Buscar

28 A PERCEPÇÃO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM SOBRE LIMPEZA TERMINAL EM UTI

Prévia do material em texto

1
 
 
A PERCEPÇÃO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM SOBRE LIMPEZA TERMINAL 
EM UTI 
 
Maria do Socorro Oliveira Guimarães - NOVAFAPI 
Paula Cristina Santos Miranda Queiroz - NOVAFAPI 
Rosania Maria de Araújo - NOVAFAPI 
Susane de Fátima Ferreira de Castro - NOVAFAPI 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Desde o surgimento dos primeiros hospitais as infecções hospitalares acompanham a 
humanidade, sendo que houve o tempo em que a falta de condições sanitárias adequadas era a 
principal causa do problema: pacientes ocupavam o mesmo leito e o abastecimento de água e 
alimentos era precário. Os pioneiros do controle de infecção hospitalar já demonstravam a 
importância da implementação de medidas de higiene na assistência à saúde: Florence 
Nightingale1, em hospitais de campanhas militares, organizou lavanderias com conceitos 
mantidos até a atualidade; Semmelweis2, conseguiu combater, recomendando a lavagem das 
mãos a médicos e estudantes vindos da sala de necropsia, a elevada mortalidade por febre 
puerperal na enfermaria obstétrica de um hospital de Viena, em 1847. 
 Embora o total de leitos em terapia intensiva represente menos de 10% dos leitos 
hospitalares disponíveis no Brasil, estes contribuem com mais de 25% do global das infecções 
hospitalares. Devemos ressaltar que tais números representam forte impacto na morbidade e 
mortalidade desse grupo de pacientes, assim como nos custos dos sistemas financiadores de 
saúde (PEDROSA ; COUTO, 2001). 
 Um dos membros da equipe de saúde é o técnico de enfermagem: um profissional com 
nível médio de escolaridade (segundo grau completo), idade mínima de 18 anos, curso 
específico de dois anos e registro do Conselho Regional de Enfermagem (TEIXEIRA, 2000). 
O mesmo está capacitado para prestar assistência direta aos enfermos no tocante a cuidados 
de higiene pessoal, integridade da pele e administração de medicamentos, entre outras 
atribuições. Para trabalhar em UTI é necessário ainda treinamento específico após a conclusão 
do curso. 
 Limpeza Terminal, conforme Ângelo (1998) é a expressão comumente empregada na 
literatura para definir:A limpeza realizada na unidade do paciente após a alta, óbito ou 
transferência do mesmo. Isso ocorre após internação prolongada e término de isolamento, na 
qual abrange a limpeza e a desinfecção das áreas da unidade, objetivando a redução da 
sujidade e, conseqüentemente da população microbiota, reduzindo a possibilidade de 
contaminação ambiental. 
 Em nosso3 cotidiano numa UTI geral, convivemos freqüentemente com casos de 
infecções comunitárias e infecções hospitalares graves. Observamos, entre os profissionais de 
saúde, especialmente os médicos, uma credibilidade muito grande na tecnologia, como 
garantia de que todos os problemas clínicos podem ser solucionados, e nos antimicrobianos 
potentes, como garantia de que qualquer infecção poderá ser debelada, até que algum paciente 
tenha evolução desfavorável e derrube por terra toda essa invulnerabilidade da terapia 
intensiva. 
 
1 Precursora da modernização da enfermagem aplicou preceitos científicos na assistência aos enfermos. 
2 Precursor do controle de infecção hospitalar. 
3 Sobre as autoras: Três são enfermeiras diaristas e uma é médica com formação em infectologia e terapia 
intensiva , plantonista dessa unidade. 
 2
 Diante disso surgiu a inquietação em saber se o técnico de enfermagem, que executa 
esse procedimento acredita que essa limpeza realmente contribui para prevenir e controlar as 
infecções hospitalares, pois esse procedimento é, por muitos, considerado uma prática 
secundária, porém demonstrado por vários estudos ser extremamente importante. 
 A percepção, substantivo da língua portuguesa que designa “o ato, efeito ou faculdade 
de perceber” (FERREIRA, 2001, p. 519), filosoficamente conceituada por Japiassu (1993, 
p.192) como: Ato de perceber, ação de formar mentalmente representações sobre objetos 
externos a partir dos dados sensoriais. A sensação seria assim a matéria da 
percepção...Aquelas percepções que penetram com mais força (...) podemos chamar de 
impressões (...) compreendendo todas as nossas sensações, paixões e emoções (...). Por idéias 
considero as imagens pálidas dessas no pensamento e no raciocínio. 
 Nosso objeto de estudo foi a percepção do técnico de enfermagem sobre a limpeza 
terminal em UTI e os objetivos foram: 
 1-Conhecer a percepção de limpeza terminal da unidade do paciente para o técnico de 
enfermagem de uma UTI geral; 
 2-Analisar a importância da limpeza terminal da unidade do paciente na prevenção e controle 
das infecções hospitalares para o técnico de enfermagem. 
 
PERCURSO METODOLÓGICO 
 
 Usamos como referencial a pesquisa qualitativa e utilizamos como técnica de 
pesquisa a entrevista semi-estruturada.Para análise e discussão do material proveniente das 
falas dos sujeitos utilizou-se uma seqüência pré-estabelecida de análise de categorias, 
conforme a proposta de Minayo (1998). 
 O cenário do presente estudo foi a UTI geral de um Hospital Geral e de Oncologia, 
que é referência para a região Nordeste do Brasil. A unidade é composta por dez leitos, dentre 
estes, um isolamento4. A quantidade de sujeitos que participou da pesquisa foi determinada 
pela saturação das informações obtidas através da análise das entrevistas à medida que as 
mesmas eram coletadas, chegando-se ao total de 13 entrevistados. 
 
CONSTRUINDO OS RESULTADOS 
 
Perfil do técnico de enfermagem: 
 
 Para apresentação dos sujeitos desta pesquisa, elaboramos os dados referentes ao 
perfil dos técnicos de enfermagem entrevistados neste estudo: 
 
Quadro 1- Perfil de características demográficas, de formação e ocupação dos técnicos de 
enfermagem entrevistados: 
Característica Sexo Idade Tempo 
Formado 
Tempo UTI Cursos de 
UTI 
Cursos sobre 
controle IH 
Total de 
sujeitos 
11 F 
2 M 
Média 
32,85 
A: 24-
41anos 
Média: 11,54 
A: 03-20 anos 
Média: 9,39 
A: 01 – 20 a
13-Sim 3- Sim 
10-Não 
 
 
 
4 Unidade de internação destinada a paciente com processo infeccioso e/ou contagioso (que se propaga por 
contágio) 
 3
Prevenção da infecção hospitalar: 
 
 A maioria dos entrevistados percebe a limpeza terminal da unidade do paciente em 
UTI como um procedimento para prevenir a infecção hospitalar, é o que manifestam as falas a 
seguir apresentadas: 
“... pra evitar a propagação de infecção de paciente a paciente”.(E7). 
“... é uma medida profilática pra evitar a infecção hospitalar...” (E12). 
 
Prevenção da transmissão ocupacional de infecção: 
 
 Alguns entrevistados consideram a limpeza terminal da unidade do paciente um 
procedimento que evita a transmissão ocupacional de doenças, uma sub-categoria da 
percepção de limpeza terminal como uma tarefa que contribui para a prevenção de infecções 
hospitalares: 
“... pra evitar a infecção hospitalar e a disseminação e a propagação 
de microorganismos... pra nós funcionários que evita que a doença 
possa ser transmitida pra, pra nós...” (E4). 
 “... evitar qualquer risco de contaminação da gente mesmo né...” 
(E9). 
 
Estético e higiênico: 
 
 De acordo com algumas respostas, a limpeza terminal da unidade do paciente foi 
percebida como um procedimento com fim estético e higiênico: 
 
“... para que o leito fique limpo e bem arrumado até a chegada de um 
novo paciente...” (E2). 
“... a limpeza se faz pra poder receber o novo paciente e proporcionar 
a ele um bom tratamento... num ambiente limpo...” (E8). 
“... fazer uma higiene, uma higienização”. (E10). 
 
 Os sujeitos da pesquisa que percebem a limpeza terminal da unidade desta forma 
não a percebemassim de forma exclusiva, reconhecendo que a finalidade deste procedimento 
não se limita apenas a retirar sujidades, mas também a eliminar fontes de contaminação e 
assim contribui para o controle da infecção hospitalar. 
 
Atribuição do técnico de enfermagem: 
 
 De acordo com algumas falas evidenciamos a percepção da limpeza terminal da 
unidade do cliente como uma atribuição própria do técnico de enfermagem, conforme os 
relatos: 
“... eu acho que a pessoa mais adequada a fazer um tal procedimento, 
a limpeza do leito, seje o funcionário que ali está trabalhando... ele 
recebeu orientação para fazer tal procedimento... ele é responsável 
pelo, em parte pelo controle da, da infecção... pelos conhecimentos 
vários que tem e orientações do que é que foi dito, de conhecimento 
das soluções que ele ta usando na limpeza do, do leito”. (E6). 
“Porque é minha função...” = dito de forma tranqüila e enfática (E12). 
 
 
 4
Trabalho em equipe: 
 
 Surgiu também, como sub-categoria de atribuição do técnico de enfermagem a 
percepção da limpeza terminal da unidade do paciente como um trabalho em equipe: 
 
“... ressaltar também a importância do servente né que na realidade 
ele entra na limpeza terminal porque é o responsável pela limpeza das 
paredes e do piso, na realidade é o conjunto”. (E7). 
“... e sempre com a ajuda do auxiliar operacional pra limpeza de todo 
o box...” (E8). 
 
 Podemos aplicar este aspecto do trabalho em UTI a todos os procedimentos 
realizados nesta unidade hospitalar e não apenas à limpeza terminal. De fato, apesar do 
surgimento desta categoria, na UTI a equipe multiprofissional muitas vezes é composta por 
pessoas que desempenham suas atividades individualmente dentro do mesmo espaço físico e 
não difundem suas idéias e sugestões com o restante do grupo. 
 
Compromisso ético do profissional de enfermagem: 
 
 Entre as entrevistas surgiu ainda como outra sub-categoria de atribuição do 
técnico de enfermagem a percepção da limpeza terminal da unidade do paciente como um 
compromisso do profissional de enfermagem com o paciente e a família, conforme a 
expressão que passamos a apresentar: 
 
“... é porque agente quer o bem estar do paciente e não que ele 
piore,... o paciente, ele já vem confiante na gente mesmo, na nossa 
equipe, em se tratar, e, no caso, se agente não fizer a limpeza terminal 
mesmo bem feita ele vai sair ou mais doente ou talvez não saia...” 
(E9). 
 
Compromisso técnico do profissional de enfermagem: 
 
 Surgiram aspectos da percepção da limpeza terminal da unidade do paciente 
como um procedimento obrigatório após a saída do paciente da unidade. É o que mostram as 
falas que passamos a apresentar: 
 
“É a limpeza que é feita logo após a alta do paciente ou também 
quando o paciente vai a óbito...” (E2). 
 “Porque é preciso, por conta dos microorganismos que se instalam 
com a estadia do paciente. Todo paciente que permanece no leito... 
fica microorganismos, as bactérias, né? Então precisa ter essa limpeza 
terminal”.(E5). 
 
 Alguns sujeitos expressaram a sua percepção sobre limpeza terminal da 
unidade do paciente conceituando o procedimento, e percebemos através das falas que eles 
compartilham de uma definição incompleta sobre limpeza terminal. 
 
 
 
 
 5
Imposição: 
 
 Surgiu entre as falas dos sujeitos, numa entrevista, a percepção de limpeza 
terminal da unidade do paciente como uma imposição à equipe de enfermagem, pela falta de 
uma pessoa destinada exclusivamente para realizar este procedimento como apresentamos 
abaixo: 
“... porque na maioria das vezes somos nós mesmos aqui no hospital 
que temos que fazer porque não tem uma pessoa própria que faça 
isso, pra lavar a cama, por isso é que é agente mesma que faz”. (E10). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Estes profissionais trazem da prática cotidiana em UTI a percepção geral de 
que a limpeza terminal é um procedimento que contribui com a prevenção de infecção 
hospitalar, realizado em equipe e que além de ter uma correlação com o compromisso ético, 
técnico e estético com o paciente que ocupará aquele leito, é uma atribuição deste de acordo 
com as orientações que são adquiridas durante a formação profissional. 
 
REFERÊNCIAS 
 
JAPIASSU, H.; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1993. 
MINAYO, M.C.S. Pesquisa social. 8. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1998. 
MOREIRA, M.C.N. Investigação acerca do processo de construção de identidade dos 
profissionais de enfermagem. [S.l.: s.n.], 1996. Disponível em: , < 
http://www.epsjv.fiocruz.br/pesquisa/trabs/t036.html. >. Acesso em: 06 dez. 2003. 
PEDROSA, T.M.G., COUTO, R.C. Prevenção das infecções nosocomiais ocupacionais. 
PEDROSA, T.M.G., et al. Infecção hospitalar. São Paulo: Medsi, 2002, p. 19-48. 
PEDROSA, T.M.G.; MACEDO, R.M. Limpeza hospitalar. In: COUTO, R.C.; PEDROSA, 
T.M.G. Guia prático de infecção hospitalar. Rio de Janeiro: Medsi, 1999. 
TEIXEIRA, T.M. Introdução à enfermagem. [s.n.], 2000. Disponível em: < 
http://www.enfsaude.com.br/aulas/apostila.htm >. Acesso em: 26 jan. 2004. 
 
* Enfermeira, Mestre em Enfermagem. Docente da NOVAFAPI/UFPI 
** Enfermeira/Aluna do Curso de especialização em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar da Faculdade 
NOVAFAPI 
*** Enfermeira/Aluna do Curso de especialização em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar da Faculdade 
NOVAFAPI 
**** Médica/Aluna do Curso de especialização em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar da Faculdade 
NOVAFAPI/Professora da faculdade NOVAFAPI romaaraujo@uol.com.br 
***** Enfermeira/Aluna do Curso de especialização em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar da 
Faculdade NOVAFAPI/Professora da Faculdade NOVAFAPI

Continue navegando