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1 2 Sobre a autora e a PM Story A PM Story existe formalmente desde 2006 com a marca D&B Consultoria, especializada em soluções e treinamentos na área de gestão. Fabiana Bigão Silva é sócia-proprietária da D&B Consultoria e criadora da PM Story. Ela é doutoranda em Ciência da Informação (UFMG), Bacharel e Mestre em Ciência da Computação (UFMG), Project Management Professional (PMP) e certificada como implementadora MPS.BR, equivalente ao CMMI. Fabiana é professora da Fundação Dom Cabral (FDC) em programas de especialização e aperfeiçoamento, professora do IBMEC nos MBAs de Gerenciamento de Projetos, cursos de curta duração e de aperfeiçoamento, professora do IEC – Instituto de Educação Continuada da PUC Minas – na pós-graduação de Gerenciamento de Projetos, e professora da pós- graduação em Gerenciamento de Projetos de Software do Instituto de Gestão em Tecnologia da Informação (IGTI). Também atuou em coordenações de MBAs em Gerenciamento de Projetos. Junto ao PMI-MG, foi voluntária como professora do curso preparatório para o exame PMP. Desde 2006 atua como palestrante em empresas e em diversos Congressos de Gerenciamento de Projetos do PMI. Fabiana também é autora de livros e artigos em gerenciamento de projetos. Como consultora, Fabiana atua em empresas no desenvolvimento de processos de gerenciamento de projetos e portfólios, na implantação de PMOs, na gestão de requisitos, qualidade e medições, bem como em treinamentos customizados in company. Mais informações sobre a PM Story: www.pmstory.com.br 3 Agradecimentos Sempre utilizei recursos de storytelling em minhas aulas, utilizando vídeos de histórias contadas por outras pessoas. A ideia de criar uma animação com a minha cara existe há muito tempo, mas os recursos de tempo e especialmente financeiros necessários para concretizar a ideia são altos. Muitos me inspiraram na elaboração do vídeo e do e-book, e muitos colaboraram ativamente. Agradeço em primeiro lugar o Lucas Alves e Alexandre Martins da Ideia Clara (www.ideiaclara.com). O Lucas fez a animação e edição do vídeo. O Alexandre fez todas as ilustrações e fiquei muito feliz ao ver que a Fabig (meu alter ego) era uma moça com cara de simpática e principalmente magra. Agradeço ao Julio César de Jesus pela gravação do som. O professor José Finocchio merece um agradecimento muito especial não apenas pelo apoio na divulgação da PM Story, como pelas dicas e por me inspirar a contar a história de uma maneira muito mais didática usando o PM Canvas. Agradeço a todos os meus colegas da comunidade de gerenciamento de projetos do Twitter. Muitas das frases e ensinamentos que estão na PM Story são fruto de interações com esses colegas: Ricardo Viana Vargas, Gerente no Buteco, Farhad Abdollahyan, Maurício Cabral, Marcus Gregório, Patrícia Bracco, Marília Balbé, Giselle Coelho, Camille Silva, Mário Henrique Trentim, Alexandre Paiva. Muito do que contém nas histórias são realidades contadas pelos meus clientes, e agradeço a oportunidade de ter estado em cada um deles, onde aprendi e ensinei gerenciamento de projetos na prática. Por fim quero agradecer o meu braço direito, Ricardo Avelar Drummond, que me ajudou muito com a ideia do novo site, deste e-book, e sempre me apoia nas minhas iniciativas profissionais. 4 Sumário Cap. 1 – Introdução Cap. 2 - A iniciação do projeto Cap. 3 – O planejamento do projeto Cap. 4 – A integração das restrições do projeto Cap. 5 – A execução e monitoramento do projeto Cap. 6 – O encerramento do projeto Cap. 7 – A estrutura organizacional em que o projeto está inserido Cap. 8 – O sucesso do projeto Cap. 9 – Conclusões Referências 5 8 24 36 40 44 45 47 49 50 5 Capítulo 1 - Introdução A PM Story surgiu de uma necessidade pessoal, como professora e consultora na área de gerenciamento de projetos, de mostrar como é a dinâmica da condução de um projeto de maneira mais prática. Quais são as situações que o gerente e a equipe de projetos passa e quais seriam os possíveis comportamentos que deveríamos adotar para passar pela tenebrosa ponte que transporta as necessidades e demandas não atendidas dos clientes até os benefícios gerados pelas entregas do projeto. Gerenciar projetos não é fácil e, dependendo da complexidade e tamanho do projeto, não exige técnicas sofisticadas e que demandam alto nível de inteligência e perspicácia. O gerenciamento de projetos, em geral, é muito mais uma questão de atitude colaborativa, voltada à correta obtenção, organização e compartilhamento de informações do que o uso de ferramentas sofisticadas. Dependendo da complexidade do projeto, o uso de ferramentas e conhecimento mais sofisticado será essencial, mas a grande maioria dos projetos que lidamos não possuem essa necessidade. A Fabig, protagonista da PM Story, não é nenhum gênio, nem especialista de destaque, mas possui características e comportamento necessários à boa condução de um projeto. Em primeiro lugar, ela é voltada à entrega, ela se compromete com a missão (a partir do momento em que ela não conseguiu fugir dela!), e se preocupa com sua reputação de fazer uma boa entrega. Uma característica muito importante é o fato de sempre buscar cooperação de todos os stakeholders. Atualmente a condução de projetos deixou de ser uma tarefa de responsabilidade apenas do gerente do projeto e sua equipe e passou a contar com o envolvimento e comprometimento de todos. Mas as pessoas não farão isso de boa vontade e por iniciativa própria se não foram devidamente envolvidos pelo condutor do projeto. A Fabig promove a cooperação na reunião de abertura, no kick-off do projeto, no acompanhamento semanal e nos marcos do projeto, junto ao sponsor. Por fim, a Fabig conta com uma certa dose de atrevimento. Sim, às vezes ela engole sapos (desde que seja acompanhado de cerveja), mas ela é muito bem fundamentada nos planos e compromissos que foram estabelecidos com todos. Com isso, ela usa essas informações de maneira útil para cobrar responsabilidades, reportar status, obter aceitações. 6 Uma das coisas que a Fabig faz melhor, dentro da simplicidade do exemplo apresentado, é usar a informação como sua aliada na condução dos projetos. Em primeiro lugar, a informação é obtida para criar significado do projeto, para compreender por que o projeto deve acontecer, os benefícios pretendidos e o que é necessário entregar para atingir esses benefícios. Nesse momento, é dado sentido ao projeto. Segundo, ela constrói conhecimento a cerca do projeto. Isso é feito de forma colaborativa, através da interação com todos os stakeholders para entender e registrar as informações necessárias para a entrega do projeto com sucesso. É nesse momento que o plano do projeto é construído. Existe uma forte preocupação da Fabig para que o plano seja real. Isso é demonstrado em vários momentos: a) Na reunião de abertura através do preenchimento, com a participação de todos, do PM Canvas que contém as principais informações do projeto. b) Na interação constante com vários stakeholders durante a construção do plano detalhado. c) Na reunião de kick-off para repassar o plano detalhado e obter o comprometimento de todos. Nesse momento, alguns aspectos do plano são questionados e ele é ajustado para contemplar todas as observações dos envolvidos. A terceira forma com que a Fabig usava bem a informação é para tomada de decisões. Todas as decisões são tomadas com base em fatos e dados. O estabelecimento e acompanhamento do plano do projeto de forma colaborativa fez reduzir a incerteza e complexidade que envolvem a tomada de decisões, que eram orientadas por regras e norteadas por informações atualizadas. Isso dava legitimidade ao projeto, e demonstravam um comportamento responsável. Os principais momentos em que as decisões eram tomadas naPM Story foram: a) No acompanhamento semanal para verificar o cumprimento do plano por parte da equipe, identificar desvios e solucionar problemas. b) No acompanhamento formal das mudanças, fazendo uma análise de impacto antes de aprovar qualquer alteração do plano. Um desafios que nós, professores e consultores da área de gerenciamento de projetos, temos encontrado é conseguir explicar de maneira clara a forma de trabalhar com o projeto de modo a nos trazer benefícios a partir do bom gerenciamento. Ensinar gerenciamento na prática não é fácil. O uso de uma história animada foi um artifício usado para facilitar a conversão do conhecimento explícito a cerca de gerenciamento de projetos em conhecimento tático. O conhecimento explícito é todo aquele conhecimento presente nos livros, vídeos, formalizado em palavras e transmitido através de aulas, palestras. O conhecimento tácito está associado ao know-how, à experiência, ao sabe fazer, e é muitas vezes difícil de ser expressado através de palavras. 7 No gerenciamento de projetos, existe um desafio muito grande em fazer com que os indivíduos internalizem o conhecimento na forma de modelos mentais e rotinas de trabalho. O uso de storytelling procura afrouxar essa barreira na internalização do conhecimento a partir de uma visão compartilhada dos acontecimentos que se passam em uma história. Esse livro surgiu como apoio à animação PM Story disponível no youtube (http://youtu.be/QVEdvQV8GqU). O objetivo do livro fazer um link da história apresentada com os conceitos de gerenciamento de projetos que se aplicam. Não temos a intenção de entrar em profundidade em nenhuma prática do gerenciamento de projetos, mas sim dar a visão de cima, a visão do todo, apresentar em linhas gerais a dinâmica da condução de um projeto do início ao fim. Esperamos que seja mais um recurso didático para o aprendizado de gerenciamento de projetos. Boa leitura! 8 Capítulo 2 - A iniciação do projeto O projeto apresentado pela PM Story iniciou informalmente quando o presidente da empresa chamou a Fabig em sua sala, apresentou suas necessidades e demandas não atendidas da empresa e a pediu que gerenciasse os esforços para ter a nova filial de Viçosa em funcionamento no prazo de 6 meses. Abertura do projeto Normalmente, na abertura do projeto, sua justificativa, objetivo (delimitado no tempo) e benefícios esperados são apresentados a todos. Os projetos em geral são selecionados e executados para atender uma demanda ou necessidade da empresa. Ou seja, todo projeto deve ter uma justificativa, a motivação para que ele seja iniciado. Se um projeto não possui justificativa clara, existe uma grande chance de ser cancelado futuramente, ou sua prioridade ser reduzida diante de outras demandas da organização. 9 Além da justificativa, o objetivo do projeto deve ser conhecido por todos os envolvidos. O objetivo da PM Story foi específico, ou seja, com qualificadores suficientes para esclarecer o que o projeto pretendia fazer. Utilizou números, tornando-o mensurável, podendo ser medido ao final do projeto. Além disso, o objetivo do projeto era alcançável, sendo possível ser realizado com os recursos da organização. Também era realista, dentro das competências, recursos e tempo de que a organização dispunha. Por fim, o objetivo era delimitado no tempo, possuindo data limite para ser cumprido. 10 O objetivo do projeto sempre deve levar o projeto da situação atual, com demandas não atendidas, para uma situação futura de benefícios obtidos a partir do cumprimento do objetivo. Dessa forma, o objetivo do projeto deve ser a ponte que leva a organização de uma situação com necessidades não atendidas para uma situação em que apresente uma melhoria de coisas boas (aumento de clientes, aumento de receita, aumento de lucro, melhoria da imagem) ou redução de coisas ruins (redução de custos, de retrabalho ou de recursos necessários). 11 A abertura do projeto também tem como objetivo dar autoridade ao gerente do projeto. A abertura de um projeto pode se dar de diversas formas. Há quem mande apenas um e-mail formalizando o início do projeto e dando autoridade ao gerente. Existem aberturas formais, com a emissão do Termo de Abertura e reunião envolvendo todos os stakeholders. Existem projetos em que a abertura é feita em várias etapas, com reunião interna, reunião com cliente e emissão do Termo de Abertura formal assinado por todos. Não importa como a abertura do projeto seja feita. É importante o projeto ser aberto formalmente e o gerente do projeto ser designado. A abertura do projeto é a certidão de nascimento do mesmo. Na PM Story, a abertura aconteceu de maneira informal no início da história. Depois houve uma reunião onde vários outros detalhes a cerca do projeto foram definidos, com a participação de todos os stakeholders e equipe. Essa foi uma reunião formal de abertura, e aproveitou-se o momento para colher mais informações que deram base para o plano do projeto. 12 Identificação dos stakeholders Antes de acontecer a reunião formal de abertura, a Fabig procurou saber quais pessoas e áreas estariam envolvidas, podendo afetar ou serem afetadas pelo projeto. Como o projeto significa mudança, é necessário que o gerente de projetos tenha a capacidade de lidar com aspectos humanos e comportamentais envolvidos com a mudança. O benefício de qualquer iniciativa nova implantada nas organizações não se dá apenas pela implementação técnica, mas também pelo seu pleno uso. Para que se atinja esse objetivo, é necessário trabalhar também as pessoas envolvidas com a mudança. Além do gerente de projetos, em qualquer processo de mudança é fundamental e crítica a existência de um patrocinador, também conhecido como sponsor, que é quem dá legitimidade à mudança. Não existe mudança bem sucedida sem patrocinador, pois é ele quem fornece recursos, financeiros ou não, para o projeto. O presidente da empresa que solicitou a nova filial de Viçosa era o sponsor desse projeto da PM Story. 13 As pessoas, grupos de pessoas e organizações que estão envolvidas no projeto ou cujos interesses possam ser afetados de forma positiva ou negativa com o resultado da execução ou conclusão do projeto são chamadas de envolvidos, interessados ou stakeholders. Eles podem também exercer influência sobre o projeto e seus resultados. Através da conversa com o Lopes, a Fabig conseguiu identificar o stakeholders externos, ou seja, aquelas áreas ou pessoas que não produziam entregas no projeto, mas que poderiam afetar ou serem afetadas pelo projeto. 14 Através da mesma conversa com o Lopes, a Fabig também identificou aquelas áreas ou pessoas que seriam responsáveis por produzir alguma entrega no projeto. Essas pessoas ou áreas faziam parte da equipe. Apesar de estarmos na iniciação do projeto, várias informações de planejamento podem ser levantadas, e a equipe foi uma delas. 15 No capítulo 3, ao falarmos sobre o planejamento do projeto, detalhamos cada pessoa ou área que fazem parte da equipe do projeto, bem como suas responsabilidades. No capítulo 7 falamos sobre a estrutura organizacional do projeto e explicamos mais detalhadamente sobre a equipe e stakeholders da PM Story. Para a implantação de um novo projeto, é necessário identificar todo o universo de stakeholders e analisar sua posição perante o projeto. A posição do stakeholder pode ser analisada com base no seu grau de interesse e no seu poder de influência no projeto. Identificando essas duas variáveis, é possível definir estratégias de como lidar com as pessoas. À medida que a Fabig interagia com essas áreas e pessoas, mais informações a respeito delas eram obtidas. Com isso, foi possível elaborar o gráfico de stakeholders e identificar quem tinha interesse positivo ou negativo no projeto, bemcomo sua influência nos resultados do projeto. 16 Por que realizar uma análise de stakeholders no projeto? Para identificar os interesses dos stakeholders relativos aos problemas que o projeto aborda, para identificar conflitos de interesse entre stakeholders, identificar as relações que podem ser construídas para viabilizar coligações de apoio. Por que avaliar o interesse de cada stakeholder? O sucesso do projeto é particularmente importante para alguns stakeholders (por exemplo, os beneficiários de projetos ou os seus financiadores) o que se torna mais óbvio quando os interesses dos stakeholders convergem com os objetivos do projeto. Por que avaliar a influência/importância/poder de cada stakeholder? Alguns stakeholders detêm maior poder sobre as decisões de um projeto e podem exercer um controle que influencie o desenho, implementação e resultado desse projeto. A influência pode ser negativa ou positiva. 17 A reunião formal de abertura do projeto – PM Canvas Na reunião formal de abertura do projeto toda equipe, já identificada anteriormente, participou. O objetivo dessa reunião era, além de reforçar e comunicar a todos a justificativa, objetivo e benefícios esperados, fazer com que todos compreendessem a lógica do projeto e esclarecer as informações importantes para sua condução, especialmente a declaração do escopo. Isso foi feito através do preenchimento do Project Model Canvas do projeto. 18 O Project Model Canvas (www.pmcanvas.com.br) é uma metodologia de gerenciamento de projetos em que uma “tela” com as principais informações do projeto é preenchida de forma colaborativa. No vídeo da PM Story, o PM Canvas está sendo usado para abrir formalmente o projeto junto a todos os participantes, como também para obter informações críticas que dão respaldo ao planejamento detalhado, feito mais adiante. Cabe ressaltar que nesse momento o presidente da empresa também deu autoridade à Fabig para gerenciar o projeto. Dentre as principais informações necessárias ao planejamento do projeto, o produto do projeto merece destaque. O produto é a sintetização sobre o que será entregue para o cliente. O sucesso do projeto é medido, entre outros critérios, pela entrega do produto completo, com todos os requisitos. Os requisitos são as necessidades do cliente em relação às especificidades do produto. São as qualidades do produto, considerações a respeito do desempenho, confiabilidade, entre outras. 19 A Fabig também deixou claro nessa reunião o contra-escopo do projeto, ou seja, as exclusões, o que não fazia parte do escopo que ela tinha que entregar. O seguro da nova filial, de responsabilidade da área financeira, a parte fiscal relacionada à obtenção de licenças e o projeto contra incêndio, de responsabilidade da área de patrimônio, faziam parte do contra-escopo e foi deixado claro por ela. Devido ao fato desses itens estarem fora do escopo do projeto, as áreas Fiscal, Financeira e Patrimônio foram consideradas stakeholders externos. Eles deveriam ser informados sobre a situação do projeto para executarem suas respectivas atividades. Outras duas informações que impactam diretamente o planejamento do projeto são as premissas e restrições. As premissas são fatores assumidos como verdade para a execução do projeto. Normalmente são assumidas pela equipe do projeto sobre o mundo externo e por isso o projeto não possui controle sobre elas. Elas podem ser geradoras de riscos uma vez que podem deixar de ser verdade. Por isso devem ser documentadas e formalizadas e constantemente monitoradas. Os stakeholders externos associados às premissas devem estar cientes delas e se comprometerem com elas. . 20 As restrições são fatores que limitam as opções da equipe do projeto e dos quais o projeto tem o controle. Elas podem ter origens internas ou externas, normalmente são determinadas pelo cliente, e estão relacionadas a limitantes de custo, prazo ou recursos do projeto. Caso o projeto não consiga atender uma restrição, devemos verificar se ela pode ser negociada. Existem restrições que não podem ser negociadas e algumas vezes, para atende-las, o projeto sofrerá impactos nos custos, prazos ou recursos. Devemos ter em mente que o plano do projeto deve encontrar um caminho que satisfaça as restrições, sob a pena de o projeto ser inviável. . 21 A partir do produto, requisitos e disponibilidade da equipe, é possível definir as grandes entregas que o projeto deve ter. É importante esclarecer que os requisitos são as necessidades do cliente relacionadas ao produto, a demanda do cliente que precisa ser atendida. As entregas consistem da oferta do projeto para atender a demanda. As entregas são estabelecidas pela equipe, elas são um desmembramento do produto, e cada entrega deve ter um representante da equipe responsável por produzi-la. Na reunião de abertura formal da PM Story, foi identificado que a filial deveria ter uma identificação visual grande e elegante do lado de fora. A área de Marketing é responsável pela identificação visual e foi inserida na equipe tão logo esse requisito foi levantado. Essa área não tinha sido inserida antes, visto que os requisitos foram melhor explicados nesta reunião. Com isso, duas entregas foram criadas de responsabilidade do Marketing: Contratação da identificação visual e Instalação da identificação visual. 22 Por fim, a linha do tempo foi estabelecida para cada entrega. O objetivo da linha do tempo nesse momento do projeto não é criar um cronograma detalhado e sim fazer uma estimativa de alto nível do tempo demandado por cada entrega e do momento em que essas entregas estariam prontas. Os custos também foram estimados apenas para as entregas que consistiam de compra de móveis e equipamentos e contratações de pessoal. O custo das outras entregas estava relacionado ao esforço da equipe interna na execução das atividades para produzir as entregas e não foi contabilizado. 23 A reunião de abertura foi finalizada com o PM Canvas totalmente preenchido e integrado. Dessa reunião, as principais informações relacionadas à declaração do escopo do projeto foram levantadas. A principal vantagem do uso da metodologia do PM Canvas foi a oportunidade de esclarecer as informações do projeto de forma colaborativa, onde todos pudessem contribuir e questionar. A abertura do projeto deve ser feita para todos os interessados, de preferência presencialmente. O momento da abertura do projeto é uma excelente oportunidade para esclarecer pontos obscuros do projeto e complementar informações. Isso reduz substancialmente as solicitações de mudanças futuras, bem como cancelamentos. Além disso, o momento da abertura propicia conhecer o ponto de vista, as necessidades e expectativas dos diferentes stakeholders do projeto, bem como obter comprometimento das pessoas envolvidas. 24 Capítulo 3 – O planejamento do projeto O plano formal e descritivo do projeto foi elaborado pela Fabig com a ajuda do Lopes, de informações históricas e com a ajuda de todos os envolvidos para definir o escopo, cronograma, responsabilidades, riscos, comunicações, entre outras informações relevantes. O plano integrado, com todas as informações consistentes entre si, só ficou pronto após uma série de interações e validações com pessoas diferentes. O envolvimento de todos os interessados no projeto nos processos de planejamento cria um ambiente propício à contribuição de todos, com seus diferentes pontos de vista, suas diferentes experiências e expectativas, gerando criação a partir das diferenças. Cabe ressaltar que algumas atividades de planejamento foram executadas durante a etapa inicial do projeto, desde o momento em que a Fabig conversa com o Lopes e especialmente durante a reunião de abertura formal, quandoo PM Canvas do projeto foi desenvolvido. Como o projeto tinha uma complexidade que não podia ser ignorada, com uma equipe de treze pessoas / áreas, dentre as quais alguns opositores dentro da organização, muitos fornecedores externos e praticamente todos fora da área de influência da Fabig, ela optou por desenvolver documentação formal e detalhada que a auxiliasse a monitorar o projeto durante a execução. 25 Dessa forma, a partir dos requisitos levantados e das grande entregas definidas no PM Canvas durante a reunião de abertura formal, a especificação do escopo e estrutura analítica do projeto (EAP) foi desenvolvida. Na especificação (ou declaração) do escopo, praticamente todas as informações levantadas durante a reunião do PM Canvas são formalizadas e complementadas, caso mais detalhes a cerca do projeto apareçam. Uma sugestão de declaração do escopo é apresentada abaixo. 1. Sumário executivo a. Justificativa para sua realização b. Objetivo SMART do projeto c. Requisitos do produto, resultado ou serviço d. Especificações técnicas, funcionais e operacionais c. Benefícios esperados 2. Lista das principais entregas do projeto 3. Premissas 4. Restrições 5. Exclusões do projeto 6. Marcos do projeto / cronograma 7. Estimativas de custos 8. Principais riscos 26 A EAP é uma estrutura hierárquica, utilizada em um projeto para definir o trabalho do projeto em termos de suas entregas bem como na decomposição das suas entregas em componentes. Ela pode ser vista como uma estrutura única de “explicação” do projeto. Neste sentido, deve informar, em “uma única folha”, o escopo do projeto. A decomposição da EAP consiste em ir detalhando os subprodutos em componentes menores, até que eles estejam em um nível de detalhe que permita o gerenciamento (planejamento, execução e controle) do trabalho do projeto. 27 A partir da EAP, e considerando a equipe já identificada durante a iniciação do projeto, o cronograma foi elaborado. No cronograma, todas as atividades que deveriam ser executadas para atender o escopo definido pela EAP, a ordem em que deveriam acontecer para atender as restrições do projeto, os responsáveis por executá-las, as durações e restrições de calendário foram definidos. As fases do projeto foram representadas no cronograma de forma coerente com o primeiro nível de decomposição da EAP. Um dos pontos cruciais na elaboração do cronograma é a estimativa dos prazos das atividades, que impacta diretamente na estimativa do prazo do projeto inteiro. Neste projeto, a Fabig não teve problemas em relação às estimativas porque ela contou com a organização da equipe da Charlote, que guardava as durações e custos de projetos anteriores desenvolvidos com os mesmos fornecedores que iriam participar do projeto da Filial de Viçosa. Além disso, o Lopes, que dava assistência à Fabig nas atividades de gerenciamento de projetos, também ajudou a estimar os prazos das atividades da equipe interna. É importante lembrar que estimativas de prazos são projeções futuras. Só sabemos exatamente a duração de uma atividade depois que ela aconteceu. Podemos estimar as durações das atividades com maior ou menor precisão, e existem diversas técnicas para isso. O risco é inversamente proporcional à precisão, ou seja, quanto maior a precisão da estimativa, menor é o risco. Porém, pode sair caro para o projeto fazer estimativa com grande precisão, pois isso implica em um esforço maior e técnicas mais sofisticadas. Dessa forma, o custo é diretamente proporcional à precisão. A equipe do projeto deve sempre equilibrar precisão x custo x risco. As grandes etapas do projeto são apresentadas no cronograma resumido ao lado. 28 O cronograma detalhado é apresentado a seguir: 29 No cronograma, todas as áreas e pessoas responsáveis por executar as atividades foram explicitamente associadas às suas atividades correspondentes. Além disso, uma seção separada no plano do projeto com a lista de pessoas e áreas, bem como suas responsabilidades foi claramente formalizada. Essas pessoas fazem parte da equipe, e o que se espera delas no projeto deve ser claramente comunicado. 30 A animação da PM Story não deixa claro o planejamento detalhado dos custos do projeto e fez a estimativa de alto nível apenas para os custos de contratação e aquisição no momento da reunião do PM Canvas. Através da numeração dos itens de custo no PM Canvas, pode-se associar a quais entregas os custos estão relacionados. A Fabig mencionou durante o planejamento do projeto que usou informações históricas de projetos anteriores da Charlote para estimar durações e custos das atividades do projeto. 31 As principais comunicações formais do projeto foram planejadas. Todos os envolvidos no projeto devem entender como as comunicações afetam o projeto como um todo. Os gerentes de projetos podem gastar um tempo excessivo na comunicação com todos os interessados. Dessa forma, se houver um alinhamento durante a fase de planejamento em relação às necessidades de informações dos stakeholders, o momento e a forma com que as informações devem ocorrer, o tempo e esforço gasto nas comunicações pode ser otimizado. O planejamento das comunicações, em linhas gerais aborda qual informação é necessária e deve ser comunicada, quem é o responsável por prover a informação, a quem ele deve a informação, de que forma ela deve ser comunicada e quando. 32 Para que não houvesse falhas de comunicação, todos os envolvidos no projeto foram identificados e listados, bem como seus contatos. 33 Os principais riscos do projeto foram levantados. Riscos são as incertezas do projeto, são eventos que podem ou não ocorrer. Caso ocorram, podem trazer impactos positivos ou negativos ao projeto. Os riscos que trazem impactos positivos são denominados oportunidades. Os riscos que trazem impactos negativos são denominados ameaças. Muitas vezes dedicamos esforços para gerenciar apenas os riscos negativos, tentando minimizar a probabilidade e / ou o impacto desse tipo de risco. A probabilidade de um risco diz respeito à chance desse risco ocorrer. O impacto do risco diz respeito ao valor em jogo caso o risco ocorra. 34 As origens ou fontes dos riscos podem ser as mais diversas possíveis. Podemos ter riscos relacionados à equipe desmotivada ou incapacitada, a requisitos mal levantados, a projeto mal gerenciado, a fornecedores problemáticos, a clientes ausentes, bem como a fatores organizacionais. Para todos os riscos, uma análise qualitativa deve ser feita. Essa análise serve para priorizar os riscos. Dependendo da complexidade e tamanho do projeto, a lista de riscos pode ser imensa e podemos não dispor de “braço” para gerenciar todos eles. Por isso a priorização é importante. Para fazer a priorização dos riscos do projeto da nova filial de Viçosa, a Fabig usou uma escala de 1-5 para definir tanto probabilidade quanto impacto. A multiplicação dos dois valores gerou o grau de exposição do risco. Riscos com maior grau de exposição era priorizados em relação aos riscos com menor grau de exposição. Para cada risco, ações para mitigar (reduzir) a causa ou a consequência foram estabelecidas, bem como ações de contingência. As respostas de contingência são planejadas para serem usadas apenas quando os riscos ocorrerem. Por fim, os donos dos riscos foram identificados. Os riscos do projeto devem ser constantemente monitorados ao longo da execução do projeto, pois sua probabilidade e impacto podem ser alterados, novos riscos podem surgir e riscos podem deixar de existir. Por exemplo, a partir do momento em que a equipe de projetos civis elaborou e aprovou todos os desenhos técnicos, o risco relacionado ao atraso desses desenhos deixa de fazer sentido. As aquisições do projeto não foram tratadas no planodo projeto. A contratação de fornecedores para execução das obras era de responsabilidade da Charlote, e a aquisição de móveis e equipamentos era de responsabilidade da área de compras. Dessa forma, a Fabig se eximiu desses controles e todas as prestações de contas referentes a fornecedores eram feitas pelas pessoas e áreas responsáveis. Da mesma forma, o planejamento e gerenciamento da qualidade não ficaram explícitos na animação. O controle da qualidade das principais entregas do projeto ficaram a cargo da Charlote, no caso dos desenhos técnicos e dos executores, como também a cargo da área de Compras, responsável por adquirir móveis e equipamentos. 35 A reunião de kick-off Ao final do planejamento do projeto, a reunião de kick-off foi feita. A reunião de kick-off ocorre antes da execução do projeto. Nesse momento, toda equipe é mobilizada para rever o plano e se comprometer com ele. Como muitos se envolveram durante o planejamento, o kick-off da PM Story foi rápido. Durante essa reunião, alguns detalhes do projeto integrado ainda podem ser repassados e novas informações que podem levar ao replanejamento podem ser levantadas. No caso da PM Story, por exemplo, a área de marketing levantou informações históricas a respeito do atraso na instalação da identificação visual e isso levou ao replanejamento de uma atividade do cronograma, bem como revisão de um risco do projeto. Essas observações e questionamentos a respeito do plano por parte da equipe são importantes, pois no momento em que a equipe se compromete com o plano antes da execução ela deve acreditar que o plano é realista e pode ser executado nas condições colocadas. O comprometimento da equipe deve ser REAL e ela deve estar segura para se comprometer. Esse é mais um motivo para o plano ser elaborado com o envolvimento de todos. 36 Capítulo 4 – A integração das restrições do projeto Na PM Story é mencionado que, até o plano integrado e consistente do projeto estar pronto, a Fabig precisou de envolver e consultar várias pessoas para estimar esforços e custos, colocar atividades para serem executadas em paralelo, alinhar responsabilidades, identificar donos dos riscos, validar comunicações, entre outras questões que precisavam ser fechadas. Idealmente, o plano do projeto deve ser feito de forma colaborativa e, quanto mais os participantes do projeto estiverem envolvidos, menores são as chances de alterações futuras no plano. Alterações no plano do projeto durante a execução são inevitáveis na maioria das vezes, devido a novos requisitos que surgem, mudanças de mercado ou organizacionais que impactam no projeto. Muitas vezes não é possível evitar algumas alterações, mas esforços devem ser feitos para minimizá-las. O primeiro esforço para minimizar a possibilidade de alterações futuras no plano do projeto é elaborar um plano realista, com a colaboração e concordância de todos de que o plano é factível dentro dos recursos que a organização dispõe para atender aos requisitos de escopo, qualidade e tempo do projeto. O plano só é realista se ele aborda todos os requisitos do cliente, dentro das restrições impostas no projeto, com os recursos de tempo, pessoas, materiais e dinheiro que dispomos. Recursos que são sempre escassos, por sinal. Não, isso não é exclusividade do seu projeto. Todas as pessoas desse mundo executam projetos com menos recursos do que gostariam para fazê-lo. E temos que lidar com isso. 37 Abordar e explicitar todos os requisitos do projeto não é tarefa fácil. Primeiro porque ninguém dispõe de tempo para levantar e validar os requisitos. Tampouco de elaborar cronograma, plano de riscos, comunicações, dentre outros. A ansiedade de começar a executar o projeto é tão grande que muitas vezes o planejamento, que deve ser totalmente norteado pelas necessidades dos clientes, é relegado. Mas espere um pouco. Se um critério que define o sucesso de um projeto é entregar valor, é atender às necessidades do cliente, como sua execução pode ser iniciada antes de determinar essas necessidades? Qual é a justificativa de não termos tempo para levantar requisitos se são justamente eles que nortearão o planejamento de todo projeto? Se a justificativa é começar o projeto mais rápido, devemos ter em mente que, no momento de levantamento de requisitos, já começamos o projeto. E uma lista incompleta de requisitos gera um plano incompleto e gera, necessariamente, solicitações de mudanças ao longo da execução do mesmo. Quanto mais solicitações de mudanças ao longo da execução, maior será o prazo para finalizar o projeto dentro do escopo, que será constantemente alterado. Dependendo do momento em que as mudanças forem solicitadas, será necessário retrabalho para atender à solicitação de mudança. Isso vai fazer o projeto custar mais, e gastar mais tempo também, pois atividades que já foram realizadas terão que ser executadas novamente para atender à mudança. 38 Muitas vezes o levantamento de requisitos e, consequentemente, o planejamento do projeto é desprezado porque um prazo desafiador é imposto pelo cliente durante a contratação do projeto. Mas devemos entender o conceito de restrições do projeto, que estão relacionadas entre si. Todo projeto deve entregar, a partir de um conjunto de requisitos do cliente, um determinado escopo. Os requisitos são as necessidades, a demanda que o cliente tem em relação ao produto, serviço ou resultado que o projeto deve gerar. E todo projeto possui recursos finitos de pessoas, materiais, máquinas e dinheiro. Conseguimos atender o escopo do projeto dentro da qualidade desejada dos seus resultados com os recursos que dispomos em um determinado prazo. Logo, o escopo, qualidade, custos (relacionados aos recursos) e prazos do projeto estão intimamente relacionados. Se um escopo é fechado com um grau de qualidade desejado e os custos são controlados, então conseguimos atender a essas três restrições dentro de um determinado prazo. Se o cliente deseja que o prazo seja menor, não há mágica a fazer – teremos que cortar escopo ou reduzir o grau de qualidade de entregas ou aumentar recursos (custos) para conseguir terminar o escopo no prazo menor. É importante salientar que isso pode aumentar os riscos do projeto e trazer um impacto negativo em relação a satisfação do cliente. 39 Por outro lado, se uma mudança é solicitada através de um aumento de escopo, é natural que essa mudança impactará o aumento dos custos do projeto, pois precisaremos de recursos para executar as atividades relacionadas ao escopo dessa mudança. O prazo do projeto também poderá ser impactado. A não ser que possamos realizar atividades em paralelo ou retirar outra parte do escopo cujos esforços sejam compatíveis com o que estamos adicionando. O conceito de restrições do projeto e como elas se relacionam é crucial para entender e explicar a lógica do projeto aos stakeholders. O PM Canvas, usado na abertura da nova filial de Viçosa da Pm Story, é um ótimo instrumento que facilita a visualização de relacionamento entre as restrições do projeto. No PM Canvas, associamos as entregas (escopo) à equipe (recursos), aos custos e à linha do tempo. Todas as entregas devem ser explicitadas de forma a atender aos requisitos do projeto. Se a orientação é para reduzir custos, por exemplo, será necessário reduzir o grau de qualidade com que uma entrega é feita ou eliminar uma entrega. A lógica do projeto fica clara e através das informações integradas é possível justificar as decisões de planejamento. 40 Capítulo 5 – A execução e monitoramento do projeto Na execução do projeto, grande parte dos esforços partem da equipe do projeto, que executa atividades de construção do produto, desenvolvimento do serviço ou resultado a que o projeto pretende. Duranteessa etapa, o gerente do projeto tem a responsabilidade de mobilizar e gerenciar a equipe e o trabalho do projeto. Durante a execução, a Fabig monitorava as atividades e problemas do projeto junto à equipe e reportava, em marcos específicos, o desempenho do projeto junto ao presidente. O monitoramento das atividades junto à equipe tratava de questões do dia-a-dia do projeto, de verificação do cumprimento das atividades do cronograma, dos porquês do não cumprimento, da resolução do problemas que surgiam, da verificação dos riscos, do estabelecimento de planos de ações. No contexto da PM Story, esse acompanhamento acontecia semanalmente. Nesses momentos, o projeto era “regado”, cuidado nos detalhes, a grama aparada, as flores podadas. Questões miúdas são tratadas aqui junto a quem estava trabalhando nas atividades e entregas do projeto. 41 O acompanhamento de marcos junto ao presidente era diferente. Ele acontecia em momentos mais espaçados e tratava principalmente de verificar se as entregas planejadas para o marco foram feitas, além de fornecer uma informação geral da situação do projeto. Nesse acompanhamento de marcos, além de verificar as entregas, pode-se fazer uma análise da viabilidade do projeto continuar. Por exemplo, se já gastamos 50% do tempo do projeto, produzimos 20% do escopo e gastamos 80% do dinheiro, vale a pena continuar? Qual é a comparação do que foi produzido em termos de escopo, gasto em termos de tempo e recursos em relação ao planejado? Qual foi a variação? Essa variação está dentro das margens de variação permitidas? Com base nessas informações, vamos continuar ou é melhor cancelarmos, ou talvez renegociarmos os objetivos do projeto? 42 O acompanhamento do projeto pode assumir vários vieses. Muitas vezes vemos gerentes de projetos elaborando um único tipo de relatório de acompanhamento e enviando a pessoas e áreas com interesses diferentes a cerca do projeto. Ou seja, são fornecidas informações que não interessam a audiência. Fabig emitia relatórios diferentes dependendo do seu público. Junto à equipe, o acompanhamento era detalhado, a nível de atividades, problemas, riscos. Com o presidente, as informações era relacionadas a entregas, previsão de término e custos. Além das atividades de monitoramento e report do projeto, durante a execução a Fabig também controlava as mudanças que poderiam surgir no projeto. A principal mudança que surgiu explicitamente no contexto da PM Story foi uma solicitação do presidente que impactava em 7 dias e R$10.000 a mais. A mudança foi recebida formalmente, os impactos foram avaliados e apenas depois da aprovação da mudança a nova linha de base do plano do projeto foi criada, e o monitoramento do projeto passou a perseguir os dados de planejamento desse novo plano. 43 Como diz Ricardo Vargas, projeto nasceu para dar errado, está no DNA do projeto. Se quisermos boicotar um projeto que estamos conduzindo, basta ficar quieto, não precisamos fazer nenhum esforço para isso. E todas as informações a respeito do projeto estão muito bom conectadas. Sem os requisitos não conseguimos elaborar um plano. Por mais especialista que você seja em definir um bom escopo, cronograma e orçamento, envolver as pessoas, cuidar dos riscos, se não dispõe de todas as necessidades do projeto formalizadas através dos requisitos, o projeto não entregará o valor que deveria. E se você não tem um plano real, suas chances de concluir um projeto com sucesso são praticamente nulas. Por outro lado, apenas um bom plano realista não lhe garante uma boa entrega. Tem que cuidar, tem que vigiar durante a execução. Cuidar significa verificar se as coisas estão acontecendo conforme o plano. Comparar. Identificar desvios e o tamanho desses desvios. Saber os porquês. Tomar ações. Evitar novos desvios. Prever riscos e se precaver em caso de impactos negativos que eles possam gerar. Isso exige muita organização, sentido de controle, aferição. Exige cuidado com o projeto. Exige saber onde buscar as informações de execução, como organizá- las e principalmente como usá-las para te ajudar a entregar dentro da performance desejada. Nesse ponto cabe ressaltar que o gerenciamento de um projeto envolve dispor das informações corretas, atualizadas e no tempo certo para processá-las, tomar ações e decisões, e entregar os resultados das suas ações a quem precisar. Ninguém disse que é fácil. Mas certamente não exige habilidades de nenhum gênio. Antes de conhecer qualquer tarefa, temos de aprender a fazer a pergunta: “De que tipo de informação eu necessito, sob que forma e quando? [...] As perguntas seguintes que as pessoas precisam aprender a fazer é: “A quem devo que tipo de informação? Quando e onde” Peter Druker 44 Capítulo 6 – O encerramento do projeto A PM Story não deixa claro sobre as atividades que a Fabig fez no encerramento do projeto. Foram destacados apenas o coquetel de comemoração, evento muito importante por sinal, e o feedback do presidente em relação ao resultado do projeto. Apesar de muitos projetos serem abandonados ao invés de finalizados, muitas ações pertinentes acontecem nessa etapa do projeto: • Aceitação formal do cliente ou patrocinador. • Documentação das lições aprendidas. • Arquivamento de todos os documentos relevantes. • Revisão pós-projeto. • Registro dos impactos da adequação de qualquer processo. • Aplicação das atualizações apropriadas aos ativos de processos organizacionais. • Encerramento das aquisições. Além disso, todas as pendências devem ter sido resolvidas, os recursos formalmente liberados e o encerramento formalmente comunicado. 45 Capítulo 7 – A estrutura organizacional em que o projeto está inserido Os projetos normalmente fazem parte de uma organização que é maior que o projeto. A maturidade da organização em relação ao seu sistema de gerenciamento de projetos, sua cultura, seu estilo, sua estrutura organizacional podem influenciar o projeto e o grau de autoridade que o gerente de projetos pode ter. A estrutura da organização geralmente limita a disponibilidade de recursos para o desempenho das atividades dos projetos. Os tipos de estrutura organizacional variam desde uma estrutura funcional a uma estrutura por projeto, tendo diversas estruturas matriciais intermediárias. A estrutura matricial da organização onde a Fabig trabalha é tipicamente matricial. 46 A empresa está organizada por departamentos (TI, Projetos Civis, Comercial, Administrativo), e cada departamento possui funcionários com a mesma especialidade. Projetos podem surgir dentro dos departamentos, como também pode acontecer de um projeto ser iniciado (como foi o caso da nova filial de Viçosa), e a equipe se formar a partir de vários departamentos. Consideramos equipe todas as pessoas ou áreas que produzem alguma entrega no projeto. A Fabig nesse caso era a gerente do projeto e o restante da equipe tinha que se reportar a ela no que diz respeito às atividades e responsabilidades do projeto. O Lopes fazia parte da equipe pois auxiliava a Fabig em todas as atividades de gerenciamento. Interessante notar que a Charlote, que coordenava toda área de Projetos Civis, junto com seus subordinados, faziam parte da equipe deste projeto e deveriam se reportar à Fabig nas questões pertinentes ao projeto, mesmo a Fabig não possuindo cargo de coordenação na estrutura hierárquica da empresa. Basicamente as entregas deles diziam respeito aos desenhos técnicos da nova filial. Dentro da gerência comercial, uma pessoa do departamento de marketing também fazia parte da equipe porque estava responsável pela contratação e instalação da identificação visual. Dentro da gerência administrativa, uma pessoa do departamento de RH tinha aresponsabilidade de selecionar, contratar, integrar e treinar os novos funcionários da filial. E o departamento de compras, também dentro da gerência administrativa, tinha a responsabilidade de orçar e comprar os novos móveis equipamentos. Os executores dos projetos civil, hidráulico, climatização, dados e voz também são considerados equipe na medida em que produzem entregas no projeto, mesmo sendo fornecedores externos à organização. No caso da PM Story, eles eram selecionados pela Charlote e deveriam se reportar a ela. Dentro da estrutura organizacional da empresa, existiam pessoas e outros departamentos que estavam envolvidos com os resultados do projeto mas não faziam parte da equipe pois não produziam entregas do escopo. Esse era o caso da área fiscal, que cuidava das licenças ambientais, do financeiro, que cuidava do seguro e patrimônio, que cuidava do projeto contra incêndio. Esses três itens estavam fora do escopo do projeto, eram exclusões do projeto, mas essas áreas tinham que ser informadas do andamento do projeto para cumprirem com suas responsabilidade. O fato de serem stakeholders externos também fazia com que uma série de premissas relacionadas a eles fossem assumidas. Por exemplo, era assumido que a licença da Prefeitura, de responsabilidade do fiscal, seria obtida para a construção da filial. O presidente da empresa, demandante e sponsor do projeto, também era um stakeholder externo pois não produzia entregas do projeto, mas patrocinava o projeto provendo recursos para a execução do mesmo. 47 Capítulo 8 – O sucesso do projeto “Sucesso significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Um arquiteto pode considerar sucesso em termos de aparência estética, um engenheiro em termos de competência técnica, um contador em termos de dólar gasto no orçamento, um gerente de recursos humanos em termos de satisfação dos empregados. Os executivos avaliam seu sucesso em termos de ações de mercado.” (Freeman e Beale, 1992). A PM Story terminou com a Fabig feliz pelo projeto ter terminado com sucesso, mesmo sem ter recebido elogios do chefe em relação ao bom gerenciamento do projeto. Nesse aspecto, a vida do gerente de projetos é desafiadora, pois muitas vezes ele é cobrado e responsabilizado pelo fracasso do projeto e outras vezes não recebe o crédito devido pelo sucesso. Ou seja, quando o projeto termina bem, ninguém lembra que o gerenciamento existiu. Quando o sucesso fica comprometido, a culpa é do mau gerenciamento. Mas o que é sucesso de um projeto? O conceito de sucesso é muito controverso, interpretado diferentemente pelas pessoas e precisa ser constantemente alinhado com os stakeholders antes do projeto iniciar e durante a execução do mesmo. 48 Farias e Almeida (2010) publicaram o artigo intitulado Definindo o sucesso de projetos, onde fizeram um apanhado sobre os diversos critérios usados para definir sucesso de projetos. Ao todo, os autores encontraram oito definições diferentes para sucesso de projetos! Em muitas dessas definições, os critérios de sucesso mais usados foram: • Eficiência do projeto: alcances de escopo, custo e prazo, se o projeto for completado de acordo com o plano. • Impacto e satisfação do cliente: percepção das principais partes interessadas em relação ao projeto. Essa dimensão especifica como os resultados do projeto melhorarão a vida e os negócios e como as necessidades dos clientes serão atendidas. • Impacto no time: reflete como o projeto afetará seus membros em termos de satisfação do time, moral, lealdade do time com a organização e a retenção depois que ele for finalizado, bem como o investimento indireto da organização no time, seu aprendizado, crescimento e capacidades. • Sucesso direto e nos negócios: impacto direto e imediato do projeto na organização principal: nível de vendas, receitas, lucros, fluxo de caixa e outras medidas financeiras. • Preparação para o futuro: diz respeito aos resultados de longo prazo, tais como criar um novo mercado, uma nova linha de produtos, uma nova tecnologia. • Sucesso do gerenciamento de projeto: qualidade do processo de gerenciamento levando a atingir os objetivos de escopo, prazos e custo. Satisfação das partes interessadas no que se refere à condução do projeto. • Sucesso do produto: ir ao encontro dos objetivos estratégicos da organização, satisfazer as necessidades dos usuários, satisfazer as partes interessadas no que se refere ao produto. Como podemos ver, a definição de sucesso pode envolver uma série de critérios, que muitas vezes podem ser diferentes para as diversas pessoas envolvidas no projeto. Como então perseguir de maneira acertada o sucesso do projeto que estamos conduzindo? A primeira coisa a fazer é perguntar ao cliente, patrocinador ou outra parte interessada importante quais são os critérios de sucesso deles. A cada mudança ou marco, confirme novamente quais são os critérios de sucesso. Uma abordagem integradora de sucesso de projetos pode ser resumida da seguinte forma: “Um projeto de sucesso é aquele que é concluído dentro do prazo e dos custos estabelecidos conforme planejado, e em um nível de qualidade de seus resultados e produtos que leve à plena satisfação de seus clientes e atendimento objetivos de negócio!” 49 Capítulo 9 – Conclusões Todas as pessoas e organizações desejam finalizar seus projetos atendendo todas as necessidades para as quais eles foram iniciados, dentro dos prazos impostos cliente, sem retrabalho, utilizando o menor número de recursos possível. Ou seja, todos os clientes querem comprar sonhos e muitas vezes, mesmo sem dispor de todas as informações para isso, acabamos vendendo o sonho, sabendo que não vamos conseguir entregar. Por que fazemos isso? Porque temos medo de perder o cliente? Suspeito que o principal motivo pelo qual vende-se sonho é o desconhecimento sobre as informações do projeto e como usá-las para conduzir bem o projeto. Não se sabe usar as restrições do projeto para justificar prazos, necessidades de recursos, riscos. A PM Story procura mostrar como vender e conduzir um projeto de maneira realista e colaborativa. O gerenciamento de projetos deve ser útil, desejado e trazer resultados positivos aos projetos. Mas certamente não tem a pretensão de agradar a todos. Os clientes só deixarão de comprar sonhos quando deixarmos de vender fantasia. Nenhum cliente vai descobrir que não vendemos milagres se não deixarmos de tentar fazer milagres. Vender sonho e entregar realidade só tem uma consequência: fazer os clientes pensarem que somos incompetentes. Tornar o gerenciamento de projetos área séria e confiável depende de uma única coisa: vender realidade e entregar realidade. Paulo Márcio Brandi Rezende Para todos os próximos projetos dos quais passaremos a participar, podemos escolher entre continuar vendendo sonho e entregando realidade ou vender realidade e entregar realidade. A escolha é toda nossa. Bons projetos a todos! 50 Referências CHOO, Chun Wei. The knowing organization: how organizations use information to construct meaning, create knowledge and make decisions. New York: Oxford University Press, 2006. DAVENPORT, Thomas; PRUSAK Laurence. Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. DRUCKER, Peter. Sociedade pós-capitalista. 7. ed. São Paulo: Editora Pioneira, 1998. FARIA FILHO, J., R.; ALMEIDA, N. O. Definindo sucesso em projetos. Revista de Gestão e Projetos - GeP, São Paulo, v. 1, n. 2, p 68-85, jul./dez. 2010. FINOCCHIO JÚNIOR, J. Project Model Canvas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. FREEMAN, M. and BEALE, P. (1992). Measuring project success. Project Management Journal, 1, 8– 17. LEVIN, Ginger. Knowledge mangement success equals project management success. PMI Global Congress 11. Washington D.C, 2010.LIERNI, Peter C.; RIBIERE, Vincent M. 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