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POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO WEBCONFERÊNCIA I Nome do(a) professor(a) Charles Martins Educação e direitos humanos • EDUCAÇÃO COMO DIREITO • DIREITO À EDUCAÇÃO • DIREITO À CIDADANIA • DIREITO DE SER PESSOA Educação brasileira: avanços e desafios Educação básica • [...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação • Diante dessa afirmação de que a educação é um direito de todo cidadão e dever do Estado, da sociedade e da família, a educação, em particular a educação escolar, torna-se peça fundamental no desenvolvimento humano. para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 195). Analfabetismo • A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada em 2014, confirma a tendência de queda das taxas de analfabetismo: em 2013, o Brasil tinha cerca de 13 milhões de analfabetos na faixa etária de pessoas acima de 15 anos, ou seja, 8,3% da população total do país Escola versus trabalho Índice de desenvolvimento humano (IDH) • Nas últimas décadas, o Brasil também registrou avanços significativos nesse quesito. De 1990 a 2014, houve um crescimento de 24,2% do IDH brasileiro. De 2009 a 2014, o país avançou três posições no ranking mundial, atingindo a 75a posição em 2014. No entanto, o Brasil Políticas públicas e educação é superado por países latino- americanos, como Argentina, Chile, Uruguai, Cuba e Venezuela. Os primeiros lugares no ranking mundial do IDH são ocupados pela Noruega, Austrália e Suíça. • De acordo com os responsáveis pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os avanços registrados no IDH brasileiro devem ser creditados às políticas públicas adotadas pelo Estado no período. Direitos humanos • Em 1948, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esse documento histórico pode ser considerado uma espécie de Constituição da nova ordem mundial surgida após o fim da Segunda Guerra Mundial. Os Estados-membros da ONU, incluindo o Brasil, declararam “sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres” (ONU, 1948, p. 1). ARTIGOS • Em 30 artigos, a Declaração proclama o direito à vida, à liberdade e à igualdade: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (p. 2); condena qualquer espécie de discriminação, “seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição” (p. 2); e defende o direito à educação e saúde, justiça, segurança pessoal, propriedade, liberdade de pensamento, consciência e religião, entre outros direitos. Conceito • A expressão “direitos humanos” tem um sentido bastante amplo, pois abrange os direitos fundamentais da pessoa humana, ou seja, o conjunto dos direitos individuais, os direitos coletivos (ou sociais) e os direitos políticos. Os direitos humanos se baseiam nos princípios da liberdade, igualdade e solidariedade, que são considerados valores universais e que, portanto, devem proteger todas as pessoas indistintamente, sem qualquer tipo de preconceito, discriminação ou segregação. Os direitos humanos no século XXI • O mundo contemporâneo é marcado por uma série de graves violações aos direitos humanos, o que compromete a proteção dos direitos fundamentais (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) já instituídos pela maioria dos países, principalmente os que participam de organismos internacionais. como a ONU. • Todos nós vivemos em uma realidade que parece bem distante das leis, declarações e teorias sobre os direitos humanos e a cidadania, apesar dos inegáveis avanços obtidos desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) • Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), em dezembro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou as realizações do governo federal na área, mas também chamou a atenção para os enormes desafio • Não haverá paz no Brasil e no mundo enquanto persistirem injustiças, exclusões, preconceitos e opressão de qualquer tipo. A equidade e o respeito à diversidade são elementos basilares para que se alcance uma convivência social solidária e para que os Direitos Humanos não sejam letra morta da lei (BRASIL, 2010, p. 14). s a serem enfrentados pelo Brasil. Educação como direito humano • §1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito. • §2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. • §3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos (ONU, 1948, p. 6). BRASIL- PAÍS SIGNATÁRIO • No caso do Brasil, país-signatário da Declaração em 1948, o processo de pleno reconhecimento dos direitos humanos ainda está longe de se tornar realidade, tanto que somente 40 anos depois da realização da histórica Assembleia Geral da ONU é que a proteção dos direitos humanos se tornou lei no Brasil, graças à nova Constituição Federal, promulgada em 1988. O art. 4o do texto constitucional destaca a “prevalência dos direitos humanos” dentre os princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil. • Art. 13 – Decreto n. 591, de 6 de julho de 1992 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. • 2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: a) A educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos; b) A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e se tornar acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c) A educação de nível superior deverá igualmente se tornar acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas pessoas que não receberam educação primária ou não concluíram o ciclo completo de educação primária; e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema adequado de bolsas de estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente (BRASIL, 1992, grifos nossos). O direito à educaçãona Constituição brasileira • Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, no seu Art. 2o, a educação é um dever de todos. Uma educação básica de qualidade que prime pelos princípios supracitados é direito de todo cidadão brasileiro. • São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL,1988). • Art. 205 – Afirma que a educação é “direito de todos e dever do Estado e da família”, em colaboração com a sociedade, “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Art. 206 – Estabelece oito princípios que devem nortear o ensino no Brasil. São eles: • 1. Igualdade de condições para acesso e permanência na escola. 2. Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. 3. Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. 4. Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. 5. Valorização dos profissionais da educação escolar. 6. Gestão democrática do ensino público, na forma da lei. 7. Garantia de padrão de qualidade do ensino. 8. Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública. Cidadania: dimensões políticas e educacionais • Lembre-se que a ideia clássica de “cidadania” corresponde à primeira geração de direitos fundamentais, identificada em termos históricos com o Liberalismo e o Estado Moderno. Hoje, após sucessivas gerações de direitos, fala-se em uma “nova cidadania”, ou em uma “cidadania ampliada”. Essa cidadania seria aquela do cidadão contemporâneo, que vive em uma época e em um mundo (globalizado/informatizado) cujos valores são bem diferentes daqueles que existiam, por exemplo, no tempo da Revolução Industrial Inglesa (século XVIII) ou da Revolução Francesa (século XVIII). CIDADANIA • Lembre-se que a ideia clássica de “cidadania” corresponde à primeira geração de direitos fundamentais, identificada em termos históricos com o Liberalismo e o Estado Moderno. Hoje, após sucessivas gerações de direitos, fala-se em uma “nova cidadania”, ou em uma “cidadania ampliada”. Essa cidadania seria aquela do cidadão contemporâneo, que vive em uma época e em um mundo (globalizado/informatizado) cujos valores são bem diferentes daqueles que existiam, por exemplo, no tempo da Revolução Industrial Inglesa (século XVIII) ou da Revolução Francesa (século XVIII). • De uma forma simples, podemos dizer que o termo “cidadania” refere-se à condição da pessoa (o cidadão) que é investida de direitos e deveres civis, políticos sociais, conforme a Constituição e as leis do país. • Cidadania e direitos da cidadania dizem respeito a uma determinada ordem jurídico-política de um país, de um Estado, no qual uma Constituição define e garante quem é cidadão, que direitos e deveres ele terá em função de uma série de variáveis, tais como a idade, o estado civil, a condição de sanidade física e mental, o fato de estar ou não em dívida com a justiça penal etc. Os direitos do cidadão e a própria ideia de cidadania não são universais, no sentido de que eles estão fixos a uma específica e determinada ordem jurídico-política. Daí, identificamos cidadãos brasileiros, cidadãos norte-americanos e cidadãos argentinos, e sabemos que variam os direitos e deveres dos cidadãos de um país para outro (BENEVIDES, 2016, p. 4). A cidadania no Brasil • Diversos estudiosos brasileiros, entre eles a socióloga Maria Victoria Benevides e o jurista Fábio Konder Comparato, afirmam que o Brasil ainda é um país de privilégios e de “cidadãos de papel”. • Para eles, a raiz do problema está em nossa herança colonial (marcada pela violência da escravidão), no pensamento político autoritário, na falta de tradição democrática e na enorme desigualdade social, considerada uma das maiores do mundo. • Somos uma sociedade profundamente marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte, e, além disso, somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos, a base e o topo da pirâmide socioeconômica. Nosso país é campeão na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares são geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras pela feiura da miséria, são ameaçadoras pelo grande número, pelo medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece necessário às classes dominantes criminalizar as classes populares associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade” (BENEVIDES, 2016, p. 2, grifos do original Educação, direitos humanos e cidadania • Na década de 1990, foram criados o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), sob a responsabilidade da Presidência da República, e a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos (RBEDH), instituição independente formada por diversas entidades e Organizações Não Governamentais (ONGs), entre outras iniciativas semelhantes. • Três dimensões são indispensáveis e interdependentes para o desenvolvimento da educação em direitos humanos e para a cidadania democrática: 1. A dimensão intelectual e a informação 2. A dimensão ética 3. A dimensão política Diretrizes e bases da educação nacional • A verdade é que, a partir da Constituição Federal de 1988, o país mudou muito em termos econômicos, políticos e sociais, assim como o sistema de ensino como um todo (público e privado), a começar pela mudança da legislação que regulamenta a educação nacional e o sistema educacional vigente no país. • A Lei n. 9.394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, foi aprovada durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996, após uma longa tramitação no Congresso Nacional, iniciada em 1988 – data de promulgação da nova Constituição Federal. • Portanto, a LDB atual não é simplesmente uma lei ordinária, mas sim um conjunto de leis que rege o sistema educacional em vigor no país. Educação Escolar • Educação escolar, e não sobre a educação em geral. Isso é explicado no próprio texto da lei: Art. 1o – A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1o – Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2o – A educação escolar deverá se vincular ao mundo do trabalho e à prática social (BRASIL, 1996). LDB/1996 • A partir da LDB, a educação escolar no Brasil passou a ser estruturada em dois níveis: • 1. Educação básica – formada por três etapas: educação infantil (creche e pré-escola), ensino fundamental e ensino médio (normal e técnico- profissional). • 2. Educação superior – formada pelo ensino universitário, por áreas de conhecimento e pela educação profissional e tecnológica, bem como pela pós-graduação e pelos cursos de extensão. Os princípios que devem nortear o ensino no Brasil: • O art. 3o estabelece os princípios que devem nortear o ensino no Brasil: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; Respeito à liberdade e apreço à tolerância; Coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; Valorização do profissional da educação escolar; Gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; Garantia de padrão de qualidade; Valorização da experiência extraescolar; Vinculação entrea educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Consideração com a diversidade étnico-racial (BRASIL, 1996, grifos nossos). O direito à Educação e os deveres do Estado • A Lei n. 12.796, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em 2013 e incluída no texto da LDB, aumentou significativamente a responsabilidade do Estado (e também dos pais) com a educação. Essa lei diz que o Estado brasileiro tem o dever de garantir educação básica obrigatória e gratuita a todas as crianças e jovens, dos 4 aos 17 anos de idade, ou seja, da pré-escola até a conclusão do ensino médio. • Art. 4o – O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma: a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio; II – educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade. • O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo (BRASIL, 1996, grifo nosso). OMISSÃO É CRIME • A autoridade pública competente estará sujeita a responder por crime de responsabilidade, caso fique comprovada sua omissão ou negligência no cumprimento de seus deveres com relação ao ensino público. • Atualmente, muitos municípios estão sendo forçados pela Justiça, mediante ações populares impetradas junto ao Ministério Público, a oferecer educação infantil e fundamental para todas as crianças, incluindo merenda escolar e transporte. Para evitar o desvio de verbas e recursos federais destinados à educação básica, o governo federal aumentou a fiscalização sobre as prefeituras. PÚBLICO X PRIVADO • O art. 7o explicita o princípio da coexistência de instituições públicas e privadas de ensino, estabelecido no art. 3o, nos seguintes termos: O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I – cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino; II – autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público; III – capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da Constituição Federal (BRASIL, 1996)
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