Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 COLÉGIO ESTADUAL PILAR MATURANA Ensino Fundamental, Médio e EJA. Sociologia Cultura 1º. Anos A, B, C e D / 2019. Prof. Christian Bedretchuk 2 AFINAL, O QUE É CULTURA? Iniciaremos nossas reflexões a partir de uma pequena história que, embora tendo acontecido em outro país e tempos atrás, nos ajudará a compreender o sentido do que vem a ser cultura. Trata-se de um fato histórico, extraído de um texto escrito por Benjamin Franklin (1706-1790), então presidente dos Estados Unidos da América. É uma carta-resposta enviada por uma tribo indígena para os governos dos estados da Virgínia e de Maryland daquele país. Em outra carta, as autoridades haviam sugerido aos índios que enviassem alguns de seus jovens para estudar em suas escolas, dos brancos. Veja um trecho da carta-resposta dos indígenas. “Apreciamos enormemente o tipo de educação que é dada nesses colégios e nos damos conta de que o cuidado de nossos jovens, durante sua permanência entre vocês, será custoso. Estamos convencidos, portanto, de que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de todo coração. Mas aqueles que já são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa. [...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando voltavam para nós, eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo ou construir uma cabana, e falavam nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a nossa gratidão ofereceremos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns de seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens.” (BRANDAO, 1996, p. 8). Observe como a mensagem do texto chama a atenção para o fato de que todo e qualquer grupo de indivíduos tem a capacidade de atribuir um sentido próprio para a convivência de seus membros no coletivo. A resposta dos índios nos ajuda a entender, também, a seguinte questão: o que somos e quem somos são os pontos de partida para compreendermos o modo como cada grupo humano constrói sua realidade social, sua história, enfim, sua cultura. ATIVIDADE 1 1. Por que você acha que as autoridades do Estado de Virgínia convidaram os índios a enviar alguns de seus jovens para estudar em suas escolas? 2. Por que os índios não aceitaram a oferta das autoridades brancas? 3. Você acha que as autoridades aceitaram o convite dos índios para que eles enviassem alguns de seus jovens: “lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles homens”? Por quê? 3 CULTURA – VÁRIAS DEFINIÇÕES Cultura é um dos conceitos mais amplos da sociologia com diferentes significados. Félix Guattari, estudioso francês, definiu o significado de cultura em três grupos: a cultura-valor, a cultura-alma coletiva e a cultura-mercadoria. A cultura-valor é quando damos um julgamento de valor sobre determinada situação ou pessoa, por exemplo, se uma pessoa é culta ou inculta, quando uso estes termos para identificar a cultura clássica, artística ou científica estou me referindo a chamada cultura de valor, segundo Félix Guattari. A cultura-alma coletiva é como se estivéssemos falando de “civilização”, quer dizer, é a ideia de que todas as pessoas têm identidade cultural, por exemplo, usamos as expressões cultura negra, cultura brasileira, cultura europeia quando nos referimos a chamada cultura-alma coletiva, segundo Félix Guattari. Já a cultura-mercadoria é a cultura de massa, isto é, que atinge um grande número de indivíduos, são os bens consumidos pela sociedade. A antropologia é a ciência dentro das ciências sociais que irá se aprofundar no estudo da cultura. Claude Lévi-Strauss, antropólogo belga, diz que a cultura deve ser considerada como um conjunto de sistemas simbólicos, onde se incluem a linguagem, as regras sociais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Esses sistemas simbólicos se relacionam e acabam por influenciar a realidade social das sociedades. De uma maneira geral, podemos dizer que a cultura é tudo que é produzido em sociedade. ATIVIDADE 1 1. Explique o que é a Cultura-Valor. 2. Explique o que é a Cultrura-Alam Coletiva. 3. Explique o que é a Cultura Mercadoria. 4. O que a Antropologia estuda? 5. Segundo Lévi-Strauss, o que é Cultura? 4 DIFERENTES TIPOS DE CULTURA Cada grupo social possui uma forma própria de viver e, portanto, de explicar a realidade. Para fazer isso, os indivíduos recorrem a práticas e saberes diversos. Exemplos de diversidade cultural no Brasil As regiões brasileiras apresentam diferentes peculiaridades culturais [em relação a danças]. No Nordeste, a cultura é representada através de danças e festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, reisado, frevo, cavalhada e capoeira. [...] O Centro-oeste brasileiro tem sua cultura representada pelas cavalhadas e Procissão do Fogaréu, no Estado de Goiás, o cururu em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. [...] As representações culturais no Norte do Brasil estão nas festas populares como o Círio de Nazaré e o Festival de Parintins, a maior festa do boi-bumbá do país. [...] No Sudeste, várias festas populares de cunho religioso são celebradas no interior da região. Festa do Divino, festejos da Páscoa e dos santos padroeiros, com destaque para a peregrinação a Aparecida (SP), congada, cavalhadas em Minas Gerais, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro. [...] O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. Algumas cidades ainda celebram as tradições dos antepassados em festas típicas, como a Festa da Uva (cultura italiana) e a Oktoberfest (cultura alemã), o fandango de influencia portuguesa e espanhola, pau de fita e congada. Na verdade, a maneira própria de viver de cada grupo social permite diferenciá-lo dos demais, pois as pessoas produzem a própria existência, em tempos e espaços específicos. Em seus vários estágios de evolução, o homem sempre expressou sua forma de viver de diversas maneiras. A esse complexo fenômeno denominamos cultura. Leia os dois conceitos de cultura apresentados no quadro 5 Em função de sua complexidade e importância, o conceito de cultura tem sido abordado por um considerável número de autores. Entretanto, apesar de ser discutida sob enfoques variados, cultura pode ser entendida como: um conjunto de experiências humanas construídas pelo contato social e acumuladas pelos povos, ao longo do tempo. Assim, ela corresponde, na prática, a expressiva variedade de processos e modos de convivência pelos quais os povos constroem suas identidades. De fato, o termo cultura abarca elementos diversos – conhecimentos, crenças, comportamentos, artes, costumes, leis, moral, técnicas, valores, e todo e qualquer hábito adquirido pelo indivíduo como membro de determinada sociedade. Por isso, dizemos que ela representa a identidade própria dos homens em determinado tempo e espaço. Isto porque os valores espirituais e materiais vivenciados pelos homens são construídos e transmitidos coletivamente e acabam por caracterizar uma sociedade. Cultura corresponde a tudo aquilo que os indivíduos possuem, pensam e realizam como membros de determinada sociedade. Desta forma, as maneiras diversificadas de as pessoas viverem também é cultura. Realmente, o conceito de cultura é bastanteabrangente. À medida que traduz a variedade de modos pelos quais os indivíduos ou grupos de indivíduos constroem e definem suas identidades, em sua essência, ela pode ser concebida como parte da própria trajetória humana. Por isso, é importante guardar, dentre outras, a seguinte ideia: as influências culturais não são determinadas pela vontade de somente um único grupo sobre os demais na sociedade, mas de forma interativa entre os humanos. Em termos práticos, em sua convivência diária, os homens se constituem como indivíduos e, ao mesmo tempo, podem recriar novas formas de viver em sociedade. Essa recriação pode acontecer, por exemplo, nas relações econômicas, na maneira de se organizar nas cidades ou, ainda, nas atividades de trabalho das pessoas. Mas como podemos perceber isso na prática? Vejamos um exemplo concreto em relação ao último ponto citado. Ao longo da evolução de sua vida em sociedade, o homem foi recriando formas de organizar suas relações de trabalho e a produção de bens e serviços. Assim, em um primeiro momento, ele trabalhava na caça e na pesca para garantir sua sobrevivência, depois passou a desenvolver a agricultura e a pecuária, o que fez com que ele precisasse de locais fixos para atuar. Muito tempo depois, o homem criou fábricas, indústrias, empresas, escritórios, hospitais, escolas etc., o que de novo o levou a recriar maneiras diferentes de realizar suas atividades profissionais. ATIVIDADE 3 1. Defina o que é Cultura. 2. Qual a importância das diferentes manifestações culturais? 3. Explique o conceito de Cultura para Marilene Chauí? 4. Por que podemos afirmar que o conceito de Cultura é bastante abrangente? 6 CULTURA: SIGNIFICADO E CONCEITO A palavra cultura vem do latim, significa colere, que definia inicialmente o cultivo das plantas, cuidado com os animais e a terra (por isso, agricultura). Define ainda o cuidado com as crianças e sua educação, cuidado com os deuses (por isso, culto). Neste sentido o termo cultura seria colere = cultivar ou instruir Com a antropologia, o termo cultura passou a ter outro sentido, definido pelo pesquisador inglês Edward Taylor que diz: “a cultura é todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade o hábito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade”. NATUREZA, TRABALHO E CULTURA. Tudo começa com a natureza (tudo aquilo não criado pelo homem como água, vento, terra, etc) e, depois o ser humano, agindo sobre ela com seu trabalho (toda atividade física e mental que o homem realiza criando ou inventando bens e serviços) passa criar instrumentos e relações sociais com os outros. Desde os primórdios sempre procuramos viver melhor, facilitar nosso modo de vida, isso faz parte da nossa natureza humana – isso acontece graças a tudo aquilo que nos diferencia dos outros animais como: a linguagem comunicativa simbólica, capacidade de invenção e criação intencional e planejada; tudo isso favorecida pelas nossas vantagens fisiológicas: como um cérebro desenvolvido, posição ereta e liberação das mãos. Assim, o homem primitivo criou o arco, a flecha, para facilitar a caça, criou a agricultura para sempre ter alimentos, criou roupas, para se proteger do frio, casas para se abrigar das tempestades (foi se criando a cultura material que são objetos e utensílios que facilitam a vida das pessoas) etc. O homem primitivo percebeu que junto com outros seres humanos podia organizar uma vida social (sociedade) onde se protegeria dos grandes animais ferozes e de seus inimigos rivais, bem como conseguir mais alimentos, percebeu também que para perpetuar-se em grupos precisava de regras sociais que conduzisse as novas gerações (surgiu a cultura imaterial que são os costumes, as regras, os valores). O mundo que resulta do pensar e do agir humano não pode ser chamado de natural, pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre pessoa e animal não são apenas de grau, porque enquanto o animal permanece adaptado a natureza, nós somos capazes de transforma-la através do trabalho, tornando possível a cultura. Ao mesmo tempo em que transforma a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, o trabalho altera o próprio individuo, desenvolvendo suas faculdades. O trabalho é, portanto, condição de transcendência e, como tal, expressão da liberdade. 7 ATIVIDADE 4 1. O que significa a palavra cultura? 2. O que é cultura para a antropologia? 3. Conceitue natureza e trabalho. 4. O que é cultural material e cultura imaterial. 5. Explique o que diferencia o homem de outros animais? A DIVERSIDADE CULTURAL Existe, em toda sociedade, uma grande dificuldade na aceitação da diversidade, isto é, daquilo que é diferente, pois os seres humanos acabam sempre colocando o seu grupo ou sociedade como a medida para avaliar os outros. Em outras palavras, cada grupo considera-se superior ou melhor do que os outros, é o que, na sociologia, chamamos etnocentrismo. Num mundo globalizado como vivemos hoje, somos invadidos por situações e informações vindas dos mais diversos lugares, o que nos dá a possibilidade de muitas trocas culturais. Se pensarmos historicamente, vamos perceber que até o século XIX as trocas culturais ocorriam entre os grupos mais próximos, com poucos contatos vindos de fora. Os padrões culturais não eram alterados, pois os contatos com culturas diferentes eram mais difíceis. Já no final do século XIX e início do XX, a possibilidade de trocas culturais cresceu e ficou cada vez mais presente no cotidiano das pessoas porque houve um grande desenvolvimento dos meios de transporte, do sistema de correios, da telefonia, do rádio, do cinema e da internet, ou seja, dos meios de comunicação em geral. A partir disto as pessoas passaram a ter contato com situações e culturas diferentes com muito mais frequência e facilidades. E assim, as trocas culturais ocorridas a partir daí aumentaram as referências para pensar o passado, o presente e o futuro. As culturas distantes ou próximas acabam se misturando, construindo um novo padrão cultural vindo desta mistura, que não podem ser mais caracterizadas como de um único país ou sociedade mas sim, parte de uma imensa cultura mundial. Isto não quer dizer que as determinadas expressões que são representativas de certos grupos, regiões ou de nações tenham desaparecido mas acabam coexistindo com este novo padrão de cultura mundial. ATIVIDADE 5 1. Por que existe uma dificuldade em se aceitar as diferenças? 2. Qual a diferença das trocas culturais ocorridas no século XIX para as ocorridas no final do século XIX e início do século XX? 3. Qual a razão para ter surgido um novo padrão cultural? 4. O surgimento de novos padrões culturais fez desaparece as expressões de grupos tradicionais? Explique. 8 MULTICULTURALISMO O Multiculturalismo (ou pluralismo cultural) é um termo que descreve a existência de muitas culturas numa localidade, cidade ou país, sem que uma delas predomine, porém separadas geograficamente e até convivialmente no que se convencionou chamar de “mosaico cultural”. O multiculturalismo implica reivindicações e conquistas das chamadas minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras). A doutrina multiculturalista dá ênfase à idéia de que as culturas minoritárias são discriminadas, sendo vistas como movimentos particulares, mas elas devem merecer reconhecimento público. Para se consolidarem, essas culturas singulares devem ser amparadas e protegidas pela lei. O multiculturalismo opõe-se ao que ele julga ser uma forma de etnocentrismo (visão de mundo da sociedade branca dominante que se toma por mais importante que as demais). RELATIVISMO CULTURAL E ETNOCENTRISMO O relativismo cultural é um movimento queconsidera as culturas de modo geral, diferente uma das outras em relação aos postulados básicos, embora tenham características comuns. Todos os povos formulam juízos em relação aos modos de vida diferentes dos seus. Por isso, o relativismo cultural não concorda com a idéia de normas e valores absolutos e defende o pressuposto de que as avaliações devem ser sempre relativas à própria cultura onde surgem. Os padrões ou valores de certo ou errado, dos usos e costumes das sociedades em geral, estão relacionados com a cultura da qual fazem parte. Dessa maneira, um costume pode ser válido em relação a um ambiente cultural e não a outro. O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. Estas tendências contem o germe do racismo, da intolerância, e frequentemente, são utilizados para justificar a violência contra outros. Entretanto o etnocentrismo apresenta um aspecto positivo, ao ser agente de valorização do próprio grupo. Cada povo tem uma cultura própria, cada sociedade elabora sua própria cultura e recebe influencia de outras culturas; dessa forma, todas as sociedades, desde as simples até as mais complexas, possuem cultura. Não há sociedade sem cultura, assim como não existe ser humano destituído de cultura. http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade http://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADs 9 TRAÇO CULTURAL E COMPLEXO CULTURAL Cultura, portanto, é um conjunto de elementos ligados estreitamente uns aos outro, decompostos em parte. As mais simples são os traços culturais, as unidades de uma cultura: uma idéia, uma crença, um lápis, uma pulseira e etc.; representam traços culturais. Claro que, os traços culturais, só têm significados quando considerado dentro de uma cultura especifica, por exemplo: um colar pode ser um simples adorno para determinado grupo é para outro ter um significado mágico ou religioso. A combinação dos traços culturais forma um complexo cultural, como exemplo tem o carnaval no Brasil onde se encontra um grupo de traços culturais – relacionados uns com os outros: carro alegórico, música, dança, instrumentos musicais, fantasias e etc. o futebol também é um complexo cultural que está decomposto em vários traços culturais: o campo, a bola, o juiz, os jogadores, a torcida, as regras do jogo e etc. ATIVIDADE 6 1. O que é multiculturalismo? 2. O que é relativismo cultural? 3. O que se entende por etnocentrismo? 4. Explique relacionando traço cultural e complexo cultural PADRÃO CULTURAL E ACULTURAÇÃO Dentro de todas as sociedades existe um padrão cultural, que é uma norma estabelecida pela sociedade, os indivíduos normalmente agem de acordo com os padrões estabelecidos pela sociedade em que vivem. No Brasil, por exemplo, o casamento monogâmico é um padrão de nossa cultura. Se existem sociedades diferentes, é porque existem culturas diferentes, e na maioria das vezes contatos entre essas culturas. Exemplo disso é a formação sócio-cultural brasileira. Durante a colonização no Brasil, ocorreram intensos contatos entre cultura do colonizador português e as culturas dos povos indígenas e dos africanos trazidos como escravos. Como consequências desse contato ocorreram modificações que deram origem a cultura brasileira; esse contato e mudanças culturais são conhecidos como aculturação. CONTRA CULTURA E MARGINALIDADE CULTURAL Nas sociedades contemporâneas encontramos pessoas que contestam certos valores vigentes, opondo-se radicalmente a eles. Como exemplos têm o trabalho, o patriotismo, a acumulação de riqueza e a ascensão social; são valores culturais importantes na nossa sociedade, infligir esses valores culturais significa o processo de contracultura. Exemplo: o movimento hipee da década de 60, ele se pôs radicalmente a esses valores. O contato entre cultura pode provocar além da aculturação, uma série de conflitos mentais entre os indivíduos pertencentes a essas culturas. Esses conflitos têm origem na insegurança que as pessoas sentem diante de uma cultura diferente da sua: aqueles que não conseguem se integrar completamente em nenhuma das culturas que os rodeiam ficam a margem da sociedade. A esse fenômeno dar-se o nome de marginalidade cultural. Como exemplo temos, no interior de São Paulo caingangue descaracterizados culturalmente, eles não conhecem mais nada do seu 10 passado, não se lembram de sua língua, de seus cantos, de sua dança e de suas antigas praticas de trabalho. Também não estão incorporados à cultura que os cerca. Eles são mansos e tristes. DINÂMICA CULTURAL / MUDANÇA CULTURAL A cultura material e imaterial dos seres humanos se inova ou evolui ao longo dos tempos, isso acontece devido acumulação e a transmissão de conhecimentos, é o que denominamos genericamente de educação. A educação é feita no interior da família, no convívio social. Nós dependemos dos outros para que eles nos ensinem coisas que ajudem a viver melhor. Assim, dependemos da cultura acumulada pelas gerações passadas para viver no presente e ter esperança de viver melhor ainda no futuro. O processo de aquisição cultural é acumulativo e seletivo e ocorre através da comunicação. Mais explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, graças à linguagem e à comunicação ora que o homem preserva e desenvolver sua cultura. A cultura não é estática, ela é dinâmica e, esta sujeita a transformações; as culturas mudam continuamente, assimilam novos traços ou abandonam os antigos, através de diferentes formas: crescimento, transmissão, difusão, estagnação, declínio, fusão; são aspectos aos quais as culturas estão sujeitas. A mudança cultural, enquanto processo consciente ou inconsciente, pelas quais as coisas se realizam se comporta ou se organizam. Pode ocorrer com maior ou menor facilidade, dependendo do grau de resistência ou aceitação. O aumento ou diminuição das populações, as migrações os contatos com povos de culturas diferentes, as inovações científicas e tecnológicas, as catástrofes (perdas de safras, epidemias, guerras), as depressões econômicas, as descobertas (aquisição de um elemento novo, coisa já existente: lâmpada, máquinas, etc.), a mudança de governo. As mudanças também ocorrem de forma imaterial, como um novo costume, uma nova organização. As alterações podem surgir em consequências de fatores internos (endógenos) ou externos (exógenos): novos elementos são agregados ou os velhos aperfeiçoados por meio de invenções; novos elementos são tomados de empréstimos de outras sociedades; elementos culturais, inadequados ao meio ambiente, são abandonados ou substituídos; alguns elementos, por falta de transmissão de geração, se perdem. ATIVIDADE 7 1. O que é padrão cultural? 2. O que se entende por aculturação? 3. Diferencie contra cultura de marginalidade cultural. 4. Como ocorre o processo de aquisição cultural? 5. Explique por que a cultura é dinâmica e como ocorre a transformação cultural? CULTURA ERUDITA E CULTURA POPULAR Ao analisar o “Renascimento”, movimento cultural surgido no norte da Itália, nos séculos XIV e XV, percebemos que ele estava ligado a uma determinada parcela da população da Europa: a burguesia. A burguesia era formada por comerciantes que tinham como objetivo principal o lucro, através do comércio de especiarias vindas do oriente. Esse segmento da sociedade conquistou não apenas novos espaços sociais e econômicos, mas também procurou resgatar ou fazer renascer antigos conhecimentos da cultura greco-romana. Daí o nome Renascimento. A burguesia não só assimilou esses conhecimentos como, ainda, acrescentou outro, ampliando o seu universo cultural. Por exemplo, ao tentar reviver o teatrode Sófocles e Euripedes 11 (que viveram na Grécia antiga), os poetas italianos do século XVI substituíram a simples declaração pela recitação contada dos textos acompanhada por instrumentos musicais. Dessa forma, acabaram por criar um novo gênero a “ópera”. Desde a sua origem, a burguesia preocupou-se com a transmissão desse conhecimento a seus pares. A partir daí, então, foram surgindo instituições como as universidades, as academias e as ordens profissionais (advogados, médicos, engenheiros e outros). Com o passar dos séculos e com o processo de escolarização, a cultura dessa elite burguesa tomou corpo, desenvolveu-se com base em técnicas racionalistas e científicas. Surgiu assim a cultura erudita. Essa cultura “erudita”, ou “superior”, também designada de “elite”, foi se distanciando da cultura, da maioria da população, pois era feita pela e para a burguesia. Por isso, ao pensarmos em cultura erudita, imediatamente concluímos que seus produtores fazem, parte de uma elite política, econômica e cultural que pode ter acesso ao saber associado à escrita, aos livros, ao estudo. A cultura popular, por sua vez, mais próxima do senso comum e mais identificada com ele, é produzida e consumida pela própria população, sem necessitar de técnicas racionalizadas e científicas. É uma cultura em geral transmitida oralmente, registrando as tradições e os costumes de um determinado grupo social. Da mesma forma que a cultura erudita, a cultura popular alcança formas artísticas expressivas e significativas. Vale ressaltar que, ao afirmar que os produtores da cultura erudita fazem parte de uma elite não significa dizer que essa cultura seja homogênea, é impossível definir cultura erudita, porque não podem ser homogeneizados os elementos culturais produzidos por intelectuais, fazendeiros, empresários, burocratas, etc. porém, é igualmente impossível definir cultura popular, dada as populações culturais diferenciadas de camponeses, operários, classe média baixa, etc. De qualquer forma, não podemos perder de vista que o espaço reservado na sociedade para cada uma das duas culturas é bastante diferenciado, este é um dos aspectos que diferencia essas duas culturas: enquanto a cultura erudita é transmitida pela escola e confirmada pelas instituições (governo, religião, economia), a cultura popular não é oficial, é a do povo comum, ela expressa sua forma simples de conceber a realidade. Não devemos esquecer que a cultura é dinâmica, por isso, tanto a cultura popular quanto a cultura erudita estão sempre, com maior ou menor intensidade, incorporando e reconstruindo novos elementos culturais sem perder a sua essência expressiva. ATIVIDADE 8 1. Explique a relação entre Renascimento e burguesia. 2. Explique por que a origem da cultura erudita está relacionada à burguesia? 3. O que é cultura erudita e a qual classe social ela esta relacionada? 4. O que é cultura popular e a qual classe social ela esta relacionada? 5. Qual o principal aspecto que diferencia a cultura popular da erudita? CULTURA E INDÚSTRIA CULTURAL A palavra cultura vem do latim colere, que significa cultivar, é um conceito com vários significados já vistos por nós na aula anterior. Estudiosos da antropologia já conseguiram mais de 167 definições diferentes para o termo cultura. Por estar fortemente associada à ideia de civilização, a cultura, muitas vezes, se confunde com noções de desenvolvimento, educação, bons costumes, etiqueta e comportamentos de elite. Essa confusão entre cultura e 12 civilização foi muito comum, principalmente na França e Inglaterra nos séculos XVIII e XIX, onde cultura se referia a um ideal de elite. Este tipo de pensamento possibilitou o surgimento da hierarquização, já vista por nós, entre “cultura erudita” e “cultura popular”. Olhar a cultura sob está ótica acaba trazendo uma concepção preconceituosa de que determinadas culturas são “melhores” que outras, o que não é verdade, pois culturas são diferentes, com elementos diferentes e históricos também diferentes, e é exatamente tal diferença que traz uma identidade para cada grupo ou sociedade. INDÚSTRIA CULTURAL A indústria cultural é um termo criado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, membros da chamada Escola de Frankfurt, que foi uma escola de teoria social interdisciplinar neo-marxista. Eles criaram o conceito para definir a transformação que as sociedades deram para a cultura em mercadoria. A ideia de indústria cultural não se refere diretamente aos meios de comunicação como a televisão, jornais ou rádio, mas sim de como o uso desses meios de comunicação, por parte da classe dominante, acabam disseminando suas ideias conformistas e controlando a população. A produção cultural e intelectual, a partir desta ótica, passa a ser guiada pela possibilidade de consumo dentro da sociedade capitalista. Tendo os meios de comunicação com condições de colocar uma mensagem ao alcance de um grande número de indivíduos não é o suficiente para caracterizar a existência de uma Indústria Cultural e de uma cultura de massa. É preciso mais do que isto! A Indústria Cultural nasce da sociedade industrializada, do capitalismo liberal, isto é, de uma sociedade dita de consumo. Através dos produtos, a Indústria Cultural pratica o reforço das normas sociais repetidas até a exaustão sem discussão. Consequentemente acaba promovendo outra função, o conformismo funcional, isto é, ela fabrica seus produtos para serem trocados por moeda, promove a deturpação do gosto popular, simplifica ao máximo, a fim de obter uma atitude sempre passiva do consumidor, pois tem uma atitude paterna- lista, quando direciona o consumidor ao invés de colocar-se à sua disposição. Em defesa da Indústria Cultural está a teoria de que não é fator de alienação, pois sua própria dinâmica leva a produções que acabam por beneficiar o desenvolvimento do homem. A favor desta ideia podemos dar o exemplo das crianças que hoje dominam muito mais cedo a linguagem e a tecnologia graças aos meios de comunicação como a TV. Tantas informações acabam transformando-se em formação dos indivíduos, quer dizer, a quantidade provoca alterações na qualidade. Ou ainda, podemos dizer que a Indústria Cultural acaba unificando não apenas as nacionalidades mas também as próprias massas. INDÚSTRIA CULTURAL NO BRASIL Vejamos alguns dados sobre os meios de comunicação no Brasil e sua necessidade de propagandas: 13 No Brasil, há em torno de mil estações de rádio e mais de 75 de televisão, a estes números correspondem aproximadamente 37 milhões de aparelhos receptores de rádio, uma audiência possível de 60 a 90 milhões de pessoas e 13 milhões de aparelhos de TV, audiência possível de 50 milhões de pessoas. Já na imprensa escrita são mais ou menos 280 jornais diários, alcançando um público superior a 04 milhões de pessoas. Cerca de 1000 publicações mensais e semanais e 700 revistas da mais variada natureza. Diante destes números, constatamos que a maioria esmagadora deles vive essencialmente de publicidade. A diversidade da indústria cultural brasileira é percebida, não somente no grau da mistura cultural e do tamanho em termos territoriais do nosso país, mas por focar conteúdos de culturas estrangeiras em detrimento de nosso conteúdo nacional. Quando ocorre em nossas mídias uma exposição de nossos valores e identidades há o interesse comercial que interfere no que deve ser mostrado para adquirir audiência. A produção da indústria cultural é direcionada para o retorno de lucros tendo como base padrões de imagem cultural pré-estabelecidas e capazes de conquistar o interesse das massas sem trabalhar o caráter crítico do expectador. Para a maioria dos estudiosos da indústria cultural, não se pode esperar nada no sentido de consumo conscienteou qualquer coisa parecida. Modificar os meios de comunicação sem uma ampla reforma ou revolução estrutural da sociedade não alteram a influência e a alienação trazida com a indústria cultural. O principal problema da indústria cultural não está nem na quantidade nem no conteúdo das mensagens divulgadas, mas na estrutura mental e psíquica dos indivíduos receptores dessas informações. Portanto, nós, enquanto indivíduos pertencentes a uma sociedade, é que temos a responsabilidade e a consciência de nos deixar ser ou não atingidos pela indústria cultural. ATIVIDADE 9 1. Qual a origem da palavra Cultura? 2. Explique a “confusão” criada em torno da definição do que é Cultura. 3. Qual a consequência desta “confusão”? 4. Quem criou e onde foi criado o termo Indústria Cultural? 5. Explique o que é Indústria Cultural. 6. O que a Indústria Cultural fabrica? 7. Qual defesa pode-se fazer da Indústria Cultural?
Compartilhar