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MODELO DE PETIÇAO PENAL

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Olá operadores do Direito! 
 
Apresentada a Resposta à Acusação de maneira tempestiva, foram aos autos 
conclusos ao MM. Juiz, que proferiu a seguinte decisão: 
 
“Cuida-se de Ação Penal proposta pelo Ministério Público em face de 
GABRIEL MATOS, para apuração da suposta prática da conduta descrita no 
artigo 147 do Código Penal. Recebida a denúncia, foi determinada a citação 
do Acusado. 
Em resposta à acusação, a defesa da Réu, discordando integralmente dos 
termos da denúncia, requereu a absolvição sumária, com fundamento no art. 
397, III do CPP. É o que importa relatar. Decido. 
Dispõe o artigo 397 do CPP: 
 
 ‘Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste 
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: 
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; 
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, 
salvo inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou 
IV - extinta a punibilidade do agente.’ 
 
No caso em tela, não vislumbro a ocorrência de qualquer hipótese de 
absolvição sumária, visto que a denúncia preencheu os requisitos formais 
previstos no art. 41 do CPP, encontrando-se os autos instruídos com 
elementos de informação da materialidade e indícios suficientes de autoria 
delitiva, essenciais à instauração da ação penal. 
Com tais considerações, determino o prosseguimento do feito, eis que não 
resta plenamente configurada, neste momento processual, nenhuma das 
hipóteses do artigo 397 do CPP, a ensejar a absolvição sumária da Acusado. 
 
 
Assim, nos termos do artigo 400 do CPP, determino a realização de Audiência 
de Instrução e Julgamento, designada para o dia 10 de maio de 2018, às 
16h30min horas, para inquirição das testemunhas arroladas pela Acusação e 
pela Defesa, procedendo-se em seguida ao interrogatório da Réu. Intimem-
se. 
 
Na data designada, aberta a audiência, a vítima foi ouvida e, na sequência, 
procedeu-se os depoimentos das testemunhas de acusação. Ato contínuo, as 
testemunhas de defesa foram ouvidas. Entretanto, neste momento, mesmo sob os 
protestos da Defesa do Acusado, o MM Juiz indeferiu todas as perguntas formuladas 
pela defesa que diziam respeito à discussão havida entre vítima e Réu no bar. 
 O argumento utilizado pelo Magistrado para indeferir tais questionamentos foi de 
que a resposta a essas perguntas se constituíram em opinião pessoal das testemunhas, 
o que não é permitido. 
Não havendo diligências complementares, a audiência foi encerrada, com o Juiz 
invocando o §3º do artigo 403 do CPP para determinar a abertura de vistas sucessivas 
às partes para apresentação de alegações finais por meio de memoriais escritos. 
O Ministério Público, em sede de suas alegações finais, se limitou a ratificar a 
denúncia, requerendo a condenação de Gabriel pela prática do delito de ameaça. Em 
seguida, foi aberta vista à Defesa. 
 
ADVOGADO: Como devem ser elaboradas as Alegações Finais de Gabriel Matos? 
 
No caso hipotético apresentado, uma vez terminada a fase de instrução 
probatória e aberta vista para apresentação de alegações finais, você, caro aluno, deve 
traçar a estratégia defensiva que melhor couber ao seu cliente. 
Tal instrumento defensivo está previsto no §3º do artigo 403 do CPP: 
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo 
indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) 
minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis 
por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. 
 
 
§ 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de 
cada um será individual. 
§ 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, 
serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período 
o tempo de manifestação da defesa. 
§ 3º O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o 
número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias 
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, 
terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença . (grifos 
nossos) 
Desta forma, uma vez deferida a apresentação das alegações finais por meio de 
memoriais, você, caro aluno, terá o prazo de 05 (cinco) dias para elaboração da peça. 
Ao contrário da preocupação com eventual antecipação de teses defensivas que 
ocorre quando da apresentação da resposta à acusação, nesta fase do processo tal 
atitude torna-se uma obrigação do Defensor. Afinal, as alegações finais são a última 
oportunidade que a Defesa possui para apresentar argumentos favoráveis ao réu antes 
da decisão. Assim, qualquer que seja a tese defensiva, este é o momento para ser 
trazida ao processo. 
Até porque, nobre Advogado, ao contrário da peça anterior, você agora já está 
de posse de todas as provas que foram produzidas no processo, uma vez que a fase de 
instrução preliminar já se encerrou. Além disso, já conhece toda a estratégia e os 
argumentos utilizados pela acusação. 
Desta forma, deve, obrigatoriamente, apresentar as teses que possam de 
alguma forma beneficiar seu cliente. 
Como já é de costume, é fundamental o cuidado com sua estrutura lógica, 
composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos (questões preliminares e teses 
de mérito) e pedidos. 
Deste modo, antes de analisar as possíveis teses de mérito (que levarão à 
absolvição ou condenação do Réu), deve-se analisar a existência de questões 
processuais que deverão ser arguidas em sede preliminar. 
Para isso, é preciso, mais uma vez, analisar as regras de competência para 
saber se a ação foi proposta perante o Juízo correto. Nesse sentido, deve-se observar 
o que diz nossa Constituição Federal no art. 5º, incisos XXXVII e XXXVIII, além do 
previsto no Código de Processo Penal em seus artigos 69 a 91 (em especial o art. 74) 
e 394. 
 
 
Em seguida, deve-se analisar a necessidade de arguir alguma das exceções 
previstas no Código de Processo Penal. Para isso, cumpre a verificação do disposto nos 
artigos 95 a 111 do CPP. 
Logo após, é necessária a análise da existência de alguma nulidade ocorrida em 
todo o procedimento até então realizado (artigos 394 ao 403 do CPP), nos termos dos 
artigos 563 a 573 do CPP e, em especial, verificar o respeito ao devido processo legal 
(artigo 5º, incisos LIV e LV da CF/88). 
Preste bastante atenção se os atos processuais foram realizados da forma e na 
ordem previstas em lei. Afinal, qualquer violação à norma legal que traga prejuízo às 
partes, é passível de anulação. 
 Art. 563. Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar 
prejuízo para a acusação ou para a defesa. 
Desta forma, para a alegação de nulidade no processo, é fundamental a 
demonstração do prejuízo sofrido pela parte. 
Esgotadas as questões preliminares (processuais), passa-se à análise das teses 
de mérito, que são aquelas que se referem ao fato supostamente criminoso imputado 
ao Réu. É justamente essa análise de mérito que determinará se o Acusado será 
absolvido ou condenado. 
Havendo mais de uma tese de mérito a ser alegada, deve-se começar sempre 
pela mais benéfica ao Réu, apresentando as demais como teses alternativas. 
Nos crimes de procedimento ordinário ou sumário, como no presente caso, a 
arguição de todas estas teses neste momento processual é fundamental, uma vez que, 
após a apresentação de alegações finais pela Defesa o processo vai imediatamente 
concluso ao MM. Juiz para a prolação de sentença. 
Para tanto, deve-se analisar se o fato existiu; se a classificação do crime está 
correta; se existem provas de autoria e materialidade, dentre outras questões.No caso em questão, Gabriel foi denunciado pela suposta prática do delito 
previsto no art. 147, caput, do Código Penal: 
 Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou 
qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: 
 Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
 
 
Desta forma, se tratando de imputação de crime contra a liberdade individual, 
mais especificadamente o crime de ameaça, torna-se indispensável que você, caro 
Advogado, faça uma análise detalhada do crime imputado ao seu cliente. 
Ameaçar nada mais é do que intimidar e incutir medo em alguém, sendo que o 
crime de ameaça deve consistir na promessa de causar mal injusto e grave, seja por 
palavras, escritos ou gestos, bem como por qualquer outro meio simbólico. Não sendo 
injusto e grave, a conduta do agente seria atípica. 
Ressalte-se, por fim, a necessidade de dolo específico que, no presente caso, 
revela-se na vontade do autor do delito em incutir medo na vítima, ou seja, intimidá-la, 
não sendo admitida a forma culposa em nosso ordenamento jurídico. 
Por fim, vale destacar que a atual doutrina possui o entendimento de que para 
configurar o tipo penal de ameaça é necessário que se verifique a seriedade e 
idoneidade, motivo pelo qual é comum encontrarmos decisões judiciais apontando pela 
não configuração da ameaça quando esta é produto de ato impensado, de revolta ou 
ira. 
Embora você esteja pensando que suas alegações finais serão bastante 
semelhantes à resposta à acusação já apresentada, não se esqueça de que, naquele 
momento, não havia nenhuma prova produzida em contraditório judicial. 
Já agora, com a fase de instrução preliminar finalizada, você já tem acesso a 
todo o conteúdo probatório existente e que será utilizado pelo Juiz para proferir sua 
decisão. 
Ou seja, sua abordagem neste momento deve ser ainda mais profunda do que 
anteriormente, inclusive com análise das provas produzidas (e, no presente caso, 
principalmente a testemunhal). 
Por fim, com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as teses 
arguidas ao longo da peça tenham seu respectivo pedido, sob pena de inépcia da 
mesma. 
Observe o quadro a seguir com uma síntese dos fundamentos legais: 
Quadro Síntese 
Alegações Finais Arts. 411 e 403 do CPP. Em especial, §4º 
do art. 411 e §3º do art. 403. 
 
 
Competência Art. 5º, incisos XXXVII e XXXVIII da 
CF/88 e arts. 69 a 91 e 394 do CPP. 
Exceções Arts. 95 a 111 do CPP. 
Nulidades Arts. 563 a 573 do CPP. 
Devido Processo Legal Art. 5º, LIV e LV da CF/88. 
Crime de Ameaça Art. 147 do CP. 
Procedimento Ordinário Arts. 394 a 405 do CPP. 
Fonte: elaborado pelo autor 
 
Com todos os elementos fornecidos, vocês agora já estão aptos a elaborar as 
alegações finais de Gabriel? 
Mãos à obra! 
Você já sabe que qualquer peça começa pelo endereçamento, que, obviamente, 
não pode estar errado. 
Conforme dito anteriormente, devemos nos atentar aqui às regras de 
competência. Deste modo, sugere-se analisar a Constituição Federal no art. 5º, incisos 
XXXVII e XXXVIII, bem como o Código de Processo Penal em seus artigos 69 a 91 (em 
especial o art. 74) e 394. 
Como em qualquer outra peça, é fundamental o cuidado com sua estrutura 
lógica, composta de narração dos fatos, fundamentos jurídicos (questões preliminares 
e teses de mérito) e pedidos. 
Sobre as provas, como as mesmas já foram produzidas, deve-se analisar 
profundamente seu conteúdo e utilizá-lo da forma mais adequada à defesa de seu 
cliente. 
Com relação aos pedidos, deve-se atentar para que todas as teses arguidas ao 
longo da peça tenham seu respectivo pedido. 
 
 
Lembre-se de que no “Exame de Ordem” você será avaliado pela correta 
indicação do foro competente, preâmbulo, qualificação das partes, fundamentação 
jurídica, pedidos e requerimentos, lógica e argumentação, além de ortografia e 
gramática. Vamos peticionar?

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