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ANTROP. (2014)- texto 06- Introducao ao estudo das culturas humanas-

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1
Maria Esmeralda MineuZamlutti
Texto 06
Introdução ao estudo das culturas humanas
A CULTURA
1. Conceituação:
O conceito de cultura, como comumente utilizado nos dias de hoje, foi criado pelo antropólogo Edward Tylor, na segunda metade do Século XIX, para significar os conhecimentos, crenças, valores, normas, regras, padrões, hábitos, costumes, moral, artes, ideologias, ou quaisquer outras atividades realizadas pelo homem enquanto membro de um grupo social. 
Taylor juntou os significados dos conceitos kultur, termo alemão usado para simbolizar todos os aspectos espirituais de um povo, e civilization, termo francês usado para simbolizar todos os aspectos materiais de um povo,e instituiu o termo culture com um significado muito mais amplo (mais abrangente) por compreender tanto os aspectos materiais quanto imateriais de um determinado povo.
O novo conceito introduzido por Taylor nas ciências humanas e sociais serviu, também, para derrubar quase que definitivamente a crença de que a cultura era um dado biológico, fazendo com que por cultura se compreendesse o processo de aprendizagem de um determinado povo (“PrimitiveCulture”: Tylor, 1871).
Embora ainda hoje alguns estudiosos da cultura e do comportamento humano continuem defendendo que a cultura é muito mais um dado biológico do que um resultado do processo de aprendizagem, algumas indagações fazem com que esta última (aprendizagem) simbolize melhor o que realmente se deve entender por cultura, como por exemplo:
... o que determina o comportamento humano é a herança genética (biológica) ou os padrões impostos pela cultura (aprendidos)?
... é o indivíduo (ser biológico) que modifica seu meio ou o meio (cultura) que o modifica?
... é a cultura um produto da aprendizagem ou da capacidade criativa (inata) do homem?
... o que difere basicamente o homem dos demais animais é sua constituição biológica ou a cultura? 
... se o comportamento humano é pré-determinado pela constituição biológica do homem (bagagem genética), como explicar que algumas dessas pré-determinações não se cumprem devidamente como deveriam? Como por exemplo mães que matam os filhos -- em oposição ao natural “instinto materno”; homens que matam outros homens -- contrariando o natural “instinto de fraternidade”; indivíduos com impotência sexual (incluindo-se aqui a histeria feminina) -- em contraposição ao natural “instinto sexual”; pessoas que se suicidam, como os kamikazes ou os homens-bombas -- contrapondo o natural “instinto de preservação”?
	Desde Tylor (séc. XIX) até nossos dias, a ciência tem mostrado que é inegável a influência da cultura no comportamento humano, e que o comportamento humano é muito 
mais um resultado do processo de aprendizagem (interiorização da cultura) do que das pré-disposições biológicas (genéticas ou herdadas). 
	Desse modo, o conceito de cultura pode ser compreendido como o conjunto dos aspectos materiais e imateriais que, consciente ou inconscientemente, é vivido e assumido por um determinado grupo social como expressão de sua própria realidade humana. O conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a reprodução de um estado de coexistência social.
2. Aquisição da cultura:
A cultura é adquirida pelo indivíduo pelo processo de endoculturação, (ou culturação), também conhecido por socialização, através do qual o homem se transforma num verdadeiro ser humano. É o processo que permite ao homem desenvolver suas capacidades inatas através da interação do seu intra com o seu extra-psíquico, isto é, de seu mundo interno (intra-psíquico = pré-disposições genéticas e herdadas biologicamente) com seu mundo externo (extra-psíquico = cultura, grupo social).[1: “Ethos”: para os gregos antigos a palavra “ethos” significava “morada do homem”]
3. Ethos cultural:
Através da endoculturação o indivíduo desenvolve seu “ethos cultural”, isto é, um modo particular de viver e habitar eticamente o mundo que um grupo histórico tem enquanto tal, em sua história. Por isso, segundo Tylor, a cultura não pode ser compreendida apenas por um ou outro dos seus aspectos constitutivos, mas pela integração destes, englobando, também, as formas de organização de um povo, seus costumes e tradições, que transmitidas de geração para geração e a partir de uma convivência comum, se apresentam como a identidade desse mesmo povo. 
O ser humano comum, imerso em sua própria cultura, tende a encarar os padrões culturais de sua cultura como os mais corretos (senão os únicos), considerando (quando muito) que alguns desses padrões podem ser inadequados ou incorretos, o que lhe permite ter uma percepção mais real da própria cultura. Isso normalmente ocorre pelo contato do indivíduo com outras culturas diferentes da sua, isto é, com padrões culturais diferentes daqueles que guiam sua vida. 
Mas, se de um lado, o contato com outra ou outras culturas diferentes pode ajudar o indivíduo a ter uma melhor compreensão acerca da sua própria cultura, reconhecendo também seus pontos negativos, por outro lado pode servir para despertar sua natural tendência a rejeitar aquilo que não lhe é próprio culturalmente, levando-o, muitas vezes, ao etnocentrismo e à aculturação.
4. Etnocentrismo:
O etnocentrismo é a atitude pela qual o indivíduo ou grupo social, que se considera o sistema de referência, julga outros indivíduos ou grupos à luz dos seus próprios valores. Pressupõe que o indivíduo, ou grupo de referência, se considera superior àqueles que ele julga, e também que o indivíduo, ou grupo etnocêntrico, tenha um conhecimento muito limitado dos outros, mesmo que coexistam com certa proximidade (territorial, intelectual, emocional...). 
	
Etnocentrismo é a atitude pela qual o indivíduo ou grupo toma como referência os valores partilhados em seu próprio grupo, quando avalia os mais variados assuntos. É uma atitude que encara o próprio grupo como se fosse o centro da realidade. O termo é também utilizado para criticar os cientistas sociais que apresentam visões acusadas de estreitas.
	O etnocentrismo é uma barreira que serve para preservar a identidade cultural de um indivíduo em detrimento da sua interação com outras culturas, prejudicando as relações humanas de um modo geral. Além de causar danos por considerar outra ou outras culturas como inferiores, o etnocentrismo acaba prejudicando a transculturação e a difusão cultural, processos culturais fundamentais ao desenvolvimento das relações entre os homens. 
5. Aculturação:
	Uma das graves consequências do etnocentrismo é a aculturação, já que é o processo pelo qual duas culturas distintas ou parecidas são absorvidas uma pela outra formando uma
nova cultura; pode ser, também, a absorção de uma cultura pela outra, onde esta nova cultura terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida, mas com preponderância dos aspectos daquela que absorveu. 
A aculturação ocorre mais comumente quando uma cultura, por se julgar superior em relação à outra, se superpõe à mesma fazendo com que esta acabe por descaracterizar-se parcial ou inteiramente, às vezes até desaparecendo. O processo de transformações por que passa uma cultura até sua descaracterização total é chamado de aculturação porque é o processo pelo qual vão-se perdendo, ou sendo transformados totalmente, os aspectos culturais 
que lhes são próprios. O grupo que está sendo aculturado vai assimilando outra cultura de tal modo que aos poucos suas características fundamentais vão desaparecendo. 
Não é tão comum, mas pode ocorrer, ainda, de o processo de aculturação resultar numa nova cultura mantendo aspectos das duas culturas anteriores, como foi o caso da cultura romana, que por ter aspectos culturais fundamentais parecidos com os da cultura grega transformou-se na cultura greco-romana. O mais comum é a preponderância de uma cultura em relação à outra, tendo como resultado o desaparecimento de uma das duas.6. Subcultura:
	Grupo menor de indivíduos com identidade própria dentro de uma determinada cultura, como os intelectuais, os operários, os estudantes, os agricultores, os médicos, os professores, os artistas etc. 	A subcultura pode se destacar por idade, etnia, ideologia, religião, classe, gênero...	
	De um modo geral, entende-se por subcultura o conjunto de elementos culturais específicos de certo grupo social, as características culturais de um grupo menor inserido numa cultura mais ampla.
A subcultura pode coexistir pacificamente na sociedade na qual está inserida ou constituir uma subcultura desviante relativamente ao padrão cultural dominante, devido a se nortear por valores e padrões de comportamento diferentes da cultura mais ampla. Quando isto ocorre a subcultura acaba se transformando num “subgrupo”.
Considerando a subcultura como apenas o grupo com uma cultura diferente da cultura dominante na sociedade mais ampla, a antropologia concebe como subcultura a cultura específica de grupos específicos, como o grupo dos intelectuais, idosos, favelados, indígenas, operários, artistas, agricultores, comerciantes, homossexuais .... 
7. Subgrupo: 
É um grupo menor eu se destaca por se nortear por princípios, valores, crenças, normas, regras e padrões próprios diferentes da cultura mais ampla na qual está inserido. É um grupo menor de pessoas com características distintas. São pequenos grupos ou culturas que cultivam, que preservam as mesmas ideias relacionadas à ideologia, filosofia de vida, visão de mundo, educação, religião, política, ética, estética, moral... O subgrupo pode se destacar por idade, etnia, ideologia, religião, classe, gênero...	
	 Por ter como característica fundamental uma cultura especifica o subgrupo acaba tendo, também, uma identidade cultural própria, na maioria das vezes transformando o significado da denominação “sub” de “menor, diferente, própria”, para “inferior”, “desviante”. 
Considerando os grupos menores como apenas grupos com culturas diferentes da cultura dominante na sociedade mais ampla, diferentemente do senso comum a antropologia concebe como subgrupo os grupos com cultura específica como o grupo dos indígenas, idosos, favelados, homossexuais, dependentes químicos 
Uma vez que no sendo comum o termo “sub” tem conotações de “inferior”, “desviante”, “marginal”, por se comportarem em descordo com os padrões culturais vigentes na sociedade mais ampla, quer moralmente, economicamente, religiosamente, racialmente etc, os subgrupos (favelados, moradores de rua, idosos, deficientes físicos e mentais, negros, homossexuais, prostitutas, tribos...) acabam sendo maltratados, rejeitados, rotulados, estigmatizados... 
Relativismo cultural:
Contrários ao etnocentrismo, os estudiosos da cultura, em especial, os representantes da ciência antropológica, defendem o relativismo cultural como a atitude fundamental de uma pessoa para com outra e de uma cultura para com outra, já que a atitude relativista considera os aspectos culturais sempre em relação às suas respectivas culturas.
	O relativismo cultural é o princípio que afirma que todos os sistemas culturais são intrinsecamente iguais em valor, e que os aspectos característicos de cada indivíduo tem de ser avaliados e explicados dentro do contexto do sistema em que aparecem. Como por exemplo a comunidade hippie.. 
 
“a relação entre a sociedade mais ampla e a comunidade hippie – os hippes são respeitados pela sociedade mais ampla e respeitam-na, mas não vivem segundo seus costumes e ideias, e nem seguem as suas tendências”. 
O relativismo cultural defende que cada cultura se desenvolve de modo a satisfazer as necessidades dos seus membros, e que a produção cultural de um povo representa os aspectos que sustentam a sua realidade social. Por isso, a atitude relativista é de respeito e compreensão em relação à uma outra cultura, e não de julgamento ou comparação.
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Maria Esmeralda MineuZamlutti
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