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A dúvida como fundamento da pesquisa

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A dúvida como fundamento da pesquisa
Uma das maneiras mais eficazes para um estudante verificar se já tem algum domínio sobre um tema é formular perguntas sobre ele.
Pode fazer disso um exercício constante, uma atividade de ginástica mental que leva a alcançar uma percepção maior sobre qualquer assunto. Bem, mas fazer perguntas pode ter muitas outras utilidades, e nossa aula de hoje vai tratar de algumas delas. Nossa vida, afinal, acaba se tornando com um trabalho de aperfeiçoar constantemente a habilidade para lidar com questionamentos, mesmo que eles não venham por escrito.
Nossa aula anterior terminou com algumas orientações para facilitar a escolha do tema e sua delimitação. Sabemos que não é fácil delimitar. O espaço dedicado a esta parte ficou muito restrito na aula passada, e existe uma razão forte para que tenha sido assim.
É que o processo de delimitação de um tema exige reflexão e, nesses momentos, por vezes, o melhor a fazer é “dar uma esfriada na cabeça”, antes de retomar o problema.
A proposta agora é dar um passo adiante, por meio da problematização do tema. Se você já tem um tema pré-escolhido, uma técnica que pode ajudar um avanço no sentido da problematização é fazer perguntas a si mesmo sobre o tema. Aí, você verá como as técnicas que vamos propor de problematização podem ajudá-lo a delimitar com mais clareza o tema.
Em suma, a principal finalidade da presente aula é demonstrar como a dúvida pode servir de alicerce para a busca do conhecimento. Se você pesquisar nos anais da História da Ciência, verá que todas as descobertas humanas nasceram de momentos de dúvida.
E não somente as descobertas, como as grandes invenções e criações humanas, podem advir da dúvida. Diante do desafio de como enfrentar um problema sério, os homens criam saídas, buscam soluções e a trajetória da espécie neste planeta tem mostrado isso, desde eventos ocorridos em tempos distantes, como a descoberta de como fazer o fogo e a criação da roda.
Pois então, se você aproveitar o espaço desta semana para levantar questionamentos sobre o tema de pesquisa que escolheu, saiba que estará se juntando a ilustres personagens de nossa história, que fizeram da dúvida um motor para o avanço na aventura do conhecimento.
Fazer perguntas sobre o assunto que escolhemos para nossa pesquisa, a princípio, parece algo simples, mas depende de certo nível de conhecimento prévio. Mesmo que para apresentar soluções parciais, apontar caminhos para o surgimento de novos questionamentos, o certo é que todo pesquisador sempre busca respostas.
Grande parte do problema está em como perguntar, ou para ser mais preciso, como expressar sua dúvida. Veremos nesta aula que ter dúvidas está entre as coisas mais preciosas que podem acontecer a um estudante, desde que ele se debruce sobre o estudo e aceite o desafio do questionamento.
Se fizer isso, a dúvida o conduzirá adiante, funcionará como um agente impulsionador. A dúvida tanto pode deter o avanço de um estudante em seu processo de enriquecimento de aprendizado quanto pode servir como o fundamento mais essencial de suas pesquisas. Tudo depende da atitude que cada um terá diante dela.
Por conta disso, grande parte do conteúdo da presente aula versará sobre a arte da dúvida, ou seja, de fazer perguntas, para delas extrair conhecimento. Veremos como este é um processo contínuo no desenvolvimento de qualquer pesquisa científica, de qualquer reflexão crítica sobre a realidade.
Nesta aula, apontaremos alguns dos requisitos para a formulação de uma questão norteadora, que será a dúvida principal, a pergunta-chave, a qual o trabalho de pesquisa se propõe a responder. 
A esses requisitos daremos o nome de técnicas de problematização, mas por motivos que explicaremos adiante, não vamos usar a palavra “problema” como sinônimo de questão norteadora. Seguindo as recomendações aqui expressas, os alunos terão como elaborar sua pergunta-chave, cumprindo assim uma das etapas essenciais do seu Projeto de Pesquisa.
Por último, ainda nesta aula, chamaremos atenção para o fato de que ler sobre o tema escolhido não pode ser deixado para depois. É uma tarefa que deve começar desde já. A importância disso decorre do fato de que é uma tarefa que exige do estudante/pesquisador certo grau de maturidade, visto que o questionamento já demonstra um certo nível de conhecimento sobre o tema.
Duvidar para crescer
Antes de prosseguir, vamos propor a você uma reflexão:
Se tiver que escolher entre dois tipos de professores, um que traz sempre as respostas prontas e outro que é capaz de motivar a turma com questionamentos e dá tempo aos alunos para refletirem, antes de exigir respostas, que escolha faria?
Podem contar que, com raras exceções, os mestres mais questionadores são melhores para o nosso próprio crescimento. O fato de propor questões valendo ponto ou não é um detalhe secundário. Muitos aprendizados podem ser feitos fora dos parâmetros pedagógicos consagrados.
Será por demais ousado dizer que o professor ideal é o que provoca a reflexão?
Ou aquele que não se contenta com seus alunos quietos nos lugares, mas os quer integrados no propósito de buscar o conhecimento?
Então, essas perguntas levaram você a refletir sobre o assunto? Clique no ícone PDF e veja mais sobre o tema.
A seguir, apontaremos alguns cuidados necessários na formulação de uma questão norteadora.
Contudo, devemos considerar que a palavra tem muitas outras aplicações, muitos significados e, por isso, acabará sendo necessária, em nosso trabalho, para lidar com outras situações. Por esse motivo, optamos por manter a nomenclatura apontada inicialmente, ou seja, chamar a nossa pergunta-chave de “questão norteadora”, ou seja, as técnicas a serem observadas, com vistas a obter um bom resultado na formulação da questão norteadora.
Para tanto, vale adiantar que o processo de problematização do tema sempre é o ponto de partida, razão pela qual, muitas vezes, a questão norteadora também vem apresentada sob o nome de “problema”.
Deixar um aluno assim no ponto em que está, sem puxar mais dele, exigir mais dele, é permitir que demonstre somente que é capaz de resumir, quando não se reduz a reproduzir resumos já prontos. Afinal, a Internet está cheia deles, assim como os livros didáticos de Ensino Médio. Um estudante não fará jus ao seu diploma universitário se não ultrapassar essa etapa.
Técnicas para a problematização
De qualquer forma, as perguntas até então formuladas foram de importância central para que o pesquisador chegasse às suas primeiras conclusões, ainda provisórias, mas que forneceram material de pesquisa básico para o prosseguimento do trabalho. 
O mesmo se dá a qualquer um que se inicie nesta mesma seara. Pode ser que as primeiras respostas gerem novas perguntas. Não se exaspere. Ao contrário, desenvolva o hábito de tirar proveito disso.
Veja, então, o quanto a problematização é importante como parte de um conjunto de procedimentos que levará o estudante à plena realização de sua tarefa. 
Assim, a técnica de fazer perguntas ao tema deve ser incorporada como parte do próprio trabalho. De tal sorte que o seu projeto de pesquisa deve trazer o problema, ou se possível, mais de um, todos formulados em questionamentos que venham depois facilitar o desdobramento das etapas seguintes da pesquisa.
As vantagens de fazer essas perguntas-chave ao tema não param por aí. Além de ajudar o pesquisador a delimitar seu tema com mais clareza, a problematização também confere à pesquisa uma dinâmica mais intensa, uma vez que tudo o que vier a seguir serão tentativas de responder ao questionamento apresentado.
Assim, as perguntas formuladas foram de importância central para que o pesquisador chegasse às suas primeiras conclusões, ainda provisórias, mas que forneceram material de pesquisa básico para o prosseguimento do trabalho. O mesmo se dá a qualquer um que inicie esta mesma seara. Pode ser que as primeiras respostas gerem novas perguntas. Não se exaspere.
Ao contrário, desenvolva o hábito de tirar proveito disso. Neste caso, com tudoanotado em rascunho, o estudante/pesquisador estará avançando em sua interação com o tema com o qual se comprometeu. 
Não tenha medo de ter dúvidas, busque as informações necessárias para sanar essas dúvidas. Elas podem se tornar a trilha que levará ao sucesso.
O que propomos agora é que você dirija questionamentos ao seu tema, esteja ele em que ponto estiver do seu processo de delimitação. Não passe para a próxima aula sem cumprir essa tarefa. Tal procedimento é muito importante para o andamento do trabalho. E alguns desses questionamentos, os que vierem a se mostrar mais fecundos, devem ser destacados em seu projeto de pesquisa.
Para efeito de um resultado mais adequado, a questão norteadora deve atender a alguns requisitos. Antonio Carlos Gil (2002), autor incluído em nosso material didático, sugere que se preste atenção aos seguintes aspectos:
Ler, desde já, é preciso!
Na aula anterior, observamos que um dos critérios para a escolha do tema é justamente verificar se existe quantidade suficiente de material acessível, justamente para evitarmos situações como a do estudante que escolhe um tema que o fascina, mas depois não encontra sobre o assunto mais do que textos de modesta capacidade de informação ou penetração crítica.
Por outro lado, observamos também que um dos critérios para a escolha do tema é a motivação gerada pelo fato de estar o estudante em contato com um tema que o interessa, que desperta sua curiosidade, sua vontade de participar do debate. Isso deve ser usado como um recurso por meio do qual cada um se sentirá previamente estimulado a ler sobre o tema selecionado.
Para o estudante de Serviço Social, como de resto para todos os que estudam a sociedade, nos mais diversos enfoques, a leitura diária de jornais é altamente recomendável. Neste caso, é sempre bom chamar a atenção do aluno quanto ao tratamento sensacionalista que muitos órgãos da imprensa dão aos temas. Entretanto, este ainda é um recurso indispensável para que o estudante se mantenha atualizado.
No que diz respeito à busca de leituras capazes de enriquecer a reflexão sobre o tema escolhido para o projeto, vale considerar o que se pode ler em bibliotecas, o que se pode adquirir em livrarias e o que se pode pesquisar na Internet. Nenhum recurso deve ser excluído ou colocado em segundo plano. Mas, de um modo ou de outro, sempre é importante dedicar um tempo em sua agenda semanal para ler. Esta é uma condição que não pode ser negligenciada.
Para tanto, vale considerar o acervo da Biblioteca Virtual da Estácio, que pode ser acessado por qualquer aluno, no SIA. Por meio deste recurso, é possível ter acesso a obras de editoras parceiras de nossa universidade, ou mesmo obter os livros, por encomenda, a preços acessíveis.
Técnicas de Leitura
Agora, temos algumas recomendações sobre a maneira de se lidar com o material oriundo de leituras. Trata-se de um conjunto de técnicas sobre como obter o melhor rendimento possível do que se lê. Isso tem como pressuposto que a interação do aluno com os textos deve ser, na medida do possível, desprovida de qualquer pressa ou ansiedade. Assim, dispense a cada texto três momentos de leitura:
Em um primeiro, preocupe-se em ter uma visão geral do que diz o texto, ou seja, leia o texto como um todo, sem necessariamente se preocupar com reter as informações. Muitas vezes, o sentido pleno de um texto se completa somente quando chegamos às últimas páginas, a suas considerações finais. Este também será um momento em que você terá oportunidade de verificar em que medida o texto em questão merece atenção suficiente para ser submetido às etapas seguintes.
c) Finalmente, para aqueles textos especialmente relevantes, vale a pena retornar. Já não se trata mais apenas de tomar notas, mas de elaborar respostas aos questionamentos propostos por essas leituras. Assim, em seu caderno, virá à tona bem mais do que a simples paráfrase do que o texto diz, virão já fragmentos do que você poderá, mais tarde, usar em seu próprio texto. Nesta etapa, temos um avanço no processo de diálogo com as leituras escolhidas para enriquecer nossa reflexão.
É fácil perceber, em todo esse processo, a fecunda interconexão entre as práticas da leitura e da produção escrita, de tal modo que este momento de ler e refletir pela terceira vez sobre as obras mais importantes será também o momento de elaboração de grande parte do texto do seu trabalho.
Assim, fica claro que o processo de elaboração de um Projeto de Pesquisa é um entregar-se continuamente à reflexão sobre o tema, de modo a avançar cada vez mais, movido pela curiosidade científica e pelo empenho em participar dos debates sociais, contribuindo para a criação de soluções que tornem mais aceitável o convívio entre as pessoas nos tempos em que vivemos.
Para entender melhor os conceitos estudados nesta aula, vamos fixar o conteúdo?
Retome o seu tema, já devidamente delimitado, e proponha dois questionamentos secundários que possam ajudar no enriquecimento de sua reflexão sobre ele. Cada um deles deve ser apresentado na forma de uma pergunta que atenda aos critérios de clareza, precisão e coerência, estudados nesta aula. Em seguida, para cada uma dessas perguntas, elabore uma resposta de pelo menos dois parágrafos.
A seguir, observe todas as técnicas de problematização que estudamos, com vistas a propor um questionamento principal, que virá a ser a Questão Norteadora do seu projeto. Por motivos óbvios, esta questão não deve ser respondida, ainda.

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