Buscar

A ADAPTAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA TRADICIONAL PARA O FORMATO HISTÓRIA EM QUADRINHOS


Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 58 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE – UNINORTE 
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA 
DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO e PESQUISA 
COORDENAÇÃO DE PESQUISA STRITO SENSU 
 
 
 
 
 
 
Daniel Jordano Miranda 
Luiz Guilherme Melo 
Mário Bentes 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ADAPTAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA TRADICIONAL PARA 
O FORMATO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus 
2009 
 
 2 
 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE – UNINORTE 
PRÓ-REITORIA ACADÊMICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Daniel Jordano Miranda 
Luiz Guilherme Melo 
Mário Bentes 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ADAPTAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA TRADICIONAL PARA 
O FORMATO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus 
2009 
 
 3 
 
 
Daniel Jordano Miranda 
Luiz Guilherme Melo 
Mário Bentes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ADAPTAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA TRADICIONAL PARA 
O FORMATO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs) 
 
 
 
 
Relatório Final apresentado para obtenção de nota na 
disciplina Projeto Experimental II, ministrada pela Profa. 
Msc. Leila Ronize, do Curso de Comunicação 
Social/Habilitação em Jornalismo, do Centro Universitário 
do Norte (Uninorte). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus 
2009 
 
 4 
 
 
 
 
P659a PINTO NETO, Mário Bentes Braule. 
A adaptação da linguagem jornalística tradicional para o 
formato Histórias em Quadrinhos (HQs) / Mário Bentes Braule 
Pinto Neto, Daniel Jordano da Silva Miranda e Luiz Guilherme 
Melo de Souza. – Manaus: Uninorte, 2009. 
 58f. il ; 30cm. 
Projeto Experimental (Graduação) - Centro Universitário do 
Norte. 
Curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo. 
Orientadora: Profª MSc Leila Ronize 
 1. Jornalismo 2. Jornalismo Literário 3. Cultura Popular 4. 
Artes visuais I. Título. 
 
CDD 070.981 
 
 
 5 
 
 
Daniel Jordano Miranda 
Luiz Guilherme Melo 
Mário Bentes 
 
 
 
A ADAPTAÇÃO DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA TRADICIONAL PARA 
O FORMATO HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs) 
 
 
 
Prática Editorial, apresentado para obtenção de nota na disciplina Projeto 
Experimental II do Curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo, do 
Centro Universitário do Norte (Uninorte). 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em ________/_______/_______ 
 
 
 
 
 
 
 
 
___________________________________________ 
Leila Ronize, MSc 
Centro Universitário do Norte – Uninorte 
 
 
 
 
 
 
 
 6 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, Leila Maria, que me deu a vida e 
trabalhou para me tornar no homem que sou hoje e por 
ter paciência nas diversas horas que ocupei seu 
computador e sua Internet. 
 
Mário Bentes 
 
Dedico primeiramente a Deus, único Senhor e Salvador 
que permitiu que chegasse até aqui. Também dedico a 
minha mãe, pois sem ela não conseguiria trilhar o 
caminho; a meu pai e a todas as pessoas que direta ou 
indiretamente colaboraram para a minha formação 
acadêmica e profissional. Tenham certeza que sempre 
farei o melhor. 
 
Daniel Jordano Miranda 
 
Dedico este projeto a Deus, em primeiro lugar, que 
permitiu que eu chegasse aqui e que me fortaleceu 
durante esses quatro anos de caminhada; aos meus avós, 
Afonso Furtado e Raimunda Furtado, que acompanharam 
quase toda minha trajetória e agora assistem essa 
conclusão de um lugar muito especial; aos meus pais, 
Rui Guilherme e Rosangela Melo, pelo apoio 
incondicional que me deram nesse período de minha 
vida; aos meus amigos pelas palavras de incentivo e a 
todas aquelas pessoas que, direta ou indiretamente, 
contribuíram para a minha formação. 
 
Luiz Guilherme Melo 
 
 
 7 
 
 
AGRADECIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecemos 
 
À nossa orientadora e sempre professora Leila Ronize, 
que teve a paciência de nos traçar os caminhos a 
percorrer. 
 
À jovem Nathaly Leite, que evocou o espírito natalino 
de seus alunos do Cetam para que eles participassem do 
trabalho como membros da amostra populacional da 
metodologia deste trabalho. 
 
À desenhista Ana Paula Castro, que pôs o coração na 
ponta do nanquim e ajudou a evitar que sonhos se 
tornassem pesadelos. 
 
Ao amigo Márcio Alexandre, que pôs ao nosso dispor 
os seus saberes ocultos dos programas de edição gráfica 
para a elaboração de nosso produto experimental. 
 
Ao amigo Jacob Leonardo, por estar sempre presente. 
 
Ao professor e amigo de quase vinte anos Ataide Junio, 
por sua ajuda na nada fácil revisão deste trabalho. 
 
 
 
 8 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Escrever para quadrinhos é mais ou menos como escrever poesia. Você tem de adaptar seus 
pensamentos para uma forma bastante rígida e usá-la tão fluentemente que os leitores não 
fiquem cientes de sua artificialidade”. 
Dennis O‟Neil, Guia Oficial DC Comics – Roteiros, página 10. 
 
 
 9 
 
 
RESUMO 
 
O projeto referente à Prática Editorial do tema “A adaptação da tradicional linguagem jornalística 
para o formato Histórias em Quadrinhos” apresenta embasamento teórico para afirmar que o 
modelo de linguagem vigente no jornalismo brasileiro, como a conhecida estrutura da Pirâmide 
Invertida, não é mais atraente ao grande público, fato constatado pela notável queda dos índices de 
circulação e receitas dos periódicos mais importantes do mundo. Paralelamente, observa-se que o 
perfil do próprio público vem mudando ao longo do tempo e que este passa a exigir formas atrativas 
e dinâmicas de informação, algo que é atendido por veículos mais recentes, como a Internet. Mesmo 
os modelos tradicionais de veículos de comunicação, como rádio e TV, buscam alternativas neste 
sentido para evitar perda de público. A partir da posição de teóricos, propomos a adoção no novos 
modelos de transmissão da informação para os impressos, mais especificamente o uso da linguagem 
visual sequencial que marca uma das formas de arte e cultura popular mais conhecidas do Século 
XX: as Histórias em Quadrinhos. 
 
Palavras-chave: Jornalismo; Jornalismo Literário; Cultura Popular; Artes visuais. 
 
 
 10 
 
 
ABSTRACT 
 
The project referring to the Editorial Practice of the theme “The adaptation of traditional journalistic 
language to Comic Books format” presents theoretical basis to assert that the current language 
model in Brazilian journalism, as the Inverted Pyramid, a very well known structure, is no longer 
attractive to the general public, a fact verified by notable decreases in circulation and revenue of the 
most important magazines in the world. In addition, it is observed that the profile of the public itself 
has been changing over time and that now requires attractive and dynamic forms of information, 
something that is attended by newer vehicles such as the Internet. Even the traditional models of 
media, such as radio and TV, seek alternatives in order to avoid loss of audience. From the position 
of theorists, we propose the adoption of the new models of transmission of information to the 
printed ones,more specifically the use of sequential visual language that marks one of the forms of 
art and popular culture best known in the twentieth century: The Comic Books. 
 
Tags: Journalism, Literary Journalism, Popular Culture, Visual Arts. 
 
 
 11 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................... 12 
1 METODOLOGIA ......................................................................................................................................... 16 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................................... 18 
2.1 Histórias em Quadrinhos: Uma breve História ...................................................................................... 22 
2.1.1 Nos Estados Unidos ......................................................................................................................... 24 
2.1.2 Quadrinhos no Brasil ....................................................................................................................... 26 
2.2 Jornalismo e Literatura ........................................................................................................................... 27 
2.2.1 Reportagem: entre informação e entretenimento............................................................................. 28 
2.2.2 Novo Jornalismo .............................................................................................................................. 31 
2.2.3 Jornalismo Literário no Brasil ......................................................................................................... 31 
2.2.4 Jornalismo Gonzo ............................................................................................................................ 32 
2.3 Ficção e Jornalismo ................................................................................................................................ 32 
2.4 A crônica jornalística: uma atenção especial a um gênero especial ....................................................... 33 
2.5 Exemplos de Jornalismo em HQ ............................................................................................................ 35 
2.5.1 A obra de Joe Sacco: O “Novo” Novo Jornalismo .......................................................................... 36 
2.5.2 A obra de Héctor Oesterheld ........................................................................................................... 38 
3 PRODUTO .................................................................................................................................................... 40 
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS.................................................................................................... 52 
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................... 54 
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 58 
 
 12 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A proposta deste projeto experimental é apontar a receptividade, por parte de um segmento 
de público específico, da adaptação da tradicional estrutura de informação jornalística para o 
formato Histórias em Quadrinhos (HQ), com inserção de elementos visuais e artísticos típicos das 
HQs – desenhos de personagens e cenários, quadros narrativos, balões de diálogo e outros – e 
técnicas presentes no Jornalismo Literário, a exemplo dos livros-reportagens. Para isso será criado 
um livro voltado a esse propósito, no qual reportagens especiais literárias já redigidas pelos autores 
deste projeto e outras que serão especialmente apuradas e escritas com esse fim serão adaptadas à 
estrutura de roteiros criada pela Produtora DC Comics
1
, dos EUA. 
A principal relevância do tema trabalhado neste projeto está no atual cenário do jornalismo 
impresso no Brasil e em outras partes do mundo, onde as mudanças de perfil do público-leitor se 
transformam em razão, principalmente, das novas tecnologias em comunicação – ressalte-se a 
Internet –, o que tem criado um ambiente desfavorável para jornais e revistas impressas do mundo 
inteiro. Tal situação tem se sustentado por conta da insistência de muitos jornais em competir com 
veículos online, em vez de adaptar sua estrutura narrativa para o aprofundamento em detrimento de 
uma objetividade e agilidade que se torna cada dia mais difícil para os impressos. 
Dentro de uma modalidade de prática editorial, este projeto tem como delimitação de tema 
“A adaptação da linguagem jornalística tradicional para o formato Histórias em Quadrinhos 
(HQs)”, a partir do tema macro “Jornalismo”. A justificativa para a execução deste projeto está na 
notável mudança do perfil do público leitor de produtos jornalísticos desde o advento e 
popularização da Internet que, somada às crises financeiras globais, tem colaborado para o 
agravamento do cenário para o jornalismo impresso em todo o mundo. Atualmente, grande parte do 
que é noticiado em jornais diários e revistas já foi, mesmo que superficialmente, abordado por 
 
1
 Não houve um critério técnico específico adotado para a escolha do formato em questão, apenas o fato de que a 
produtora citada é a única, até onde nossa pesquisa pôde constatar, que possui obra devidamente publicada no 
mercado voltada à criação de roteiros para Histórias em Quadrinhos. 
 
 13 
 
 
algum veículo online com pelo menos um dia de antecipação. Tal situação acontece por razões 
óbvias: os jornais, revistas e outros meios impressos dependem de recursos físicos, operacionais e 
logísticos que veículos online dispensam, como diagramação, impressão e circulação. A 
instantaneidade de noticiários de Internet permite que uma notícia, mesmo que não completamente 
confirmada, possa ser veiculada, alterada ou atualizada em questão de segundos. Jornais e revistas 
impressas não dispõem de tal recurso. Uma vez impressa, a notícia se torna algo perene e eventuais 
erros de checagem só podem ser devidamente corrigidos 24 horas depois ou, em casos mais 
urgentes, com edições especiais impressas no mesmo dia. 
Talvez tenha sido essa razão que tem, ainda hoje, motivado muitos jornais a manterem 
equivalentes de seus tradicionais impressos em sites na Internet, onde este último espaço se dedica a 
notícias de última hora ou para ratificar informações veiculadas anteriormente, seja nos impressos 
ou no próprio veículo online. Mas este novo momento não tem sido suficiente para driblar a crise 
que os jornais tradicionais vêm enfrentando. Alguns periódicos, como os estadunidenses Chicago 
Tribune, Minneapolias Star-Tribune, Journal Register Co. e Chicago Sun-Times decretaram 
falência nos últimos quatro meses somente nos EUA
2
. No Brasil, a situação não é diferente. No dia 
25 de maio deste ano, em comunicado, a Editora JB S.A. anunciou que não mais responderia pelo 
centenário Gazeta Mercantil por conta de acúmulo de R$ 200 milhões em dívidas trabalhistas. Em 
abril último, o colunista Michael Wolf, em um painel online de discussão, declarou que 80% dos 
jornais impressos dos EUA simplesmente desapareceria em 18 meses – tese contestada por alguns 
especialistas
3
. 
Em seu livro O Destino do Jornal, o jornalista Lourival Sant‟anna – repórter especial do 
Estado de S. Paulo – crê que apenas uma mudança no formato dos jornais pode garantir seus 
leitores. Ele argumenta que o atual formato adotado – que obriga os jornais a competirem com2
 Dados do Centro Knight de Jornalismo – Knight Center of Journalism in the Americas 
(http://knightcenter.utexas.edu). 
3
 Idem. 
 
 14 
 
 
veículos online – tende a levar o jornalismo impresso a uma severa redução de receitas, não apenas 
por conta das sucessivas crises causadas pelas grandes economias mundiais, mas pela gradual 
mudança de perfil dos leitores do século XXI. Ele acredita que o leitor moderno não quer mais 
saber “apenas” dos acontecimentos, mas opta pelos detalhes dos acontecimentos – elementos 
normalmente dispensados pelos grandes veículos de massa. “A reportagem é a forma natural da 
narrativa. Ela é tão velha quanto o homem, quanto o ser humano. E tem um apelo muito forte 
exatamente por isso. Desde criança, a gente gosta de histórias porque a gente se identifica, se 
compara. A gente viaja junto com o narrador, a gente vive uma outra vida por meio da narrativa. 
Então, isso tem um apelo muito grande e pode causar muito prazer. Os jornais podem fornecer ao 
leitor, a cada 24 horas, a compreensão dos fatos por meio da história narrada. Eu acho que aí está a 
chave para o jornal ter uma sobrevida e encontrar um espaço muito nobre no mercado.”4 
Além disso, é inegável que a linguagem em HQ é considerada por muitos como sendo um 
formato atrativo ao grande público, sobretudo pelo apelo visual e estrutura popular, o que torna as 
HQs ao alcance dos mais variados públicos. Segundo explicam Patati & Braga (2006): 
 
“O impacto cultural dos quadrinhos, mídia barata e de grande alcance de 
público, foi tanto imediato quanto duradouro. As histórias em quadrinhos foram, e 
são ainda, importante ferramenta na construção do imaginário coletivo dos povos 
ocidentais e orientais.” (p. 12). 
 
Nesse sentido, o presente projeto experimental vai buscar validar estes argumentos – 
sustentados ainda pelo sucesso de algumas publicações como a Revista Mad, da editora Panini 
Comics, que usa da estrutura HQ para fazer críticas humoradas sobre assuntos do cotidiano social e 
político brasileiro (Jornalismo Opinativo) e, mais importante, baseado no trabalho do jornalista 
 
4
 Em entrevista concedida em 19 de janeiro de 2009 ao sítio eletrônico Portal Amazônia 
(http://portalamazonia.globo.com), da Rede Amazônica de Rádio e Televisão, e repercutida pelo Observatório da 
Imprensa (http://www.observatoriodaimprensa.com.br). 
 
 15 
 
 
maltês Joe Sacco
5
, considerado um dos primeiros a ingressar no uso da linguagem de Histórias em 
Quadrinhos no ofício do Jornalismo – na forma de produto editorial, no caso, um livro em formato a 
ser definido mais adiante. O diferencial, no caso específico deste projeto, é o uso do formato de 
roteiros HQ da produtora estadunidense DC Comics para adaptar reportagens especiais literárias. 
Sendo assim, suscitamos como indagação norteadora principal deste projeto a possibilidade 
da adaptação da tradicional linguagem jornalística literária para o formato Histórias em Quadrinhos 
(HQs) sem a perda do caráter de reportagem, por meio do qual propomos, como hipótese primária e 
resposta a tal questionamento, que o citado procedimento será considerado satisfatório porque o uso 
de recursos gráficos e literários amplia a dimensão visual e a percepção do leitor frente à história 
narrada. No aspecto geral, o objetivo da presente proposta é compreender o potencial jornalístico e 
informativo a narrativa resultante da adaptação do formato tradicional do Jornalismo Literário para 
a estrutura em Histórias em Quadrinhos (HQs), mais especificamente por meio da produção de uma 
edição única de uma revista, feita sob as premissas acima descritas. 
 
5
 Sacco é autor de trabalhos como “Uma História de Sarajevo” (2005), “Palestina – Uma Nação Ocupada” (2000) e 
“Palestina – Na faixa de Gaza” (2003). Todos são livros-reportagem escritas no formato Histórias em Quadrinhos. Joe 
Sacco é considerado pioneiro no uso do recurso como gênero jornalístico. 
 
 16 
 
 
1 METODOLOGIA 
 
 O método adotado para este projeto experimental foi o dedutivo, porque este “reformula ou 
enuncia de modo explícito a informação já contida nas premissas” e “tem o propósito de explicar o 
conteúdo das premissas” (Marconi e Lakatos, 2005, p. 92). A natureza da pesquisa foi qualitativa, 
haja vista que o projeto pretendia compreender o potencial subjetivo de receptividade da amostra da 
população frente ao experimento implementado. 
O tipo de pesquisa adotada neste projeto foi a experimental, uma vez que foi implementada 
uma manipulação deliberada da realidade (Rudio, 1986, p. 69), no caso a adaptação de reportagens 
em estrutura literária para o formato Histórias em Quadrinhos (HQs). A população adotada para a 
experimentação abrange estudantes de Ensino Médio da rede pública de ensino e universitários, 
tendo como amostra os alunos de idades entre 16 e 25 anos do “Projeto Jovem Cidadão”, do curso 
de informática básica e avançada do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam), e 
pessoas da mesma faixa etária consultadas aleatoriamente. 
A escolha de toda a amostra citada – cerca de 40 pessoas – partiu do princípio de que esta se 
trataria de “parte representativa” da população (Rudio, 1986, p. 62), no caso por entendermos que, o 
estrato da população escolhida representa bem o ideal de público a que este projeto se destina. A 
amostra em questão será definida como não-probabilística e intencional (Rudio, 1986, p. 63), pois 
representaria o “„bom julgamento‟ da população”. Para avaliar os resultados, o produto gerado 
experimentalmente a partir das premissas estabelecidas neste projeto foi submetido ao público 
supracitado, de modo que este fez uma avaliação prévia e individual. Paralelamente, foi utilizado o 
método de observação não-participante, de modo que os autores da pesquisa puderam ter uma 
análise visual das reações do público envolvido na pesquisa. 
Sobre o conceito de “observação”, dizem Marconi & Lakatos (2005): 
 
“A observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir 
 
 17 
 
 
informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da 
realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou 
fenômenos que se desejam estudar. 
É um elemento básico da investigação científica, utilizado na pesquisa de 
campo e se constitui na técnica fundamental da Antropologia.” (p. 192-193). 
 
A respeito do método de observação chamado “não-participante”, os autores o definem 
como um meio onde o pesquisador: 
 
“Presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas 
situações; faz mais o papel de espectador. Isso, porém, não quer dizer que a 
observação não seja consciente, dirigida, ordenada para um fim determinado. O 
procedimento tem caráter sistemático” (2005, p. 195). 
 
É importante ressaltar que aos participantes convidados ao processo avaliativo foi solicitado 
que levassem em conta quatro elementos para nortear as respostas frente ao produto experimentado: 
aspecto visual, linguagem, qualidade da narrativa e similaridade ao texto original. 
 
 
 18 
 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
 O índice de leitores dos tradicionais jornais impressos vem caindo nos últimos anos. 
Especialistas da área de economia, marketing, publicidade e, sobretudo, comunicólogos, têm 
discutido as possíveis razões para o crescente número de leitores que, pouco a pouco, abandonam os 
jornais impressos como fonte de informação para aderir à Internet. Tal situação se agrava ainda 
mais quando se fala do público mais jovem. Nos meses de janeiro efevereiro de 2000, a Associação 
Americana de Jornais realizou uma pesquisa que constatou que 75% dos jovens entre 18 e 24 anos, 
de um grupo de mais de quatro mil adultos consultados, afirma preferir a Internet aos jornais 
impressos (Noblat, 2004). A mesma pesquisa mostrou que o uso da Internet cresceu 127% entre os 
anos de 1997 e 2000, enquanto que o consumo de jornais caiu 12% no mesmo período e os 
telejornais nacionais e mundiais registraram baixas de audiência de 14%. 
 Mas não são apenas os leitores que a Internet está retirando dos jornais. A receita 
publicitária, responsável por uma parcela importante da sobrevivência de um periódico impresso 
junto ao mercado, começa a migrar significativamente para a chamada grande rede. Até 2010, entre 
10 e 30% dos anúncios originalmente destinados aos jornais serão transferidos para anúncios na 
web, segundo levantamento realizado em 2001 pela Innovation International Media Consulting 
Group (Noblat, 2004). 
 
“Somente nos Estados Unidos, a publicidade online saltou de 200 milhões 
de dólares em 1996 para 4 bilhões a 12 bilhões de dólares em 2000, a depender da 
fonte que se consulte. É muito dinheiro. E o salto foi muito grande.” 
 
É importante destacar que a Internet não é a única responsável pela queda do consumo de 
jornais em todo o mundo. Noblat (2004) acredita que os próprios jornais têm sua parcela de 
contribuição para o quadro, pois sua estrutura não estaria acompanhando as notórias modificações 
do perfil dos leitores: 
 
 19 
 
 
 
“A Associação Americana de Jornais vem anotando há 50 anos as queixas 
mais comuns dos leitores de jornais. E elas são quase sempre as mesmas. Queixam-
se os leitores de constantes erros de ortografia, da tinta usada pelos jornais que lhes 
mancham as mãos e a roupa, das páginas que soltam quando manipuladas, do 
excesso de páginas e do formato dos jornais.” (2004, p. 15). 
 
O mais contraditório é que, apesar das queixas, os jornais não têm se dedicado muito tempo 
para pôr em prática as sugestões do público. Segundo argumenta Noblat (2004, p. 15): 
 
“E o que os jornais fizeram ou estão fazendo para atender as reclamações 
dos leitores? Pouca coisa. No segundo semestre de 2002, por exemplo, não 
chegava a meia dúzia o número de jornais no Brasil que desenvolvia algum tipo de 
programa para combater o número de erros de ortografia. Aqui e em toda parte, os 
leitores continuam a receber jornais maçudos que nem mesmo os jornalistas 
conseguem ler integralmente.” 
 
Diante destas informações preliminares, Noblat argumenta sobre a possibilidade dos jornais 
adotarem outro perfil para agradar ao público. Entre as sugestões, estão: a renovação de pautas para 
“ganhar mais leitores, principalmente mulheres e jovens”; a publicação de informações que não são 
de conhecimento do grande público; a humanização das notícias e abordagem de temas “pela ótica 
dos leitores”; “conferir menos importância às notícias de ontem e ocupar-se mais em antecipar as 
que estão por vir”; “apostar em reportagens porque são elas que diferenciam um jornal do outro”; 
“dar mais tempo aos repórteres para que apurem e escrevam bem”; “publicar textos que 
emocionem, comovam, inquietem” e “resistir à tentação de absorver prioridades tão características 
da televisão: superficialismo, entretenimento, diversão, busca de audiência a qualquer preço”. 
Entretanto, diante do cenário de recusa dos jornais em se adaptar às atuais mudanças de 
perfil do público, que almejaria por conteúdo diferente do que circula, e da insistente competição 
com a Internet, Noblat (2004) decreta: “Os jornais, contudo, morrerão, sinto dizer-lhes isso. Tal 
como existem hoje, tudo indica que morrerão. Só não me arrisco a dizer quando.” (2004, p. 19). 
 Nem todos os autores, evidentemente, são tão pessimistas. Eduardo Belo (2006) afirma que 
os jornais impressos ainda mantêm público fiel, apesar das dificuldades. Porém, ele sustenta as 
 
 20 
 
 
afirmações de Noblat (2004) a respeito das imposições cotidianas das redações, que terminam por 
influenciar diretamente no resultado das pautas apuradas, seja por conta do ritmo frenético das 
redações – o que exige produção rápida desde a elaboração da pauta até a reportagem pronta – 
como pela busca do factual. O resultado imediato desse cenário, segundo Belo (2006) é uma 
produção que não permite melhor apuração e aprofundamento dos assuntos. 
 Mais recentemente, Lourival Sant‟anna (2008) avaliou três jornais de circulação 
significativa em território nacional: Folha de S. Paulo (da empresa Folha da Manhã), O Globo 
(Organizações Globo) e Estado de S. Paulo (Grupo Estado). No início da década de 2000, segundo 
ele, todos os três periódicos citados sofreram sucessivas quedas em seus números de circulação. 
Apesar de, na mesma época, os números voltarem a crescer, Sant‟anna afirma ser improvável que 
os altos índices de circulação do passado, mais precisamente em meados da década de 90, quando, 
segundo o autor, os números de circulação da edição dominical da Folha superavam a cifra de 
milhão de exemplares
6
, seja mais uma vez registrado. 
 Sant‟anna sustenta a situação dos três jornais como sendo resultantes de tendências não 
apenas nacionais, mas um espelho do que vem acontecendo com periódicos importantes em outros 
países. Segundo ele, apesar da recuperação da circulação nacional de jornais nacionais registrada a 
partir de 2005, fato que se seguiu após uma notável baixa nos índices de circulação que marcou o 
período de 2000 e 2004, tal fato não representa uma recuperação de fato, já que o crescimento 
registrado não acompanhou o aumento da população. Na verdade, a proporção entre o número de 
exemplares e o montante de mil habitantes adultos segue em queda, em todo o país, na mesma 
medida em que vem acontecendo em países cujos dados de circulação estão acessíveis à Associação 
Mundial de Jornais. 
 
 
6
 Em relação aos altos índices de vendas das edições dominicais da Folha de S. Paulo, Lourival Sant’anna faz uma 
ressalva importante. Segundo ele, tais taxas eram impulsionadas “por agressivas políticas de concessão de brindes, 
que ficaram conhecidos como ‘anabolizantes’”. 
 
 21 
 
 
 
Fonte: Associação Nacional de Jornais (ANJ)
7
. 
 
 Para Sant‟anna (2008, p. 18), os números mostram duas situações paralelas: as pessoas estão 
lendo menos jornais e, quando o fazem, é por pouco tempo. O autor acrescenta ainda seus próprios 
argumentos para fundamentar a situação: 
 
“A queda de circulação, do número de leitores e do tempo de leitura de 
jornais coincide com o período de acirramento da concorrência de outros meios de 
informação, como a internet, as TVs por assinatura, as emissoras de rádio 
noticiosas e até mesmo as revistas semanais informativas.” 
 
 Assim como Noblat, Sant‟anna também avalia o fator publicitário dos periódicos frente à 
situação desfavorável da circulação no Brasil. Segundo ele, todo o faturamento dos jornais 
nacionais caiu entre 2000 e 2003, recuperando-se novamente até 2004. Entretanto, o novo 
crescimento registrado de verbas publicitárias destinadas aos jornais foi menor que o aumento dos 
montantes registrados a outros veículos de comunicação, como emissoras de TV e de rádio e sites 
de internet. Segundo Sant‟anna, apenas as revistas semanais informativas tiveram desempenho 
publicitário inferior ao dos jornais. Sant‟anna (2008, p. 39) descreve a situação publicitária e de 
 
7
 O gráfico original encontra-se na página 39 do livro “O Destino do Jornal”, de Lourival Sant’anna. 
 
 22circulação dos jornais como fenômeno mundial: 
 
“(...) A queda atinge boa parte dos países mais avançados e mais ricos do 
mundo. O número de exemplares por mil habitantes caiu em todos os países do G-
7, o grupo das sete nações com o maior Produto Interno Bruto (PIB), entre 2000 e 
2006. (...)” 
 
O cenário do jornalismo impresso tradicional no Brasil e no mundo, como se pode ver a 
partir das informações citadas acima, não é favorável. Diante do quadro, surge a necessidade de se 
discutir novas possibilidades editoriais para a manutenção do jornalismo impresso. Uma 
possibilidade, levando-se em conta a opinião de Noblat (2004) e Sant‟anna (2008) a respeito do 
caráter literário das reportagens, assim como o uso maior do recurso da descrição, seria a adaptação 
da estrutura tradicional da reportagem impressa para o formato de Histórias em Quadrinhos (HQs), 
no sentido de valorar os detalhes do fato narrado e ampliar seu potencial de apreensão e assimilação 
por parte do leitor. 
Mas é importante, no entanto, conhecer inicialmente um breve relato do formato HQ e 
alguns dos estilos jornalísticos cujas linguagens mais se aproximam do que argumentam Noblat e 
Sant‟anna. 
 
2.1 Histórias em Quadrinhos: Uma breve História 
 
A maioria dos especialistas em Histórias em Quadrinhos (HQs) é unânime em afirmar que a 
origem remota das HQs são os desenhos que nossos antepassados deixaram nas cavernas no período 
Pré-Histórico. Precursores ou não das HQs, os desenhos eram a forma de nossos ancestrais 
registrarem suas impressões sobre o seu cotidiano. Essas gravuras, conhecidas como a mais antiga 
das artes, ficaram conhecidas como pinturas rupestres. 
 Bordenave afirma que a linguagem escrita, precedida pelos desenhos nas paredes das 
cavernas, foi a forma que o homem antigo criou para vencer a falta de permanência e a falta de 
 
 23 
 
 
alcance: 
 
“Para fixar seus signos o homem utilizou primeiro o desenho e mais tarde a 
linguagem escrita. Desenhos primitivos, pintados por homens da era Paleolítica 
(entre 35 000 e 15 000 anos antes da era cristã), foram achados em cavernas como 
as de Altamira, Espanha, e Dordogne, França. Ali se observam cenas de caça 
envolvendo animais e pessoas. Não se sabe se o propósito destas figuras era 
mágico, estético ou simplesmente expressivo ou comunicativo.” (2005, p. 26). 
 
 Bordenave (2005, p. 26) explica que, para superar o problema do alcance de suas 
mensagens, os homens antigos apelaram para “signos sonoros e visuais, tais como o tantã, o 
berrante, o gongo, os sinais de fumaça” e que a linguagem escrita teria sido teria sido decisiva neste 
sentido. Mas o autor cita ainda o advento do pictograma, uma evolução da linguagem escrita com o 
uso de signos que guardam correspondência direta entre a imagem gráfica (desenho) e o objeto 
representado. Para exemplificar, Bordenave (2005) diz: 
 
“O desenho de uma mulher significava isso mesmo, mulher; o desenho de 
um sol significava um sol, e assim por diante. Os hieróglifos do antigo Egito são 
um exemplo de escrita pictográfica.” (2005, p. 26-27). 
 
Porém, com o passar do tempo, o homem sentiu-se limitado por conta da relação direta entre 
imagens e objetos, passando a relacionar, posteriormente, imagens a ideias. Tal recurso, mais tarde 
denominado de escrita ideográfica, é similar, na estrutura, ao que hoje se conhece como Histórias 
em Quadrinhos (HQs). 
 
“A escrita inicialmente seguia a mesma seqüência que a língua falada. Nos 
primeiros pictogramas e ideogramas a seqüência dos signos reproduzia a 
cronologia dos eventos narrados. Se um caçador jejuava, logo depois reunia as 
armas e mais tarde matava um animal, estes eventos sucessivos seriam desenhados 
em tal ordem.” (2005, p. 27). 
 
E a própria denominação atual de HQs já a define: uma história narrada em quadros, ou 
 
 24 
 
 
vinhetas, por meio de imagens, com ou sem o auxílio do texto escrito
8
. No início, o conteúdo das 
HQs era predominantemente humorístico, por isso uma de suas denominações é comics, palavra 
inglesa que significa “cômico” ou “humorístico”. De acordo com Lanone & Lanone (1995), as 
histórias em quadrinhos nasceram nos Estados Unidos e lá foram batizadas de comics, termo que se 
universalizou e é usado até hoje. Outro nome muito comum é funnies, que significa “engraçado”. E, 
tanto nos Estados Unidos quanto em outros países de língua inglesa, o termo comic strip equivale à 
tira cômica ou tira, ou melhor, HQs curtas que geralmente não têm mais de três quadros. 
No século XIX, os desenhistas desenvolviam ilustrações para retratar cenas do cotidiano ou 
simplesmente contar uma história – com ou sem texto –, que eram publicadas em livros ou na 
imprensa. Nessa mesma época, europeus e americanos ensaiavam o nascimento das HQs. Por usar 
divisões de quadros e breves textos, o francês Georges Colomb (1856-1945) é apontado por alguns 
como o “verdadeiro criador da fórmula que originou as histórias em quadrinhos” (1995, p. 29). O 
francês alcançou fama ao criar a “Família Fenouillard”, em 1889. O sucesso dos seus personagens o 
obrigou a reeditar as suas inúmeras histórias em um grande álbum em 1893. 
 
2.1.1 Nos Estados Unidos 
 
Nos Estados Unidos, de acordo com Edson C. Romualdo (2000), a primeira gravura 
publicada em um jornal que se tem notícia é a de James Gordon Bennet, em 1835. As máquinas de 
impressão eram poucos adaptados para reprodução de ilustrações, ninguém entendeu a figura que 
ilustrava uma reportagem, pois a mesma apareceu borrada. 
No século XIX, as ilustrações logo fizeram sucesso entre os leitores porque saíam do padrão 
de publicar apenas textos verbais. Percebendo o sucesso que as gravuras faziam, a partir de 1880, 
elas passaram a fazer parte dos jornais americanos e, em 1873, o jornal de Nova York Daily 
 
8
 O famoso quadrinista e roteirista estadunidense Scott McCloud define o termo, na obra “Desvendando os 
Quadrinhos – História, Criação, Desenho Animação, Roteiro” (2005), como “Imagens pictóricas e outras justapostas 
em seqüência deliberada destinadas a transmitir informações e/ou produzir uma resposta no espectador”. 
 
 25 
 
 
Graphic se tornou o primeiro a publicar ilustrações regularmente. 
Os jornais Mourning Journal e o New York World, também de Nova York, brigavam 
acirradamente por leitores. Por isso investiam em suplementos dominicais, impressos em cores e 
desenhos. Quem saiu ganhando com essa disputa foram os caricaturistas e ilustradores que 
“passaram a ter um vasto campo para desenvolver sua criatividade” (1995, p. 30). 
O Jornal New York World saiu na frente de seu concorrente e publicava, no dia 5 de Maio de 
1895, o quadro humorístico The Yellow Kid (“O menino amarelo”), criado pelo desenhista Richard 
Fenton Outcault (1863-1928). Desenhado em dois painéis, um colorido e outro em preto e branco, 
com o título “At the Circus in Hogan's Alley”, Yellow Kid era um garoto de cabeça grande, orelhudo 
e aparência oriental que sempre trajava um camisolão de dormir e morava num cortiço nova-
iorquino. A partir de 1896, seu camisolão, que sempre trazia mensagens críticas, se tornou amarela 
– característica marcante deste personagem. 
O Yellow Kid foi o precursor das histórias em quadrinhos, como a conhecemos hoje, graças 
à inovação de Oultcault que introduziu os primeiros balões e foi o primeiro a desenhar uma tirinha 
em sequência, o que se popularizaria anos mais tarde. Em relação à cor do camisolão do 
personagem de Oulcault, a escolha não aconteceu por uma questão estética, mas sim porque, 
segundo Lannone e Lannone (1995, p.32), no momento era a única cor que aindanão tinham 
conseguido imprimir. Romualdo (2000) fala um pouco da crítica nos quadrinhos de Oultcault: 
 
“O teor crítico das charges e caricaturas ganha espaço nos jornais com a 
figura do Yellow Kid (...). Mantendo a tradição das charges políticas, o camisolão 
amarelo vestida pela personagem de Outcault exibia frases panfletárias ou cômica a 
cada quadrinho (...) o Yellow Kid tornou-se rapidamente a grande atração do jornal 
(...) (p. 11-12). 
 
Em 1897, o desenhista americano Rudolph Dirks, do jornal Mournig Journal, retomou a 
fórmula consagrada por Outcault: uso de diálogos em balões e sequência de quadros para 
desenvolvimento da história. Dirk é autor da primeira série permanente dos quadrinhos, The 
Captain and the Kids (“O capitão e as crianças”). As travessuras dos irmãos Hans e Fritz fizeram 
 
 26 
 
 
sucesso e, de acordo com Lanonne & Lannone (1995), a série continua a ser desenhada e distribuída 
até hoje, mesmo após o falecimento de seu criador, em 1967, sendo, portanto, as histórias em 
quadrinhos mais antigas do mundo ainda em circulação. 
A partir da década de 1930, logo após a quebra da Bolsa de Valores em 1929, dá-se início ao 
período conhecido como a “A Era de Ouro” (The Golden Age) dos quadrinhos porque foi nessa 
época que surgiram os famosos personagens do gênero aventura como Flash Gordon, de Alex 
Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould, e, no final da década de 1930, o primeiro super-herói que 
possuía identidade secreta, Superman, de Siegel e Shuster. 
 
2.1.2 Quadrinhos no Brasil 
 
Há controvérsias entre autores no que diz respeito ao (s) pioneiro (s) do formato HQ 
publicado no Brasil. Lanonne & Lanonne (1994) cita a revista “Tico Tico”, lançada pelo jornalista 
Luiz Bartolomeu de Souza por meio da editora “O Malho”, em 1905, como a primeira a publicar 
quadrinhos do Brasil. A publicação, cujo público-alvo eram crianças, trazia em suas páginas 
curiosidades, contos, textos informativos e, é claro, HQs. No início, a revista apenas traduzia as 
HQs americanas. Mas, foi nessa publicação que muitos desenhistas brasileiros foram revelados, 
entre eles, J.Carlos e Luiz Sá, criador das histórias de “Reco-Reco, Bolão e Azeitona”. A última 
edição de “Tico Tico” foi publicada em 1956. A revista influenciou gerações e contava com leitores 
ilustres como o poeta Carlos Drummond de Andrade. 
 Já Patati & Braga (2006) afirmam que o pioneiro da produção de quadrinhos no Brasil 
atende pelo nome de Ângelo Agostini, um italiano que publicou, em 1869, o trabalho “As aventuras 
de Nhô Quim – um caipira na capital”, nas páginas de Vida Fluminense. Patati & Braga afirmam 
que o trabalho de Agostini era uma espécie de histórias em quadrinhos sem quadrinhos, já que 
segundo os autores, não havia o que eles chamam de “fio de delimitação de quadros” pois era 
realizada com enquadramento quase fixo. Apesar disso: 
 
 27 
 
 
 
“O talento único de Agostini o tornou precursor não só das HQs como da 
charge política e do cartum brasileiros. As gerações que o sucederam tiveram 
pouquíssimo acesso à obra deste grande artista. Enquanto vivo, todavia, ele foi de 
leitura obrigatória.” (Patati & Braga, 2006, p. 20). 
 
Em 1960, segundo Lanonne & Lanonne (1994) foi publicada a primeira edição da revista “O 
Pererê”, de Ziraldo Alves Pinto, que circulou até 1964. E em 1959, a primeira tira do cartunista 
Maurício de Souza, que trazia Bidu e Franjinha como protagonistas, foi publicada na Folha da 
Manhã. Na década de 1960, Souza criou os novos personagens que viriam a formar a “Turma da 
Mônica”. Logo depois, ele lançou as revistas e conseguiu sobreviver à concorrência com os 
quadrinhos estrangeiros, em especial os da Disney. Em julho de 2009, Maurício de Souza 
comemorou 50 anos de carreira nos quadrinhos. 
2.2 Jornalismo e Literatura 
 
Antes de avançarmos a respeito do assunto tratado é importante traçar um paralelo entre a 
atividade jornalística e o trabalho literário. 
 
“O jornalista literário não ignora o que aprendeu no Jornalismo Diário. 
Nem joga suas técnicas narrativas no lixo. O que ele faz é desenvolvê-lo de tal 
maneira que acaba constituindo novas estratégias profissionais. Mas os velhos e 
bons princípios da redação continuam extremamente importantes, como, por 
exemplo, a apuração rigorosa, a observação atenta, a abordagem ética e a 
capacidade de se expressar claramente, entre outras coisas.” (PENA, 2006, p. 13-
14). 
 
Nos séculos XVIII e XIX, escritores de prestígio tomaram conta dos jornais. Pena (2006) 
destaca que não apenas no comandando redações, mas, principalmente determinando a linguagem e 
o conteúdo dos jornais. Uma de suas principais ferramentas eram os Folhetins, “um estilo discursivo 
que é a marca fundamental da confluência entre Jornalismo e Literatura”. (p.28). Os folhetins eram 
um suplemento dedicado à literatura e a diversos assuntos. 
Só a partir do “boom” do jornalismo popular, nas décadas de 1830 e 1840, em especial na 
 
 28 
 
 
França e na Grã-Bretanha é que se passou a publicar narrativas literárias, o que possibilitou um 
aumento nas vendas (Pena, 2006). Para os escritores, o jornal tornou-se uma excelente fonte de 
lucro. Não só pelo dinheiro que recebiam, mas, também, pela visibilidade que ganhavam a partir da 
divulgação de suas histórias e de seus nomes nos jornais. 
Uma das características do folhetim era o chamado plot, ou seja, a ação era sempre 
interrompida num momento decisivo como a hora do beijo, a revelação do nome do assassino etc. 
Assim, como as histórias eram publicadas em fascículos, cada edição, cada capítulo, tinha um 
momento dramático que só seria resolvido na edição seguinte. Com essa estratégia, os donos dos 
jornais prendiam a atenção dos leitores e garantiam que eles comprassem a edição seguinte. 
 Outra característica marcante do folhetim era a linguagem simples. Tinha de ser assim, 
afinal, ele era dirigido a um público vasto, de todas as classes sociais. Além disso, para facilitar a 
compreensão dos leitores, os escritores apelavam para a homogeneização cultural, ou seja, para os 
estereótipos, para os clichês etc. 
Apesar das críticas recebidas pela sua estrutura popularesca, o folhetim democratizou a 
cultura, possibilitou o acesso do grande público à Literatura e multiplicou o número de obras 
publicadas. 
No Brasil, quase todos os escritores do século XIX e começo do século XX passaram pelos 
jornais, seja escrevendo romances a conta-gotas ou escrevendo crônicas, como José de Alencar, 
Machado de Assis, Raul Pompéia, Joaquim Manoel de Macedo etc. 
2.2.1 Reportagem: entre informação e entretenimento 
 
A reportagem jornalística é considerada por muitos como o elo entre a informação objetiva e 
o texto literário, assim como pelo entretenimento. Trata-se da forma que Noblat (2004) e Sant‟anna 
(2009) julgam ser o meio capaz de combater o crescente desinteresse do público por parte do 
jornalismo impresso tradicional. Vamos conhecer um pouco do que pensam alguns autores a 
respeito do gênero para traçar similaridades entre este e o formato HQ. 
 
 29 
 
 
De acordo com Rabaça & Barbosa (2002), a reportagem é um conjunto das providências 
necessárias à confecção de uma notícia jornalística, que envolve cobertura, apuração, seleção de 
informações, interpretação e tratamento, dentro de determinadas técnicas e requisitos de articulação 
do texto jornalístico informativo. A reportagem começa na captação e termina na redação, e envolve 
o trabalho físico e mental do repórter. Considera-se, então, incorreto denominar a reportagem como 
um tipo de texto jornalístico descritivo, mais apurado e amplo, acompanhado com documentação e 
testemunhos.“Na verdade, esse tipo de notícia é resultado de uma reportagem, e não a reportagem 
em si” (2002, p.638). 
A reportagem é um tipo de gênero jornalístico que é mais encontrado nas revistas, como a 
Veja (Ed. Abril) e Época (Ed. Globo), só para citar duas das revistas semanais mais conhecidas no 
Brasil. Nos jornais diários é mais comum encontrá-las nas edições dominicais
9
 ou nas edições 
especiais
10
. Além da reportagem em si, que é mais conhecida por ir mais fundo nos temas que as 
notícias diárias (ou factuais.) Thais de Mendonça dá uma ampla definição ao gênero reportagem: 
 
“Grande reportagem: busca, redação e publicação de acontecimentos 
extraordinários, originais e complexos, com o uso de múltiplas fontes. O repórter 
tem mais tempo para apurar as informações. A grande reportagem é a caçada de 
acontecimentos incomuns e depende da argúcia, espírito criador do jornalista. 
Gênero mais próprio das revistas, descoberto pelos jornais, principalmente para as 
matérias de fim de semana, pode ser planejado para um ou mais repórteres. O 
repórter deve ter faro para a notícia, sensibilidade na criação de temas, cuidado na 
apuração e perfeccionismo na organização dos dados. Situa-se entre o jornalismo 
informativo e o literário (...)”.(2008, p.86). 
 
Para explicar o que é reportagem, Pena (2006) se apóia na definição de alguns teóricos. 
Destacaremos dois. O primeiro é o professor João de Deus Corrêa, que por meio de um quadro 
comparativo entre notícia e reportagem, diz que a reportagem lida com assuntos sobre fatos, 
 
9
 As edições de domingo são consideradas “nobres” pela imprensa, pois é quando se permite o uso maior de 
reportagens com texto leve e de caráter literário. 
10
 Como nas que são feitas em virtude de alguma comemoração especial, a exemplo de aniversários de cidades ou 
outras datas consideradas importantes no aspecto regional de um veículo impresso qualquer. 
 
 30 
 
 
trabalha com o enfoque, com a interpretação e com a dedução (do geral, que é o tema, ao particular, 
os fatos); transforma fatos em assunto, traz a repercussão e o desdobramento; aprofunda; é produto 
da intenção de passar uma "visão" interpretativa; focaliza a repetição e a abrangência; procura 
envolver; usa a criatividade como auxílio para seduzir o receptor; trabalha com pautas mais 
complexas, pois aponta para causas, contextos, consequências e novas fontes. 
O segundo é o jornalista Nilson Lage
11
, que divide a reportagem em três tipos: investigativa, 
interpretativa e Novo Jornalismo. A reportagem investigativa parte de um fato para revelar outros 
mais ou menos ocultados, e, por meio deles, o perfil de uma situação de interesse jornalístico, como 
o caso Watergate
12
, que rendeu uma série de reportagens feita pelos jornalistas Bob Woodward e 
Carl Bernstein e que resultou no impeachment do presidente norte-americano Richard Nixon, em 
1974. 
A reportagem interpretativa que é o conjunto de fatos observado pela perspectiva 
metodológica de determinada ciência, como uma pesquisa qualitativa. E, por fim, o Novo 
Jornalismo, que aplica técnicas literárias na construção de situações e episódios para revelar uma 
práxis humana não teorizada, como os textos da New Journalism, escritos por jornalistas e 
escritores como Truman Capote
13
 e Norman Mailer. 
A partir de agora, vamos conhecer outros gêneros e movimentos jornalísticos deflagrados ao 
longo da História que podem ajudar subsidiar a tese a que este trabalho se propõe: o formato HQ 
como gênero jornalístico. 
 
11
 O original encontra-se em LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de 
Janeiro: Record, 2001. 
12
 O caso Watergate foi retratado ou citado nos cinemas em quatro ocasiões. A primeira foi no filme “Todos os 
homens do Presidente” (All the President’s Men), de 1974. A segunda foi em 1994, na película “Forrest Gump – O 
contador de histórias” (Forrest Gump), onde o personagem principal, interpretado por Tom Hanks, acaba descobrindo 
o caso envolvendo Richard Nixon. Outra referência está no filme “Nixon”, de 1995 e dirigido por Oliver Stone, e a 
última, mais recentemente, em 2008, foi na obra “Frost/Nixon”, que conta os bastidores da famosa entrevista 
concedida pelo então presidente ao jornalista de entretenimento David Frost, em 1977. 
13
 Trumam Capote é autor do clássico “À sangue frio”, obra de 1966 que registra em detalhes o caso de assassinato 
cometido contra uma família na cidade de Holcomb, no interior do Estado do Kansas, nos EUA. 
 
 31 
 
 
2.2.2 Novo Jornalismo 
 
 A insatisfação de muitos profissionais da imprensa com as regras da objetividade do texto 
jornalístico e a figura do lead
14
 foi o que proporcionou o advento do Novo Jornalismo 
contemporâneo na década de 1960, nos Estados Unidos. 
 A ideia básica do Novo Jornalismo, segundo o jornalista norte-americano Tom Wolfe
15
, é 
evitar os aborrecidos relatórios que caracterizam a “imprensa objetiva”. Para ele, os repórteres 
devem seguir o inverso e serem mais subjetivos. 
 No manifesto “O Novo Jornalismo”, Tom Wolfe registrou quatro recursos básicos deste 
novo modo de fazer jornalístico: reconstruir a história cena a cena; registrar diálogos completos; 
apresentar as cenas pelos pontos de vistas de diferentes personagens; registrar hábitos, roupas, 
gestos e outras características simbólicas dos personagens. (p.54). 
 Mesmo assim, segundo argumenta Pena, o trabalho que envolve a vida de um jornalista 
literário não é tarefa fácil: 
 
“Não basta aplicar esses recursos para ser um jornalista literário. 
Principalmente porque você só conseguirá aplicá-los se for um repórter 
extremamente engajado, entrevistando com exaustão cada de seus personagens até 
arrancar tudo que puder com o máximo de profundidade possível. Para isso, é 
preciso passar vários dias com as pessoas sobre as quais vai escrever. E, no 
momento de mostrar os diversos pontos de vistas, sua capacidade de descrição 
deve superar os melhores romances realistas (...).” (2006, p.55). 
 
2.2.3 Jornalismo Literário no Brasil 
 
No Brasil, o jornalista, Joel Silveira (1918-2007), foi pioneiro na utilização do estilo 
conhecido como Jornalismo Literário. Segundo Pena (2006), ele defendia a ideia de que o estilo 
 
14
 Lead – ou “lide” na versão em português – é o nome que se dá ao formato básico da estrutura da notícia, também 
conhecida como técnica da “Pirâmide Investida”, onde o jornalista tem que se preocupar em responder a seis 
perguntas básicas: O quê?, Quem?, Quando?, Onde?, Como? e Porque? 
15
 Tom Wolfe é o autor do manifesto de “O Novo Jornalismo”, escrito em 1973. 
 
 32 
 
 
chamado de "grande reportagem", mais do que uma alternativa da imprensa, era a válvula de escape 
para toda a voz reprimida na ditadura do Estado Novo (1937-1945). Joel cobriu a Segunda Guerra 
Mundial para os Diários Associados, aos 26 anos de idade, e era o correspondente mais jovem entre 
os correspondentes da Europa. 
2.2.4 Jornalismo Gonzo 
 
 O Jornalismo Gonzo pode ser definido como uma versão mais radical do Novo Jornalismo. 
O estilo foi criado e popularizado pelo jornalista norte-americano Hunter S. Thompson
16
, repórter 
da revista Rolling Stone, que se suicidou em fevereiro de 2005. 
 
“Jornalismo Gonzo consiste no envolvimento profundo e pessoal do autor 
no processo da elaboração da matéria. Não se procura um personagem para a 
história; o autor é o próprio personagem Tudo que for narrado é a partir da visãodo 
jornalista. Irreverência, sarcasmo, exageros e opinião também são características do 
Jornalismo Gonzo. Na verdade, a principal característica dessa vertente é escancarar 
a questão da impossível isenção jornalística tanto cobrada, elogiada e sonhada pelos 
manuais de redação.” (Belo, 2006, p. 57). 
 
 No Brasil, o adepto mais conhecido do Jornalismo Gonzo é o jornalista Arthur Veríssimo
17
. 
Ele começou a escrever reportagens em estilo gonzo na revista Trip (Trip Editora) e já foi colunista 
na revista Galileu (Ed.Globo). 
2.3 Ficção e Jornalismo 
 
O romance-reportagem tem como objetivo a reconstituição fiel dos acontecimentos, 
 
16
 Nascido em 18 de julho de 1937, nos EUA, Thompson ficou conhecido pelo envolvimento com drogas e álcool, que 
acabavam por influenciar em seu trabalho como jornalista. Seu livro mais famoso é “Medo e Delírio em Las Vegas: 
Uma jornada selvagem ao coração do sonho americano” (Conrad, 2007), de 1971, uma narrativa em primeira pessoa 
do que deveria ser a cobertura jornalística de uma corrida de MotoCross e uma convenção de promotores públicos 
sobre drogas. A narrativa é feita a partir de um personagem fictício, Raoul Duke, mais tarde interpretado no cinema 
pelo ator estadunidense Johnny Depp, que acabou tornando-se amigo de Thompson até sua morte, em 20 de 
fevereiro de 2005. 
17
 Em entrevista feita pelo jornalista Gustavo Abdel Massih e publicada no Observatório da Imprensa no dia 12 de 
setembro de 2006, Arthur Veríssimo decretou: “Jornalismo gonzo exige pesquisa profunda”. 
 
 33 
 
 
enquanto a ficção jornalística não tem compromisso com a realidade. Muito pelo contrário, apenas a 
explora como apoio para a sua narrativa. Enquanto o autor de ficção-jornalística inventa 
deliberadamente, o escritor de romances-reportagens “está impregnado pela promessa solene do 
Jornalismo de relatar somente a verdade factual, ainda que isso não seja ontologicamente correto.” 
(Belo, 2006, p. 114). 
A maioria dos autores de ficção-jornalística já trabalhou na imprensa, por isso conhecem os 
limites da reportagem e exerceram o pacto da “referencialidade” com o leitor, ou seja, o 
compromisso de apenas se ater aos fatos, de forma concisa e objetiva. “O que os levou a escrever 
ficção foi exatamente a vontade de romper esse compromisso, sem, entretanto, deixar de usar os 
instrumentos do Jornalismo” (2006, p. 115). 
 Também, há um movimento latino-americano de muito prestígio chamado Realismo 
Fantástico, que pode ser classificado como ficção jornalística, ou melhor, ficção que apóia sua 
narrativa em fatos do cotidiano. Pena (2006, p. 117) diz que: 
 
“Quando escritores afirmam que a ficção é melhor maneira de 
retratar a suposta realidade não estão legislando em causa própria. Como diz 
o ditado, a vida imita a arte. As representações ficcionais da realidade 
permanecem no imaginário por muito mais tempo do que as narrativas 
baseadas em compromissos com a verdade factual, como é o caso do 
Jornalismo.” 
 
Entre os maiores representantes do Realismo Fantástico estão seu maior representante, o 
jornalista, escritor e Prêmio Nobel de Literatura, Gabriel García Marquez
18
, o jornalista e escritor 
peruano Mario Vargas Llosa e o jornalista brasileiro Carlos Heitor Cony. 
2.4 A crônica jornalística: uma atenção especial a um gênero especial 
 
Embora tido como gênero essencialmente opinativo, a crônica assume um caráter que muito 
 
18
 Prêmio Nobel de Literatura em 1982, pela obra “Cem anos de Solidão”. 
 
 34 
 
 
se aproxima do que cremos ser o resultado do processo de adaptação de uma reportagem literária 
para o formato em Histórias em Quadrinhos (HQs), já que, segundo José Marques de Melo, a 
crônica, no Brasil, assume um sentido que mescla o texto informativo e a narração literária: 
 
“Se esse sentido predomina em nosso país, tomando a crônica a 
feição de relato poético do real, situado na fronteira entre a informação de 
atualidade e a narração literária, o mesmo já não ocorre em outros países.” 
(2003, p. 149) 
 
A ressalva que Melo (2003) faz, no entanto, sobre a suposta não ocorrência do gênero em 
outros países é apenas conceitual, pois o termo, tal como é usado no Brasil, adquire outras 
denominações em diferentes países, embora a essência da aplicação seja a mesma. Na Inglaterra, 
diz o autor, o termo equivalente à crônica brasileira é o personal essay ou familiar essay, enquanto 
na Alemanha temos a glosa. Já nos EUA, temos como similares as feature stories, human story e 
color story, assim como a croniquilla, na Espanha, que, segundo Melo, tem mais similaridades com 
o modo brasileiro. Este último, aliás, “pretende ser uma crônica da vida diária”, sendo também 
chamada de folhetim – termo que já citamos no item 6.2 Jornalismo e Literatura, página 26. 
 Melo argumenta que a essência da crônica se vale do real como deixa ou fator de inspiração 
para a construção de um relato poético ou descrição literária. E, atualmente, o termo assume papel 
específico na atividade jornalística, em algo muito semelhante ao trabalho de adaptação do texto 
jornalístico literário para o formato em HQ: 
 
“A crônica moderna gira permanentemente em torno da atualidade, 
captando com argúcia e sensibilidade o dinamismo da notícia que permeia toda a 
produção jornalística. Ainda que o cronista mantenha, como dia Antônio 
Cândido252, „uma conversa aparentemente afiada‟ em torno de questões 
secundárias, não vinculadas ao espectro noticioso, isso constitui momento de 
pausa, que reflete a trégua necessária à vida social.” (2003, p. 155) 
 
 
 São duas as principais características da crônica, segundo Melo: 1) fidelidade ao cotidiano, 
pela vinculação temática e analítica que mantém em relação ao que está ocorrendo, aqui e agora; 
 
 35 
 
 
pela captação dos estados emergentes da psicologia coletiva e 2) crítica social, que corresponde a 
“entrar fundo no significado dos atos e sentimentos do homem”. 
 Entre as diversas classificações de crônicas trazidas por Melo por meio da fundamentação de 
terceiros, destacamos uma que cremos trazer em sua essência a síntese da proposta original deste 
trabalho de pesquisa. Trata-se da crônica-conto, em que os dois termos, juntos, dão a tônica 
conceitual mais adequada do que seria o resultado da adaptação da reportagem literária para o 
formato HQ. Segundo Melo (2003), a crônica-conto pode ser assim compreendida: 
 
“Enquanto o primeiro tipo explora a temática do „eu‟ (concentra-se nas 
emoções do cronista), o segundo tipo gira em torno do „não-eu‟ (o acontecimento 
de que o cronista é apenas narrador, o historiador).” (2003, p. 158 e 159) 
 
 Não é a toa que traçamos um importante paralelo entre os gêneros jornalísticos 
anteriormente citados e, em especial, a crônica jornalística. Entre todos os conceitos gerais, a 
crônica é aquela que mais engendra e abrange nossa proposta. Nas palavras de Melo: 
 
“O cronista que sabe atuar como consciência poética da atualidade é aquele 
que mantém vivo o interesse do seu público e converte a crônica em algo desejado 
pelos leitores. Atua como mediador literário entre os fatos que estão acontecendo e 
a psicologia coletiva. É por isso que muitos cronistas (Drummond em especial) 
buscam inspiração no próprio jornal. Realizam uma tradução livre da realidade 
principal, acrescentando humor à chatice do cotidiano, à dureza do dia-a-dia. Os 
que se afastam do presente e enveredam pelo saudosismo, pela rememoração dos 
tempos passados, arriscam perder o público ou o limitam aos seus companheiros de 
geração. 
Assimsendo, a crônica moderna configura-se como gênero eminentemente 
jornalístico.” (2003, p. 156) 
 
2.5 Exemplos de Jornalismo em HQ 
 
 Como forma de ilustrar e embasar o projeto em questão, listamos abaixo os maiores 
expoentes do Jornalismo em Histórias em Quadrinhos (JHQ) e uma breve análise de seus 
respectivos trabalhos, assim como um apanhado sobre os impactos que cada obra trouxe à 
sociedade dentro ou pós o período em que foram escritas e/ou publicadas. Começaremos pelo que 
 
 36 
 
 
ficou conhecido como o precursor do formato JHQ, o maltês Joe Sacco. 
2.5.1 A obra de Joe Sacco: O “Novo” Novo Jornalismo 
 
Joe Sacco nasceu em 1960, na Ilha de Malta. Uma de suas leituras prediletas na infância e 
juventude eram Histórias em Quadrinhos sobre guerras e reedições da revista Mad
19
. Depois de 
formar em Jornalismo pela Universidade de Oregon, nos EUA, em 1981, viajou pelo Oriente 
Médio, em meados de 1991, onde coletou informações que mais tarde, em 2002, iriam culminar no 
lançamento do primeiro livro da série Palestina
20
 (editora Conrad), que levaria o jornalista a ser 
premiado com o American Book Award
21
. 
 
 
Reprodução das capas de “Palestina – Uma Nação Ocupada” e “Palestina – Na Faixa de Gaza”. 
 
Após a publicação do primeiro livro da série Palestine, Sacco ficou conhecido como o 
 
19
 No Brasil é editada pela editora Panini Comics. 
20
 “Palestina – Uma Nação Ocupada” (Palestine – A Nation Ocuppied, 2000) e “Palestina – Na Faixa de Gaza” (Palestine 
– In the Gaza Strip, 2003) 
21
 As informações referentes à vida e obra de Joe Sacco foram consultadas no encarte da obra “Uma História de 
Sarajevo” (The Fixer: A Story from Sarajevo, 2003). O título em português foi publicado em 2005, pela editora Conrad. 
 
 37 
 
 
precursor do chamado “New New Journalism” – uma referência a um novo gênero constituído a 
partir do Novo Jornalismo, inaugurado por Trumam Capote, com a obra “À sangue frio” (1966), e 
outros expoentes do gênero, como Tom Wolfe e Hunter S. Thompson. 
 O jornalista José Arbex é enfático sobre a obra de Sacco, no que diz respeito à capacidade da 
obra de informar o leitor por meio dos recursos visuais típicos das HQs. O prefácio da obra 
“Palestina – Uma Nação Ocupada”, disponível no sítio eletrônico da editora Conrad, na Internet22, 
Arbex declarou: 
 
“Joe Sacco prova que não só é possível, como, em certos aspectos, sua 
reportagem em quadrinhos é bem mais eficaz do que o tradicional texto jornalístico 
ou mesmo histórico/acadêmico. E este é o ponto mais fascinante: com muita 
ousadia, Sacco demonstrou a potência de uma linguagem que, aparentemente, é 
inadequada para tratar de um tema tão grandioso e terrível como é o conflito na 
Palestina. Resta explicar a fonte dessa potência: de onde a história em quadrinhos 
extrai a legimitidade para reivindicar para si o estatuto e a dignidade de reportagem 
jornalística. Não é uma questão fácil. Muito ao contrário.” (Arbex, 2009) 
 
Mais adiante, Arbex pondera sobre a questão da objetividade jornalística, elemento muito 
discutido nas academias de Jornalismo, e que, para muitos teóricos, deveria ser tomado como ponto 
principal na chamada práxis jornalística: 
 
“Há, antes de mais nada, um problema formal. O texto jornalístico 
tradicional aspira à „objetividade‟ - isto é, ao relato isento dos fatos -, mesmo 
sabendo, de antemão, que fracassará em seu intento (não existe „objetividade‟ pura, 
independente do narrador, já que o sujeito da enunciação do discurso sempre 
deixará sua marca: mesmo a demonstração de um teorema matemático, 
completamente impessoal, será marcada pelo estilo do matemático).” (Idem) 
 
Paralelamente, Arbex critica o modo adotado pela suposta “objetividade jornalística”: 
 
22
 O texto original pode ser conferido, na íntegra, em 
<http://www.conradeditora.com.br/hotsite/palestina/jose_arbex.htm>. 
 
 38 
 
 
“Em sua busca da objetividade inatingível, o texto jornalístico deve adotar 
certos procedimentos que garantam, ao máximo, o rigor da informação divulgada, a 
fidelidade às „fontes‟ da reportagem, a precisão descritiva. O texto jornalístico quer 
se aproximar ao máximo do objeto da reportagem, quer analisá-lo a partir de vários 
pontos de vista. Ele se atira, enfim, na direção do objeto. ” (Idem) 
 
Em outro trecho, depois de analisar os aspectos de informações, interpretações e – mais 
importante – o poder de contextualizar o leitor sobre os conflitos políticos-religiosos-culturais 
existentes na Palestina, Arbex chega a uma conclusão a respeito do trabalho do jornalista Joe Sacco: 
 
“Sacco dá uma cara aos árabes sem cara. Mostra o sofrimento das mães 
palestinas, a ansiedade das crianças, o terror dos homens diante de um Exército 
formidável, poderoso e fascistóide. Mas ele não faz um „panfleto palestino‟. Ao 
contrário, há todo um esforço para mergulhar no componente profundamente 
humano da tragédia palestina. Produz seus heróis e seus covardes, suas esperanças 
e suas frustrações. Nisso reside a legitimidade e o poder deste livro: no mundo em 
que impera as imagens, Sacco produz as suas próprias imagens de mundo para 
subverter, questionar uma percepção uniformizada pela grande mídia. 
E não será este, precisamente, o objetivo maior de uma grande 
reportagem?” (Idem) 
 
 
Reprodução da capa de “Uma História de Sarajevo”, 2005. 
2.5.2 A obra de Héctor Oesterheld 
 
 Outro importante expoente das Histórias em Quadrinhos (HQs) é o argentino Héctor 
 
 39 
 
 
Oesterheld que, em 1968, escreveu “Che – Os últimos dias de um herói”23, que conta ainda com os 
traços de Alberto e Enrique Breccia. Na nota da edição brasileira do livro, Rogério de Campos 
descreve Oesterheld como algo maior que “o maior roteirista da história da HQ argentina ou latino-
americana”. Para Rogério de Campos, o roteirista é um dos primeiros grandes nomes dos 
quadrinhos mundiais “a perceber as possibilidades dos quadrinhos como uma espécie de nova 
literatura”. 
 
 
Reprodução da capa de “Che – Os últimos dias de um herói”, edição brasileira de 2008. 
 
 O autor não faz qualquer referência do trabalho de Oesterheld como produto jornalístico, 
mas os próprios relatos históricos que se sucederam na Argentina após a publicação do livro 
mostram o poder informativo e de reconstituição histórico-dramático do trabalho, que acabou 
resultando em trágicas consequências
24
 para o autor e sua família, pois mostra o caráter reflexivo 
que toda reportagem precisa ter. 
 
23
 O título original era “La Vida Del Che” e foi publicado em 1968, apenas três meses após o assassinato, na Bolívia, do 
guerrilheiro argentino Ernesto Guevara. O livro só chegou ao Brasil em 2008 – exatos 40 anos após a morte de Che. 
24
 A partir de 1976, com apoio formal da Casa Branca, por meio do Secretário de Estado Henry Kissinger, a Ditadura 
Militar da Argentina fecha o cerco contra qualquer investida considerada “de esquerda” no país. Pouco a pouco, os 
familiares de Héctor Oesterheld vão “desaparecendo” até que ele mesmo é sequestrado pela repressão, em 27 de 
abril de 1977. Acredita-se que o roteirista tenha sido morto na prisão, em 1978. 
 
 40 
 
 
3 PRODUTO 
 
Definição conceitual 
 
O produto resultante deste trabalho experimental é uma revista impressa não-periódica, com 
formato e estrutura típica das HQs de caráter “especial” comercializadas em todo o mundo. Ela é 
composta de duas reportagens especiais adaptadaspara o formato de Histórias em Quadrinhos 
(HQs), em que cada sequência descrita no texto original será mostrada em quadros, assim como os 
trechos de falas ou citações serão exibidos em típicos balões de diálogo. 
No mercado editorial das HQs, as publicações “especiais” são aquelas lançadas em épocas 
específicas ou de apelo social, cultural ou histórico. Grandes editoras, como DC Comics e Marvel 
Comics, costumam lançar edições especiais com a reunião, em uma única edição com encadernação 
e impressão de alta qualidade
25
, tramas e histórias de personagens publicadas originalmente em 
edições periódicas. 
 
Descrição do produto 
 
Composta de 24 páginas, sendo 12 folhas do formato A4 em orientação horizontal, o 
produto – batizado de JHQ Magazine, em alusão ao gênero Jornalismo em Histórias em Quadrinhos 
(JHQ), muito usado por profissionais que trabalham com este gênero – vai abrigar as duas 
reportagens em formato HQ, além da capa e uma página dedicada ao Editorial (apresentação do 
produto ao público). O público-alvo serão estudantes de Ensino Fundamental, Médio e 
Universitários, com faixa etária entre 16 e 25 anos. 
 
25
 A qualidade de encadernação e impressão não configura em si o caráter de “especial” de uma publicação HQ, mas 
as circunstâncias do período do lançamento. 
 
 41 
 
 
 
Viabilidade 
 
Além de representar uma prática inovadora no mercado jornalístico local, com apelo da 
linguagem visual e textual unidas em imagens sequenciadas, o que garante uma experiência 
alternativa de apreciação de histórias por parte do leitor, a produção deste novo formato é viável por 
conta também dos custos de produção. A produção total do formato acima descrito deverá custar, 
aproximadamente, R$ 1 mil, entre profissionais envolvidos e aspectos relativos à impressão e 
distribuição. Levando-se em conta uma tiragem hipotética de mil exemplares do produto com o 
valor comercial estipulado em R$ 2, o lucro estimado seria de R$ 1 mil, em uma única tiragem. 
 
Proposta visual 
 
Tipologia 
A tipologia “É o processo de criação - a grafia do tipo e sua impressão” (Cesar, 2009, p.84). 
Para a revista JHQ Magazine, optou-se por usar uma tipografia funcional que “atende às 
necessidades do projeto gráfico a que nos propomos. Quer utilizemos caracteres de tipografia 
clássica ou da elementar.” (Collaro, 2007, p. 8). 
As tipologias adotadas são: 
Century Gothic: tipografia elementar, influenciada pelo abstracionismo construtivista de 
Mondrian e Malevitch. Este tipo foi utilizado, pois suas características farão referência as linhas e 
formas retas dos quadros onde se encontram os desenhos. 
 
 
 42 
 
 
 
Família tipográfica Century Gothic. 
 
Constantia: tipografia de estilo clássico e serifado. Foi utilizado, pois são excelentes para 
textos longos, tornando a leitura mais confortável. 
 
 
Família tipográfica Constantia. 
 
Segoe Print: tipografia artística semelhante aos traços manuscritos. É usada nos textos dos 
balões de diálogos e quadros de texto informativo e narrativo. 
 
 
Família tipográfica Segoe Print. 
 
 
 43 
 
 
Cores 
“Por propiciar contrastes, as cores têm o potencial de transmitir muito mais 
que simples sensações; elas são capazes de codificar informações”. (COLLARO, 
2007, p. 17). 
 
As cores utilizadas no projeto gráfico da JHQ Magazine são as seguintes: preto, branco e 
tons de cinza. Pensou-se nessas combinações de cores por serem comuns nas histórias em 
quadrinho das editoras Marvel Comics e DC Comics. Além disso, as cores citadas possuem um bom 
contraste entre si. Por sua vez, essas cores colaborarão para que o novo produto possa se diferenciar 
das revistas em quadrinhos nacionais, que usam com frequência o colorido em suas páginas e, 
principalmente, transmitir a informação do conteúdo jornalístico com seriedade e maior 
proximidade do texto-base produzido. 
A seguir, uma sequência de imagens para a edição-piloto e experimental da revista JHQ 
Magazine, com o modelo de capa, primeira página do editorial, e de miolo: 
 
 
 44 
 
 
 
Protótipo de capa da edição-piloto. 
 
 45 
 
 
 
 
Página de editorial e expediente. 
 
 46 
 
 
 
 
Miolo de página. 
 
 
 47 
 
 
 
Miolo de página. 
 
 
 48 
 
 
Reportagens em formato original 
 
Para que se compreenda e, mais importante, se visualize todos os detalhes que englobam o 
processo de adaptação de uma reportagem literária em estilo tradicional para o formato de Histórias 
em Quadrinhos (HQs) – uma vez que alguns dos detalhes podem ser subjetivos no sentido de que 
não há regras específicas que norteiem o processo adaptativo – serão apresentadas, a seguir, ambas 
as reportagens que compõem o produto pertinente a este Relatório de Projeto Experimental. Elas 
estão redigidas na estrutura literária tradicional e apresentadas como tal, de modo que fique claro 
que não houve uma pré-disposição ou iniciativa antecipada de torná-las “adequadas” ao formato de 
HQs. 
 
Reportagem 1: “José: um homem sem passado” 
Por Mário Bentes e Luiz Guilherme Melo 
 
Um homem de meia idade está sentado na escadaria de um prédio comercial de 
uma grande cidade. Pele morena e abatida, ele permanece em silêncio com os 
olhos fixos em um ponto perdido no horizonte. Apesar da agitação daquela 
cidade, do vai-e-vem frenético dos transeuntes pela calçada, do entra e sai do 
prédio atrás de si, aquele homem de expressão solitária fica assim, em silêncio, 
por alguns minutos, até que finalmente desperta quando uma voz repentina 
interrompe sua meditação urbana: “Quanto é a manga?”. 
 
O olhar de José Wilson, então, se ilumina como se acabasse de receber a melhor 
das notícias. Não importa quem seja; o velho vendedor de frutas se levanta e 
atende seu mais novo cliente como se fosse um grande e inesquecível amigo dos 
tempos de infância. “As mangas estão bem fresquinhas”, garante José, sorrindo. 
Seu cliente, porém, não o olha nos olhos; escolhe as frutas que julga estarem 
melhores, paga e vai embora. José Wilson parece não se importar: ele permanece 
com o cativante sorriso de poucos dentes até que o desconhecido dobre a esquina 
e se perca na multidão. 
 
Completando um ciclo que se repete ao longo de todo o dia, de todas as semanas e 
de todos os meses em mais de dez anos, José volta para o silêncio dos seus 
próprios pensamentos, enquanto senta novamente nas escadas encardidas do 
antigo edifício Antônio Simões, na Avenida Sete de Setembro, Centro de Manaus. 
O rosto daquele homem, antes iluminado, volta a se apagar; o sorriso desaparece. 
 
 49 
 
 
E o olhar, outrora atencioso e sincero, volta a se perder num ponto distante e 
desconhecido. 
 
Senhor Wilson 
 
Essa é a rotina diária de José Wilson, que, entre outras informações da própria 
vida, desconhece a idade. Acredita ter mais de 40 anos. Ele também não sabe mais 
o nome da cidade onde nasceu, embora tenha vontade de voltar para visitar os 
parentes e amigos. “Não lembro mais o nome da minha cidade, mas sei que é no 
Maranhão”, garante. José diz que tem um filho, mas também não lembra o nome 
dele nem a idade. "Acho que ele mora em Macapá com a mãe", arrisca, 
acreditando ser um jovem de 16 anos. 
 
O sustento 
 
José Wilson mora sozinho em Manaus há pelo menos dez anos – ele também não 
sabe precisar o tempo certo. Habita uma casa no Tancredo Neves, na zona Leste. 
Não sabe ler ou escrever, mas sabe contar. “Quanto você ganha por mês?”,

Mais conteúdos dessa disciplina