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da carne de porco ou de seus derivados crus ou mal cozidos. A biópsia muscular - tricnoscopia - mostra a presença de larvas L3. Mas falha no início da infecção ou quando o parasitismo for muito baixo. Triquinelose: diagnóstico e tratamento Os métodos imunológicos tardam em positivar-se, sen- do mais precoces os que detectam IgM. Atualmente o mais utiliza- do é o de ELISA. Mas, nas áreas endêmicas, grande parte da população já apresenta anticorpos, devido a infecções benignas anteriores. Em animais o diagnóstico é feito pela tricnoscopia ou pela digestão de tecidos suspeitos. Tratamento É feito com o mebendazol (200 mg durante 5 dias), o albendazol (400 mg durante 3 dias ou o pirantel (10 mg/kg de peso, 5 dias). Os sintomas regridem em 24 ou 48 horas. Eles podem ser melhora- dos com o uso se cortisona ou de outros medicamentos anti-inflamatórios. Epidemiologia e controle As principais áreas endêmi- cas estão fora dos trópicos. Na África, alguns casos estavam relacionados com o consumo de carne de “javali”. Os ratos são os principais reservatórios de T. spiralis e seu canibalismo assegura a transmissão de rato a rato. Mas, os animais que se ali- mentam habitual ou ocasio- nalmente destes roedores participam da cadeia de transmissão, como sucede com os porcos. Nos matadouros chilenos a tricnoscopia era positiva em 0,33% dos suínos. No Brasil, o problema mere- ce investigação. A prevenção exige a luta contra os roedores, a criação de porcos em condições sanitárias e a cocção da car- ne de porco ou derivados antes do consumo. O rato e o porco são as fontes de risco para a infecção humana (modificado de Jones & Jones, 1967). Leituras complementares ACHA, P.N. & SZYFRES, B. – Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los animales. 2a edição. Washington, Organización Panamericana de la Salud, 1997. JONES, A.W. & JONES, A.D. – Introduction to parasitology. Ontário, Addison-Wesley Publ. Co., 1967. MINISTÉRIO DA SAÚDE, FUNASA – Doenças Infecciosas e Parasitárias. Brasília, MS/FUNASA, 2000 [219 páginas]. REY, L. – Bases da Parasitologia. 2a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2002 [380 páginas]. REY, L. – Parasitologia. 3a edição. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856 páginas]. THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. – Diagnosing helminthiasis by coprological examination. Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986. PARASITOLOGIA MÉDICA PARASITOLOGIA MÉDICA 21. FILARÍASE LINFÁTICA 21. FILARÍASE LINFÁTICA Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro WUCHERERIA BANCROFTI E FILARÍASE Filárias e filaríases As filárias são nematóides da ordem Spirurida e da família Onchocercidae. Aí estão compreendidos os gêneros Wuchereria, Brugia, Onchocerca, Mansonella etc. Apenas duas espécies têm importância médica no Brasil: Wuchereria bancrofti ─ agen- te da filaríase linfática, que produz quadros clínicos muito diversos, desde as infecções assintomáticas e linfadenites, até orquiepididimites, linfangi- tes e elefantíase. Onchocerca volvulus ─ habita o tecido celular subcutâneo. Ela é responsável por pro- cessos degenerativos da pele e alteração dos linfáticos, cau- sando a doença denominada oncocercose. Outra filária do Novo Mundo, Mansonella ozzardi, não é patogênica ou o é muito pouco. Ela deve ser reconhecida para o diagnóstico diferencial entre suas microfilárias e as de W. bancrofti, na Região Amazô- nica, p. ex., pois ambas circu- lam no sangue dos pacientes. Wuchereria bancroftiWuchereria bancrofti Os helmintos adultos são filiformes, translú- cidos, de cutícula lisa, medindo as fêmeas 8 a 10 cm de comprimento por 0,3 mm de largura. Os machos medem 4 cm por 0,1 mm. Em ambos os sexos, a boca é simples e seguida de um esôfago muito longo (♀), que em grande parte é muscular, mas posteriormente torna-se secretor. O intestino não apresenta particularidades. A vulva da fêmea fica próxima da extremidade anterior (♀, o), sendo a vagina musculosa e o resto do aparelho genital feminino duplo. ♂ O extremo posterior do macho (♂) é enrolado ventralmente. As filárias adultas vivem no interior de linfáticos ou de linfonodos, onde os sexos encontram-se entrelaçados, formando nove- los que chegam a conter uma vintena de helmintos, na proporção de 1 macho para 5 fêmeas. Os vermes aí alimentam-se da linfa. ♀ Ciclo biológico do helminto 1. Ovo embrionado, produzido pelas fêmeas fecundadas. 2. Alongamento do ovo, pelo crescimento larvário. 3. A larva embainhada. 4. Larva L1 que circula no sangue e é sugada pelo Culex. 5. O Culex quinquefasciatus, onde as larvas sofrem 2 mudas e se tornam infec- tantes para o homem. 6. Larva L3 que se encontra na bainha da tromba do inseto. 7. Infecção humana, após a picada do inseto, que conduz aos quadros clínico. M.S./ Endemias rurais. Wuchereria bancroftiWuchereria bancrofti Por isso, somente os mosquitos com atividade noturna estão em condições de transmitir a infecção. Na Região Neotropical, é principalmente Culex quinquefasciatus que desempenha essa função. Na África e Ásia, ocorre a mesma periodicidade. Na variedade dessa filária encontrada nas ilhas do Pacífico Sul, as microfilárias podem ser encontradas no sangue periférico a qualquer hora do dia. A maturidade sexual tarda um ano para ser atingida. É quando aparecem as microfilárias na circulação. Entretanto, esses embriões, produzi- dos pela Wuchereria bancrofti no sistema linfático, acumulam-se nos capilares sanguíneos pulmonares e sua presença no sangue periférico só é observável nas horas da noite, pois obedece a um ritmo circadiano com pico de madrugada. Presença de microfilárias no sangue segundo a hora (Rachou & Deane). 24 Wuchereria bancroftiWuchereria bancrofti A longevidade dos vermes adultos é estimada em 4 a 6 anos; mas alguns autores admitem ser bem mais longa, baseados na filaremía que se mantém muitos anos depois dos pacientes terem abandonado as zonas endêmicas. A fêmea pare larvas embainhadas ─ as microfilárias ─ que circulam no sangue e mantêm-se em rápida movimentação, chicoteante e não direcional. A bainha corresponde à delicada casca do ovo que sofreu distensão, envolvendo a larva L1. Ela se presta para distinguir as microfilárias de W. bancrofti (A) de muitas outras que não apresentam bainha. Extremidades anterior e posterior das filárias: A, Wuchereria bancrofti; B, Brugia malayi, C, Loa loa; D, Onchocerca volvulus; E, Dipetalonema perstans; F, D. streptocerca; G, Mansonella ozzardi. Microfilárias de W. bancrofti Há um anel nervoso (d), um poro excretor (f) com a respectiva célula excretora (g), reservas nutritivas (h) e o primórdio genital (i). Há, também, outras células embrionárias (j), o ânus (k) e vários núcleos caudais (l) com uma disposição que permite distinguir as microfilárias de W. bancrofti das outras microfilárias eventualmente presentes no sangue. Para a identificação das microfilárias no sangue (colhido à noite) este deve ser fixado e corado como se faz para o diagnóstico da malária. As microfilárias medem 250-300 µm de comprimen- to possuindo, além da bainha (a), um estilete anterior (b), e células em- brionárias (c) que formarão o tegumento do verme adulto. Desenvolvimento no insetoDesenvolvimento no inseto Ao serem ingeridas por mosquitos de hábitos noturnos (Culex), que se alimentaram do sangue de pacientes infectados, as larvas (1), perdem a bainha (2) e invadem a hemolinfa.