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Universidade de Fortaleza Curso de Psicologia – CCS Prática Integrativa VII 2014.1 Instituto Politizar: A construção da consciência política em grupo Érika Níniva/ Vinícius Carvalho Prof. Orientador: Luiza Maria S. de Freitas Resumo Este artigo objetiva apresentar os resultados de uma pesquisa de campo realizada no Instituto Politizar, um grupo que busca, através de iniciativas de estudo e prática, a importância do conhecimento da política e a participação mais efetiva do cidadão no âmbito social. A pesquisa buscou uniu os conhecimentos do grupo e a teoria psicológica da Fenomenologia e análises grupais para entender como se dá a dinâmica grupal do Instituto. Através das obras de Carl Rogers e Virgínia Moreira, podemos estudar com mais afinco essas relações entre a prática e teoria. Nos resultados verificamos o quanto a aceitação e empatia é fortalecedora para manter um grupo harmônico. A troca de experiências e conhecimentos entre pessoas de diferentes idades e profissões é bastante enriquecedor, o que acaba fazendo com que o grupo sempre tenha mais adeptos. Palavras-chave: Grupo.Observação.Prática.Fenomenologia.Política. Introdução Essa pesquisa teve como base a proposta desenvolvida pela disciplina de Prática Integrativa VII, no curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza, que pretende analisar os processos grupais, utilizando-se de técnicas de observação participante e método etnográfico, com o propósito de compreender a dinâmica de um grupo. O trabalho de campo foi desenvolvido acompanhando os encontros do Instituto Politizar, que é uma associação civil de interesse público, de direito privado, de caráter social, educacional e social, regida por um Estatuto e pelas demais disposições legais que lhe forem aplicadas. O objetivo do trabalho tem por interesse alinhar os conhecimentos acerca da teoria psicológica, as considerações feitas em sala, acrescidas das observações da prática em campo de modo a relacionar os dados coletados com a teoria. Entre as razões que justificam a escolha do grupo para desenvolver a pesquisa, seria porque o Instituto sempre desenvolveu atividades ligadas a educação e política, se destacando pelos eventos que esclarecem sobre os direitos e deveres dos cidadãos. Na Psicologia nos debruçamos sobre as obras de Carl Rogers e Virgínia Moreira, sustentando-nos no referencial teórico dos fundamentos da Psicoterapia Humanista-Fenomenológica para buscar a compreensão do conceito de grupo e a maneira do indivíduo existir no mundo, entendendo que os vínculos estabelecidos e a busca por conhecimento é um fenômeno subjetivo formado a partir da sua percepção e que o mesmo construiu a partir do seu contato com o mundo exterior. O relatório é dividido de forma que na introdução é apresentado o trabalho que foi desenvolvido, na metodologia explicamos que técnicas foram utilizadas para compreender e analisar o grupo, nos resultados articulados os dados coletados e a teoria psicológica e nas considerações finais expomos que experiência obtivemos durante a pesquisa. Metodologia O presente trabalho teve como orientação metodológica a pesquisa etnográfica, segundo Laplantine (2004), trabalho de campo antropológico é conduzido através do desempenho repetido de cinco tarefas fundamentais: observação, entrevista, escuta às vezes ação e gravação ou anotação e a observação participante caracteriza a maioria das pesquisas etnográfica para e é crucial para um trabalho de campo efetivo. A observação participante concilia a participação nas vidas das pessoas estudadas, com a manutenção de uma distância profissional que permite uma observação adequada e anotações de dados e representa uma imersão em uma cultura. Foram utilizados os referenciais da pesquisa de ordem qualitativa, que segundo Carlos Gil (2009), refere-se a um conjunto de diferentes maneiras interpretativas que buscam a descrição e a decodificação dos componentes de um sistema complexo de significado, no qual o seu objetivo é traduzir e expressar o sentido dos fenômenos sociais e assim reduzir o distanciamento entre a teoria e dados, entre contexto e a ação. A pesquisa em livros e artigos – bem como a utilização de estratégias de observação participante e das entrevistas – teve como finalidade relacionar a compreensão teórica acerca das psicopatologias especificamente com o escolhido referencial humanista-fenomenológico. O processo de inserção dos autores no campo da pesquisa, primeiramente se deu com um contato com o presidente do Instituto, onde expomos os objetivos do trabalho. Com o seu consentimento, foram realizadas oito visitas com a duração de duas horas cada, no período da tarde, num encontro quinzenal aos sábados. Resultados e Discussão O Instituto Politizar foi criado em 2013, é uma associação civil de interesse público, de direito privado, de caráter social, educacional e social, com fins não econômicos, de duração indeterminada, regida por um Estatuto e pelas demais disposições legais que lhe forem aplicadas. O Instituto não se trata de um grupo terapêutico, mas sim um grupo criado para estudos e tem como objetivo trabalhar pela formação política dos indivíduos e pela conscientização em relação à realidade política que os cerca; estimular o conhecimento das ciências políticas dentro de escolas e universidades; criar e apoiar projetos que valorizem e aprimorem a educação cultural e cívica; encorajar a sociedade a participar ativamente dos processos políticos do país, assim como incentivar um maior contato entre população e agentes políticos, entre outros. O Instituto conta com participantes fixos, ou seja, são os organizadores do grupo, dentre eles, o presidente, Vice-presidente, Diretor de Atividades, Diretor financeiro, Diretor de conhecimento, Diretor de Comunicação, Diretor pedagógico e Associados e os participantes que acompanham algumas reuniões, mas não são associados, além de estudantes e curiosos que ao longo dos encontros podemos notar que sempre apareciam. Trata-se de um grupo aberto, que conforme Marchesini (2008), o grupo aberto proporciona ao grupo as características de seu reconhecimento, ou seja, existe uma rotatividade dos participantes, o contexto varia sistematicamente e não prejudica o caminhar dos encontros, é, portanto, um grupo que sempre conta com a participação de novos visitantes para discutir os estudos políticos. As atividades são planejadas pelos membros e associados do Instituto, variam entre o encontro quinzenal do grupo para estudos sobre a política e palestras, seminários, projetos. Cada tema possui um texto que foi brevemente disponibilizado para estudo na rede social (página do Facebook) e que será discutido no encontro. Sendo que um membro é escolhido para ficar responsável pela execução da atividade em cada sábado, há um rodízio entre os membros. Percebemos que existe uma motivação e uma organização para os textos que são escolhidos, isso acontece porque sempre são escolhidos temas intrigantes para o estudo e discursão. Diante dos fatos, poderemos estabelecer algumas questões que percebemos durantes os encontros. Durante a execução das atividades pudemos perceber e analisar o papel que cada um desenvolvia dentro do grupo, o presidente, se encontra como o facilitador das discursões e o restante grupo possui uma organização muito interessante, onde todos possuem direito de contribuir com novas opiniões e atitudes. Como trabalhos realizados são planejados, todos possuem um papel a desenvolver favorecendo as relações. Primeiramente, é discutido o tema de estudo e logo após o membro que ficou responsável por facilitar o grupo, subdivide os grupos e subdivide o tema, ou seja, especificando ainda mais o que está sendo discutido. Durante esses dois meses acompanhamos os seguintes estudos: O que é nacionalidade?; O que é democracia?; O voto no Brasil; A democracia direta no Brasil; O que é nacionalidade?; Os poderes no estado Brasileiro, Golpe de 64 (em comemoração aos 50 anos). Acontece que o Instituto possuivárias atividades, além do grupo de estudo. Tivemos oportunidade de acompanhar um evento, que aconteceu em uma escola e não na livraria, como de costume. Assistimos a um filme e logo após abriu-se para uma discussão. Nesse dia, podemos perceber os papéis bem definidos do líder e dos outros membros mais importantes do grupo, onde se coordenou uma sequência no momento em que cada um falaria, na organização do ambiente (decoração, lanche). Com base nas informações obtidas diante do acompanhamento do grupo, podemos analisar a dinâmica do grupo e estabelecer articulações entre os encontros e a Psicologia, mas especificamente no enfoque na Fenomenologia e na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). Podemos destacar, à princípio, a noção de grupo para ACP, destacam-se esses três aspectos fundamentais e característicos: A ênfase teórica, filosófica e técnica na relação. Para Wood (1983), para tornar-se grupo não precisa necessariamente ter uma regra básica, padrões estabelecidos. O que é importante é que no momento em que as pessoas resolvem se reunir, em busca de crescimento específico, elas mesmas entram em acordo sobre os horários, procedimentos de como deve ser a admissão de novos participantes. Sendo que sempre irá variar dependendo da cultura. Para Rogers (1978), “os grupos de encontro conduzem a uma maior interdependência pessoal, a menos sentimentos escondidos, maior interesse em inovar, maior imposição à rigidez institucional (...) Eles produzem a mudança construtiva (...) só podem florescer em um ambiente essencialmente democrático”. (p.23) A partir disso, podemos compreender como se estabelecia o vínculo entre os membros do grupo. Antes da assembleia (é dessa forma que o Instituto nomeia os encontros) começar, todos os membros se apresentam e pede que todos se apresentem, pois sempre há algum participante novo, com isso ficamos todos mais à vontade, além de ser um ambiente descontraído. Como cada um fica responsável pelo tema a ser discutido, estes apresentam os questionamentos que podem ser debatidos por qualquer um dos integrantes, até mesmo as pessoas que estavam visitando pela primeira vez. É interessante destacar como se comportavam esses visitantes, durante sua apresentação, demonstravam qual o seu interesse em participar do grupo e o que os motivou para estarem ali, muitos buscando explicações sobre política, tentando entender como o nosso país pode se desenvolver através de cidadãos com pensamentos mais críticos e participativos. Assim, podemos articular com o pensamento de Merleau-Ponty que, como explica Moreira (2009), o homem é intrinsicamente atravessado pelo mundo, um mundo cultural, mas que não é o centro do mundo, é um homem mundano que se singulariza através de seus atos, pensamentos e discursos. Já ideia em Rogers, que se assemelha ao grupo, é que a existência está em processo contínuo de atualização, buscando um desenvolvimento positivo, resgatando o respeito à pessoa humana. Os participantes do grupo procuram exatamente essa singularidade, através das suas opiniões, e entender o mundo que vivem. Além disso, nos encontros que acompanhamos, não percebemos nenhum conflito, talvez algumas divergências, em relação com os temas políticos que são debatidos, já que geram bastante reflexão e discordâncias, mesmo assim, todos contribuem com seus conhecimentos, trazendo novos textos ou experiências. Considerações Finais A interação do grupo é construída em cima de um proposito em comum: aprender, debater e criar uma consciência mais critica, de cada um, em cima do assunto principal, política. Para cercar melhor esse assunto, os conhecimentos sobre direito dos integrantes do Instituto Politizar são indispensáveis, já que um dos propósitos da politica é tornar os direitos, deveres e condições de vida adequadas para todos. Durante cada assembleia uma pequena parte desse mundo é abordado trazendo o lado histórico e pratico atual de cada situação. Entretanto, o ponto chave e fundamental dentro do I.P. é exercitar a consciência e opinião própria acerca de acontecimentos políticos. Para isso se faz necessário a necessidade de ouvir o outro, mas do que impor sua opinião e estar certo ou errado, não so pelo respeito entre os integrantes, mas também como uma forma de conhecer uma visão diferente do mesmo mundo, problemas e soluções, dentro da perspectiva daquele outro. Existem níveis diferentes do conhecimento entre os integrantes do grupo de estudo e seria possível que isso gerasse autoridades e com isso atritos. Porém o que foi observado foi o respeito pelo o outro e sua opinião, assim como prega a base da democracia, fazendo com que um possa alavancar o outro, servindo para trazer mais interesse nas pautas e assuntos, para equilibrar o gosto e prazer de estudar, saber e se aprofundar na teoria politica. Referências GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009 LANPLATINE, François. A descrição etnográfica. São Paulo: Terceira Margem, 2004. Tradução João Manoel Coelho e Sérgio Coelho. MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. (Coleção temas sociais). MOREIRA, Virginia. De Carl Rogers a Merleau-Ponty: a pessoa mundana em psicoterapia. São Paulo: Annablume. 2007. MOREIRA, Virgínia. Revisitando as psicoterapias humanistas. São Paulo: Intermeios, 2013. PADUA, Elisabete Matallo Marchesini de; MAGALHÃES, Lilian V.. Terapia ocupacional: teoria e prática. Campinas: Papirus, 200 ROGERS, C. (1978). Tornar-se pessoa. 5.ed.. São Paulo: Martins Fontes, Tradução de Manuel José do Carmo Ferreira e Alvamar Lamparelli. ROGERS, Carl; WOOD, John K.; O'HARA, Maureen Miller. Em busca de vida: da terapia centrada no cliente à abordagem centrada na pessoa. 2. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1983. �