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Resumo do livro: O que é Direito Alternativo. ANDRADE, Lédio Rosa de. O que é Direito Alternativo. 3ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. O Direito Alternativo, ou Movimento do Direito Alternativo, é um movimento de um grupo de operadores do Direito, a partir do início do ano de 1990, que se organizaram, no Brasil, para produzir uma nova forma de perceber, interpretar e praticar a Ciência Jurídica. De forma dogmatizada, alguns críticos alegam trata-se de uma corrente do Direito posta contra a lei, que defende a liberdade total do julgador, o que significaria voluntarismo jurídico exacerbado, capaz de determinar a quebra do Estado de Direito e levar o Direito, e consequentemente, a própria sociedade, a uma prática fascista: a ditadura dos magistrados. Sem qualquer base epistemológica, portanto, e partindo-se de afirmações sem ética científica, criou-se o preconceito em relação ao movimento a ponto de ensurdecer os juristas tradicionais, sem qualquer fundamento teórico ou prático, de maneira totalmente dogmática, e, pior, fora da realidade. As críticas do Direito Alternativo são direcionadas à teoria juspositiva, que descreve a realidade de forma falsa; e à ideologia juspositiva, que interfere na realidade, criando valores úteis às classes mais favorecidas em detrimento da grande maioria da população. Trata-se de crítica fundada em um juízo axiológico, de valor. Os alternativos não combatem o fato de existirem leis aprovadas pelo parlamento e uma estrutura judicial para interpretá-las e aplicá-las. Entretanto, ao concordarem com a forma, ou método, não estarão, automaticamente ou em desdobramento, de acordo coma a ideologia e a teoria embutida neste sistema. Trata-se de uma questão de ideologia e o uso do Direito em favor de determinado interesse oficializados. O Direito Alternativo Brasileiro, não está a lutar contra a existência de um sistema de normas escritas no Brasil, e não se defende a ausência de limites aos julgadores. Labuta-se contra o conteúdo de algumas leis, contra a falta e aplicação de outras e contra a interpretação reacionária dos textos legais, efetuada pela grande maioria dos juristas brasileiros. Não há motivos para se ter o método jurídico brasileiro como perfeito e nosso Direito positivo como paradigma de Justiça social. Portanto há muito a ser criticado e combatido. Isso porque a realidade que sustenta o arcabouço jurídico oficial do Estado a servir a pequenas classes sociais, em detrimento de todo o povo, com suas exceções. Lutar contra esta realidade não significa buscar a destruição da estrutura legal ou do sistema jurídico do Brasil, mas a tentativa de modificação do seu conteúdo e interpretação, para alterar suas consequências. Isso é a essência do Direito Alternativo: assumir um lado, entre tantos, dentro da Ciência Jurídica. E é o lado das classes excluídas. Com no escopo de explicar o significado de Direito Alternativo, inicio com um breve repasse histórico. No ano 1964, o cidadão brasileiro perdeu, ou, pelo menos, teve diminuída sua capacidade de ir a juízo, exercitar seus Direitos subjetivos para pleitear Direitos objetivos relacionados com sua condição social, econômica e laboral. Naqueles anos as faculdades de Direito foram mais legalistas que outrora, e sua pedagogia cingia-se a transmitir os conteúdos das normas em vigor, o pensamento de alguns doutrinadores e da jurisprudência, quase sempre, de extrema direita. Tentar problematizar a Ciência Jurídica, criticar seus dogmas era prática subversiva e poderia levar à prisão, à tortura e, até mesmo,à morte. Com o fim da ditadura (1985), principia o processo para elaboração da nova Constituição Federal. A Associação dos Magistrados Brasileiros organizou várias reuniões para levantar sugestões a serem sistematizadas em nível nacional e, após, encaminhadas como propostas ao Congresso Constituinte. Havia uma forte insatisfação com a profissão e coma a atitude do Poder Judiciário frente aos cruciais problemas nacionais. O Judiciário sempre se houve como uma instituição pretensamente neutra, sob o argumento de ser sua função tão só aplicar a lei, ignorando as dificuldades e conflitos existentes na sociedade. Além disso, os julgadores deparavam-se, e seguem deparando-se, com o anacronismo da legislação, com rigidez processual e sua consequência ineficácia social da prestação jurisdicional e com o caráter meramente exegético da cultura jurídica dominante. O resultado é a formação de julgadores completamente vinculados a algumas leis eleitas como prioritárias, pois outras são esquecidas ou propositadamente restringidas; e, a jurisprudência dos tribunais.Isto gera uma grande dessintonia entre o discurso jurídico hegemônico e a realidade socioeconômica do país. Todo esse quadro criou uma tensão intrapoder. Do descontentamento, acabou surgindo uma práxis jurídica alternativa. Simultaneamente, a sociedade civil começou a organizar-se e a trazer ao Poder Judiciário reivindicações não resolvidas pelos outros Poderes, todas, até então, consideradas políticas, econômicas ou sociais, ou seja, não-jurídicas. A população politízou o Judiciário, transformando as lides jurídicas de demandas só interindividuais em conflitos coletivos e classistas. Até porque a prática jurídica, tida como apolítica de pura técnica neutra, é, em realidade, uma práxis ideológica, vinculada ao poder hegemônico, com prometida, de igual forma, com determinadas condições socioeconômicas e políticas. Por conseguinte, nada neutra. Entre esses julgadores inovadores estavam os primeiros juízes alternativos, mas não só eles. Outros magistrados também se rebelaram contra o distanciamento do Poder judiciário em relação às questões sociais, e, até certo ponto, o efetivo abandono. O primeiro passo para o início do Direito Alternativo foi a criação de um grupo de estudos, organizado por alguns juízes de Direito gaúchos, comuns e trabalhistas, após de participarem das mencionadas reuniões promovidas pela associação classistas, com o propósito de levantar sugestões aos legisladores constituintes. Nesse mesmo tempo, juristas não-magistrados, influenciados pelo movimento italiano do uso alternativo do Direito, já falavam na possibilidade de criação de um novo Direito, isso por volta do ano 1987. Não se pensava, até então, na criação um movimento jurídico crítico, organizado em todo Brasil. O episódio histórico responsável pelo surgimento do Direito Alternativo ocorreu no dia 25 de outubro de 1990, quando o Jornal da Tarde, de São Paulo, veiculou um artigo redigido pelo jornalista Luiz Maklouf, com a manchete “JUÍZES GAÚCHOS COLOCAM DIREITO ACIMA DA LEI”. Essa reportagem teve o objetivo de ridicularizar e desmoralizar o grupo de magistrados. O efeito desejado pelo órgão de imprensa acabou invertido, pois não houve ridicularização ou desmoralização; ao contrário, a publicação acabou servindo como um grande veículo de propaganda, unindo vários magistrados descontentes com a postura tradicional do judiciário. Portanto é correto afirmar ter sido o mês de outubro de 1990 a data de início do Direito Alternativo, ou, hoje mais consolidado, Movimento do Direito Alternativo. O nome Direito Alternativo foi dado pela imprensa pois os juízes gaúchos apontados no artigo do jornalista Luiz Maklouf assim foram determinados. Sendo um movimento de crítica à ordem estabelecida e havendo, na época, ao final de uma ditadura militar, um forte espírito de reivindicação social e de luta por liberdade, o Direito Alternativo virou uma espécie de moda. Seus eventos foram grande sucesso. Dois fatores são importantese devem ser assinalados. Um deles é que o movimento não está mais restrito ao sul do Brasil. O outro é a criação e consolidação do Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina, Cesusc, na cidade de Florianópolis, o qual deu ao movimento uma base permanente. O Movimento do Direito Alternativo começou com juízes de Direito, em seguida alastrou-se por todas a áreas jurídicas, e transformou-se em uma corrente organizada, talvez a maior, do pensamento jurídico ao Direito tradicional, no Brasil. O Direito Alternativo teve o mérito de aproveitar o pensamento crítico, ampliá-lo e, fundamentalmente, levá-lo à prática jurídica e ao cotidiano forense. Muitas das decisões iniciais dos magistrados alternativos, hoje já se transformaram em jurisprudência pacífica na quase totalidade dos tribunais do país, incluindo os superiores, ou mesmo tornaram-se leis. Vale ressaltar que o Movimento do Direito Alternativo não é uma imitação, e suas características são muito próprias. Entretanto teve como seu grande inspirador o movimento italiano do uso alternativo do Direito. O Direito Alternativo não possui uma ideologia única. Os membros do movimento uniram-se e permanecem unidos por objetivos comuns, passíveis de serem buscados em uma mesma prática jurídica. O Direito Alternativo surgiu sem um debate teórico prévio. Portanto não ocorreu a evolução de uma proposta. Os pontos em comum nessa fase eram os seguintes: não-aceitação do sistema capitalista como modelo econômico; combate ao liberalismo burguês como sistema sociopolítico; combate irrestrito à miséria de grande parte da população brasileira; e luta por democracia. Também existia, e ainda existe, crítica unânime ao positivismo jurídico, entendido como uma postura jurídica tecno-formal-legalista, de apego irrestrito a uma cultura legalista e de aplicação de uma pseudo-interpretação lógico-dedutiva, somada a um discurso apregoador: da neutralidade do Direito, do formalismo jurídico, da coerência e completude do ordenamento jurídico, da fonte preeminente do Direito e da interpretação mecanicista. Os primeiros juristas alternativos foram juízes gaúchos e seus primeiros atos concretos foram criticar, abertamente e em público, o positivismo jurídico. Essas críticas, ainda permanecem e podem ser resumidas nos tópicos que seguem: • Denuncia do Direito como parcial e valorativo • O fato de o formalismo jurídico representar uma forma de escamotear o conteúdo perverso de parte da legislação e de sua aplicação no seio da sociedade • Não ser o Direito coerente e completo • A lei pode ser a fonte privilegiada do Direito, mas a ideologia do intérprete dá o seu sentido, ou sentido por ele buscados • Conceitos vazios Com base em todas essas críticas, os alternativos afirmam: ser o Direito uma ciência contaminada pela ideologia; existirem inúmeros espaços de não Direito; e, ser interpretação jurídica um exercício de valores. Os juízes alternativos deram uma espécie de grito de independência em relação à ideologia jurídica dominante, o positivismo. Os juízes alternativos passaram a decidir os processos sob suas jurisdições com base em outro método hermenêutico, fundado na Constituição e no compromisso com o social, tendo como fundo uma exegese teológica. Não havia, entretanto, uma nova teoria jurídica, sequer uma teoria hermenêutica estruturada. Um dos primeiros conceitos surgidos foi o de Jurista Orgânico. Para os alternativos, os operadores jurídicos, em sua maioria, estão comprometidos com as classes dominantes e laboram para manter a sociedade exatamente como se encontra, não querem mudar nada de estruturalmente importante. Orgânico, portanto, é aquele jurista comprometido com a mudança social. Os juristas alternativos pretendem-se orgânicos, mas importante salientar que a prática alternativa deseja mudanças sociais, mas não pretende transformar a sociedade através do Direito, ou através das instituições. Isto é pensamento unânime entre os alternativos. Acredita-se, entretanto ser importante o mundo jurídico estar envolvido na liça pela construção de uma sociedade, ou uma nova forma de viver. Em realidade, o movimento alternativo foi dividido em três atividades prático-teórico, como segue: Positivismo de Combate Uso alternativo do Direito Direito Alternativo em sentido estrito. Não há uma identidade ideológica no Direito Alternativo, não obstante existir uma concordância, especialmente em relação a algumas críticas ao positivismo jurídico e ao paradigma jurídico liberal/legal. O Direito Alternativo é uma forma jurídica, ou prática jurídica ligada à disputa do poder, mas não via guerra civil. Busca chegar ao poder, debilitando a hegemonia do grupo social que o detém , para tomar o seu lugar. Há muito já abandonou a ideia de construir uma teoria jurídica alternativa sólida. Vem executando, entretanto uma prática jurídica se não capaz de dar conta do fenômeno jurídico como um todo, pelo menos apta a permitir sua integração com os demais fenômenos sociais, produzido avanços na aplicação do Direito como mediador social.
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