características específicas de cada poder.
Os quadros 2.1 e 2.2 apresentam a pontuação de Portugal nas escalas. 
3 A reforma de 1982 aumentou o número de áreas de decisão onde é necessária uma
maioria de dois terços para ultrapassar um veto presidencial. Nomeadamente, a legislação
que se refere a um estado de sítio ou de emergência, à organização das Forças Armadas,
à organização do Tribunal Constitucional e à legislação eleitoral (Magalhães 1989, 113).
Esses novos poderes devem ser apreciados à luz da anterior versão da Constituição. No
período de 1976 a 1982 o presidente detinha influência nestas áreas devido ao facto de
presidir ao Conselho da Revolução, que funcionava como um tribunal constitutional,
além de deter o monopólio da legislação em todas as questões relativas às Forças Armadas. 
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O semipresidencialismo português revisitado
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Quadro 2.1 – Poderes legislativos do presidente em Portugal
Poderes legislativos Portugal(depois de 1982)
Poder de veto de pacote 2,5
4-Sem possibilidade de ser ultrapassado.
3-Ultrapassável por maioria extraordinária dos deputados.
2-Ultrapassável por maioria absoluta dos deputados em funções.
1-Ultrapassável por maioria simples do quórum dos deputados.
0-Sem veto de pacote.
Poder de veto parcial 0
4-Sem possibilidade de ser ultrapassado.
3-Ultrapassável por maioria extraordinária dos deputados.
2-Ultrapassável por maioria absoluta dos deputados em funções.
1-Ultrapassável por maioria simples do quórum dos deputados.
0-Sem veto parcial.
Poderes de decreto 0
4-Poderes reservados, sem limites.
2-Poderes temporários de decreto com poucas restrições.
1-Autoridade para passar decretos limitada.
0-Sem poderes de decreto.
Introdução exclusiva de legislação 0
4-Sem poder de alteração pelo parlamento.
2-Parlamento tem poderes limitados de alteração.
1-Parlamento tem poderes ilimitados de alteração.
0-Sem poderes de introdução exclusiva de legislação.
Competências orçamentais 0
4-Presidente prepara o orçamento sem que o parlamento possa alterá-lo.
3-Parlamento pode reduzir, mas não aumentar, gastos orçamentais.
2-Presidente determina valor máximo do orçamento e deputados 
alteram dentro desses valores.
1-Parlamento pode aumentar despesas se aumentar receitas.
0-Parlamento prepara e/ou altera orçamento livremente.
Poder de proposta de referendo 2*
4-Sem restrições.
2-Com restrições.
1-Assinatura do ministro necessária.
0-Sem poderes de proposta de referendo.
Poderes de verificação da constitucionalidade 1
4-Apenas o presidente pode enviar diplomas ao TC.
2-Presidente, governo ou uma maioria de deputados podemenviar 
diplomas ao TC.
1-Presidente, governo ou uma minoria de deputados podem enviar 
diplomas ao TC.
0-Sem poderes de verificação de constitucionalidade.
Total de poderes legislativos 5,5
* Poder concedido apenas na revisão constitucional de 1997.
Fontes: Metcalf (2000); Shugart e Carey (1992); avaliações feitas pelos próprios autores.
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Em relação aos poderes legislativos, o presidente da República detém po-
deres de veto de pacote, que, dependendo do tipo de diploma, podem ser
ultrapassados por uma maioria absoluta ou por uma maioria extraordinária.
Além disso, o presidente tem poderes importantes de envio de verificação
da constitucionalidade. Mas não é o único que detém esses poderes. O go-
verno e uma minoria de deputados também podem enviar para o Tribunal
Constitucional leis orgânicas. Com a revisão constitucional de 1997 foi con-
cedido ao presidente o poder de convocação de referendos.
O presidente da República detém mais poderes não legislativos, como
se pode verificar pela tabela acima. O primeiro-ministro é nomeado pelo
Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
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Quadro 2.2 – Poderes não legislativos do presidente em Portugal
Poderes não legislativos Portugal (depois de 1982) 
Poderes de formação do governo 1
 4-Presidente nomeia governo sem necessidade de aprovação 
 pelo Parlamento.
 3-Presidente nomeia governo com o consentimento do parlamento.
 2-Presidente nomeia governo sujeito à confirmação ou investidura 
 pelo parlamento.
 1-Presidente nomeia primeiro-ministro que tem de ter a confiança 
 do parlamento. Primeiro-ministro nomeia os restantes ministros 
 com a confiança do Presidente.
 0-Presidente não nomeia governo sem a recomendação do parlamento. 
Poderes de demissão do governo 2
 4-Presidente demite governo livremente.
 3-Presidente demite governo com o consentimento do parlamento.
 2-Presidente demite governo apenas em circunstâncias específicas.
 1-Presidente demite ministros sob proposta do primeiro-ministro.
 0-Governo só pode ser removido pelo parlamento através 
 de uma moção de censura. 
Censura 0
 4-Parlamento não pode censurar ou remover governo.
 2-Parlamento pode censurar governo, mas presidente pode responder, 
 dissolvendo o parlamento.
 1-Voto construtivo de censura.
 0-Voto de censura sem constrangimentos. 
Poder de dissolução da Assembleia 3
 4-Sem restrições.
 3-Com restrições temporais ou de frequência.
 2-Requer nova eleição presidencial.
 1-Apenas em circunstâncias específicas.
 0-Presidente não pode dissolver a Assembleia. 
Total de poderes não legislativos 6
 
Fontes: Metcalf (2000); Shugart e Carey (1992); avaliações feitas pelos próprios autores.
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O semipresidencialismo português revisitado
presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assem-
bleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais, enquanto
os restantes membros do governo são nomeados pelo presidente da Re-
pública, sob proposta do primeiro-ministro. Embora o governo entre ofi-
cialmente em funções quando nomeado pelo presidente, tem de apre-
sentar o seu programa ao parlamento e, se não for aprovado, o governo
cai obrigatoriamente. Além disso, o presidente continua a poder demitir
o governo em condições específicas. E pode dissolver a Assembleia da
República dentro dos limites temporais apontados acima. No global, o
presidente português reúne 11,5 pontos. O presidente francês soma 9
pontos (4 legislativos e 5 não legislativos) (Metcalf 2000, 657).
Em suma, os poderes constitucionais presidenciais foram, de facto,
restringidos em 1982. Os poderes legislativos do chefe de Estado foram
reduzidos através da eliminação do Conselho da Revolução, bem como
do veto suspensivo. A influência do presidente no processo decisório,
assim, diminuiu, na medida em que o chefe de Estado deixou de poder
exonerar livremente o governo, embora ainda o possa fazer em circuns-
tâncias excepcionais. Porém, o presidente, que continua a ser o chefe das
Forças Armadas, detém consideráveis prerrogativas, incluindo a nomea-
ção do governo e a dissolução da Assembleia; o poder de envio para o
Tribunal Constituticional de diplomas para verificação da constitucio-
nalidade; poderes de veto; o poder de nomeação de altos cargos na hie-
rarquia do Estado, tal como especificado anteriormente. É sobre o exer-
cício desses poderes, em 1976-2006, que nos debruçamos agora.
O poder de nomear e demitir o governo 
e de dissolver o parlamento
A Constituição portuguesa estipula que o presidente nomeia o PM,
«tendo em conta o resultado das eleições» (artigo 190.º da CRP de 1976).
Essa fórmula sugere que o chefe de Estado pode tornar-se uma figura de-
cisiva na formação do governo sempre que as eleições legislativas não
produzirem resultados totalmente inequívocos. 
Desde 1976, quatro partidos têm monopolizado a representação par-
lamentar, conquistando uma média de 90,6% do voto. Com excepção
do Partido Comunista Português (PCP), fundado em 1921, todos os ou-
tros foram criados pouco tempo antes ou depois da revolução de 1974.
O Partido Socialista (PS) foi fundado em 1973, o Partido Social-Demo-
crata (PSD), de centro-direita, e o conservador Centro Democrático e
Social/Partido Popular (CDS-PP) logo após a revolução de Abril de 1974.
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Octavio Amorim Neto e Marina Costa Lobo 
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Além disso, os partidos posicionados no centro do espectro político, PS
e PSD, têm regularmente controlado uma percentagem maior dos assen-
tos parlamentares, enquanto os comunistas e o CDS-PP têm visto a sua
percentagem de lugares no parlamento diminuir. O número efectivo de
partidos parlamentares 4 diminuiu de 3,2 entre 1976 e 1987 para 2,4 a
partir de 1987 (v. quadro 2.3). Tal desfragmentação do sistema partidário
português teve um impacto decisivo sobre a duração dos governos, a
qual aumentou a partir de meados dos anos 80. 
Durante os primeiros dez anos de democracia houve dez governos
constitucionais, não tendo nenhum deles completado um mandato par-
lamentar. Depois de duas quedas de governos devido à falta de apoio
parlamentar em 1978, Ramalho Eanes decidiu empossar governos «de
inspiração presidencial». Esses foram governos compostos, em geral, por
personalidades independentes, que não eram membros de nenhum par-
tido. No entanto, os primeiros dois governos caíram devido à falta de
apoio parlamentar estável. O terceiro desses governos, liderado por Maria
de Lurdes Pintasilgo, foi um governo de gestão.
Os governos que se seguiram, entre 1979 e 1983, detinham uma maio-
ria legislativa de direita estável, a AD (Aliança Democrática). No entanto,
apesar dessa maioria parlamentar, a morte repentina do primeiro-ministro
em funções, Francisco Sá Carneiro, não fez com que a sua substituição
por Francisco Pinto Balsemão fosse aceite de forma pacífica pelos par-
ceiros de coligação. Eventos políticose económicos concorreram para a
degradação progressiva desse governo. No seguimento do resultado de
eleições autárquicas em que a AD obteve resultados medíocres, Balsemão
decidiu demitir-se, sem que isso significasse a queda do governo. No en-
tanto, o presidente Eanes rejeitou essa alternativa, optando por dissolver
o parlamento e convocar eleições para Janeiro de 1983. Cabe notar que
essa rejeição por Eanes ocorreu logo após a reforma constitucional de
1982. Ela indica até que ponto foi mantido o poder presidencial de no-
meação do primeiro-ministro, apesar da reforma. 
Contudo, Eanes não voltou a exercer esse poder. O presidente se-
guinte, Mário Soares (1986-1996), o primeiro civil eleito para o cargo,
enfrentou na quase totalidade dos seus dois mandatos governos maiori-
tários que completaram os mandatos parlamentares (1987-1995).
Quando, em 1987, o governo minoritário do PSD caiu devido à aprova-
4 O numero efectivo de partidos parlamentares deriva da seguinte formula, desenvol-
vida por Laakso e Taagepera (1979): N = (Σpi2)–1, onde N é o número efectivo de partidos
e pi a proporção de assentos ganhos pelo partido i.
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O semipresidencialismo português revisitado
ção de uma moção de censura proposta pelos partidos de esquerda, Soa-
res recusou-se a nomear um primeiro-ministro socialista, preferindo dis-
solver o parlamento e convocar novas eleições. Nesse momento, a leitura
que o presidente fez da Constituição, juntamente com mudanças centrí-
petas profundas no comportamento eleitoral em meados dos anos 80,
parecia sugerir que o papel do presidente como figura-chave na formação
do governo se tinha tornado, para todos os efeitos, redundante.
Contudo, acontecimentos políticos recentes, sob a presidência de Jorge
Sampaio (1996-2006), indicam que tal não é assim. O poder presidencial
de formação do governo pode ressurgir sempre que os governos se reve-
lem fracos, como ocorreu entre 2001 e 2005. As eleições autárquicas de
2001, em que o PS perdeu algumas câmaras importantes, juntamente
com a acumulação de dificuldades económicas e políticas do governo
minoritário de António Guterres, levaram à demissão deste. Perante este
facto, o presidente Jorge Sampaio decidiu dissolver o parlamento, tendo
sido realizadas eleições em 2002 (Lobo e Magalhães 2003; Gabriel 2007). 
Nessas eleições, o PSD obteve a maior percentagem de votos, mas não
logrou alcançar a maioria absoluta dos assentos parlamentares, o que
levou à formação de uma coligação com o CDS-PP. Durante esse go-
verno, a crise económica iniciada sob Guterres continuou, levando a uma
continuada divergência com o crescimento médio da UE. Em 2004, e
no seguimento das eleições para o Parlamento Europeu (em que a coli-
gação PSD-CDS-PP não obteve um bom resultado), Durão Barroso
anunciou que iria renunciar ao cargo de primeiro-ministro para assumir
funções como presidente da Comissão Europeia. Depois de várias sema-
nas de hesitação, Jorge Sampaio aceitou o sucessor escolhido por Durão
Barroso, Pedro Santana Lopes, argumentando que, «enquanto o governo
produzido por eleições legislativas continuar a apresentar consistência,
vontade política e legitimidade, a renúncia de um primeiro-ministro per
se não é razão suficiente para [...] convocar eleições antecipadas». 5
Quatro meses depois, após a renúncia de um ministro, Sampaio deci-
diu dissolver o parlamento, alegando que o governo não tinha credibili-
dade (Freire e Lobo 2006; Lopes 2007; Gabriel 2007). Ao contrário do
poder de demitir o governo, que deveria ser usado a partir de 1982 apenas
para «garantir o funcionamento regular das instituições», o poder de dis-
solver o parlamento permaneceu inalterado desde 1976, portanto sem
necessitar de qualquer justificação formal. As duas decisões-chave do pre-
37
5 Discurso de Jorge Sampaio por ocasião da decisão de nomear Pedro Santana Lopes
como o próximo primeiro-ministro (acedido em 2004 em www.presidencia.pt).
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sidente em 2004 – convidar o presidente da Câmara Municipal de Lisboa
a formar um governo e, depois, demiti-lo – vieram relembrar que, apesar
das mudanças constitucionais, o papel do presidente na nomeação e exo-
neração de governos e na dissolução de parlamentos continua a ser ab-
solutamente crucial em épocas de instabilidade governamental. O último
mandato do presidente Sampaio (2001-2006), particularmente, ilustrou
a forma como o chefe de Estado pode tornar-se essencial quando o go-
verno é percepcionado como sendo fraco.
O fortalecimento do primeiro-ministro 
em detrimento dos ministros 
As reformas constitucionais de 1982 certamente restringiram algumas
prerrogativas presidenciais. Além disso, os quinze anos que se seguiram
a essas reformas também testemunharam o crescimento do poder do
PM. Foi esse fortalecimento inegável do cargo de primeiro-ministro den-
tro do sistema político que levou alguns analistas a declarar a morte do
semipresidencialismo em Portugal e a proclamar o parlamentarismo no
país. Essa análise supunha, no entanto, um jogo de soma zero entre os
dois ramos do poder executivo. Com base no trabalho de Lobo (2005a
e 2005b), argumentamos que isso é incorrecto.
Lobo demonstrou que o poder crescente do PM decorreu sobretudo
da reorganização do poder executivo e da «governamentalização» dos
partidos, e não de alguma redução importante dos poderes presidenciais.
Portanto, uma avaliação adequada da distribuição do poder real numa
democracia semipresidencial deve ter em consideração a influência rela-
tiva no processo de tomada de decisão de três actores distintos dentro
do sistema político, nomeadamente (a) o chefe de Estado, (b) o primeiro-
-ministro e (c) os ministros do governo. Tendo em conta essa perspectiva,
e considerando que a influência decisória total é uma constante (por
exemplo, 1), é, pois, possível que um aumento na influência de b não
leve necessariamente a uma redução da influência de a. Isso foi, no nosso
entender, o que sucedeu em Portugal depois de 1982, como demostrare-
mos adiante.
Cabe salientar novamente que a evolução política após 1982 certa-
mente contribuiu para solidificar a posição do primeiro-ministro. O for-
talecimento do poder do chefe do governo em Portugal pode ser enten-
dido a partir de uma análise dos instrumentos de tomada de decisão que
este tem à sua disposição. Essencialmente, os recursos disponíveis para
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O semipresidencialismo português revisitado
o primeiro-ministro foram ampliados, particularmente a partir de 1987,
por meio da reorganização das funções da Presidência do Conselho de
Ministros, do aumento das estruturas de apoio ao executivo e da no-
meação de ministros sem pasta para supervisionar o trabalho de outros
ministros.
Além dos recursos à disposição do primeiro-ministro vis-à-vis outros
membros do governo, é importante examinar se o governo age de forma
colegial ou, pelo contrário, de forma bilateral. Esta é uma questão rele-
vante para os propósitos desta secção na medida em que o poder do pri-
meiro-ministro resulta ampliado se o funcionamento do governo tender
para as relações bilaterais.
Além disso, Lobo demonstrou que, de um modo geral, o Conselho
de Ministros não viu a sua influência reforçada no que diz respeito à
coordenação política estratégica. Ao contrário, as decisões políticas ten-
dem a ocorrer em conselhos de ministros restritos, integrados pelo pri-
meiro-ministro e alguns (poucos) ministros com peso partidário. Note-
-se que a maior parte dos membros de conselhos de ministros restritos
também eram altos dirigentes partidários. Portanto, a tomada de decisão
permaneceu colectiva nos governos portugueses, embora não inclusiva
a todos os membros do governo.

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