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a teoria na pratica responsabilidade civil vol 1 alberto bezerra amostra 140526143436 phpapp01

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EDITORA JUDICIA
A TEORIA NA PRÁTICA:RESPONSABILIDADE CIVIL
Vol. 01
Alberto Bezerra de Souza
Prática jurídica civil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Juliana Soares Lima – Bibliotecária – CRB-3/1120)
Índices para catálogo sistemático:1. Responsabilidade Civil : Direito Civil: Direito 342.1
S719p Souza, Alberto Bezerra de.A Teoria na Prática: Responsabilidade Civil. / AlbertoBezerra de Souza. – Fortaleza: Judicia Cursos Profissionais,2013.854 p. ; 17x24 cm. – (A Teoria na Prática; v. 1)
ISBN 978-85-67176-10-9
1. Direito Civil. 2. Responsabilidade Civil. 3. PeçaProcessual (Direito Civil). 4. Processo Civil. 5. Prática Forense.I. Souza, Alberto Bezerra de. II. Título. III. Série.CDD 342.1CDU 347.1
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, ALBERTINO MENESES e MARIA ELDI, alicerce da minha vida,
exemplo e orgulho para toda nossa família.
Aos meus queridos alunos da Universidade Federal do Ceará, alunos que, em
verdade, em muito fizeram-me aprender com o diálogo em sala de aula e que me instaram
muitas vezes a refletir.
ÍNDICE
1. Considerações genéricas da responsabilidade civil............................................................................... 1
1.1. Pressupostos da responsabilidade civil.......................................................................................... 1
1.1.1. Conduta humana (ação ou omissão)....................................................................................... 3
1.1.2. Dano ou prejuízo.................................................................................................................... 4
1.1.3. Nexo de causalidade .............................................................................................................. 5
1.1.4. Dolo ou culpa ......................................................................................................................... 8
1.2. Responsabilidade contratual e extracontratual ............................................................................. 9
1.3. Responsabilidade objetiva e subjetiva........................................................................................... 9
1.4. As relações de consumo e o dever de indenizar .......................................................................... 13
1.5. Dano material ............................................................................................................................. 16
1.6. Dano moral................................................................................................................................. 16
1.7. Dano estético.............................................................................................................................. 17
1.8. Dano de ricochete....................................................................................................................... 20
1.9. Teoria da perda de uma chance .................................................................................................. 21
1.10. Danos morais e o “Pretium dolloris” ......................................................................................... 22
2.1. PETIÇÃO INICIAL – INDENIZAÇÃO – NEGATIVAÇÃO INDEVIDA...................................................... 27
2.2. RÉPLICA À CONTESTAÇÃO ............................................................................................................ 50
2.3. MEMORIAIS .................................................................................................................................... 74
2.4.1.AGRAVO DE INSTRUMENTO – INDEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA ..................................... 94
2.4.2.APELAÇÃO ADESIVA – MAJORAR VALOR DA CONDENAÇÃO ...................................................... 111
2.4.3. APELAÇÃO ................................................................................................................................ 124
2.4.4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO PREQUESTIONADORES................................................................ 148
2.4.5. CONTRARRAZÕES A RECURSO DE APELAÇÃO............................................................................ 154
2.4.6. RECURSO ESPECIAL – MAJORAR VALOR DA CONDENAÇÃO ....................................................... 177
2.4.7. CONTRARRAZÕES A RECURSO ESPECIAL .................................................................................... 195
2.4.8. AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS ................................................................................................ 231
2.4.9. CONTRAMINUTA NO AGRAVO NOS PRÓPRIOS AUTOS............................................................... 245
2.4.10. AGRAVO REGIMENTAL NO STJ ................................................................................................. 281
3.1. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO..................................................................... 290
3.2. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – PROPAGANDA ENGANOSA ................................................................. 318
3.3. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – COLISÃO DE VEÍCULOS.......................................................................... 331
3.4. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – COBRANÇA VEXATÓRIA........................................................................ 342
3.5. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – ABORDAGEM COM ACUSAÇÃO DE FURTO......................................... 366
3.6. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – NEGATIVA DE PRÓTESE – PLANO DE SAÚDE....................................... 389
3.7. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – TRAVAMENTO DE PORTA GIRATÓRIA DE BANCO................................ 408
3.8. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – EXTRAVIO DE BAGAGEM ...................................................................... 433
3.9. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – ACIDENTE DE TRABALHO - MORTE ..................................................... 461
3.10. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – RECUSA DE PROCEDIMENTO CIRÚRGICO.......................................... 495
3.11. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – ENVIO DE CARTÃO DE CRÉDITO NÃO SOLICITADO .............................. 513
3.12. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DEPÓSITO DE CHEQUE ANTES DA DATA ........................................... 535
3.13. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – CESSÃO DE CRÉDITO – AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO.................... 557
3.14.AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DANOS MATERIAIS – RESSARCIMENTO HONORÁRIOS CONTRATUAIS582
3.15. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DANO À IMAGEM – INJÚRIA DIFAMAÇÃO EM REDE SOCIAL............ 599
3.16. AÇÃO CAUTELAR INESPECÍFICA PREPARATÓRIA – PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR..................... 626
3.17. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DANOS MORAIS, MATERIAIS E ESTÉTICOS – ATROPELAMENTO ........ 647
3.18. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – DEVOLUÇÃO INDEVIDA DE CHEQUE ................................................ 673
3.19.AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – FURTO DE CARTÃO DE CRÉDITO ....................................................... 690
3.20. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – CORTE INDEVIDO DE ENERGIA ELÉTRICA.......................................... 715
3.21. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – ERRO DE LABORATÓRIO ................................................................... 741
3.22. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – ATRASO DE VOO – LITISCONSÓRCIO PASSIVO ..................................... 767
3.23. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – BULLYING ESCOLAR .......................................................................... 793
3.24. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – FURTO DE VEÍCULO EM ESTACIONAMENTO GRATUITO.................... 817
3.25. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO – TELEFONIA CELULAR – CADASTRO FRAUDULENTO.............................. 833
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................... 848
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 1
1. Considerações genéricas da responsabilidade civil
1.1. Pressupostos da responsabilidade civil
Segundo as lições de Carlos Roberto Gonçalves, para a configuração do dever de
indenizar, referindo-se ao art.186 do Código Civil, faz-se necessária a concorrência cumulativa dos
seguintes fatores: “A análise do artigo supratranscrito evidencia que quatro são os elementos
essenciais da responsabilidade civil: ação ou omissão, culpa ou dolo do agente, relação de
causalidade, e o dano experimentado pela vítima.” 1
Contudo, Flávio Tartuce ressalva que, para alguns doutrinadores civilistas, os pressupostos
em debate limitam-se a três. Todavia, mencionado autor destaca que prevalece a tese de quatro
requisitos, entendimento o qual filia-se, in verbis: “Na estrutura de sua obra, Carlos Roberto
Gonçalves leciona que são quatro os pressupostos da responsabilidade civil: a) ação ou omissão;
b) culpa ou dolo do agente; c) relação de causalidade; d) dano (Responsabilidade ..., 2005, p. 32) (
. . . ) Mas já há autores que apontam a culpa genérica um elemento acidental da responsabilidade
civil, como é o caso de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho que apresentam somente
três elementos para obter o dever de indenizar: a) conduta humana (positiva ou negativa); b) dano
ou prejuízo; c) nexo de causalidade. ( . . . ) De qualquer forma, ainda prevalece o entendimento
pelo qual a culpa em sentido amplo ou genérico é sim elemento essencial da responsabilidade civil,
tese à qual este autor se filia.”2
De fato, percebe-se que a jurisprudência outrossim divide-se nesse tocante:
APELAÇÃO CÍVEL. Ação de indenização. Acidente de trânsito. Incidência dos requisitos
ensejadores da responsabilidade civil: culpa, nexo causal e dano. Dever de indenizar. Dano
1 Carlos Roberto Gonçalves, Responsabilidade civil, p.66
2 Flávio Tartuce, Direito civil, p. 342.
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material configurado. Sentença mantida. Recurso improvido. Decisão unânime. (TJSE - AC
2013214159; Ac. 12026/2013; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. José dos Anjos; Julg.
13/08/2013; DJSE 19/08/2013)
APELAÇÕES CÍVEIS. Ação de indenização. Falecimento de paciente em razão de erro
médico. Gaze esquecida no corpo do paciente durante procedimento cirúrgico. Necessidade
de nova cirurgia cujas complicações resultaram no óbito. Nexo de causalidade entre a
conduta e o evento danoso demonstrado. Danos morais fixados com razoabilidade. Decisão
mantida. Recurso improvidos. O dever de indenizar decorrente de responsabilidade subjetiva
caracteriza-se com o preenchimento de 4 (quatro) requisitos legalmente exigidos: 1) a
conduta; 2) o resultado; 3) o nexo causal entre ambos; e, 4) a culpa em qualquer de suas
modalidades. Negligência, imprudência e imperícia. Restando demonstrado o nexo de
causalidade entre o esquecimento de compressas cirúrgicas dentro do corpo do paciente e o
seu óbito, é de ser reconhecido o direito de indenização em favor da viúva. Danos morais
presumidos, diante do incontestável e expressivo sofrimento da perda do cônjuge. O valor
da indenização por danos morais não tem tabelamento e nem se encontra arrolado em Lei,
devendo ser feito com prudência e moderação pelo magistrado, com observação das
diretrizes traçadas para casos idênticos pelos tribunais superiores, sempre levando em
consideração o dano experimentado, sua extensão e repercussão na esfera e no meio social, a
conduta que o causou e a situação econômica das partes. Deve, ademais, implicar em
desmotivação da reiteração de prática de atos idênticos por parte da apelante, criando
estímulo para não se dar continuidade na reiteração de atos de idêntica natureza. Recursos
improvidos. (TJMS - APL 0013283-05.2008.8.12.0001; Campo Grande; Quarta Câmara
Cível; Rel. Des. Dorival Renato Pavan; DJMS 12/08/2013)
DIREITO CIVIL. PROCESSO CIVIL. CONTRATO DE VIGILÂNCIA. ASSALTO A
AGÊNCIA BANCÁRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA CONTRATADA.
ÔNUS DA PROVA. ART. 333, I DO CPC. AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO.
HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS FIXADOS COM BASE NO § 4º DO ART. 20 DO
CPC. MANUTENÇÃO. 1. Para que se configure a responsabilidade civil da empresa de
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vigilância, cumpre ao autor comprovar a ação ou omissão, o dolo ou a culpa, o nexo de
causalidade entre a conduta e a ocorrência do dano. Ausentes quaisquer desses requisitos,
fica afastado o dever de indenizar. 2. Os honorários de sucumbência foram fixados de
acordo com o CPC 20, § 4º, e, em observância aos critérios estabelecidos nas alíneas do § 3º
do art. 20 do CPC, não comportando majoração. 3. Recursos conhecidos e não providos.
Unânime. (TJDF - Rec 2010.01.1.214951-5; Ac. 698.830; Segunda Turma Cível; Relª Desª
Fátima Rafael; DJDFTE 06/08/2013; Pág. 108)
Adotamos a linha de entendimento de Tartuce, porquanto reza a Legislação Substantiva
Civil que:
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
1.1.1. Conduta humana (ação ou omissão)
A responsabilidade civil reclama, antes de tudo, um comportamento humano de sorte a
colidir com o ordenamento jurídico. Essa conduta, assim como disciplinado pela legislação penal3,
é composta pela ação ou omissão.
Destarte, com respeito à omissão, diz-se tratar-se de um non facere com respeito a um bem
tutelado juridicamente, de sorte a evitar a ocorrência do resultado que implique em ofensa a direito
alheio. Desse modo, revela-se como uma conduta negativa, quando o agente deixa de atuar em
consonância com determinada ação esperada.
De outro contexto, a ação, ao revés, lecionam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona
3 Código Penal: Art. 13 – O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a que lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido.
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Filho que: “A primeira delas traduz-se pela prática de um comportamento ativo, positivo, a
exemplo do dano causado pelo sujeito que, embriagado, arremessa seu veículo contra o muro do
vizinho.”4
1.1.2. Dano ou prejuízo
O dever de indenizar também reclama a existência de prejuízo alheio, além do ato ilícito. A
propósito, é o que encontramos da redação do art. 186 do Código Civil (“viola direito e causar
dano a outrem”).
Diante disso, não obstante exista um ato ilícito, para que revele-se no dever de indenizar,
necessariamente deverá haver um dano à vítima, seja de ordem material ou moral.
Nesse sentido, é ancilar o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. FALTA DE REALIZAÇÃO DE CONSULTA MÉDICA. DANO OU
PREJUÍZO NÃO CONFIGURADO. Não restando configurado dano ou prejuízo pela falta
de realização de consulta médica ou humilhação aos menores ou sua genitora, o caso é de
manter inalterada a sentença recorrida. Apelação improvida. (TJGO - AC 0112266-
37.2010.8.09.0006; Anápolis; Quarta Câmara Cível; Rel. Des. Carlos Escher; DJGO
05/08/2013; Pág. 220)
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E
MORAIS. AGRAVO RETIDO. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. DETRAN/MG. AUSÊNCIA
DE CAPACIDADE PARA SER PARTE. FORNECIMENTO DE PRODUTO DE FORMA
DESIDIOSA. DANO MORAL. CULPA DA RÉ COMPROVADA. DEVER DE
INDENIZAR. RECURSO ADESIVO. QUANTUM. VALOR DESPROPORCIONAL.
MAJORAÇÃO. SENTENÇA REFORMADA. 1. o Detran/MG não pode figurar no pólo
4 Pablo Stolze Gagliano; Rodolfo Pamplona Filho, novo curso de direito civil, vol. 03, p. 75.
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passivo da ação, porque sendo órgão da Administração Pública, não possui personalidade
jurídica, não tendo capacidade de ser parte. 2. a responsabilidade civil estará caracterizada
quando presentes seus três elementos, quais sejam: a) a conduta humana, b) o dano ou
prejuízo e c) o nexo causal entre os dois primeiros elementos. 3. para o arbitramento do
valor da indenização por danos morais, há que se levar em contao princípio da
proporcionalidade, a capacidade econômica do ofensor, a reprovabilidade da conduta ilícita
praticada e que o ressarcimento do dano não se transforme em ganho desmesurado,
importando em enriquecimento ilícito. 4. a vítima de uma lesão a qualquer dos direitos,
desde que indevidamente, deve ser ressarcida no prejuízo quando existente. Sendo a
violação a algum direito elencado entre aqueles sem cunho patrimonial efetivo, mas protetor
de um bem jurídico que tenha maior repercussão que o patrimonial, deve ter a dor ou o
sofrimento compensado com valor que lhe seja compatível, não se esquecendo da
consideração que a indenização não é fonte de enriquecimento e nem que seja tão pequena a
ponto de se tornar inexpressiva. (TJMG - APCV 1.0079.08.411069-5/001; Rel. Des.
Rogério Coutinho; Julg. 10/07/2013; DJEMG 15/07/2013)
1.1.3. Nexo de causalidade
Não é pertinente argumentar-se em prejuízo, capaz de reproduzir um dano
compensável, sem, antes de tudo, aferir-se se a conduta do agente foi capaz de causar o
dano. É dizer, há de existir um elo de ligação entre o comportamento do ofensor e o
resultado danoso perpetrado.
Nesse rumo, urge asseverar as considerações doutrinárias de Carlos Alberto Bittar:
“Por fim, deve o agir estar relacionado com o dano. Há de existir um vínculo afetivo entre
a ação ou a omissão e o resultado. Tal relação de causalidade, dentro da equivalência das
condições, precisa ser comprovada. Desse modo, o autor da ação, que, a princípio, é o
lesado, deverá provar o dano, a ação ou a omissão do causador do dano e o nexo causal.
Esses encargos probatórios nem sempre são fáceis, e, na maioria das vezes, acarretam a
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perda do direito ao ressarcimento.”5
Com efeito, em abono à lição da doutrina supra mencionada, de todo oportuno
transcrever os seguintes arestos do STJ:
RECURSOS ESPECIAIS. PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. DOENÇA
DECORRENTE DE TRABALHO. REDUÇÃO PARCIAL E PERMANENTE DA
CAPACIDADE LABORATIVA. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO
EMPREGADOR. PENSIONAMENTO. TERMO INICIAL. REPARAÇÃO POR
DANO MORAL. VALOR ADEQUADO. RECURSO ESPECIAL DA
EMPREGADORA DESPROVIDO. RECURSO ESPECIAL DA EX-
EMPREGADA PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A jurisprudência desta corte de justiça é firme no sentido de reconhecer, com
amparo no Código Civil de 1916, que a responsabilidade do empregador, decorrente
de acidente ou doença de trabalho, é, em regra, subjetiva, fundada em presunção
relativa de sua culpa. Cabe, assim, ao empregador o ônus da prova quanto à
existência de alguma causa excludente de sua responsabilidade. 2. O colendo
tribunal de origem, à luz dos princípios da livre apreciação da prova e do livre
convencimento motivado, bem como mediante análise soberana do contexto fático-
probatório dos autos, inclusive provas técnicas, concluiu que ficou cabalmente
demonstrada nos autos a existência de nexo de causalidade entre a doença da
autora (ler) e a atividade laborativa por ela desenvolvida, e que não eram
adotadas pela empregadora, no período em que as lesões se manifestaram, todas
as medidas necessárias à preservação da incolumidade física do trabalhador.
Assim, a inversão do julgado encontra óbice no enunciado da Súmula nº 7 do STJ.
3. Diante da peculiaridade de a ex-empregada ter continuado trabalhando,
certamente com sacrifício e maior esforço para superar suas mazelas, mostra-se
correta a aplicação do raciocínio trazido no precedente da colenda segunda seção
5 Carlos Alberto Bittar(coord.), responsabilidade civil por danos aos consumidores, p. 29
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(eresp 812.761/rj), segundo o qual a pensão devida à vítima de acidente ou doença
do trabalho deve ser paga desde a data do evento danoso. 4. O valor estabelecido
pelas instâncias ordinárias a título de indenização por danos morais somente pode
ser revisto por esta corte superior nas hipóteses em que a condenação se revelar
irrisória ou exorbitante, distanciando-se dos padrões da razoabilidade, o que não
ocorre no caso em exame. 5. Recurso Especial da empregadora desprovido e
Recurso Especial da ex-empregada parcialmente provido. (STJ - REsp 968.453;
Proc. 2007/0165505-8; ES; Quarta Turma; Rel. Min. Raul Araújo; DJE 23/08/2013;
Pág. 559)
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO
ESTADO. OBRA PÚBLICA. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 535 DO CPC. NÃO
OCORRÊNCIA. COMPROVAÇÃO DO DANO E DO NEXO DE
CAUSALIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. DANOS MORAIS E REVISÃO DO
VALOR DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ARBITRADOS. SÚMULA Nº
7/STJ. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. TERMO A QUO PARA
INÍCIO DA CONTAGEM DOS JUROS MORATÓRIOS. DATA DO EVENTO
DANOSO. SÚMULA Nº 54/STJ.
1. Não há violação do artigo 535, I e II, do CPC, quando o tribunal de origem julga
de forma clara, coerente e fundamentada, a matéria que lhe foi submetida a
julgamento, pronunciando-se, suficientemente, sobre os pontos que entendeu
relevantes para a solução da lide. 2. O tribunal a quo, soberano na análise do acervo
fático-probatório dos autos, concluiu que, em virtude da falta de cuidados para
execução da obra pública, em perímetro urbano, a autora sofreu grave acidente,
ao cair dentro de um buraco, advindo do fato uma fratura no tornozelo, de forma
que restou demonstrado o dano e o nexo de causalidade para configuração do
dano moral. Ainda, entendeu o tribunal pela responsabilidade solidária do
município, pois o fato decorreu da falta de diligência adequada para a execução da
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 8
obra, sendo que cabia ao agravante fiscalizar aqueles que lhe prestam serviço.
Revisar tal entendimento demandaria revolvimento de matéria fático- probatória, o
que é vedado por força do óbice da Súmula nº 7/STJ. 3. A jurisprudência do
Superior Tribunal de justiça firmou o entendimento de que a revisão do valor a ser
indenizado e do honorários advocatícios somente é possível quando exorbitante ou
irrisória a importância arbitrada, o que não é o caso dos autos. 4. Na seara da
responsabilidade extracontratual, os juros moratórios fluem a partir do evento
danoso e não a partir da citação (Súmula nº 54/STJ). Precedentes. 5. Agravo
regimental não provido. (STJ; AgRg-AgRg-AREsp 289.198; Proc. 2013/0018205-6;
RJ; Primeira Turma; Rel. Min. Benedito Gonçalves; DJE 21/08/2013; Pág. 812)
1.1.4. Dolo ou culpa
Se o agente leva a efeito um ato lesivo com um propósito consciente e desejado de
lesar outrem, estamos diante de um agir doloso. Há, dessarte, para alguns, o chamado
“animus injuriandi”, quando assim age ofendendo bem jurídico preexistente de sorte a obter
um resultado maléfico. Dessa forma, conclui-se que a intenção de prejudicar é mister nesse
proceder do ofensor.
De outra banda, no tocante à culpa, em sentido genérico, o agressor, diversamente
do dolo, almeja a ação, todavia não o resultado danoso.
Assim sendo, quanto à culpabilidade, conquanto não exista o desejo de produzir o
dano, há, no entanto, um determinado prejuízo. Esse dano, urge asseverar, surge por
imprudência6, negligência7 ou imperícia8 do ofensor.
6 Conduta comissiva ou omissiva, coexistente com falta de cautela.
7 É o proceder ausente dos cuidados necessários, com descaso, sem a indispensável
reflexão.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 9
1.2. Responsabilidade contratual e extracontratual
Como antes dito, a culpa, resultando em dano ou prejuízo ao ofendido, resulta da
violação de um direito alheio preexistente.
Nesse enfoque, esse direito que preexiste ao ato danoso pode advir de um acerto
contratual ou, ao revés disso, à luz de descumprimento de um determinando preceito legal,
em culpa extracontratual ou aquiliana. Assim, temos que a culpa contratual resulta de um
descumprimento de um preceito ajustado contratualmente,assim observado, sobretudo, o
direito obrigacional. Todavia, no que tange à culpa aquiliana, há um desrespeito a preceito
geral que ordena que atuem-se de sorte a ter em conta os direitos das pessoas e bens
alheios.
1.3. Responsabilidade objetiva e subjetiva
Como visto nas linhas anteriores, a responsabilidade civil se constitui na aplicação
de medidas que obriguem uma pessoa a reparar um dano de caráter patrimonial ou moral a
terceiros, causado em razão de ato seu ou de seu preposto, decorrente de dispositivo legal
ou de alguma coisa a ela pertencente. Ou seja, a responsabilidade civil se dá a partir da
prática de um ato ilícito, mediante o nascimento da obrigação de indenizar, com o fito de
colocar a vítima ao estado quo ante.
No código substantivo vigente, a responsabilidade civil é encontrada em três
principais dispositivos, quais sejam, artigos 186, 187 e 927.
8 É o proceder inábil de um profissional no exercício de seu mister, de natureza técnica,
revelando uma incapacidade de atuar como tal.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 10
Por outro lado, a responsabilidade civil pode deter natureza subjetiva ou objetiva.
Em apertada síntese, a natureza subjetiva se verifica quando o dever de indenizar
se originar de comportamento do sujeito que causa danos a terceiros, por dolo ou culpa9,
enquanto que, na responsabilidade objetiva, necessário somente a existência do dano e o
nexo de causalidade para emergir a obrigação de indenizar, sendo sem relevância, pois, a
conduta culposa ou não, do agente causador.
9 A proposito do tema: “APELAÇÃO CÍVEL. REPARAÇÃO DE DANOS. CULPA
EXCLUSIVA DA VÍTIMA. NEXO DE CAUSALIDADE INTERROMPIDO. A PARTE
AUTORA NÃO COMPROVOU A CULPA DO CONDUTOR DO ÔNIBUS. LAUDO
PERICIAL INEXISTENTE. APLICAÇÃO DO SISTEMA DO LIVRE
CONVENCIMENTO MOTIVADO. SENTENÇA CONFIRMADA. 1 - Observa- se que a
legislação cível brasileira estabeleceu como regra geral a responsabilidade civil subjetiva,
ou seja, aquela que pressupõe a existência de dolo ou culpa do agente. Entretanto, quando
a culpa é exclusiva da vítima, resta excluída a responsabilidade civil do agente e,
consequentemente, resolvida a questão no tocante à indenização. 2 - O queimporta, no
caso, é apurar se a atitude da vítima teve o efeito de suprimir a responsabilidade do fato
pessoal do condutor do caminhão, afastando sua culpabilidade. 3 - Sabe- se que o julgador
para formar seu convencimento acerca das provas apresentadas, arrimado pelo Sistema do
Livre Conhecimento Motivado, adotado pelo ordenamento jurídico pátrio, é livre para
formar seu convencimento, sendo necessária a fundamentação do seu entendimento, nos
termos do art. 131 do CPC. 4 - No caso em epígrafe, ocorreu atropelando de uma criança
que, desacompanhada de qualquer responsável, apesar de ter apenas nove anos, estava
sozinha trafegando de bicicleta por uma via de grande movimentação de veículos pesados
em que costumeiramente acontecem acidentes de tal natureza, por uma veículo que,
conforme depoimento prestado por testemunha da própria parte autora, vinha em
velocidade moderada, não configurando nenhuma irregularidade. 5 - Recurso conhecido e
improvido. (TJCE - AC 0599567- 05.2000.8.06.0001; Sétima Câmara Cível; Rel. Des.
Durval Aires Filho; DJCE 22/08/2013; Pág. 63)
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 11
De outro bordo, a responsabilidade objetiva, também denominada de teoria do
risco, não é um instituto recente, porquanto funda-se num princípio de equidade, existente
desde o direito romano, calcado na premissa de que todo aquele que lucra com uma
determinada situação, deve responder pelo risco ou pelas desvantagens dela decorrentes.
De bom alvitre revelar que no Código Civil há norma expressa nesse sentido, que
assim prevê:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.
Ensinando acerca do tema em enfoque, Francisco Antônio de Oliveira argumenta
com respeito à teoria do risco que: “Como fundamento da responsabilidade civil, o
legislador admite a chamada ‘teoria do risco’ como fundamento de responsabilidade por
dano causado. A teoria do risco traduz meio põe qual a pessoa, cujo empreendimento
coloca em riscos terceiros, seja obrigado a indenizar. Não há que se perquirir sobre a
existência ou não de culpa. O próprio empreendimento levado a cabo pelo indivíduo ou
pela empresa já tem contido no seu núcleo operacional o risco contra todos. O nexo de
causalidade e os riscos caminham juntos. Nesse caso, não haverá necessidade de provar-se
a existência de culpa para dar suporte à indenização.“10
Com o mesmo pensar, advertem Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:
“Muitos desconhecem, mas KARL LARENZ, partindo do pensamento de HEGEL, já havia
desenvolvido a teoria da imputação objetiva para o Direito Civil, visando estabelecer
limites entre os fatos próprios e os acontecimentos acidentais. No dizer do Professor LUIZ
10 Francisco Antônio de Oliveira, curso de direito do trabalho, p. 1124.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 12
FLÁVIO GOMES: ‘A teoria da imputação objetiva consiste basicamente no seguinte: só
pode ser responsabilizado penalmente por um fato (leia-se a um sujeito só poder ser
imputado o fato), se ele criou ou incrementou um risco proibido relevante e, ademais, se o
resultado jurídico decorreu desse risco. Nessa linha de raciocínio, se alguém cria ou
incrementa uma situação de risco não permitido, responderá pelo resultado jurídico
causado, a exemplo do que corre quando alguém da causa a um acidente de veículo, por
estar embriagado (criador do risco proibido), ou quando se nega a prestar auxílio a
alguém que se afoga, podendo fazê-lo, caracterizando a omissão de socorro (incremento
do risco). Em todas essas hipóteses, o agente poderá ser responsabilizado penalmente, e,
porque não dizer, para aqueles que admitem a incidência da teoria no âmbito do Direito
Civil.“ 11
Nesse contexto, cumpre-nos evidenciar alguns julgados:
RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS.
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. Indenização por danos morais decorrentes de
indevido apontamento negativo em nome do autor. Cobrança de débito resultante de
contrato de financiamento não contratado pelo autor. A ré lançou o nome do autor
no cadastro de inadimplentes. O dano moral tem natureza in re ipsa e, por isso,
prescinde de demonstração. Aplicação na espécie da teoria do risco, acolhida pelo
art. 927, parágrafo único, do Código Civil, que responsabiliza aquele que cria o
risco com o desenvolvimento da sua atividade independentemente de culpa.
Indenização por dano moral que deve ser fixada com moderação levando em conta
as circunstâncias do caso. Majoração da indenização de R$ 6.220,00 para R$
15.000,00. Negado provimento ao recurso da ré. Parcial provimento ao recurso do
autor para majorar o valor da indenização, bem como, os honorários advocatícios de
sucumbência. (TJSP - APL 0226847-66.2011.8.26.0100; Ac. 6423315; São Paulo;
Décima Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Carlos Alberto Garbi; Julg.
11 Op. cit., p. 146.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 13
18/12/2012; DJESP 22/01/2013)
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CERCEAMENTO DE
DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. PRECLUSÃO. ROMPIMENTO DE
BARRAGEM. ATO ILÍCITO DEMONSTRATO. TEORIA DO RISCO.
INTELIGÊNCIA DO ART. 927 DO CC. DANOS E NEXO CAUSAL
COMPROVADOS. CHUVAS OCORRIDAS NO PERÍODO DO ROMPIMENTO.
POTENCIALIZAÇÃO DO DANO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. FIXAÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.EMBARGOS
DECLARATÓRIOS OPOSTOS. FIXAÇÃO DE MULTA POR INTUITO
MERAMENTE PROTELATÓRIO. NÃO VERIFICAÇÃO. RETIRADA DA
PENALIDADE. SENTENÇA REFORMADA PARCIALMENTE. Com a adoção
da teoria do risco, é a empresa responsável a reparar os danos oriundos de sua
atividade, independentemente da demonstração de culpa, devendo ser
comprovado apenas, para configurar o dever de indenizar, o dano e o nexo
causal. -A enchente decorrente das fortes chuvas ocorridas não afasta a
responsabilidade da apelante, já que o rompimento da barragem contribuiu de forma
relevante para a ampliação dos danos e, consequentemente na majoração das
proporções da enchente. -A fixação da indenização por danos morais pauta-se pela
aplicação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, tendo por
finalidade compensar o ofendido pelo constrangimento indevido que lhe foi imposto
e, por outro lado, desestimular o ofensor a, no futuro, praticar atos semelhantes. -Os
Embargos Declaratórios opostos com a finalidade de prequestionar e de sanar
omissões, obscuridades e contradições, não enseja a condenação em multa. (TJMG
- APCV 1.0439.07.074254-9/001; Rel. Des. Wanderley Paiva; Julg. 28/11/2012;
DJEMG 30/11/2012)
1.4. As relações de consumo e o dever de indenizar
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 14
Em se tratando de prestação de serviço cujo destinatário final é o tomador, há
relação de consumo nos precisos termos do que reza o Código de Defesa do Consumidor:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos
ou serviço como destinatário final.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° (...)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Assim sendo, resulta que a responsabilidade civil do ofensor independerá da
existência do fenômeno culpa, nos termos do que estipula o CDC:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.
A corroborar o texto da Lei acima descrita, insta transcrever as lições de Fábio
Henrique Podestá: “Aos sujeitos que pertencerem à categoria de prestadores de serviço,
que não sejam pessoas físicas, imputa-se uma responsabilidade objetiva por defeitos de
segurança do serviço prestado, sendo intuitivo que tal responsabilidade é fundada no risco
criado e no lucro que é extraído da atividade.“12
12 Fábio Podestá; Ezequiel Morais; Marcos Marins Carazai, código de defesa do
consumidor comentado, p. 147.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 15
Portanto, existindo defeito na prestação de serviço, por outra forma mesmo
informação insuficiente ou inadequada, consistirá, segundo melhor doutrina, em defeito na
prestação de serviços, o que importa na responsabilização objetiva do fornecedor.
Nesse exato sentir é o julgado abaixo evidenciado:
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. PROCESSO CIVIL. EFEITO SUSPENSIVO.
NÃO CABIMENTO. CONSUMIDOR. INCLUSÃO INDEVIDA DO NOME EM
CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO MORAL CONFIGURADO.
ASTREINTES. PREVISÃO LEGAL. VALOR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL.
RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS. 1. Não demonstrados os riscos de dano irreparável, incabível a
atribuição de efeito suspensivo ao recurso (artigo 43, Lei n. 9.099/95) 2. O fato
alegado pelo recorrido - inscrição indevida junto aos órgãos de proteção ao crédito -
restou incontroverso.3. O artigo 14 e seu §1º da Lei n. 8078/90 atribui ao
fornecedor responsabilidade objetiva pelos danos que causar, oriundos da
prestação defeituosa dos seus serviços. A indevida inscrição do nome em órgãos de
proteção ao crédito caracteriza prestação defeituosa do serviço disponibilizado no
mercado de consumo, viola direito da personalidade, dispensa a prova do prejuízo,
que se presume, e deve ser indenizado. Sendo incontroversa a inexistência do débito
que gerou a inscrição do nome do consumidor em órgãos de proteção ao crédito,
cumpre à empresa fornecedora indenizar os danos morais decorrentes. 4. A multa
processual prevista no artigo 461, § 4º do CPC tem por objeto garantir a efetividade
da tutela jurisdicional, sendo cabível sua fixação nas condenações em obrigação de
fazer. 5. O valor das astreintes foi fixado pelo magistrado em consonância com a
obrigação principal e em montante suficiente para assegurar o cumprimento da
obrigação de fazer, concernente na retirada no nome do recorrido do cadastro de
inadimplentes e, portanto, razoável e proporcional. 6. Recurso conhecido e não
provido. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, com Súmula de
julgamento servindo de acórdão, na forma do artigo 46, Lei nº 9099/95. Custas e
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 16
honorários pelo recorrente vencido, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o
valor da condenação, artigo 55, da Lei n. 9.099/95. (TJDF - Rec 2012.06.1.006550-
0; Ac. 647.988; Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito
Federal; Relª Juíza Wilde Maria Silva Justiniano Ribeiro; DJDFTE 25/01/2013;
Pág. 410)
1.5. Dano material
O prejuízo sofrido pelo ofendido pode ser, além do dano moral – abaixo enfocado
--, de ordem patrimonial. Assim, tem-se que esse prejuízo pode ser correspondente àquilo
que concretamente a vítima tenha suportado, denominado de danos emergentes, ou, por
outro lado, em danos por lucros cessantes, esses caracterizados por aquilo que a vítima
deixou de ganhar.
Nesse diapasão, a reparação de danos materiais, decorrentes de ato ilícito, se
efetiva no sentido de restaurar o status quo ante, colocando a coisa danificada no mesmo
estado em que se encontrava antes do advento da lesão.
1.6. Dano moral
É consabido que a moral é um dos atributos da personalidade, tanto assim que
Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald professam que:“Os direitos da
personalidade são tendentes a assegurar a integral proteção da pessoa humana,
considerada em seus múltiplos aspectos (corpo, alma e intelecto). Logo, a classificação dos
direitos da personalidade tem de corresponder à projeção da tutela jurídica em todas as
searas em que atua o homem, considerados os seus múltiplos aspectos biopsicológicos. Já
se observou que os direitos da personalidade tendem à afirmação da plena integridade do
seu titular. Enfim, da sua dignidade. Em sendo assim, a classificação deve ter em conta os
aspectos fundamentais da personalidade que são: a integridade física ( direito à vida,
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 17
direito ao corpo, direito à saúde ou inteireza corporal, direito ao cadáver . . . ), a
integridade intelectual (direito à autoria científica ou literária, à liberdade religiosa e de
expressão, dentre outras manifestações do intelecto) e a integridade moral ou psíquica
(direito à privacidade, ao nome, à imagem etc).”13
Do mesmo modo, Yussef Said Cahali salienta quanto à caracterização do dano
moral: “Parece mais razoável, assim, caracterizar o dano moral pelos seus próprios
elementos; portanto, ‘como a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor
precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a liberdade
individual, a integridade individual, a integridade física, a honra e demais sagrados
afetos’; classificando-se, desse modo, em dano queafeta a ‘parte social do patrimônio
moral’ (honra, reputação etc) e dano que molesta a ‘parte afetiva do patrimônio moral’
(dor, tristeza, saudade etc); dano moral que provoca direta ou indiretamente dano
patrimonial (cicatriz deformante etc) e dano moral puro (dor, tristeza etc.).“14
A responsabilidade por dano moral, ainda, alçada ao plano constitucional pela
redação conferida no art. 5º, incs. V e X, da Constituição Federal, e também estatuída na
Legislação Substantiva Civil, em seus art. 186 combinado com art. 92, exigem do julgador
a condenação do ofensor obedecendo-se aos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade.
1.7. Dano estético
Quanto ao dano estético, professa Maria Helena Diniz:"O dano estético é toda
alteração morfológica do indivíduo, que, além do aleijão, abrange as deformidades ou
deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob qualquer aspecto
13 Cristiano Chaves de Farias; Nélson Rosenvald, Curso de Direito Civil, p. 200-201.
14 Yussef Said Cahali, Dano moral, p. 20-21.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 18
um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num permanente
motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade, exercendo ou não
influência sobre sua capacidade laborativa."15
E prossegue a ilustre doutrinadora afirmando que:"O dano estético estaria
compreendido no dano psíquico ou moral, de modo que, em regra, como ensina José de
Aguiar Dias, se pode ter como cumuláveis a indenização por dano estético e a indenização
por dano moral, representado pelo sofrimento, pela vergonha, pela angústia ou sensação
de inferioridade da vítima, atingida em seus mais íntimos sentimentos."16
Com efeito, estatui artigo 949 do Código Civil:
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido
das despesas com tratamento e dos lucros cessantes até o fim da convalescença,
além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Convém ressaltar, ademais, o entendimento consagrado no Superior Tribunal de
Justiça:
AGRAVO REGIMENTAL, DANOS MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS
INDENIZAÇÃO. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. MORTE DE FILHO.
MORTE DE FILHO. AMPUTAÇÃO DO BRAÇO DE OUTRO. CUMULAÇÃO
DO DANO MORAL E ESTÉTICO. VALOR FIXADO COM RAZOABILIDADE.
ACÓRDÃO RECORRIDO EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. APLICAÇÃO DE MULTA. 1. Não
há que se cogitar de ofensa ao artigos 535 do CPC, se, como no caso examinado,
acórdão se manifestou acerca de todos os pontos necessários ao deslinde da
controvérsia, ainda que de forma contrária à pretensão da agravante. 2. Nos termos
15 Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. 7, p. 82.
16 (Op. cit. p. 82).
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 19
da Súmula nº 387/STJ "é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e
dano moral". Na hipótese, o dano moral foi concedido em razão da perda do irmão e
filho, do trauma psicológico do acidente em si, e da invalidez permanente por
amputação do braço do filho menor sobrevivente. O dano estético pela deformidade
física decorrente da amputação. 3. Embora esta corte afaste por vezes a incidência
do enunciado n.7 de sua Súmula, apenas o faz quando os valores fixados a título de
indenização por dano moral se afigurem irrisórios ou exorbitantes, o que não se
verifica no caso concreto. 4. Agravo regimental não provido com aplicação de
multa. (STJ - AgRg-AREsp 166.985; Proc. 2012/0080488-8; MS; Quarta Turma;
Rel. Min. Luis Felipe Salomão; DJE 18/06/2013; Pág. 647)
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE
FERROVIÁRIO. QUEDA DE TREM. DANOS MATERIAL E MORAL
RECONHECIDOS NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. DANO ESTÉTICO
AUTÔNOMO. DIREITO À REPARAÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. "É lícita a
cumulação das indenizações de dano estético e dano moral" (Súmula nº 387/STJ),
ainda que derivados de um mesmo fato, mas desde que um e outro possam ser
reconhecidos autonomamente, sendo, portanto, passíveis de identificação em
separado. 2. Na hipótese em exame, entende-se configurado também o dano estético
da vítima, além do já arbitrado dano moral, na medida em que, em virtude de queda
de trem da companhia recorrida, que trafegava de portas abertas, ficou ela
acometida de "tetraparesia espástica", a qual consiste em lesão medular incompleta,
com perda parcial dos movimentos e atrofia dos membros superiores e inferiores.
Portanto, entende-se caracterizada deformidade física em seus membros, capaz de
ensejar também prejuízo de ordem estética. 3. Considera-se indenizável o dano
estético, autonomamente à aflição de ordem psíquica, devendo a reparação ser
fixada de forma proporcional e razoável. 4. Recurso Especial provido. (STJ - REsp
812.506; Proc. 2006/0005009-7; SP; Quarta Turma; Rel. Min. Raul Araújo; Julg.
19/04/2012; DJE 27/04/2012)
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 20
De outro contexto, é pacífico o entendimento de que o dano moral pode ser
cumulado com o dano estético.17
Desse modo, se, por exemplo, há amputação de um determinado membro da
vítima, em razão de acidente, por culpa do ofensor, o dano estético restará caracterizado
pela lesão irreparável sofrida por esta. Já o dano moral, nessa hipótese em enfoque, poderá
decorrer do sofrimento pessoal causado pelo infortúnio e nos seus reflexos de ordem
psíquica, de sua dor íntima intensa, do choque e abalo emocional grave, nomeadamente
pela nova condição pessoal de vida a ser experimentada.
1.8. Dano de ricochete
O dano em ricochete, segundo melhor doutrina, sucede quando o infortúnio ocorre
com o de cujus, todavia proporcionando dano moral aos entes queridos.
Dessa feita, convencionou-se nominá-lo de dano por ricochete, indireto ou
reflexo.
Além disso, temos que, no plano processual, é totalmente pertinente a cada um
daqueles o direito de postular, em seu próprio nome, um dano a sua personalidade. Diz-se,
pois, da possibilidade de ajuizar-se ação exigindo indenização sofrida pessoalmente pelos
sucessores ou outras pessoas vinculadas à vítima. Poderão esses, portanto, figurar no polo
ativo demandando em benefício próprio.
Insta salientar, mais, que o dano moral, conquanto de natureza personalíssima,
inato aos direitos da personalidade, os quais são intransmissíveis e indisponíveis, possui
repercussão social e proteção constitucional. O fato de o ofendido ter falecido, não exime o
ofensor de reparação pecuniária de lesão direito à dignidade da pessoa humana, à
17 STJ, Súmula nº 387: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 21
integridade física ou psíquica, à honra, à imagem, etc. A personalidade do de cujus também
é objeto de direito, na medida que o direito de reclamar perdas e danos deste se transmite
aos sucessores, a teor dos arts. 12 e parágrafo único e art. 943, todos da Legislação
Substantiva Civil, verbis:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade,
e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se
com a herança.
1.9. Teoria da perda de uma chance
Por demais consagrada, pela doutrina e jurisprudência pátria, a teoria da perda da chance.
Como consabido, trata-se de situação em que, dentro de um juízo de probabilidade (uma
expectativa), haja um dano real, atual e certo.
Com esse enfoque, já decidira o Superior Tribunal de Justiça que:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS ERRO MÉDICO.
MORTEDE PACIENTE DECORRENTE DE COMPLICAÇÃO CIRÚRGICA.
OBRIGAÇÃO DE MEIO RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO MÉDICO.
ACÓRDÃO RECORRIDO CONCLUSIVO NO SENTIDO DA AUSÊNCIA DE CULPA E
DE NEXO DE CAUSALIDADE. FUNDAMENTO SUFICIENTE PARA AFASTAR A
CONDENAÇÃO DO PROFISSIONAL DA SAÚDE. TEORIA DA PERDA DA CHANCE.
APLICAÇÃO NOS CASOS DE PROBABILIDADE DE DANO REAL, ATUAL E
CERTO, INOCORRENTE NO CASO DOS AUTOS, PAUTADO EM MERO JUÍZO DE
POSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 22
( . . . )
III - A chamada "teoria da perda da chance", de inspiração francesa e citada em matéria de
responsabilidade civil, aplica-se aos casos em que o dano seja real, atual e certo, dentro de
um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou
incerto, no âmbito da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável; IV - In casu, o V.
acórdão recorrido concluiu haver mera possibilidade de o resultado morte ter sido evitado
caso a paciente tivesse acompanhamento prévio e contínuo do médico no período pós-
operatório, sendo inadmissível, pois, a responsabilização do médico com base na aplicação
da "teoria da perda da chance"; V - Recurso Especial provido. (STJ - REsp 1.104.665; Proc.
2008/0251457-1; RS; Terceira Turma; Rel. Min. Massami Uyeda; Julg. 09/06/2009; DJE
04/08/2009)
A propósito, a palavra “chance”, no contexto ora em análise, é bem esclarecido por Sérgio
Savi, quando leciona que: “O termo chance significa, em sentido jurídico, a probabilidade de obter
um lucro ou de evitar uma perda. Assim entendida, a perda de uma chance assumiria um valor
econômico, um conteúdo patrimonial.“ 18
1.10. Danos morais e o “Pretium dolloris”
O Código Civil estabeleceu regra clara de que aquele que for condenado a reparar um
dano, deverá fazê-lo de sorte que a situação patrimonial e pessoal do lesado seja recomposta ao
estado anterior. Assim, o montante da indenização não pode ser inferior ao prejuízo. A reparação
há de ser integral, nesse compasso, consoante expressamente regra o Código Civil que:
Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão do dano.
18 Sérgio Savi, Responsabilidade civil por perda de uma chance, p. 13,
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 23
Quanto ao valor da reparação, relativamente ao dano moral, assevera Caio Mário da Silva
Pereira que: “Quando se cuida de reparar o dano moral, o fulcro do conceito ressarcitório acha-se
deslocado para a convergência de duas forças: `caráter punitivo` para que o causador do dano,
pelo fato da condenação, se veja castigado pela ofensa que praticou; e o `caráter compensatório`
para a vítima, que receberá uma soma que lhe proporcione prazeres como contrapartida do mal
sofrido.“19
Nesse mesmo compasso de entendimento, leciona Arnaldo Rizzardo que: “Não existe uma
previsão na lei sobre a quantia a ser fixada ou arbitrada. No entanto, consolidaram-se alguns
critérios. Domina a teoria do duplo caráter da reparação, que se estabelece na finalidade da digna
compensação pelo mal sofrido e de uma correta punição do causador do ato. Devem preponderar,
ainda, as situações especiais que envolvem o caso, e assim a gravidade do dano, a intensidade da
culpa, a posição social das partes, a condição econômica dos envolvidos, a vida pregressa da
pessoa que tem o título protestado ou o nome negativado.“20
É certo que o problema da quantificação do valor econômico a ser reposto ao ofendido tem
motivado intermináveis polêmicas, debates, até agora não havendo pacificação a respeito. De
qualquer forma, doutrina e jurisprudência são pacíficas no sentido de que a fixação deve se dá com
prudente arbítrio, para que não haja enriquecimento à custa do empobrecimento alheio, mas
também para que o valor não seja irrisório.
A propósito, o arbitramento indenizatório ínfimo ou demasiado, segundo a visão
consolidada no STJ, abre a possibilidade dessa Corte reexaminar o montante fixado, em exceção à
regra contida na Súmula 07 daquele Tribunal:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC) AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. DECISÃO MONOCRÁTICA
NEGANDO PROVIMENTO AO AGRAVO. INSURGÊNCIA DO RÉU. 1. Nos termos da
19 Caio Mário da Silva Pereira (atualizador Gustavo Tepedino), Responsabilidade Civil, p. 78).
20 Arnado Rizzardo, responsabilidade civil, p.261.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 24
jurisprudência consolidada neste Superior Tribunal de justiça, a revisão de indenização por
danos morais é possível, em Recurso Especial, somente quando o valor fixado nas
instâncias locais for exorbitante ou ínfimo, de modo a afrontar os princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade. Ausentes tais hipóteses, incide a Súmula n. 7 do STJ,
a impedir o conhecimento do recurso. 2. A eg. Quarta turma desta corte, no julgamento do
Recurso Especial n. 1.127.913/rs, em 30/9/2012, firmou o entendimento de que "em caso de
dano moral decorrente de morte de parentes próximos, a indenização deve ser arbitrada de
forma global para a família da vítima, não devendo, de regra, ultrapassar o equivalente a
quinhentos salários mínimos, podendo, porém, ser acrescido do que bastar para que os
quinhões individualmente considerados não sejam diluídos e nem se tornem irrisórios,
elevando-se o montante até o dobro daquele valor". 3. Hipótese em que o tribunal local, após
sopesados os elementos fáticos do caso, entendeu por majorar a indenização fixada em R$
25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para a viúva, hertha neumann, e R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais), a ser dividido entre os 5 (cinco) filhos, para o montante de R$ 210.000,00
(duzentos e dez mil reais), sendo R$ 60.000,00 para a viúva e R$ 30.000,00 para cada um
dos 5 (cinco) filhos, valor esse que não ultrapassa os parâmetros adotados neste sodalício. 4.
Agravo regimental não provido. (STJ - AgRg-AREsp 255.249; Proc. 2012/0238854-8; SC;
Quarta Turma; Rel. Min. Marco Buzzi; DJE 23/08/2013; Pág. 532)
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MANUTENÇÃO
INDEVIDA DOS DADOS DO DEVEDOR EM CADASTROS RESTRITIVOS DE
CRÉDITO. INVERSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE PROVAS.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. 1. Para o acolhimento da tese de que não houve dano moral
seria imprescindível exceder os fundamentos do acórdão recorrido e realizar o exame de
provas, o que é vedado em Recurso Especial, consoante a Súmula nº 7 do Superior Tribunal
de Justiça. 2. A intervenção do Superior Tribunal de Justiça para reduzir ou aumentar o
valor fixado a título de reparação de danos morais dá-se quando ínfima ou exorbitante a
quantia fixada pelo tribunal local. A situação não ocorre no caso em análise. 3. Agravo
regimental não provido. (STJ - AgRg-Ag-REsp 58.782; Proc. 2011/0170233-3; RS;
Terceira Turma; Rel. Min. Ricardo Villas Boas Cueva; Julg. 02/10/2012; DJE 08/10/2012)
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 25
Ademais, a indenização deve ser aplicada de forma casuística, supesando-se a
proporcionalidade entre a conduta lesiva e o prejuízo enfrentado pela ofendida, de forma que, em
consonância com o princípio neminem laedere, inocorra o lucuplemento da vítima quanto a
cominação de pena tão desarrazoada que não coíba o infrator de novos atos.
O valor da indenização pelo dano moral, mais, não se configura um montante tarifado
legalmente. A melhor doutrina reconhece que o sistema adotado pela legislação pátria é o sistema
aberto, no qual o Órgão Julgador pode levar em consideração elementos essenciais, tais como as
condições econômicas e sociais das partes, a gravidade da lesão e sua repercussão e as
circunstâncias fáticas. Assim, a importância pecuniária deve ser capaz de produzir-lhe um estado
tal de neutralização do sofrimento impingido, de forma a "compensar a sensação de dor"
experimentada e representar uma satisfação, igualmente moral.
Nesse compasso, nosdias atuais, a indenização não se restringe a ser apenas
compensatória; vai mais além, é verdadeiramente sancionatória, na medida em que o valor fixado a
título de indenização reveste-se de pena civil.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 26
Neste segundo capítulo, iremos adentrar mais especificamente na reparação de danos
morais.
Nesta etapa do livro, assim, foram dispostas petições mais úteis a uma demanda judicial
que trate de perquirir a indenização em razão de “negativação” indevida nos órgãos de restrições.
Esse fenômeno jurídico, como bem sabemos, é bastante frequente e, por isso, cuidamos de
demonstrar as peças processuais mais úteis ao ofendido do dano.
Há, inclusive, resta saber, inúmeros arrazoados da fase recursal, o que, como dito, auxiliará
demasiadamente o operador do direito, maiormente ao advogado.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 27
2.1. PETIÇÃO INICIAL – INDENIZAÇÃO – NEGATIVAÇÃO
INDEVIDA
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA
CIDADE.
[ Formulou-se pedido de tutela antecipada ]
Intermediada por seu mandatário ao final firmado -- instrumento procuratório acostado --
causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº. 0000, com seu
endereço profissional consignado no timbre desta, o qual indica-o para as intimações que se fizerem
necessárias, comparece, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, MARIA DE TAL,
solteira, comerciária, residente na Rua Delta, nº. 000 – apto. 333, em Cidade, para ajuizar, com
espeque no art. 186 do Código Civil Brasileiro; art. 14 c/c art. 42 do Código de Defesa do
Consumidor e, mais, art. 5º, incisos V e X, da Carta Política, a presente
AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO
c/c
REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS,Ã DE OS MORAIS,
contra XISTA EMPRESA DE TELEFONIA S/A, pessoa jurídica de direito privado,
estabelecida na Av. Delta, nº. 000, em Cidade (PR), em razão das justificativas de ordem fática e de
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 28
direito, abaixo delineadas.
( 1 ) – ALÍGERA EXPOSIÇÃO FÁTICA
A Promovente, na data de 00/11/2222, deslocou-se às Lojas Tintas Ltda, quando almejava
comprar material para reforma de sua casa. Todavia, fora impedida, uma vez que seu nome
encontrava-se com restrições, situação esta vexatória que tivera que suportar.
Em verdade, a Autora sequer conhecia os motivos da inserção do nome da mesma junto
aos cadastros de inadimplentes.
A Promovente, por conta disso, tivera que adquirir todos os produtos à vista, uma vez que,
com a negativação, o parcelamento era recusado em qualquer loja. Acosta-se, para tanto, a devida
Nota Fiscal. (doc. 01)
Mediante a recusa de parcelamento do débito na mencionada loja, a Autora procurou obter
junto ao Serviço de Proteção ao Crédito informações acerca da inclusão de seu nome naquele banco
de dados. Para sua surpresa, a inserção de seu nome deveu-se ao não pagamento de débito
contratual como pretensa usuária de linha telefônica, o que comprova-se pelos documentos ora
anexos. (docs. 02/03) Na realidade, a Autora desconhece por completo qualquer enlace contratual
neste sentido.
Como âmago desta querela judicial, a Autora vem delinear que sofrera, e ainda
encontra-se sofrendo, constrangimentos em sucessivas cobranças de débito inexistente.
Além da indevida inserção do nome no cadastro de inadimplentes, a Autora recebe,
diariamente, inúmeras cobranças, sofrendo, assim, profundo desconforto mental, chegando,
outrossim, a alterar sua rotina de trabalho e seu repouso domiciliar.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 29
Não restam dúvidas, pois, que a Autora, diante desse acontecimento, deparou-se com uma
situação incômoda e absolutamente constrangedora, merecendo a Ré ser responsabilizada
civilmente pelo ocorrido.
HOC IPSUM EST (2) –
(2.1.) – RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA
Cumpre-nos ressaltar, inicialmente, que entre a Autora e a Ré emerge uma inegável
hipossuficiente técnico-econômica, o que sobremaneira deve ser levado em conta no importe deste
processo.
Destaque, mais, por oportuno, que o desenvolvimento desta ação deve seguir o prisma da
Legislação Consumerista, visto que a relação em estudo é de consumo, aplicando-se, maiormente, a
inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º, inc. VIII).
Em se tratando de prestação de serviço cujo destinatário final é o tomador, no caso da
Autora, há relação de consumo nos precisos termos do que reza o Código de Defesa do
Consumidor:
Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou
serviço como destinatário final.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° (...)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 30
decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Na hipótese em estudo, resulta pertinente a responsabilização da Requerida,
independentemente da existência da culpa, nos termos do que estipula o Código de Defesa do
Consumidor.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos
serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
A corroborar o texto da Lei acima descrita, insta transcrever as lições de Fábio Henrique
Podestá:
“Aos sujeitos que pertencerem à categoria de prestadores de serviço, que não sejam pessoas
físicas, imputa-se uma responsabilidade objetiva por defeitos de segurança do serviço
prestado, sendo intuitivo que tal responsabilidade é fundada no risco criado e no lucro que é
extraído da atividade. “(PODESTÁ, Fábio; MORAIS, Ezequiel; CARAZAI, Marcos
Marins. Código de Defesa do Consumidor Comentado. São Paulo: RT, 2010. Pág. 147)
Existiu, em verdade, defeito na prestação de serviços, o que importa na
responsabilização objetiva do fornecedor, ora Promovida.
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. PROCESSO CIVIL. EFEITO SUSPENSIVO. NÃO
CABIMENTO. CONSUMIDOR. INCLUSÃO INDEVIDA DO NOME EM
CADASTROS DE INADIMPLENTES. DANO MORAL CONFIGURADO.
ASTREINTES. PREVISÃO LEGAL. VALOR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL.
RECURSO NÃO PROVIDO. SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS
FUNDAMENTOS.
1. Não demonstrados os riscos de dano irreparável, incabível a atribuição de efeito
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 31
suspensivo ao recurso (artigo 43, Lei n. 9.099/95)
2. O fato alegado pelo recorrido - inscrição indevida junto aos órgãos de proteção ao crédito
- restou incontroverso.
3. O artigo 14 e seu §1º da Lei n. 8078/90 atribui ao fornecedor responsabilidade objetiva
pelos danos que causar, oriundos da prestação defeituosa dos seus serviços. A indevida
inscrição do nome em órgãos de proteção ao crédito caracteriza prestação defeituosa do
serviço disponibilizado no mercado de consumo, viola direito da personalidade, dispensa a
prova do prejuízo, que se presume, e deve ser indenizado. Sendo incontroversa a
inexistência do débito que gerou a inscrição do nome do consumidor em órgãos de proteção
ao crédito, cumpre à empresa fornecedora indenizar os danos morais decorrentes.
4. A multa processual prevista no artigo 461, § 4º do CPC tem por objeto garantir a
efetividade da tutela jurisdicional, sendo cabível sua fixação nas condenações em obrigação
de fazer.
5. O valor das astreintes foi fixado pelomagistrado em consonância com a obrigação
principal e em montante suficiente para assegurar o cumprimento da obrigação de fazer,
concernente na retirada no nome do recorrido do cadastro de inadimplentes e, portanto,
razoável e proporcional.
6. Recurso conhecido e não provido. Sentença mantida por seus próprios fundamentos, com
Súmula de julgamento servindo de acórdão, na forma do artigo 46, Lei nº 9099/95. Custas e
honorários pelo recorrente vencido, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação, artigo 55, da Lei n. 9.099/95. (TJDF - Rec 2012.06.1.006550-0; Ac. 647.988;
Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal; Relª Juíza Wilde Maria
Silva Justiniano Ribeiro; DJDFTE 25/01/2013; Pág. 410)
(2.2.) – DO DEVER DE INDENIZAR
RESPONSABILIDADE CIVIL: REQUISITOS CONFIGURADOS
No plano do direito civil, para a configuração do dever de indenizar, segundo as lições de
Caio Mário da Silva Pereira, faz-se necessária a concorrência dos seguintes fatores:
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 32
“a) em primeiro lugar, a verificação de uma conduta antijurídica, que abrange
comportamento contrário a direito, por comissão ou por omissão, sem necessidade de
indagar se houve ou não o propósito de malfazer; b) em segundo lugar, a existência de um
dano, tomada a expressão no sentido de lesão a um bem jurídico, seja este de ordem material
ou imaterial, de natureza patrimonial ou não patrimonial; c) e em terceiro lugar, o
estabelecimento de um nexo de causalidade entre um e outro, de forma a precisar-se que o
dano decorre da conduta antijurídica, ou, em termos negativos, que sem a verificação do
comportamento contrário a direito não teria havido o atentado ao bem jurídico.”(In,
Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, Vol. I. Pág. 661).
A propósito, reza a Legislação Substantiva Civil que:
CÓDIGO CIVIL
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, viola
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. “
Ademais, aplicável ao caso sub examine a doutrina do “risco criado” (responsabilidade
objetiva), que está posta no Código Civil, que assim prevê:
CÓDIGO CIVIL
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único - Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 33
Nesse compasso, lúcidas as lições de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho,
novamente evidenciadas:
“Muitos desconhecer, mas KARL LARENZ, partindo do pensamento de HEGEL, já havia
desenvolvido a teoria da imputação objetiva para o Direito Civil, visando estabelecer limites
entre os fatos próprios e os acontecimentos acidentais.
No dizer do Professor LUIZ FLÁVIO GOMES: ‘A teoria da imputação objetiva consiste
basicamente no seguinte: só pode ser responsabilizado penalmente por um fato (leia-se a um
sujeito só poder ser imputado o fato), se ele criou ou incrementou um risco proibido
relevante e, ademais, se o resultado jurídico decorreu desse risco. ‘
Nessa linha de raciocínio, se alguém cria ou incrementa uma situação de risco não
permitido, responderá pelo resultado jurídico causado, a exemplo do que corre quando
alguém da causa a um acidente de veículo, por estar embriagado (criador do risco proibido),
ou quando se nega a prestar auxílio a alguém que se afoga, podendo fazê-lo, caracterizando
a omissão de socorro (incremento do risco).
Em todas essas hipóteses, o agente poderá ser responsabilizado penalmente, e, porque não
dizer, para aqueles que admitem a incidência da teoria no âmbito do Direito Civil. “
(GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil.
10ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 146)
Nesse contexto, cumpre-nos evidenciar alguns julgados:
RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS.
NEGATIVAÇÃO INDEVIDA.
Indenização por danos morais decorrentes de indevido apontamento negativo em nome do
autor. Cobrança de débito resultante de contrato de financiamento não contratado pelo autor.
A ré lançou o nome do autor no cadastro de inadimplentes. O dano moral tem natureza in re
ipsa e, por isso, prescinde de demonstração. Aplicação na espécie da teoria do risco,
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 34
acolhida pelo art. 927, parágrafo único, do Código Civil, que responsabiliza aquele que cria
o risco com o desenvolvimento da sua atividade independentemente de culpa. Indenização
por dano moral que deve ser fixada com moderação levando em conta as circunstâncias do
caso. Majoração da indenização de R$ 6.220,00 para R$ 15.000,00. Negado provimento ao
recurso da ré. Parcial provimento ao recurso do autor para majorar o valor da indenização,
bem como, os honorários advocatícios de sucumbência. (TJSP - APL 0226847-
66.2011.8.26.0100; Ac. 6423315; São Paulo; Décima Câmara de Direito Privado; Rel. Des.
Carlos Alberto Garbi; Julg. 18/12/2012; DJESP 22/01/2013)
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CERCEAMENTO DE
DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. PRECLUSÃO. ROMPIMENTO DE BARRAGEM.
ATO ILÍCITO DEMONSTRATO. TEORIA DO RISCO. INTELIGÊNCIA DO ART.
927 DO CC. DANOS E NEXO CAUSAL COMPROVADOS. CHUVAS OCORRIDAS
NO PERÍODO DO ROMPIMENTO. POTENCIALIZAÇÃO DO DANO.
INDENIZAÇÃO DEVIDA. FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO.
OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. EMBARGOS DECLARATÓRIOS OPOSTOS. FIXAÇÃO
DE MULTA POR INTUITO MERAMENTE PROTELATÓRIO. NÃO
VERIFICAÇÃO. RETIRADA DA PENALIDADE. SENTENÇA REFORMADA
PARCIALMENTE.
Com a adoção da teoria do risco, é a empresa responsável a reparar os danos oriundos de sua
atividade, independentemente da demonstração de culpa, devendo ser comprovado apenas,
para configurar o dever de indenizar, o dano e o nexo causal. -A enchente decorrente das
fortes chuvas ocorridas não afasta a responsabilidade da apelante, já que o rompimento da
barragem contribuiu de forma relevante para a ampliação dos danos e, consequentemente na
majoração das proporções da enchente. -A fixação da indenização por danos morais pauta-
se pela aplicação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, tendo por
finalidade compensar o ofendido pelo constrangimento indevido que lhe foi imposto e, por
outro lado, desestimular o ofensor a, no futuro, praticar atos semelhantes. -Os Embargos
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 35
Declaratórios opostos com a finalidade de prequestionar e de sanar omissões, obscuridades e
contradições, não enseja a condenação em multa. (TJMG - APCV 1.0439.07.074254-9/001;
Rel. Des. Wanderley Paiva; Julg. 28/11/2012; DJEMG 30/11/2012)
Dessarte, a responsabilidade civil, à luz do Código de Defesa do Consumidor e do
Código Civil, é objetiva.
Imperioso ressaltar que a responsabilidade civil almejada diz respeito a dano de ordem
moral. Nesse caso, consideremos, pois, o direito à incolomidade moral pertence à classe dos
direitos absolutos, encontrando-se positivados pela conjugação de preceitos constitucionais
elencados no rol dos direitos e garantias individuais da Carta Magna(CF/88, art. 5º, inv. V e X).
A moral individual está relacionada à honra, ao nome, à boa-fama, à auto-estima e ao
apreço, sendo que o dano moral resulta de ato ilícito que atinge o patrimônio do indivíduo, ferindo
sua honra, decoro, crenças políticas e religiosas, paz interior, bom nome e liberdade, originando
sofrimento psíquico, físico ou moral.
É consabido, mais, que a moral é um dos atributos da personalidade, tanto assim que
Cristiano Chaves de Farias e Nélson Rosenvald professam que:
“Osdireitos da personalidade são tendentes a assegurar a integral proteção da pessoa
humana, considerada em seus múltiplos aspectos (corpo, alma e intelecto). Logo, a
classificação dos direitos da personalidade tem de corresponder à projeção da tutela jurídica
em todas as searas em que atua o homem, considerados os seus múltiplos aspectos
biopsicológicos.
Já se observou que os direitos da personalidade tendem à afirmação da plena integridade do
seu titular. Enfim, da sua dignidade.
Em sendo assim, a classificação deve ter em conta os aspectos fundamentais da
personalidade que são: a integridade física ( direito à vida, direito ao corpo, direito à saúde
ou inteireza corporal, direito ao cadáver . . . ), a integridade intelectual (direito à autoria
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 36
científica ou literária, à liberdade religiosa e de expressão, dentre outras manifestações do
intelecto) e a integridade moral ou psíquica (direito à privacidade, ao nome, à imagem etc).
(FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nélson. Curso de Direito Civil. 10ª Ed.
Salvador: JusPodvim, 2012, pp. 200-201)
Segundo Yussef Said Cahali caracteriza o dano moral:
“Parece mais razoável, assim, caracterizar o dano moral pelos seus próprios elementos;
portanto, ‘como a privação ou diminuição daqueles bens que têm um valor precípuo na vida
do homem e que são a paz, a tranquilidade de espírito, a liberdade individual, a integridade
individual, a integridade física, a honra e demais sagrados afetos’; classificando-se, desse
modo, em dano que afeta a ‘parte social do patrimônio moral’ (honra, reputação etc) e dano
que molesta a ‘parte afetiva do patrimônio moral’ (dor, tristeza, saudade etc); dano moral
que provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz deformante etc) e dano moral
puro (dor, tristeza etc.). “ (CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 4ª Ed. São Paulo: RT, 2011,
pp. 20-21)
Dessarte, pelas normas de consumo, resulta expressa a adoção da responsabilidade civil
objetiva, assim conceituada pela professora Maria Helena Diniz:
"Na responsabilidade objetiva, a atividade que gerou o dano é lícita, mas causou perigo a
outrem, de modo que aquele que a exerce, por ter a obrigação de velar para que dele não
resulte prejuízo, terá o dever ressarcitório, pelo simples implemento do nexo causal. A
vítima deverá pura e simplesmente demonstrar o nexo da causalidade entre o dano e a
ação que o produziu" (in, Curso de Direito Civil Brasileiro. 24ª ed. Saraiva: 2010, 7º vol, p.
53).
( destacamos )
Nesses termos, restou configurada a existência dos pressupostos essenciais à
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 37
responsabilidade civil: conduta lesiva, nexo causal e dano, a justificar o pedido de indenização
moral.
A propósito, vejamos os seguintes julgados específicos acerca do tema ora tratado:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. SAQUES INDEVIDOS
EM CONTA CORRENTE. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
DANO MATERIAL. CONFIGURAÇÃO. DANOS MORAIS NÃO
CONFIGURADOS.
1.A realização de saques indevidos em conta poupança, mediante a utilização de cartão
"clonado", configura falha na prestação de serviço, justificando a condenação da instituição
financeira ao pagamento de indenização pelos danos materiais experimentados. 2.
Constatado que, em virtude da realização de descontos indevidos em conta corrente, houve a
cobrança de encargos de crédito rotativo, mostra-se cabível o ressarcimento dos valores
cobrados a este título. 3.A realização de saques indevidos em conta corrente, mediante
fraude praticada por terceiros, sem que tenha provocado abalo à reputação do correntista,
embora constitua fato reprovável, não se mostra motivo idôneo para causar danos de ordem
moral, devendo a reparação circunscrever-se à esfera dos danos patrimoniais. 4.Recurso de
Apelação interposto pelo réu conhecido e não provido. Recurso de apelação interposto pela
autora conhecido e parcialmente provido. (TJDF - Rec 2009.01.1.009174-0; Ac. 644.047;
Terceira Turma Cível; Relª Desª Nídia Corrêa Lima; DJDFTE 10/01/2013; Pág. 208)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO. COBRANÇA
INDEVIDA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA LEGITIMIDADE DAS
COMPRAS CONTESTADAS E NÃO ESTORNADAS DO CARTÃO DE CRÉDITO
DA PROMOVENTE. ÔNUS DA PROVA DO FORNECEDOR. INTELIGÊNCIA DO
ART. 6, INCISO VIII DO CDC. DANOS MORAIS. PROCEDÊNCIA. FALHA NA
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 38
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DEVER DE INDENIZAR QUE DECORRE IN RE
IPSA. INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO CDC. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
VALOR EXCESSIVO. REDUÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXADOS
DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ART. 20, § 3º DO CPC. PERCENTUAL
MANTIDO. APELAÇÃO CONHECIDA E PARCIALMENTE PROVIDA APENAS
PARA REDUZIR O QUANTUM INDENIZATÓRIO. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA.
1- Trata- se de Ação de Indenização por Danos Morais, decorrentes de utilização de cartão
de crédito, onde a promovente assevera ter sido cobrada por despesas realizadas por
terceiros, em razão da clonagem do seu cartão de crédito, cujas compras não foram
reconhecidas pela mesma. 2- Existente, outrossim, no caso em tela, relação de consumo
entre as partes pelo que se aplicam as normas e regras estabelecidas no Código de Defesa do
Consumidor, a saber, inversão do ônus da prova, responsabilidade civil objetiva pelos danos
causado ao consumidor etc. , tendo em vista ser o consumidor vulnerável no mercado de
consumo (art. 4, inciso I do CDC). 3- Compulsando os autos, verifica- se que restou
incontestável que, de fato, houve fraude e o cartão de crédito da promovente fora clonado,
fato este não refutado pela promovida e, inclusive, reconhecido pela mesma, haja vista que
fora o próprio banco quem entrou em contato com a promovente para informar o ocorrido.
4- No entanto, das várias compras efetuadas no cartão de crédito da promovente e
devidamente contestadas, algumas ainda permaneceram na sua fatura, fato este que
inegavelmente gerou transtornos à consumidora, que passou a ser cobrada por dívida que
não lhe pertencia. 5- A ré, por sua vez, apenas alegou nos autos que também fora vítima do
aludido golpe praticado pro terceiros o que, a nosso sentir, não exclui a responsabilidade da
ré pela segurança do serviço prestado. 6- Ademais, cabia a ré demonstrar a regularidade das
compras que não foram estornadas do cartão de crédito da promovente, não tendo a mesma
se desincumbido de tal ônus a despeito do que preceitua o art. 333, II e art 6º VIII do CDC.
7- Na concepção moderna da reparaçãodo dano moral, tem prevalecido a orientação de que
a responsabilização do agente resta configurada pelo simples fato da existência de violação
ao direito alheio, portanto, tornar- se desnecessária a prova do prejuízo em concreto, que
A TEORIA NA PRÁTICA: RESPONSABILIDADE CIVIL – ALBERTO BEZERRRA Página 39
decorre in re ipsa. 8- Acerca do quantum indenizatório, cabe ao prudente arbítrio do
julgador estipular equitativamente o montante devido, mediante análise das circunstâncias
do caso concreto, e segundo os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 9-
Levando- se em consideração as circunstâncias do caso concreto e o entendimento
jurisprudencial dominante desta Corte de Justiça, entendo que o valor arbitrado na sentença
mostra- se excessivo, pelo que reduzo a condenação de 20(vinte) salários mínimos para R$
6.000,00 (seis mil reais) à título de Danos Morais, devendo incidir juros moratórios à taxa
de 1% ao mês à partir da citação, nos termos do art. 406 do Código Civil e corrigido
monetariamente pelo INPC à partir do arbitramento nos termos da Súmula nº 362 do STJ.
10- Quanto aos honorários advocatícios, o percentual de 10% aplicado na sentença mostra
condizente com o disposto no art. 20,

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