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ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL LEI 9605 98

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ASPECTOS PROCESSUAIS DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL (LEI 9.605/98) 
ATINENTES À RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL DA PESSOA JURÍDICA∗ 
 Carla Diehl Gomes** 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A presente investigação aborda uma questão polêmica: os aspectos processuais referentes à 
responsabilização criminal da pessoa jurídica no âmbito dos crimes ambientais. A diretriz 
interpretativa consubstancia-se na demonstração do vácuo legal do rito a ser aplicável à legislação 
ambiental (lei n.º 9.605/98) no que tange ao ente coletivo. Para tanto proceder-se-á a uma análise 
profunda do inquérito, interrogatório e sua representação judicial, denúncia do Ministério Público, 
citação, a participação da pessoa coletiva na ação penal, dentre outros aspectos, com o intuito de 
fornecer subsídios para uma melhor compreensão do assunto em tela. Ao final, far-se-á crítica a 
legislação ambiental. 
 
Palavras-chave: Responsabilidade Penal. Pessoa Jurídica. Dupla imputação. Representante 
Legal. Meio Ambiente. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
 
The present investigation addresses a controversy question: procedural aspects regarding criminal 
liabilition of entity juridical on scopes of the environment legislation. The interpretative guideline is 
based on the analysis of demonstration the legal vacuum of the rite to be applicable to (law nº 
9.605/98) in that it refers to the company. for this purpose, an in-depth analysis of investigation, 
interrogation and its lawsuit representation, Public Departament disclosure, quotation, person 
collective participation into a action-penal, among other aspects, with the object of giving subsidy for a 
better understanding about the subject in question. a review on the environment legislation will be 
done. 
 
Keywords: Penal responsibility. Legal entity. Double imputation. Legal representative. Environment. 
 
 
* Artigo extraído do trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção 
do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia 
Universidade Católica do Rio Grande do Sul aprovado pela banca examinadora composta pelo 
Orientador Prof. Alexandre Wunderlich, Profa. Clarice Beatriz da Costa Söhngen e Lenora Azevedo 
de Oliveira. 
** Aluna graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: 
carladg.rs@ig.com.br 
 2
INTRODUÇÃO 
 
 
O essencial papel exercido, atualmente, pela pessoa jurídica na organização 
social, somada à realidade das organizações criminosas ou criminalidade em massa, 
em especial, dos delitos ambientais, com a participação cada vez maior desses entes 
coletivos, faz-se necessário a discussão sobre a amplitude da responsabilidade penal 
da pessoa jurídica. 
Diante desse panorama, neste estudo demonstraremos a responsabilidade penal 
da pessoa jurídica: aspectos processuais da lei nº 9.605/98 atinentes à 
responsabilização criminal da pessoa jurídica. 
Iniciaremos a exposição transcorrendo sobre as hipóteses de responsabilização 
criminal do ente coletivo, bem como o processo penal relativo à pessoa jurídica: 
denúncia, citação, interrogatório, representação em juízo, os sujeitos da relação 
processual, dentre outras considerações. 
Por derradeiro, faremos crítica à legislação ambiental com relação à omissão do 
legislador em não regulamentar um rito específico à lei nº 9.605/98. 
 
 
1 ASPECTOS PROCESSUAIS DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA 
JURÍDICA NO ÂMBITO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL- LEI No 9.605/98 
 
 
1.1 ASPECTOS DOGMÁTICOS DA LEI 9.605/98 
 
 
O perfil do Direito Penal neste fim de século caminha inegavelmente no sentido 
de profundas mudanças. 
Tudo isso implica na necessidade de passar a contar com a presença das 
pessoas jurídicas e corporações no cenário do delito, razão pela qual, cedo ou tarde, 
 3
iremos necessitar de sistemas penais apropriados.1 
O autor Oliveira2 esclarece: “Optar por permitir que as pessoas jurídicas possam 
responder penalmente por suas ações implica na necessidade de encarar a visibilidade 
social que a derrogação do princípio societas delinquere non potest acarreta”. 
Assim, a Lei 9.605/98, disciplinadora dos crimes ambientais, trouxe como 
novidade a responsabilidade penal da pessoa jurídica, implementando determinação 
constitucional (art. 225, § 3º da Constituição Federal/88). 
Há norma de extensão (art. 3º da Lei 9.605/98), com as condições em que se dá 
a imputação às empresas, adotada responsabilidade por fato de outrem (quais sejam 
do representante legal ou contratual, ou membro de seu órgão colegiado). 
O legislador ordinário, interpretando literalmente a norma do art. 225 acima 
aludida, através da Lei 9.605/98, regulamentou-a e especificou as modalidades de 
sanções penais aplicáveis aos delitos ambientais praticados pelas pessoas jurídicas, 
cujo texto legal, em seu aspecto técnico-científico, sofreu profundas críticas.3 
Passaremos a analisar o polêmico art. 3º da Lei 9.605/98. 
 
 
 
1 OLIVEIRA, William Terra de. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e sistemas de 
imputação. Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas e medidas de direito criminal. Coleção 
Temas Atuais de Direito Criminal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, v. 2, p. 169-170. 
Atualmente, autores como Jakobs tentam elaborar um conceito de ação válido para as pessoas 
jurídicas, admitindo sua possibilidade de ação, não importando a sua origem (humana ou ficta0 
concebe um sistema no qual a capacidade de ação pode tanto residir em uma pessoa física como 
em uma pessoa jurídica (considerando que as decisões de seus órgãos coletivos podem 
fundamentar uma conduta coletiva relevante para o Direito Penal. 
2 OLIVEIRA, 1999, p. 170. No mesmo sentido, Bastos e Martins: “A atual Constituição rompeu com 
um dos princípios que vigorava plenamente no nosso sistema jurídico, o de que a pessoa jurídica, 
sociedade, enfim, não é passível de responsabilização penal” (BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, 
Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1990, p. 103-4, v. 7. 
3 ROBALDO, José Carlos de Oliveira. A Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica: Direito Penal 
na Contramão da História. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica e Medidas Provisórias de 
direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 97. v. 2. Coleção temas atuais de direito 
criminal. Com efeito, referido autor, em tese, não se coloca contra a responsabilização penal da 
pessoa jurídica em si, contudo exige uma profunda mudança no sistema penal de cada país, para 
adaptá-lo e harmonizá-lo com o instrumento legal instituidor. Entre nós, conquanto a previsão legal, 
tal adaptação não se deu, posto que a parte geral do Código Penal, não obstante a mudança de 
1984, introduzida pela Lei 7.209/84, nenhuma inovação trouxe nesse sentido e tampouco lhe foi 
acrescida posteriormente. Daí a conclusão de que a Lei 9.605/98 é inaplicável à pessoa jurídica. 
 4
1.1.1 Aplicação prática do Art. 3º da legislação ambiental 
 
 
 
Após a previsão constitucional do artigo 225, § 3º, sobre a responsabilização 
penal da pessoa jurídica que agride o meio ambiente com suas ações empresariais, por 
respeito ao consagrado princípio consagrado da reserva legal, foi elaborada e 
promulgada em 12 de fevereiro de 1998, a Lei 9.605, que cuida das sanções penais e 
administrativas por condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 
Conforme o art. 3º4, três são as possibilidades de responsabilização criminal das 
pessoas coletivas: 
a) por decisão de seu representante legal; 
b) por decisão contratual; 
c) por decisão de órgão colegiado.Dessa feita, consta da leitura do artigo 3º da Legislação Ambiental, outro 
pressuposto à responsabilização criminal da pessoa jurídica. Segundo o referido 
dispositivo a infração deve ser cometida no interesse ou benefício da pessoa coletiva. 
De se destacar o entendimento de Lecey5: 
 
 
Assim a peça acusatória deverá explicitar os requisitos benefício e ou 
interesse da pessoa jurídica. De regra, qualquer conduta no exercício 
regular da atividade de uma empresa, por exemplo, será no seu interesse 
ou beneficio. Todavia, poderá determinada conduta ser exercitada sem 
deliberação por quem de direito, ou com excesso de mandato ou até 
contrariamente aos interesses da empresa. Em tais casos, ausente o 
pressuposto legal, não será denunciada a pessoa jurídica e, tão somente, a 
pessoa ou as pessoas físicas responsáveis. 
 
 
4 Art. 3º da Lei 9.605/98, in verbis: “as pessoas jurídicas serão responsabilizadas 
administrativamente, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração 
seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou órgão colegiado, no 
interesse ou benefício da sua entidade”. 
5 LECEY, Eládio. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica: Efetividade e questões processuais. 
Revista de Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 35, ano 9, jul./set 2004, p. 71-
2. O mesmo autor cita precedente jurisprudencial: mandado de segurança relatado pelo Des. 
Vladimir Passos de Freitas: “as pessoas jurídicas podem ser processadas por crime ambiental, 
todavia a denúncia deve mencionar que a ação ou omissão foi fruto de decisão de seu 
representante legal ou contratual, ou de órgão colegiado, ainda que esta decisão tenha sido 
informal ou implícita (parte da ementa no MS 2002.04.01.054936-2/SC). No corpo do acórdão 
sustentando que a vantagem (interesse ou benefício da entidade) pode estar implícita nos atos da 
diretoria, não sendo necessário que tenha sido deliberada em reunião e registrada em ata, até 
porque isso seria praticamente impossível de ocorrer. Todavia, mesmo implícita deve ser apontada 
na denúncia. 
 5
Para que haja respeito ao ordenamento jurídico existente, em extensa e clara 
exposição sobre o assunto, ensina Freitas6: 
 
 
Posteriormente, obedecendo ao comando constitucional, o legislador 
especificou esta responsabilidade. Com efeito, a Lei 9.605/98, de 12.12.98, 
no art. 3º, expressamente atribui responsabilidade penal à pessoa jurídica. 
Portanto, temos agora a previsão constitucional e a norma legal. Impossível, 
assim, cogitar de eventual inconstitucionalidade, como ofensa a outros 
princípios previstos explícita ou implicitamente na Carta Magna. Se a 
própria Constituição admite expressamente a sanção penal à pessoa 
jurídica, é inviável interpretar a lei como inconstitucional, porque ofenderia 
outra norma que não é específica sobre o assunto. Tal tipo de interpretação, 
em verdade, significaria estar o Judiciário a rebelar-se contra o que o 
legislativo deliberou, cumprindo a Constituição Federal. Portanto, cabe a 
todos, agora, dar efetividade ao dispositivo legal. 
 
 
 
 
Gize-se que o artigo 3º da lei 9.605/98 condiciona a responsabilidade criminal 
da empresa ao fato de ter sua direção atuado no interesse ou benefício da entidade. 
Isso quer dizer que é necessária a indicação mínima de tomada de posição por parte 
dos responsáveis legais do ente coletivo no corpo da denúncia. 
Caso haja interesse individual, ou seja, atitude tomada pela pessoa física sem 
ter proveito à empresa, sem envolvimento do diretor, gerente, administrador e, isso 
ficar comprovado, será responsabilizado apenas a pessoa física que agiu em 
interesse próprio e não da empresa. 
As disposições de Rocha.7 
 
 
 
 
No que diz respeito ao dispositivo em tela, o legislador utilizou da expressão 
serão responsabilizadas mas, não se pode interpretar a regra como de 
imputação objetiva do resultado ilícito, para viabilizar a aplicação da teoria 
do delito. A construção analítica do delito não é aplicável à pessoa jurídica e 
a responsabilidade da pessoa jurídica resta submetida apenas aos 
requisitos estabelecidos no próprio art. 3º da lei de crimes ambientais. 
 
6 FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de Freitas. Crimes Contra a Natureza de 
acordo com a Lei no 9605/98. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2006, p. 68. 
7 Observa, ainda, o autor: não é possível utilizar a teoria do delito tradicional para fundamentar 
dogmaticamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica. A pessoa jurídica não é uma 
realidade ontológica sobre a qual se possa aplicar um método interpretativo cunhado para a pessoa 
física. Por outro lado, o legislador nacional deixou claro que a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica não deve se fundamentar em nova teoria do delito. [...] A Lei 9.605/98, definiu os 
pressupostos para a responsabilidade da pessoa jurídica por crimes ambientais e estabeleceu 
penas compatíveis com sua natureza peculiar (ROCHA, Fernando Antônio Nogueira Galvão da. 
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 45). 
 6
Nessa previsão excepcional, a norma jurídica estabeleceu quais os 
requisitos necessários à responsabilização da pessoa jurídica e tais 
requisitos não se relacionam à teoria do delito. 
Deve-se reconhecer que tal disposição não estabelece que a pessoa 
jurídica seja autora de crime, mas apenas responsável. A regra do art. 3º 
não produz qualquer efeito sobre a teoria do delito, que foi construída com 
muito sacrifício para identificar a pessoa física autora de crime. não se trata 
de norma de extensão típica ou de culpabilidade. Não se trata de co-autoria 
entre a pessoa jurídica e pessoa física, mas sim de responsabilidade penal 
da pessoa jurídica pela conduta realizada pela pessoa física, porque tal 
comportamento se deu em nome e benefício da pessoa jurídica. É hipótese 
de responsabilidade pelo fato de outrem, mas que não possibilita investigar 
elementos subjetivos na pessoa responsável. 
Para a responsabilização da pessoa jurídica utiliza-se a teoria do delito 
apenas para identificar a autoria de crime naquele que atua em nome ou 
benefício do ente moral. Sempre dependente da intervenção de pessoa 
física, que responde criminalmente de maneira subjetiva, a pessoa jurídica 
não apresenta elemento subjetivo ou consciência da ilicitude que viabilize 
comparação com as construções da teoria do delito. A responsabilidade da 
pessoa física é subjetiva, pois se deve aplicar a teoria do delito com suas 
exigências de natureza subjetiva. A responsabilidade da pessoa jurídica, no 
entanto, decorre da relação objetiva que a relaciona ao autor do crime. 
Considerando a pessoa jurídica isoladamente, os critérios para sua 
responsabilidade são objetivos. No entanto, a pessoa jurídica só pode ser 
responsabilizada quando houver intervenção de pessoa física e análise da 
conduta desta possui sempre possui aspectos de natureza subjetiva. Há 
que ressaltar, contudo, que para a responsabilização da pessoa jurídica não 
é necessária à responsabilidade da pessoa física que concretamente viola a 
norma jurídica, posto que esta pode não ter cometido um fato típico (diante 
da ausência de elemento subjetivo - como no caso de erro) ou pode ter 
agido sem culpabilidade (sob coação moral irresistível, por exemplo, como 
no caso de ameaça de perder o emprego). 
 
 
 
 
Vejamos o que suscita Robaldo8: 
 
 
Inquestionavelmente, a Lei 9.605/98, de um lado deu um grande passo no 
sentido de tutelar o meio ambiente de forma mais eficaz, contudo, de outra 
parte, retrocedeu não só nas generalizações como também nas 
especificidades. 
No todo porque, ao prever mais de quarenta figuras delituosas,incorreu na 
falsa percepção de que o Direito Penal é o remédio para todos os males. 
[...] não se questiona a importância da aludida Lei como instrumento de 
controle das agressões ao meio ambiente. A realidade ambiental, como é 
do conhecimento de todos, está a exigir um disciplinamento jurídico mais 
rígido e eficaz. 
 
 
 
 
 
 
 
8 ROBALDO, 1999, p. 99. 
 7
Para se ter noção do que quis satisfazer o legislador infraconstitucional 
ambiental, Rodrigues9 pondera que “Partindo-se desta premissa, e com sanções 
educativas, tal como penas sócio-educativas ambientais à comunidade, para que se 
consiga, depois de imposta e cumprida a pena, mais do que um ex-criminoso, um 
militante defensor do meio ambiente”. 
Após, o breve estudo da legislação ambiental, na verificação do art. 3º que 
mais consta divergência doutrinária e jurisprudencial, analisaremos as hipóteses de 
responsabilidade penal da pessoa coletiva. 
 
 
1.2 HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 
 
 
Vejamos os tipos de responsabilidade que encontramos especificadas na 
doutrina e o entendimento jurisprudencial. 
 
 
 
1.2.1 Sistema da dupla imputação (simultânea) 
 
 
O sistema da dupla imputação ou simultânea é o adotado pelo nosso sistema, 
conforme a Constituição Federal em seu art. 225, § 3º e Lei 9.605/98. 
A responsabilidade penal da pessoa jurídica responsabiliza a pessoa jurídica, 
na pessoa do representante legal e a pessoa física que cometeu um delito na esfera 
ambiental em prol dos interesses ou benefícios da entidade. 
Schecaira10 disserta sobre o sistema da dupla imputação: 
 
 
 
 
[...] A responsabilidade penal das pessoas jurídicas não exclui a das 
pessoas físicas, autoras ou partícipes do mesmo fato, o que demonstra a 
adoção do sistema de dupla imputação. Através deste mecanismo, a 
punição de um agente (individual ou coletivo) não permite deixar de lado a 
persecução daquele que concorreu para a realização do crime, seja ele co-
 
9 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos do direito ambiental. Parte Geral. 2. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2005, p. 272. 
10 SCHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e medidas provisórias e 
direito penal. GOMES, Luiz Flávio (Coord.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 140. 
 8
autor ou partícipe. Consagrou-se, pois, a teoria da co-autoria necessária 
entre agente individual e coletividade. 
Um dos princípios constitucionais consagrados em muitas Constituições 
contemporâneas, inclusive a brasileira, e o da responsabilidade subjetiva, 
ou seja, da culpabilidade. 
A nossa ordem jurídica também dá a culpabilidade gabarito constitucional. 
Basta considerar o texto do inciso XVII, do art. 5º11 da nossa Carta Magna. 
Isso quer dizer que a condenação ao cumprimento de uma pena pressupõe, 
seja provada e declarada a culpabilidade de um agente que seja autor ou 
partícipe de um fato típico e antijurídico. 
 
 
 
 
Salienta-se que até o advento da Lei 9.605/98, basicamente puniam-se só os 
crimes ambientais dolosos. Ao que se sabe, apenas nas Leis no 7.802/89 
(Agrotóxicos)12 e Lei no 8.974/95 (Biossegurança)13 foram previstas algumas 
modalidades de crimes informados pela culpa. 
Dessa feita, andou bem o legislador ao formular, em vários passos, tipos 
penais passíveis de consumação também sob a modalidade culposa, cassando em 
boa medida, a impunidade que até então era a regra. 
O crime doloso ocorre quando o agente quer o resultado ou assume o risco 
de produzi-lo. O crime culposo, não definido pela lei, se configuraria na hipótese de 
o agente provocar o resultado pro imprudência, negligência ou imperícia.14 
Sobre a culpabilidade, Luisi15 enfatiza: 
 
 
 
 
[...] o dado básico para a individualização da pena é sem dúvidas, a 
culpabilidade. Tem se questionado se a culpabilidade é elemento integrante 
do delito. Mas é unânime o entendimento de que a culpabilidade é 
fundamental para que o Juiz possa fazer a escolha entre as penas 
aplicáveis, quando alternativas, bem como para fixar o quantitativo aplicável 
entre o mínimo e o máximo legalmente previsto. E, ainda, para fundamentar 
a aplicação de penas substitutivas. 
O Juízo da culpabilidade tem por base, a luz de uma concepção normativa 
pura, e mesmo na concepção psicológica normativa, além de imputabilidade 
do agente, o ter podido o agente agir diversamente e o ter ou poder ter tido 
 
11 Art. 5º, inciso XVII, in verbis: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória”. 
12 Arts. 15 e 16. 
13 Art. 13, V, §§ 4º e 5º. 
14 Art. 18, II, do Código Penal. A doutrina moderna tem conceituado o crime culposo como “a 
conduta voluntária (ação ou omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas 
previsível,e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado (MIRABETE, 
Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. São Paulo: Atlas, 1999, p. 145). 
15 LUISI, Luiz. Os Princípios Constitucionais Penais. Notas sobre a responsabilidade penal da 
pessoa jurídica. 2. ed. Porto Alegre: Fabris, 2003, p. 162-3. 
 9
consciência do ilícito. Destarte o Juízo de reprovabilidade tem como 
componentes que a agente seja imputável, e no concreto da conduta 
delituosa tenha podido agir em consonância com a lei, e tenha tido ou 
podido ter a consciência da ilicitude. 
Abstraindo os outros aspectos da culpabilidade, não é possível sustentar 
que a pessoa jurídica tenha consciência. Aliás, não são poucos os adeptos 
da responsabilidade da pessoa jurídica que afirmam não se poder 
vislumbrar nela a consciência.16 
 
 
 
 
Sustenta-se, no entanto, um novo tipo de culpabilidade, embasada na 
consciência social. 
É o que preconiza Klaus Tiedmann17: 
 
 
 
 
Este penalista alemão, vêm pregando a necessidade de se criar este tipo de 
consciência através da lei. É de se colacionar o que escreve a respeito o 
jurista referido: “reconhecer, em direito penal, a culpabilidade (social) da 
empresa é levar em conta as conseqüências da realidade social de uma 
parte, e das obrigações correspondentes aos direitos da empresa de outra 
parte. Introduzir por via legislativa tal conceito de culpabilidade individual 
tradicional não é impossível segundo ponto de vista ideológico”. E, mais: “se 
trata de um alargamento considerável da matéria penal é um standart 
moderno do estado de direito que a decisão corresponde ao legislador”. 
 
 
 
David Baigún18, dissertando sobre o sistema da dupla imputação, assevera: 
 
 
 
Este sistema, que se cobija ya bajo el nombre de doble imputación, reside 
esencialmente en reconocer la coexistencia de dos vías de imputación 
cuando se produce un hecho delictivo protagonizado por el ente colectivo; 
de una parte, la que se dirige a la persona jurídica, como 
unidadindependiente y, de la otra, la atribución tradicional a las personas 
 
16 LECEY, apud LUISI, 2003, p. 163. Lecey enfatiza: “não se pode buscar na pessoa jurídica o que 
ela não pode ter, qual seja a consciência da ilicitude”. E advoga a criação de um novo conceito de 
culpabilidade, não bem precisado, e que seria próprio da pessoa jurídica. 
17 TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad Penal de Personan Jurídicas y Empresas em Derecho 
Comparado. Revista de Ciências Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1995, ano 3, n. 
11, p. 22-8, jul./set, 1995, p. 21 e ss. 
18 ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro. 
Parte geral. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 25. 
 10
físicas que integram la persona jurídica" (Naturalezade la acción 
institucional en el sistema de la doble imputación).19 
 
 
 
 
Denota-se que não se compreende no ordenamento Brasileiro a 
responsabilidade da pessoa coletiva sem a automática responsabilidade da pessoa 
física, pois estas não estão dissociadas, consoante se depreende da doutrina e 
jurisprudência pesquisas. 
O autor em foco não prevê, de fato, o evento danoso como conseqüência certa 
de uma conduta, mas como conseqüência meramente possível, como resultado que 
poderá verificar-se ou não. 
Costa Júnior20 explicita a definição de culpa consciente: 
 
 
 
 
 
19 DO ENTENDIMENTO DA CORTE SUPERIOR 
RELATOR: MINISTRO FELIX FISCHER 
RECORRENTE: LEÃO E LEÃO LTDA 
ADVOGADO: EDSON JUNJI TORIHARA E OUTROS 
T. ORIGEM: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 
IMPETRADO: JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE JARDINÓPOLIS -SP 
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO 
EMENTA 
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CRIMES 
CONTRA O MEIO AMBIENTE. DENÚNCIA. INÉPCIA SISTEMA OU TEORIA DA DUPLA 
IMPUTAÇÃO. NULIDADE DA CITAÇÃO. PLEITO PREJUDICADO. 
I - Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a 
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu 
benefício, uma vez que "não se pode compreender a responsabilização do ente moral 
dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio" cf. Resp 
nº 564960/SC, 5ª Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de 13/06/2005 (Precedentes). 
II - No caso em tela, o delito foi imputado tão-somente à pessoa jurídica, não descrevendo a 
denúncia a participação de pessoa física que teria atuado em seu nome ou proveito, 
inviabilizando, assim, a instauração da persecutio criminis in iudicio (Precedentes). 
III - Com o trancamento da ação penal, em razão da inépcia da denúncia, resta prejudicado o 
pedido referente à nulidade da citação. 
Recurso provido. 
20 COSTA JÚNIOR, Paulo José da Costa. O elemento subjetivo. A responsabilidade das empresas. 
A responsabilidade objetiva. In: Direito Penal Ecológico. Rio de Janeiro: Forense universitária, 
1996, p. 100-1. “Nos surpreende encontrar na Lei inglesa de 1951. o Rivers prevention pollution 
act, a norma contida no art. 2°, que pune aquele que provoca ou conscientemente permite a 
emissão, num curso de água, de qualquer substância tóxica, nociva, ou poluidora, ou que por 
decisão da Suprema Corte, com respeito a um caso de poluição hídrica devida à ruptura de uma 
bomba automática de um estabelecimento que servia para manter o nível das águas servidas 
utilizadas em ciclo fechado, sustenta a desnecessidade da indagação acerca do elemento 
subjetivo e a irrelevância do fortuito, no que tange à responsabilidade pela poluição. Deixa-nos 
perplexos, ao contrário, que a Lei suíça sobre as águas preveja expressamente formas de 
responsabilidade objetiva ou que, em sistemas ancorados, por expressa previsão constitucional, 
às regras do direito penal da culpa, exatamente em matéria ambiental, apresentem-se hipóteses 
que a doutrina não hesita em definir como de “responsabilidade objetiva”. 
 11
Considera-se culpa consciente aquela do titular de um estabelecimento 
industrial, que tenha efetivamente previsto o evento poluidor como possível 
conseqüência de sua conduta de descarga, ainda que não o desejasse, já que 
a autoridade administrativa lhe havia imposto não despejar os resíduos 
industriais sem tê-los antes apurado. 
 
 
 
 
1.2.2 Responsabilidade penal da pessoa jurídica 
 
 
 
Segundo tendência do Direito Penal moderno de superar o caráter 
meramente individual da responsabilidade penal até então vigente, e cumprindo 
promessa do art. 225, § 3º, da CF, o legislador brasileiro erigiu a pessoa jurídica à 
condição de sujeito ativo da relação processual penal, dispondo, no art. 3º da Lei 
9.605/98, que 
 
 
 
as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e 
penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja 
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu 
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. 
 
 
 
 
Nesse sentido, Milaré21: 
 
 
 
O Intento do legislador, como se vê, foi de punir o criminoso certo e não apenas 
o mais humilde e/ou o “pé-de-chinelo” do jargão popular. Sim, porque, via de 
regra, o verdadeiro delinqüente ecológico não é a pessoa física - o quitandeiro 
da esquina, por exemplo, mas a pessoa jurídica que quase sempre busca o 
lucro como finalidade precípua e, para a qual, pouco interessam os prejuízos a 
curto e longo prazos causados à coletividade, assim como a quem pouco 
importa se a saúde da população venha a sofrer com a poluição. É o que 
ocorre geralmente com os grandes grupos econômicos, os imponentes 
conglomerados industriais, e por vezes - por que não dizer? - com o próprio 
estado, tido este como um dos maiores poluidores por decorrência de serviço e 
obras públicas sem controle. 
 
 
 
 
 
 
21 MILARÉ, 2005, p. 780. No mesmo tópico: A responsabilidade da pessoa jurídica, como está escrito no 
parágrafo único do referido art. 3º, é óbvio, não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou 
partícipes do mesmo fato, na medida em que a empresa, por si mesma, não comete crimes. 
 12
Ratificando o posicionamento acima, poderá Fonseca22 que 
 
 
 
 
consagrou-se, pois, a teoria da co-autoria necessária entre o agente individual e 
coletividade; a empresa- por si mesma - não comete atos delituosos; ela o faz 
através de alguém, objetivamente uma pessoa natural; sempre através do 
homem é que o ato delituoso é praticado. 
 
 
 
 
Nesse sentido Schecaira23: 
 
 
 
A pessoa jurídica tem vontade própria, distinta da de seus membros, o 
compartamento criminoso, enquanto violador de regras sociais de conduta, é 
uma ameaça para a convivência social e, por isso, deve enfrentar reações de 
defesa (através das penas). A pessoa coletiva é perfeitamente capaz de 
vontade, porquanto nasce e vive do encontro das vontades individuais de seus 
membros. A vontade coletiva que a anima não é um mito e caracteriza-se, em 
cada etapa importante de sua vida, pela reunião, pela deliberação e pelo voto 
da assembléia geral dos seus membros ou dos conselhos de administração, de 
gerência ou de direção. Essa vontade coletiva é capaz de cometer crimes tanto 
quanto a vontade individual. 
 A pessoa jurídica pode ser responsável pelos seus atos, devendo o juízo de 
culpabilidade ser adaptado às suas características. Embora não se possa falar 
em imputabilidade e consciência do injusto, a reprovabilidade da conduta de 
uma empresa funda-se na exigibilidade de conduta diversa, a qual é 
perfeitamente possível. 
 
 
Portanto, diante da expressa determinação legal, não cabe mais entrar no 
mérito da velha polêmica sobre a pertinência da responsabilidade penal das pessoas 
jurídicas, melhor será exercitar e perseguir os meios mais adequados para a efetiva 
implementação dos desígnios do legislador, consoante a Lei no 9.605/98. 
 
 
1.2.3 Responsabilidade penal de seus representantes legais 
 
 
 
Como já vimos, a responsabilidade penal da pessoa jurídica e de seus 
dirigentes, sujeitará, aos ditames da lei, quer civil, penal ou administrativamente; 
 
22 FONSECA, Luiz Vidal da. Ainda sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos 
crimes ambientais. São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 90, v. 784, p. 501, fev 2001, p. 501. 
23 SCHECAIRA, 1999, p. 89-95. 
 13
estando expressamente prevista, primeiramente no Título VII - Da Ordem Econômica 
e Financeira - Capítulo I - Dos PrincípiosGerais da Atividade Econômica - artigo 173 
§ 5º24 e, depois no Título VIII - Capítulo VI - Do Meio Ambiente, em seu art. 225, § 
3º25, ambos da Constituição Federal. 
Logo, para a caracterização da responsabilidade penal da pessoa jurídica, é 
exigência do art. 3º, da Lei no 9.605/98 que o delito ambiental tenha sido cometido 
por decisão do representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado da 
pessoa jurídica, em benefício ou interesse do ente coletivo. 
Machado26, analisando a questão, expressa que: 
 
 
A responsabilidade penal da pessoa jurídica é introduzida no Brasil pela 
Constituição de 1988, que mostra um dos seus traços inovadores. Lançou-
se, assim, o alicerce necessário para termos uma dupla responsabilidade da 
pessoa jurídica. Foi importante que essa modificação se fizesse por uma 
Constituição, que foi amplamente discutida não só pelos juristas, como 
vários especialistas e associações de outros domínios do saber. 
 
 
 
Comenta Araújo Júnior27 que “atualmente, no Brasil, a Constituição de 1988, 
em seus arts. 173, § 5º, e 225, § 3º, outorgou ao legislador ordinário poderes para a 
instituição dessa forma de responsabilidade. Essa atitude do legislador 
constitucional brasileiro não nos parece estranha, seja do ponto de vista dogmático, 
seja do criminológico e do político-criminal, pois esta é a prospectiva mundial [...]”. 
 
24 Art. 173, caput, da CF: Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de 
atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da 
segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. [...] § 5º A lei, sem 
prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a 
responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos 
praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. 
25 Art. 225, caput, da CF: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de 
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. [...] § 3º as 
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou 
jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os 
danos caudados. 
26 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 
1992, p. 687. 
27 ARAÚJO JÚNIOR, João Marcello de. Societas delinquere potest. Revisão da Legislação 
Comparada e Estado atual da Doutrina. In: ______. Responsabilidade penal da pessoa jurídica 
e medidas provisórias e direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, v. 2, p. 87. 
 14
No mesmo sentido, expõe Marques28 : 
 
 
 
A responsabilização da pessoa jurídica no campo penal é exigência do 
mundo globalizado, onde os crimes que atingem de forma mais intensa a 
vida e a qualidade de vida das pessoas (meio ambiente, consumo, 
economia, etc.) são praticados por grandes corporações, que usufruem 
diretamente dos benefícios econômicos-financeiros decorrentes das 
práticas infracionais. 
 
 
 
Para finalizar as reflexões de Rodrigues29: 
 
 
Como se disse, a interpretação é decorrente do imperativo constitucional 
(art.225, § 3º) que expressamente permite a referida cumulatividade. 
Embora o tronco comum das sanções penais, civis e administrativas esteja 
enraizado no conceito de antijuridicidade (entendida esta como infração a 
preceito legal (ilícito) ou como ofensa aos bens e valores protegidos pelas 
normas e princípios de um dado sistema (conceito mais amplo do que 
ilícito), o que distingue e permite a cumulatividade é: o objeto e o objetivo de 
tutela de cada uma das modalidades de sanção e o órgão que irá aplicá-la. 
 
 
 
 
Sobre o representante legal do ente coletivo, explicam Freitas30: 
 
 
Representante legal é aquele que exerce a função em virtude da lei. A 
hipótese pressupõe que a lei, e não o ajuste dos sócios, indique o 
representante da pessoa jurídica. é mais fácil de ser imaginada no âmbito 
do Direito Público. Por exemplo, o prefeito é quem representa o município, 
ainda que eventualmente ele possa ser representado por outra pessoa (v. g. 
um secretário). Mas pode ocorrer também em caso de pessoa jurídica de 
Direito Privado. Se o contrato for omisso, todos serão considerados 
habilitados a gerir e, conseqüentemente, serão representantes da pessoa 
jurídica é o que determina o art. 1.013 do Código Civil de 2002. 
 
 
 
 
 
 
28 MARQUES, José Roberto. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Revista de Direito 
Ambiental, n. 22, ano 6, p. 112, abr./jun. 2001, p. 112. 
29 RODRIGUES, 2005, p. 265. 
30 FREITAS, 2006, p. 71. 
 15
Consigna Machado31: “O representante legal é normalmente indicado nos 
estatutos da empresa ou associação”. E em sentido diverso coloca-se Rocha32: “Por 
representante legal deve-se entender aquele que exerce a representação em 
decorrência de mandamento legal. No caso, é a lei e não a vontade dos sócios que 
indica a pessoa que representa a pessoa jurídica”. 
No mesmo sentido colocam-se Costa Neto, Bello Filho e Costa33: 
 
 
O conceito de representante legal firmado pela lei deve ser interpretado 
extensivamente para abranger aqueles gerentes, administradores de fato e 
dirigente que, mesmo sem poderes contratuais para representar a firma, 
dirigem o dia-a-dia da empresa. 
 
 
 
 
Schecaira34 ressalta: 
 
 
Inexistem insuperáveis óbices de ordem processual a impedir a regular 
apuração da responsabilidade criminal da pessoa jurídica. A comunicação 
dos atos processuais e a participação no processo podem dar-se através de 
representante legal ordinário (órgão) - salvo quando ele também for 
acusado -, de outro mandatário constituído ou de representante nomeado 
pelo juízo. Para fins processuais, interessa a representação da pessoa 
jurídica no momento da instauração do processo e não à época em que se 
realizou o crime. 
 
 
 
 
Passamos, agora a apresentar, após observar os tipos de responsabilidade 
penal veiculadas na legislação ambiental, a investigação do Parquet nos crimes 
ambientais e todo o procedimento até a propositura da ação penal pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 
1992, p. 688. 
32 ROCHA, 2005, p. 72. 
33 COSTA NETO, Nicolao Dino de Castro e; BELLO FILHO, Ney de Barros; COSTA, Flávio Dino de 
Castro. Crimes e Infrações administrativas: comentários à lei nº 9.605/98. 2. ed. Brasília: 
Brasília Jurídica, 2001, p. 68. 
34 SCHECAIRA, 1999, p. 157. 
 16
1.3 DO INQUÉRITO CIVIL NO ÂMBITO DA LEI Nº 9.605/98 
 
 
 
 
1.3.1 Inquérito civil como meio de proteção do meio ambiente 
 
 
Não há dúvidas de que o inquérito civil, do qual passaremos a tratar, teve 
como fonte inspiradora o inquérito policial, instrumento de investigação, de cunho 
administrativo e inquisitório, presidiado pelo Delegado de Polícia, tendente a elucidar 
os fatos da ocorrência criminal.35 
A título de ilustração as palavras de Mazzilli36, dentro da perspectiva da 
responsabilidade civil: 
 
 
O inquérito civil é uma investigação administrativa prévia a cargo do Ministério 
Público, que se destina basicamente a colher elementos de convicção para que 
o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstância que enseje 
eventual propositura da ação civil pública ou coletiva. 
Dizemos que se trata de forte instrumento de tutela coletiva na medida em 
que as investigaçõeslevadas ao efeito em seu bojo, quando positivas, 
servem de base para a obtenção de compromisso de ajustamento de 
conduta, ou para instruir ação civil pública. 
 
 
 
 
As disposições quanto ao inquérito, conforme Fiorillo37: 
 
 
 
 
35 AKAQUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de ajustamento de conduta ambiental. 
São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003, p. 57 “O Ministério Público, o legislador da Lei Federal 
7.347/1985, em seu art. 8º, § 1º, que “o Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, 
inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, 
exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 dias úteis. 
36 MAZZILLI, 2005, p. 46. [...] o referido instrumento de investigação tornou-se tão importante na 
defesa dos interesses da coletividade que ganhou contorno constitucional, pois a CF de 1988 
previu em seu art. 129, Inc. III, que é função institucional do Ministério Público “promover o 
inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio 
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”. 
37 FIORILLO, 2004, p. 377. O autor observa ainda: “na medida em que cuidamos de proteção 
ambiental, torna-se desnecessário tecer longos comentários a respeito da importante medida 
criada pelo legislador: é pelo inquérito civil que o Ministério Público pode adiantar suas 
investigações visando inclusive imediatas providências de índole processual; seja no campo do 
denominado “processo civil”, seja agora no campo do denominado “processo penal”. 
 17
Como resultado da integração dos diferentes subsistemas normativos à 
defesa do direito ambiental, entendeu por bem o legislador, e foi muito feliz, 
aplicar o instituto do inquérito civil, figura constitucional regrada no art. 129, 
III, da Carta Magna, nas hipóteses de perícia de constatação de dano 
ambiental (art. 19, parágrafo único, da Lei nº 9.605/98). 
A perícia produzida no inquérito civil poderá, portanto, segundo nosso 
direito em vigor, ser aproveitada diretamente no processo penal, observado 
o rigoroso devido processo legal (princípio do contraditório), situação que, 
sem dúvida alguma, elimina penosa trajetória que sempre caracterizou 
nosso ortodoxo processo penal. 
 
 
 
Ademais, a natureza jurídica do inquérito civil é de mero procedimento 
administrativo, de cunho eminentemente inquisitório, o que afasta, portanto, a 
imposição do contraditório. 
Nesse sentido, a lição de Silva38: 
 
 
O inquérito civil é um procedimento administrativo criado pela lei com a 
finalidade de coadjuvar o Ministério Público na tarefa de investigar fatos 
ensejadores da propositura de ação civil pública. Não é processo e 
tampouco procedimento judicial. É simplesmente procedimento 
administrativo investigatório. 
 
 
 
No entanto, Freitas39 faz ponderações: 
 
 
38 SILVA, José Luiz Mônaco da. Inquérito civil: doutrina, legislação, modelos. São Paulo: Edipro, 
2000, p. 28. Ainda “O inquérito civil é de natureza inquisitorial, nos mesmos moldes do que ocorre 
com o inquérito policial.” no mesmo diapasão é a ponderação de Menezes: “sendo um instrumento 
dispensável, constituindo em seu conjunto peças de informação, não há que se cogitar da 
incidência ou não dos princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa, para que se 
caracterize como um instrumento válido” (MENEZES, José Marcelo. Tutela Jurisdicional 
Coletiva. São Paulo: LTr, 2006, p. 128) 
39 FREITAS, 2006, p. 59. “porém, não fica dúvida no sentido de que ao Ministério Público o que 
interessa é o estabelecimento da verdade, e, diante da ocorrência de lesão a bem jurídico difuso 
ou coletivo, notadamente, para nosso estudo, o meio ambiente, o inquérito civil ajudará na colheita 
dos elementos necessários para que se possa eventualmente convocar o investigado para 
tentativa de conciliação por meio do compromisso de ajustamento de conduta, ou na obtenção de 
provas suficientes a demonstrar o fumus boni júris na ação civil pública. [...] na área ambiental, 
notadamente, o impulso inicial por parte do próprio órgão Ministerial é crucial para a obtenção de 
bons resultados na defesa do meio ambiente. Portanto, tomando o membro do Ministério Público 
conhecimento por parte dos meios de comunicação ou mesmo “de ouvir dizer”, deve instaurar o 
inquérito civil, e, no seu decorrer, verificar se as notícias eram ou não verídicas, com absoluto 
embasamento técnico. Ademais, havendo necessidade de requisitar informações ou perícias 
técnicas, é sempre recomendável que o ofício requisitório contenha quesitos a serem respondidos 
pela pessoa física ou jurídica destinatária, o que certamente ajudará a evitar pedidos de 
complementação ou de reiteração em razão de o teor da resposta não estar de acordo com as 
expectativas do órgão ministerial. 
 18
[...] e, muito embora não haja obrigatoriedade, e até mesmo o interesse, do 
estabelecimento do contraditório no inquérito civil, é certo que sempre que 
possível é válido dar ciência ao investigado acerca dos fatos em análise, até 
porque poderá ocorrer algum esclarecimento por parte deste que venha a 
colaborar no resultado final da investigação. 
A possibilidade de permitir a ciência da existência da investigação se dá em 
razão de que nem sempre é adequado tal procedimento, posto que, por 
vezes, o conhecimento por parte do investigado da existência do inquérito 
civil poderá se retratar na tentativa de obstaculização das diligências 
determinadas nos autos do procedimento investigatório. 
 
 
 
 
O inquérito por Salles Júnior40: 
 
 
 
A finalidade do inquérito é levar a efeito uma investigação. Procura a 
autoridade, por meio dele, descobrir a prática de ilícitos penais, 
determinando a respectiva autoria. Torna-se necessário, pois manter o sigilo 
das investigações e, por conseqüência, do próprio inquérito policial 
O inquérito é inquisitivo porque a autoridade comanda investigações como 
melhor lhe aprouver. Não existe um rito preestabelecido para a elaboração 
do inquérito ou andamento das investigações. O inquérito representa 
simples informação sobre o fato criminoso e também sobre a identidade do 
seu autor. Não se sujeita ao chamado princípio do contraditório, próprio do 
processo penal, em que se apresentam acusação e defesa. É inquisitivo 
pelo fato de a autoridade comandar as investigações com certa 
discricionariedade. 
 
 
 
 
Conclui-se que o inquérito civil na ação penal pública incondicionada quem 
coordena é o Ministério Público, solicita informações, investiga, isto é, examina a 
possibilidade de oferecimento da denúncia. 
Ademais, o inquérito civil possui as mesmas características do inquérito 
policial: inquisitivo, escrito e sigiloso, dirigido pelo Delegado de polícia, para posterior 
propositura da ação penal. 
Por fim, após o breve abordagem sobre o inquérito civil gerenciado pelo 
Órgão Ministerial vejamos os requisitos para o oferecimento da denúncia. 
 
 
 
40 SALLES JÚNIOR, Romeu de Almeida. Inquérito policial e ação penal. 7. ed. São Paulo: Saraiva. 
1998, p. 6. Tem-se a possibilidade de o inquérito ser iniciado nos casos de crimes de ação penal 
pública incondicionada por ofício requisitório do Ministério Público ou autoridade judiciária. É que a 
noticia criminis pode ser levada ao conhecimento do promotor de justiça ou mesmo do juiz de 
direito. Em casos tais, tanto o promotor como o juiz terão poderes para requisitar a instauração de 
inquérito. 
 19
1.4 DA DENÚNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
 
 
Vejamos neste tópico o entendimento recente do Superior Tribunal de Justiça 
e do Supremo Tribunal Federal quanto aos critériosutilizados para avaliar a 
individualização das condutas dos indiciados na denúncia do Ministério Público. 
Assim, abordaremos os acórdãos paradigmas transcritos para cotejar sobre o 
tema. 
 
 
1.4.1 Da individualização das condutas dos agentes 
 
 
Na seara doutrinária e jurisprudencial, a denúncia do Ministério Público tem 
suscitado discussões no que tange a individualização das condutas dos agentes que 
incorreram em algum dos dispositivos da legislação ambiental. 
Há quem diga que a participação do responsável pela conduta tipificada deve 
conter todos os requisitos do artigo 41 do CPP, onde dispõe sobre os requisitos 
essenciais da denúncia do Parquet, considerando, assim, a denúncia inepta por não 
descrever a conduta de cada infrator, ou seja, faltam elementos de convicção, 
inviabilizando a defesa. 
Não obstante, há Ministros, por exemplo, o Ministro Joaquim Barbosa da 
Corte Suprema, que fala em “consta da denúncia a descrição, embora sucinta, de 
cada um dos denunciados”. Ou seja, entende que, embora a investigação não 
obteve muito êxito, foram verificados os responsáveis pela degradação ambiental. 
Reveilleau41, fala sobre o Poder Judiciário e a responsabilidade penal da 
pessoa jurídica: 
 
 
Inicialmente, faz-se preciso dizer que para proteção penal criminal 
ambiental é necessário que o Poder Judiciário passe a decidir essas 
questões, deixando de lado teorias clássicas do direito penal comum, tais 
como tipicidade e culpabilidade. E mais, que haja a flexibilização de alguns 
princípios, dentre eles o da legalidade, pois, enquanto o meio ambiente não 
for tutelado de forma diferenciada, continuará sempre prejudicado e 
 
41 REVEILLEAU, Ana Célia Alves de Azevedo. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica. Revista 
Brasileira de Ciências Criminais, n. 61, ano 14, p. 320-1, jul./ago. 2006, p. 320-1. 
 20
dificilmente poderão ser atendidos os ditames que a norma constitucional 
impõe em seu art. 225 e parágrafos. 
Quando se fala em flexibilizar os princípios, dentre eles o da legalidade, não 
queremos dizer que as garantias individuais e fundamentais sejam 
afastadas, pois o Estado Democrático de Direito. No entanto, não se pode 
permitir que em certas situações concretas, o direito individual acabe por se 
sobrepor ao coletivo. 
[...] se durante muito tempo, o entendimento dominante era de que a pessoa 
jurídica não poderia ser responsabilizada criminalmente, e essa visão 
modificou-se, isso aponta que os novos paradigmas jurídicos também 
devem ser revistos para que se possa melhor atender aos objetivos 
práticos, eleitos, agora, como prevalentes. 
Desse modo, se a política criminal atual entende que a pessoa jurídica deve 
ser responsabilizada criminalmente, todo sistema jurídico deve ser adaptado 
a tal norma, vez que não estamos falando de um sistema matemático, mas 
axiológico. 
Ademais, a responsabilidade penal da pessoa jurídica decorre de opção 
político criminal sobre uma possível estratégia de combate à criminalidade 
moderna. Não se trata de uma posição impensada, mas de um fato social 
legítimo. O operador do direito não pode, assim, desatender à opção política 
que foi legitimamente posta no direito positivo, pois a ele cumpre observar a 
norma jurídica. 
 
 
 
 
Nesse sentido, Salles Júnior42: 
 
 
Geralmente, os elementos que informam o Ministério Público sobre a prática 
de um ato com características de delito estão contidos no inquérito policial. 
Caberá ao promotor de justiça proceder aos exames das informações, 
buscando saber se existem condições para a propositura da ação. Torna-
se necessário perquirir sobre a existência de um fato com características do 
delito, autoria conhecida e um mínimo de elementos que posam servir de 
suporte probatório. 
 
 
 
 
Os requisitos da denúncia por Lecey43: 
 
 
42 SALLES JÚNIOR, 1998, p. 168. 
43 LECEY, 2004, p. 72-3. No mesmo sentido a autora Grinover fala sobre a imputação omissa ou 
deficiente: A instauração válida do processo pressupõe o oferecimento da denúncia ou da queixa 
com exposição clara e precisa de um fato criminoso, com todas as suas circunstâncias (art. 41 do 
CPP), isto é, “não só a ação transitiva , como a pessoa que a praticou (quis), os meios que 
empregou (quibus auxilis), o malefício que produziu (quid), os motivos que a determinaram a isso 
(cur), a maneira por que a praticou (quomodo), o lugar onde praticou(ubi), o tempo (quando). 
Assim, a narração deficiente ou omissa, que impeça ou dificulte o exercício da defesa, é causa de 
nulidade absoluta, não podendo ser sanada porque infringe os princípios constitucionais do 
contraditório e da ampla defesa. [...] A sentença que vier a ser prolatada em processo iniciado por 
denúncia inepta será afetada porque assentada em procedimento viciado desde sua origem. 
(GRINOVER, Ada Pelegrini; FERNANDES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio 
Magalhães. As nulidades do processo penal. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, 
p. 114.) 
 21
Assim, o que a denúncia deverá conter, necessariamente, será a 
deliberação por quem de direito no seio da pessoa jurídica, incluindo na 
imputação ditas pessoas físicas quando identificadas. Acaso, não 
precisamente apuradas suas identificações, deverá a referida circunstância 
ser explicitada na peça acusatória que, assim, atenderá o requisito da lei 
penal ambiental, denunciando a pessoa jurídica, fundamentando seus 
pressupostos, mas deixando de denunciar outros concorrentes 
eventualmente não apurados. 
[...] em termos de direito ambiental penal, estamos diante de novos 
paradigmas, entre eles a responsabilização criminal da pessoa ao jurídica. 
Assim, o agente do Ministério Público deve estar atento às peculiaridades 
desses novos direitos, a exigirem mecanismos procedimentais especiais, de 
modo que se recomendam denúncias bem mais arrazoadas, bem mais 
detalhadas, explicitando todos os requisitos àquela responsabilização, 
autêntico novo paradigma. Assim, deverão arrazoar como pressupostos: a) 
deliberação por quem de direito, inclusive a forma da decisão. b) interesse 
ou benefício da pessoa jurídica; c) narrar a conduta dos executores, com a 
qual se confundirá a atividade da pessoa jurídica, já que aqueles executam 
por esta; d) incluir as pessoas físicas identificadas como co-autoras ou 
partícipes. 
 
 
 
 
Não é outro o entendimento da Corte Superior: 
 
 
HABEAS CORPUS Nº 37.695 - SP (2004/0116398-0) 
RELATOR: MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO 
IMPETRANTE: LEONARDO SICA 
IMPETRADO: PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE 
JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 
PACIENTE: SALVADOR NESSIM BITCHATCHO Y RUMI 
PACIENTE: RITA DE CASSIA CLAUDIO BITCHATCHO 
PACIENTE: ALBERTO ALLEN BITCHATCHO Y RUMI 
PACIENTE: REGINA RUMI DE BITCHATCHO 
EMENTA 
HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. CRIMES CONTRA O 
MEIO AMBIENTE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. INÉPCIA DA 
DENÚNCIA E FALTA DE JUSTA CAUSA PARCIAIS. 
OCORRÊNCIA. 
1. A denúncia que, em parte, sobre desatender o artigo 41 do Código de 
Processo Penal, não descrevendo a conduta de cada qual dos 
denunciados, vem desacompanhada de um mínimo de prova que lhe 
assegure a viabilidade, autoriza e mesmo determina o julgamento de falta 
de justa causa para a ação penal. 
2. Ordem parcialmente concedida. 
 
 
 
 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS Nº 16.135 - AM 
(2004/0075783-8) 
RELATOR: MINISTRO NILSON NAVES 
RECORRENTE: LUIZ GARCIA HERMIDA E OUTROS 
ADVOGADO: JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO E OUTRO 
RECORRIDO: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO 
AMAZONAS 
 22
PACIENTE: LUIZ GARCIA HERMIDA 
PACIENTE: ROBERTO SÁ DÂMASO 
PACIENTE: LUIZ CARLOS DE ANDRADE RIBEIRO 
PACIENTE: JOSÉ ERNESTO DA SILVA GONZALEZ 
EMENTA 
Crime de várias pessoas (societário). Condutase atividades lesivas ao meio 
ambiente. Denúncia. Individualização das condutas. Argüição de inépcia 
(procedência). 
1. Em casos dessa espécie, não se admite denúncia que dela não conste 
descrição das diversas condutas. 
2. Caso em que, por faltar descrição de elementos de convicção que a 
ampare, a denúncia não reúne, em torno de si, as exigências legais, 
estando, portanto, formalmente inepta. 
3. Recurso ordinário provido. 
Voto do MINISTRO NILSON NAVES: 
Quanto às pessoas físicas ou naturais, exatamente aquelas que aqui são 
pacientes e recorrentes, a denúncia ficou aquém daquilo que dela se espera 
(de seus indispensáveis requisitos), bem aquém, a meu sentir, porquanto, 
naquela exposição narrativa e demonstrativa que das denúncias se requer 
(parte formal), a presente denúncia não revelou qual fora a participação 
dessas pessoas no fato por ela indicado. Não há, em seu corpo, uma só 
palavra referente à maneira como essas pessoas praticaram a ação, ou se 
omitiram, se e quando dessas pessoas se requeria o dever de agir. 
[...] É certo que, em casos dessa espécie, existe forte entendimento 
segundo o qual a denúncia não precisa individualizar a conduta de cada 
agente ativo. Sucede que existe também o entendimento de que o 
denunciante, entretanto, tem o dever, mesmo em casos desse porte, de 
fornecer exposição, ou apresentar proposta de acusação, apresentá-la de 
tal modo que permita ao denunciado defender-se. Dentro de tal moldura, 
quero crer que, em apoio desta última posição, podem vir a pêlo, 
provenientes desta Turma, o RHC-8.389, de 1999, da relatoria do Ministro 
Fernando Gonçalves, e o REsp-175.548, de 2001, da relatoria do Ministro 
Hamilton Carvalhido. 
Em razão de me encontrar diante de denúncia inepta, dou provimento ao 
recurso ordinário para conceder a ordem de habeas corpus. Certamente 
que outra denúncia poderá ser oferecida, uma vez preenchidas as 
exigências de lei. 
 
 
 
 
Assim, feita as devidas considerações sobre os paradigmas, convém ressaltar 
que com o advento da criminalização das pessoas jurídicas por crimes ambientais 
(CF/88, Art. 225, § 3º, e art. 3º da Lei no 9.605/98) pode-se atribuir a responsabilidade 
penal decorrente de crime ambiental a empresa, como bem fez os relatores referidos 
ao enfrentar a questão. Após essa questão da capacidade criminal da pessoa 
jurídica, houve o exame das acusações. Nos acórdãos, foi mencionado que, embora 
as denúncias foram feitas de forma genérica, atribui a várias pessoas físicas e 
jurídicas os crimes ambientais, ao menos fez a distinção das atividades, isto é, cada 
forma de contribuição dos envolvidos. 
Para cotejar o voto do Ministro Joaquim Barbosa, em que pese às descrições 
das condutas estarem genéricas, não se caracteriza o trancamento da ação penal 
 23
por falta de justa causa. 
Em controvérsia, vota o Ministro Nilson Naves no sentido de que a denuncia é 
inepta, para o Ministro não se pode aceitar que a descrição das condutas dos 
agentes seja genérica e, nem a argumentação de que, durante a ação penal, os 
fatos ficarão esclarecidos, concedendo por fim o trancamento da ação penal por falta 
de justa causa. 
Vê-se, contudo, que a matéria sub examine é divergente nos Tribunais, ou 
seja, quanto à individualização das condutas dos agentes responsáveis pela pessoa 
jurídica, o quantum de informações captadas no inquérito e traduzidas na denúncia é 
necessário para considerar a denúncia apta, dentro do dispositivo (artigo 41) do 
CPP. Quanto à responsabilidade da pessoa jurídica não há divergência, todos os 
tribunais consideram devida a sua responsabilização, como demonstrados nos 
paradigmas. 
 
 
 
1.5 DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL 
 
 
Embora a legislação ambiental não adotou modelo mais adequado para a 
atual realidade de produção legislativa, ou seja, elaboração de normas processuais/ 
procedimentais em harmonia com o direito material, procurou o legislador adequar a 
Lei 9.099/95 às necessidades da tutela ambiental (art. 28, I e II), e no mesmo 
sentido com o art. 79 da Lei 9.605/98, estabelecendo aplicação subsidiária das 
disposições do Código Penal e Processo Penal. 
Dessa maneira, conforme observa Azevedo44 a Lei no 9.605/98 é lacônica, em 
termos processuais, e absolutamente omissa, quanto ao procedimento a ser 
seguido, figurando a pessoa jurídica no pólo passivo. 
A definição de ação para Boschi45: 
 
 
44 AZEVEDO, Tupinambá Pinto de. Crime Ambiental: anotações sobre a representação, em juízo, da 
pessoa jurídica e seu interrogatório. Revista de Direito Ambiental.São Paulo: Revista dos 
Tribunais, ano 11, v. 42, p. 209, abr./jun. 2006, p. 209. 
45 BOSCHI, José Antônio Paganella. Ação penal: denúncia, queixa e aditamento. 3. ed. Rio de 
Janeiro: Aide. 2002, p. 21-22. Ação é um direito abstrato, autônomo e independente do direito 
material. É por meio dela que o autor põe sua pretensão ao exame e pronunciamento do juiz, em 
cognição processual completa ou, eventualmente, incompleta. 
 24
A ação é o direito “subjetivo” de “mover” a jurisdição, enquanto a 
“pretensão” constitui a obrigação exigível do ex adversus de cumprir com a 
sua obrigação, que, no dizer de Ovidio Baptista, se configura como 
categoria de direito material. 
Sendo um direito “subjetivo” (a expressão deriva de “subjetivo”, de “sujeito”, 
de “individual”, de indivíduo, significa então que todo cidadão, 
independentemente da idade, do estado civil etc., está autorizado a intentar 
a ação para defender pretensões de conteúdos civis, comerciais, 
trabalhistas. 
Todavia, tratando-se de ação penal pública, em que o jus persequendi in 
juditio é monopólio do Estado/administração, representado pelo Ministério 
Público (art. 129, I, da CF), é impróprio o apelo ao conceito de ação como 
direito “subjetivo” público. 
Como o Estado/Administração/Ministério Público não se inserem no 
conceito antropológico de “indivíduo”, resulta que sua legitimidade para dar 
impulso à jurisdição, como parte, decorre não do direito assegurado ao 
particular e sim do seu oposto, isto é, do dever pactuado pelo Estado de 
fazer atuar o Direito Penal em defesa dos interesses da comunidade com a 
segurança e a justiça. 
Na ação penal pública, o fundamento que legitima e sustenta é, então, o mesmo 
que legitima e sustenta o monopólio do jus puniendi nas mãos do Estado: o pacto 
social, e, dele, o dever jurídico de apurar a responsabilidade dos criminosos para 
que os particulares não voltem a fazê-lo, injusta e desmedidamente, 
assegurando, assim, as vantagens da civilização sobre a barbárie. 
Desse modo, a ação penal, entendida, simplesmente, como “poder” de 
mover a jurisdição, pode ter natureza de “direito subjetivo público” nas 
ações de iniciativa privada ou de “dever jurídico” nas ações públicas. 
 
 
 
 
Jucovski46 faz crítica: 
 
 
No Brasil, como em boa parte dos países, cresce, a cada dia, a 
preocupação com a efetividade do processo. 
Na tutela ambiental, o processo deve ter a disposição instrumentos 
adequados, não somente quanto à legitimidade para agir das associações, 
mas, também, quanto à tutela preventiva, através de medidas de urgência 
e, ainda, ao cumprimento dos decisórios e à diminuição dos valores das 
despesas processuais. 
Mas, ainda restam dificuldades para a verdadeira e célebre proteção do 
ambiente no Brasil, especialmente no que se refere ao desaparelhamento 
do Judiciário; à possibilidade de inúmeros recursos protelatórios das 
decisões às instâncias superiores; à proliferação de leis e medidas 
provisórias editadas pelo Executivo, a causar instabilidade nas relações 
jurídicas; à desproporcionalidade entre o número de juízes e servidores em 
relação à quantidade de processos judiciais em tramitação perante o Poder 
Judiciário; para além da questão davasta extensão territorial e diversidade 
de problemas ambientais em cada região, da dificuldade no cumprimento 
das decisões judiciais pela Administração Pública, bem assim da recente 
consciência ecológica pela sociedade e da incipiente educação ambiental, 
inclusive, nas universidades do País. 
De todo modo, o processo deve ser rápido e eficaz, a fim de propiciar a 
prevenção e repressão do dano ambiental. 
 
46 JUCOVSKI, Vera Lúcia R. S. O papel do juiz na defesa do meio ambiente. Revista de Direito 
Ambiental, v. 19, ano 5, jul./set. 2000, p. 46. 
 25
Com relação à autora em foco47, a postura do juiz nas ações: 
 
 
 
Reclama-se do Juiz em ações judiciais desse jaez papel mais ativo e menos 
inerte, a fim de fazer incidir, de forma efetiva, o comando constitucional 
previsto no art. 225 da Carta Magna. 
Com efeito, no exercício da jurisdição o Juiz deverá atentar para a 
relevância social das ações ambientais, sendo assim, o Juiz não deve ser 
expectador apático dos fatos que lhe são submetidos. Ao contrário, deve 
acompanhar a prova a avaliá-la tendo em vista o interesse coletivo na busca 
da verdade, interesse este que por ser público e genérico, sobrepõe-se aos 
casos em que a ofensa seja individual. 
 
 
 
 
Como visto, mal ou bem existe a tentativa de um processo, ou seja, um 
procedimento a ser aplicado a pessoa jurídica. Desta feita, vejamos a seguir os 
sujeitos da relação processual. 
 
 
1.6 DOS SUJEITOS DA RELAÇÃO PENAL-PROCESSUAL 
 
 
Os sujeitos podem ser ativo e passivo. Sujeito ativo é o autor da conduta 
típica, enquanto o sujeito passivo da conduta pode não ser o sujeito passivo do 
delito. 
O sujeito ativo, geralmente, pode ser qualquer um mas em certos tipos são 
exigidas características especiais no sujeito passivo. 
É novidade no nosso ordenamento a participação da pessoa jurídica na 
relação processual. 
No âmbito do sujeito ativo, nos crimes ambientais, pode ser qualquer pessoa, 
física ou jurídica. 
Logo, a possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito ativo no campo penal é, 
sem dúvida, um dos temas mais tormentosos e inquietantes da atualidade e, 
 
47 JUCOVSKI, 2000, p. 44-45. Nesse sentido, finaliza: “a maioria dos modernos Estados de Direito 
democráticos consagram constitucionalmente a tutela ao meio ambiente, podendo-se asseverar, 
hordiernamente, a constante presença de uma constituição ambiental, dirigida ao legislador 
infraconstitucional, como aos operadores do direito, tais como os Juízes, Ministério Público, 
advogados e outros colaboradores da aplicação da Justiça, bem como a todas as pessoas, físicas 
ou jurídicas, de direito público e de direito privado. 
 26
em razão disso, vem provocando incessantes e salutares abordagens e debates por 
autores pátrios e estrangeiros, uns defendendo, outros não.48 
Partes em sentido processual, por Tucci49: 
 
 
 
Com efeito, apesar de, em regra, apresentarem-se, no processo, como 
autor e réu as mesmas partes integrantes da relação jurídica material 
submetida à definição judicial, nele são como tal considerados os sujeitos 
processuais parciais, ou seja, aquele que exerce, ou aquele em face de 
quem se exerce, mediante ação, o direito à jurisdição. 
Acrescente-se que esse posicionamento processual não significa, nem pode 
significar, que o autor seja, necessariamente, o titular do direito subjetivo, e 
o réu da obrigação ou do dever: em muitos casos, com declaração da 
improcedência do pedido formulado na petição inicial, exatamente o 
reverso. 
O Ministério Público, por sua vez, nelas atua, preponderantemente como 
órgão opinante, isto é, como custos legis; todavia, com a mesma 
incumbência de “defesa da ordem jurídica” e dos interesses social e 
individual (indisponível) do paciente, peticionário ou executado, e a 
possibilidade, ainda, de assumir a qualificação de parte em sentido 
processual. 
 
 
 
 
Sabemos que são uns dos pressupostos para a existência do processo as 
partes, que são sujeitos de direito com personalidade e capacidade jurídica, que 
participaram na condição de sujeito ativo ou sujeito passivo do processo penal. 
Porém, até pouco tempo o nosso ordenamento só dava capacidade de 
incorrer penalmente a pessoas físicas, princípio da pessoalidade. No entanto, com o 
advento da Lei 9.605/98 esta definição mudou, passando a adotar também a pessoa 
jurídica como sujeito de direito capaz de participar da relação processual, na pessoa 
de seu dirigente legal. 
 
 
 
48 ROBALDO, 1999, p. 95. Nesse sentido “como a conservação ambiental é uma obrigação que nos 
pertence a todos individual e coletivamente, porque é a defesa da vida mesma, é lógico pensar 
que estes delitos não são um entidade nova, mas que adquirem uma forma específica frente ao 
problema da destruição sistematizada da natureza”. 
49 TUCCI, Rogério Lauria. Teoria do Direito Processual Penal: Jurisdição, Ação e Processo penal. 
São Paulo: Revista dos Tribunais. 2003, p. 184. 
 27
1.6.1 Da participação da pessoa jurídica no pólo passivo do processo penal 
 
 
 
A responsabilidade penal da pessoa jurídica, realidade na lei dos crimes 
ambientais, gradativamente vem se tornando efetiva. De um modo geral, as pessoas 
jurídicas tem acatado a sua responsabilização trazida pela Lei no 9.605/98. 
Para esclarecer a participação da pessoa jurídica no pólo passivo do 
processo penal, trazemos excerto de jurisprudência da Corte Superior: 
 
 
RECURSO ESPECIAL Nº 889.528 - SC (2006/0200330-2) 
RELATOR: MINISTRO FELIX FISCHER 
RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA 
CATARINA 
RECORRIDO: REUNIDAS S/A TRANSPORTES COLETIVOS 
ADVOGADO: ELEANDRO R BRUSTOLIN 
EMENTA 
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O MEIO 
AMBIENTE. DENÚNCIA REJEITADA PELO E. TRIBUNAL A QUO. 
SISTEMA OU TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO. Admite-se a 
responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que 
haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em 
seu nome ou em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a 
responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa 
física, que age com elemento subjetivo próprio" cf. Resp nº 564960/SC, 5ª 
Turma, Rel. Ministro Gilson Dipp, DJ de 13/06/2005 (Precedentes). 
Recurso especial provido. 
[...] A douta Subprocuradoria-Geral da República se manifestou pelo 
provimento do recurso em parecer assim ementado: 
A pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos 
através da atuação de seus administradores, inclusive ações penalmente 
relevantes e típicas, sendo, assim, passível de responsabilização penal, nos 
termos da Lei n° 9.605/98, que veio regulamentar o art. 225, 3º, da Constituição 
Federal. 
Noutra vertente, a pessoa jurídica somente pode ser responsabilizada - e 
figurar no pólo passivo da relação processual-penal - quando houver 
intervenção de uma pessoa física, que atue em nome e em benefício do ente 
moral, também denunciada; deve, ainda, ser beneficiária direta ou 
indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou 
contratual ou de seu órgão colegiado, o que ocorreu no caso. Precedentes. 
Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso, a fim de que seja 
reconhecida a legitimidade da pessoa jurídica de direito privado para figurar 
na pólo passivo da presente relação processual-penal, retornado os autos 
ao Tribunal para análise do mérito do recurso de apelação interposto pela 
recorrida (fl. 282). 
 
 
 
 
Na busca de uma mais efetiva justiça ambiental e social, criminalizou-se a 
pessoa coletiva e seus dirigentes. Em razão desses novos paradigmas, necessário 
 28
se fazrepensar o direito penal e o direito processual penal, os adequando, 
principalmente, aos novos sujeitos trazidos ao pólo passivo do processo criminal. 
 
 
1.7 DA CITAÇÃO DO ENTE COLETIVO 
 
 
A citação é exigência essencial ao exercício do contraditório, o conhecimento 
pelos demandados, de todos os dados do processo, pois como comenta Grinover50 
 
 
sem a completa e adequada informação a respeito dos diversos atos 
praticados, das provas produzidas, dos argumentos apresentados pelo 
adversário, a participação seria ilusória e desprovida de aptidão para 
influenciar o convencimento do juiz. 
 
 
 
 
A citação do ente coletivo para dar início ao processo válido seus trâmites 
apropriados, conforme relata Marques51: 
 
 
A citação da pessoa jurídica deve ser feita na pessoa de seu representante 
legal, limitando-se as formas de citação àquelas previstas no Código de 
Processo Penal, inclusive com aplicação do disposto nos arts. 366 e 367 
daquele estatuto. Fica excluída, pois, a citação pelo correio, permitida pelo 
Código de Processo Civil, uma vez que se afasta do direito de defesa 
inerente ao processo penal. 
 
 
 
 
No mesmo sentido pondera Lecey52: 
 
 
 
No mais, a citação da pessoa jurídica obedecerá as regras do processo 
penal, ou seja, art. 531 do CPP, e das Leis dos Juizados Especiais 
Criminais. Será pessoal e por mandado, expedindo-se precatória quando 
 
50 GRINOVER, 2004, p. 121. 
 A efetividade dos diversos atos de comunicação processual representa condição indispensável ao 
pleno exercício dos direitos e faculdades conferidos às partes; sua falta ou imperfeição implica 
sempre prejuízo ao contraditório, comprometendo toda a efetividade subseqüente. 
51 MARQUES, 2001, p. 112. Nesse entendimento Grinover: A citação constitui seguramente o mais 
importante ato de comunicação processual, especialmente em sede penal, pois visa a levar ao 
conhecimento do réu a acusação que lhe foi formulada, bem como a data e local em que deve 
comparecer para ser interrogado, propiciando, assim, as informações indispensáveis à 
preparação da defesa (GRINOVER, 2004, p. 122-3). 
52 LECEY, 2004, p. 75. 
 29
estiver o representante fora do território da jurisdição em que tramita o 
processo. Poderá ser por edital nas hipóteses dos arts. 361 a 363 do CPP. 
Já nos Juizados Especiais Criminais, não é admitida a citação por edital. 
Não será possível, outrossim, citação pelo correio. 
 
 
Grinover53 acrescenta: 
 
 
Citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu a fim de se defender, 
motivo pelo qual esse ato de comunicação processual está intimamente 
ligado ao direito de defesa. Segundo o objeto do processo, as garantias de 
que se deve revestir-se o ato de citação podem variar. A citação é ato 
indispensável à validade do processo, e o processo penal tem requisitos de 
validade que podem ser mais rigorosos do que os exigidos para a validade 
do processo civil. A analogia não encontra aplicação nesse campo, e a 
citação da pessoa jurídica deverá seguir as formas previstas no CPP (Art. 
531) ou na Lei 9.099/95, conforme o caso. 
 
 
O funcionamento do processo por Boschi54: 
 
 
Portanto, operada a citação e, desse modo, estabelecida a relação jurídica 
entre os três sujeitos do processo (autor, juiz, réu), o acusado terá o direito 
de conhecer a longitude, a latitude e a profundidade da acusação; terá o 
direito de impugná-la pessoalmente; de acompanhar e fiscalizar, com a 
mesma finalidade, a prática dos atos processuais e de ser representado em 
todas as fases da persecução penal por um advogado. 
 
 
 
Diante das citações apresentadas, vê-se que o entendimento adotado é no 
sentido de aceitar a citação da pessoa jurídica feita em pessoa que se apresenta 
como representante legal da empresa e recebe a citação sem ressalva quanto à 
inexistência de poderes de representação em juízo, tornando aplicável a teoria da 
 
53 GRINOVER, 1999, p. 48-49. 
54 BOSCHI, 2002, p. 32. 
 30
aparência.55 Esta posição é válida também para o sócio que não possui poderes de 
representação. 
Nessa linha, Grinover56 conceitua: 
 
 
No processo penal brasileiro, a citação pessoal é feita através do mandado, 
normalmente expedido pelo próprio juiz da causa, mas que também pode 
resultar de ato de cooperação jurisdicional (carta precatória, rogatória e de 
ordem). 
[...] com a citação pessoal regular, completa-se a relação processual, 
ficando o acusado, a partir daí, com o ônus de comparecer aos atos 
processuais para os quais for intimado e também de comunicar a juízo 
qualquer mudança de residência, sob pena de prosseguir o processo sem a 
sua presença (art. 367 do CPP, na redação dada pela Lei no 9.271/96). 
 
 
 
 
 
55 RECURSO ESPECIAL. CITAÇÃO. REPRESENTANTE. TEORIA DA APARENCIA. APLICAÇÃO. 
NÃO CONHECIMENTO. DECIDINDO O TRIBUNAL, COM APLICAÇÃO DA TEORIA DA 
APARENCIA, SER VALIDA A CITAÇÃO DE SOCIEDADE COMERCIAL, NA PESSOA DE 
EMPREGADA COM EVIDENCIA DE REPRESENTANTE, NÃO SE TEM POR INFRINGIDO O 
ART. 215 DO C.P.C. E OUTROS A DISCIPLINAR A REPRESENTAÇÃO LEGAL DAS PESSOAS 
 JURIDICAS. RECURSO NÃO CONHECIDO. 
 (Resp 6631/RJ RECURSOESPECIAL 1990/0012878-1/MIN. CLÁUDIO SANTOS/ DJ 24.06.1991 
p. 8634) 
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 869.500 - SP (2006/0150007-4) 
RELATOR : MINISTRO HÉLIO QUAGLIA BARBOSA 
AGRAVANTE : BANCO SANTANDER MERIDIONAL S/A 
ADVOGADOS : ALEXANDRE YUJI HIRATA E OUTRO 
ISABELA BRAGA POMPÍLIO 
AGRAVADO : HÉLIO MENDES 
ADVOGADO : ALFREDO VASQUES DA GRAÇA JUNIOR 
EMENTA 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CITAÇÃO POSTAL. PESSOA JURÍDICA. 
TEORIA DA APARÊNCIA. APLICAÇÃO. AGRAVO IMPROVIDO. 
1. Segundo a Teoria da Aparência, é válida a citação realizada perante pessoa que se identifica 
como funcionário da empresa, sem ressalvas, não sendo necessário que receba a citação o seu 
representante legal. 
2. Em caso similar ao dos autos, em que a citação fora recebida por funcionário de empresa 
terceirizada que prestava serviços ao réu, decidiu-se pela validade do ato processual, salientando 
que, 'ao se considerar a estrutura e organização 
de uma pessoa jurídica, é de se concluir que todos os atos ali praticados devam chegar ao 
conhecimento de seus diretores ou gerentes, não apenas por via de seus gerentes ou 
administradores, mas também por intermédio de seus empregados, o que se observa na presente 
hipótese' (AG 692.345, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 06.10.05). 
3. Ademais, na espécie, observa-se que sequer consta prova dos autos, mas apenas mera alegação 
do Banco recorrido, de que a pessoa que recebeu a citação não faz parte dos seus quadros. 
4. Agravo improvido. 
56 GRINOVER, 2004, p. 123. A falta de atendimento a formalidades relativas à execução do 
mandado (art. 357 do CPP) também acarretará a nulidade do ato em questão, porquanto as 
prescrições legais visam assegurar e atestar o pleno conhecimento, pelo réu, da imputação e 
demais elementos indispensáveis ao atendimento do chamamento judicial; a omissão ou 
laconismo da certidão do oficial de justiça sobre a leitura do mandado, entrega da contrafé e 
aceitação ou recusa do citando descaracterizam o ato citatório, dando lugar à nulidade. 
 31
Ademais, caso ocorra à citação única ao diretor-réu em que consta a dupla 
imputação, diante do recebimento de cópia da denúncia, entende o autor Azevedo57 
que não há prejuízo à defesa. 
A visão de Azevedo58: 
 
 
Nossa posição é favorável à citação única, não havendo em tal alvitre 
qualquer interpretação elástica. Apenas, deve haver a cautela de consignar, 
na citação, a amplitude do objeto: ciência da propositura de ação penal 
contra o diretor e contra a empresa, situando-o como seu representante.

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